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Desenho de Banksy grafitado na parede de um prédio desocupado no
bairro de Mayfair, em Londres, Inglaterra, em dezembro de 2011.
CAPÍTULO 8 - Classe e Estratificação Social
Neste capítulo veremos como Durkheim, Weber e Marx
qualificaram a divisão social em geral e, particularmente, no
capitalismo. Trataremos também da divisão social no mundo
de hoje, diante das questões sociais, políticas e econômicas
presentes nas sociedades contemporâneas. Trabalharemos os
itens da seguinte forma:
1 - A divisão da sociedade em Durkheim: grupos profissionais
ou funcionais;
2 - A estratificação social em Weber: classe, estamento e
partido;
3 - As classes sociais em Marx: contradição e dialética;
4 - As classes e os estratos sociais no século XX;
5 - A dinâmica das classes médias: ocupação profissional e
renda.
1. A DIVISÃO DA SOCIEDADE EM DURKHEIM: GRUPOS PROFISSIONAIS OU
FUNCIONAIS
Uma das teorias mais usadas nos meios de comunicação para definir as diferentes
classes sociais é a análise estatística da divisão em estratos sociais baseada na
renda. Define-se a classe social levando em conta apenas a renda mensal. Então
temos as divisões em classes A, B, C, D e E.
Durkeim foi um dos primeiros pensadores a delimitar o campo das análises
sociológicas. Para especificar esse campo ele desenvolveu os conceitos de:
 FATO SOCIAL: as formas de pensar, sentir e agir que exercem uma força externa
(uma coerção) sobre os indivíduos. Para ele, só seria considerado fato social o
fenômeno que apresentasse as seguintes características:
1. Generalidade: está presente e é reconhecível em toda uma sociedade ou
grupo social;
2. Exterioridade ou externalidade: é exterior às consciências sociais, isto é, existe
independentemente da vontade e dos anseios do indivíduo;
3. Coercitividade ou força coercitiva: é externa aos indivíduos, moldando as
vontades individuais ao coletivo.
 DIVISÃO DO TRABALHO: é o elemento social que impulsiona o
desenvolvimento das sociedades, criando laços e solidariedades entre os
indivíduos.
SOLIDARIEDADE MECÂNICA: Durkheim acredita que as normas e padrões
sociais determinam as condutas individuais. Ou seja, esse conjunto de
relações sociais é o que confere a cada sociedade o seu caráter único,
específico. Para Durkheim, as primeiras sociedades foram marcadas pela
solidariedade mecânica que era marcada pela semelhança e possui baixo nível
de divisão do trabalho. Quando esta forma de solidariedade domina uma
sociedade, os indivíduos diferem pouco uns dos outros. Membros de uma
mesma coletividade, eles se assemelham porque tem os mesmos
sentimentos, os mesmos valores, reconhecem os mesmos objetos como
sagrados. A sociedade tem coerência porque os indivíduos ainda não se
diferenciam.
SOLIDARIEDADE ORGÂNICA: Com o desenvolvimento da divisão do trabalho,
surgiu a forma oposta de solidariedade, a orgânica. É aquela em que o
consenso (a unidade coerente da coletividade) resulta de uma diferenciação,
ou se exprime por seu intermédio. Os indivíduos não se assemelham, são
diferentes. A consciência coletiva como elemento moral de agregação e
integração dos indivíduos se torna mais fraca diante da desigualdade e da
diferenciação de funções profissionais especializadas. A interdependência
funcional entre os indivíduos marca a solidariedade orgânica.
A imagem representa uma sociedade com baixo
nível de divisão de trabalho, caracterizada por
indivíduos parecidos entre si, unidos por forte
consciência coletiva e solidariedade mecânica.
Representação de sociedade de indivíduos com
alta divisão do trabalho e solidariedade orgânica.
CONCLUSÃO
Os grupos funcionais ou profissionais são para Durkheim parte central da
divisão social. As classes sociais são pensadas com base nessa
fundamentação funcional. Capitalistas e trabalhadores se diferenciam na
medida em que cumprem funções sociais diferentes e contribuem para o
desenvolvimento da divisão do trabalho. A divisão social tem relação com a
forma predominante de sociabilidade ou solidariedade e tem seu centro nos
grupos profissionais e nas organizações a eles relacionadas.
Durkheim considera a formação profissional e a especialização como meios
positivos de sociabilidade. As corporações profissionais (à semelhança dos
sindicatos) têm a função de aproximar o ser individual ao ser social a partir
do estabelecimento de uma moral coletiva. Às corporações profissionais
cabe regular a relação entre capitalistas e trabalhadores e também entre os
trabalhadores entre si, com o objetivo de afastar desse processo elementos
que possam impedir o desenvolvimento adequado da divisão do trabalho.
Segundo Durkheim, o processo natural de desenvolvimento da divisão do
trabalho seria substituído pela regulamentação das corporações
profissionais. O trabalhador aparece nesse processo como mero executante
de algo planejado em outras instâncias e que lhe é, portanto, exterior.
2 - A ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL EM WEBER: CLASSE, ESTAMENTO E PARTIDO
Para Weber, a vida em sociedade é
caracterizada por situações assimétricas
que estabelecem certos tipos de conflito
social. As relações sociais contêm
quantidades distintas de prestígio social,
econômico e político que são distribuídas
pela sociedade. Assim, as relações de
desigualdade são sempre relações de
poder. As ordens política, social e
econômica são distintas, mas não
completamente independentes umas das
outras. Entretanto, cada uma delas exige
um aparelho conceitual específico para
ser analisada. É no indivíduo e em sua
ação que se realiza a fusão dessas ordens.
Segundo Weber, cada esfera da atividade
social se constitui por relações de poder
distintas, que podem ou não ser
vinculadas entre si. Por isso, Weber
estabelece conceitos diferentes para se
referir a cada uma dessas situações.
A teoria da estratificação social criada por Weber para analisar a sociedade tem
como fundamento três conceitos centrais:
 o de classe (e dentro dele o de situação de classe);
 o de status (ou estamento) ;
 o de partido.
