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Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2
191
MED RESUMOS 2011
ARLINDO UGULINO NETTO
LUIZ GUSTAVO C. BARROS € YURI LEITE ELOY
MEDICINA – P7 – 2010.2
CIRURGIA PEDI‚TRICA
REFERÊNCIAS
1. Material baseado nas aulas ministradas pelo Professor Wilberto Trigueiro na FAMENE durante o
período letivo de 2010.2.
2. MEDEIROS FILHO, João Gonçalves de. Neonatologia: guia prƒtico / Jo„o Gon…alves de Medeiros
Filho. João Pessoa: Idéia, 2008.
3. Puri, P.; Höllwarth, M. E. Pediatric Surgery. Spinger, 2006.
Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2
192
MED RESUMOS 2011
ELOY, Yuri Leite; NETTO, Arlindo Ugulino.
CIRURGIA PEDIÁTRICA
CIRURGIA PEDIÁTRICA: PRÉ E PÓS OPERATÓRIO
(Professor Wilberto Trigueiro)
Cirurgia Pedi€trica • uma especialidade m•dica, que aborda a patologia cir‚rgica da crianƒa, desde o rec•m-
nascido at• o adolescente. O seu trabalho requer um profundo conhecimento de cl„nica, t•cnica operat…ria e
humanismo, al•m dos cuidados m•dicos na idade pedi€trica. Consiste no tratamento cir‚rgico de v€rias doenƒas
cong†nitas ou adquiridas, em v€rios …rg‡os e sistemas do corpo humano.
Essa especialidade surgiu da pr…pria necessidade de um cirurgi‡o com um maior conhecimento das t•cnicas de
abordagem na crianƒa, associado principalmente, a pr…pria incapacidade do cirurgi‡o geral em abordar crianƒas,
exigindo t•cnicas mais espec„ficas. Isso ocorre n‡o s… na pediatria, mas sim em diversas outras regiˆes do corpo, j€
que, a abordagem cir‚rgica do corpo humano • extremamente ampla. Dessa forma, assim como a cirurgia pedi€trica,
surgiram: cirurgia de cabeƒa e pescoƒo, cirurgia abdominal, cirurgia oncol…gica, cirurgia tor€cica, cirurgia card„aca,
neurocirurgia, entre outras.
A cirurgia neonatal tem diversas peculiaridades, principalmente do ponto de vista cir‚rgico-anest•sico, que
diferem de um adulto. Iniciando pelo processo anest•sico, h€ variaƒˆes quanto ‰ dose, tipo de anestesia, risco de
hipotermia, barotrauma entre outros.
HIST‚RICO DA ESPECIALIDADE
“A cirurgia pedi€trica vislumbra o futuro de uma crianƒa, com uma vida o mais pr…ximo da normalidade e a
melhor integraƒ‡o poss„vel no seio da sociedade”. Ou seja, a cirurgia pedi€trica garante o al„vio de diversas patologias
que poderiam trazer traumas f„sicos e sociais, e em alguns casos garantindo a pr…pria sobreviv†ncia. Assim garante uma
integraƒ‡o total da crianƒa com a sociedade, permitindo a realizaƒ‡o de todas as atividades laborativas infantis.
At• 1950 a mortalidade infantil era muito elevada, estando
em torno de 90 a 100% dos RN. Entretanto com a evoluƒ‡o,
utilizaƒ‡o de antibi…ticos, estudo e conhecimento do metabolismo
do RN, cuidados intensivos, houve uma discreta reduƒ‡o nessa
mortalidade. Entretanto de acordo com o gr€fico ao lado, pode-se
notar que, ap…s o surgimento da especialidade cirurgia pedi€trica
associada ‰s t•cnicas anest•sicas adequadas, houve uma queda
abrupta da mortalidade. Esse fator juntamente com a nutriƒ‡o
parenteral, diagn…stico pr•-natal, avanƒo tecnol…gico e pesquisa,
fizeram a mortalidade no ano de 2000 atingir 7%.
Apesar de todo esse avanƒo tecnol…gico, a mortalidade
infantil nunca chegar€ ‰ zero, fato este justificado principalmente,
devido a ocorr†ncia de malformaƒˆes cong†nitas graves, defeitos
gen•ticos que s‡o incompat„veis com a vida, assim como
cardiopatias cong†nitas.
ASPECTOS FISIOL‚GICOS AO NASCER
Alguns estudiosos consideram o nascimento o per„odo de
transiƒ‡o mais cr„tico do ser humano, pois considera o feto um ser
totalmente inativo e dependente do metabolismo materno. Essa
depend†ncia • quebrada abruptamente atrav•s do nascimento, onde
o mesmo • exposto a um ambiente totalmente agressivo, cuja
sobreviv†ncia depende ‚nica e exclusivamente de seu pr…prio
funcionamento, que se encontra imaturo.
Entre os principais impactos sofridos pelo rec•m-nascido
podemos citar: (1) respiração, (2) circulação, em que h€ uma
brusca mudanƒa na circulaƒ‡o sangu„nea do feto, com fechamento dos canais arteriovenosos, e responsabilidade total
do coraƒ‡o fetal em manter os tecidos oxigenados, (3) metabolismo energético, considera …rg‡os „ntegros capazes de
metabolizar, sintetizar e excretar substŒncias, com isso funƒ‡o dada principalmente pelo f„gado, rins, bexiga, baƒo,
pŒncreas, hip…fise, hipot€lamo etc. E ainda o (4) equilíbrio térmico, aspecto de grande importŒncia nos RN,
principalmente no que diz respeito ‰ realizaƒ‡o de procedimentos cir‚rgicos, com isso sendo necess€ria a adoƒ‡o de
medidas que evitem a hipotermia.
Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2
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CIRURGIA PEDI•TRICA NEONATAL
FATORES PROGNÓSTICOS
 Peso ao nascimento: RN que se apresentam com peso ideal, geralmente tem um melhor prognóstico em
relação à prática cirúrgica, principalmente as mais invasivas.
 Anomalias associadas: RN com cardiopatias cianóticas graves tem um prognóstico reservado.
 Diagnóstico precoce: é essencial para a sobrevida do RN após o procedimento cirúrgico. Caso não seja
realizado precocemente, a condição patológica a qual o RN está exposto debilita-o ainda mais, trazendo mais
riscos durante o procedimento anestésico-cirúrgico.
 UTI neonatal aparelhada: avaliar sempre a presença da UTI neonatal, sua integridade e aparelhagem
adequada antes de qualquer procedimento cirúrgico. Isso devido as possíveis complicações da anestesia e
cirurgia.
 Unidades de referência:
 Equipe médica: cirurgiões e anestesistas experientes
 Equipe de enfermagem:
IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO ULTRASONOGRÁFICO EM OBSTETRÍCIA
Quando se diagnostica por meio de USG uma patologia congênita grave, com necessidade de intervenção
cirúrgica imediata é necessário um transporte adequado. Assim a melhor forma de transportar um bebê é no útero da
própria mãe, ou seja, o parto deve ser feito em um ambiente preparado para uma ampla e imediata abordagem ao RN.
A ultrasonografia utilizada para avaliação desse tipo de procedimento é a USG fisiológica, que trás
detalhadamente, todos os parâmetros e medidas do feto. Entre as principais anormalidades que podem ser
diagnosticadas por meio da ultrasonografia temos:
 Anomalias urinárias: de cada 200 USG obstétricas pelo menos 1 tem anormalidades no sistema urinário,
entretanto nem todas necessitam implicações cirúrgicas. Devendo ser realizado uma avaliação adequada,
analisando os padrões urinários do RN, para só então, haver uma correção cirúrgica.
 Hérnia diafragmática;
 Defeitos da parede abdominal;
 Obstrução intestinal alta;
 Tumores sólidos e císticos;
 Malformações pulmonares;
 Coleções líquidas;
 Gêmeos siameses.
Dessa forma, com o diagnóstico precoce através da USG, pode-se planejar o melhor apoio a mãe e ao feto,
como: forma de realizar o parto da paciente, cesariana, normal ou fórceps; melhor momento para a realização do
mesmo, e ainda ambiente hospitalar adequado para o suporte ao RN e mãe.
A figura ao lado mostra casos de gêmeos
siameses, onde o diagnóstico deve ser realizado
através da USG. Caracteriza-se por uma condição
grave, de difícil tratamento, principalmente devido
à fusão de órgãos ou órgãos únicos para dois RN.
Caracteriza-se por uma patologia com elevado
índice de mortalidade.
Recém-nascido com diagnóstico intra-útero de teratoma gigante. Nesses casos o parto deve ser
realizado através de uma cesariana, com laparotomia mediana, incisão grande para não haja
rompimento do tumor, e sangramento grave podendo levar o RN ao óbito. Nesses casos a artéria
sangrante seria a sacral-mediana, ramo direto da aorta, em sua divisão terminal (ilíacas).
Mostrando assim a importância do diagnóstico USG, para orientar sobre a melhor conduta cirúrgica
a ser realizada.
Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2
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PRƒ-OPERAT‚RIO
O pr•-operat…rio em cirurgia pedi€trica depende de v€rios fatores. Dentre os principais e mais importantes para o
progn…stico do RN, temos:
 Tamanho da Cirurgia: pequeno, m•dio ou grande porte. Geralmente tumores malignos nos rins, s‡o cirurgias
complicadas com duraƒ‡o elevada, que geralmente s‡o feitas por cirurgiˆes oncol…gicos. Ao contr€rio cirurgias
de h•rnias inguinais em crianƒas s‡o r€pidas e na maioria das vezes pouco invasivas.
 Idade do paciente;
 Estado geral;
 Doenças associadas: cardiopatias, malformaƒˆes importantes que interferem no estado hemodinŒmico do RN
e crianƒa.
 Condições clínicas em caso de complicações;
ANAMNESE
Para a realizaƒ‡o de um pr•-operat…rio adequado, • indispens€vel uma anamnese criteriosa, avaliar hist…ria
al•rgica a medicamentos, drenar secreƒˆes br•nquicas quando presentes, fato este que se n‡o realizado contra-indica
qualquer procedimento cir‚rgico, devido ao risco de broncoaspiraƒ‡o e reduƒ‡o da vitalidade pulmonar.
Indagar sobre o hist…rico de cirurgias anteriores, complicaƒˆes, uso de cortic…ides, que levam a
imunossupress‡o da supra-renal, prejudicando a resposta ao trauma cir‚rgico, ou seja, liberaƒ‡o de adrenalina, sendo
assim necess€ria, nesses pacientes a administraƒ‡o de cortic…ide durante a cirurgia e n‡o ap…s, especialmente em
pacientes em uso cr•nico por mais de 4 semanas. Avaliar ainda a presenƒa de equimoses e sangramento anormal.
Assim em todo procedimento cir‚rgico deve-se sempre que poss„vel tentar estabilizar o paciente, com
suspens‡o de medicamentos, controle de doenƒas cr•nicas. Essas medidas s… s‡o contra-indicadas quando a cirurgia •
de emerg†ncia, e durante o procedimento, o m•dico cirurgi‡o, juntamente com o anestesista, devem controlar as
poss„veis condiƒˆes de risco que o paciente previamente apresente, ou desenvolva.
Essas informaƒˆes s‡o colhidas principalmente pelo m•dico anestesista, por meio da consulta pr•-anest•sica,
medida indispens€vel para avaliaƒ‡o pr•-operat…ria do paciente.
EXAMES LABORATORIAIS
Os exames complementares a serem solicitados dependem do tipo de cirurgia que o RN ou crianƒa vai se
submeter. Entretanto os exames b€sicos, que n‡o devem faltar incluem um hemograma e coagulograma. Entre outros
de acordo com o tipo cir‚rgico s‡o: urina 1 e 2, ur•ia, creatinina, grupo sangu„neo, fator RH, prote„nas totais e fraƒˆes.
Os exames que compˆe o risco cir‚rgico n‡o s‡o rotineiros.
SITUAÇÕES ESPECIAIS
 Infecção das vias aéreas: nesses pacientes a cirurgia s… • realizada quando o quadro infeccioso est€
totalmente controlado. Principalmente devido ao risco anest•sico-cir‚rgico, dado especialmente pelo aumento da
produƒ‡o de secreƒ‡o nas vias a•reas.
 Uso de corticóide:
 Cardiopatias
 Asma
 Alergia a medicamentos
 Convulsão
 Nefropatia – insufici†ncia renal cr•nica
 Prematuridade
Em cirurgias de grande porte (tumores, abaixamentos) o pr•-operat…rio • dirigido ‰ patologia. Antes de sua
realizaƒ‡o deve-se realizar as seguintes medidas de suporte:
 Concentrado de hemácias: 1 x volemia
 Sonda vesical no ato cirúrgico
 Sonda gástrica cirurgia abdominal
 Bom acesso venoso
 Colchão térmico nos RN (e lactentes)
 UTI no pós-operatório
 Realimentação: se laparotomia com manuseio de alƒas permanecer 48 horas no m„nimo em jejum. Caso seja
realizado uma anastomose ou sutura intestinal o paciente deve ficar pelo menos 3 a 4 dias sem alimentaƒ‡o
oral.
Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2
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CONSIDERA„…ES GERAIS EM CIRURGIA PEDI•TRICA
De uma forma geral, os procedimentos pré-operatórios em cirurgia pediátrica dependem do tipo de abordagem
que será realizada: cirurgia de urgência ou emergência, patologias associadas e condições clínicas do paciente.
Apesar de existirem cirurgias simples a maioria dos procedimentos é realizada com anestesia geral associada à
anestesia local. Nos recém-nascidos deve-se fazer um jejum de 3 horas de leite materno exclusivo, quando leite artificial
o jejum deve ser de 4 horas. Em crianças pré-escolares e escolares o jejum deve ser de 6 a 8 horas.
Antes de realizar qualquer procedimento deve-se dar o devido esclarecimento aos pais sobre o procedimento.
Outras medidas importantes que devem ser consideradas em cirurgias pediátricas são:
 Lavagem intestinal pr€via: cirurgia de colo
 Maioria das cirurgias “day clinic”: realizam a cirurgia, e após a recuperação anestésica retornam para casa.
 Realimentaƒ„o precoce: lenta e gradual, evitando episódios de vômito.
 Acompanhamento dos pais: importante, entretanto é recomendável proibir a presença dos pais no interior do
ambiente cirúrgico.
 Cirurgias limpas: não usar antibiótico
 Curativos descobertos: deve-se deixar cobertos, especialmente em RN e neonatos, devido ao risco de
introduzir o dedo e levar a boca ou vice-versa, podendo infectar a ferida. Em crianças em idade pré-escolar e
escolar, pode permanecer descoberto, entretanto é necessária uma orientação adequada quanto ao manuseio
da ferida operatória.
 Retirada de pontos: às vezes traumático
 Alta precoce nas cirurgias de superf…cie
 Analg€sicos: avaliar a presença de alergias
 Cirurgia abdominal: deambulação precoce
 Se distens„o abdominal: administrar sonda gástrica
 Repor perdas por SG:
 Ru…dos hidroa€reos e secreƒ„o clara por sonda g†strica: alimentação líquida por 1 dia
Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2
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MED RESUMOS 2011
CORREIA, Luiz Gustavo; NETTO, Arlindo Ugulino.
CIRURGIA PEDIÁTRICA
PATOLOGIAS CIRÚRGICAS DO TÓRAX NA CRIANÇA
(Professor Wilberto Trigueiro)
ATRESIA DE ES†FAGO
A atresia de esôfago é definida como sendo uma oclusão proximal
da luz esofágica em seu terço proximal. Em 90% dos casos, está presente
fístula tráqueoesofágica distal. Em 8% dos pacientes, não há fístula distal e,
conseqüentemente, inexiste ar no trato digestivo.
INCIDÊNCIA
Aproximadamente 1/3.000 nativivos, com leve predominância do
sexo masculino e, em 34% dos casos, em prematuros. Apesar de relatos
em gêmeos e famílias com envolvimento de mais de um indivíduo, não há
evidências atuais de caráter genético. As malformações estão associadas
em 50% dos casos, sendo as de origem cardíaca as mais frequentes (em
20% dos casos).
QUADRO CLÍNICO
 Polidrâmnia materna (aumento da quantidade do líquido
amniótico), especialmente nos casos sem fístula (os trabalhos
mostram sua incidência em 35% das vezes). A saber, o líquido
amniótico é composto, em sua maioria, por excretos urinários. Na
atresia de esôfago, frequentemente, o concepto em
desenvolvimento deglutir este líquido.
 Salivação excessiva e espumosa pela boca e narinas, pela
dificuldade de deglutição;
 Impossibilidade de passagem da sondagem gástrica;
 Distensão abdominal;
 Desconforto Respiratório , podendo estar associado à pneumonia
química por aspiração de saliva, de conteúdo gástrico ou de
alimentos. Pode evoluir para quadro mais grave e sepse.
 Asfixia e cianose.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é procedido pelos achados sintomatológicos, exame físico e medidas complementares (podendo
utilizar exames radiológicos).
 Logo após o exame físico, o médico pode realizar a passagem da sonda nasogástrica e, quando ocorre a não-
passagem dessa sonda 8-10 cm da boca, o diagnóstico é fortemente sugerido.
 Radiografia tóraco -abdominal com sonda contrastada no esôfago proximal não é de realização urgente. Pode-
se também, injetar 2ml de contraste através da sonda esofágica. Se houver ar no tubo digestivo, é sinal de que
há fístula traqueo-esofágica distal.
A radiografia de tórax é importante para diferenciar
se a atresia de esôfago está ou não associada à
fístula traqueo-esofágica. Para isto, notamos, em B, a
presença de ar nas alças intestinais e bulha gástrica.
Diferentemente, em A, não existe ar nos órgãos
abdominais intestinais. Daí, a procedência da
radiografia de tórax é importante para direcionar o tipo
de tratamento a ser cogitado. Em 1% dos casos, a
fístula traqueo-esofágica pode determinar ausência de
ar no estomago. Nessas ocasiões, o segmento
fistulizado, provavelmente, está obliterado por rolha de
secreção, por exemplo.
Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2
197
OBS
1
: A atresia de esôfago pode ou não estar associada à fístula tráqueo-
esofágica. Quando associada, pode ocorrer em nível proximal, médio e distal.
Na imagem (em A), podemos visualizar a atresia de esôfago, associada à
fístula tráqueo-esofágica distal. Em B, não existe fístula, porém, a distância
entre os cotos (segmentos) esofágicos é muito grande, impedindo o
procedimento terapêutico que será adotado em A.
Na imagem, podemos evidenciar a presença de atresia de
esôfago com fístula, associada a uma complicação grave, que
é a pneumonia.
OBS
2
: Diagnóstico de atresia de esôfago com fístula distal na sala de parto.
 Não passagem da sonda gástrica (8-9 cm da boca);
 Salivação espumosa pela boca e narinas;
 Pelo risco de pneumonia aspirativa, jamais alimentar;
 No pré-operatório, deve-se introduzir uma sonda para aspirar continuamente o material que pode ser
refluído, mantendo o paciente em decúbito elevado (impedir o refluxo gástrico), administração de antibióticos
e nutrição parenteral.
ANOMALIAS ASSOCIADAS
Ocorrem em 30 a 40% dos casos, sendo as mais comuns as cardiovasculares (25 %), atresia duodenal e
anorretal. A regra mnemônica VACTER (V = Vertebrais, A = Anorretais, C= Cardíacas, TE= Tráqueoesofágicas, R=
Renais ou Radiais) pode estar presente, bem como a prematuridade (20%).
TRATAMENTO CIRÚRGICO
No pré-operatório, o medico deve seguir uma série de medidas com o intuito de diminuir o risco de pneumonia:
I. Aspiração do esôfago proximal;
II. Broncoaspiração se necessária;
III. Decúbito elevado se houver fístula TE distal (prevenir refluxo gastro-esôfago-traqueal);
IV. Bloqueadores H 2;
V. Fisioterapia respiratória, se necessária;
VI. Hidratação, aquecimento e antibioticoterapia;
VII. Nutrição parenteral.
VIII. Solicitar ecocardiograma para pesquisar anomalias cardíacas e localização do arco aórtico. Buscar outras malformações.
IX. Nos casos de atresia sem fístula distal, a posição de Trendelemburg permite melhor drenagem da saliva
A cirurgia deve ser realizada eletivamente quando a criança estiver bem do ponto de vista clínico e sem
pneumonia. Procede-se à toracotomia extra-pleural direita com ligadura da fístula TE e anastomose esofágica.
Pode ser deixada sonda nasogástrica transanastomótica de fino calibre para alimentação no pós-operatório. A
alimentação oral pode ser iniciada a partir do sexto dia, desde que não haja complicação da anastomose.
Na presença de pneumonia grave acompanhada de distensão abdominal, cardiopatia cianótica ou prematuridade
importante, é aconselhável gastrostomia descompressiva, enquanto se aguarda a cirurgia definitiva que somente deve
Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2
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ser realizada, quando as condiƒˆes cl„nicas permitirem.
Nos casos de atresia esofágica sem fístula distal, os cotos são distantes, o que impossibilita de imediato a
anastomose. Nestes casos, realiza-se gastrostomia para alimentar e avalia-se a possibilidade de anastomose
esofágica tardia. Quando a distŒncia dos cotos n‡o possibilita anastomose prim€ria, mesmo com alongamento dos
cotos esof€gicos seguindo a t•cnica cir‚rgica de Foker, est€ indicada esofagostomia cervical tempor€ria Em torno de 1
ano de idade, restabelece o trŒnsito atrav•s de esofagocoloplastia ou transposiƒ‡o g€strica.
COMPLICAÇÕES PÓS-OPERATÓRIA
 Pneumonia, septicemia;
 Deisc†ncia da anastomose (sa„da de saliva pelo dreno de t…rax e pneumot…rax);
 Recorr†ncia da f„stula TE;
 Estenose da anastomose.
 O refluxo gastroesof€gico • freq•ente e pode determinar pneumonias de repetiƒ‡o no p…s-operat…rio tardio,
al•m de ocasionar ou agravar estenose da anastomose esof€gica.
PROGNÓSTICO
Bom naquelas crianƒas com diagn…stico precoce, medidas iniciais corretas, peso acima de 2.500g e sem
anomalias graves associadas. Prematuridade, infecƒ‡o e cardiopatias, al•m do diagn…stico tardio, afetam
significativamente o progn…stico.
HƒRNIA DIAFRAGM•TICA DE BOCHDALEK
A hérnia diafragmática de Bochdalek (HB) consiste na passagem de v„sceras abdominais para o interior do
t…rax durante a vida fetal, pelo n‡o fechamento da parte p…stero-lateral do diafragma, determinando compress‡o
pulmonar e comprometendo o seu desenvolvimento embrion€rio, podendo torn€-lo hipopl€sico em graus vari€veis, uni
ou bilateralmente. Ap…s o nascimento, geralmente est‡o presentes todo o intestino delgado, colo ascendente, est•mago,
baƒo e, eventualmente, parte do lobo esquerdo do f„gado.
O conte‚do herni€rio durante a vida fetal pode comprometer a embriologia normal do pulm‡o, determinando
hipoplasia deste …rg‡o. Isto leva a uma diminuiƒ‡o do tamanho do pulm‡o, da ramificaƒ‡o br•nquica e do leito vascular
pulmonar com espessamento da musculatura lisa das arter„olas pulmonares. Se presente a hipoplasia pulmonar ao
nascimento, a cianose • acentuada e o aumento da resist†ncia vascular pulmonar resulta em shunt D-E, atrav•s do
forame oval e canal arterial, ocasionando hipoxemia e acidose, respons€veis pela deterioraƒ‡o cl„nica e …bito.
INCIDÊNCIA
A HB apresenta incid†ncia em 1 caso a cada 3.000 nativivos. Ocorre, em 85% dos casos, do lado esquerdo e,
em rar„ssimas exceƒˆes, bilateral (em 1%). A incid†ncia n‡o se distingue quanto ao aspecto sexual, ocorrendo com a
mesma incid†ncia em homens e mulheres.
QUADRO CLÍNICO
O in„cio e a intensidade dos sintomas est‡o relacionados com o grau de hipoplasia pulmonar, podendo surgir
logo ao nascimento, horas depois ou mesmo tardiamente, agravando-se ‰ medida que o ar • deglutido e distende as
alƒas intestinais. O diagn…stico precoce conduz a um tratamento cl„nico adequado logo ap…s o nascimento. 90% dos
indiv„duos com HB apresentam-se sintom€ticos nas primeiras 24h de vida. Nas ocasiˆes de sintomas at• 6h do
nascimento, o rec•m-nato ser€ taxado como portador de HB de alto risco. Paradoxalmente, na literatura s‡o descritos
casos assintom€ticos em crianƒas maiores.
 Dispn•ia, cianose;
 Abdome escavado;
 T…rax com diŒmetro AP aumentado;
 Desvio do ictus cordis;
 Murm‚rio vesicular ausente no lado afetado;
 Hipoxemia grave.
DIAGNÓSTICO
O diagn…stico • fornecido por meio do exame cl„nico e f„sico, aliado aos exames complementares. O diagn…stico
por exames de imagem deve ser procedido, se apresentado como importante ferramenta no diagn…stico precoce da HB,
ou seja, durante o per„odo pr•-natal. • prudente a realizaƒ‡o de R-X simples ao nascimento e US no pr•-natal.
