SlideShare uma empresa Scribd logo
O ADAMASTOR
Canto V, 37-60
Gigante Adamastor
(CANTO V, 37-60)
As naus portuguesas navegavam há cinco dias, estando junto do Cabo das Tormentas (futuro Cabo da Boa Esperança) quando
subitamente aparece, perante o espanto dos marinheiros uma nuvem escura e imensa, que escondia o céu; o mar bramia e agitava-se,
pressagiando uma ameaça terrível.
Desenha-se a imensa figura do Adamastor, gigante de aspecto horrendo e irado. O Poeta compara-o ao colosso de Rodes, não se
poupando a adjectivos para a sua descrição. O monstro interpela os marinheiros aterrorizados, reduzidos pela sua presença
avassaladora à dimensão de seres frágeis e indefesos. Censura-lhes a ambição, a constante procura do novo, a ousadia de invadirem
domínios que jamais tinham sido atravessados.
Vasco da Gama enfrentando o próprio medo, ergue-se e frente àquela grandíssima estatura (59.5), ousa perguntar: Quem és tu?
(49.3).O poeta mostra, com estes efeitos cenográficos e intensamente dramáticos, a sua concepção de valentia: herói não é aquele
que não teme, mas o que supera o temor.
O gigante, irritado, profetiza a sua terrível vingança para os portugueses que ousarem por ali passar no futuro. Os segredos do
mar nunca tinham sido a nenhum grande humano concedidos (42.3), e nem a coragem reconhecida do povo luso poderá alterar essa
lei. Vasco da Gama fica a saber quais serão os destinos fatais de Pedro Álvares Cabral, Bartolomeu Dias, D. Francisco de Almeida e
Manuel de Sousa Sepúlveda, com sua mulher e filhos, que irão morrer naquele local, a que D. João II dá o nome de Cabo da Boa
Esperança.
Mas, diante da pergunta de Vasco da Gama, o Gigante muda o seu discurso. Explica que ele é o próprio Cabo Tormentoso,
castigo que os deuses lhe deram pela sua paixão por Tétis, que o despreza. A cólera das suas primeiras palavras termina em lágrimas
de dor. A nuvem negra desfaz-se, depois desta confidência.
O Adamastor condensa em si todos os medos que suscitava o Mar Tenebroso, com o imaginário domínio de forças sobrenaturais
e maléficas. Mais um obstáculo vencido, à custa da coragem e inteligência de alguns Portugueses.
ADAMASTOR
Significado/Simbolismo do episódio
Geograficamente simboliza o Cabo das Tormentas, posteriormente chamado da Boa Esperança.
Mitologicamente representa o Gigante apaixonado pela deusa Tétis, transformado em promontório
pelos deuses, que não toleram ousadias; símbolo da frustração amorosa.
Caraterísticas físicas: enorme estatura, aspeto disforme, barba imunda, olhos encovados, cabelos
cheios de terra, boca negra, os dentes amarelos e a sua voz parece sair do mar profundo.
Simbolicamente é a personificação das dificuldades e dos perigos que os portugueses tiveram de
enfrentar e vencer. No dizer de Amélia Pinto Pais, este episódio "é uma espécie de abóbada
arquitectónica do Poema, em que vêm concentrar-se as grandes linhas da epopeia: o real-
maravilhoso (...); a existência de profecias (...); é igualmente um episódio lírico (...); por outro
lado, é igualmente um episódio trágico (...). É sobretudo um episódio épico, em que se consolida
