SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 24
(séc. XVII)
1580- 1680



                          Disciplina de Português
               Profª: Helena Maria Coutinho
A origem da palavra barroco tem suscitado muitas discussões.
Segundo alguns a palavra terá tido origem no vocábulo espanhol
barrueco, um termo usado pelos joalheiros desde o século XVI, para
designar um tipo de pérola irregular e de formação defeituosa.

Assim, o termo técnico, aplicado às diferentes artes, passou a designar
tudo o que era exagerado, irregular, extravagante, de grande imperfeição
e mau gosto.

Barroco = extravagante prática literária e artística em geral, em que as
linhas puras do classicismo aparecem sobrecarregadas de enfeites, de
ornatos.
Etimologia da palavra Barroco:
   Procede do latim verruca, palavra que se referia a uma pequena
    elevação, mancha ou alteração numa superfície lisa.
   Mais tarde passou a denominar uma determinada imperfeição das pedras
    preciosas.
   Começa-se a utilizar em França para referir-se a qualquer coisa de forma
    irregular ou desigual.
   Posteriormente especializa-se na arte, denominando uma arte
    irregular, exuberante, estranha... É uma palavra nova, aparece com este
    significado na segunda metade do século XIX (a diferença de Renascença, que já
    era utilizada pelos próprios renascentistas).
A génese do Barroco explica-se, segundo a crítica, pelas seguintes razões:
      Saturação dos valores estéticos da Renascença, o artista demanda um
       certo grau de originalidade e, face à imitatio, a crítica fala da inventio (de
       aí os excessos formais, a excessiva decoração etc. É uma reação face as
       formas planas renascentistas).
      Angustia existencial depois do período de euforia das descobertas. Este
       período de decadência afronta-se de duas formas:
         Refugio na religião, no mundo do sobrenatural, razão pela que
           renasce o teocentrismo face ao homocentrismo renascentista.
         Vivência desenfreada dos prazeres, para fugir da realidade celebram-
           se grandes festas no paço (carpe diem, colligo virgo rosae).
Factos históricos:
• Término do Ciclo das Grandes Navegações;
• Reforma Protestante, liderada por Lutero (na Alemanha) e Calvino (em França);
• Movimento Católico de Contra-Reforma (a doutrinação pelo terror)

O barroco surge assim associado:
     - a uma crise político-económica devido à perda do comércio do Oriente;
     - a uma crise de valores ocasionada pelas lutas religiosas (a Contra- Reforma
    que deu origem à Inquisição)

Na Península Ibérica o barroco está relacionado com o silêncio cultural e a repressão
praticada pela Inquisição.

O homem de seiscentos vivia num estado de tensão e desequilíbrio do qual tentou
evadir-se pelo culto exagerado da forma, sobrecarregando a poesia de figuras de
estilo.
Cronologia do Barroco em Portugal
O Barroco em Portugal é um período que se estende desde inícios do
século XVII até a primeira metade do século XVIII.


   • 1580 - Marco inicial – Unificação da Península Ibérica sob o domínio
   espanhol (perda da independência)


   • 1756 - Marco final – Fundação da Arcádia Lusitana considerado o
   início do Neoclassicismo
Contexto histórico e cultural:

O Barroco surge ligado à perda da independência (até 1640), depois do desastre de
Alcácer-Quibir (em 1578). Nasce o “Mito do Sebastianismo” segundo a qual Dom
Sebastião não teria realmente morrido; o povo português espera o seu regresso para
transformar Portugal no Quinto Império.

A corte encontrava-se fora de Lisboa – a nobreza tornou-se provinciana ao abandonar as
cidades fugindo para o campo onde tenta preservar a identidade sociocultural
portuguesa; descontentamento na sociedade portuguesa.

Ambiente cultural e social da época impregnado de pavores pela repressão ameaçadora
da censura eclesiástica (Inquisição) e civil (domínio filipino).

Desenvolvimento cultural do país condicionado pelos jesuítas, sob a ação da Contra –
Reforma.