Esses conceitos são tipos ideais de diferenciação social. Cada um deles delimita
um determinado tipo de pertencimento (ou não) a estratos sociais diferentes.
Mas como são tipos ideais, servem apenas de ferramenta de aproximação, nunca
representam a própria realidade social. Assim, é possível observar grupos,
estratos e instituições sociais que têm características de tipos ideais diferentes,
ainda que um deles seja predominante.
Para Weber, a posse de propriedade é a característica central para determinar
uma situação de classe. Apesar de estabelecer que há diferentes tipos de
propriedade, de bens e de rendimentos, o que acarreta estratificações sociais
dentro de uma classe, Weber entende que a classe social se fundamenta por
uma situação de mercado, isto é, tem base predominantemente econômica. A
definição de classe está condicionada, então, à situação de mercado, ou seja, à
condição econômica ou padrão material de existência dos indivíduos. Classe
refere-se, a qualquer grupo de pessoas que se encontram em uma mesma
situação econômica.
A estratificação por status tem relação com o prestígio, a
posição social, o estilo de vida, a instrução formal. Ela se
distingue da estratificação por classe, pois a posse de
propriedade nem sempre é suficiente para garantir uma
posição social de prestígio. Em contraste com as classes, os
grupos de status em geral constituem comunidades e
situações determinadas pela estimativa social, positiva ou
negativa.
Weber nota que a propriedade econômica nem sempre está
relacionada ao status. No entanto, a longo prazo, a situação
de classe pode também ser um atributo da situação de
status. Ou seja, quase sempre o proprietário tende a ser o
chefe. Mas isso não é necessariamente verdade, pois existem
pessoas com e sem propriedades que se encontram no
mesmo grupo de status.
O PARTIDO é uma forma de estratificação na qual a distribuição de poder se dá
pela capacidade de controle de uma organização. Se o lugar das classes sociais
é a ordem econômica, e o lugar dos grupos de status é a ordem social (na
esfera de distribuição de renda), o lugar do partido é a ordem política. A
característica central do partido é o poder, e a orientação da ação social do
partido é a aquisição de poder. Podem existir partidos em um clube, em um
grêmio estudantil, no governo e no Estado, e todos esses partidos se
movimentam em torno de fatores típicos, como as ações comunais, as
diferenças de classe e as diferenças de status.
O partido pode incorporar interesses de ordens distintas. Pode também
representar situações de classe ou grupos de status, pode recrutar adeptos de
um ou outro grupo e pode também não ser “puro”, no sentido em que recruta
indivíduos apenas com base na situação econômica de classe ou pelo status.
Assim, os partidos podem representar estruturas efêmeras ou duradouras e se
utilizar de mecanismos variados para alcançar o poder, tais como a violência, o
voto, o dinheiro, a influência social e o poder da oratória. É possível distinguir
sociologicamente os partidos pelo tipo de ação, e esse caráter comum pode
ser estratificado pela classe ou pelo status, isto é, pela situação do indivíduo no
mercado ou por seu prestígio social.
3 - AS CLASSES SOCIAIS EM MARX: CONTRADIÇÃO E DIALÉTICA
Como vimos, Karl Marx parte da relação entre proprietários e não proprietários dos
meios de produção para caracterizar a formação das classes sociais e da sociedade
capitalista. Para ele, essa divisão social é a primeira forma de divisão do trabalho: a
divisão entre aqueles que produzem (os trabalhadores) e aqueles que se apropriam
privadamente da produção (os proprietários).
Segundo Marx, a dinâmica social capitalista está centrada na propriedade privada. Com
base nela se constituem as classes sociais e todas as relações de troca. De um lado,
estão aqueles que precisam vender sua força de trabalho, pois não têm as condições
materiais para produzir sua subsistência. De outro, aqueles que compram a força de
trabalho, na medida em que se apropriaram dos meios de produção, convertendo-os em
sua propriedade privada.
Para estruturar esse raciocínio, Marx pressupõe que a realidade das sociedades
divididas em classes é contraditória e que, para analisar essa realidade contraditória, é
necessário um método dialético. A divisão entre exploradores e explorados nos vários
modos de produção necessita, portanto, de uma explicação dialética. Em outras
palavras, para entender a relação de exploração e dominação dos escravizados nas
sociedades escravistas, a dominação dos servos nas sociedades feudais e a exploração
dos trabalhadores assalariados nas sociedades capitalistas é necessário ir além das
aparências da realidade observada.
Para Marx, a dialética é um instrumento analítico que permite desvelar as camadas
sociais que não se mostram a olho nu. Por meio da dialética é possível ir além das
aparências e descobrir as causas mais profundas de como a vida em sociedade se
reproduz historicamente. E, assim, explicar a realidade contraditória entre aqueles
que detêm e aqueles que não detêm os meios de produção.
A realidade social é por vezes muito complexa. Nela há interesses muito variados nos
grupos e classes sociais de nossa sociedade. No entanto, é possível perceber certa
aproximação entre alguns tipos de interesse social. O capitalista dono do banco,
apesar de fazer parte da burguesia e ter interesses específicos, não está do lado
oposto do capitalista dono da indústria: ambos querem obter lucros e continuar
usando a força de trabalho para isso. A mesma coisa pode ser vista entre os
trabalhadores. Os operários das indústrias automobilísticas têm interesses diferentes
dos bancários, mas ambos querem melhorar suas condições de vida e de trabalho.
Tente pensar em outros exemplos de interesses sociais que possam ser identificados
com os da classe capitalista, de um lado, e com os da classe trabalhadora, de outro.
Karl Marx mostra a diferença entre o trabalho e a força de trabalho. Mesmo sem falar
em dialética, vimos que há uma realidade aparente e outra realidade mais profunda,
que explica como se forma o lucro capitalista. Também que, aparentemente, o
capitalista e o trabalhador se encontram no mercado como indivíduos iguais. As leis e
regras de mercado afirmam esse princípio, isto é, quando trocamos coisas no
mercado somos todos iguais perante a lei.