a vitória do homem, "bicho da terra", sobre uma natureza poderosa."
ADAMASTOR
Evolução dos comportamentos destas duas personagens
... do Gigante ... de Vasco da Gama
1 - mostra-se rancoroso, vingativo,
ameaçador;
1 - amedrontado: "arrepiam-se as carnes e o
cabelo";
2 - dor profunda, raiva, desespero; humaniza-
se, reconhece a sua derrota;
2 - sem medo, de cabeça erguida (Alçado), num
tom de igual para igual, quase de desafio;
3 - desaparecimento. 3 - atitude de fé: no momento em que o Gigante,
a chorar, desaparece, o Gama pede a Deus que
"removesse os duros/Casos que Adamastor
contou futuros."
A evolução dos comportamentos é oposta.
ADAMASTOR
DIVISÃO EM PARTES LÓGICAS
1. Introdução – Preparação do ambiente para o aparecimento do gigante (estrofes 37 e 38)
Depois de cinco dias claros (“cinco sóis”), surge uma nuvem negra "tão temerosa vinha e carregada" que põe “nos corações um
grande medo” e leva Vasco da Gama a interpelar o próprio Deus todo-poderoso.
2. Aparição do gigante: retrato físico e traços morais (estrofes 39-40)
A caracterização é feita sobretudo através da adjectivação sugestiva e abundante a mostrar a imponência, o terror e a estupefacção
de Vasco da Gama e dos seus companheiros (“Arrepiam-se as carnes e o cabelo/A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo!”).
3. Discurso do gigante (estrofes 41-48)
A primeira parte do discurso é de carácter profético e ameaçador e nele Adamastor, num tom de voz “horrendo e grosso”,
anuncia os castigos e os danos por si reservados para aquela "gente ousada" que invadira os seus domínios: Bartolomeu Dias; D.
Francisco de Almeida (primeiro Vice-rei da Índia), o naufrágio e morte da família Sepúlveda e, em geral, a todas as naus
portuguesas que terão sempre “inimiga esta paragem”.
4. Interpelação do Gama (estrofe 49)
Incomodado com as profecias, Vasco da Gama interroga o monstro sobre a sua identidade. É essa questão tão simples que promove
a profunda viragem do seu discurso, fazendo-o recordar a frustração amorosa passada e meditar na sua actual condição de solitário
e petrificado.
5. Discurso do gigante - continuação
A segunda parte do discurso do gigante (estrofes 50-59) é de carácter autobiográfico e o tom é elegíaco (“com voz pesada e
amara”) e disfórico, pois assistimos à evocação do seu passado amoroso infeliz.
6. Epílogo (estrofe 60)
Dá-se o súbito desaparecimento do Gigante, agora choroso pela evocação do seu passado triste e levando consigo a nuvem negra
e o “sonoro bramido” do mar com que aparecera.
Vasco da Gama pede a Deus que remova "os duros casos que Adamastor contou futuros".
ADAMASTOR
DIVISÃO EM PARTES LÓGICAS
ESQUEMA-SÍNTESE
ESTROFES PARTES CONTEÚDO
37-38 1. Preparação do ambiente · «Uma nuvem que os ares escurece», «temerosa» e «carregada»
· «Bramindo, o negro mar de longe brada»
39-40 2. Retrato do gigante · Figura colossal
· Medo
41-48 3. Discurso do Adamastor (1ª parte) · Ameaças /
· Elogio
sobre a «gente ousada»
49 4. Interpelação de Vasco da Gama · Pedido de identificação
· Espanto e sangue-frio
50-59 5. Discurso do Adamastor (2ª parte) · Humanização / frustração amorosa
60 6. Epílogo · Choro e desaparecimento do gigante