 Diagnóstico pré-natal por ultrassonografia (90% casos) – polidrŒmnio • freq•ente.
 Ao nascer: raios X simples t…raco-abdominal – alƒas no interior do t…rax, est•mago presente com sonda
g€strica, aus†ncia ou pobreza de ar no abdome. O exame contrastado do tubo digestivo n‡o est€ indicado,
exceto quando h€ d‚vida diagn…stica, especialmente nas h•rnias com apresentaƒ‡o tardia.
Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2
199
R-X simples tóraco -abdominal demonstrando a presença de alças na cavidade
pulmonar do lado esquerdo. Trata-se de HB, com herniação de estruturas da
cavidade abdominal, que impossibilita o crescimento do pulmão.
Radiologicamente percebemos densidade de ar de alças intestinais
(hipertransparência).
R-X simples tóraco -abdominal evidenciando alças intestinais na cavidade
pulmonar direita. Percebemos densidade de ar dentro de uma área de pulmão
hipoplásico.
Na imagem, podemos evidenciar uma peça anatômica pos-mortem,
demonstrando a presença de várias estruturas através da hérnia, dentre as
quais, o Baço é uma estrutura inconfudível nesta peça. A presença de órgãos
abdominais grandes, como o estômago, influencia no grau de hipoplasia
pulmonar. A saber, a hipoplasia pulmonar severa é mais descrita associada à
herniação do estômago.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Doenças císticas do pulmão, hérnia hiatal, hérnia de Morgagni e pneumatoceles.
ANOMALIAS ASSOCIADAS
Hipoplasia pulmonar, má rotação intestinal, malformações cardíacas, do SNC e gênito-urinárias.
MANEJO INICIAL
 Sonda gástrica para descompressão do tubo digestivo;
 Evitar ventilação com máscara, pois levará ar para o interior do estômago e alças intestinais;
 Toda a atenção deve ser voltada para adequada monitorização da função respiratória, minimizando a hipóxia;
 Se necessário, suporte ventilatório endo-traqueal, após sedação, com pressões baixas, por risco de
pneumotórax. Contralateral. Se a PO2 não se elevar, é provável que exista hipoplasia pulmonar. Hipercapnia
permissiva é bem tolerada;
 Evitar manuseio excessivo pela vasoreatividade pulmonar;
 Aquecimento, hidratação, antibióticos e surfactante;
 Cateterismo de veia umbilical e artéria umbilical (gasometria);
 A oximetria de pulso é uma excelente forma de monitorização quando usada concomitantemente nos territórios
pré e pós ductal (extremidade do braço direito e de qualquer membro inferior).
 Monitorar a pressão arterial e diurese;
Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2
200
 Solicitar ecodopplercardiograma
 Corrigir a acidose
 Drogas vasodilatadoras pulmonares podem estar indicadas em casos de shunt: tolazoline, usada no passado, na
dose de 1 a 2 mg/kg, e, mais recentemente, o óxido nítrico sob forma inalatória, que tem seletividade pulmonar,
portanto, sem os efeitos colaterais da tolazoline.
TRATAMENTO CIRÚRGICO
Não é cirurgia de emergência. Após estabilização do RN, realiza-se laparotomia subcostal e faz-se a redução
do conteúdo herniário para a cavidade abdominal. Resseca-se o saco (presente em 20% dos casos) e fecha-se o defeito
muscular. Raramente há necessidade de colocação de tela para se fechar o diafragma.
Não se deve tentar insuflar o pulmão hipoplásico, pelo risco de pneumotórax no lado oposto, nem suturar a
parede abdominal com tensão. Não há indicação de drenagem torácica para permitir que o mediastino retorne
lentamente à parte mediana sem causar desordem hemodinâmica
PÓS-OPERATÓRIO
Inclui, basicamente, assistência ventilatória com baixa pressão e manutenção das condicões hemodinâmicas.
PROGNÓSTICO
A mortalidade é elevada (35%) naquelas crianças que apresentam desconforto respiratório importante nas
primeiras seis horas de vida. São fatores agravantes: prematuridade, anomalias cardíacas associadas a efeitos do
barotrauma e acidose respiratória grave apesar de bom suporte ventilatório. Gasometrias com pH > 7.2. pCO2 < 50
mmHg e pO2 > 100 mmHg têm bom prognóstico.
EVENTRA„‡O DIAFRAGM•TICA
É uma diminuição ou ausência de fibras musculares do diafragma, de forma parcial ou total, que faz com que
fique formado apenas pelos folhetos pleural e peritonial. Pode também haver elevação de todo o diafragma por paralisia
ocasionada principalmente por toco-traumatismo em parto de apresentação pélvica por estiramento do plexo cervical e
lesão do nervo frênico.
QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO
O quadro clínico é variável. Nas pequenas eventrações, ela
é assintomática. Se o diafragma estiver bem elevado, sinais de
desconforto respiratório grave podem estar presentes ou,
tardiamente, pode haver quadro de infecção respiratória de
repetição. A bilateralidade é incomum. Pode haver volvo gástrico, se
do lado esquerdo.
O diagnóstico é procedido pela radiologia, especialmente,
pela radiografia de tórax em perfil. Neste exame, observamos
elevação do hemi-diafragma comprometido, e a fluoroscopia
demonstra movimento paradoxal. O diagnóstico diferencial é com
doença cística do pulmão (malformação adenóide cística).
TRATAMENTO
A cirurgia estará indicada se o defeito for importante e a criança sintomática. O tratamento cirúrgico consiste em
plicatura da membrana diafragmática por via torácica. O prognóstico é bom na maioria dos casos.
Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2
201
DERRAME E EMPIEMA PLEURAL
O derrame e empiema pleural do rec•m-nato (RN) • uma
complicaƒ‡o, geralmente, dos quadros pneum•nicos. A principal
bact•ria envolvida no empiema pleural • a S. aureus.
Na imagem, podemos perceber o velamento do seio
costofr†nico, assim como o desvio das estruturas mediastinais para o
lado contralateral.
O tratamento • feito com uso de antibi…ticos e drenagem da
secreƒ‡o purulenta, eventualmente.
ENFISEMA LOBAR CONGˆNITO
Consiste na hiperinsuflaƒ‡o de um lobo pulmonar, com compress‡o e atelectasia do par†nquima pulmonar
adjacente, determinante de desvio do mediastino e herniaƒ‡o do pulm‡o para o lado contra lateral.
ETIOLOGIA
Defici†ncia de cartilagem br•nquica que provocaria um mecanismo valvular, com retenƒ‡o de ar no alv•olo, ou
num lobo polialveolar. Pode associar-se a anomalias card„acas. Os lobos mais acometidos s‡o o lobo superior esquerdo
– 40%, lobo m•dio direito – 35% e lobo superior direito – 25%. Raramente afeta mais de um lobo.
QUADRO CLÍNICO
Desconforto respirat…rio progressivo e abaulamento do hemit…rax comprometido com desvio do ictus cordis para
o lado normal. Em 50% dos casos, manifesta-se no primeiro m†s de vida e em 30% no nascimento.
DIAGNÓSTICO
Raios X simples do t…rax em AP e perfil demonstram hipertranspar†ncia do lobo afetado, apresentando fina
trama vasobr•nquica no seu interior, desvio mediastinal para o lado oposto e sinais de atelectasia do lobo homolateral. A
tomografia computadorizada pode ser necess€ria em caso de d‚vida diagn…stica.
Logo ao nascimento, a imagem radiol…gica pode ser de hipotranspar†ncia por presenƒa de l„quido pulmonar.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Principalmente pneumot…rax hipertensivo, al•m de cisto pulmonar, pneumatocele e atelectasia do lado oposto.
TRATAMENTO
Cir‚rgico: ressecƒ‡o do lobo afetado, que pode ser emergencial, se a insufici†ncia respirat…ria for aguda.
PNEUMOT‚RAX
• a presenƒa de ar na cavidade pleural e pode aparecer em cerca de 1%
dos exames radiogr€ficos neonatais de rotina, por•m de forma assintom€tica. • a
forma mais comum da s„ndrome de extravasamento de ar do RN. Pode ser
secund€rio a afecƒˆes pulmonares ou decorrer da assist†ncia ventilat…ria ou de
manobras de ressuscitaƒ‡o, sendo uni ou bilateral. Tem sido relativamente
freq•ente em prematuros com membrana hialina, especialmente se as pressˆes
inspirat…rias estiverem elevadas, podendo associar-se a enfisema mediastinal,
pneumoperic€rdio e at• pneumoperit•nio
SINTOMATOLOGIA
Vari€vel, dependendo da quantidade de ar no espaƒo pleural. No
pneumot…rax hipertensivo, o RN apresenta insufici†ncia respirat…ria grave e
card„aca, que, n‡o tratados, o levar‡o a …bito Suspeitar sempre quando h€ queda
de saturaƒ‡o em pacientes com respiraƒ‡o assistida.
DIAGNÓSTICO
Diminuiƒ‡o da expansibilidade no lado afetado e do murm‚rio vesicular. Raios X de t…rax (hipertranspar†ncia e
desvio do mediastino). Transiluminaƒ‡o com fibra …tica.
TRATAMENTO
Nos casos leves e assintom€ticos, a conduta • expectante. Nos casos graves, recomenda-se a drenagem
fechada em selo d’€gua. No pneumot…rax hipertensivo, a punƒ‡o descompressiva em situaƒ‡o de emerg†ncia pode
salvar a vida da crianƒa.
Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2
202
MED RESUMOS 2011
NETTO, Arlindo Ugulino.
CIRURGIA PEDIÁTRICA
REGIÃO INGUINAL E GENITÁLIA EXTERNA
(Professor Wilberto Trigueiro)
A regi‡o inguinal e a genit€lia externa s‡o sedes de uma s•rie de malformaƒˆes comuns no que diz respeito ao
atendimento em serviƒos de Cirurgia Pedi€trica em todo o mundo.
ANATOMIA DA REGI‡O INGUINAL
A região inguinal (virilha), que se estende entre as espinhas il„acas
Œntero-superiores e o tub•rculo p‚bico, ou seja, inferiormente ‰ parede Œntero-
lateral do abdome, • uma importante €rea do ponto de vista anat•mico e
cl„nico: anatomicamente, porque • uma regi‡o onde estruturas entram e saem
da cavidade abdominal, e clinicamente, porque as vias de sa„da e entrada
(regi‡o de transiƒ‡o) s‡o €reas de fraqueza, estando propensas ent‡o, a
formaƒ‡o de h•rnias.
Na verdade, a maioria das h•rnias abdominais ocorre nesta regi‡o,
com as h•rnias inguinais contribuindo para 75% de todas as h•rnias
abdominais. Estas h•rnias ocorrem ambos os sexos, por•m a maioria das
h•rnias inguinais (aproximadamente 86%) ocorre em homens, devido ‰
passagem do fun„culo esperm€tico atrav•s do canal inguinal, o qual • maior
nesse sexo.
O canal inguinal • formado em relaƒ‡o ‰ descida do test„culo durante o
desenvolvimento fetal (descida do test„culo). • uma passagem obl„qua situada
na parte inferior da parede abdominal anterolateral, direcionada „nfero-
lateralmente, paralelo ao ligamento inguinal, cerca de 2 a 4 cm acima deste.
Mede cerca de 4 cm de comprimento e d€ passagem ao fun„culo esperm€tico
nos homens e ao ligamento redondo do ‚tero nas mulheres. O canal inguinal
tamb•m cont•m vasos sangu„neos e linf€ticos.
D€ passagem ainda ao ramo genital do N. genitofemural (L1 – L2) cuja
secƒ‡o no ato operat…rio gera um inc•modo doloroso bastante importante nas
inguinotomias, refletida na face interna da coxa ou na bolsa escrotal.
HƒRNIA INGUINAL
Conceitua-se hérnia como sendo a passagem
de uma v„scera atrav•s de uma parede para um s„tio
anat•mico que, normalmente, n‡o a cont•m. Portanto,
a h•rnia inguinal nada mais • que a protrus‡o de um
…rg‡o interno atrav•s da regi‡o inguinal. Assim como
no adulto, a h•rnia inguinal na crianƒa pode ser
classificada em direta e indireta:
 Hérnia Inguinal indireta (congênita): • a mais
comum de todas as h•rnias abdominais. Nesse
caso, o …rg‡o herniado deixa a cavidade
abdominal lateralmente aos vasos epig€stricos
inferiores e entra no anel inguinal profundo,
sendo revestido por um saco herni€rio formado
por um processo vaginal persistente e todos os
tr†s revestimentos fasciais do fun„culo
esperm€tico. Essa h•rnia atravessa todo o
canal inguinal para sair no anel inguinal
superficial. Comumente entra no escroto.
 Hérnia inguinal direta (adquirida): o …rg‡o herniado deixa a cavidade abdominal medialmente aos vasos
epig€stricos inferiores, protraindo-se n‡o pelo anel inguinal profundo, mas por uma €rea relativamente fraca
situada na parede posterior do canal inguinal – o tr„gono inguinal. Quase nunca entra no escroto, contudo,
quando o faz, passa lateralmente ao fun„culo esperm€tico.
Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2
203
INCIDÊNCIA E FISIOPATOLOGIA
A hérnia inguinal é uma condição muito frequente do paciente pediátrico (principalmente, no bebê prematuro; ver
OBS
1
). Sua incidência varia de 0,8 a 4%, o que é um número significante, uma vez que a prematuridade, atualmente,
tornou-se muito frequente.
Nota-se, contudo, que, muitas das vezes, ela ocorre não por fraqueza muscular (o que, de antemão, já nos dá o
raciocínio que o seu tratamento independe da instalação de telas), mas se deve à persistência do conduto peritônio-
vaginal (ver OBS
1
). Portanto, a hérnia inguinal mais comum na pediatria é a hérnia indireta ou congênita.
OBS
1
: O conduto peritônio-vaginal é, anatomicamente, a estrutura que forra, inferiormente, a cavidade abdominal e
que se prolonga até a bolsa escrotal, permitindo a passagem do testículo desde a cavidade abdominal até o interior do
escroto. Quando o testículo chega à bolsa escrotal, o canal é obliterado (o que ocorre por volta da 36ª semana de
gestação). Portanto, em crianças pré-termo, o canal peritônio-vaginal pode continuar aberto e, quando o recém-nascido
exerce algum esforço (como no choro ou na dispnéia, eventualmente), aumentando a pressão intra-abdominal, pode vir
a desenvolver hérnias e dificultar o fechamento do conduto.
Portanto, quando há persistência do canal peritônio-vaginal, há uma maior predisposição da passagem de alças
intestinais e de epiploon através deste canal nos meninos, ou a passagem de alças intestinais e do ovário nas meninas.
Contudo, a hérnia inguinal é bem mais frequente no menino do que na menina, uma vez que o ligamento redondo do
útero ocupa toda a extensão do canal neste sexo. Nos meninos, há de se considerar também que a hérnia inguinal
ocorre mais do lado direito do que do lado esquerdo.
Em resumo, temos os seguintes dados relevantes:
 Incidência de 0,8 a 4%;
 Mais comum em meninos do que em meninas (3♂ : 1♀);
 Predominância do lado direito (60%);
 25% ocorrem no lado esquerdo e 15% bilateral (a bilateralidade é mais frequente no bebê prematuro).
 35% das hérnias aparecem nos primeiros 30 dias de vida.
CLASSIFICAÇÃO DA HÉRNIA INGUINAL QUANTO À CAPACIDADE DE REDUÇÃO
A hérnia pode ser classificada ainda quanto a sua capacidade de redução ou desaparecimento, seja através de
manobras de compressão ou espontaneamente. Desta forma, temos:
 Redutível: quando as hérnias retornam à cavidade abdominal em ocasiões cotidianas (ao deitar, por exemplo)
ou por manobras de compressão.
 Irredutível: quando a hérnia não retoma mais à cavidade abdominal por manobras de compressão. Pode ser
subclassificada em encarcerada (quando não há comprometimento vascular) ou estrangulada (quando há
comprometimento vascular).
o Encarcerada: O conteúdo herniário não consegue retornar ao seu local habitual anatômico, porém, a
região ainda não se apresenta com isquemia. O tempo de corte para o reparo cirúrgico da hérnia
encarcerada é de 4h, caso não seja procedido neste tempo, a mesma evoluirá para a forma
estrangulada.
o Estrangulada: O conteúdo desta hérnia já se apresenta em sofrimento, como consequência do
garroteamento dos vasos, instala-se a necrose pós-isquemia. É a evolução final da hérnia encarcedada
após 4h.
OBS
2
: Os sinais clínicos de úlcera encarcerada são:
 Início súbito: tumoração região inguinal
 Irredutível , dura e dolorosa
 Edema e hiperemia da pele e bolsa escrotal
 Choro, irritabilidade, vômitos alimentares
 Sinais tardios de obstrução intestinal
Portanto, a hérnia inguinal, que inicialmente pode se apresentar redutível, pode evoluir para a hérnia
encarcerada e/ou estrangulada, de modo que o quadro passa a se apresentar doloroso e caracterizando uma condição
cirúrgica de urgência, sob pena de comprometimento da irrigação arterial local e das estruturas envolvidas. Pode haver,
inclusive, necrose de ovário (quando este está herniado nas meninas) ou de intestino (quando estes estão herniados no
menino).
O fato de o canal inguinal ser estreito na criança faz com que o anel inguinal profundo e superficial sejam
praticamente sobrepostos. Este fato facilita ainda mais o encarceramento das hérnias inguinais.
DIAGNÓSTICO
A principal história clínica de uma criança com hérnia inguinal é a presença de um abaulamento ou tumoração na
região inguinal durante a realização de um esforço físico ou durante o choro. Contudo, nem sempre ela se mostra visível,
sendo necessário lançar mão de outros meios para seu diagnóstico.
Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2
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De toda maneira, o exame clínico (anamnese e exame físico) é a
melhor maneira de diagnosticar a hérnia inguinal. Não é indicada a
utilização de ultrassonografia para seu diagnóstico. Obviamente, o
exame clínico deve ser realizado com o recém nascido nu. Podemos
observar, inclusive, uma assimetria na região inguinal à inspeção.
Ao exame físico, quando a hérnia é unilateral, é possível palpar
o cordão espermático de um lado e a alça no lado acometido. Quando a
víscera está herniada, é possível palpar o saco herniário, de modo que
se tem a sensação de um engrossamento do canal inguinal quando este
é comprimido contra o púbis. É possível ainda ter a sensação tátil do
deslizamento dos folhetos peritoneais, semelhante ao atrito de papéis
de seda, um sobre o outro (sinal da seda).
OBS
3
: Quando, ao diagnóstico, a hérnia se apresenta com volume
considerável e a criança não pára de chorar, preconiza-se a sedação do
paciente (com Dormonid) e aplicação de compressas geladas sobre a
hérnia, além de posicioná-lo em Trendelenburg. Se depois destas
medidas a hérnia sofrer resolução, devemos marcar a cirurgia eletiva
para um momento oportuno. Caso contrário, ou quando o paciente se
apresenta com hérnia irredutível, edema importante com dor, aumento
de testículo e hiperemia da bolsa escrotal, devemos considerar,
imediatamente, a cirurgia de urgência.
TRATAMENTO DA HÉRNIA
Quando diagnosticada, o tratamento da hérnia é cirúrgico, desde que não haja
nenhuma contra-indicação. Em resumo, o tratamento da hérnia redutível é eletivo ,
enquanto que o tratamento da hérnia irredutível (seja ela encarcerada ou estrangulada)
é em caráter de urgência .
A cirurgia consiste na herniorrafia, com reforço cirúrgico do canal inguinal. A
sutura a ser optada é intradérmica com nylon ou Vycril.
Geralmente, a anestesia geral deve ser realizada associada à instilação de
anestesia local para reduzir a dor no pós-operatório. Na maior parte dos casos, assim
que a criança acorda, já recebe alta, sendo necessária apenas a prescrição de
antitérmicos (Paracetamol) e analgésicos, se preciso for.
OBS
4
: Quando a criança nasce com hérnia inguinal mas apresenta baixo peso corporal, é prudente esperar até ela
receber alta do berçário e alcançar a massa mínima de 1800 mg. Com menos que isso, o risco de apnéia pós-operatória
é maior. Ao contrário disso, esperar a criança obter muita massa também é contra-indicado: crianças com mais de 4kg
apresentam maior suscetibilidade de desenvolver hérnias irredutíveis.
De Janeiro de 2000 a Janeiro de 2008, o Prof. Dr. Wilberto Silva Trigueiro operou mais de 85 hérnias inguinais
encarceradas em crianças entre 0 e 1 ano. A maioria, tinha menos que 3 meses de idade. Por esta razão, o tempo ideal
para a realização da cirurgia de hérnia inguinal é tão logo que seja diagnosticada (com exceção dos prematuros de baixo
peso).
OBS
5
: Por vezes, quando realizamos a cirurgia de hérnia inguinal em meninas, ao se abrir a região inguinal, nos
deparamos com dois testículos. Este quadro caracteriza a chamada síndrome de Morris ou insensibilidade
androgênica. Sabe-se que por volta da 10ª semana de gestação, o embrião, até o momento bi-potencial, apresenta
apenas o tubérculo genital, que se desenvolve nos ductos de Wolf (que vão
dar origem ao epidídimo, vesículas seminais, próstata, ductos deferentes,
etc) e os ductos de Müller (que vão dar origem aos 2/3 superiores da
vagina, útero, tubas uterinas, ovários). Se os testículos estiverem presentes
(isto é, se o embrião for masculino), sintetizam o fator inibidor dos ductos
de Müller, inibindo o desenvolvimento destes, proporcionando o
desenvolvimento dos ductos de Wolf. Portanto, para que o embrião se torne
mulher com todos seus órgãos genitais, não é necessária a presença de
gônada nenhuma; para ser homem, o embrião necessita de testículos.
Contudo, geralmente, o embrião apresenta todo o desenvolvimento dos
ductos de Müller e ainda possuem os testículos (logicamente, apresentam
uma vagina atrófica, mas sem útero, tubas e ovários). Neste caso, devemos
retirar os testículos e realizar uma reconstrução vaginal anatômica.
Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2
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HIDROCELE DO RECƒM-NASCIDO
Em alguns casos, o canal inguinal se apresenta estreitado ou fechado, mas estando associado ‰ presenƒa de
l„quido na regi‡o da bolsa escrotal. Tal l„quido pode ter entrado durante a vida fetal, sendo, provavelmente, de origem
peritoneal.
A hidrocele • uma situaƒ‡o caracterizada pelo
ac‚mulo de l„quido na bolsa escrotal sendo sugerida
clinicamente pela mobilidade preservada e com
transiluminaƒ‡o positiva (permite a passagem de um
feixe luminoso quando em contato direto a uma fonte de
luz). Geralmente • indolor.
Geralmente, apresenta resoluƒ‡o espontŒnea
(em cerca de 95% dos casos), sendo necess€ria apenas
uma conduta conservadora, desaparecendo com at• 1
ano a 1 ano e meio de idade. Caso contr€rio, indica-se a
cirurgia.
Contudo, a hidrocele comunicante (ver OBS
6
)
• cir‚rgica. Geralmente ocorre em crianƒas ap…s o
segundo ano de vida.
A cirurgia consiste no fechamento cir‚rgico do conduto perit•nio-vaginal, com incis‡o na regi‡o inguinal,
associada ‰ drenagem do conte‚do escrotal. A hidrocele do adulto, ao contr€rio, • tratada atrav•s de incis‡o na bolsa
escrotal.
OBS
6
: A hidrocele comunicante pode ser exemplificada por aquele quadro cl„nico caracterizado pela alteraƒ‡o do
volume da bolsa escrotal ao longo do dia: o paciente que acorda com a bolsa escrotal vazia e que, ao passar do dia,
apresenta um aumento da mesma, o que significa dizer que o l„quido tem livre acesso, para entrar ou sair na bolsa
escrotal. Neste caso, o tratamento • cir‚rgico.
OBS
7
: Os pacientes com derivaƒ‡o ventr„culo-peritoneal (v€lvula que drena o l„quor do c•rebro at• o perit•nio) para
tratamento de hidrocefalia n‡o-comunicante constituem um grupo de risco para hidrocele. Quando estes pacientes
desenvolvem hidrocele unilateral, devemos intervir cirurgicamente, corrigindo o defeito de um lado e intervindo
cirurgicamente do outro, evitando, assim um quadro futuro do outro lado.
TUMOR DE TEST‰CULO
Clinicamente, o tumor de test„culo • bastante semelhante ‰ hidrocele, inclusive pelo quadro n‡o-doloroso e
aumento da regi‡o escrotal. Contudo, nota-se nesta situaƒ‡o uma consist†ncia endurecida, sem o sinal da
transiluminaƒ‡o. At• que se prove o contr€rio, todo tumor de test„culo • considerado maligno, e deve ser retirado por
completo.
A ultrassonografia e a mediƒ‡o laboratorial da alfa-feto prote„na elevada (um marcador tumoral) s‡o exames
fundamentais para o diagn…stico.