Ignorância e fanatismo religioso refletidos no povo.
Persuasão face ao desequilíbrio religioso que o racionalismo cartesiano e a nova
cosmovisão do mundo causava no espírito dos cristãos.
Tem o intuito de despertar emoções no espectador como elementos geradores de
emoções intensas
A arquitetura tem, por exemplo, que atrair os fiéis, partilhar e, finalmente, arrebatá-
los. Daí a necessidade do luxo, que se revela mais eficaz que a austeridade. As
igrejas tornam-se o palácio dos pobres.
O barroco expressa o desequilíbrio e instabilidade do homem que se sente
tremendamente pequeno face ao gigantismo cósmico, daí a sua frustração.
A arte barroca visava o espanto, a admiração pela obscuridade ou pouca clareza do
texto, devido ao conjunto de formalismos que encobria as ideias (por vezes os
textos não possuíam ideias, mas só artifícios formais)
O barroco visa surpreender e aturdir o espírito à força de ornamentos e de rebuscar
• Dualidade - contraste entre as grandes forças reguladoras da existência humana:
         • fé x razão;
         • corpo x alma;
         • Deus x Diabo;
         • vida x morte.
• Desequilíbrio entre razão e emoção

• Fugacidade - Tudo no mundo é passageiro e instável, as pessoas, as coisas mudam, o
mundo muda. O autor barroco tem a consciência do caráter efémero da existência.

• Tendência para a ilusão (fuga à realidade objetiva, subjetividade)

• Pessimismo - Consciência da transitoriedade da vida conduz frequentemente à ideia
de morte, tida como a expressão máxima da fugacidade da vida. A incerteza da vida e o
medo da morte fazem da arte barroca uma arte pessimista, marcada por um
desencantamento com o próprio homem e com o mundo.
• Atração pelo feio - Atração por cenas trágicas, por aspetos cruéis, dolorosos e
grotescos. As imagens frequentemente são deformadas pelo exagero de detalhes. Há
nesse momento uma rutura com a harmonia, com o equilíbrio e a sobriedade clássica.
O barroco é a arte dos contrastes, do exagero.

• Tensão religiosa - Intensifica-se no Barroco, aspetos que já vinham sendo percebidos
no Humanismo e no Classicismo:
         Antropocentrismo x Teocentrismo

•      Na        Literatura       -       Predomínio      de       figuras      como
metáfora, antítese, paradoxo, hipérbole, hipérbato.
Renascimento (séc. XVI)                    Barroco (séc. XVII)
  Época de exaltação da vida         Época em que se considerava a vida
  Confiava-se    totalmente    na    como um transe doloroso que termina
  natureza humana                    na morte
  Época de otimismo generalizado     Considerava-se que o maior inimigo do
  Valorização da harmonia e do       Homem era o próprio Homem
  equilíbrio                         A sociedade deixou-se invadir por
                                     sentimentos de pessimismo e desilusão
                                     Buscaram-se os fortes contrastes:
                                     vida/morte;         realidade/aparência;
                                     luz/obscuridade, etc.
  RENASCIMENTO = crença no            BARROCO = pessimismo e desilusão;
Homem e na Natureza; otimismo,      exagero; artificialidade; desconfiança no
harmonia; simplicidade e beleza.                     homem.
Cúpula da Igreja de Sant’Andrea della Valle, em Roma
É a arte da Contra-Reforma, expressão artística que pretende atrair os fiéis e
combater o Protestantismo. A arte barroca procura comover e moralizar
intensamente o espectador.


Ao contrário da simplicidade e serenidade do estilo renascentista, o barroco
caracteriza-se pelo movimento, pelo dramatismo e pelo exagero.
    • É uma arte espetacular e faustosa que, nas igrejas, pretende atrair e
    impressionar os fiéis.
    • No Barroco há uma exaltação dos sentimentos, a religiosidade é expressa de
    forma dramática, intensa, procurando envolver emocionalmente as pessoas.
    • Surgiu associado às cortes absolutistas e à Contra-Reforma - Os temas
    mitológicos e a pintura que exaltava o direito divino dos reis (teoria defendida
    pela Igreja e pelo Estado Absolutista) eram frequentes.
    • Manifestou-se na arquitetura, na escultura, na pintura, nas artes decorativas
    e também na literatura, no teatro e na música.
O BARROCO uma arte teatral

As principais características da arte barroca são:

   Dinamismo – o artista barroco deseja criar uma sensação de movimento. Face ao
   predomínio da linha reta na arte renascentista, o barroco serve-se, sobretudo, da
   linha curva

   Decorativismo e sumptuosidade - o artista barroco é minuciosa na composição de
   pequenos detalhes, manifestando o gosto pela ornamentação

   Contraste – o artista barroco manifesta-se contrário ao equilíbrio e à uniformidade
   quinhentista. O seu ideal é acolher numa mesma composição visões distintas, e até
   antagónicas, do mesmo tema. predominam as emoções e não o racionalismo da
   arte renascentista.