No entanto, a sociedade se organiza com base nos interesses das classes
dominantes, ou seja, as leis, regras e normas sociais são construídas para
reproduzir as classes dominantes como tal. Assim, apesar de a relação de
igualdade jurídica não ser uma mentira, ela é contraditória, pois pressupõe que o
indivíduo que compra e o indivíduo que vende a força de trabalho são
absolutamente iguais, quando, na prática, eles são economicamente diferentes.
Voltando à dialética: ao mostrar a diferença entre o trabalho e a força de trabalho,
Marx faz uma análise dialética, buscando entender o que há por trás dessa
aparência de igualdade. Ora, como essa relação poderia ser igual se existem
diferenças sociais evidentes entre os trabalhadores e os capitalistas? A dialética
permite entender o que está oculto pelas relações de produção capitalistas, pois
nessas relações só se manifestam os interesses da classe dominante, que impôs
esse modo de vida.
Segundo o pensamento de Marx, as classes sociais vão além de um estrato social
determinado apenas pela economia, como define Weber. Não se trata, assim, de
agrupamentos de indivíduos que têm rendas ou salários semelhantes. Para Marx,
as classes sociais são definidas por suas lutas, mais particularmente pela luta de
classes, que expressa a oposição estrutural entre o capital e o trabalho. Em outras
palavras, a luta de classes constitui o próprio elemento dinâmico das sociedades.
A luta entre capitalistas e trabalhadores que se trava todos os dias por
melhores salários, melhores condições de trabalho e de vida, refere-se, de
um lado, à expansão de políticas sociais que protegem os trabalhadores,
na regulamentação da reforma agrária, na construção de vias de acesso a
bairros populares, na construção de redes de esgoto e escolas populares.
De outro, está relacionada com a aprovação de leis que estimulam os
condomínios fechados, com a segregação social, com a política de juros
altos, com incentivos fiscais às empresas multinacionais. Para Marx, os
interesses opostos são os elementos de transformação histórica e social.
As classes sociais e suas lutas são referências centrais na obra de Marx.
Com base nelas, ele analisa a sociedade capitalista e qualifica as relações
de exploração e dominação para além de uma leitura econômica, baseada
apenas na determinação dada pela renda. Classe social é um conceito
concebido como um conjunto de relações que implicam elementos
culturais, simbólicos, econômicos, políticos e ideológicos. Para Marx, as
classes sociais não são meros aglomerados de indivíduos, mas, sobretudo,
forças sociais e políticas que lutam por seus interesses.
Em novembro de 2012, trabalhadores do sistema de saúde pública protestam em
Madri, capital da Espanha, durante o segundo dia de greve geral contra a
privatização de parte do sistema nacional de saúde pública. Pela primeira vez,
todos os sindicatos convocaram os trabalhadores de saúde da região de Madri
para uma greve de 48 horas.
4 - AS CLASSES E OS ESTRATOS SOCIAIS NO SÉCULO XX
O século XX foi influenciado por duas grandes abordagens sociológicas das
segmentações sociais. A primeira foi a teoria das classes sociais de Marx; a segunda foi a
teoria da estratificação social de Weber. Essas duas teorias têm fundamentações e
leituras distintas dos grupos, classes, frações e segmentos sociais.
Para Weber, a concepção de classe social é fundamentalmente relacionada ao mercado,
isto é, pertencer ou não a determinada classe social depende de critérios econômicos,
ainda que outros fatores sejam também relevantes. A concepção de status ou
estamento está ancorada centralmente no prestígio social, e a concepção de partido
está ancorada no poder.
Karl Marx concebe sua análise na estruturação de sociedades divididas em classes
sociais e, dentro dessas classes, em frações sociais. Para ele, o conceito de classe social
está relacionado com a produção da vida material e com a luta que é travada no
processo de produção e reprodução social.
Vimos em capítulos anteriores que a transformação científica e tecnológica é
fundamental para as sociedades capitalistas, sobretudo, por reduzir o tempo de
produção de mercadorias e, com isso, aumentar a produtividade do trabalho. Essa
redução do tempo de trabalho acaba por desvalorizar a força de trabalho e aumentar os
lucros dos capitalistas. Assim, a ciência e a tecnologia são introduzidas para que se
atinjam esses objetivos na produção. Em determinados momentos, ocorrem
transformações mais intensas, denominadas reestruturações produtivas.
Do ponto de vista do aumento da produtividade, incrementar a produção de
mercadorias com novas pesquisas e aparatos tecnológicos é essencial para a
manutenção da produção e, em geral, do próprio capitalismo. Mas e do ponto de vista
da luta política? Para a classe trabalhadora, qual é a relação entre desenvolvimento
científico e tecnológico e formação do sujeito político?
Como vimos, toda reestruturação produtiva cria novos grupos de trabalhadores. Por
exemplo, o modelo de produção toyotista, ao introduzir novas tecnologias
(microeletrônica e robótica) faz aumentar a produtividade, mas as empresas
capitalistas dispensaram parte dos trabalhadores quando as novas máquinas passaram
a fazer seu trabalho. Os autores desse raciocínio consideraram muito positiva a
introdução do desenvolvimento científico e tecnológico na produção. Entretanto, essa
análise desconsiderou que essas mesmas forças produtivas são mecanismos cujo
objetivo central é aperfeiçoar o controle sobre os trabalhadores. Esse equívoco
provocou, por exemplo, a idealização de trabalhadores ultraqualificados, que
passaram a ser vistos como operários polivalentes que, assim, teriam maiores chances
de organizar politicamente a classe trabalhadora.
No caso descrito, a classe trabalhadora foi analisada a partir da pressuposição da
neutralidade do incremento científico e tecnológico. Entretanto, vimos anteriormente
que a máquina, a ciência e as tecnologias são resultados históricos, ou seja, sínteses
das determinações sociais que, no capitalismo, operam principalmente para
reproduzir as relações sociais dominantes.
Esta charge do cartunista Bruno, publicada em 2001, comenta a redução da
jornada de trabalho.