O tratamento • cir‚rgico, sendo a operaƒ‡o realizada pela regi‡o inguinal – e n‡o pela bolsa escrotal. Durante a
cirurgia, devemos pinƒar o cord‡o para evitar a migraƒ‡o de c•lulas malignas. A bi…psia de congelaƒ‡o pode ser
realizada antes da retirada do test„culo. A instalaƒ‡o de uma pr…tese testicular pode servir como opƒ‡o est•tica para o
quadro.
Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2
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VARICOCELE
A varicocele consiste em uma condição adquirida caracterizada pela presença de varizes na região da bolsa
escrotal, melhor evidenciada durante a manobra de Valsalva. Atinge cerca de 10% das crianças na fase puberal, por
volta dos 12 anos, sendo uma condição visível quando ela atinge o grau 3 ou grau 4 da doença.
Tal quadro pode desencadear uma
oligoespermia e, portanto, adultos com
varicocele têm a tendência de ser estéreis.
As varizes são mais comuns na região
esquerda do que a direita, uma vez que a
drenagem da região esquerda se faz para
uma veia mais verticalizada (veia renal),
enquanto que a região direita drena para a
veia cava.
A ultrassonografia com Doppler
pode servir por evidenciar um aumento do
fluxo sanguíneo local ou demonstrar um
testículo de massa diminuída, pouco
desenvolvido.
Tem-se indicação cirúrgica quando
a varicocele atinge tamanhas dimensões,
ao ponto de torna-se feio esteticamente
e/ou impedir o desenvolvimento do
testículo.
DISTOPIA TESTICULAR
Como se sabe, em um embrião de 7 semanas, o testículo ainda não desceu da sua posição na parede posterior
do abdome. Um feto com 28 semanas (sétimo mês) mostra o processo vaginal e o testículo atravessando o canal
inguinal. O processo vaginal conduz lâminas de fáscia da parede abdominal a sua frente. Normalmente, em um recém-
nascido, houve obliteração do pedículo do processo vaginal. Os remanescentes do processo vaginal formaram a túnica
vaginal do testículo, e o remanescente do gubernáculo formou o ligamento escrotal ou desapareceu. É considerada
normal ainda a descida total do testículo por volta do 3º mês depois do nascimento.
A distopia testicular consiste em uma alteração de posição do testículo com relação a sua localização anatômica
normal, que seria na bolsa escrotal. O testículo, não estando no seu sítio anatômico normal, pode caracterizar pelo
menos 4 situações: (1) criptoquirdia: o testículo não desceu até a bolsa escrotal, mas parou seu trajeto de descida, que
acontece desde o abdome até a região inguinal; (2) ectopia testicular; (3) testículo retrátil; (4) testículo ascedente (uma
nova modalidade de distopia testicular descrita na literatura). Os três últimos devem ser tratados conservadoramente,
diferentemente do primeiro.
CRIPTOQUIRDIA
A croptoquirdia (do grego, orchis = testículo + kryptos = oculto) consiste na não descida dos testículos até a
bolsa escrotal, podendo ficar situados na região abdominal ou no canalículo inguinal. Acomete cerca de 0,8 a 1% das
crianças que nascem. A incidência em prematuros é bem maior, atingindo 30% segundo Berkowitz, 1993, uma vez que a
descida do testículo não aconteceu na vida intra-uterina.
Em geral é unilateral (apenas um dos testículos não desce para o saco escrotal), porém 25% dos casos são
bilaterais. Como o escroto serve para manter a temperatura dos testículos diferente da corpórea e estes não se
encontram na bolsa testicular, ocorre interrupção das células germinativas com hialinização e espessamento da
membrana basal dos túbulos seminíferos, aumento do estroma e células de Leydig proeminentes.
Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2
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Se os testículos não desceram até a bolsa depois 3 a 6 meses de idade, é possível que eles não voltem mais
passivamente, sendo necessária a intervenção cirúrgica (que deve acontecer em torno de 8 a 12 meses de idade). Se
não tratada, a croptoquirdia pode apresentar as seguintes complicações:
 Alterações histológicas: presença de fibrose peritubular devido à maior temperatura abdominal a qual o testículo
está exposto (cerca de 2 a 3ºC maior do que na bolsa escrotal). Isso reflete na diminuição das espermatogônias
e diminuição do crescimento do testículo.
 Infertilidade: bastante associada à criptoquirdia. O grau de fertilidade é reduzido quando a criptoquirdia é
unilateral, e a infertilidade é presente quando a criptoquirdia é bilateral.
 Torção testicular
 Hérnia inguinal
 Neoplasias (3,5 a 10 x)
 Problemas psicológicos
 Malformações associadas: epidídimo (>25%), deferente e disgenesia testicular.
O tratamento consiste na correção cirúrgica (Orquidopexia), sob anestesia geral. Opta-se pela idade ideal para a
cirurgia, que é por volta de 1 ano (entre 8 e 12 meses de idade). Os objetivos do tratamento são:
 Melhorar a fertilidade: se a criança não é operada ou se for operada tardiamente, o índice de fertilidade cai e, se
não for operada, torna-se estéril.
 Corrigir hérnia associada
 Facilitar o auto-exame para evidenciar câncer de testículo
 Prevenir distúrbios psicológicos
ECTOPIA TESTICULAR
Tal situação é caracterizada pela descida do testículo mas que, ao chegar próximo à
bolsa escrotral, não entra na mesma, mas ganha um caminho diferente; contudo, pode retornar
à bolsa escrotal eventualmente. As localizações mais comuns da ectopia testicular são:
perineal, crural, inguinal superficial, transversa, pubopeniana.
Portanto, diferentemente da critptoquirdia, o testículo ectópico é morfologicamente e
funcionalmente normal, de forma que o tratamento pode consistir no simples acompanhamento
clínico do quadro. A cirurgia não é necessária.
AFEC„‡O ESCROTAL AGUDA
O escroto agudo é qualquer processo inflamatório agudo e que curse com dor na região escrotal. É
caracterizado, portanto, por um quadro doloroso na região escrotal (geralmente associada a outros comemorativos,
como hiperemia e edema na região), decorrente de eventos patológicos em estruturas nela localizada. Se não tiver dor,
não há o diagnóstico de escroto agudo. Desta forma, o escroto agudo é causado pelas condições dolorosas listadas na
tabela abaixo:
Indolor Dolorosa
 Hidrocele
 Varicocele
 Inguinal hernia redutível
 Tumor de testículo
 Torção testicular
 Torção de apêndices testiculares
 Epididimite
 Orquite
 Hérnia encarcerada
 Trauma
As causas mais comuns de afecções escrotais agudas são: torção de apêndice, torção de testículo, orquite
epididimite, trauma, etc.
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TORÇÃO TESTICULAR
A torção testicular (ou torção do funículo espermático) é
uma urgência cirúrgica, devido ao risco de necrose testicular,
constituindo uma das principais causas de escroto agudo.
A torção obstrui a drenagem venosa, com consequente
edema e hemorragia, e subsequente obstrução arterial. Se não for
corrigida imediatamente, pode haver necrose de todo o testículo.
A torção testicular é causada por anormal fixação do testículo
ao escroto, o que pode causar comprometimento vascular. Os
principais sinais e sintomas são:
 Dor no testículo
 Edema
 Hiperemia
 Testículo elevado
 Reflexo cremastético ausente
A torção de testículo pode ocorrer em qualquer idade, porém é mais comum na adolescência. A torção
geralmente ocorre logo acima do pólo superior do testículo.
O diagnóstico do quadro de escroto agudo é obtido através da apresentação clínica. Contudo, a torção de
testículo é diagnosticada facilmente através da ultrassonografia com Doppler colorido, o qual não mostra fluxo sanguíneo
reduzido ou ausente no funículo espermático. Quando não há fluxo ou o exame é duvidoso, devemos optar pela cirurgia
de urgênica. Caso contrário, isto é, quando ainda há fluxo sanguíneo, podemos optar pelo tratamento clínico, com
suporte para dor (a base de analgésicos) e acompanhamento.
É feita uma incisão escrotal alta para ter acesso ao funículo espermático, e o testículo e/ou funículo é girado
quando necessário para reduzir a torção e garantir a irrigação do testículo. Para evitar a recorrência ou ocorrência
contralateral, que é provável, os dois testículos são fixados cirurgicamente no septo escrotal.
A incidência de necrose na torção de testículo é comum. Esta necrose está diretamente relacionada com alguns
fatores como o tempo de torção e o número de voltas dadas pelo funículo espermático. Estima-se que o tempo limítrofe
entre a torção e a necrose é de até 6 a 8 horas. Contudo, sempre devemos preservar o testículo ao máximo durante a
cirurgia, buscando o mínimo de persistência de irrigação arterial no testículo (observando a coloração do testículo depois
de revertida a torção ou mesmo realizando pequenas punções no mesmo, esperando o escape de sangue). Se não for
possível, é prudente a retirada do testículo, o qual deve ser substituído por uma prótese.
TORÇÃO DE APÊNDICES TESTICULARES
Apêndices testiculares são resquícios embrionários presos ao testículo que, quando torcidos, geram um quadro
doloroso, caracterizando o escroto agudo. Deve-se realizar o diagnóstico diferencial com o testículo torcido, uma vez que
a conduta de tratamento da torção de apêndices testiculares não é cirúrgica. O diagnóstico diferencial pode ser
facilmente obtido pela ultrassonografia com Doppler, o qual mostra fluxo sanguíneo normal para o testículo.
Há, na maioria das vezes, uma hipersensibilidade dolorosa ao toque na região superior ao escroto, devido à
necrose do apêndice testicular. O tratamento é clínico, com suporte para dor, repouso e compressão local.
Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2
209
FIMOSE
A fimose consiste na impossibilidade de exteriorizaƒ‡o da glande, geralmente causada por uma estenose da
rima do prep‚cio (figura A e B). Pode haver ainda a chamada parafimose, que consiste na retraƒ‡o mecŒnica (manual)
do prep‚cio e sua incapacidade de voltar, o qual forma um anel circundando a coroa da glande (figura C).
A cl„nica pode ser caracterizada pela dificuldade em urinar. • comum o relato de abaulamento durante a micƒ‡o,
devido ‰ retenƒ‡o de urina internamente ao prep‚cio. A fimose dificulta tamb•m a higiene da glande, o que pode
predispor a infecƒˆes locais.
Toda crianƒa nasce com fimose, sendo uma estrat•gia da natureza humana para proteger a glande. Portanto,
nem sempre • prudente realizar a cirurgia de fimose logo ao nascer, a n‡o ser que haja infecƒ‡o urin€ria ou da glande.
As principais indicaƒˆes para a circuncisão ou postectomia s‡o:
 M•dicas
 Anel prepucial esten…tico, com fibrose ou excesso de prep‚cio
 Crianƒas com infecƒ‡o urin€ria de repetiƒ‡o - refluxo v•sico-uretral (VU), v€lvula de UP
 B€lano postites frequentes
 Parafimose
 Causas religiosas e culturais
A correƒ‡o cir‚rgica consiste na circuncis‡o (ou postectomia), com retirada do prep‚cio (prega cutŒnea que
recobre a glande do p†nis) e exposiƒ‡o da glande. Geralmente, a postectomia • indicada ap…s os 3 anos de idade. Ela •
contra-indicada nos seguintes casos:
 Rec•m nascidos
 Hiposp€dias,
 Episp€dias,
 Megalouretra
 P†nis “embutido” (ver OBS
9
)
OBS
8
: De acordo com dados da Organizaƒ‡o Mundial de Sa‚de (OMS), cerca de 30% dos homens no mundo s‡o
circuncidados (algo em torno de 665 milhˆes de homens), a maioria deles por motivos religiosos, uma vez que 68%
deles s‡o muƒulmanos.
OBS
9
: Pode haver ainda um quadro chamado de “p†nis embutido” ou concealed penis. Neste caso, o p†nis est€
escondido pela gordura local e pelo prep‚cio. A correƒ‡o consiste na incis‡o da regi‡o prepucial e exposiƒ‡o da glande,
seguida de fixaƒ‡o da mesma na pele prepucial.
HIPOSP•DIA
A hiposp€dia consiste em uma condiƒ‡o cong†nita caracterizada por uma implantaƒ‡o ventral do meato uretral
externo. • uma condiƒ‡o relativamente comum, com incid†ncia de 1/300. Geralmente, • uma malformaƒ‡o som€tica
isolada, mas pode apresentar algumas condiƒˆes associadas, tais como:
 H•rnia inguinal
 Criptorquidia
 Estados intersexuais
 Transposiƒ‡o incompleta peno escrotal
 Anomalias urin€rias
Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2
210
A hipospádia pode ser distal (quando glandar, balânica,
peniana anterior), quando mais perto da glande estiver; ou
proximal (mediana e posterior, sendo esta escrotal ou
perineal), quando mais perto da base do pênis estiver. Quanto
mais proximal for, mais curvo será o pênis e mais complexa é a
cirurgia.
O tratamento desta condição é cirúrgico. Existem
inúmeras técnicas para seu tratamento. A cirurgia geralmente é
realizada por volta dos 8 a 10 meses de idade, geralmente em
único tempo. Os objetivos da cirurgia são:
 Pênis reto sem encurvamento
 Glande com meato uretral centrado
 Uretra de diâmetro normal
 Jato urinário forte
 Ereção normal
 Bom aspecto estético
Contudo, o índice de complicação é relativamente alto, independente da experiência do cirurgião. As
complicações mais comuns são: fístulas, estenoses, deiscência total, etc.
GENIT•LIA AMB‰GUA
A genitália ambígua (ou genitália dúbia) acontece naqueles casos em que é impossível responder com
segurança o sexo do recém-nascido, pois a aparência anatômica da genitália é duvidosa, ou seja, ambígua. Ela tem as
características de ambos os sexos. Isto repercute de tal forma que abala a estrutura familiar.
Várias são as causas determinantes desta anomalia. Elas vão desde as alterações cromossômicas até as
desordens da síntese de substâncias responsáveis pela diferenciação sexual normal (hiperplasia adrenal).
Várias são as causas de genitália ambígua, estando eles relacionados com transtornos da embriogênese genital.
Dentre as principais, podemos destacar:
 Hiperplasia aderenal congênita: é a causa mais comum de genitália ambígua. Consiste em um distúrbio presente no
nascimento, caracterizado pela deficiência nos hormônios cortisol e aldosterona e uma superprodução de andrógeno
(hormônio sexual masculino). Este transtorno hereditário é caracterizado pela falta de uma enzima necessária à glândula
adrenal para a fabricação de cortisol. Em resposta a essa deficiência, a glândula pituitária secreta um hormônio (ACTH), que
estimula a glândula adrenal, causando a superprodução de hormônios andrógenos (masculinos) mas sem provocar um
aumento necessário de cortisol. A condição afeta igualmente homens e mulheres. Em bebês do sexo feminino recém-
nascidos, com este distúrbio, o clitóris se mostra dilatado com a abertura uretral na base (genitália ambígua, frequentemente
parecendo mais masculina que feminina). As estruturas internas do trato reprodutor (ovários, útero e tubas uterinas) são
normais. Conforme a menina se desenvolve, a masculinização de certos traços aparece, como: voz grave, aparecimento de
pêlos faciais e deficiência na menstruação na puberdade. Em bebês do sexo masculino recém-nascidos, nenhuma
anormalidade óbvia se apresenta, mas muito antes da puberdade o menino começa a ter a massa muscular aumentada, o
pênis aumenta, aparecem os pêlos púbicos e o tom da voz se torna grave. Os homens afetados podem parecer entrar na
puberdade aos 2 ou 3 anos de idade. Na puberdade, os testículos se mostram pequenos.
 Hermafroditismo verdadeiro: caracterizado pela presença de testículo e ovário ao mesmo tempo.
 Pseudohermafroditismo feminino: acontece quando o cariótipo é XX, apresenta ovário, mas tem a genitália ambígua.
 Pseudohermafroditismo masculino: acontece quando o cariótipo é XY, apresenta testículo, mas tem a genitália ambígua.
Para esclarecimento do sexo a ser adotado, uma equipe multidisciplinar composta por pediatra, cirurgião pediátrico,
endocrinologista e geneticista coordena a realização de uma série de exames ultrassonográficos, radiológicos e laboratoriais. A
anatomia das genitálias externa e interna e quais as gônadas presentes também são determinantes na escolha do sexo mais
apropriado.
Isto tem que ser realizado com máxima brevidade, no primeiro mês de vida, para que a criança seja registrada corretamente,
evitando transtornos médicos e psicológicos de grande gravidade. Muitas destas crianças podem depois necessitar do uso prolongado
de medicação hormonal. A correção cirúrgica da genitália, adequando-a ao sexo correto, deve ser feito em torno dos 6 meses de vida.
Infelizmente, ainda são atendidas crianças em idade pré-escolar e escolar, sem sexo definido.
Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2
211
Aumento do clitóris (ou do pequeno pênis) devido à
hiperplasia adrenal, a causa mais comum de genitália
ambígua. A cirurgia consiste na genitoplastia feminizante.
Hermafroditismo verdadeiro e laparotomia mostrando o útero,
ovários e a presença confirmada de testículos.
Pseudohermafroditismo masculino. Neste caso, o paciente
tem cariótipo XY e testículos, uma pequena vagina abaixo do
pênis. A correção deve ser feita por etapas: (1) retirada dos
testículos; (2) terapia hormonal feminina (para
desenvolvimento das mamas e de outros caracteres); (3)
diminuição do pênis e reconstrução do clitóris; (4) dilatação da
vagina.
Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2
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MED RESUMOS 2011
NETTO, Arlindo Ugulino.
CIRURGIA PEDIÁTRICA
DEFEITOS NA PAREDE ABDOMINAL E PATOLOGIAS CIRÚRGICAS DA REGIÃO UMBILICAL
(Professor Wilberto Trigueiro)
As patologias cirúrgicas da região umbilical estão estritamente relacionadas com defeitos na parede abdominal.
A sobrevida de pacientes com defeitos da parede abdominal, até poucos anos atrás, era muito baixa. Porém, tem
aumentado significativamente nas últimas décadas, com o advento do suporte nutricional, melhora da ventilação
mecânica, cuidados em unidades de tratamento intensivo (UTI) neonatal, avanço da anestesia pediátrica e refinamento
das técnicas cirúrgicas. O mais importante é que estas crianças se tornem adultos normais.
Existem ainda algumas controvérsias em relação a uma origem embriológica única para os defeitos da parede
abdominal. Algumas hipóteses sugerem que a gastrosquise e a onfalocele sejam entidades isoladas. De um modo geral,
este capítulo tem objetivo de abordar as seguintes condições cirúrgicas:
 Onfalocele
 Gastrosquise
 Persistência do ducto onfalomesentérico
 Patologias do úraco
 Hérnia da parede abdominal
 Hérnia epigástrica
ONFALOCELE
É um defeito da parede abdominal, ao nível da região
umbilical, caracterizado pela herniação das vísceras abdominais,
que passam a ser recobertas por um saco fino e translúcido, que
pode romper durante o parto, constituído de membrana amniótica e
peritônio parietal, onde está inserido o cordão umbilical, o que a
diferencia da gastrosquise.
A onfafalocele pode ser definida, em outras palavras, como
uma tumoração umbilical que pode conter alças intestinais e,
geralmente, fígado. Internamente, é revestida por peritônio e,
externamente, por membrana amniótica (ou correspondente).
Sua incidência é de aproximadamente 1-3/5.000 nascidos
vivos, sendo mais predominante no sexo masculino. Há associação
frequente com outras malformações, de modo que em 60% dos
casos, existem anomalias associadas. As mais comuns são:
cromossômicas (48%), cardíacas (20%), geniturinárias (20%) e má-
rotação intestinal. A síndrome de Beckwith-Wiedemann,
constituída de macroglossia, gigantismo e onfalocele, pode
determinar hipoglicemia no período neonatal.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico de onfalocele pode ser dado durante a vida fetal, através da ultrassonografia e, dependendo do
tamanho da onfalocele, há indicação de parto operatório. Contudo, não há necessidade de antecipação do parto.
CONDUTA INICIAL
 Sonda gástrica;
 Proteção da onfalocele com compressas esterilizadas;
 Envolver o abdome e membros inferiores com saco plástico para aquecimento;
 Hidratação e antibióticos;
 Afastar obstrução intestinal associada, bem como outras anomalias que possam comprometer o tratamento;
 Corrigir hipoglicemia se presente.
TRATAMENTO CIRÚRGICO
Nas pequenas onfaloceles, é sempre possível o fechamento primário. Nas onfaloceles grandes, íntegras ou
rotas, poderá ser usado um silo (cilindro) de tela de silicone ou plástico (hemobag), o qual é ordenhado diariamente no
sentido de forçar a entrada das vísceras no interior da cavidade peritonial, sendo retirado após 6 ou 7 dias, seguido do
fechamento da parede abdominal, que deve ser sem tensão. Durante esse período, o RN deverá receber nutrição
parenteral.
Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2
213
GASTROSQUISE
A gastrosquise consiste na saída de vísceras abdominais por um orifício geralmente localizado ao lado do
umbigo (na maioria das vezes, do lado direito).
De um modo geral, a gastrosquise diferencia-se da
onfalocele por ser resultante de um defeito paraumbilical,
geralmente à direita, com inserção normal do cordão
umbilical, e não há proteção das alças intestinais por
nenhuma membrana, que ficam expostas. Os órgãos mais
comumente envolvidos são: intestino delgado, grosso e, por
vezes, o estômago (há relatos de testículo no conteúdo
exteriorizado). O contato com o líquido amniótico durante a
vida fetal leva a uma peritonite química, tornando-as
aderidas e edemaciadas, com bastante líquido no seu
interior.
Sua incidência chega a alcançar 1/4.000 nascidos
vivos, acometendo cerca de 40% de neonatos pequenos
para a idade gestacional (PIG) ou prematuros. Não há
predominância entre os sexos, de modo que a incidência é
praticamente igual para o sexo masculino e feminino.
Acredita-se que o uso de drogas, gestantes jovens e o uso
de alguns antiinflamatórios durante a gestação estão
relacionados com o aumento da incidência.
Ao contrário da onfalocele, as malformações são pouco frequentes. Quando presentes, as atresias intestinais e
anomalias de rotação são as mais comuns. As principais complicações após o nascimento são: hipotermia, hipovolemia,
isquemia intestinal, perfuração e sepse.
OBS
1
: Diferenças básicas entre gastrosquise e onfalocele:
DIAGNÓSTICO
É uma emergência cirúrgica. O diagnóstico pré-natal por ultrassonografia é de muita importância no
acompanhamento da patologia e no planejamento do parto, o qual, inicialmente, não deve ser antecipado. Esses
pacientes devem nascer em hospital de referência, evitando-se, assim, o transporte do RN e possibilitando tratamento o
mais precocemente possível.
CONDUTA INICIAL
 Sonda orogástrica
 Aquecimento e proteção das alças
 Antibióticos
 Hidratação: 20 a 150 ml/Kg e 20 ml Kg- glicose 10% +Ringer
 Nutrição parenteral total
 Decúbito lateral
 Hospital de referência em cirurgia de RN
Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2
214
TRATAMENTO
Pode ser possível, algumas horas após o nascimento, a imediata redução do conteúdo intestinal pela técnica de
Bianchi, com anestesia geral. Nas gastrosquises em que há desproporção continente/conteúdo, realiza-se tratamento
estadiado com silo, como o descrito para as grandes onfaloceles.
Instituir nutrição parenteral total, com suporte calórico adequado, pois o íleo adinâmico por 2 a 3 semanas é
comum na maioria dos RNs, ficando, portanto, impossibilitado de receber alimentação enteral. O prognóstico é bom.
PERSISTˆNCIA DO DUCTO ONFALOMESENTƒRICO
O ducto onfalomesentérico comunica o saco vitelino com o intestino médio primitivo, sofrendo reabsorção total
até a 16ª semana de gestação. Sua não reabsorção torna-a uma brida entre o íleo terminal e o umbigo, e predispõe ao
desenvolvimento de volvos.
A persistência do ducto onfalomesentérico (ou vitelínico) é definida como uma anomalia do desenvolvimento
embrionário que consiste na persistência do ducto vitelínico resultando numa comunicação, mais ou menos patente,
entre o íleo terminal e a parede abdominal, através do umbigo, por onde pode ser exteriorizado material fecal.
A depender de como se procedeu a reabsorção do ducto vitelínico, esta patologia pode apresentar-se como
Divertículo de Meckel (se a persistência for parcial), Cisto onfalo-mesentérico (se a reabsorção isolou uma região
intercalada por ligamentos) ou Fístula do ducto vitelino (se o ducto permanecer por inteiro).
O divertículo de Meckel é, portanto, fruto de uma reabsorção parcial do ducto onfalomesentérico. É
considerado a maior causa de hemorragia digestiva baixa em crianças (não tendo importância entre os adultos). Em
outras palavras, podemos definir divertículo de Meckel como sendo uma anomalia congênita, que ocorre entre 1 a 3% da
população, que acomete a região localizada entre 20 e 80 cm da junção ileocecal, sendo proveniente de uma
persistência parcial do ducto onfalomesentérico. A hemorragia digestiva é provocada pela presença de mucosa gástrica
ectópica, encontrada em cerca de 50% dos casos, que secreta ácido clorídrico e ulcera a mucosa no próprio divertículo.