   Teatralidade – o artista procura comover o espectador e para isso recorre a
   procedimentos hiper-realistas. Esta intencionalidade surge sobretudo na imaginária
   sacra.
Características do barroco na Literatura:
 continuidade da temática do séc. XVI: bucolismo, petrarquismo, amor
   platónico, etc.
 permanência das características da estrutura externa das composições
   classicistas;
 reação ao séc. XVI: reflexão moral, evasão, busca dos prazeres
   espirituais, futilidade de muitos temas,...
 preocupação em provocar o espanto, surpreender e aturdir o espírito à força dos
   ornamentos, arquitetura rebuscada;
 estilo rítmico e movimentado, cheio de cores poéticas: o vermelho dos rubis, da
   púrpura e das rosas; o verde das esmeraldas ou o azul do mar, do céu e das
   safiras; o branco dos lírios, das açucenas, do marfim, da prata e do cristal;
 alusões e subentendidos, através das metáforas ou das antíteses...;
 cultismo e conceptismo
Dentro do barroco literário costumam-se considerar duas correntes: o
conceptismo e o cultismo. Ambas são na verdade duas facetas do
estilo barroco e visam criar complicação e artifício.
O conceptismo: incide sobretudo no plano do pensamento, do tema, do conteúdo.
Os conceptistas procuram exprimir muitas ideias, e isso leva-os à acumulação de
conceitos e ao uso de palavras com duplo e triplo significado.

Aparentemente a sua expressão é mais simples que a dos cultista, mas a
compreensão das suas obras torna-se mais difícil.

    * jogo dos conceitos;
    * enigmas e malabarismos intelectuais;
    * construção mental e alegoria analógica (que correlaciona realidade e
    pensamento);
    * elegância da subtileza.
O cultismo: preocupa-se sobretudo com a expressão. Os cultistas dão mais
importância à forma externa que ao conteúdo das suas obras. Optam por um estilo
rebuscado, de sintaxe difícil. As suas características mais salientes são a latinização da
linguagem e o emprego intenso de metáforas e de imagens.

     * culto da forma e sobreposição de ornamentos;
     * complexidade formal e rebuscamento literário, com sacrifício da clareza do
     conteúdo;
     * riqueza vocabular e a alusão;
     * uso exagerado das metáfora, das hipérboles e das antíteses e paradoxos, mas
     também das perífrases, das hipálages, das sinédoques, das anáforas, dos
     trocadilhos, dos hipérbatos…
     * abuso de jogos de palavras, de imagens e de construções.
OS CANCIONEIROS DO BARROCO
 São muito raros os autores que publicaram os seus poemas; a maioria deixou a
sua obra dispersa em versões manuscritas (muitos textos perderam-se). Os
textos que chegam até nós conservaram-se graças à sua edição em dois volumes
que recolhem composições de diversos autores:


 FÉNIX RENASCIDA - publicado no século XVIII, mas também recolhe poetas de
todo o século XVII - é o mais importante dos dois cancioneiros. Editada em 5
volumes mostra a poesia mais significativa da época de Seiscentos. Mostra a
influência de Camões em alguns poemas líricos e também a nível épico. Continua a
tradição da poesia satírica.


POSTILHÃO DE APOLO – obra editada em dois volumes é
um dos repertórios da poesia gongórica. No primeiro
volume destacam-se muitos sonetos anónimos cuja
temática se relaciona com a História Romana.
No segundo volume os poemas são de índole satírica e
burlesca, mas também, tétricos e morais.
Conclusões

 O estilo barroco atravessa todas as
  formas              de               arte:
  arquitetura, escultura, pintura, literatur
  a, música.

 A poesia barroca é puramente lúdica:
  não exprime a vida, distrai da vida.
  Sobrepõe ao plano da realidade o plano
  do ideal.
Disciplina de Português
Profª: Helena Maria Coutinho

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados (20)

Vanguarda europeia
Vanguarda europeiaVanguarda europeia
Vanguarda europeia
 
Literatura - Barroco
Literatura - BarrocoLiteratura - Barroco
Literatura - Barroco
 
Romantismo I
Romantismo IRomantismo I
Romantismo I
 
Simbolismo
SimbolismoSimbolismo
Simbolismo
 
Neoclassicismo
NeoclassicismoNeoclassicismo
Neoclassicismo
 
Humanismo
HumanismoHumanismo
Humanismo
 
Realismo
RealismoRealismo
Realismo
 
História da Arte - Barroco
História da Arte - BarrocoHistória da Arte - Barroco
História da Arte - Barroco
 