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Invocação e Dedicarória
Invocação e DedicaróriaInvocação e Dedicarória
Invocação e Dedicarória
Paula Oliveira Cruz
 
Proposição
ProposiçãoProposição
Proposição
Paula Oliveira Cruz
 
Viriato
ViriatoViriato
Viriato
ElisaCosta44
 
Frei Luís de Sousa, síntese
Frei Luís de Sousa, sínteseFrei Luís de Sousa, síntese
Frei Luís de Sousa, síntese
Maria Teresa Soveral
 
Os Lusíadas - Canto V - O Gigante Adamastor
Os Lusíadas -  Canto V - O Gigante AdamastorOs Lusíadas -  Canto V - O Gigante Adamastor
Os Lusíadas - Canto V - O Gigante Adamastor
Maria Inês de Souza Vitorino Justino
 
Aquela triste e leda madrugada
Aquela triste e leda madrugadaAquela triste e leda madrugada
Aquela triste e leda madrugada
Helena Coutinho
 
Canto vii est 78_97
Canto vii est 78_97Canto vii est 78_97
Canto vii est 78_97
Maria Teresa Soveral
 
Análise do episódio "Consílio dos deuses"
Análise do episódio "Consílio dos deuses"Análise do episódio "Consílio dos deuses"
Análise do episódio "Consílio dos deuses"
Inês Moreira
 
Tétis e a ilha dos amores
Tétis e a ilha dos amoresTétis e a ilha dos amores
Tétis e a ilha dos amores
Bruno Neves
 
Despedidas em Belém e Velho do Restelo
Despedidas em Belém e Velho do ResteloDespedidas em Belém e Velho do Restelo
Despedidas em Belém e Velho do Restelo
sin3stesia
 
Análise do canto ix
Análise do canto ixAnálise do canto ix
Análise do canto ix
Karyn XP
 
Lusiadas Figurasdeestilo
Lusiadas FigurasdeestiloLusiadas Figurasdeestilo
Lusiadas Figurasdeestilo
André Cerqueira
 
Dedicatória
DedicatóriaDedicatória
Dedicatória
Maria Teresa Soveral
 
Estrutura do sermão de sto antónio aos peixes
Estrutura do sermão de sto antónio aos peixesEstrutura do sermão de sto antónio aos peixes
Estrutura do sermão de sto antónio aos peixes
beonline5
 
Lírica de Luís de Camões
Lírica de Luís de Camões Lírica de Luís de Camões
Lírica de Luís de Camões
Lurdes Augusto
 
Os lusíadas tempestade - Português 9º ano
Os lusíadas tempestade - Português 9º anoOs lusíadas tempestade - Português 9º ano
Os lusíadas tempestade - Português 9º ano
Gabriel Lima
 
Consílio dos deuses
Consílio dos deusesConsílio dos deuses
Consílio dos deuses
Lurdes
 
Gigante adamastor
Gigante adamastorGigante adamastor
Gigante adamastor
armindaalmeida
 
Mitologia n' "Os Lusíadas"
Mitologia n' "Os Lusíadas"Mitologia n' "Os Lusíadas"
Mitologia n' "Os Lusíadas"
pauloprofport
 
Análise do Poema - A Última Nau
Análise do Poema - A Última NauAnálise do Poema - A Última Nau
Análise do Poema - A Última Nau
Maria Freitas
 

Mais procurados (20)

Invocação e Dedicarória
Invocação e DedicaróriaInvocação e Dedicarória
Invocação e Dedicarória
 
Proposição
ProposiçãoProposição
Proposição
 
Viriato
ViriatoViriato
Viriato
 
Frei Luís de Sousa, síntese
Frei Luís de Sousa, sínteseFrei Luís de Sousa, síntese
Frei Luís de Sousa, síntese
 
Os Lusíadas - Canto V - O Gigante Adamastor
Os Lusíadas -  Canto V - O Gigante AdamastorOs Lusíadas -  Canto V - O Gigante Adamastor
Os Lusíadas - Canto V - O Gigante Adamastor
 
Aquela triste e leda madrugada
Aquela triste e leda madrugadaAquela triste e leda madrugada
Aquela triste e leda madrugada
 
Canto vii est 78_97
Canto vii est 78_97Canto vii est 78_97
Canto vii est 78_97
 
Análise do episódio "Consílio dos deuses"
Análise do episódio "Consílio dos deuses"Análise do episódio "Consílio dos deuses"
Análise do episódio "Consílio dos deuses"
 
Tétis e a ilha dos amores
Tétis e a ilha dos amoresTétis e a ilha dos amores
Tétis e a ilha dos amores
 
Despedidas em Belém e Velho do Restelo
Despedidas em Belém e Velho do ResteloDespedidas em Belém e Velho do Restelo
Despedidas em Belém e Velho do Restelo
 
Análise do canto ix
Análise do canto ixAnálise do canto ix
Análise do canto ix
 
Lusiadas Figurasdeestilo
Lusiadas FigurasdeestiloLusiadas Figurasdeestilo
Lusiadas Figurasdeestilo
 
