1. Uso prático de tecnologias: uma
solução absoluta para o ensino, ou
algo a ser criticado?
CLEYTON TORRES BRILHANTE DA SILVA, TECNÓFOBO.
2. UMA REVISÃO DE ARGUMENTOS A FAVOR DO USO DE COMPUTADORES NA
EDUCAÇÃO ELEMENTAR -Valdemar W.Setzer -Depto. de Ciência da Computação,
Instituto de Matemática e Estatística da USP
É uma grande falácia que crianças e jovens têm que aprender a usar
computadores agora pois caso contrário eles ficarão para trás em sua
futura busca por empregos profissionais.
Devemos considerar aqui dois casos: eles são usados na escola, e aí
não há necessidade de instalá-los em casa, ou eles não são usados na
escola. Nesse caso, é necessário considerar se professores estão
exigindo algo que somente alunos que têm computador em casa
podem fazer, por exemplo entregar uma composição
necessariamente impressa em um editor de textos, ou procurar
alguma informação através da Internet. Nestes e em casos
semelhantes, o professor deveria ser advertido de que não é justo
descriminar estudantes que não podem ter acesso a um computador.
3. Uma das razões de computadores parecerem excelentes ferramentas para
aprendizado é a atração que eles exercem em crianças e adolescentes. Mas se
formos a fundo nesse fenômeno, é possível detectar que essa atração é devida a
duas razões principais: o que chamamos de efeitos "cosmético" e de "joguinho
eletrônico". No primeiro caso, os usuários são atraídos pelos efeitos "multi-
media", tais como figuras fascinantes, som e animação. No segundo, por uma
excitação semelhante à sentida quando se joga um video-game: o cenário é
perfeita e matematicamente bem definido, e o usuário sente o poder de domínio
completo sobre a máquina.
É absolutamente anti-natural para uma criança sentar numa cadeira por longos
períodos de tempo, se a criança não tem possibilidade de imaginar ou fantasiar
interiormente (o que aconteceria se ela ouvisse um conto de fadas, por
exemplo).
4. "Ilha é um pedaço de terra cercado de água por todos os lados." Essa é
uma definição formal, e como tal totalmente sem vida, quase não
deixando espaço para imaginação.A abstração excessiva em atividades
de aprendizado fazem com a que as criança e jovens detestem a escola.
É impossível eles identificarem-se com o que estão aprendendo, pois em
geral não tem nada a ver com a realidade de sua vida e com o seu ser
integral - tudo é praticamente dirigido para o intelecto, como o exemplo
da definição de ilha.
Um dos argumentos em favor do uso de computadores em educação é a
sua aplicação na Internet, tornando possível aos estudantes a troca de
correspondência rápida com pessoas e estudantes em países
estrangeiros. Consideramos essa aplicação como positiva, mas ela
requer uma boa dose de maturidade por parte do aluno.
5. Em outras palavras, quando fornecemos comandos a qualquer software somos
forçados a pensar de tal modo, que os pensamentos possam ser introduzidos na
máquina. Em particular, qualquer programa é programado dessa maneira.
Denominamos esse tipo de pensamento de "Pensamento Maquinal". Quando se o
exerce, reduz-se o espaço mental àquele definido e aceito pela máquina. Obviamente,
isso tem uma influência na maneira como a pessoa pensa, pois os seres humanos
incorporam todas as vivências. O ser humano é um todo, e qualquer atividade que
apela unilateralmente apenas a uma de suas partes, tal como o pensamento intelectual
abstrato, afeta as outras partes. Devemos esperar até que o jovem tenha desenvolvido
suas habilidades e capacidades mentais para forçar as abstrações e o auto-controle
requeridos por qualquer uso de computadores.
6. OS COMPUTADORES E A EDUCAÇÃO. - ASPECTOS GERAIS
A. S. ALVES -Conferência pronunciada na Esc. Sec. da Quinta das Flores (Coimbra)
durante uma tarde de Matemática da SPM.
Doutra forma, é a ideologia que dirige, são as frases desconexas repetidas sem crítica, mas
repetidas tantas vezes que acabam por se tornar aceites colectivamente.
Uma dessas "verdades", que tem actualmente honra de telenovela é: "... que o futuro está nos
computadores !..." É um típico enunciado ideológico: relaciona as noções vagas de "futuro" e
"computadores", através de um verbo inadequado. Cada um atribui a esta frase o significado que
mais lhe convém.
Na ausência de uma orientação, que uso lhes darão os jovens ? Em primeiro lugar, jogar.
Possivelmente, acabarão por fazer pequenos programas, ou praticar jogos que lhes exijam
conhecimentos de programação. Não discuto aqui se os jogos são bons ou maus; as opiniões
divergem. Serão nocivos se afastarem o jovem, em pleno desenvolvimento, do exercício
físico contribuindo assim para aumentar a percentagem de ombros descaídos.
7. Na ausência de uma orientação, que uso lhes darão os jovens ? Em primeiro lugar, jogar.
Possivelmente, acabarão por fazer pequenos programas, ou praticar jogos que lhes exijam
conhecimentos de programação. Não discuto aqui se os jogos são bons ou maus; as opiniões
divergem. Serão nocivos se afastarem o jovem, em pleno desenvolvimento, do exercício
físico contribuindo assim para aumentar a percentagem de ombros descaídos.
Decerto que a opinião pública influencia a Educação, mas apenas nos aspectos mais
aparentes. É que nenhum país, por mais democrático que seja, é governado pela massa.
Moldando esta, existe uma elite que também tem crenças irracionais. E, condicionando tudo,
está a inexorável economia.
Para quem sonhe em moldar um país segundo um qualquer critério de perfeição, esta situação
cria uma dificuldade. Para alguns, talvez poucos mas poderosos, o ideal está num centro
dirigido por um pequeno núcleo de perl&itos e que fariam chegar a sua mensagem às mais
distantes regiões. Para isso, o computador representaria a perfeição se fosse possível tornar o
professor num simples monitor. Tanto quanto sei , ainda estamos muito longe disso mas, para
alguns, enquanto há vida, há esperança...
8. Não vamos contudo ao extremo de pensar que toda a gente que está envolvida em
computadores no ensino alimenta este projecto sinistro. Mesmo no que respeita às mais
altas instâncias da Educação Nacional. Normalmente, estas ideias nascem em centros
restritos internacionais e, depois, espalham-se livremente ou artificialmente numa forma
que pode diferir ou, mesmo, contradizer a original.
O professor é que precisa de estar atento às diversas propostas para utilização do
computador. Eventualmente, criticar ou rejeitar aquelas que pareçam contraproducentes,
Será bom insistir no facto de que é o professor o eixo da Educação, é o professor que pode
avaliar a forma como trabalhar com uma turma, o ritmo a impor, as revisões a fazer, os
meios auxiliares a recorrer. O computador é um destes meios e não o centro do processo.
Mas, se o professor desconhece a máquina, corre o risco de oscilar entre uma admiração
beata e uma rejeição irracional.