O documento fornece informações sobre o período barroco em Portugal, incluindo:
1) O barroco em Portugal se estendeu do início do século XVII até a primeira metade do século XVIII;
2) Foi influenciado pela perda da independência de Portugal após a união ibérica em 1580 e pela Contra-Reforma;
3) Caracterizou-se pela ênfase no dinamismo, decorativismo e contrastes na literatura, arquitetura e artes.
2. A origem da palavra barroco tem suscitado muitas discussões.
Segundo alguns a palavra terá tido origem no vocábulo espanhol
barrueco, um termo usado pelos joalheiros desde o século XVI, para
designar um tipo de pérola irregular e de formação defeituosa.
Assim, o termo técnico, aplicado às diferentes artes, passou a designar
tudo o que era exagerado, irregular, extravagante, de grande imperfeição
e mau gosto.
Barroco = extravagante prática literária e artística em geral, em que as
linhas puras do classicismo aparecem sobrecarregadas de enfeites, de
ornatos.
3. Etimologia da palavra Barroco:
Procede do latim verruca, palavra que se referia a uma pequena
elevação, mancha ou alteração numa superfície lisa.
Mais tarde passou a denominar uma determinada imperfeição das pedras
preciosas.
Começa-se a utilizar em França para referir-se a qualquer coisa de forma
irregular ou desigual.
Posteriormente especializa-se na arte, denominando uma arte
irregular, exuberante, estranha... É uma palavra nova, aparece com este
significado na segunda metade do século XIX (a diferença de Renascença, que já
era utilizada pelos próprios renascentistas).
4. A génese do Barroco explica-se, segundo a crítica, pelas seguintes razões:
Saturação dos valores estéticos da Renascença, o artista demanda um
certo grau de originalidade e, face à imitatio, a crítica fala da inventio (de
aí os excessos formais, a excessiva decoração etc. É uma reação face as
formas planas renascentistas).
Angustia existencial depois do período de euforia das descobertas. Este
período de decadência afronta-se de duas formas:
Refugio na religião, no mundo do sobrenatural, razão pela que
renasce o teocentrismo face ao homocentrismo renascentista.
Vivência desenfreada dos prazeres, para fugir da realidade celebram-
se grandes festas no paço (carpe diem, colligo virgo rosae).
5.
6. Factos históricos:
• Término do Ciclo das Grandes Navegações;
• Reforma Protestante, liderada por Lutero (na Alemanha) e Calvino (em França);
• Movimento Católico de Contra-Reforma (a doutrinação pelo terror)
O barroco surge assim associado:
- a uma crise político-económica devido à perda do comércio do Oriente;
- a uma crise de valores ocasionada pelas lutas religiosas (a Contra- Reforma
que deu origem à Inquisição)
Na Península Ibérica o barroco está relacionado com o silêncio cultural e a repressão
praticada pela Inquisição.
O homem de seiscentos vivia num estado de tensão e desequilíbrio do qual tentou
evadir-se pelo culto exagerado da forma, sobrecarregando a poesia de figuras de
estilo.
7. Cronologia do Barroco em Portugal
O Barroco em Portugal é um período que se estende desde inícios do
século XVII até a primeira metade do século XVIII.
• 1580 - Marco inicial – Unificação da Península Ibérica sob o domínio
espanhol (perda da independência)
• 1756 - Marco final – Fundação da Arcádia Lusitana considerado o
início do Neoclassicismo
8. Contexto histórico e cultural:
O Barroco surge ligado à perda da independência (até 1640), depois do desastre de
Alcácer-Quibir (em 1578). Nasce o “Mito do Sebastianismo” segundo a qual Dom
Sebastião não teria realmente morrido; o povo português espera o seu regresso para
transformar Portugal no Quinto Império.
A corte encontrava-se fora de Lisboa – a nobreza tornou-se provinciana ao abandonar as
cidades fugindo para o campo onde tenta preservar a identidade sociocultural
portuguesa; descontentamento na sociedade portuguesa.
Ambiente cultural e social da época impregnado de pavores pela repressão ameaçadora
da censura eclesiástica (Inquisição) e civil (domínio filipino).
Desenvolvimento cultural do país condicionado pelos jesuítas, sob a ação da Contra –
Reforma.