Dedicatória
DedicatóriaDedicatória
Dedicatória
 
Estrutura do sermão de sto antónio aos peixes
Estrutura do sermão de sto antónio aos peixesEstrutura do sermão de sto antónio aos peixes
Estrutura do sermão de sto antónio aos peixes
 
Lírica de Luís de Camões
Lírica de Luís de Camões Lírica de Luís de Camões
Lírica de Luís de Camões
 
Os lusíadas tempestade - Português 9º ano
Os lusíadas tempestade - Português 9º anoOs lusíadas tempestade - Português 9º ano
Os lusíadas tempestade - Português 9º ano
 
Consílio dos deuses
Consílio dos deusesConsílio dos deuses
Consílio dos deuses
 
Gigante adamastor
Gigante adamastorGigante adamastor
Gigante adamastor
 
Mitologia n' "Os Lusíadas"
Mitologia n' "Os Lusíadas"Mitologia n' "Os Lusíadas"
Mitologia n' "Os Lusíadas"
 
Análise do Poema - A Última Nau
Análise do Poema - A Última NauAnálise do Poema - A Última Nau
Análise do Poema - A Última Nau
 

Destaque

O gigante adamastor
O gigante adamastorO gigante adamastor
O gigante adamastor
annapaulasilva
 
Os lusiadas - camões
Os lusiadas - camõesOs lusiadas - camões
Os lusiadas - camões
julykathy
 
Entrevista ao gigante adamastor
Entrevista ao gigante adamastorEntrevista ao gigante adamastor
Entrevista ao gigante adamastor
dsa97
 
Relatorio auto avaliacao_filipe pires
Relatorio auto avaliacao_filipe piresRelatorio auto avaliacao_filipe pires
Relatorio auto avaliacao_filipe pires
Escola Básica e Secundária Professor Reynaldo dos Santos
 
Teste Matematica
Teste MatematicaTeste Matematica
Teste Matematica
Aldo
 
o-gigante-adamastor
 o-gigante-adamastor o-gigante-adamastor
o-gigante-adamastor
Claudia Lazarini
 
Diapositivos os lusíadas
Diapositivos os lusíadasDiapositivos os lusíadas
Diapositivos os lusíadas
mariatpina
 
Adamastor
AdamastorAdamastor
Adamastor
Vanda Marques
 
Apresenta Siem
Apresenta SiemApresenta Siem
Apresenta Siem
guesta606d9
 
Apresentação para décimo segundo ano de 2013 4, aula 140-141
Apresentação para décimo segundo ano de 2013 4, aula 140-141Apresentação para décimo segundo ano de 2013 4, aula 140-141
Apresentação para décimo segundo ano de 2013 4, aula 140-141
luisprista
 
Os Planos d'Os Lusíadas
Os Planos d'Os LusíadasOs Planos d'Os Lusíadas
Os Planos d'Os Lusíadas
Rosalina Simão Nunes
 
Despedidas em belém
Despedidas em belémDespedidas em belém
Despedidas em belém
Vanda Marques
 
Os Lusíadas - Reflexões do Poeta
Os Lusíadas - Reflexões do PoetaOs Lusíadas - Reflexões do Poeta
Os Lusíadas - Reflexões do Poeta
Dina Baptista
 
Análise de Os Lusíadas
Análise de Os Lusíadas Análise de Os Lusíadas
Análise de Os Lusíadas
Lurdes Augusto
 

Destaque (14)

O gigante adamastor
O gigante adamastorO gigante adamastor
O gigante adamastor
 
Os lusiadas - camões
Os lusiadas - camõesOs lusiadas - camões
Os lusiadas - camões
 
Entrevista ao gigante adamastor
Entrevista ao gigante adamastorEntrevista ao gigante adamastor
Entrevista ao gigante adamastor
 
Relatorio auto avaliacao_filipe pires
Relatorio auto avaliacao_filipe piresRelatorio auto avaliacao_filipe pires
Relatorio auto avaliacao_filipe pires
 
Teste Matematica
Teste MatematicaTeste Matematica
Teste Matematica
 
o-gigante-adamastor
 o-gigante-adamastor o-gigante-adamastor
o-gigante-adamastor
 
Diapositivos os lusíadas
Diapositivos os lusíadasDiapositivos os lusíadas
Diapositivos os lusíadas
 