Além do sangramento, outras complicações são: perfuração do intestino onde se encontra o divertículo, peritonite,
intussuscepção com a consequente obstrução.
Se houver sangramento recomenda-se a cirurgia para extirpar o divertículo. Pode ser necessário fazer uma
reposição de ferro para corrigir a anemia. Uma transfusão de sangue pode ser necessária nos casos de sangramento
abundante.
PERSISTˆNCIA DO ŠRACO
O úraco é um tubo que liga a bexiga ao umbigo
durante o desenvolvimento fetal e que normalmente se fecha
e se transforma em um ligamento após o nascimento
(ligamento umbilical mediano). Quando o úraco não se fecha
após o nascimento, o tubo permanece aberto (patente),
deixando uma abertura anormal (úraco persistente) entre a
bexiga e o umbigo, e aumentando a possibilidade de
introdução de bactérias e de infecção na bexiga.
Portanto, diferentemente da persistência do ducto
onfalomesentérico (condição em que material fecal é
exteriorizado pelo defeito na parede abdominal), o material
exteriorizado pelo umbigo na vigência de um úraco
persistente é urina.
O tratamento consiste na cirurgia para corrigir o
defeito na bexiga. Sob efeito de anestesia geral, o úraco é
removido e as aberturas são então corrigidas. A cirurgia está
indicada quando não há resolução da persistência de modo
espontâneo, após o nascimento.
Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2
215
HƒRNIA UMBILICAL
O umbigo representa uma falha na linha alba, coberta por peritônio em sua superfície interna e por pele em sua
face externa. O anel umbilical é formado pela contração do mesoderma do músculo e fáscia em torno dos vasos
umbilicais e do úraco. Uma fáscia transversa suporta a base do umbigo e, quando esta fáscia é fraca ou inexistente,
resultará em uma hérnia umbilical direita.
Na região umbilical, existem dois ligamentos: um deles, inferior e forte, é remanescente das artérias umbilicais e
do úraco, e o outro, superior e fraco, remanescente da veia umbilical. Muitas hérnias umbilicais ocorrem na porção
cefálica do anel umbilical. As teorias sobre a formação da hérnia umbilical incluem o desenvolvimento incompleto, a
inserção imperfeita ou a fraqueza de todas estas estruturas do anel umbilical.
A maioria das hérnias umbilicais na infância é de origem congênita, mas podem ser adquiridas. Em adultos, tais
herniações surgem depois do fechamento do anel umbilical e são devidas ao relaxamento gradual do tecido cicatricial
que fecha o anel.
Os principais fatores predisponentes são:
 Ascendência africana;
 Síndrome de Down;
 Trissomia do 18 e trossomia do 13;
 Mucopolissacaridose;
 Hipotireoidismo congênito;
 A hérnia umbilical e a onfalocele fazem parte da síndrome de Beckwith-Wiedemann.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é puramente clínico através do exame físico, sem a necessidade de exames complementares. É
caracterizado pela observação direta de uma tumoração recoberta por pele (o que a difere da onfalocele) cujo volume
pode variar, a depender da pressão intraabdominal (como no choro forte, por exemplo, a hérnia tende a aumentar). A
maioria delas é indolor.
Algumas hérnias umbilicais são reconhecidas nas primeiras semanas de vida, e quase todas são notadas por
volta de 6 meses de idade.
TRATAMENTO
Se a hérnia umbilical é indolor, redutível e não estrangula, há uma tendência natural para regressão espontânea
até os 2 anos de vida, sem qualquer indicação cirúrgica. Alguns autores relatam que 30% dos anéis herniários fecham
no primeiro mês de vida e a maioria durante o primeiro ano. Acreditam também que praticamente todas as hérnias
umbilicais desaparecerão espontaneamente em torno de 4 anos de idade. O diâmetro do defeito umbilical é o único fator
que determina o fechamento do anel, independente da amplitude da protrusão: as hérnias com anel umbilical menor que
1 cm fecham espontaneamente mais cedo que as maiores de 1,5 cm.
Diante disso, é necessário traquilizar os pais e orientá-los
a não realizar tentativas de reduzir mecanicamente a hérnia, ou
mesmo aplicar faixas ou fitas sobre a mesma. Contudo, a maior
dificuldade do cirurgião pediátrico em relação à abordagem das
hérnias umbilicais é convencer a família do paciente a adotar tal
conduta expectante, que, na maioria dos casos, poderá evitar
uma cirurgia na criança.
A cirurgia para correção da hérnia está indicada caso haja
persistência por mais de dois anos de idade. Alguns cirurgiões
preferem indicar o reparo cirúrgico da hérnia umbilical apenas por
volta dos 5 anos de idade. Encarceramento do omento ou
intestino, estrangulamento, perfuração, evisceração e dor, embora
sejam raros, são indicações absolutas de cirurgia. A técnica
cirúrgica geralmente usada em crianças é a de Swenson.
HƒRNIA EPIG•STRICA
A hérnia epigástrica caracteriza-se por uma tumoração acima do umbigo
(entre a região umbilical e o apêndice xifóide). Sua etiologia está relacionada com
uma falha na linha alba por onde a gordura pré-peritoneal torna-se o conteúdo
herniado. Seu diagnóstico é facilmente obtido pelo exame físico, sem necessidade
de exames complementares.
O tratamento é cirúrgico e consiste na correção do defeito congênito da
linha alba e fechamento da aponeurose muscular, fortalecendo a região. A hérnia
epigástrica, assim como a hérnia umbilical, apresenta baixo índice de recidiva.
Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2
216
MED RESUMOS 2011
NETTO, Arlindo Ugulino.
CIRURGIA PEDIÁTRICA
ABDOME AGUDO DA CRIANÇA
(Professor Wilberto Trigueiro)
Por definiƒ‡o, o termo abdome agudo indica qualquer dist‚rbio n‡o-traum€tico espontŒneo s‚bito, cuja principal
manifestaƒ‡o, que se faz na forma de dor, ocorre na €rea abdominal, e para a qual pode ser necess€ria uma operaƒ‡o
urgente. Por esta raz‡o, quase sempre tem-se o termo abdome agudo cirúrgico.
S‡o condiƒˆes relativamente frequentes e graves se n‡o diagnosticadas e tratadas precocemente. Algumas
delas podem ser identificadas atrav•s da ultrassonografia fetal (atresias duodenal e jejunal). Para fins did€ticos, podem
ser subdivididos em s„ndromes. A obstrutiva • a mais comum, mas a enterocolite necrosante (doenƒa dos sobreviventes)
tem tido uma frequ†ncia crescente especialmente nas unidades de terapia intensiva que atendem RNs pr•-termo.
Os principais tipos de abdome agudo est‡o listados logo abaixo. As principais causas s‡o as obstutivas, por•m
causas inflamat…rias tamb•m s‡o importantes principalmente em escolares e adolecentes.
 Inflamat…rio: enterocolite necrosante, apendicite aguda (ap…s os 5 anos);
 Obstrutivo: atresias, megacolo;
 Perfurativo: perfuraƒˆes espontŒneas, ECN;
 Vascular: n‡o • t‡o frequente na crianƒa.
 Hemorr€gico: traumas obst•tricos – f„gado, baƒo, supra-renal.
OBS
1
: As causas mais comuns de abdome agudo na crianƒa, de acordo com a fase, est‡o resumidas na tabela a seguir:
Recém-nascido Lactente Idade escolar
 Obstrutivo: Atresia Intestinal,
Megacolo, H•rnia inguinal.
 Perfurativo: Enterocolite
necrosante.
 H•rnia inguinal estrangulada
 Estenose pil…rica
 Invaginaƒ‡o intestinal
 Obstruƒ‡o por €scaris
 Apendicite aguda
 Trauma
PRINCIPAIS COMPLICA„…ES DO ABDOME AGUDO
 Dist‚rbio hidroeletrol„tico
 Choque
 Insufici†ncia renal aguda
 Infecƒ‡o: em casos de septicemia
 Distens‡o abdominal
 Insufici†ncia respirat…ria
 Aspiraƒ‡o Pulmonar
 Catabolismo prot•ico
 Peritonite: • uma condiƒ‡o grave, que • caracterizada por: Abdome doloroso, sinal de defesa de parede
abdominal; Edema e hiperemia de parede abdominal em RN; Distens‡o abdominal; V•mitos biliosos; Febre,
toxemia, sinais de s•psis em RN; Desidrataƒ‡o, palidez; Leucocitose; RX: n„veis hidroa•reos, pneumoperit•neo.
MEDIDAS GERAIS
 Hidrataƒ‡o Venosa
 Radiografia de Abdome (deitado-ortost€tica)
 Sonda G€strica
 Antibioticoterapia
 Hemograma – ionograma
 USG
 Nutriƒ‡o Parenteral
QUADRO CL‰NICO GERAL
 Dor abdominal
 V•mitos (quase sempre biliosos)
 Distens‡o abdominal (se houver sinais de
peritonite)
 Eliminaƒ‡o de sangue e muco pelo Œnus
 Febre (principalmente quando h€ pus dentro da
cavidade abdominal)
 Desidrataƒ‡o
 Peristaltismo de luta
 Toxemia
Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2
217
ANOMALIAS CONGˆNITAS ANORRETAIS
As anomalias cong†nitas anorretais s‡o malformaƒˆes originadas da interrupƒ‡o ou anormalidade no
desenvolvimento embriol…gico do Œnus, reto e trato urogenital. S‡o tamb•m chamadas de imperfuração anal ou ânus
imperfurado. A sua incid†ncia varia de 1: 1.500 a 1:5.000 nascimentos. S‡o freq•entemente acompanhadas por outras
malformaƒˆes: urogenitais, card„acas e sacrococc„geas. S‡o mais freq•entes no sexo masculino e n‡o t†m predileƒ‡o
por raƒa.
O achado de um Œnus imperfurado, no exame rotineiro do RN, exige uma definiƒ‡o do tipo de anomalia e da
conduta a ser tomada dentro das primeiras 48 horas de vida, para definir o planejamento do tratamento cir‚rgico mais
adequado para o caso. A distens‡o abdominal • acentuada, quando o diagn…stico • tardio, se n‡o existir f„stula para
sa„da do mec•nio.
Existem quatro tipos principais de anomalias cong†nitas anorretais: estenose anal, atresia anal, atresia anorretal
e atresia retal.
CONDUTA DIAGNÓSTICA
 Inspeƒ‡o cuidadosa do per„neo pode evitar uma colostomia desnecess€ria;
 Procurar uma eventual f„stula para o per„neo e rafe mediana da bolsa escrotal; nas meninas, a mais freq•ente • para a
regi‡o do vest„bulo vaginal;
 Se n‡o houver sinais de f„stula baixa, realizar, ap…s 24 horas (tempo para o ar ter chegado ao reto), raios X simples de
abdome em posiƒ‡o ortost€tica e invertograma (raios X em perfil com a crianƒa de cabeƒa para baixo), com a impress‡o anal
marcada com algum material radiopaco, a fim de avaliar a distŒncia do reto para o per„neo;
 A presenƒa de ar na bexiga ou sa„da de mec•nio pela uretra masculina • indicativa de f„stula reto-urin€ria, estando indicada
uma colostomia com bocas separadas.
 DistŒncia de < 1 cm do reto ‰ pele, no invertograma, indica anomalia baixa e, portanto, uma anoplastia • suficiente.
 As anomalias altas s‡o mais freq•entes nos meninos; as baixas, no sexo feminino.
O exame f„sico do rec•m-nascido mostra aus†ncia do Œnus. Ap…s 24 horas do nascimento, surgem os sinais e
sintomas que caracterizam uma obstruƒ‡o intestinal: v•mitos biliosos, distens‡o abdominal generalizada, aus†ncia de
eliminaƒ‡o de mec•nio.
TRATAMENTO
Medidas pr•-operat…rias devem ser providenciadas, tais como: sonda g€strica; hidrataƒ‡o; investigaƒ‡o
radiol…gica da coluna vertebral e invertograma se n‡o houver f„stula; antibi…ticos, dependendo do tipo de anomalia e da
cirurgia a ser realizada.
O tratamento depende do tipo de anomalia ano-retal. Podem ser necess€rias, inicialmente, uma colostomia e a
cirurgia de Pe’a em torno dos 3 meses de idade. Se a anomalia • simples, apenas a anoplastia • suficiente. A
confecƒ‡o do Œnus de bom calibre e continente • o principal objetivo da cirurgia e depender€ do tipo de anomalia (alta ou
baixa), do grau de desenvolvimento da musculatura esfincteriana e da integridade da coluna sacra. Investigaƒ‡o do trato
urin€rio • mandat…ria. De modo geral, os resultados s‡o bastante satisfat…rios.
INVAGINA„‡O INTESTINAL
Consiste na penetraƒ‡o telesc…pica de um segmento
intestinal para dentro luz do segmento intestinal distal ao mesmo.
Tamb•m • conhecido pelo termo intussepção intestinal. • mais
comum no sexo masculino do que no feminino, numa proporƒ‡o
de 3:2. Considera-se sua incid†ncia como sanzonal (mais
comum no ver‡o, devido ‰s gastroenterites virais), acometendo
1,9 – 4/1000 crianƒas nos EUA.
Encontra-se, com frequ†ncia, no primeiro ano de vida (60
a 65%) e principalmente entre o terceiro e o nono m†s de vida.
At• dois anos de idade, a etiologia da invaginaƒ‡o intestinal •
desconhecida na maioria dos casos (90%). Acima de dois anos,
as invaginaƒˆes geralmente s‡o causadas por lesˆes intestinais,
principalmente tumores e divert„culo de Meckel, p…lipo intestinal,
cistos enter…genos, linfomas, p‚pura de Henoch-Schonlein, etc.
No Brasil, a ascarid„ase • causa de invaginaƒ‡o intestinal.
A invaginaƒ‡o intestinal no feto, com gangrena e
destruiƒ‡o da porƒ‡o invaginada do intestino, tem sido apontada
como causa de atresia intestinal.
Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2
218
QUADRO CLÍNICO
 Dor abdominal intermitente em c…lica (100%)
 Instalaƒ‡o s‚bita
 Lactente bem nutrido
 Sangue e muco pelo Œnus (60 a 90%): fezes em framboesa (figura ao lado).
 Massa palp€vel (85%)
 V•mitos (80%)
 Tardiamente sinais de obstruƒ‡o intestinal
A manifestaƒ‡o cl„nica da invaginaƒ‡o intestinal • caracter„stica. Ocorre em crianƒas bem nutridas e at• aquele
momento sadias. Inicia-se com dores agudas e esp€sticas, com excitabilidade psicomotora, acompanhada de v•mitos e
acentuada palidez. De in„cio abrupto, cessam tamb•m abruptamente, com um per„odo de acalmia variado, ao qual se
segue novo epis…dio doloroso, freq•entemente acompanhado de suores frios e lipot„mia.
DIAGNÓSTICO
Nas primeiras 24 horas, existe grande contratura dos m‚sculos abdominais, dificultando a palpaƒ‡o do tumor da
invaginaƒ‡o, o que se consegue com mais facilidade nos per„odos de acalmia. A hemorragia retal ocorre em fase tardia
da afecƒ‡o, significando prov€vel necrose de alƒa.
O toque retal pode detectar presenƒa de secreƒ‡o muco-sanguinolenta na ampola retal e, em casos mais raros,
o segmento intestinal invaginado.
No lactente, toda dor abdominal tipo c…lica intensa, brusca
e rebelde deve ser considerada invaginaƒ‡o intestinal at• se
demonstrar o contr€rio. A palpaƒ‡o da massa tumoral da
invaginaƒ‡o • elemento importante para o diagn…stico, assim
como o sinal da fossa il„aca direita vazia (Sinal de Dance).
O enema opaco • t„pico na maioria dos casos. Ele •
importante como m•todo de diagn…stico e de tratamento. Em
muitos casos, ele provoca a reduƒ‡o da invaginaƒ‡o intestinal. Ele
deve ser feito com o paciente hospitalizado e com prud†ncia, pois
pode provocar ruptura intestinal e peritonite. Havendo perfuraƒ‡o
intestinal pelo enema opaco, realiza-se uma laparotomia o mais
r€pido poss„vel. A USG tamb•m pode ser utilizada como
parŒmetro diagn…stico, onde observamos o “sinal de alvo”.
TRATAMENTO
Pode ser tentada a reduƒ‡o hidrost€tica ou por enema baritado (suas contra-indicaƒˆes gerais est‡o resumidas na OBS2
).
Para lanƒar m‡o deste tratamento, a crianƒa deve ter condiƒˆes m„nimas, como: bom estado geral, sem febre, abdome fl€cido, com
menos de 24 horas de quadro cl„nico e na faixa et€ria entre 3 e 24 meses de idade.
Contudo, • prudente lanƒar m‡o do tratamento por via cir‚rgica, com reduƒ‡o manual ou ressecƒ‡o do segmento afetado
(que eventualmente se encontra isquemiado), realizando laparotomia explorat…ria (no intuito de encontrar a causa da invaginaƒ‡o). O
progn…stico • bom nos casos sem necrose de alƒa intestinal, e reservado quando h€ necrose.
OBS2
: Contra-indicaƒˆes para reduƒ‡o hidrost€tica ou gasosa da invaginaƒ‡o intestinal:
 Sinais de peritonite ou perfuraƒ‡o
 Invaginaƒ‡o cr•nica
 Estado geral comprometido
 Sinais de obstruƒ‡o intestinal com v•mito bilioso
 Maior de 2 anos de idade e < 3 meses
 Tempo de evoluƒ‡o > 24 horas
ESTENOSE HIPERTR‚FICA DE PILORO
A estenose hipertr…fica de piloro consiste em um aumento da musculatura do piloro (especialmente da camada
circular), causando obstruƒ‡o na sa„da g€strica na forma de uma barreira f„sica para o esvaziamento g€strico. Sua
etiologia • multifatorial e pouco esclarecida. Esta condiƒ‡o • facilmente identificada naquelas crianƒas que, depois de
um tempo alimentando-se regularmente e satisfatoriamente, passam a vomitar qualquer conte‚do mamado. Devido a
obstruƒ‡o, o v•mito n‡o • bilioso.
QUADRO CLÍNICO
 V•mitos alimentares n‡o-biliosos (98%)
 Ondas perist€lticas (64,2%)
 Perda de peso (88,2%)
 Desidrataƒ‡o (56,1%)
 Constipaƒ‡o (32,6%)
 Icter„cia (3,6%)
 Oliva pil…rica palp€vel (94,8%)
Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2
219
DIAGNÓSTICO
À inspeção do abdômen, nota-se quase sempre peristaltismo de luta, ao nível do epigástrio. Em 95% dos
pacientes, na borda lateral do músculo reto anterior do abdômen direito, um pouco acima do umbigo, apalpa-se o piloro
hipertrofiado (oliva pilórica). O diagnóstico já pode ser afirmado quando associamos a história clínica da criança
juntamente à palpação da oliva pilórica.
Para se conseguir apalpar a oliva pilórica, a
criança deve estar com estômago vazio, quieta e com o
abdômen relaxado. Assim, deve-se fazer a palpação
logo após a criança ter vomitado, ou após o
esvaziamento do estômago com sonda nasogástrica.
Portanto, a sintomatologia clínica e a palpação
da oliva pilórica firmam o diagnóstico desta afecção.
Indica-se o estudo radiológico o ultrassonográfico do
estômago apenas nos pacientes em que não se
consegue palpar a oliva pilórica. A característica
radiológica mais importante, e que é peculiar à
estenose hipertrófica do piloro, é a imagem do canal
pilórico estreitado e alongado, o denominado "sinal do
cordão".
Atualmente, tem-se substituído o exame radiológico do estômago pela ultra-sonografia, que demonstra um piloro
aumentado de volume devido à hipertrofia e hiperplasia de sua musculatura. Também a endoscopia gástrica tem sido
utilizada no diagnóstico desta afecção, mostrando o canal pilórico com diâmetro muito diminuído, não sendo possível a
sua transposição com o aparelho de endoscopia.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
 Refluxo gastroesofágico;
 Erro alimentar;
 Aumento da pressão intracraniana;
 Diafragma pré-pilórico.
TRATAMENTO
O tratamento cirúrgico é simples e eletivo (após a correção do distúrbio hidroeletrolítico), bem como a
recuperação pós-operatória é branda. Em 1908, Fredet apresentou sua conduta: piloromiotomia extramucosa e sutura
transversal da muscular do piloro. Em 1911, Ramstedt usou piloromiotomia extramucosa, sem realizar a sutura
transversal do piloro. Assim, ficou definida e estabelecida a técnica cirúrgica usada no tratamento da estenose
hipertrófica do piloro, e que se mantém até os nossos dias, com ótimos resultados.
A cirurgia baseia-se na incisão transversal da serosa do piloro e dissecação de seus planos musculares até
evidenciar a mucosa (a qual se hérnia pela incisão e não deve ser aberta). O pós-operatório consiste na realimentação
progressiva, após 8 horas, decorrente da piloromiotomia.
APENDICITE AGUDA NA CRIAN„A
Está associada no recém-nascido com sinais e sintomas inespecíficos, consistindo em febre, distensão
abdominal e constipação ou diarréia. Em alguns casos, palpa-se massa na fossa ilíaca direita. É uma situação bem mais
frequente em crianças maiores de 2 anos e durante a idade escolar.
QUADRO CLÍNICO
 Pode ser variável, com sintomas inespecíficos: toxemia (desidratação), distensão abdominal, temperatura
elevada, dor abdominal difusa, etc.;
 Pode ser clássico:
 Dor difusa ou em fossa ilíaca direita;
 Anorexia;
 Febre;
 Náuseas e vômitos.
 Diarréia (pode indicar apendicite perfurada)
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico de apendicite aguda é clínico, embora haja dificuldades quanto a coleta da anamnese e da
realização da própria palpação. O diagnóstico é mais dificultoso ainda em crianças menores que 4 anos, pacientes com
retardo mental ou em quadros atípicos. O leucograma com leucocitose pode confirmar a suspeita (embora seja um
exame inespecífico).
Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2
220
O estudo radiol…gico do abd•men • pouco importante e pouco usado no diagn…stico da apendicite aguda;
entretanto, no diagn…stico da apendicite do rec•m-nascido e da crianƒa com menos de dois anos, a ultrassonografia do
abdome • ‚til.
Como a apendicite aguda apresenta-se sempre com peritonite, s‡o importantes os sinais que a radiografia
simples do abd•men fornece: escoliose da coluna dorso-lombar ‰ direita, provocada por contratura da musculatura
abdominal; apagamento da imagem do m‚sculo psoas direito; espessamento da parede abdominal na fossa il„aca
direita, por edema dos tecidos moles; evid†ncia de l„quido livre na cavidade peritoneal, e diminuiƒ‡o dos gases
intestinais na fossa il„aca direita.
DIAGN‡STICO DIFERENCIAL
 Gastroenterite
 Infecƒ‡o do trato urin€rio
 Doenƒa p•lvica
 Linfadenite mesent•rica
 Lit„ase ureteral
 Patologia anexial
 Pneumonia
TRATAMENTO
 Cir‚rgico: apendicectomia precoce
 Antibioticoterapia pr• operat…ria
 Reposiƒ‡o hidro – eletrol„tica
 Minimizar contaminaƒao peritonial
 Lavagem peritonial na peritonite
 Evitar drenos
 Fechamento prim€rio da parede abdominal
OBSTRU„‡O INTESTINAL NO RN
A obstruƒ‡o intestinal na crianƒa caracteriza o abdome agudo obstrutivo. Seu diagn…stico • facilmente obtido
atrav•s do exame cl„nico e confirmado por exames de imagem. O diagn…stico fetal pode ser dado, inclusive, durante a
vida fetal, quando se observa polidramnia e dupla bolha g€strica pela ultrassonografia. Al•m destes, os principais
crit•rios diagn…sticos de obstruƒ‡o intestinal s‡o:
 >20 ml de secreƒ‡o g€strica biliosa ou n‡o
 V•mitos biliosos
 Distens‡o abdominal
 Aus†ncia de eliminaƒ‡o de mec•nio
 Peristaltismo de luta
CAUSAS MAIS FREQUENTES
 Obstruƒ‡o duodenal (atresia, estenose, pŒncreas anular, m€-rotaƒ‡o);
 Atresias jejunal, ileal e col•nica (esta rara);
 Megacolo cong†nito;
 Volvo de intestino m•dio (doenƒa grave por risco de necrose de todo o delgado);
 “leo meconial;
 Rolha meconial;
 Atresia anorretal.
