O Senado ouviu da presidente da Petrobras esclarecimentos sobre os abalos que a companhia
vem sofrendo, por uma progressiva desconfiança em relação à sua governança corporativa.
Graça Foster teve que se haver com a herança recebida -o uso político/partidário da empresa,
a realização de operações ruinosas e o intervencionismo da política econômica em desfavor da
rentabilidade da produção, compra e venda de combustíveis.
Coluna do Senador Aécio Neves da Folha - Tempo de reflexão
Petrobrás perde valor e eficiência sob intervenção política
1. De volta à Petrobrás
Coluna do senador Aécio Neves na Folha de São Paulo, em 17 de setembro de 2012
O Senado ouviu da presidente da Petrobras esclarecimentos sobre os abalos que a companhia
vem sofrendo, por uma progressiva desconfiança em relação à sua governança corporativa.
Graça Foster teve que se haver com a herança recebida -o uso político/partidário da empresa,
a realização de operações ruinosas e o intervencionismo da política econômica em desfavor da
rentabilidade da produção, compra e venda de combustíveis.
A companhia perdeu cerca de 50% de seu valor em Bolsas, desde 2008; a estagnação da
produção está em torno de 2 milhões de barris/dia desde 2009, com mais perspectiva de
queda no ano. No segundo trimestre, registrou-se um prejuízo de R$ 1,34 bilhão, o terceiro de
toda a sua história.
Isso sem falar no malogro do programa de refinarias. A Abreu e Lima, em Pernambuco, por
exemplo, acumula atrasos monumentais e um salto de dez vezes no seu orçamento original,
de R$ 2,3 bilhões para R$ 20,1 bilhões.
Nas explicações da presidente, chamou a atenção o fato de que se a PDVSA, a companhia
venezuelana de petróleo, não confirmar a tão prometida participação em 40% do negócio, o
fiasco será ainda maior, já que parte de sua planta foi desenvolvida para refinar o tipo de
petróleo pesado produzido na Venezuela, e não no Brasil. Pelo menos ela reconheceu que é
uma lição a ser aprendida, para que não se repita.
Tão ou mais importante do que os prejuízos da Petrobras é o regime de ineficiência na
companhia. Entre 2002 e 2011, o número de empregados cresceu 75%, e o de terceirizados,
171%, enquanto a produção de petróleo e gás avançou só 45%. Entre as cinco maiores do
mundo, a Petrobras é a que possui a menor relação produção/número de funcionários -32
barris equivalentes de petróleo por dia (bep/d) por funcionário. Tal relação vem piorando ao
longo do tempo -era de 39 bep/d por funcionário em 2002.
Tudo isso ocorre enquanto se sinaliza para o risco de paralisia no setor de exploração no Brasil.
As áreas de prospecção estão minguando. Desde 2009 está suspensa a 11ª rodada de licitação,
afetando os blocos fora da área do pré-sal.
Hoje, duvida-se que a Petrobrás possa arcar com as necessidades futuras de investimentos,
inclusive no pré-sal, onde responde por 30% de cada contrato. O governo culpa o Congresso
pela paralisia, em função da questão da distribuição dos royalties, como se ele não tivesse ali
base que tudo aprova e referenda.
Qualquer definição terá custos políticos e o governo só trabalha em função do calendário
eleitoral. O estilo estatizante, intervencionista e populista de governar traz em sua raiz o
conflito entre a necessidade e a conveniência, com sistemática prevalência do último sobre os
interesses do país.