Luís Vaz de Camões
Luís Vaz de CamõesLuís Vaz de Camões
Luís Vaz de Camões
 
Humanismo e Classicismo
Humanismo e ClassicismoHumanismo e Classicismo
Humanismo e Classicismo
 
LITERATURA: ESCOLAS LITERÁRIAS
LITERATURA: ESCOLAS LITERÁRIASLITERATURA: ESCOLAS LITERÁRIAS
LITERATURA: ESCOLAS LITERÁRIAS
 
Romantismo
RomantismoRomantismo
Romantismo
 
O pré modernismo
O pré modernismoO pré modernismo
O pré modernismo
 
O Realismo no Brasil
O Realismo no BrasilO Realismo no Brasil
O Realismo no Brasil
 
Vanguardas Europeias
Vanguardas EuropeiasVanguardas Europeias
Vanguardas Europeias
 
Barroco
BarrocoBarroco
Barroco
 
Realismo em portugal
Realismo em portugalRealismo em portugal
Realismo em portugal
 
Romantismo em Portugal
Romantismo em PortugalRomantismo em Portugal
Romantismo em Portugal
 
Classicismo
ClassicismoClassicismo
Classicismo
 
Modernismo em Portugal
Modernismo em PortugalModernismo em Portugal
Modernismo em Portugal
 

Destaque (20)

A cultura do palco
A cultura do palcoA cultura do palco
A cultura do palco
 
Arte Barroca
Arte BarrocaArte Barroca
Arte Barroca
 
Barroco holandês
Barroco holandêsBarroco holandês
Barroco holandês
 
O Barroco
O BarrocoO Barroco
O Barroco
 
Cultura do palco
Cultura do palcoCultura do palco
Cultura do palco
 
O Barroco
O BarrocoO Barroco
O Barroco
 
O Barroco No Brasil
O Barroco No BrasilO Barroco No Brasil
O Barroco No Brasil
 
Arte barroca slides 33
Arte barroca slides 33Arte barroca slides 33
Arte barroca slides 33
 
Arte Barroca
Arte BarrocaArte Barroca
Arte Barroca
 
O mercantilismo histopria a joana aleida 11ºj
O mercantilismo histopria a joana aleida 11ºjO mercantilismo histopria a joana aleida 11ºj
O mercantilismo histopria a joana aleida 11ºj
 
Barroco português
Barroco portuguêsBarroco português
Barroco português
 
Barroco nota de aula -
Barroco nota de aula    - Barroco nota de aula    -
Barroco nota de aula -
 
Trabalho Roma - Renascentista Barroco
Trabalho Roma - Renascentista BarrocoTrabalho Roma - Renascentista Barroco
Trabalho Roma - Renascentista Barroco
 
Revolução francesa
Revolução francesaRevolução francesa
Revolução francesa
 
Slide a arte barroca by edenilson c santos 1a
Slide a arte barroca by edenilson c santos 1aSlide a arte barroca by edenilson c santos 1a
Slide a arte barroca by edenilson c santos 1a
 
Registo actividadefinal net
Registo actividadefinal netRegisto actividadefinal net
Registo actividadefinal net
 
Parte 1 Introducao,Arte E Tecnologia
Parte 1  Introducao,Arte E TecnologiaParte 1  Introducao,Arte E Tecnologia
Parte 1 Introducao,Arte E Tecnologia
 
Classicismo videoaula
Classicismo  videoaulaClassicismo  videoaula
Classicismo videoaula
 
Mercantilismo francês
Mercantilismo francêsMercantilismo francês
Mercantilismo francês
 
..
....
..
 

Semelhante a Barroco contexto e caract

Semelhante a Barroco contexto e caract (20)

2- Perioddo Barroco.pptx
2- Perioddo Barroco.pptx2- Perioddo Barroco.pptx
2- Perioddo Barroco.pptx
 
Aula 05 barroco em portugal e literatura informativa
Aula 05   barroco em portugal e literatura informativaAula 05   barroco em portugal e literatura informativa
Aula 05 barroco em portugal e literatura informativa
 
O Barroco
O BarrocoO Barroco
O Barroco
 
Barroco
BarrocoBarroco
Barroco
 
13650916 literatura-aula-05-barroco-em-portugal-e-literatura-informativa
13650916 literatura-aula-05-barroco-em-portugal-e-literatura-informativa13650916 literatura-aula-05-barroco-em-portugal-e-literatura-informativa
13650916 literatura-aula-05-barroco-em-portugal-e-literatura-informativa
 