SINAIS E SINTOMAS
 V•mito geralmente bilioso – • tanto mais precoce quanto mais alta for a obstruƒ‡o;
 Distens‡o abdominal – • maior quanto mais baixa for a obstruƒ‡o, sendo quase impercept„vel nas de localizaƒ‡o
alta (duodeno), especialmente se o RN estiver com sonda g€strica). A diminuiƒ‡o da distens‡o, ap…s a
evacuaƒ‡o, e o seu retorno posterior acompanhado de constipaƒ‡o fazem pensar em megacolo;
 Aus†ncia ou retardo de eliminaƒ‡o de mec•nio – lembrar que 95% dos RN normais eliminam nas primeiras 24
horas de vida, sendo que os prematuros, especialmente os que tiveram hip…xia, o fazem mais tardiamente. A
eliminaƒ‡o de mec•nio com aspecto normal pode estar presente nos quadros de atresia intestinal, mas
comumente tem coloraƒ‡o clara;
 No megacolo cong†nito, ao est„mulo retal, geralmente h€ eliminaƒ‡o explosiva de g€s e mec•nio. A rolha
meconial pode ser o primeiro sinal da doenƒa de Hirschsprung;
 Enterorragia – se acompanhada de queda do estado geral e palidez, sugere volvo intestinal em torno da art•ria
mesent•rica superior, por anomalia de rotaƒ‡o intestinal e representa um quadro emergencial.
 Peristaltismo vis„vel de luta – presente quando a alƒa est€ vi€vel e n‡o h€ peritonite;
 PolidrŒmnio materno – pode estar presente especialmente nas obstruƒˆes altas. A ultrassonografia obst•trica
ainda pode sugerir o diagn…stico de obstruƒ‡o duodenal pela visualizaƒ‡o da imagem da dupla bolha;
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Cirurgia pediátrica completa

  • 1. Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2 191 MED RESUMOS 2011 ARLINDO UGULINO NETTO LUIZ GUSTAVO C. BARROS € YURI LEITE ELOY MEDICINA – P7 – 2010.2 CIRURGIA PEDI‚TRICA REFERÊNCIAS 1. Material baseado nas aulas ministradas pelo Professor Wilberto Trigueiro na FAMENE durante o período letivo de 2010.2. 2. MEDEIROS FILHO, João Gonçalves de. Neonatologia: guia prƒtico / Jo„o Gon…alves de Medeiros Filho. João Pessoa: Idéia, 2008. 3. Puri, P.; Höllwarth, M. E. Pediatric Surgery. Spinger, 2006.
  • 2. Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2 192 MED RESUMOS 2011 ELOY, Yuri Leite; NETTO, Arlindo Ugulino. CIRURGIA PEDIÁTRICA CIRURGIA PEDIÁTRICA: PRÉ E PÓS OPERATÓRIO (Professor Wilberto Trigueiro) Cirurgia Pedi€trica • uma especialidade m•dica, que aborda a patologia cir‚rgica da crianƒa, desde o rec•m- nascido at• o adolescente. O seu trabalho requer um profundo conhecimento de cl„nica, t•cnica operat…ria e humanismo, al•m dos cuidados m•dicos na idade pedi€trica. Consiste no tratamento cir‚rgico de v€rias doenƒas cong†nitas ou adquiridas, em v€rios …rg‡os e sistemas do corpo humano. Essa especialidade surgiu da pr…pria necessidade de um cirurgi‡o com um maior conhecimento das t•cnicas de abordagem na crianƒa, associado principalmente, a pr…pria incapacidade do cirurgi‡o geral em abordar crianƒas, exigindo t•cnicas mais espec„ficas. Isso ocorre n‡o s… na pediatria, mas sim em diversas outras regiˆes do corpo, j€ que, a abordagem cir‚rgica do corpo humano • extremamente ampla. Dessa forma, assim como a cirurgia pedi€trica, surgiram: cirurgia de cabeƒa e pescoƒo, cirurgia abdominal, cirurgia oncol…gica, cirurgia tor€cica, cirurgia card„aca, neurocirurgia, entre outras. A cirurgia neonatal tem diversas peculiaridades, principalmente do ponto de vista cir‚rgico-anest•sico, que diferem de um adulto. Iniciando pelo processo anest•sico, h€ variaƒˆes quanto ‰ dose, tipo de anestesia, risco de hipotermia, barotrauma entre outros. HIST‚RICO DA ESPECIALIDADE “A cirurgia pedi€trica vislumbra o futuro de uma crianƒa, com uma vida o mais pr…ximo da normalidade e a melhor integraƒ‡o poss„vel no seio da sociedade”. Ou seja, a cirurgia pedi€trica garante o al„vio de diversas patologias que poderiam trazer traumas f„sicos e sociais, e em alguns casos garantindo a pr…pria sobreviv†ncia. Assim garante uma integraƒ‡o total da crianƒa com a sociedade, permitindo a realizaƒ‡o de todas as atividades laborativas infantis. At• 1950 a mortalidade infantil era muito elevada, estando em torno de 90 a 100% dos RN. Entretanto com a evoluƒ‡o, utilizaƒ‡o de antibi…ticos, estudo e conhecimento do metabolismo do RN, cuidados intensivos, houve uma discreta reduƒ‡o nessa mortalidade. Entretanto de acordo com o gr€fico ao lado, pode-se notar que, ap…s o surgimento da especialidade cirurgia pedi€trica associada ‰s t•cnicas anest•sicas adequadas, houve uma queda abrupta da mortalidade. Esse fator juntamente com a nutriƒ‡o parenteral, diagn…stico pr•-natal, avanƒo tecnol…gico e pesquisa, fizeram a mortalidade no ano de 2000 atingir 7%. Apesar de todo esse avanƒo tecnol…gico, a mortalidade infantil nunca chegar€ ‰ zero, fato este justificado principalmente, devido a ocorr†ncia de malformaƒˆes cong†nitas graves, defeitos gen•ticos que s‡o incompat„veis com a vida, assim como cardiopatias cong†nitas. ASPECTOS FISIOL‚GICOS AO NASCER Alguns estudiosos consideram o nascimento o per„odo de transiƒ‡o mais cr„tico do ser humano, pois considera o feto um ser totalmente inativo e dependente do metabolismo materno. Essa depend†ncia • quebrada abruptamente atrav•s do nascimento, onde o mesmo • exposto a um ambiente totalmente agressivo, cuja sobreviv†ncia depende ‚nica e exclusivamente de seu pr…prio funcionamento, que se encontra imaturo. Entre os principais impactos sofridos pelo rec•m-nascido podemos citar: (1) respiração, (2) circulação, em que h€ uma brusca mudanƒa na circulaƒ‡o sangu„nea do feto, com fechamento dos canais arteriovenosos, e responsabilidade total do coraƒ‡o fetal em manter os tecidos oxigenados, (3) metabolismo energético, considera …rg‡os „ntegros capazes de metabolizar, sintetizar e excretar substŒncias, com isso funƒ‡o dada principalmente pelo f„gado, rins, bexiga, baƒo, pŒncreas, hip…fise, hipot€lamo etc. E ainda o (4) equilíbrio térmico, aspecto de grande importŒncia nos RN, principalmente no que diz respeito ‰ realizaƒ‡o de procedimentos cir‚rgicos, com isso sendo necess€ria a adoƒ‡o de medidas que evitem a hipotermia.
  • 3. Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2 193 CIRURGIA PEDI•TRICA NEONATAL FATORES PROGNÓSTICOS  Peso ao nascimento: RN que se apresentam com peso ideal, geralmente tem um melhor prognóstico em relação à prática cirúrgica, principalmente as mais invasivas.  Anomalias associadas: RN com cardiopatias cianóticas graves tem um prognóstico reservado.  Diagnóstico precoce: é essencial para a sobrevida do RN após o procedimento cirúrgico. Caso não seja realizado precocemente, a condição patológica a qual o RN está exposto debilita-o ainda mais, trazendo mais riscos durante o procedimento anestésico-cirúrgico.  UTI neonatal aparelhada: avaliar sempre a presença da UTI neonatal, sua integridade e aparelhagem adequada antes de qualquer procedimento cirúrgico. Isso devido as possíveis complicações da anestesia e cirurgia.  Unidades de referência:  Equipe médica: cirurgiões e anestesistas experientes  Equipe de enfermagem: IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO ULTRASONOGRÁFICO EM OBSTETRÍCIA Quando se diagnostica por meio de USG uma patologia congênita grave, com necessidade de intervenção cirúrgica imediata é necessário um transporte adequado. Assim a melhor forma de transportar um bebê é no útero da própria mãe, ou seja, o parto deve ser feito em um ambiente preparado para uma ampla e imediata abordagem ao RN. A ultrasonografia utilizada para avaliação desse tipo de procedimento é a USG fisiológica, que trás detalhadamente, todos os parâmetros e medidas do feto. Entre as principais anormalidades que podem ser diagnosticadas por meio da ultrasonografia temos:  Anomalias urinárias: de cada 200 USG obstétricas pelo menos 1 tem anormalidades no sistema urinário, entretanto nem todas necessitam implicações cirúrgicas. Devendo ser realizado uma avaliação adequada, analisando os padrões urinários do RN, para só então, haver uma correção cirúrgica.  Hérnia diafragmática;  Defeitos da parede abdominal;  Obstrução intestinal alta;  Tumores sólidos e císticos;  Malformações pulmonares;  Coleções líquidas;  Gêmeos siameses. Dessa forma, com o diagnóstico precoce através da USG, pode-se planejar o melhor apoio a mãe e ao feto, como: forma de realizar o parto da paciente, cesariana, normal ou fórceps; melhor momento para a realização do mesmo, e ainda ambiente hospitalar adequado para o suporte ao RN e mãe. A figura ao lado mostra casos de gêmeos siameses, onde o diagnóstico deve ser realizado através da USG. Caracteriza-se por uma condição grave, de difícil tratamento, principalmente devido à fusão de órgãos ou órgãos únicos para dois RN. Caracteriza-se por uma patologia com elevado índice de mortalidade. Recém-nascido com diagnóstico intra-útero de teratoma gigante. Nesses casos o parto deve ser realizado através de uma cesariana, com laparotomia mediana, incisão grande para não haja rompimento do tumor, e sangramento grave podendo levar o RN ao óbito. Nesses casos a artéria sangrante seria a sacral-mediana, ramo direto da aorta, em sua divisão terminal (ilíacas). Mostrando assim a importância do diagnóstico USG, para orientar sobre a melhor conduta cirúrgica a ser realizada.
  • 4. Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2 194 PRƒ-OPERAT‚RIO O pr•-operat…rio em cirurgia pedi€trica depende de v€rios fatores. Dentre os principais e mais importantes para o progn…stico do RN, temos:  Tamanho da Cirurgia: pequeno, m•dio ou grande porte. Geralmente tumores malignos nos rins, s‡o cirurgias complicadas com duraƒ‡o elevada, que geralmente s‡o feitas por cirurgiˆes oncol…gicos. Ao contr€rio cirurgias de h•rnias inguinais em crianƒas s‡o r€pidas e na maioria das vezes pouco invasivas.  Idade do paciente;  Estado geral;  Doenças associadas: cardiopatias, malformaƒˆes importantes que interferem no estado hemodinŒmico do RN e crianƒa.  Condições clínicas em caso de complicações; ANAMNESE Para a realizaƒ‡o de um pr•-operat…rio adequado, • indispens€vel uma anamnese criteriosa, avaliar hist…ria al•rgica a medicamentos, drenar secreƒˆes br•nquicas quando presentes, fato este que se n‡o realizado contra-indica qualquer procedimento cir‚rgico, devido ao risco de broncoaspiraƒ‡o e reduƒ‡o da vitalidade pulmonar. Indagar sobre o hist…rico de cirurgias anteriores, complicaƒˆes, uso de cortic…ides, que levam a imunossupress‡o da supra-renal, prejudicando a resposta ao trauma cir‚rgico, ou seja, liberaƒ‡o de adrenalina, sendo assim necess€ria, nesses pacientes a administraƒ‡o de cortic…ide durante a cirurgia e n‡o ap…s, especialmente em pacientes em uso cr•nico por mais de 4 semanas. Avaliar ainda a presenƒa de equimoses e sangramento anormal. Assim em todo procedimento cir‚rgico deve-se sempre que poss„vel tentar estabilizar o paciente, com suspens‡o de medicamentos, controle de doenƒas cr•nicas. Essas medidas s… s‡o contra-indicadas quando a cirurgia • de emerg†ncia, e durante o procedimento, o m•dico cirurgi‡o, juntamente com o anestesista, devem controlar as poss„veis condiƒˆes de risco que o paciente previamente apresente, ou desenvolva. Essas informaƒˆes s‡o colhidas principalmente pelo m•dico anestesista, por meio da consulta pr•-anest•sica, medida indispens€vel para avaliaƒ‡o pr•-operat…ria do paciente. EXAMES LABORATORIAIS Os exames complementares a serem solicitados dependem do tipo de cirurgia que o RN ou crianƒa vai se submeter. Entretanto os exames b€sicos, que n‡o devem faltar incluem um hemograma e coagulograma. Entre outros de acordo com o tipo cir‚rgico s‡o: urina 1 e 2, ur•ia, creatinina, grupo sangu„neo, fator RH, prote„nas totais e fraƒˆes. Os exames que compˆe o risco cir‚rgico n‡o s‡o rotineiros. SITUAÇÕES ESPECIAIS  Infecção das vias aéreas: nesses pacientes a cirurgia s… • realizada quando o quadro infeccioso est€ totalmente controlado. Principalmente devido ao risco anest•sico-cir‚rgico, dado especialmente pelo aumento da produƒ‡o de secreƒ‡o nas vias a•reas.  Uso de corticóide:  Cardiopatias  Asma  Alergia a medicamentos  Convulsão  Nefropatia – insufici†ncia renal cr•nica  Prematuridade Em cirurgias de grande porte (tumores, abaixamentos) o pr•-operat…rio • dirigido ‰ patologia. Antes de sua realizaƒ‡o deve-se realizar as seguintes medidas de suporte:  Concentrado de hemácias: 1 x volemia  Sonda vesical no ato cirúrgico  Sonda gástrica cirurgia abdominal  Bom acesso venoso  Colchão térmico nos RN (e lactentes)  UTI no pós-operatório  Realimentação: se laparotomia com manuseio de alƒas permanecer 48 horas no m„nimo em jejum. Caso seja realizado uma anastomose ou sutura intestinal o paciente deve ficar pelo menos 3 a 4 dias sem alimentaƒ‡o oral.
  • 5. Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2 195 CONSIDERA„…ES GERAIS EM CIRURGIA PEDI•TRICA De uma forma geral, os procedimentos pré-operatórios em cirurgia pediátrica dependem do tipo de abordagem que será realizada: cirurgia de urgência ou emergência, patologias associadas e condições clínicas do paciente. Apesar de existirem cirurgias simples a maioria dos procedimentos é realizada com anestesia geral associada à anestesia local. Nos recém-nascidos deve-se fazer um jejum de 3 horas de leite materno exclusivo, quando leite artificial o jejum deve ser de 4 horas. Em crianças pré-escolares e escolares o jejum deve ser de 6 a 8 horas. Antes de realizar qualquer procedimento deve-se dar o devido esclarecimento aos pais sobre o procedimento. Outras medidas importantes que devem ser consideradas em cirurgias pediátricas são:  Lavagem intestinal pr€via: cirurgia de colo  Maioria das cirurgias “day clinic”: realizam a cirurgia, e após a recuperação anestésica retornam para casa.  Realimentaƒ„o precoce: lenta e gradual, evitando episódios de vômito.  Acompanhamento dos pais: importante, entretanto é recomendável proibir a presença dos pais no interior do ambiente cirúrgico.  Cirurgias limpas: não usar antibiótico  Curativos descobertos: deve-se deixar cobertos, especialmente em RN e neonatos, devido ao risco de introduzir o dedo e levar a boca ou vice-versa, podendo infectar a ferida. Em crianças em idade pré-escolar e escolar, pode permanecer descoberto, entretanto é necessária uma orientação adequada quanto ao manuseio da ferida operatória.  Retirada de pontos: às vezes traumático  Alta precoce nas cirurgias de superf…cie  Analg€sicos: avaliar a presença de alergias  Cirurgia abdominal: deambulação precoce  Se distens„o abdominal: administrar sonda gástrica  Repor perdas por SG:  Ru…dos hidroa€reos e secreƒ„o clara por sonda g†strica: alimentação líquida por 1 dia
  • 6. Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2 196 MED RESUMOS 2011 CORREIA, Luiz Gustavo; NETTO, Arlindo Ugulino. CIRURGIA PEDIÁTRICA PATOLOGIAS CIRÚRGICAS DO TÓRAX NA CRIANÇA (Professor Wilberto Trigueiro) ATRESIA DE ES†FAGO A atresia de esôfago é definida como sendo uma oclusão proximal da luz esofágica em seu terço proximal. Em 90% dos casos, está presente fístula tráqueoesofágica distal. Em 8% dos pacientes, não há fístula distal e, conseqüentemente, inexiste ar no trato digestivo. INCIDÊNCIA Aproximadamente 1/3.000 nativivos, com leve predominância do sexo masculino e, em 34% dos casos, em prematuros. Apesar de relatos em gêmeos e famílias com envolvimento de mais de um indivíduo, não há evidências atuais de caráter genético. As malformações estão associadas em 50% dos casos, sendo as de origem cardíaca as mais frequentes (em 20% dos casos). QUADRO CLÍNICO  Polidrâmnia materna (aumento da quantidade do líquido amniótico), especialmente nos casos sem fístula (os trabalhos mostram sua incidência em 35% das vezes). A saber, o líquido amniótico é composto, em sua maioria, por excretos urinários. Na atresia de esôfago, frequentemente, o concepto em desenvolvimento deglutir este líquido.  Salivação excessiva e espumosa pela boca e narinas, pela dificuldade de deglutição;  Impossibilidade de passagem da sondagem gástrica;  Distensão abdominal;  Desconforto Respiratório , podendo estar associado à pneumonia química por aspiração de saliva, de conteúdo gástrico ou de alimentos. Pode evoluir para quadro mais grave e sepse.  Asfixia e cianose. DIAGNÓSTICO O diagnóstico é procedido pelos achados sintomatológicos, exame físico e medidas complementares (podendo utilizar exames radiológicos).  Logo após o exame físico, o médico pode realizar a passagem da sonda nasogástrica e, quando ocorre a não- passagem dessa sonda 8-10 cm da boca, o diagnóstico é fortemente sugerido.  Radiografia tóraco -abdominal com sonda contrastada no esôfago proximal não é de realização urgente. Pode- se também, injetar 2ml de contraste através da sonda esofágica. Se houver ar no tubo digestivo, é sinal de que há fístula traqueo-esofágica distal. A radiografia de tórax é importante para diferenciar se a atresia de esôfago está ou não associada à fístula traqueo-esofágica. Para isto, notamos, em B, a presença de ar nas alças intestinais e bulha gástrica. Diferentemente, em A, não existe ar nos órgãos abdominais intestinais. Daí, a procedência da radiografia de tórax é importante para direcionar o tipo de tratamento a ser cogitado. Em 1% dos casos, a fístula traqueo-esofágica pode determinar ausência de ar no estomago. Nessas ocasiões, o segmento fistulizado, provavelmente, está obliterado por rolha de secreção, por exemplo.
  • 7. Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2 197 OBS 1 : A atresia de esôfago pode ou não estar associada à fístula tráqueo- esofágica. Quando associada, pode ocorrer em nível proximal, médio e distal. Na imagem (em A), podemos visualizar a atresia de esôfago, associada à fístula tráqueo-esofágica distal. Em B, não existe fístula, porém, a distância entre os cotos (segmentos) esofágicos é muito grande, impedindo o procedimento terapêutico que será adotado em A. Na imagem, podemos evidenciar a presença de atresia de esôfago com fístula, associada a uma complicação grave, que é a pneumonia. OBS 2 : Diagnóstico de atresia de esôfago com fístula distal na sala de parto.  Não passagem da sonda gástrica (8-9 cm da boca);  Salivação espumosa pela boca e narinas;  Pelo risco de pneumonia aspirativa, jamais alimentar;  No pré-operatório, deve-se introduzir uma sonda para aspirar continuamente o material que pode ser refluído, mantendo o paciente em decúbito elevado (impedir o refluxo gástrico), administração de antibióticos e nutrição parenteral. ANOMALIAS ASSOCIADAS Ocorrem em 30 a 40% dos casos, sendo as mais comuns as cardiovasculares (25 %), atresia duodenal e anorretal. A regra mnemônica VACTER (V = Vertebrais, A = Anorretais, C= Cardíacas, TE= Tráqueoesofágicas, R= Renais ou Radiais) pode estar presente, bem como a prematuridade (20%). TRATAMENTO CIRÚRGICO No pré-operatório, o medico deve seguir uma série de medidas com o intuito de diminuir o risco de pneumonia: I. Aspiração do esôfago proximal; II. Broncoaspiração se necessária; III. Decúbito elevado se houver fístula TE distal (prevenir refluxo gastro-esôfago-traqueal); IV. Bloqueadores H 2; V. Fisioterapia respiratória, se necessária; VI. Hidratação, aquecimento e antibioticoterapia; VII. Nutrição parenteral. VIII. Solicitar ecocardiograma para pesquisar anomalias cardíacas e localização do arco aórtico. Buscar outras malformações. IX. Nos casos de atresia sem fístula distal, a posição de Trendelemburg permite melhor drenagem da saliva A cirurgia deve ser realizada eletivamente quando a criança estiver bem do ponto de vista clínico e sem pneumonia. Procede-se à toracotomia extra-pleural direita com ligadura da fístula TE e anastomose esofágica. Pode ser deixada sonda nasogástrica transanastomótica de fino calibre para alimentação no pós-operatório. A alimentação oral pode ser iniciada a partir do sexto dia, desde que não haja complicação da anastomose. Na presença de pneumonia grave acompanhada de distensão abdominal, cardiopatia cianótica ou prematuridade importante, é aconselhável gastrostomia descompressiva, enquanto se aguarda a cirurgia definitiva que somente deve
  • 8. Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2 198 ser realizada, quando as condiƒˆes cl„nicas permitirem. Nos casos de atresia esofágica sem fístula distal, os cotos são distantes, o que impossibilita de imediato a anastomose. Nestes casos, realiza-se gastrostomia para alimentar e avalia-se a possibilidade de anastomose esofágica tardia. Quando a distŒncia dos cotos n‡o possibilita anastomose prim€ria, mesmo com alongamento dos cotos esof€gicos seguindo a t•cnica cir‚rgica de Foker, est€ indicada esofagostomia cervical tempor€ria Em torno de 1 ano de idade, restabelece o trŒnsito atrav•s de esofagocoloplastia ou transposiƒ‡o g€strica. COMPLICAÇÕES PÓS-OPERATÓRIA  Pneumonia, septicemia;  Deisc†ncia da anastomose (sa„da de saliva pelo dreno de t…rax e pneumot…rax);  Recorr†ncia da f„stula TE;  Estenose da anastomose.  O refluxo gastroesof€gico • freq•ente e pode determinar pneumonias de repetiƒ‡o no p…s-operat…rio tardio, al•m de ocasionar ou agravar estenose da anastomose esof€gica. PROGNÓSTICO Bom naquelas crianƒas com diagn…stico precoce, medidas iniciais corretas, peso acima de 2.500g e sem anomalias graves associadas. Prematuridade, infecƒ‡o e cardiopatias, al•m do diagn…stico tardio, afetam significativamente o progn…stico. HƒRNIA DIAFRAGM•TICA DE BOCHDALEK A hérnia diafragmática de Bochdalek (HB) consiste na passagem de v„sceras abdominais para o interior do t…rax durante a vida fetal, pelo n‡o fechamento da parte p…stero-lateral do diafragma, determinando compress‡o pulmonar e comprometendo o seu desenvolvimento embrion€rio, podendo torn€-lo hipopl€sico em graus vari€veis, uni ou bilateralmente. Ap…s o nascimento, geralmente est‡o presentes todo o intestino delgado, colo ascendente, est•mago, baƒo e, eventualmente, parte do lobo esquerdo do f„gado. O conte‚do herni€rio durante a vida fetal pode comprometer a embriologia normal do pulm‡o, determinando hipoplasia deste …rg‡o. Isto leva a uma diminuiƒ‡o do tamanho do pulm‡o, da ramificaƒ‡o br•nquica e do leito vascular pulmonar com espessamento da musculatura lisa das arter„olas pulmonares. Se presente a hipoplasia pulmonar ao nascimento, a cianose • acentuada e o aumento da resist†ncia vascular pulmonar resulta em shunt D-E, atrav•s do forame oval e canal arterial, ocasionando hipoxemia e acidose, respons€veis pela deterioraƒ‡o cl„nica e …bito. INCIDÊNCIA A HB apresenta incid†ncia em 1 caso a cada 3.000 nativivos. Ocorre, em 85% dos casos, do lado esquerdo e, em rar„ssimas exceƒˆes, bilateral (em 1%). A incid†ncia n‡o se distingue quanto ao aspecto sexual, ocorrendo com a mesma incid†ncia em homens e mulheres. QUADRO CLÍNICO O in„cio e a intensidade dos sintomas est‡o relacionados com o grau de hipoplasia pulmonar, podendo surgir logo ao nascimento, horas depois ou mesmo tardiamente, agravando-se ‰ medida que o ar • deglutido e distende as alƒas intestinais. O diagn…stico precoce conduz a um tratamento cl„nico adequado logo ap…s o nascimento. 90% dos indiv„duos com HB apresentam-se sintom€ticos nas primeiras 24h de vida. Nas ocasiˆes de sintomas at• 6h do nascimento, o rec•m-nato ser€ taxado como portador de HB de alto risco. Paradoxalmente, na literatura s‡o descritos casos assintom€ticos em crianƒas maiores.  Dispn•ia, cianose;  Abdome escavado;  T…rax com diŒmetro AP aumentado;  Desvio do ictus cordis;  Murm‚rio vesicular ausente no lado afetado;  Hipoxemia grave. DIAGNÓSTICO O diagn…stico • fornecido por meio do exame cl„nico e f„sico, aliado aos exames complementares. O diagn…stico por exames de imagem deve ser procedido, se apresentado como importante ferramenta no diagn…stico precoce da HB, ou seja, durante o per„odo pr•-natal. • prudente a realizaƒ‡o de R-X simples ao nascimento e US no pr•-natal.  Diagnóstico pré-natal por ultrassonografia (90% casos) – polidrŒmnio • freq•ente.  Ao nascer: raios X simples t…raco-abdominal – alƒas no interior do t…rax, est•mago presente com sonda g€strica, aus†ncia ou pobreza de ar no abdome. O exame contrastado do tubo digestivo n‡o est€ indicado, exceto quando h€ d‚vida diagn…stica, especialmente nas h•rnias com apresentaƒ‡o tardia.