5 - A DINÂMICA DAS CLASSES MÉDIAS: OCUPAÇÃO PROFISSIONAL E RENDA
O debate sobre a classe média também sofreu a influência das teses de Marx e
Weber, tanto nos círculos acadêmicos dos Estados Unidos e da Europa como no
Brasil. Entre aqueles que compartilham a concepção marxista de classe social, as
classes médias são vistas como um conjunto de relações sociais que se situam entre
as relações da classe capitalista e as da classe trabalhadora. Essa leitura procura
entender, com base no desenvolvimento dos textos de Marx, como certas camadas
sociais — que não podem ser definidas nem como capitalistas (pois não têm os
meios de produção) nem como operárias (pois não desenvolvem nenhum tipo de
trabalho produtivo) — podem ser definidas em termos de classe social.
Em termos gerais, as camadas médias se situam entre as duas grandes classes sociais
(capitalistas e trabalhadores). Para Marx, no século XIX as camadas médias
representavam um número relativamente pequeno da população da Europa. Entre
elas podemos destacar: pequenos proprietários e comerciantes, servidores públicos
e profissionais liberais. Ele chamava esse conjunto de indivíduos de pequena
burguesia.
Com o desenvolvimento do setor de serviços durante o século XX, a pequena
burguesia se avolumou, e com isso os autores marxistas e weberianos passaram a
definir novos conceitos para incorporar esse contingente de indivíduos. Dois
sociólogos que sintetizam esse debate são o norte-americano C. Wright Mills (1916 -
1962) e o grego Nicos Poulantzas.
Esta charge do cartunista Glauco ironiza a suposta passagem para a classe
média.
C. Wright Mills, observou um aumento entre os trabalhadores de colarinho-branco,
(trabalhadores públicos e privados do setor administrativo e gerencial). Os
trabalhadores desse setor não podem ser identificados como os típicos da
indústria ou operários. Para ele, a classe média, mesmo existindo em função das
outras classes (capitalistas e trabalhadores), devia ser considerada um sintoma e
um símbolo das sociedades contemporâneas. Eles se diferenciam dos da antiga
classe média quanto à qualificação profissional. São gerentes e administradores
requisitados sobretudo pelo desenvolvimento tecnológico ocorrido em meados do
século XX.
Para Mills, essa nova classe média tem como característica central a gerência e a
supervisão. São indivíduos que têm como função específica gerenciar a produção e
aumentar os lucros dos donos da propriedade privada. Segundo Mills, enquanto o
número de trabalhadores necessários à extração e à produção diminuiu, o de
prestadores de serviços, distribuição e coordenação aumentou. E esse crescimento
se deve ao aumento da produtividade da manufatura industrial, ao
desenvolvimento da distribuição e à ampliação das funções de coordenação. Pode-
se dizer que os colarinhos--brancos não são uma camada homogênea. Embora se
diferenciem dos operários e da antiga classe média do ponto de vista da
propriedade, em relação à renda sua situação econômica pode ser considerada
superior, se comparada à dos operários da indústria.
Para o sociólogo grego Nicos Poulantzas, as classes sociais não são definidas
com base nas ações individuais nem, tampouco, em estratos sociais.
Segundo ele, as classes sociais se definem por sua posição no conjunto da
divisão social do trabalho. Tentando romper com uma tradição que definiu
as classes sociais apenas pelas determinações econômicas, Poulantzas
procurou pensá-las levando em conta também as instâncias do político e
do ideológico. Ele mostra a necessidade de apreender a totalidade das
estruturas de uma sociedade para definir as classes sociais, que para ele
são fruto do efeito conjunto das estruturas políticas, econômicas e
ideológicas, e não apenas da estrutura econômica.
Quanto à discussão das classes médias, Poulantzas incorpora à sua teoria a
análise dos trabalhadores não produtivos como específicos da nova
pequena burguesia. Segundo ele, a diferenciação entre trabalho produtivo
e improdutivo é central, ainda que não suficiente, para definir essa nova
classe social. A nova pequena burguesia se diferencia da pequena
burguesia tradicional, pois expressa uma nova divisão do trabalho, marcada
pelas práticas de direção e supervisão no interior dos processos de
trabalho.
No Brasil do início do século XXI, foi intenso o debate sobre a classe média. Alguns autores
veem nas políticas de assistência social e de redistribuição de renda uma forma de inclusão
estrutural, isto é, que os indivíduos beneficiados por tais políticas eventualmente passarão a
compor uma nova classe social, chamada de classe C, ou nova classe média. Essa nova
classe seria composta por indivíduos que tiveram seu poder de consumo aumentado,
podendo usufruir de mercadorias, bens de consumo e serviços que antes não lhes eram
acessíveis.
Para os críticos dessa leitura, a nova classe média seria, na verdade, um grupo flutuante que
tem a impressão de ter sido incluído, mas não tem garantias de que essa política terá longa
duração e, no caso de seu fim, não teria meios de se manter como uma classe de fato.
Seriam, portanto, estratos sociais que apenas teriam condições de ascender à condição de
classe se fossem constituídas políticas de inclusão baseadas na educação, o que poderia
garantir a permanência e a estabilidade desses indivíduos no mercado de trabalho.
Nessas duas perspectivas, a definição de classe utilizada para discutir uma suposta nova
classe média no Brasil está ancorada numa concepção weberiana, que leva em conta,
basicamente, a renda dos indivíduos.
Para autores que rejeitam essa perspectiva, a nova classe C no Brasil é, na realidade, uma
parte da classe trabalhadora antes desempregada, que conseguiu entrar no mercado de
trabalho. A classe trabalhadora, assim, comportaria um conjunto de trabalhadores
assalariados que vendem sua força de trabalho na medida em que não têm condições de
produzir sem máquinas e ferramentas. Ou seja, os trabalhadores não têm como existir e
sobreviver sem vender sua força de trabalho.
Em 2010, a chamada classe C foi responsável por injetar R$ 881,2 bilhões no mercado
de consumo do Brasil. Na foto, movimento em supermercado popular na cidade de
Toledo, no Paraná, repleto de consumidores atraídos por descontos e promoções.