Barroco atualizado
Barroco atualizadoBarroco atualizado
Barroco atualizado
 
Arte Barroca
Arte BarrocaArte Barroca
Arte Barroca
 
O Barroco
O BarrocoO Barroco
O Barroco
 
Barroco 1 ano
Barroco 1 anoBarroco 1 ano
Barroco 1 ano
 
Barroco
BarrocoBarroco
Barroco
 
Características do barroco
Características do barrocoCaracterísticas do barroco
Características do barroco
 
obarroco-121120033949-phpapp01.pdf
obarroco-121120033949-phpapp01.pdfobarroco-121120033949-phpapp01.pdf
obarroco-121120033949-phpapp01.pdf
 
Literatura slides
Literatura  slidesLiteratura  slides
Literatura slides
 
Barroco
BarrocoBarroco
Barroco
 
Barroco
BarrocoBarroco
Barroco
 
O BARROCO.pptx
O BARROCO.pptxO BARROCO.pptx
O BARROCO.pptx
 
Barroco
BarrocoBarroco
Barroco
 
Barroco
BarrocoBarroco
Barroco
 
O barroco português
O barroco portuguêsO barroco português
O barroco português
 
O Barroco
O BarrocoO Barroco
O Barroco
 

Mais de Helena Coutinho

Santo antónio e padre antónio vieira – diferenças e semelhanças
Santo antónio e padre antónio vieira – diferenças e semelhançasSanto antónio e padre antónio vieira – diferenças e semelhanças
Santo antónio e padre antónio vieira – diferenças e semelhançasHelena Coutinho
 
Cap v repreensões particular
Cap v repreensões particularCap v repreensões particular
Cap v repreensões particularHelena Coutinho
 
Cap iv repreensões geral
Cap iv repreensões geralCap iv repreensões geral
Cap iv repreensões geralHelena Coutinho
 
Cap iii louvores particular
Cap iii louvores particularCap iii louvores particular
Cap iii louvores particularHelena Coutinho
 
Contexto histórico padre antónio vieira
Contexto histórico padre antónio vieiraContexto histórico padre antónio vieira
Contexto histórico padre antónio vieiraHelena Coutinho
 
. Batalha de alcácer quibir
. Batalha de alcácer quibir. Batalha de alcácer quibir
. Batalha de alcácer quibirHelena Coutinho
 
Ondados fios de ouro reluzente
Ondados fios de ouro reluzenteOndados fios de ouro reluzente
Ondados fios de ouro reluzenteHelena Coutinho
 
Sete anos de pastor jacob servia
Sete anos de pastor jacob serviaSete anos de pastor jacob servia
Sete anos de pastor jacob serviaHelena Coutinho
 
Oh! como se me alonga, de ano em ano
Oh! como se me alonga, de ano em anoOh! como se me alonga, de ano em ano
Oh! como se me alonga, de ano em anoHelena Coutinho
 

Mais de Helena Coutinho (20)

. Maias simplificado
. Maias simplificado. Maias simplificado
. Maias simplificado
 
Santo antónio e padre antónio vieira – diferenças e semelhanças
Santo antónio e padre antónio vieira – diferenças e semelhançasSanto antónio e padre antónio vieira – diferenças e semelhanças
Santo antónio e padre antónio vieira – diferenças e semelhanças
 
Relato hagiografico
Relato hagiograficoRelato hagiografico
Relato hagiografico
 
P.ant vieira bio
P.ant vieira bioP.ant vieira bio
P.ant vieira bio
 
Epígrafe sermao
Epígrafe sermaoEpígrafe sermao
Epígrafe sermao
 
Cap vi
Cap viCap vi
Cap vi
 
Cap v repreensões particular
Cap v repreensões particularCap v repreensões particular
Cap v repreensões particular
 
Cap iv repreensões geral
Cap iv repreensões geralCap iv repreensões geral
Cap iv repreensões geral
 
Cap iii louvores particular
Cap iii louvores particularCap iii louvores particular
Cap iii louvores particular
 
Cap ii louvores geral
Cap ii louvores geralCap ii louvores geral
Cap ii louvores geral
 
1. introd e estrutura
1. introd e estrutura1. introd e estrutura
1. introd e estrutura
 
Contexto histórico padre antónio vieira
Contexto histórico padre antónio vieiraContexto histórico padre antónio vieira
Contexto histórico padre antónio vieira
 