Adamastor
AdamastorAdamastor
Adamastor
 
Apresenta Siem
Apresenta SiemApresenta Siem
Apresenta Siem
 
Apresentação para décimo segundo ano de 2013 4, aula 140-141
Apresentação para décimo segundo ano de 2013 4, aula 140-141Apresentação para décimo segundo ano de 2013 4, aula 140-141
Apresentação para décimo segundo ano de 2013 4, aula 140-141
 
Os Planos d'Os Lusíadas
Os Planos d'Os LusíadasOs Planos d'Os Lusíadas
Os Planos d'Os Lusíadas
 
Despedidas em belém
Despedidas em belémDespedidas em belém
Despedidas em belém
 
Os Lusíadas - Reflexões do Poeta
Os Lusíadas - Reflexões do PoetaOs Lusíadas - Reflexões do Poeta
Os Lusíadas - Reflexões do Poeta
 
Análise de Os Lusíadas
Análise de Os Lusíadas Análise de Os Lusíadas
Análise de Os Lusíadas
 

Semelhante a Adamastor

Análise_Adamastor.pptx
Análise_Adamastor.pptxAnálise_Adamastor.pptx
Análise_Adamastor.pptx
Carmen Carvalho
 
O adamastor
O adamastorO adamastor
O adamastor
annapaulasilva
 
O adamastor
O adamastorO adamastor
O adamastor
annapaulasilva
 
O adamastor
O adamastorO adamastor
O adamastor
annapasilva
 
Caderno informativo sobre os lusiadas_fichaapoio.pdf
Caderno informativo sobre os lusiadas_fichaapoio.pdfCaderno informativo sobre os lusiadas_fichaapoio.pdf
Caderno informativo sobre os lusiadas_fichaapoio.pdf
Paula Duarte
 
Análise comparativa - Mostrengo e Adamastor
Análise comparativa - Mostrengo e AdamastorAnálise comparativa - Mostrengo e Adamastor
Análise comparativa - Mostrengo e Adamastor
Marisa Ferreira
 
2 os lusiadas_resumos_episodios.docx
2 os lusiadas_resumos_episodios.docx2 os lusiadas_resumos_episodios.docx
2 os lusiadas_resumos_episodios.docx
MargaridaMendona10
 
O Adamastor é uma figura muito importante na história do nosso país.docx
O Adamastor é uma figura muito importante na história do nosso país.docxO Adamastor é uma figura muito importante na história do nosso país.docx
O Adamastor é uma figura muito importante na história do nosso país.docx
leniafilipe
 
ADAMASTOR - CANTO V.docx
ADAMASTOR - CANTO V.docxADAMASTOR - CANTO V.docx
ADAMASTOR - CANTO V.docx
RitaMag2
 
Tempestade e Chegada à Índia
Tempestade e Chegada à ÍndiaTempestade e Chegada à Índia
Tempestade e Chegada à Índia
sin3stesia
 
Luís vaz de camões (1524 – 1580
Luís vaz de camões (1524 – 1580Luís vaz de camões (1524 – 1580
Luís vaz de camões (1524 – 1580
Amanda Assenza Fratucci
 
Camões
CamõesCamões
Textos expositivos do "Adamastor" e "Tempestade" Lusíadas
Textos expositivos do "Adamastor" e "Tempestade" Lusíadas Textos expositivos do "Adamastor" e "Tempestade" Lusíadas
Textos expositivos do "Adamastor" e "Tempestade" Lusíadas
anaferreirapc8
 
Bocage
BocageBocage
Gramaticaelusiadas
GramaticaelusiadasGramaticaelusiadas
Gramaticaelusiadas
claudiapinto7a
 
Iracema
IracemaIracema
Iracema
gueste624265
 
Apresentação para décimo segundo ano de 2016 7, aula 123
Apresentação para décimo segundo ano de 2016 7, aula 123Apresentação para décimo segundo ano de 2016 7, aula 123
Apresentação para décimo segundo ano de 2016 7, aula 123
luisprista
 