Ignorância e fanatismo religioso refletidos no povo.
9. Persuasão face ao desequilíbrio religioso que o racionalismo cartesiano e a nova
cosmovisão do mundo causava no espírito dos cristãos.
Tem o intuito de despertar emoções no espectador como elementos geradores de
emoções intensas
A arquitetura tem, por exemplo, que atrair os fiéis, partilhar e, finalmente, arrebatá-
los. Daí a necessidade do luxo, que se revela mais eficaz que a austeridade. As
igrejas tornam-se o palácio dos pobres.
O barroco expressa o desequilíbrio e instabilidade do homem que se sente
tremendamente pequeno face ao gigantismo cósmico, daí a sua frustração.
A arte barroca visava o espanto, a admiração pela obscuridade ou pouca clareza do
texto, devido ao conjunto de formalismos que encobria as ideias (por vezes os
textos não possuíam ideias, mas só artifícios formais)
O barroco visa surpreender e aturdir o espírito à força de ornamentos e de rebuscar
10. • Dualidade - contraste entre as grandes forças reguladoras da existência humana:
• fé x razão;
• corpo x alma;
• Deus x Diabo;
• vida x morte.
• Desequilíbrio entre razão e emoção
• Fugacidade - Tudo no mundo é passageiro e instável, as pessoas, as coisas mudam, o
mundo muda. O autor barroco tem a consciência do caráter efémero da existência.
• Tendência para a ilusão (fuga à realidade objetiva, subjetividade)
• Pessimismo - Consciência da transitoriedade da vida conduz frequentemente à ideia
de morte, tida como a expressão máxima da fugacidade da vida. A incerteza da vida e o
medo da morte fazem da arte barroca uma arte pessimista, marcada por um
desencantamento com o próprio homem e com o mundo.
11. • Atração pelo feio - Atração por cenas trágicas, por aspetos cruéis, dolorosos e
grotescos. As imagens frequentemente são deformadas pelo exagero de detalhes. Há
nesse momento uma rutura com a harmonia, com o equilíbrio e a sobriedade clássica.
O barroco é a arte dos contrastes, do exagero.
• Tensão religiosa - Intensifica-se no Barroco, aspetos que já vinham sendo percebidos
no Humanismo e no Classicismo:
Antropocentrismo x Teocentrismo
• Na Literatura - Predomínio de figuras como
metáfora, antítese, paradoxo, hipérbole, hipérbato.
12. Renascimento (séc. XVI) Barroco (séc. XVII)
Época de exaltação da vida Época em que se considerava a vida
Confiava-se totalmente na como um transe doloroso que termina
natureza humana na morte
Época de otimismo generalizado Considerava-se que o maior inimigo do
Valorização da harmonia e do Homem era o próprio Homem
equilíbrio A sociedade deixou-se invadir por
sentimentos de pessimismo e desilusão
Buscaram-se os fortes contrastes:
vida/morte; realidade/aparência;
luz/obscuridade, etc.
RENASCIMENTO = crença no BARROCO = pessimismo e desilusão;
Homem e na Natureza; otimismo, exagero; artificialidade; desconfiança no
harmonia; simplicidade e beleza. homem.
15. É a arte da Contra-Reforma, expressão artística que pretende atrair os fiéis e
combater o Protestantismo. A arte barroca procura comover e moralizar
intensamente o espectador.
Ao contrário da simplicidade e serenidade do estilo renascentista, o barroco
caracteriza-se pelo movimento, pelo dramatismo e pelo exagero.
• É uma arte espetacular e faustosa que, nas igrejas, pretende atrair e
impressionar os fiéis.
• No Barroco há uma exaltação dos sentimentos, a religiosidade é expressa de
forma dramática, intensa, procurando envolver emocionalmente as pessoas.
• Surgiu associado às cortes absolutistas e à Contra-Reforma - Os temas
mitológicos e a pintura que exaltava o direito divino dos reis (teoria defendida
pela Igreja e pelo Estado Absolutista) eram frequentes.
• Manifestou-se na arquitetura, na escultura, na pintura, nas artes decorativas
e também na literatura, no teatro e na música.