  • 9. Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2 199 R-X simples tóraco -abdominal demonstrando a presença de alças na cavidade pulmonar do lado esquerdo. Trata-se de HB, com herniação de estruturas da cavidade abdominal, que impossibilita o crescimento do pulmão. Radiologicamente percebemos densidade de ar de alças intestinais (hipertransparência). R-X simples tóraco -abdominal evidenciando alças intestinais na cavidade pulmonar direita. Percebemos densidade de ar dentro de uma área de pulmão hipoplásico. Na imagem, podemos evidenciar uma peça anatômica pos-mortem, demonstrando a presença de várias estruturas através da hérnia, dentre as quais, o Baço é uma estrutura inconfudível nesta peça. A presença de órgãos abdominais grandes, como o estômago, influencia no grau de hipoplasia pulmonar. A saber, a hipoplasia pulmonar severa é mais descrita associada à herniação do estômago. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Doenças císticas do pulmão, hérnia hiatal, hérnia de Morgagni e pneumatoceles. ANOMALIAS ASSOCIADAS Hipoplasia pulmonar, má rotação intestinal, malformações cardíacas, do SNC e gênito-urinárias. MANEJO INICIAL  Sonda gástrica para descompressão do tubo digestivo;  Evitar ventilação com máscara, pois levará ar para o interior do estômago e alças intestinais;  Toda a atenção deve ser voltada para adequada monitorização da função respiratória, minimizando a hipóxia;  Se necessário, suporte ventilatório endo-traqueal, após sedação, com pressões baixas, por risco de pneumotórax. Contralateral. Se a PO2 não se elevar, é provável que exista hipoplasia pulmonar. Hipercapnia permissiva é bem tolerada;  Evitar manuseio excessivo pela vasoreatividade pulmonar;  Aquecimento, hidratação, antibióticos e surfactante;  Cateterismo de veia umbilical e artéria umbilical (gasometria);  A oximetria de pulso é uma excelente forma de monitorização quando usada concomitantemente nos territórios pré e pós ductal (extremidade do braço direito e de qualquer membro inferior).  Monitorar a pressão arterial e diurese;
  • 10. Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2 200  Solicitar ecodopplercardiograma  Corrigir a acidose  Drogas vasodilatadoras pulmonares podem estar indicadas em casos de shunt: tolazoline, usada no passado, na dose de 1 a 2 mg/kg, e, mais recentemente, o óxido nítrico sob forma inalatória, que tem seletividade pulmonar, portanto, sem os efeitos colaterais da tolazoline. TRATAMENTO CIRÚRGICO Não é cirurgia de emergência. Após estabilização do RN, realiza-se laparotomia subcostal e faz-se a redução do conteúdo herniário para a cavidade abdominal. Resseca-se o saco (presente em 20% dos casos) e fecha-se o defeito muscular. Raramente há necessidade de colocação de tela para se fechar o diafragma. Não se deve tentar insuflar o pulmão hipoplásico, pelo risco de pneumotórax no lado oposto, nem suturar a parede abdominal com tensão. Não há indicação de drenagem torácica para permitir que o mediastino retorne lentamente à parte mediana sem causar desordem hemodinâmica PÓS-OPERATÓRIO Inclui, basicamente, assistência ventilatória com baixa pressão e manutenção das condicões hemodinâmicas. PROGNÓSTICO A mortalidade é elevada (35%) naquelas crianças que apresentam desconforto respiratório importante nas primeiras seis horas de vida. São fatores agravantes: prematuridade, anomalias cardíacas associadas a efeitos do barotrauma e acidose respiratória grave apesar de bom suporte ventilatório. Gasometrias com pH > 7.2. pCO2 < 50 mmHg e pO2 > 100 mmHg têm bom prognóstico. EVENTRA„‡O DIAFRAGM•TICA É uma diminuição ou ausência de fibras musculares do diafragma, de forma parcial ou total, que faz com que fique formado apenas pelos folhetos pleural e peritonial. Pode também haver elevação de todo o diafragma por paralisia ocasionada principalmente por toco-traumatismo em parto de apresentação pélvica por estiramento do plexo cervical e lesão do nervo frênico. QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO O quadro clínico é variável. Nas pequenas eventrações, ela é assintomática. Se o diafragma estiver bem elevado, sinais de desconforto respiratório grave podem estar presentes ou, tardiamente, pode haver quadro de infecção respiratória de repetição. A bilateralidade é incomum. Pode haver volvo gástrico, se do lado esquerdo. O diagnóstico é procedido pela radiologia, especialmente, pela radiografia de tórax em perfil. Neste exame, observamos elevação do hemi-diafragma comprometido, e a fluoroscopia demonstra movimento paradoxal. O diagnóstico diferencial é com doença cística do pulmão (malformação adenóide cística). TRATAMENTO A cirurgia estará indicada se o defeito for importante e a criança sintomática. O tratamento cirúrgico consiste em plicatura da membrana diafragmática por via torácica. O prognóstico é bom na maioria dos casos.
  • 11. Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2 201 DERRAME E EMPIEMA PLEURAL O derrame e empiema pleural do rec•m-nato (RN) • uma complicaƒ‡o, geralmente, dos quadros pneum•nicos. A principal bact•ria envolvida no empiema pleural • a S. aureus. Na imagem, podemos perceber o velamento do seio costofr†nico, assim como o desvio das estruturas mediastinais para o lado contralateral. O tratamento • feito com uso de antibi…ticos e drenagem da secreƒ‡o purulenta, eventualmente. ENFISEMA LOBAR CONGˆNITO Consiste na hiperinsuflaƒ‡o de um lobo pulmonar, com compress‡o e atelectasia do par†nquima pulmonar adjacente, determinante de desvio do mediastino e herniaƒ‡o do pulm‡o para o lado contra lateral. ETIOLOGIA Defici†ncia de cartilagem br•nquica que provocaria um mecanismo valvular, com retenƒ‡o de ar no alv•olo, ou num lobo polialveolar. Pode associar-se a anomalias card„acas. Os lobos mais acometidos s‡o o lobo superior esquerdo – 40%, lobo m•dio direito – 35% e lobo superior direito – 25%. Raramente afeta mais de um lobo. QUADRO CLÍNICO Desconforto respirat…rio progressivo e abaulamento do hemit…rax comprometido com desvio do ictus cordis para o lado normal. Em 50% dos casos, manifesta-se no primeiro m†s de vida e em 30% no nascimento. DIAGNÓSTICO Raios X simples do t…rax em AP e perfil demonstram hipertranspar†ncia do lobo afetado, apresentando fina trama vasobr•nquica no seu interior, desvio mediastinal para o lado oposto e sinais de atelectasia do lobo homolateral. A tomografia computadorizada pode ser necess€ria em caso de d‚vida diagn…stica. Logo ao nascimento, a imagem radiol…gica pode ser de hipotranspar†ncia por presenƒa de l„quido pulmonar. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Principalmente pneumot…rax hipertensivo, al•m de cisto pulmonar, pneumatocele e atelectasia do lado oposto. TRATAMENTO Cir‚rgico: ressecƒ‡o do lobo afetado, que pode ser emergencial, se a insufici†ncia respirat…ria for aguda. PNEUMOT‚RAX • a presenƒa de ar na cavidade pleural e pode aparecer em cerca de 1% dos exames radiogr€ficos neonatais de rotina, por•m de forma assintom€tica. • a forma mais comum da s„ndrome de extravasamento de ar do RN. Pode ser secund€rio a afecƒˆes pulmonares ou decorrer da assist†ncia ventilat…ria ou de manobras de ressuscitaƒ‡o, sendo uni ou bilateral. Tem sido relativamente freq•ente em prematuros com membrana hialina, especialmente se as pressˆes inspirat…rias estiverem elevadas, podendo associar-se a enfisema mediastinal, pneumoperic€rdio e at• pneumoperit•nio SINTOMATOLOGIA Vari€vel, dependendo da quantidade de ar no espaƒo pleural. No pneumot…rax hipertensivo, o RN apresenta insufici†ncia respirat…ria grave e card„aca, que, n‡o tratados, o levar‡o a …bito Suspeitar sempre quando h€ queda de saturaƒ‡o em pacientes com respiraƒ‡o assistida. DIAGNÓSTICO Diminuiƒ‡o da expansibilidade no lado afetado e do murm‚rio vesicular. Raios X de t…rax (hipertranspar†ncia e desvio do mediastino). Transiluminaƒ‡o com fibra …tica. TRATAMENTO Nos casos leves e assintom€ticos, a conduta • expectante. Nos casos graves, recomenda-se a drenagem fechada em selo d’€gua. No pneumot…rax hipertensivo, a punƒ‡o descompressiva em situaƒ‡o de emerg†ncia pode salvar a vida da crianƒa.
  • 12. Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2 202 MED RESUMOS 2011 NETTO, Arlindo Ugulino. CIRURGIA PEDIÁTRICA REGIÃO INGUINAL E GENITÁLIA EXTERNA (Professor Wilberto Trigueiro) A regi‡o inguinal e a genit€lia externa s‡o sedes de uma s•rie de malformaƒˆes comuns no que diz respeito ao atendimento em serviƒos de Cirurgia Pedi€trica em todo o mundo. ANATOMIA DA REGI‡O INGUINAL A região inguinal (virilha), que se estende entre as espinhas il„acas Œntero-superiores e o tub•rculo p‚bico, ou seja, inferiormente ‰ parede Œntero- lateral do abdome, • uma importante €rea do ponto de vista anat•mico e cl„nico: anatomicamente, porque • uma regi‡o onde estruturas entram e saem da cavidade abdominal, e clinicamente, porque as vias de sa„da e entrada (regi‡o de transiƒ‡o) s‡o €reas de fraqueza, estando propensas ent‡o, a formaƒ‡o de h•rnias. Na verdade, a maioria das h•rnias abdominais ocorre nesta regi‡o, com as h•rnias inguinais contribuindo para 75% de todas as h•rnias abdominais. Estas h•rnias ocorrem ambos os sexos, por•m a maioria das h•rnias inguinais (aproximadamente 86%) ocorre em homens, devido ‰ passagem do fun„culo esperm€tico atrav•s do canal inguinal, o qual • maior nesse sexo. O canal inguinal • formado em relaƒ‡o ‰ descida do test„culo durante o desenvolvimento fetal (descida do test„culo). • uma passagem obl„qua situada na parte inferior da parede abdominal anterolateral, direcionada „nfero- lateralmente, paralelo ao ligamento inguinal, cerca de 2 a 4 cm acima deste. Mede cerca de 4 cm de comprimento e d€ passagem ao fun„culo esperm€tico nos homens e ao ligamento redondo do ‚tero nas mulheres. O canal inguinal tamb•m cont•m vasos sangu„neos e linf€ticos. D€ passagem ainda ao ramo genital do N. genitofemural (L1 – L2) cuja secƒ‡o no ato operat…rio gera um inc•modo doloroso bastante importante nas inguinotomias, refletida na face interna da coxa ou na bolsa escrotal. HƒRNIA INGUINAL Conceitua-se hérnia como sendo a passagem de uma v„scera atrav•s de uma parede para um s„tio anat•mico que, normalmente, n‡o a cont•m. Portanto, a h•rnia inguinal nada mais • que a protrus‡o de um …rg‡o interno atrav•s da regi‡o inguinal. Assim como no adulto, a h•rnia inguinal na crianƒa pode ser classificada em direta e indireta:  Hérnia Inguinal indireta (congênita): • a mais comum de todas as h•rnias abdominais. Nesse caso, o …rg‡o herniado deixa a cavidade abdominal lateralmente aos vasos epig€stricos inferiores e entra no anel inguinal profundo, sendo revestido por um saco herni€rio formado por um processo vaginal persistente e todos os tr†s revestimentos fasciais do fun„culo esperm€tico. Essa h•rnia atravessa todo o canal inguinal para sair no anel inguinal superficial. Comumente entra no escroto.  Hérnia inguinal direta (adquirida): o …rg‡o herniado deixa a cavidade abdominal medialmente aos vasos epig€stricos inferiores, protraindo-se n‡o pelo anel inguinal profundo, mas por uma €rea relativamente fraca situada na parede posterior do canal inguinal – o tr„gono inguinal. Quase nunca entra no escroto, contudo, quando o faz, passa lateralmente ao fun„culo esperm€tico.
  • 13. Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2 203 INCIDÊNCIA E FISIOPATOLOGIA A hérnia inguinal é uma condição muito frequente do paciente pediátrico (principalmente, no bebê prematuro; ver OBS 1 ). Sua incidência varia de 0,8 a 4%, o que é um número significante, uma vez que a prematuridade, atualmente, tornou-se muito frequente. Nota-se, contudo, que, muitas das vezes, ela ocorre não por fraqueza muscular (o que, de antemão, já nos dá o raciocínio que o seu tratamento independe da instalação de telas), mas se deve à persistência do conduto peritônio- vaginal (ver OBS 1 ). Portanto, a hérnia inguinal mais comum na pediatria é a hérnia indireta ou congênita. OBS 1 : O conduto peritônio-vaginal é, anatomicamente, a estrutura que forra, inferiormente, a cavidade abdominal e que se prolonga até a bolsa escrotal, permitindo a passagem do testículo desde a cavidade abdominal até o interior do escroto. Quando o testículo chega à bolsa escrotal, o canal é obliterado (o que ocorre por volta da 36ª semana de gestação). Portanto, em crianças pré-termo, o canal peritônio-vaginal pode continuar aberto e, quando o recém-nascido exerce algum esforço (como no choro ou na dispnéia, eventualmente), aumentando a pressão intra-abdominal, pode vir a desenvolver hérnias e dificultar o fechamento do conduto. Portanto, quando há persistência do canal peritônio-vaginal, há uma maior predisposição da passagem de alças intestinais e de epiploon através deste canal nos meninos, ou a passagem de alças intestinais e do ovário nas meninas. Contudo, a hérnia inguinal é bem mais frequente no menino do que na menina, uma vez que o ligamento redondo do útero ocupa toda a extensão do canal neste sexo. Nos meninos, há de se considerar também que a hérnia inguinal ocorre mais do lado direito do que do lado esquerdo. Em resumo, temos os seguintes dados relevantes:  Incidência de 0,8 a 4%;  Mais comum em meninos do que em meninas (3♂ : 1♀);  Predominância do lado direito (60%);  25% ocorrem no lado esquerdo e 15% bilateral (a bilateralidade é mais frequente no bebê prematuro).  35% das hérnias aparecem nos primeiros 30 dias de vida. CLASSIFICAÇÃO DA HÉRNIA INGUINAL QUANTO À CAPACIDADE DE REDUÇÃO A hérnia pode ser classificada ainda quanto a sua capacidade de redução ou desaparecimento, seja através de manobras de compressão ou espontaneamente. Desta forma, temos:  Redutível: quando as hérnias retornam à cavidade abdominal em ocasiões cotidianas (ao deitar, por exemplo) ou por manobras de compressão.  Irredutível: quando a hérnia não retoma mais à cavidade abdominal por manobras de compressão. Pode ser subclassificada em encarcerada (quando não há comprometimento vascular) ou estrangulada (quando há comprometimento vascular). o Encarcerada: O conteúdo herniário não consegue retornar ao seu local habitual anatômico, porém, a região ainda não se apresenta com isquemia. O tempo de corte para o reparo cirúrgico da hérnia encarcerada é de 4h, caso não seja procedido neste tempo, a mesma evoluirá para a forma estrangulada. o Estrangulada: O conteúdo desta hérnia já se apresenta em sofrimento, como consequência do garroteamento dos vasos, instala-se a necrose pós-isquemia. É a evolução final da hérnia encarcedada após 4h. OBS 2 : Os sinais clínicos de úlcera encarcerada são:  Início súbito: tumoração região inguinal  Irredutível , dura e dolorosa  Edema e hiperemia da pele e bolsa escrotal  Choro, irritabilidade, vômitos alimentares  Sinais tardios de obstrução intestinal Portanto, a hérnia inguinal, que inicialmente pode se apresentar redutível, pode evoluir para a hérnia encarcerada e/ou estrangulada, de modo que o quadro passa a se apresentar doloroso e caracterizando uma condição cirúrgica de urgência, sob pena de comprometimento da irrigação arterial local e das estruturas envolvidas. Pode haver, inclusive, necrose de ovário (quando este está herniado nas meninas) ou de intestino (quando estes estão herniados no menino). O fato de o canal inguinal ser estreito na criança faz com que o anel inguinal profundo e superficial sejam praticamente sobrepostos. Este fato facilita ainda mais o encarceramento das hérnias inguinais. DIAGNÓSTICO A principal história clínica de uma criança com hérnia inguinal é a presença de um abaulamento ou tumoração na região inguinal durante a realização de um esforço físico ou durante o choro. Contudo, nem sempre ela se mostra visível, sendo necessário lançar mão de outros meios para seu diagnóstico.
  • 14. Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2 204 De toda maneira, o exame clínico (anamnese e exame físico) é a melhor maneira de diagnosticar a hérnia inguinal. Não é indicada a utilização de ultrassonografia para seu diagnóstico. Obviamente, o exame clínico deve ser realizado com o recém nascido nu. Podemos observar, inclusive, uma assimetria na região inguinal à inspeção. Ao exame físico, quando a hérnia é unilateral, é possível palpar o cordão espermático de um lado e a alça no lado acometido. Quando a víscera está herniada, é possível palpar o saco herniário, de modo que se tem a sensação de um engrossamento do canal inguinal quando este é comprimido contra o púbis. É possível ainda ter a sensação tátil do deslizamento dos folhetos peritoneais, semelhante ao atrito de papéis de seda, um sobre o outro (sinal da seda). OBS 3 : Quando, ao diagnóstico, a hérnia se apresenta com volume considerável e a criança não pára de chorar, preconiza-se a sedação do paciente (com Dormonid) e aplicação de compressas geladas sobre a hérnia, além de posicioná-lo em Trendelenburg. Se depois destas medidas a hérnia sofrer resolução, devemos marcar a cirurgia eletiva para um momento oportuno. Caso contrário, ou quando o paciente se apresenta com hérnia irredutível, edema importante com dor, aumento de testículo e hiperemia da bolsa escrotal, devemos considerar, imediatamente, a cirurgia de urgência. TRATAMENTO DA HÉRNIA Quando diagnosticada, o tratamento da hérnia é cirúrgico, desde que não haja nenhuma contra-indicação. Em resumo, o tratamento da hérnia redutível é eletivo , enquanto que o tratamento da hérnia irredutível (seja ela encarcerada ou estrangulada) é em caráter de urgência . A cirurgia consiste na herniorrafia, com reforço cirúrgico do canal inguinal. A sutura a ser optada é intradérmica com nylon ou Vycril. Geralmente, a anestesia geral deve ser realizada associada à instilação de anestesia local para reduzir a dor no pós-operatório. Na maior parte dos casos, assim que a criança acorda, já recebe alta, sendo necessária apenas a prescrição de antitérmicos (Paracetamol) e analgésicos, se preciso for. OBS 4 : Quando a criança nasce com hérnia inguinal mas apresenta baixo peso corporal, é prudente esperar até ela receber alta do berçário e alcançar a massa mínima de 1800 mg. Com menos que isso, o risco de apnéia pós-operatória é maior. Ao contrário disso, esperar a criança obter muita massa também é contra-indicado: crianças com mais de 4kg apresentam maior suscetibilidade de desenvolver hérnias irredutíveis. De Janeiro de 2000 a Janeiro de 2008, o Prof. Dr. Wilberto Silva Trigueiro operou mais de 85 hérnias inguinais encarceradas em crianças entre 0 e 1 ano. A maioria, tinha menos que 3 meses de idade. Por esta razão, o tempo ideal para a realização da cirurgia de hérnia inguinal é tão logo que seja diagnosticada (com exceção dos prematuros de baixo peso). OBS 5 : Por vezes, quando realizamos a cirurgia de hérnia inguinal em meninas, ao se abrir a região inguinal, nos deparamos com dois testículos. Este quadro caracteriza a chamada síndrome de Morris ou insensibilidade androgênica. Sabe-se que por volta da 10ª semana de gestação, o embrião, até o momento bi-potencial, apresenta apenas o tubérculo genital, que se desenvolve nos ductos de Wolf (que vão dar origem ao epidídimo, vesículas seminais, próstata, ductos deferentes, etc) e os ductos de Müller (que vão dar origem aos 2/3 superiores da vagina, útero, tubas uterinas, ovários). Se os testículos estiverem presentes (isto é, se o embrião for masculino), sintetizam o fator inibidor dos ductos de Müller, inibindo o desenvolvimento destes, proporcionando o desenvolvimento dos ductos de Wolf. Portanto, para que o embrião se torne mulher com todos seus órgãos genitais, não é necessária a presença de gônada nenhuma; para ser homem, o embrião necessita de testículos. Contudo, geralmente, o embrião apresenta todo o desenvolvimento dos ductos de Müller e ainda possuem os testículos (logicamente, apresentam uma vagina atrófica, mas sem útero, tubas e ovários). Neste caso, devemos retirar os testículos e realizar uma reconstrução vaginal anatômica.
  • 15. Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2 205 HIDROCELE DO RECƒM-NASCIDO Em alguns casos, o canal inguinal se apresenta estreitado ou fechado, mas estando associado ‰ presenƒa de l„quido na regi‡o da bolsa escrotal. Tal l„quido pode ter entrado durante a vida fetal, sendo, provavelmente, de origem peritoneal. A hidrocele • uma situaƒ‡o caracterizada pelo ac‚mulo de l„quido na bolsa escrotal sendo sugerida clinicamente pela mobilidade preservada e com transiluminaƒ‡o positiva (permite a passagem de um feixe luminoso quando em contato direto a uma fonte de luz). Geralmente • indolor. Geralmente, apresenta resoluƒ‡o espontŒnea (em cerca de 95% dos casos), sendo necess€ria apenas uma conduta conservadora, desaparecendo com at• 1 ano a 1 ano e meio de idade. Caso contr€rio, indica-se a cirurgia. Contudo, a hidrocele comunicante (ver OBS 6 ) • cir‚rgica. Geralmente ocorre em crianƒas ap…s o segundo ano de vida. A cirurgia consiste no fechamento cir‚rgico do conduto perit•nio-vaginal, com incis‡o na regi‡o inguinal, associada ‰ drenagem do conte‚do escrotal. A hidrocele do adulto, ao contr€rio, • tratada atrav•s de incis‡o na bolsa escrotal. OBS 6 : A hidrocele comunicante pode ser exemplificada por aquele quadro cl„nico caracterizado pela alteraƒ‡o do volume da bolsa escrotal ao longo do dia: o paciente que acorda com a bolsa escrotal vazia e que, ao passar do dia, apresenta um aumento da mesma, o que significa dizer que o l„quido tem livre acesso, para entrar ou sair na bolsa escrotal. Neste caso, o tratamento • cir‚rgico. OBS 7 : Os pacientes com derivaƒ‡o ventr„culo-peritoneal (v€lvula que drena o l„quor do c•rebro at• o perit•nio) para tratamento de hidrocefalia n‡o-comunicante constituem um grupo de risco para hidrocele. Quando estes pacientes desenvolvem hidrocele unilateral, devemos intervir cirurgicamente, corrigindo o defeito de um lado e intervindo cirurgicamente do outro, evitando, assim um quadro futuro do outro lado. TUMOR DE TEST‰CULO Clinicamente, o tumor de test„culo • bastante semelhante ‰ hidrocele, inclusive pelo quadro n‡o-doloroso e aumento da regi‡o escrotal. Contudo, nota-se nesta situaƒ‡o uma consist†ncia endurecida, sem o sinal da transiluminaƒ‡o. At• que se prove o contr€rio, todo tumor de test„culo • considerado maligno, e deve ser retirado por completo. A ultrassonografia e a mediƒ‡o laboratorial da alfa-feto prote„na elevada (um marcador tumoral) s‡o exames fundamentais para o diagn…stico. O tratamento • cir‚rgico, sendo a operaƒ‡o realizada pela regi‡o inguinal – e n‡o pela bolsa escrotal. Durante a cirurgia, devemos pinƒar o cord‡o para evitar a migraƒ‡o de c•lulas malignas. A bi…psia de congelaƒ‡o pode ser realizada antes da retirada do test„culo. A instalaƒ‡o de uma pr…tese testicular pode servir como opƒ‡o est•tica para o quadro.