. O texto dramático
. O texto dramático. O texto dramático
. O texto dramático
 
. Batalha de alcácer quibir
. Batalha de alcácer quibir. Batalha de alcácer quibir
. Batalha de alcácer quibir
 
Fls figuras reais
Fls figuras reaisFls figuras reais
Fls figuras reais
 
. Enredo
. Enredo. Enredo
. Enredo
 
. A obra e o contexto
. A obra e o contexto. A obra e o contexto
. A obra e o contexto
 
Ondados fios de ouro reluzente
Ondados fios de ouro reluzenteOndados fios de ouro reluzente
Ondados fios de ouro reluzente
 
Sete anos de pastor jacob servia
Sete anos de pastor jacob serviaSete anos de pastor jacob servia
Sete anos de pastor jacob servia
 
Oh! como se me alonga, de ano em ano
Oh! como se me alonga, de ano em anoOh! como se me alonga, de ano em ano
Oh! como se me alonga, de ano em ano
 

Barroco contexto e caract

  • 1. (séc. XVII) 1580- 1680 Disciplina de Português Profª: Helena Maria Coutinho
  • 2. A origem da palavra barroco tem suscitado muitas discussões. Segundo alguns a palavra terá tido origem no vocábulo espanhol barrueco, um termo usado pelos joalheiros desde o século XVI, para designar um tipo de pérola irregular e de formação defeituosa. Assim, o termo técnico, aplicado às diferentes artes, passou a designar tudo o que era exagerado, irregular, extravagante, de grande imperfeição e mau gosto. Barroco = extravagante prática literária e artística em geral, em que as linhas puras do classicismo aparecem sobrecarregadas de enfeites, de ornatos.
  • 3. Etimologia da palavra Barroco:  Procede do latim verruca, palavra que se referia a uma pequena elevação, mancha ou alteração numa superfície lisa.  Mais tarde passou a denominar uma determinada imperfeição das pedras preciosas.  Começa-se a utilizar em França para referir-se a qualquer coisa de forma irregular ou desigual.  Posteriormente especializa-se na arte, denominando uma arte irregular, exuberante, estranha... É uma palavra nova, aparece com este significado na segunda metade do século XIX (a diferença de Renascença, que já era utilizada pelos próprios renascentistas).
  • 4. A génese do Barroco explica-se, segundo a crítica, pelas seguintes razões:  Saturação dos valores estéticos da Renascença, o artista demanda um certo grau de originalidade e, face à imitatio, a crítica fala da inventio (de aí os excessos formais, a excessiva decoração etc. É uma reação face as formas planas renascentistas).  Angustia existencial depois do período de euforia das descobertas. Este período de decadência afronta-se de duas formas: Refugio na religião, no mundo do sobrenatural, razão pela que renasce o teocentrismo face ao homocentrismo renascentista. Vivência desenfreada dos prazeres, para fugir da realidade celebram- se grandes festas no paço (carpe diem, colligo virgo rosae).
  • 5.
  • 6. Factos históricos: • Término do Ciclo das Grandes Navegações; • Reforma Protestante, liderada por Lutero (na Alemanha) e Calvino (em França); • Movimento Católico de Contra-Reforma (a doutrinação pelo terror) O barroco surge assim associado: - a uma crise político-económica devido à perda do comércio do Oriente; - a uma crise de valores ocasionada pelas lutas religiosas (a Contra- Reforma que deu origem à Inquisição) Na Península Ibérica o barroco está relacionado com o silêncio cultural e a repressão praticada pela Inquisição. O homem de seiscentos vivia num estado de tensão e desequilíbrio do qual tentou evadir-se pelo culto exagerado da forma, sobrecarregando a poesia de figuras de estilo.
  • 7. Cronologia do Barroco em Portugal O Barroco em Portugal é um período que se estende desde inícios do século XVII até a primeira metade do século XVIII. • 1580 - Marco inicial – Unificação da Península Ibérica sob o domínio espanhol (perda da independência) • 1756 - Marco final – Fundação da Arcádia Lusitana considerado o início do Neoclassicismo