FIM
Bibliografia:
Sociologia Hoje
Henrique Amorim
Celso Rocha de Barros
Igor José de Renó Machado

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Capítulo 8 - Classe e Estratificação Social

  • 1. Desenho de Banksy grafitado na parede de um prédio desocupado no bairro de Mayfair, em Londres, Inglaterra, em dezembro de 2011. CAPÍTULO 8 - Classe e Estratificação Social
  • 2. Neste capítulo veremos como Durkheim, Weber e Marx qualificaram a divisão social em geral e, particularmente, no capitalismo. Trataremos também da divisão social no mundo de hoje, diante das questões sociais, políticas e econômicas presentes nas sociedades contemporâneas. Trabalharemos os itens da seguinte forma: 1 - A divisão da sociedade em Durkheim: grupos profissionais ou funcionais; 2 - A estratificação social em Weber: classe, estamento e partido; 3 - As classes sociais em Marx: contradição e dialética; 4 - As classes e os estratos sociais no século XX; 5 - A dinâmica das classes médias: ocupação profissional e renda.
  • 3. 1. A DIVISÃO DA SOCIEDADE EM DURKHEIM: GRUPOS PROFISSIONAIS OU FUNCIONAIS Uma das teorias mais usadas nos meios de comunicação para definir as diferentes classes sociais é a análise estatística da divisão em estratos sociais baseada na renda. Define-se a classe social levando em conta apenas a renda mensal. Então temos as divisões em classes A, B, C, D e E. Durkeim foi um dos primeiros pensadores a delimitar o campo das análises sociológicas. Para especificar esse campo ele desenvolveu os conceitos de:  FATO SOCIAL: as formas de pensar, sentir e agir que exercem uma força externa (uma coerção) sobre os indivíduos. Para ele, só seria considerado fato social o fenômeno que apresentasse as seguintes características: 1. Generalidade: está presente e é reconhecível em toda uma sociedade ou grupo social; 2. Exterioridade ou externalidade: é exterior às consciências sociais, isto é, existe independentemente da vontade e dos anseios do indivíduo; 3. Coercitividade ou força coercitiva: é externa aos indivíduos, moldando as vontades individuais ao coletivo.  DIVISÃO DO TRABALHO: é o elemento social que impulsiona o desenvolvimento das sociedades, criando laços e solidariedades entre os indivíduos.
  • 4.
  • 5. SOLIDARIEDADE MECÂNICA: Durkheim acredita que as normas e padrões sociais determinam as condutas individuais. Ou seja, esse conjunto de relações sociais é o que confere a cada sociedade o seu caráter único, específico. Para Durkheim, as primeiras sociedades foram marcadas pela solidariedade mecânica que era marcada pela semelhança e possui baixo nível de divisão do trabalho. Quando esta forma de solidariedade domina uma sociedade, os indivíduos diferem pouco uns dos outros. Membros de uma mesma coletividade, eles se assemelham porque tem os mesmos sentimentos, os mesmos valores, reconhecem os mesmos objetos como sagrados. A sociedade tem coerência porque os indivíduos ainda não se diferenciam. SOLIDARIEDADE ORGÂNICA: Com o desenvolvimento da divisão do trabalho, surgiu a forma oposta de solidariedade, a orgânica. É aquela em que o consenso (a unidade coerente da coletividade) resulta de uma diferenciação, ou se exprime por seu intermédio. Os indivíduos não se assemelham, são diferentes. A consciência coletiva como elemento moral de agregação e integração dos indivíduos se torna mais fraca diante da desigualdade e da diferenciação de funções profissionais especializadas. A interdependência funcional entre os indivíduos marca a solidariedade orgânica.
  • 6. A imagem representa uma sociedade com baixo nível de divisão de trabalho, caracterizada por indivíduos parecidos entre si, unidos por forte consciência coletiva e solidariedade mecânica. Representação de sociedade de indivíduos com alta divisão do trabalho e solidariedade orgânica.
  • 7. CONCLUSÃO Os grupos funcionais ou profissionais são para Durkheim parte central da divisão social. As classes sociais são pensadas com base nessa fundamentação funcional. Capitalistas e trabalhadores se diferenciam na medida em que cumprem funções sociais diferentes e contribuem para o desenvolvimento da divisão do trabalho. A divisão social tem relação com a forma predominante de sociabilidade ou solidariedade e tem seu centro nos grupos profissionais e nas organizações a eles relacionadas. Durkheim considera a formação profissional e a especialização como meios positivos de sociabilidade. As corporações profissionais (à semelhança dos sindicatos) têm a função de aproximar o ser individual ao ser social a partir do estabelecimento de uma moral coletiva. Às corporações profissionais cabe regular a relação entre capitalistas e trabalhadores e também entre os trabalhadores entre si, com o objetivo de afastar desse processo elementos que possam impedir o desenvolvimento adequado da divisão do trabalho. Segundo Durkheim, o processo natural de desenvolvimento da divisão do trabalho seria substituído pela regulamentação das corporações profissionais. O trabalhador aparece nesse processo como mero executante de algo planejado em outras instâncias e que lhe é, portanto, exterior.
  • 8. 2 - A ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL EM WEBER: CLASSE, ESTAMENTO E PARTIDO Para Weber, a vida em sociedade é caracterizada por situações assimétricas que estabelecem certos tipos de conflito social. As relações sociais contêm quantidades distintas de prestígio social, econômico e político que são distribuídas pela sociedade. Assim, as relações de desigualdade são sempre relações de poder. As ordens política, social e econômica são distintas, mas não completamente independentes umas das outras. Entretanto, cada uma delas exige um aparelho conceitual específico para ser analisada. É no indivíduo e em sua ação que se realiza a fusão dessas ordens. Segundo Weber, cada esfera da atividade social se constitui por relações de poder distintas, que podem ou não ser vinculadas entre si. Por isso, Weber estabelece conceitos diferentes para se referir a cada uma dessas situações.