  • 16. Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2 206 VARICOCELE A varicocele consiste em uma condição adquirida caracterizada pela presença de varizes na região da bolsa escrotal, melhor evidenciada durante a manobra de Valsalva. Atinge cerca de 10% das crianças na fase puberal, por volta dos 12 anos, sendo uma condição visível quando ela atinge o grau 3 ou grau 4 da doença. Tal quadro pode desencadear uma oligoespermia e, portanto, adultos com varicocele têm a tendência de ser estéreis. As varizes são mais comuns na região esquerda do que a direita, uma vez que a drenagem da região esquerda se faz para uma veia mais verticalizada (veia renal), enquanto que a região direita drena para a veia cava. A ultrassonografia com Doppler pode servir por evidenciar um aumento do fluxo sanguíneo local ou demonstrar um testículo de massa diminuída, pouco desenvolvido. Tem-se indicação cirúrgica quando a varicocele atinge tamanhas dimensões, ao ponto de torna-se feio esteticamente e/ou impedir o desenvolvimento do testículo. DISTOPIA TESTICULAR Como se sabe, em um embrião de 7 semanas, o testículo ainda não desceu da sua posição na parede posterior do abdome. Um feto com 28 semanas (sétimo mês) mostra o processo vaginal e o testículo atravessando o canal inguinal. O processo vaginal conduz lâminas de fáscia da parede abdominal a sua frente. Normalmente, em um recém- nascido, houve obliteração do pedículo do processo vaginal. Os remanescentes do processo vaginal formaram a túnica vaginal do testículo, e o remanescente do gubernáculo formou o ligamento escrotal ou desapareceu. É considerada normal ainda a descida total do testículo por volta do 3º mês depois do nascimento. A distopia testicular consiste em uma alteração de posição do testículo com relação a sua localização anatômica normal, que seria na bolsa escrotal. O testículo, não estando no seu sítio anatômico normal, pode caracterizar pelo menos 4 situações: (1) criptoquirdia: o testículo não desceu até a bolsa escrotal, mas parou seu trajeto de descida, que acontece desde o abdome até a região inguinal; (2) ectopia testicular; (3) testículo retrátil; (4) testículo ascedente (uma nova modalidade de distopia testicular descrita na literatura). Os três últimos devem ser tratados conservadoramente, diferentemente do primeiro. CRIPTOQUIRDIA A croptoquirdia (do grego, orchis = testículo + kryptos = oculto) consiste na não descida dos testículos até a bolsa escrotal, podendo ficar situados na região abdominal ou no canalículo inguinal. Acomete cerca de 0,8 a 1% das crianças que nascem. A incidência em prematuros é bem maior, atingindo 30% segundo Berkowitz, 1993, uma vez que a descida do testículo não aconteceu na vida intra-uterina. Em geral é unilateral (apenas um dos testículos não desce para o saco escrotal), porém 25% dos casos são bilaterais. Como o escroto serve para manter a temperatura dos testículos diferente da corpórea e estes não se encontram na bolsa testicular, ocorre interrupção das células germinativas com hialinização e espessamento da membrana basal dos túbulos seminíferos, aumento do estroma e células de Leydig proeminentes.
  • 17. Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2 207 Se os testículos não desceram até a bolsa depois 3 a 6 meses de idade, é possível que eles não voltem mais passivamente, sendo necessária a intervenção cirúrgica (que deve acontecer em torno de 8 a 12 meses de idade). Se não tratada, a croptoquirdia pode apresentar as seguintes complicações:  Alterações histológicas: presença de fibrose peritubular devido à maior temperatura abdominal a qual o testículo está exposto (cerca de 2 a 3ºC maior do que na bolsa escrotal). Isso reflete na diminuição das espermatogônias e diminuição do crescimento do testículo.  Infertilidade: bastante associada à criptoquirdia. O grau de fertilidade é reduzido quando a criptoquirdia é unilateral, e a infertilidade é presente quando a criptoquirdia é bilateral.  Torção testicular  Hérnia inguinal  Neoplasias (3,5 a 10 x)  Problemas psicológicos  Malformações associadas: epidídimo (>25%), deferente e disgenesia testicular. O tratamento consiste na correção cirúrgica (Orquidopexia), sob anestesia geral. Opta-se pela idade ideal para a cirurgia, que é por volta de 1 ano (entre 8 e 12 meses de idade). Os objetivos do tratamento são:  Melhorar a fertilidade: se a criança não é operada ou se for operada tardiamente, o índice de fertilidade cai e, se não for operada, torna-se estéril.  Corrigir hérnia associada  Facilitar o auto-exame para evidenciar câncer de testículo  Prevenir distúrbios psicológicos ECTOPIA TESTICULAR Tal situação é caracterizada pela descida do testículo mas que, ao chegar próximo à bolsa escrotral, não entra na mesma, mas ganha um caminho diferente; contudo, pode retornar à bolsa escrotal eventualmente. As localizações mais comuns da ectopia testicular são: perineal, crural, inguinal superficial, transversa, pubopeniana. Portanto, diferentemente da critptoquirdia, o testículo ectópico é morfologicamente e funcionalmente normal, de forma que o tratamento pode consistir no simples acompanhamento clínico do quadro. A cirurgia não é necessária. AFEC„‡O ESCROTAL AGUDA O escroto agudo é qualquer processo inflamatório agudo e que curse com dor na região escrotal. É caracterizado, portanto, por um quadro doloroso na região escrotal (geralmente associada a outros comemorativos, como hiperemia e edema na região), decorrente de eventos patológicos em estruturas nela localizada. Se não tiver dor, não há o diagnóstico de escroto agudo. Desta forma, o escroto agudo é causado pelas condições dolorosas listadas na tabela abaixo: Indolor Dolorosa  Hidrocele  Varicocele  Inguinal hernia redutível  Tumor de testículo  Torção testicular  Torção de apêndices testiculares  Epididimite  Orquite  Hérnia encarcerada  Trauma As causas mais comuns de afecções escrotais agudas são: torção de apêndice, torção de testículo, orquite epididimite, trauma, etc.
  • 18. Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2 208 TORÇÃO TESTICULAR A torção testicular (ou torção do funículo espermático) é uma urgência cirúrgica, devido ao risco de necrose testicular, constituindo uma das principais causas de escroto agudo. A torção obstrui a drenagem venosa, com consequente edema e hemorragia, e subsequente obstrução arterial. Se não for corrigida imediatamente, pode haver necrose de todo o testículo. A torção testicular é causada por anormal fixação do testículo ao escroto, o que pode causar comprometimento vascular. Os principais sinais e sintomas são:  Dor no testículo  Edema  Hiperemia  Testículo elevado  Reflexo cremastético ausente A torção de testículo pode ocorrer em qualquer idade, porém é mais comum na adolescência. A torção geralmente ocorre logo acima do pólo superior do testículo. O diagnóstico do quadro de escroto agudo é obtido através da apresentação clínica. Contudo, a torção de testículo é diagnosticada facilmente através da ultrassonografia com Doppler colorido, o qual não mostra fluxo sanguíneo reduzido ou ausente no funículo espermático. Quando não há fluxo ou o exame é duvidoso, devemos optar pela cirurgia de urgênica. Caso contrário, isto é, quando ainda há fluxo sanguíneo, podemos optar pelo tratamento clínico, com suporte para dor (a base de analgésicos) e acompanhamento. É feita uma incisão escrotal alta para ter acesso ao funículo espermático, e o testículo e/ou funículo é girado quando necessário para reduzir a torção e garantir a irrigação do testículo. Para evitar a recorrência ou ocorrência contralateral, que é provável, os dois testículos são fixados cirurgicamente no septo escrotal. A incidência de necrose na torção de testículo é comum. Esta necrose está diretamente relacionada com alguns fatores como o tempo de torção e o número de voltas dadas pelo funículo espermático. Estima-se que o tempo limítrofe entre a torção e a necrose é de até 6 a 8 horas. Contudo, sempre devemos preservar o testículo ao máximo durante a cirurgia, buscando o mínimo de persistência de irrigação arterial no testículo (observando a coloração do testículo depois de revertida a torção ou mesmo realizando pequenas punções no mesmo, esperando o escape de sangue). Se não for possível, é prudente a retirada do testículo, o qual deve ser substituído por uma prótese. TORÇÃO DE APÊNDICES TESTICULARES Apêndices testiculares são resquícios embrionários presos ao testículo que, quando torcidos, geram um quadro doloroso, caracterizando o escroto agudo. Deve-se realizar o diagnóstico diferencial com o testículo torcido, uma vez que a conduta de tratamento da torção de apêndices testiculares não é cirúrgica. O diagnóstico diferencial pode ser facilmente obtido pela ultrassonografia com Doppler, o qual mostra fluxo sanguíneo normal para o testículo. Há, na maioria das vezes, uma hipersensibilidade dolorosa ao toque na região superior ao escroto, devido à necrose do apêndice testicular. O tratamento é clínico, com suporte para dor, repouso e compressão local.
  • 19. Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2 209 FIMOSE A fimose consiste na impossibilidade de exteriorizaƒ‡o da glande, geralmente causada por uma estenose da rima do prep‚cio (figura A e B). Pode haver ainda a chamada parafimose, que consiste na retraƒ‡o mecŒnica (manual) do prep‚cio e sua incapacidade de voltar, o qual forma um anel circundando a coroa da glande (figura C). A cl„nica pode ser caracterizada pela dificuldade em urinar. • comum o relato de abaulamento durante a micƒ‡o, devido ‰ retenƒ‡o de urina internamente ao prep‚cio. A fimose dificulta tamb•m a higiene da glande, o que pode predispor a infecƒˆes locais. Toda crianƒa nasce com fimose, sendo uma estrat•gia da natureza humana para proteger a glande. Portanto, nem sempre • prudente realizar a cirurgia de fimose logo ao nascer, a n‡o ser que haja infecƒ‡o urin€ria ou da glande. As principais indicaƒˆes para a circuncisão ou postectomia s‡o:  M•dicas  Anel prepucial esten…tico, com fibrose ou excesso de prep‚cio  Crianƒas com infecƒ‡o urin€ria de repetiƒ‡o - refluxo v•sico-uretral (VU), v€lvula de UP  B€lano postites frequentes  Parafimose  Causas religiosas e culturais A correƒ‡o cir‚rgica consiste na circuncis‡o (ou postectomia), com retirada do prep‚cio (prega cutŒnea que recobre a glande do p†nis) e exposiƒ‡o da glande. Geralmente, a postectomia • indicada ap…s os 3 anos de idade. Ela • contra-indicada nos seguintes casos:  Rec•m nascidos  Hiposp€dias,  Episp€dias,  Megalouretra  P†nis “embutido” (ver OBS 9 ) OBS 8 : De acordo com dados da Organizaƒ‡o Mundial de Sa‚de (OMS), cerca de 30% dos homens no mundo s‡o circuncidados (algo em torno de 665 milhˆes de homens), a maioria deles por motivos religiosos, uma vez que 68% deles s‡o muƒulmanos. OBS 9 : Pode haver ainda um quadro chamado de “p†nis embutido” ou concealed penis. Neste caso, o p†nis est€ escondido pela gordura local e pelo prep‚cio. A correƒ‡o consiste na incis‡o da regi‡o prepucial e exposiƒ‡o da glande, seguida de fixaƒ‡o da mesma na pele prepucial. HIPOSP•DIA A hiposp€dia consiste em uma condiƒ‡o cong†nita caracterizada por uma implantaƒ‡o ventral do meato uretral externo. • uma condiƒ‡o relativamente comum, com incid†ncia de 1/300. Geralmente, • uma malformaƒ‡o som€tica isolada, mas pode apresentar algumas condiƒˆes associadas, tais como:  H•rnia inguinal  Criptorquidia  Estados intersexuais  Transposiƒ‡o incompleta peno escrotal  Anomalias urin€rias
  • 20. Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2 210 A hipospádia pode ser distal (quando glandar, balânica, peniana anterior), quando mais perto da glande estiver; ou proximal (mediana e posterior, sendo esta escrotal ou perineal), quando mais perto da base do pênis estiver. Quanto mais proximal for, mais curvo será o pênis e mais complexa é a cirurgia. O tratamento desta condição é cirúrgico. Existem inúmeras técnicas para seu tratamento. A cirurgia geralmente é realizada por volta dos 8 a 10 meses de idade, geralmente em único tempo. Os objetivos da cirurgia são:  Pênis reto sem encurvamento  Glande com meato uretral centrado  Uretra de diâmetro normal  Jato urinário forte  Ereção normal  Bom aspecto estético Contudo, o índice de complicação é relativamente alto, independente da experiência do cirurgião. As complicações mais comuns são: fístulas, estenoses, deiscência total, etc. GENIT•LIA AMB‰GUA A genitália ambígua (ou genitália dúbia) acontece naqueles casos em que é impossível responder com segurança o sexo do recém-nascido, pois a aparência anatômica da genitália é duvidosa, ou seja, ambígua. Ela tem as características de ambos os sexos. Isto repercute de tal forma que abala a estrutura familiar. Várias são as causas determinantes desta anomalia. Elas vão desde as alterações cromossômicas até as desordens da síntese de substâncias responsáveis pela diferenciação sexual normal (hiperplasia adrenal). Várias são as causas de genitália ambígua, estando eles relacionados com transtornos da embriogênese genital. Dentre as principais, podemos destacar:  Hiperplasia aderenal congênita: é a causa mais comum de genitália ambígua. Consiste em um distúrbio presente no nascimento, caracterizado pela deficiência nos hormônios cortisol e aldosterona e uma superprodução de andrógeno (hormônio sexual masculino). Este transtorno hereditário é caracterizado pela falta de uma enzima necessária à glândula adrenal para a fabricação de cortisol. Em resposta a essa deficiência, a glândula pituitária secreta um hormônio (ACTH), que estimula a glândula adrenal, causando a superprodução de hormônios andrógenos (masculinos) mas sem provocar um aumento necessário de cortisol. A condição afeta igualmente homens e mulheres. Em bebês do sexo feminino recém- nascidos, com este distúrbio, o clitóris se mostra dilatado com a abertura uretral na base (genitália ambígua, frequentemente parecendo mais masculina que feminina). As estruturas internas do trato reprodutor (ovários, útero e tubas uterinas) são normais. Conforme a menina se desenvolve, a masculinização de certos traços aparece, como: voz grave, aparecimento de pêlos faciais e deficiência na menstruação na puberdade. Em bebês do sexo masculino recém-nascidos, nenhuma anormalidade óbvia se apresenta, mas muito antes da puberdade o menino começa a ter a massa muscular aumentada, o pênis aumenta, aparecem os pêlos púbicos e o tom da voz se torna grave. Os homens afetados podem parecer entrar na puberdade aos 2 ou 3 anos de idade. Na puberdade, os testículos se mostram pequenos.  Hermafroditismo verdadeiro: caracterizado pela presença de testículo e ovário ao mesmo tempo.  Pseudohermafroditismo feminino: acontece quando o cariótipo é XX, apresenta ovário, mas tem a genitália ambígua.  Pseudohermafroditismo masculino: acontece quando o cariótipo é XY, apresenta testículo, mas tem a genitália ambígua. Para esclarecimento do sexo a ser adotado, uma equipe multidisciplinar composta por pediatra, cirurgião pediátrico, endocrinologista e geneticista coordena a realização de uma série de exames ultrassonográficos, radiológicos e laboratoriais. A anatomia das genitálias externa e interna e quais as gônadas presentes também são determinantes na escolha do sexo mais apropriado. Isto tem que ser realizado com máxima brevidade, no primeiro mês de vida, para que a criança seja registrada corretamente, evitando transtornos médicos e psicológicos de grande gravidade. Muitas destas crianças podem depois necessitar do uso prolongado de medicação hormonal. A correção cirúrgica da genitália, adequando-a ao sexo correto, deve ser feito em torno dos 6 meses de vida. Infelizmente, ainda são atendidas crianças em idade pré-escolar e escolar, sem sexo definido.
  • 21. Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2 211 Aumento do clitóris (ou do pequeno pênis) devido à hiperplasia adrenal, a causa mais comum de genitália ambígua. A cirurgia consiste na genitoplastia feminizante. Hermafroditismo verdadeiro e laparotomia mostrando o útero, ovários e a presença confirmada de testículos. Pseudohermafroditismo masculino. Neste caso, o paciente tem cariótipo XY e testículos, uma pequena vagina abaixo do pênis. A correção deve ser feita por etapas: (1) retirada dos testículos; (2) terapia hormonal feminina (para desenvolvimento das mamas e de outros caracteres); (3) diminuição do pênis e reconstrução do clitóris; (4) dilatação da vagina.
  • 22. Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2 212 MED RESUMOS 2011 NETTO, Arlindo Ugulino. CIRURGIA PEDIÁTRICA DEFEITOS NA PAREDE ABDOMINAL E PATOLOGIAS CIRÚRGICAS DA REGIÃO UMBILICAL (Professor Wilberto Trigueiro) As patologias cirúrgicas da região umbilical estão estritamente relacionadas com defeitos na parede abdominal. A sobrevida de pacientes com defeitos da parede abdominal, até poucos anos atrás, era muito baixa. Porém, tem aumentado significativamente nas últimas décadas, com o advento do suporte nutricional, melhora da ventilação mecânica, cuidados em unidades de tratamento intensivo (UTI) neonatal, avanço da anestesia pediátrica e refinamento das técnicas cirúrgicas. O mais importante é que estas crianças se tornem adultos normais. Existem ainda algumas controvérsias em relação a uma origem embriológica única para os defeitos da parede abdominal. Algumas hipóteses sugerem que a gastrosquise e a onfalocele sejam entidades isoladas. De um modo geral, este capítulo tem objetivo de abordar as seguintes condições cirúrgicas:  Onfalocele  Gastrosquise  Persistência do ducto onfalomesentérico  Patologias do úraco  Hérnia da parede abdominal  Hérnia epigástrica ONFALOCELE É um defeito da parede abdominal, ao nível da região umbilical, caracterizado pela herniação das vísceras abdominais, que passam a ser recobertas por um saco fino e translúcido, que pode romper durante o parto, constituído de membrana amniótica e peritônio parietal, onde está inserido o cordão umbilical, o que a diferencia da gastrosquise. A onfafalocele pode ser definida, em outras palavras, como uma tumoração umbilical que pode conter alças intestinais e, geralmente, fígado. Internamente, é revestida por peritônio e, externamente, por membrana amniótica (ou correspondente). Sua incidência é de aproximadamente 1-3/5.000 nascidos vivos, sendo mais predominante no sexo masculino. Há associação frequente com outras malformações, de modo que em 60% dos casos, existem anomalias associadas. As mais comuns são: cromossômicas (48%), cardíacas (20%), geniturinárias (20%) e má- rotação intestinal. A síndrome de Beckwith-Wiedemann, constituída de macroglossia, gigantismo e onfalocele, pode determinar hipoglicemia no período neonatal. DIAGNÓSTICO O diagnóstico de onfalocele pode ser dado durante a vida fetal, através da ultrassonografia e, dependendo do tamanho da onfalocele, há indicação de parto operatório. Contudo, não há necessidade de antecipação do parto. CONDUTA INICIAL  Sonda gástrica;  Proteção da onfalocele com compressas esterilizadas;  Envolver o abdome e membros inferiores com saco plástico para aquecimento;  Hidratação e antibióticos;  Afastar obstrução intestinal associada, bem como outras anomalias que possam comprometer o tratamento;  Corrigir hipoglicemia se presente. TRATAMENTO CIRÚRGICO Nas pequenas onfaloceles, é sempre possível o fechamento primário. Nas onfaloceles grandes, íntegras ou rotas, poderá ser usado um silo (cilindro) de tela de silicone ou plástico (hemobag), o qual é ordenhado diariamente no sentido de forçar a entrada das vísceras no interior da cavidade peritonial, sendo retirado após 6 ou 7 dias, seguido do fechamento da parede abdominal, que deve ser sem tensão. Durante esse período, o RN deverá receber nutrição parenteral.
  • 23. Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2 213 GASTROSQUISE A gastrosquise consiste na saída de vísceras abdominais por um orifício geralmente localizado ao lado do umbigo (na maioria das vezes, do lado direito). De um modo geral, a gastrosquise diferencia-se da onfalocele por ser resultante de um defeito paraumbilical, geralmente à direita, com inserção normal do cordão umbilical, e não há proteção das alças intestinais por nenhuma membrana, que ficam expostas. Os órgãos mais comumente envolvidos são: intestino delgado, grosso e, por vezes, o estômago (há relatos de testículo no conteúdo exteriorizado). O contato com o líquido amniótico durante a vida fetal leva a uma peritonite química, tornando-as aderidas e edemaciadas, com bastante líquido no seu interior. Sua incidência chega a alcançar 1/4.000 nascidos vivos, acometendo cerca de 40% de neonatos pequenos para a idade gestacional (PIG) ou prematuros. Não há predominância entre os sexos, de modo que a incidência é praticamente igual para o sexo masculino e feminino. Acredita-se que o uso de drogas, gestantes jovens e o uso de alguns antiinflamatórios durante a gestação estão relacionados com o aumento da incidência. Ao contrário da onfalocele, as malformações são pouco frequentes. Quando presentes, as atresias intestinais e anomalias de rotação são as mais comuns. As principais complicações após o nascimento são: hipotermia, hipovolemia, isquemia intestinal, perfuração e sepse. OBS 1 : Diferenças básicas entre gastrosquise e onfalocele: DIAGNÓSTICO É uma emergência cirúrgica. O diagnóstico pré-natal por ultrassonografia é de muita importância no acompanhamento da patologia e no planejamento do parto, o qual, inicialmente, não deve ser antecipado. Esses pacientes devem nascer em hospital de referência, evitando-se, assim, o transporte do RN e possibilitando tratamento o mais precocemente possível. CONDUTA INICIAL  Sonda orogástrica  Aquecimento e proteção das alças  Antibióticos  Hidratação: 20 a 150 ml/Kg e 20 ml Kg- glicose 10% +Ringer  Nutrição parenteral total  Decúbito lateral  Hospital de referência em cirurgia de RN
  • 24. Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2 214 TRATAMENTO Pode ser possível, algumas horas após o nascimento, a imediata redução do conteúdo intestinal pela técnica de Bianchi, com anestesia geral. Nas gastrosquises em que há desproporção continente/conteúdo, realiza-se tratamento estadiado com silo, como o descrito para as grandes onfaloceles. Instituir nutrição parenteral total, com suporte calórico adequado, pois o íleo adinâmico por 2 a 3 semanas é comum na maioria dos RNs, ficando, portanto, impossibilitado de receber alimentação enteral. O prognóstico é bom. PERSISTˆNCIA DO DUCTO ONFALOMESENTƒRICO O ducto onfalomesentérico comunica o saco vitelino com o intestino médio primitivo, sofrendo reabsorção total até a 16ª semana de gestação. Sua não reabsorção torna-a uma brida entre o íleo terminal e o umbigo, e predispõe ao desenvolvimento de volvos. A persistência do ducto onfalomesentérico (ou vitelínico) é definida como uma anomalia do desenvolvimento embrionário que consiste na persistência do ducto vitelínico resultando numa comunicação, mais ou menos patente, entre o íleo terminal e a parede abdominal, através do umbigo, por onde pode ser exteriorizado material fecal. A depender de como se procedeu a reabsorção do ducto vitelínico, esta patologia pode apresentar-se como Divertículo de Meckel (se a persistência for parcial), Cisto onfalo-mesentérico (se a reabsorção isolou uma região intercalada por ligamentos) ou Fístula do ducto vitelino (se o ducto permanecer por inteiro). O divertículo de Meckel é, portanto, fruto de uma reabsorção parcial do ducto onfalomesentérico. É considerado a maior causa de hemorragia digestiva baixa em crianças (não tendo importância entre os adultos). Em outras palavras, podemos definir divertículo de Meckel como sendo uma anomalia congênita, que ocorre entre 1 a 3% da população, que acomete a região localizada entre 20 e 80 cm da junção ileocecal, sendo proveniente de uma persistência parcial do ducto onfalomesentérico. A hemorragia digestiva é provocada pela presença de mucosa gástrica ectópica, encontrada em cerca de 50% dos casos, que secreta ácido clorídrico e ulcera a mucosa no próprio divertículo. Além do sangramento, outras complicações são: perfuração do intestino onde se encontra o divertículo, peritonite, intussuscepção com a consequente obstrução. Se houver sangramento recomenda-se a cirurgia para extirpar o divertículo. Pode ser necessário fazer uma reposição de ferro para corrigir a anemia. Uma transfusão de sangue pode ser necessária nos casos de sangramento abundante. PERSISTˆNCIA DO ŠRACO O úraco é um tubo que liga a bexiga ao umbigo durante o desenvolvimento fetal e que normalmente se fecha e se transforma em um ligamento após o nascimento (ligamento umbilical mediano). Quando o úraco não se fecha após o nascimento, o tubo permanece aberto (patente), deixando uma abertura anormal (úraco persistente) entre a bexiga e o umbigo, e aumentando a possibilidade de introdução de bactérias e de infecção na bexiga. Portanto, diferentemente da persistência do ducto onfalomesentérico (condição em que material fecal é exteriorizado pelo defeito na parede abdominal), o material exteriorizado pelo umbigo na vigência de um úraco persistente é urina. O tratamento consiste na cirurgia para corrigir o defeito na bexiga. Sob efeito de anestesia geral, o úraco é removido e as aberturas são então corrigidas. A cirurgia está indicada quando não há resolução da persistência de modo espontâneo, após o nascimento.