  • 8. Contexto histórico e cultural: O Barroco surge ligado à perda da independência (até 1640), depois do desastre de Alcácer-Quibir (em 1578). Nasce o “Mito do Sebastianismo” segundo a qual Dom Sebastião não teria realmente morrido; o povo português espera o seu regresso para transformar Portugal no Quinto Império. A corte encontrava-se fora de Lisboa – a nobreza tornou-se provinciana ao abandonar as cidades fugindo para o campo onde tenta preservar a identidade sociocultural portuguesa; descontentamento na sociedade portuguesa. Ambiente cultural e social da época impregnado de pavores pela repressão ameaçadora da censura eclesiástica (Inquisição) e civil (domínio filipino). Desenvolvimento cultural do país condicionado pelos jesuítas, sob a ação da Contra – Reforma. Ignorância e fanatismo religioso refletidos no povo.
  • 9. Persuasão face ao desequilíbrio religioso que o racionalismo cartesiano e a nova cosmovisão do mundo causava no espírito dos cristãos. Tem o intuito de despertar emoções no espectador como elementos geradores de emoções intensas A arquitetura tem, por exemplo, que atrair os fiéis, partilhar e, finalmente, arrebatá- los. Daí a necessidade do luxo, que se revela mais eficaz que a austeridade. As igrejas tornam-se o palácio dos pobres. O barroco expressa o desequilíbrio e instabilidade do homem que se sente tremendamente pequeno face ao gigantismo cósmico, daí a sua frustração. A arte barroca visava o espanto, a admiração pela obscuridade ou pouca clareza do texto, devido ao conjunto de formalismos que encobria as ideias (por vezes os textos não possuíam ideias, mas só artifícios formais) O barroco visa surpreender e aturdir o espírito à força de ornamentos e de rebuscar
  • 10. • Dualidade - contraste entre as grandes forças reguladoras da existência humana: • fé x razão; • corpo x alma; • Deus x Diabo; • vida x morte. • Desequilíbrio entre razão e emoção • Fugacidade - Tudo no mundo é passageiro e instável, as pessoas, as coisas mudam, o mundo muda. O autor barroco tem a consciência do caráter efémero da existência. • Tendência para a ilusão (fuga à realidade objetiva, subjetividade) • Pessimismo - Consciência da transitoriedade da vida conduz frequentemente à ideia de morte, tida como a expressão máxima da fugacidade da vida. A incerteza da vida e o medo da morte fazem da arte barroca uma arte pessimista, marcada por um desencantamento com o próprio homem e com o mundo.
  • 11. • Atração pelo feio - Atração por cenas trágicas, por aspetos cruéis, dolorosos e grotescos. As imagens frequentemente são deformadas pelo exagero de detalhes. Há nesse momento uma rutura com a harmonia, com o equilíbrio e a sobriedade clássica. O barroco é a arte dos contrastes, do exagero. • Tensão religiosa - Intensifica-se no Barroco, aspetos que já vinham sendo percebidos no Humanismo e no Classicismo: Antropocentrismo x Teocentrismo • Na Literatura - Predomínio de figuras como metáfora, antítese, paradoxo, hipérbole, hipérbato.
  • 12. Renascimento (séc. XVI) Barroco (séc. XVII) Época de exaltação da vida Época em que se considerava a vida Confiava-se totalmente na como um transe doloroso que termina natureza humana na morte Época de otimismo generalizado Considerava-se que o maior inimigo do Valorização da harmonia e do Homem era o próprio Homem equilíbrio A sociedade deixou-se invadir por sentimentos de pessimismo e desilusão Buscaram-se os fortes contrastes: vida/morte; realidade/aparência; luz/obscuridade, etc. RENASCIMENTO = crença no BARROCO = pessimismo e desilusão; Homem e na Natureza; otimismo, exagero; artificialidade; desconfiança no harmonia; simplicidade e beleza. homem.
  • 13. Cúpula da Igreja de Sant’Andrea della Valle, em Roma
  • 14.
  • 15. É a arte da Contra-Reforma, expressão artística que pretende atrair os fiéis e combater o Protestantismo. A arte barroca procura comover e moralizar intensamente o espectador. Ao contrário da simplicidade e serenidade do estilo renascentista, o barroco caracteriza-se pelo movimento, pelo dramatismo e pelo exagero. • É uma arte espetacular e faustosa que, nas igrejas, pretende atrair e impressionar os fiéis. • No Barroco há uma exaltação dos sentimentos, a religiosidade é expressa de forma dramática, intensa, procurando envolver emocionalmente as pessoas. • Surgiu associado às cortes absolutistas e à Contra-Reforma - Os temas mitológicos e a pintura que exaltava o direito divino dos reis (teoria defendida pela Igreja e pelo Estado Absolutista) eram frequentes. • Manifestou-se na arquitetura, na escultura, na pintura, nas artes decorativas e também na literatura, no teatro e na música.