  • 9. A teoria da estratificação social criada por Weber para analisar a sociedade tem como fundamento três conceitos centrais:  o de classe (e dentro dele o de situação de classe);  o de status (ou estamento) ;  o de partido. Esses conceitos são tipos ideais de diferenciação social. Cada um deles delimita um determinado tipo de pertencimento (ou não) a estratos sociais diferentes. Mas como são tipos ideais, servem apenas de ferramenta de aproximação, nunca representam a própria realidade social. Assim, é possível observar grupos, estratos e instituições sociais que têm características de tipos ideais diferentes, ainda que um deles seja predominante. Para Weber, a posse de propriedade é a característica central para determinar uma situação de classe. Apesar de estabelecer que há diferentes tipos de propriedade, de bens e de rendimentos, o que acarreta estratificações sociais dentro de uma classe, Weber entende que a classe social se fundamenta por uma situação de mercado, isto é, tem base predominantemente econômica. A definição de classe está condicionada, então, à situação de mercado, ou seja, à condição econômica ou padrão material de existência dos indivíduos. Classe refere-se, a qualquer grupo de pessoas que se encontram em uma mesma situação econômica.
  • 10. A estratificação por status tem relação com o prestígio, a posição social, o estilo de vida, a instrução formal. Ela se distingue da estratificação por classe, pois a posse de propriedade nem sempre é suficiente para garantir uma posição social de prestígio. Em contraste com as classes, os grupos de status em geral constituem comunidades e situações determinadas pela estimativa social, positiva ou negativa. Weber nota que a propriedade econômica nem sempre está relacionada ao status. No entanto, a longo prazo, a situação de classe pode também ser um atributo da situação de status. Ou seja, quase sempre o proprietário tende a ser o chefe. Mas isso não é necessariamente verdade, pois existem pessoas com e sem propriedades que se encontram no mesmo grupo de status.
  • 11. O PARTIDO é uma forma de estratificação na qual a distribuição de poder se dá pela capacidade de controle de uma organização. Se o lugar das classes sociais é a ordem econômica, e o lugar dos grupos de status é a ordem social (na esfera de distribuição de renda), o lugar do partido é a ordem política. A característica central do partido é o poder, e a orientação da ação social do partido é a aquisição de poder. Podem existir partidos em um clube, em um grêmio estudantil, no governo e no Estado, e todos esses partidos se movimentam em torno de fatores típicos, como as ações comunais, as diferenças de classe e as diferenças de status. O partido pode incorporar interesses de ordens distintas. Pode também representar situações de classe ou grupos de status, pode recrutar adeptos de um ou outro grupo e pode também não ser “puro”, no sentido em que recruta indivíduos apenas com base na situação econômica de classe ou pelo status. Assim, os partidos podem representar estruturas efêmeras ou duradouras e se utilizar de mecanismos variados para alcançar o poder, tais como a violência, o voto, o dinheiro, a influência social e o poder da oratória. É possível distinguir sociologicamente os partidos pelo tipo de ação, e esse caráter comum pode ser estratificado pela classe ou pelo status, isto é, pela situação do indivíduo no mercado ou por seu prestígio social.
  • 12. 3 - AS CLASSES SOCIAIS EM MARX: CONTRADIÇÃO E DIALÉTICA Como vimos, Karl Marx parte da relação entre proprietários e não proprietários dos meios de produção para caracterizar a formação das classes sociais e da sociedade capitalista. Para ele, essa divisão social é a primeira forma de divisão do trabalho: a divisão entre aqueles que produzem (os trabalhadores) e aqueles que se apropriam privadamente da produção (os proprietários). Segundo Marx, a dinâmica social capitalista está centrada na propriedade privada. Com base nela se constituem as classes sociais e todas as relações de troca. De um lado, estão aqueles que precisam vender sua força de trabalho, pois não têm as condições materiais para produzir sua subsistência. De outro, aqueles que compram a força de trabalho, na medida em que se apropriaram dos meios de produção, convertendo-os em sua propriedade privada. Para estruturar esse raciocínio, Marx pressupõe que a realidade das sociedades divididas em classes é contraditória e que, para analisar essa realidade contraditória, é necessário um método dialético. A divisão entre exploradores e explorados nos vários modos de produção necessita, portanto, de uma explicação dialética. Em outras palavras, para entender a relação de exploração e dominação dos escravizados nas sociedades escravistas, a dominação dos servos nas sociedades feudais e a exploração dos trabalhadores assalariados nas sociedades capitalistas é necessário ir além das aparências da realidade observada.
  • 13. Para Marx, a dialética é um instrumento analítico que permite desvelar as camadas sociais que não se mostram a olho nu. Por meio da dialética é possível ir além das aparências e descobrir as causas mais profundas de como a vida em sociedade se reproduz historicamente. E, assim, explicar a realidade contraditória entre aqueles que detêm e aqueles que não detêm os meios de produção. A realidade social é por vezes muito complexa. Nela há interesses muito variados nos grupos e classes sociais de nossa sociedade. No entanto, é possível perceber certa aproximação entre alguns tipos de interesse social. O capitalista dono do banco, apesar de fazer parte da burguesia e ter interesses específicos, não está do lado oposto do capitalista dono da indústria: ambos querem obter lucros e continuar usando a força de trabalho para isso. A mesma coisa pode ser vista entre os trabalhadores. Os operários das indústrias automobilísticas têm interesses diferentes dos bancários, mas ambos querem melhorar suas condições de vida e de trabalho. Tente pensar em outros exemplos de interesses sociais que possam ser identificados com os da classe capitalista, de um lado, e com os da classe trabalhadora, de outro. Karl Marx mostra a diferença entre o trabalho e a força de trabalho. Mesmo sem falar em dialética, vimos que há uma realidade aparente e outra realidade mais profunda, que explica como se forma o lucro capitalista. Também que, aparentemente, o capitalista e o trabalhador se encontram no mercado como indivíduos iguais. As leis e regras de mercado afirmam esse princípio, isto é, quando trocamos coisas no mercado somos todos iguais perante a lei.