  • 25. Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2 215 HƒRNIA UMBILICAL O umbigo representa uma falha na linha alba, coberta por peritônio em sua superfície interna e por pele em sua face externa. O anel umbilical é formado pela contração do mesoderma do músculo e fáscia em torno dos vasos umbilicais e do úraco. Uma fáscia transversa suporta a base do umbigo e, quando esta fáscia é fraca ou inexistente, resultará em uma hérnia umbilical direita. Na região umbilical, existem dois ligamentos: um deles, inferior e forte, é remanescente das artérias umbilicais e do úraco, e o outro, superior e fraco, remanescente da veia umbilical. Muitas hérnias umbilicais ocorrem na porção cefálica do anel umbilical. As teorias sobre a formação da hérnia umbilical incluem o desenvolvimento incompleto, a inserção imperfeita ou a fraqueza de todas estas estruturas do anel umbilical. A maioria das hérnias umbilicais na infância é de origem congênita, mas podem ser adquiridas. Em adultos, tais herniações surgem depois do fechamento do anel umbilical e são devidas ao relaxamento gradual do tecido cicatricial que fecha o anel. Os principais fatores predisponentes são:  Ascendência africana;  Síndrome de Down;  Trissomia do 18 e trossomia do 13;  Mucopolissacaridose;  Hipotireoidismo congênito;  A hérnia umbilical e a onfalocele fazem parte da síndrome de Beckwith-Wiedemann. DIAGNÓSTICO O diagnóstico é puramente clínico através do exame físico, sem a necessidade de exames complementares. É caracterizado pela observação direta de uma tumoração recoberta por pele (o que a difere da onfalocele) cujo volume pode variar, a depender da pressão intraabdominal (como no choro forte, por exemplo, a hérnia tende a aumentar). A maioria delas é indolor. Algumas hérnias umbilicais são reconhecidas nas primeiras semanas de vida, e quase todas são notadas por volta de 6 meses de idade. TRATAMENTO Se a hérnia umbilical é indolor, redutível e não estrangula, há uma tendência natural para regressão espontânea até os 2 anos de vida, sem qualquer indicação cirúrgica. Alguns autores relatam que 30% dos anéis herniários fecham no primeiro mês de vida e a maioria durante o primeiro ano. Acreditam também que praticamente todas as hérnias umbilicais desaparecerão espontaneamente em torno de 4 anos de idade. O diâmetro do defeito umbilical é o único fator que determina o fechamento do anel, independente da amplitude da protrusão: as hérnias com anel umbilical menor que 1 cm fecham espontaneamente mais cedo que as maiores de 1,5 cm. Diante disso, é necessário traquilizar os pais e orientá-los a não realizar tentativas de reduzir mecanicamente a hérnia, ou mesmo aplicar faixas ou fitas sobre a mesma. Contudo, a maior dificuldade do cirurgião pediátrico em relação à abordagem das hérnias umbilicais é convencer a família do paciente a adotar tal conduta expectante, que, na maioria dos casos, poderá evitar uma cirurgia na criança. A cirurgia para correção da hérnia está indicada caso haja persistência por mais de dois anos de idade. Alguns cirurgiões preferem indicar o reparo cirúrgico da hérnia umbilical apenas por volta dos 5 anos de idade. Encarceramento do omento ou intestino, estrangulamento, perfuração, evisceração e dor, embora sejam raros, são indicações absolutas de cirurgia. A técnica cirúrgica geralmente usada em crianças é a de Swenson. HƒRNIA EPIG•STRICA A hérnia epigástrica caracteriza-se por uma tumoração acima do umbigo (entre a região umbilical e o apêndice xifóide). Sua etiologia está relacionada com uma falha na linha alba por onde a gordura pré-peritoneal torna-se o conteúdo herniado. Seu diagnóstico é facilmente obtido pelo exame físico, sem necessidade de exames complementares. O tratamento é cirúrgico e consiste na correção do defeito congênito da linha alba e fechamento da aponeurose muscular, fortalecendo a região. A hérnia epigástrica, assim como a hérnia umbilical, apresenta baixo índice de recidiva.
  • 26. Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2 216 MED RESUMOS 2011 NETTO, Arlindo Ugulino. CIRURGIA PEDIÁTRICA ABDOME AGUDO DA CRIANÇA (Professor Wilberto Trigueiro) Por definiƒ‡o, o termo abdome agudo indica qualquer dist‚rbio n‡o-traum€tico espontŒneo s‚bito, cuja principal manifestaƒ‡o, que se faz na forma de dor, ocorre na €rea abdominal, e para a qual pode ser necess€ria uma operaƒ‡o urgente. Por esta raz‡o, quase sempre tem-se o termo abdome agudo cirúrgico. S‡o condiƒˆes relativamente frequentes e graves se n‡o diagnosticadas e tratadas precocemente. Algumas delas podem ser identificadas atrav•s da ultrassonografia fetal (atresias duodenal e jejunal). Para fins did€ticos, podem ser subdivididos em s„ndromes. A obstrutiva • a mais comum, mas a enterocolite necrosante (doenƒa dos sobreviventes) tem tido uma frequ†ncia crescente especialmente nas unidades de terapia intensiva que atendem RNs pr•-termo. Os principais tipos de abdome agudo est‡o listados logo abaixo. As principais causas s‡o as obstutivas, por•m causas inflamat…rias tamb•m s‡o importantes principalmente em escolares e adolecentes.  Inflamat…rio: enterocolite necrosante, apendicite aguda (ap…s os 5 anos);  Obstrutivo: atresias, megacolo;  Perfurativo: perfuraƒˆes espontŒneas, ECN;  Vascular: n‡o • t‡o frequente na crianƒa.  Hemorr€gico: traumas obst•tricos – f„gado, baƒo, supra-renal. OBS 1 : As causas mais comuns de abdome agudo na crianƒa, de acordo com a fase, est‡o resumidas na tabela a seguir: Recém-nascido Lactente Idade escolar  Obstrutivo: Atresia Intestinal, Megacolo, H•rnia inguinal.  Perfurativo: Enterocolite necrosante.  H•rnia inguinal estrangulada  Estenose pil…rica  Invaginaƒ‡o intestinal  Obstruƒ‡o por €scaris  Apendicite aguda  Trauma PRINCIPAIS COMPLICA„…ES DO ABDOME AGUDO  Dist‚rbio hidroeletrol„tico  Choque  Insufici†ncia renal aguda  Infecƒ‡o: em casos de septicemia  Distens‡o abdominal  Insufici†ncia respirat…ria  Aspiraƒ‡o Pulmonar  Catabolismo prot•ico  Peritonite: • uma condiƒ‡o grave, que • caracterizada por: Abdome doloroso, sinal de defesa de parede abdominal; Edema e hiperemia de parede abdominal em RN; Distens‡o abdominal; V•mitos biliosos; Febre, toxemia, sinais de s•psis em RN; Desidrataƒ‡o, palidez; Leucocitose; RX: n„veis hidroa•reos, pneumoperit•neo. MEDIDAS GERAIS  Hidrataƒ‡o Venosa  Radiografia de Abdome (deitado-ortost€tica)  Sonda G€strica  Antibioticoterapia  Hemograma – ionograma  USG  Nutriƒ‡o Parenteral QUADRO CL‰NICO GERAL  Dor abdominal  V•mitos (quase sempre biliosos)  Distens‡o abdominal (se houver sinais de peritonite)  Eliminaƒ‡o de sangue e muco pelo Œnus  Febre (principalmente quando h€ pus dentro da cavidade abdominal)  Desidrataƒ‡o  Peristaltismo de luta  Toxemia
  • 27. Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2 217 ANOMALIAS CONGˆNITAS ANORRETAIS As anomalias cong†nitas anorretais s‡o malformaƒˆes originadas da interrupƒ‡o ou anormalidade no desenvolvimento embriol…gico do Œnus, reto e trato urogenital. S‡o tamb•m chamadas de imperfuração anal ou ânus imperfurado. A sua incid†ncia varia de 1: 1.500 a 1:5.000 nascimentos. S‡o freq•entemente acompanhadas por outras malformaƒˆes: urogenitais, card„acas e sacrococc„geas. S‡o mais freq•entes no sexo masculino e n‡o t†m predileƒ‡o por raƒa. O achado de um Œnus imperfurado, no exame rotineiro do RN, exige uma definiƒ‡o do tipo de anomalia e da conduta a ser tomada dentro das primeiras 48 horas de vida, para definir o planejamento do tratamento cir‚rgico mais adequado para o caso. A distens‡o abdominal • acentuada, quando o diagn…stico • tardio, se n‡o existir f„stula para sa„da do mec•nio. Existem quatro tipos principais de anomalias cong†nitas anorretais: estenose anal, atresia anal, atresia anorretal e atresia retal. CONDUTA DIAGNÓSTICA  Inspeƒ‡o cuidadosa do per„neo pode evitar uma colostomia desnecess€ria;  Procurar uma eventual f„stula para o per„neo e rafe mediana da bolsa escrotal; nas meninas, a mais freq•ente • para a regi‡o do vest„bulo vaginal;  Se n‡o houver sinais de f„stula baixa, realizar, ap…s 24 horas (tempo para o ar ter chegado ao reto), raios X simples de abdome em posiƒ‡o ortost€tica e invertograma (raios X em perfil com a crianƒa de cabeƒa para baixo), com a impress‡o anal marcada com algum material radiopaco, a fim de avaliar a distŒncia do reto para o per„neo;  A presenƒa de ar na bexiga ou sa„da de mec•nio pela uretra masculina • indicativa de f„stula reto-urin€ria, estando indicada uma colostomia com bocas separadas.  DistŒncia de < 1 cm do reto ‰ pele, no invertograma, indica anomalia baixa e, portanto, uma anoplastia • suficiente.  As anomalias altas s‡o mais freq•entes nos meninos; as baixas, no sexo feminino. O exame f„sico do rec•m-nascido mostra aus†ncia do Œnus. Ap…s 24 horas do nascimento, surgem os sinais e sintomas que caracterizam uma obstruƒ‡o intestinal: v•mitos biliosos, distens‡o abdominal generalizada, aus†ncia de eliminaƒ‡o de mec•nio. TRATAMENTO Medidas pr•-operat…rias devem ser providenciadas, tais como: sonda g€strica; hidrataƒ‡o; investigaƒ‡o radiol…gica da coluna vertebral e invertograma se n‡o houver f„stula; antibi…ticos, dependendo do tipo de anomalia e da cirurgia a ser realizada. O tratamento depende do tipo de anomalia ano-retal. Podem ser necess€rias, inicialmente, uma colostomia e a cirurgia de Pe’a em torno dos 3 meses de idade. Se a anomalia • simples, apenas a anoplastia • suficiente. A confecƒ‡o do Œnus de bom calibre e continente • o principal objetivo da cirurgia e depender€ do tipo de anomalia (alta ou baixa), do grau de desenvolvimento da musculatura esfincteriana e da integridade da coluna sacra. Investigaƒ‡o do trato urin€rio • mandat…ria. De modo geral, os resultados s‡o bastante satisfat…rios. INVAGINA„‡O INTESTINAL Consiste na penetraƒ‡o telesc…pica de um segmento intestinal para dentro luz do segmento intestinal distal ao mesmo. Tamb•m • conhecido pelo termo intussepção intestinal. • mais comum no sexo masculino do que no feminino, numa proporƒ‡o de 3:2. Considera-se sua incid†ncia como sanzonal (mais comum no ver‡o, devido ‰s gastroenterites virais), acometendo 1,9 – 4/1000 crianƒas nos EUA. Encontra-se, com frequ†ncia, no primeiro ano de vida (60 a 65%) e principalmente entre o terceiro e o nono m†s de vida. At• dois anos de idade, a etiologia da invaginaƒ‡o intestinal • desconhecida na maioria dos casos (90%). Acima de dois anos, as invaginaƒˆes geralmente s‡o causadas por lesˆes intestinais, principalmente tumores e divert„culo de Meckel, p…lipo intestinal, cistos enter…genos, linfomas, p‚pura de Henoch-Schonlein, etc. No Brasil, a ascarid„ase • causa de invaginaƒ‡o intestinal. A invaginaƒ‡o intestinal no feto, com gangrena e destruiƒ‡o da porƒ‡o invaginada do intestino, tem sido apontada como causa de atresia intestinal.
  • 28. Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2 218 QUADRO CLÍNICO  Dor abdominal intermitente em c…lica (100%)  Instalaƒ‡o s‚bita  Lactente bem nutrido  Sangue e muco pelo Œnus (60 a 90%): fezes em framboesa (figura ao lado).  Massa palp€vel (85%)  V•mitos (80%)  Tardiamente sinais de obstruƒ‡o intestinal A manifestaƒ‡o cl„nica da invaginaƒ‡o intestinal • caracter„stica. Ocorre em crianƒas bem nutridas e at• aquele momento sadias. Inicia-se com dores agudas e esp€sticas, com excitabilidade psicomotora, acompanhada de v•mitos e acentuada palidez. De in„cio abrupto, cessam tamb•m abruptamente, com um per„odo de acalmia variado, ao qual se segue novo epis…dio doloroso, freq•entemente acompanhado de suores frios e lipot„mia. DIAGNÓSTICO Nas primeiras 24 horas, existe grande contratura dos m‚sculos abdominais, dificultando a palpaƒ‡o do tumor da invaginaƒ‡o, o que se consegue com mais facilidade nos per„odos de acalmia. A hemorragia retal ocorre em fase tardia da afecƒ‡o, significando prov€vel necrose de alƒa. O toque retal pode detectar presenƒa de secreƒ‡o muco-sanguinolenta na ampola retal e, em casos mais raros, o segmento intestinal invaginado. No lactente, toda dor abdominal tipo c…lica intensa, brusca e rebelde deve ser considerada invaginaƒ‡o intestinal at• se demonstrar o contr€rio. A palpaƒ‡o da massa tumoral da invaginaƒ‡o • elemento importante para o diagn…stico, assim como o sinal da fossa il„aca direita vazia (Sinal de Dance). O enema opaco • t„pico na maioria dos casos. Ele • importante como m•todo de diagn…stico e de tratamento. Em muitos casos, ele provoca a reduƒ‡o da invaginaƒ‡o intestinal. Ele deve ser feito com o paciente hospitalizado e com prud†ncia, pois pode provocar ruptura intestinal e peritonite. Havendo perfuraƒ‡o intestinal pelo enema opaco, realiza-se uma laparotomia o mais r€pido poss„vel. A USG tamb•m pode ser utilizada como parŒmetro diagn…stico, onde observamos o “sinal de alvo”. TRATAMENTO Pode ser tentada a reduƒ‡o hidrost€tica ou por enema baritado (suas contra-indicaƒˆes gerais est‡o resumidas na OBS2 ). Para lanƒar m‡o deste tratamento, a crianƒa deve ter condiƒˆes m„nimas, como: bom estado geral, sem febre, abdome fl€cido, com menos de 24 horas de quadro cl„nico e na faixa et€ria entre 3 e 24 meses de idade. Contudo, • prudente lanƒar m‡o do tratamento por via cir‚rgica, com reduƒ‡o manual ou ressecƒ‡o do segmento afetado (que eventualmente se encontra isquemiado), realizando laparotomia explorat…ria (no intuito de encontrar a causa da invaginaƒ‡o). O progn…stico • bom nos casos sem necrose de alƒa intestinal, e reservado quando h€ necrose. OBS2 : Contra-indicaƒˆes para reduƒ‡o hidrost€tica ou gasosa da invaginaƒ‡o intestinal:  Sinais de peritonite ou perfuraƒ‡o  Invaginaƒ‡o cr•nica  Estado geral comprometido  Sinais de obstruƒ‡o intestinal com v•mito bilioso  Maior de 2 anos de idade e < 3 meses  Tempo de evoluƒ‡o > 24 horas ESTENOSE HIPERTR‚FICA DE PILORO A estenose hipertr…fica de piloro consiste em um aumento da musculatura do piloro (especialmente da camada circular), causando obstruƒ‡o na sa„da g€strica na forma de uma barreira f„sica para o esvaziamento g€strico. Sua etiologia • multifatorial e pouco esclarecida. Esta condiƒ‡o • facilmente identificada naquelas crianƒas que, depois de um tempo alimentando-se regularmente e satisfatoriamente, passam a vomitar qualquer conte‚do mamado. Devido a obstruƒ‡o, o v•mito n‡o • bilioso. QUADRO CLÍNICO  V•mitos alimentares n‡o-biliosos (98%)  Ondas perist€lticas (64,2%)  Perda de peso (88,2%)  Desidrataƒ‡o (56,1%)  Constipaƒ‡o (32,6%)  Icter„cia (3,6%)  Oliva pil…rica palp€vel (94,8%)
  • 29. Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2 219 DIAGNÓSTICO À inspeção do abdômen, nota-se quase sempre peristaltismo de luta, ao nível do epigástrio. Em 95% dos pacientes, na borda lateral do músculo reto anterior do abdômen direito, um pouco acima do umbigo, apalpa-se o piloro hipertrofiado (oliva pilórica). O diagnóstico já pode ser afirmado quando associamos a história clínica da criança juntamente à palpação da oliva pilórica. Para se conseguir apalpar a oliva pilórica, a criança deve estar com estômago vazio, quieta e com o abdômen relaxado. Assim, deve-se fazer a palpação logo após a criança ter vomitado, ou após o esvaziamento do estômago com sonda nasogástrica. Portanto, a sintomatologia clínica e a palpação da oliva pilórica firmam o diagnóstico desta afecção. Indica-se o estudo radiológico o ultrassonográfico do estômago apenas nos pacientes em que não se consegue palpar a oliva pilórica. A característica radiológica mais importante, e que é peculiar à estenose hipertrófica do piloro, é a imagem do canal pilórico estreitado e alongado, o denominado "sinal do cordão". Atualmente, tem-se substituído o exame radiológico do estômago pela ultra-sonografia, que demonstra um piloro aumentado de volume devido à hipertrofia e hiperplasia de sua musculatura. Também a endoscopia gástrica tem sido utilizada no diagnóstico desta afecção, mostrando o canal pilórico com diâmetro muito diminuído, não sendo possível a sua transposição com o aparelho de endoscopia. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL  Refluxo gastroesofágico;  Erro alimentar;  Aumento da pressão intracraniana;  Diafragma pré-pilórico. TRATAMENTO O tratamento cirúrgico é simples e eletivo (após a correção do distúrbio hidroeletrolítico), bem como a recuperação pós-operatória é branda. Em 1908, Fredet apresentou sua conduta: piloromiotomia extramucosa e sutura transversal da muscular do piloro. Em 1911, Ramstedt usou piloromiotomia extramucosa, sem realizar a sutura transversal do piloro. Assim, ficou definida e estabelecida a técnica cirúrgica usada no tratamento da estenose hipertrófica do piloro, e que se mantém até os nossos dias, com ótimos resultados. A cirurgia baseia-se na incisão transversal da serosa do piloro e dissecação de seus planos musculares até evidenciar a mucosa (a qual se hérnia pela incisão e não deve ser aberta). O pós-operatório consiste na realimentação progressiva, após 8 horas, decorrente da piloromiotomia. APENDICITE AGUDA NA CRIAN„A Está associada no recém-nascido com sinais e sintomas inespecíficos, consistindo em febre, distensão abdominal e constipação ou diarréia. Em alguns casos, palpa-se massa na fossa ilíaca direita. É uma situação bem mais frequente em crianças maiores de 2 anos e durante a idade escolar. QUADRO CLÍNICO  Pode ser variável, com sintomas inespecíficos: toxemia (desidratação), distensão abdominal, temperatura elevada, dor abdominal difusa, etc.;  Pode ser clássico:  Dor difusa ou em fossa ilíaca direita;  Anorexia;  Febre;  Náuseas e vômitos.  Diarréia (pode indicar apendicite perfurada) DIAGNÓSTICO O diagnóstico de apendicite aguda é clínico, embora haja dificuldades quanto a coleta da anamnese e da realização da própria palpação. O diagnóstico é mais dificultoso ainda em crianças menores que 4 anos, pacientes com retardo mental ou em quadros atípicos. O leucograma com leucocitose pode confirmar a suspeita (embora seja um exame inespecífico).
  • 30. Arlindo Ugulino Netto – CIRURGIA PEDI•TRICA – MEDICINA P7 – 2010.2 220 O estudo radiol…gico do abd•men • pouco importante e pouco usado no diagn…stico da apendicite aguda; entretanto, no diagn…stico da apendicite do rec•m-nascido e da crianƒa com menos de dois anos, a ultrassonografia do abdome • ‚til. Como a apendicite aguda apresenta-se sempre com peritonite, s‡o importantes os sinais que a radiografia simples do abd•men fornece: escoliose da coluna dorso-lombar ‰ direita, provocada por contratura da musculatura abdominal; apagamento da imagem do m‚sculo psoas direito; espessamento da parede abdominal na fossa il„aca direita, por edema dos tecidos moles; evid†ncia de l„quido livre na cavidade peritoneal, e diminuiƒ‡o dos gases intestinais na fossa il„aca direita. DIAGN‡STICO DIFERENCIAL  Gastroenterite  Infecƒ‡o do trato urin€rio  Doenƒa p•lvica  Linfadenite mesent•rica  Lit„ase ureteral  Patologia anexial  Pneumonia TRATAMENTO  Cir‚rgico: apendicectomia precoce  Antibioticoterapia pr• operat…ria  Reposiƒ‡o hidro – eletrol„tica  Minimizar contaminaƒao peritonial  Lavagem peritonial na peritonite  Evitar drenos  Fechamento prim€rio da parede abdominal OBSTRU„‡O INTESTINAL NO RN A obstruƒ‡o intestinal na crianƒa caracteriza o abdome agudo obstrutivo. Seu diagn…stico • facilmente obtido atrav•s do exame cl„nico e confirmado por exames de imagem. O diagn…stico fetal pode ser dado, inclusive, durante a vida fetal, quando se observa polidramnia e dupla bolha g€strica pela ultrassonografia. Al•m destes, os principais crit•rios diagn…sticos de obstruƒ‡o intestinal s‡o:  >20 ml de secreƒ‡o g€strica biliosa ou n‡o  V•mitos biliosos  Distens‡o abdominal  Aus†ncia de eliminaƒ‡o de mec•nio  Peristaltismo de luta CAUSAS MAIS FREQUENTES  Obstruƒ‡o duodenal (atresia, estenose, pŒncreas anular, m€-rotaƒ‡o);  Atresias jejunal, ileal e col•nica (esta rara);  Megacolo cong†nito;  Volvo de intestino m•dio (doenƒa grave por risco de necrose de todo o delgado);  “leo meconial;  Rolha meconial;  Atresia anorretal. SINAIS E SINTOMAS  V•mito geralmente bilioso – • tanto mais precoce quanto mais alta for a obstruƒ‡o;  Distens‡o abdominal – • maior quanto mais baixa for a obstruƒ‡o, sendo quase impercept„vel nas de localizaƒ‡o alta (duodeno), especialmente se o RN estiver com sonda g€strica). A diminuiƒ‡o da distens‡o, ap…s a evacuaƒ‡o, e o seu retorno posterior acompanhado de constipaƒ‡o fazem pensar em megacolo;  Aus†ncia ou retardo de eliminaƒ‡o de mec•nio – lembrar que 95% dos RN normais eliminam nas primeiras 24 horas de vida, sendo que os prematuros, especialmente os que tiveram hip…xia, o fazem mais tardiamente. A eliminaƒ‡o de mec•nio com aspecto normal pode estar presente nos quadros de atresia intestinal, mas comumente tem coloraƒ‡o clara;  No megacolo cong†nito, ao est„mulo retal, geralmente h€ eliminaƒ‡o explosiva de g€s e mec•nio. A rolha meconial pode ser o primeiro sinal da doenƒa de Hirschsprung;  Enterorragia – se acompanhada de queda do estado geral e palidez, sugere volvo intestinal em torno da art•ria mesent•rica superior, por anomalia de rotaƒ‡o intestinal e representa um quadro emergencial.  Peristaltismo vis„vel de luta – presente quando a alƒa est€ vi€vel e n‡o h€ peritonite;  PolidrŒmnio materno – pode estar presente especialmente nas obstruƒˆes altas. A ultrassonografia obst•trica ainda pode sugerir o diagn…stico de obstruƒ‡o duodenal pela visualizaƒ‡o da imagem da dupla bolha;