Recursos expressivos
Recursos expressivosRecursos expressivos
Recursos expressivos
becastanheiradepera
 
Iracema - José de Alencar
Iracema - José de AlencarIracema - José de Alencar
Iracema - José de Alencar
vestibular
 
Apresentação para décimo primeiro ano de 2015 6, aula 67-68
Apresentação para décimo primeiro ano de 2015 6, aula 67-68Apresentação para décimo primeiro ano de 2015 6, aula 67-68
Apresentação para décimo primeiro ano de 2015 6, aula 67-68
luisprista
 

Semelhante a Adamastor (20)

Análise_Adamastor.pptx
Análise_Adamastor.pptxAnálise_Adamastor.pptx
Análise_Adamastor.pptx
 
O adamastor
O adamastorO adamastor
O adamastor
 
O adamastor
O adamastorO adamastor
O adamastor
 
O adamastor
O adamastorO adamastor
O adamastor
 
Caderno informativo sobre os lusiadas_fichaapoio.pdf
Caderno informativo sobre os lusiadas_fichaapoio.pdfCaderno informativo sobre os lusiadas_fichaapoio.pdf
Caderno informativo sobre os lusiadas_fichaapoio.pdf
 
Análise comparativa - Mostrengo e Adamastor
Análise comparativa - Mostrengo e AdamastorAnálise comparativa - Mostrengo e Adamastor
Análise comparativa - Mostrengo e Adamastor
 
2 os lusiadas_resumos_episodios.docx
2 os lusiadas_resumos_episodios.docx2 os lusiadas_resumos_episodios.docx
2 os lusiadas_resumos_episodios.docx
 
O Adamastor é uma figura muito importante na história do nosso país.docx
O Adamastor é uma figura muito importante na história do nosso país.docxO Adamastor é uma figura muito importante na história do nosso país.docx
O Adamastor é uma figura muito importante na história do nosso país.docx
 
ADAMASTOR - CANTO V.docx
ADAMASTOR - CANTO V.docxADAMASTOR - CANTO V.docx
ADAMASTOR - CANTO V.docx
 
Tempestade e Chegada à Índia
Tempestade e Chegada à ÍndiaTempestade e Chegada à Índia
Tempestade e Chegada à Índia
 
Luís vaz de camões (1524 – 1580
Luís vaz de camões (1524 – 1580Luís vaz de camões (1524 – 1580
Luís vaz de camões (1524 – 1580
 
Camões
CamõesCamões
Camões
 
Textos expositivos do "Adamastor" e "Tempestade" Lusíadas
Textos expositivos do "Adamastor" e "Tempestade" Lusíadas Textos expositivos do "Adamastor" e "Tempestade" Lusíadas
Textos expositivos do "Adamastor" e "Tempestade" Lusíadas
 
Bocage
BocageBocage
Bocage
 
Gramaticaelusiadas
GramaticaelusiadasGramaticaelusiadas
Gramaticaelusiadas
 
Iracema
IracemaIracema
Iracema
 
Apresentação para décimo segundo ano de 2016 7, aula 123
Apresentação para décimo segundo ano de 2016 7, aula 123Apresentação para décimo segundo ano de 2016 7, aula 123
Apresentação para décimo segundo ano de 2016 7, aula 123
 
Recursos expressivos
Recursos expressivosRecursos expressivos
Recursos expressivos
 
Iracema - José de Alencar
Iracema - José de AlencarIracema - José de Alencar
Iracema - José de Alencar
 
Apresentação para décimo primeiro ano de 2015 6, aula 67-68
Apresentação para décimo primeiro ano de 2015 6, aula 67-68Apresentação para décimo primeiro ano de 2015 6, aula 67-68
Apresentação para décimo primeiro ano de 2015 6, aula 67-68
 

Último

Aula história , caracteristicas e esteriótipos em relação a DANÇA DE SALAO.pptx
Aula história , caracteristicas e esteriótipos em relação a DANÇA DE SALAO.pptxAula história , caracteristicas e esteriótipos em relação a DANÇA DE SALAO.pptx
Aula história , caracteristicas e esteriótipos em relação a DANÇA DE SALAO.pptx
edivirgesribeiro1
 