  • 16. O BARROCO uma arte teatral As principais características da arte barroca são: Dinamismo – o artista barroco deseja criar uma sensação de movimento. Face ao predomínio da linha reta na arte renascentista, o barroco serve-se, sobretudo, da linha curva Decorativismo e sumptuosidade - o artista barroco é minuciosa na composição de pequenos detalhes, manifestando o gosto pela ornamentação Contraste – o artista barroco manifesta-se contrário ao equilíbrio e à uniformidade quinhentista. O seu ideal é acolher numa mesma composição visões distintas, e até antagónicas, do mesmo tema. predominam as emoções e não o racionalismo da arte renascentista. Teatralidade – o artista procura comover o espectador e para isso recorre a procedimentos hiper-realistas. Esta intencionalidade surge sobretudo na imaginária sacra.
  • 17. Características do barroco na Literatura:  continuidade da temática do séc. XVI: bucolismo, petrarquismo, amor platónico, etc.  permanência das características da estrutura externa das composições classicistas;  reação ao séc. XVI: reflexão moral, evasão, busca dos prazeres espirituais, futilidade de muitos temas,...  preocupação em provocar o espanto, surpreender e aturdir o espírito à força dos ornamentos, arquitetura rebuscada;  estilo rítmico e movimentado, cheio de cores poéticas: o vermelho dos rubis, da púrpura e das rosas; o verde das esmeraldas ou o azul do mar, do céu e das safiras; o branco dos lírios, das açucenas, do marfim, da prata e do cristal;  alusões e subentendidos, através das metáforas ou das antíteses...;  cultismo e conceptismo
  • 18.
  • 19. Dentro do barroco literário costumam-se considerar duas correntes: o conceptismo e o cultismo. Ambas são na verdade duas facetas do estilo barroco e visam criar complicação e artifício.
  • 20. O conceptismo: incide sobretudo no plano do pensamento, do tema, do conteúdo. Os conceptistas procuram exprimir muitas ideias, e isso leva-os à acumulação de conceitos e ao uso de palavras com duplo e triplo significado. Aparentemente a sua expressão é mais simples que a dos cultista, mas a compreensão das suas obras torna-se mais difícil. * jogo dos conceitos; * enigmas e malabarismos intelectuais; * construção mental e alegoria analógica (que correlaciona realidade e pensamento); * elegância da subtileza.
  • 21. O cultismo: preocupa-se sobretudo com a expressão. Os cultistas dão mais importância à forma externa que ao conteúdo das suas obras. Optam por um estilo rebuscado, de sintaxe difícil. As suas características mais salientes são a latinização da linguagem e o emprego intenso de metáforas e de imagens. * culto da forma e sobreposição de ornamentos; * complexidade formal e rebuscamento literário, com sacrifício da clareza do conteúdo; * riqueza vocabular e a alusão; * uso exagerado das metáfora, das hipérboles e das antíteses e paradoxos, mas também das perífrases, das hipálages, das sinédoques, das anáforas, dos trocadilhos, dos hipérbatos… * abuso de jogos de palavras, de imagens e de construções.
  • 22. OS CANCIONEIROS DO BARROCO São muito raros os autores que publicaram os seus poemas; a maioria deixou a sua obra dispersa em versões manuscritas (muitos textos perderam-se). Os textos que chegam até nós conservaram-se graças à sua edição em dois volumes que recolhem composições de diversos autores: FÉNIX RENASCIDA - publicado no século XVIII, mas também recolhe poetas de todo o século XVII - é o mais importante dos dois cancioneiros. Editada em 5 volumes mostra a poesia mais significativa da época de Seiscentos. Mostra a influência de Camões em alguns poemas líricos e também a nível épico. Continua a tradição da poesia satírica. POSTILHÃO DE APOLO – obra editada em dois volumes é um dos repertórios da poesia gongórica. No primeiro volume destacam-se muitos sonetos anónimos cuja temática se relaciona com a História Romana. No segundo volume os poemas são de índole satírica e burlesca, mas também, tétricos e morais.
  • 23. Conclusões  O estilo barroco atravessa todas as formas de arte: arquitetura, escultura, pintura, literatur a, música.  A poesia barroca é puramente lúdica: não exprime a vida, distrai da vida. Sobrepõe ao plano da realidade o plano do ideal.
  • 24. Disciplina de Português Profª: Helena Maria Coutinho