  • 14. No entanto, a sociedade se organiza com base nos interesses das classes dominantes, ou seja, as leis, regras e normas sociais são construídas para reproduzir as classes dominantes como tal. Assim, apesar de a relação de igualdade jurídica não ser uma mentira, ela é contraditória, pois pressupõe que o indivíduo que compra e o indivíduo que vende a força de trabalho são absolutamente iguais, quando, na prática, eles são economicamente diferentes. Voltando à dialética: ao mostrar a diferença entre o trabalho e a força de trabalho, Marx faz uma análise dialética, buscando entender o que há por trás dessa aparência de igualdade. Ora, como essa relação poderia ser igual se existem diferenças sociais evidentes entre os trabalhadores e os capitalistas? A dialética permite entender o que está oculto pelas relações de produção capitalistas, pois nessas relações só se manifestam os interesses da classe dominante, que impôs esse modo de vida. Segundo o pensamento de Marx, as classes sociais vão além de um estrato social determinado apenas pela economia, como define Weber. Não se trata, assim, de agrupamentos de indivíduos que têm rendas ou salários semelhantes. Para Marx, as classes sociais são definidas por suas lutas, mais particularmente pela luta de classes, que expressa a oposição estrutural entre o capital e o trabalho. Em outras palavras, a luta de classes constitui o próprio elemento dinâmico das sociedades.
  • 15. A luta entre capitalistas e trabalhadores que se trava todos os dias por melhores salários, melhores condições de trabalho e de vida, refere-se, de um lado, à expansão de políticas sociais que protegem os trabalhadores, na regulamentação da reforma agrária, na construção de vias de acesso a bairros populares, na construção de redes de esgoto e escolas populares. De outro, está relacionada com a aprovação de leis que estimulam os condomínios fechados, com a segregação social, com a política de juros altos, com incentivos fiscais às empresas multinacionais. Para Marx, os interesses opostos são os elementos de transformação histórica e social. As classes sociais e suas lutas são referências centrais na obra de Marx. Com base nelas, ele analisa a sociedade capitalista e qualifica as relações de exploração e dominação para além de uma leitura econômica, baseada apenas na determinação dada pela renda. Classe social é um conceito concebido como um conjunto de relações que implicam elementos culturais, simbólicos, econômicos, políticos e ideológicos. Para Marx, as classes sociais não são meros aglomerados de indivíduos, mas, sobretudo, forças sociais e políticas que lutam por seus interesses.
  • 16. Em novembro de 2012, trabalhadores do sistema de saúde pública protestam em Madri, capital da Espanha, durante o segundo dia de greve geral contra a privatização de parte do sistema nacional de saúde pública. Pela primeira vez, todos os sindicatos convocaram os trabalhadores de saúde da região de Madri para uma greve de 48 horas.
  • 17. 4 - AS CLASSES E OS ESTRATOS SOCIAIS NO SÉCULO XX O século XX foi influenciado por duas grandes abordagens sociológicas das segmentações sociais. A primeira foi a teoria das classes sociais de Marx; a segunda foi a teoria da estratificação social de Weber. Essas duas teorias têm fundamentações e leituras distintas dos grupos, classes, frações e segmentos sociais. Para Weber, a concepção de classe social é fundamentalmente relacionada ao mercado, isto é, pertencer ou não a determinada classe social depende de critérios econômicos, ainda que outros fatores sejam também relevantes. A concepção de status ou estamento está ancorada centralmente no prestígio social, e a concepção de partido está ancorada no poder. Karl Marx concebe sua análise na estruturação de sociedades divididas em classes sociais e, dentro dessas classes, em frações sociais. Para ele, o conceito de classe social está relacionado com a produção da vida material e com a luta que é travada no processo de produção e reprodução social. Vimos em capítulos anteriores que a transformação científica e tecnológica é fundamental para as sociedades capitalistas, sobretudo, por reduzir o tempo de produção de mercadorias e, com isso, aumentar a produtividade do trabalho. Essa redução do tempo de trabalho acaba por desvalorizar a força de trabalho e aumentar os lucros dos capitalistas. Assim, a ciência e a tecnologia são introduzidas para que se atinjam esses objetivos na produção. Em determinados momentos, ocorrem transformações mais intensas, denominadas reestruturações produtivas.
  • 18. Do ponto de vista do aumento da produtividade, incrementar a produção de mercadorias com novas pesquisas e aparatos tecnológicos é essencial para a manutenção da produção e, em geral, do próprio capitalismo. Mas e do ponto de vista da luta política? Para a classe trabalhadora, qual é a relação entre desenvolvimento científico e tecnológico e formação do sujeito político? Como vimos, toda reestruturação produtiva cria novos grupos de trabalhadores. Por exemplo, o modelo de produção toyotista, ao introduzir novas tecnologias (microeletrônica e robótica) faz aumentar a produtividade, mas as empresas capitalistas dispensaram parte dos trabalhadores quando as novas máquinas passaram a fazer seu trabalho. Os autores desse raciocínio consideraram muito positiva a introdução do desenvolvimento científico e tecnológico na produção. Entretanto, essa análise desconsiderou que essas mesmas forças produtivas são mecanismos cujo objetivo central é aperfeiçoar o controle sobre os trabalhadores. Esse equívoco provocou, por exemplo, a idealização de trabalhadores ultraqualificados, que passaram a ser vistos como operários polivalentes que, assim, teriam maiores chances de organizar politicamente a classe trabalhadora. No caso descrito, a classe trabalhadora foi analisada a partir da pressuposição da neutralidade do incremento científico e tecnológico. Entretanto, vimos anteriormente que a máquina, a ciência e as tecnologias são resultados históricos, ou seja, sínteses das determinações sociais que, no capitalismo, operam principalmente para reproduzir as relações sociais dominantes.
  • 19. Esta charge do cartunista Bruno, publicada em 2001, comenta a redução da jornada de trabalho.
