A pesquisa da CNI mostra que o percentual de empresas brasileiras planejando ampliar seus investimentos este ano é o menor dos últimos quatro anos, devido a problemas como custo do crédito, burocracia, infraestrutura precária e incerteza econômica. A falta de confiança entre governantes e empresários também está contribuindo para a fuga de investidores externos do Brasil. Medidas de desoneração fiscal são necessárias, mas precisam ser duradouras e acompanhadas de austeridade fiscal para reduzir a incerteza.
Coluna do Senador Aécio Neves da Folha - Questão de confiança
1. Questão de confiança
Coluna do senador Aécio Neves na Folha de São Paulo, em 21 de janeiro de 2013
É longa a lista de variáveis apontadas pela pesquisa divulgada pela Confederação Nacional da
Indústria (CNI) para explicar o desânimo dos empresários brasileiros em fazer novos
investimentos.
Entre os problemas citados estão o custo do crédito, dificuldades para obter financiamento, o
apagão de mão de obra, burocracia excessiva e infraestrutura precária.
A essas dificuldades somam-se questões que ficaram evidentes após a pesquisa, feita em 2012,
como a apreensão diante da oferta de energia e a elevação da inflação no país. O
levantamento ouviu 584 grandes, médias e pequenas empresas.
No debate que se trava sobre o presente e o futuro da economia, um ponto é consensual até
mesmo entre agentes governamentais: sem aumentar a taxa de investimentos será difícil fugir
dos pibinhos dos últimos anos.
Convencer empresas e empresários a ampliar investimentos na produção que gera empregos e
riqueza ao país pressupõe uma relação de confiança entre governantes e governados. E isso,
infelizmente, parece faltar neste momento.
A pesquisa mostra o desânimo das empresas ao revelar que o percentual daquelas que
pretendem ampliar suas atividades este ano é o menor dos últimos quatro anos.
Repete-se o mesmo cenário de 2012, quando o número de empresas que realizaram
investimentos foi o menor desde 2009. No ano, diz a pesquisa, só 50,2% das empresas
efetivaram os investimentos planejados, 45,5% o fizeram parcialmente e 4,2% adiaram ou
cancelaram projetos.
O problema mais citado foi a incerteza econômica gerada por problemas internos e externos,
evidenciando a impotência do governo diante da crise internacional e sua incapacidade em
solucionar travas internas.
A falta de credibilidade do governo está contribuindo também para afastar investidores
externos. Consultorias e organismos internacionais –como a norte-americana Securities and
Exchange Commission– indicam que fundos internacionais estão substituindo o Brasil em seus
portfólios por outros países.
Algumas das causas da fuga dos investidores estrangeiros coincidem com as que provocam o
recuo das empresas nacionais –o excessivo intervencionismo e a insegurança gerada por
recentes decisões do governo.
Medidas de desoneração fiscal, como as anunciadas na última semana, são necessárias e bem-
vindas, mas precisam ser acompanhadas da austeridade fiscal que tem faltado até agora,
comprometendo o equilíbrio das contas públicas.
2. Igualmente importante é que sejam duradouras. Medidas temporárias, pontuais e paliativas,
como as que têm caracterizado a atual política econômica, contribuem para propagar
incertezas.