16. O BARROCO uma arte teatral
As principais características da arte barroca são:
Dinamismo – o artista barroco deseja criar uma sensação de movimento. Face ao
predomínio da linha reta na arte renascentista, o barroco serve-se, sobretudo, da
linha curva
Decorativismo e sumptuosidade - o artista barroco é minuciosa na composição de
pequenos detalhes, manifestando o gosto pela ornamentação
Contraste – o artista barroco manifesta-se contrário ao equilíbrio e à uniformidade
quinhentista. O seu ideal é acolher numa mesma composição visões distintas, e até
antagónicas, do mesmo tema. predominam as emoções e não o racionalismo da
arte renascentista.
Teatralidade – o artista procura comover o espectador e para isso recorre a
procedimentos hiper-realistas. Esta intencionalidade surge sobretudo na imaginária
sacra.
17. Características do barroco na Literatura:
continuidade da temática do séc. XVI: bucolismo, petrarquismo, amor
platónico, etc.
permanência das características da estrutura externa das composições
classicistas;
reação ao séc. XVI: reflexão moral, evasão, busca dos prazeres
espirituais, futilidade de muitos temas,...
preocupação em provocar o espanto, surpreender e aturdir o espírito à força dos
ornamentos, arquitetura rebuscada;
estilo rítmico e movimentado, cheio de cores poéticas: o vermelho dos rubis, da
púrpura e das rosas; o verde das esmeraldas ou o azul do mar, do céu e das
safiras; o branco dos lírios, das açucenas, do marfim, da prata e do cristal;
alusões e subentendidos, através das metáforas ou das antíteses...;
cultismo e conceptismo
18.
19. Dentro do barroco literário costumam-se considerar duas correntes: o
conceptismo e o cultismo. Ambas são na verdade duas facetas do
estilo barroco e visam criar complicação e artifício.
20. O conceptismo: incide sobretudo no plano do pensamento, do tema, do conteúdo.
Os conceptistas procuram exprimir muitas ideias, e isso leva-os à acumulação de
conceitos e ao uso de palavras com duplo e triplo significado.
Aparentemente a sua expressão é mais simples que a dos cultista, mas a
compreensão das suas obras torna-se mais difícil.
* jogo dos conceitos;
* enigmas e malabarismos intelectuais;
* construção mental e alegoria analógica (que correlaciona realidade e
pensamento);
* elegância da subtileza.
21. O cultismo: preocupa-se sobretudo com a expressão. Os cultistas dão mais
importância à forma externa que ao conteúdo das suas obras. Optam por um estilo
rebuscado, de sintaxe difícil. As suas características mais salientes são a latinização da
linguagem e o emprego intenso de metáforas e de imagens.
* culto da forma e sobreposição de ornamentos;
* complexidade formal e rebuscamento literário, com sacrifício da clareza do
conteúdo;
* riqueza vocabular e a alusão;
* uso exagerado das metáfora, das hipérboles e das antíteses e paradoxos, mas
também das perífrases, das hipálages, das sinédoques, das anáforas, dos
trocadilhos, dos hipérbatos…
* abuso de jogos de palavras, de imagens e de construções.
22. OS CANCIONEIROS DO BARROCO
São muito raros os autores que publicaram os seus poemas; a maioria deixou a
sua obra dispersa em versões manuscritas (muitos textos perderam-se). Os
textos que chegam até nós conservaram-se graças à sua edição em dois volumes
que recolhem composições de diversos autores:
FÉNIX RENASCIDA - publicado no século XVIII, mas também recolhe poetas de
todo o século XVII - é o mais importante dos dois cancioneiros. Editada em 5
volumes mostra a poesia mais significativa da época de Seiscentos. Mostra a
influência de Camões em alguns poemas líricos e também a nível épico. Continua a
tradição da poesia satírica.
POSTILHÃO DE APOLO – obra editada em dois volumes é
um dos repertórios da poesia gongórica. No primeiro
volume destacam-se muitos sonetos anónimos cuja
temática se relaciona com a História Romana.
No segundo volume os poemas são de índole satírica e
burlesca, mas também, tétricos e morais.
23. Conclusões
O estilo barroco atravessa todas as
formas de arte:
arquitetura, escultura, pintura, literatur
a, música.
A poesia barroca é puramente lúdica:
não exprime a vida, distrai da vida.
Sobrepõe ao plano da realidade o plano
do ideal.