  • 20. 5 - A DINÂMICA DAS CLASSES MÉDIAS: OCUPAÇÃO PROFISSIONAL E RENDA O debate sobre a classe média também sofreu a influência das teses de Marx e Weber, tanto nos círculos acadêmicos dos Estados Unidos e da Europa como no Brasil. Entre aqueles que compartilham a concepção marxista de classe social, as classes médias são vistas como um conjunto de relações sociais que se situam entre as relações da classe capitalista e as da classe trabalhadora. Essa leitura procura entender, com base no desenvolvimento dos textos de Marx, como certas camadas sociais — que não podem ser definidas nem como capitalistas (pois não têm os meios de produção) nem como operárias (pois não desenvolvem nenhum tipo de trabalho produtivo) — podem ser definidas em termos de classe social. Em termos gerais, as camadas médias se situam entre as duas grandes classes sociais (capitalistas e trabalhadores). Para Marx, no século XIX as camadas médias representavam um número relativamente pequeno da população da Europa. Entre elas podemos destacar: pequenos proprietários e comerciantes, servidores públicos e profissionais liberais. Ele chamava esse conjunto de indivíduos de pequena burguesia. Com o desenvolvimento do setor de serviços durante o século XX, a pequena burguesia se avolumou, e com isso os autores marxistas e weberianos passaram a definir novos conceitos para incorporar esse contingente de indivíduos. Dois sociólogos que sintetizam esse debate são o norte-americano C. Wright Mills (1916 - 1962) e o grego Nicos Poulantzas.
  • 21. Esta charge do cartunista Glauco ironiza a suposta passagem para a classe média.
  • 22. C. Wright Mills, observou um aumento entre os trabalhadores de colarinho-branco, (trabalhadores públicos e privados do setor administrativo e gerencial). Os trabalhadores desse setor não podem ser identificados como os típicos da indústria ou operários. Para ele, a classe média, mesmo existindo em função das outras classes (capitalistas e trabalhadores), devia ser considerada um sintoma e um símbolo das sociedades contemporâneas. Eles se diferenciam dos da antiga classe média quanto à qualificação profissional. São gerentes e administradores requisitados sobretudo pelo desenvolvimento tecnológico ocorrido em meados do século XX. Para Mills, essa nova classe média tem como característica central a gerência e a supervisão. São indivíduos que têm como função específica gerenciar a produção e aumentar os lucros dos donos da propriedade privada. Segundo Mills, enquanto o número de trabalhadores necessários à extração e à produção diminuiu, o de prestadores de serviços, distribuição e coordenação aumentou. E esse crescimento se deve ao aumento da produtividade da manufatura industrial, ao desenvolvimento da distribuição e à ampliação das funções de coordenação. Pode- se dizer que os colarinhos--brancos não são uma camada homogênea. Embora se diferenciem dos operários e da antiga classe média do ponto de vista da propriedade, em relação à renda sua situação econômica pode ser considerada superior, se comparada à dos operários da indústria.
  • 23. Para o sociólogo grego Nicos Poulantzas, as classes sociais não são definidas com base nas ações individuais nem, tampouco, em estratos sociais. Segundo ele, as classes sociais se definem por sua posição no conjunto da divisão social do trabalho. Tentando romper com uma tradição que definiu as classes sociais apenas pelas determinações econômicas, Poulantzas procurou pensá-las levando em conta também as instâncias do político e do ideológico. Ele mostra a necessidade de apreender a totalidade das estruturas de uma sociedade para definir as classes sociais, que para ele são fruto do efeito conjunto das estruturas políticas, econômicas e ideológicas, e não apenas da estrutura econômica. Quanto à discussão das classes médias, Poulantzas incorpora à sua teoria a análise dos trabalhadores não produtivos como específicos da nova pequena burguesia. Segundo ele, a diferenciação entre trabalho produtivo e improdutivo é central, ainda que não suficiente, para definir essa nova classe social. A nova pequena burguesia se diferencia da pequena burguesia tradicional, pois expressa uma nova divisão do trabalho, marcada pelas práticas de direção e supervisão no interior dos processos de trabalho.
  • 24. No Brasil do início do século XXI, foi intenso o debate sobre a classe média. Alguns autores veem nas políticas de assistência social e de redistribuição de renda uma forma de inclusão estrutural, isto é, que os indivíduos beneficiados por tais políticas eventualmente passarão a compor uma nova classe social, chamada de classe C, ou nova classe média. Essa nova classe seria composta por indivíduos que tiveram seu poder de consumo aumentado, podendo usufruir de mercadorias, bens de consumo e serviços que antes não lhes eram acessíveis. Para os críticos dessa leitura, a nova classe média seria, na verdade, um grupo flutuante que tem a impressão de ter sido incluído, mas não tem garantias de que essa política terá longa duração e, no caso de seu fim, não teria meios de se manter como uma classe de fato. Seriam, portanto, estratos sociais que apenas teriam condições de ascender à condição de classe se fossem constituídas políticas de inclusão baseadas na educação, o que poderia garantir a permanência e a estabilidade desses indivíduos no mercado de trabalho. Nessas duas perspectivas, a definição de classe utilizada para discutir uma suposta nova classe média no Brasil está ancorada numa concepção weberiana, que leva em conta, basicamente, a renda dos indivíduos. Para autores que rejeitam essa perspectiva, a nova classe C no Brasil é, na realidade, uma parte da classe trabalhadora antes desempregada, que conseguiu entrar no mercado de trabalho. A classe trabalhadora, assim, comportaria um conjunto de trabalhadores assalariados que vendem sua força de trabalho na medida em que não têm condições de produzir sem máquinas e ferramentas. Ou seja, os trabalhadores não têm como existir e sobreviver sem vender sua força de trabalho.
  • 25. Em 2010, a chamada classe C foi responsável por injetar R$ 881,2 bilhões no mercado de consumo do Brasil. Na foto, movimento em supermercado popular na cidade de Toledo, no Paraná, repleto de consumidores atraídos por descontos e promoções.
  • 26. FIM Bibliografia: Sociologia Hoje Henrique Amorim Celso Rocha de Barros Igor José de Renó Machado