Slides Lição 9, Betel, Ordenança para uma vida de santificação, 2Tr24.pptx
Slides Lição 9, Betel, Ordenança para uma vida de santificação, 2Tr24.pptxSlides Lição 9, Betel, Ordenança para uma vida de santificação, 2Tr24.pptx
Slides Lição 9, Betel, Ordenança para uma vida de santificação, 2Tr24.pptx
LuizHenriquedeAlmeid6
 
Rimas, Luís Vaz de Camões. pptx
Rimas, Luís Vaz de Camões.          pptxRimas, Luís Vaz de Camões.          pptx
Rimas, Luís Vaz de Camões. pptx
TomasSousa7
 
Redação e Leitura_7º ano_58_Produção de cordel .pptx
Redação e Leitura_7º ano_58_Produção de cordel .pptxRedação e Leitura_7º ano_58_Produção de cordel .pptx
Redação e Leitura_7º ano_58_Produção de cordel .pptx
DECIOMAURINARAMOS
 
apresentação sobre Clarice Lispector .pptx
apresentação sobre Clarice Lispector .pptxapresentação sobre Clarice Lispector .pptx
apresentação sobre Clarice Lispector .pptx
JuliaMachado73
 
Aula 1 do livro de Ciências do aluno - sons
Aula 1 do livro de Ciências do aluno - sonsAula 1 do livro de Ciências do aluno - sons
Aula 1 do livro de Ciências do aluno - sons
Érika Rufo
 
Potenciação e Radiciação de Números Racionais
Potenciação e Radiciação de Números RacionaisPotenciação e Radiciação de Números Racionais
Potenciação e Radiciação de Números Racionais
wagnermorais28
 
atividade 8º ano entrevista - com tirinha
atividade 8º ano entrevista - com tirinhaatividade 8º ano entrevista - com tirinha
atividade 8º ano entrevista - com tirinha
Suzy De Abreu Santana
 
- TEMPLATE DA PRATICA - Psicomotricidade.pptx
- TEMPLATE DA PRATICA - Psicomotricidade.pptx- TEMPLATE DA PRATICA - Psicomotricidade.pptx
- TEMPLATE DA PRATICA - Psicomotricidade.pptx
LucianaCristina58
 
Sistema de Bibliotecas UCS - Chronica do emperador Clarimundo, donde os reis ...
Sistema de Bibliotecas UCS - Chronica do emperador Clarimundo, donde os reis ...Sistema de Bibliotecas UCS - Chronica do emperador Clarimundo, donde os reis ...
Sistema de Bibliotecas UCS - Chronica do emperador Clarimundo, donde os reis ...
Biblioteca UCS
 
Sinais de pontuação
Sinais de pontuaçãoSinais de pontuação
Sinais de pontuação
Mary Alvarenga
 
Introdução à Sociologia: caça-palavras na escola
Introdução à Sociologia: caça-palavras na escolaIntrodução à Sociologia: caça-palavras na escola
Introdução à Sociologia: caça-palavras na escola
Professor Belinaso
 
Forças e leis de Newton 2024 - parte 1.pptx
Forças e leis de Newton 2024 - parte 1.pptxForças e leis de Newton 2024 - parte 1.pptx
Forças e leis de Newton 2024 - parte 1.pptx
Danielle Fernandes Amaro dos Santos
 
educação inclusiva na atualidade como ela se estabelece atualmente
educação inclusiva na atualidade como ela se estabelece atualmenteeducação inclusiva na atualidade como ela se estabelece atualmente
educação inclusiva na atualidade como ela se estabelece atualmente
DeuzinhaAzevedo
 
“A classe operária vai ao paraíso os modos de produzir e trabalhar ao longo ...
“A classe operária vai ao paraíso  os modos de produzir e trabalhar ao longo ...“A classe operária vai ao paraíso  os modos de produzir e trabalhar ao longo ...
“A classe operária vai ao paraíso os modos de produzir e trabalhar ao longo ...
AdrianoMontagna1
 
Fernão Lopes. pptx
Fernão Lopes.                       pptxFernão Lopes.                       pptx
Fernão Lopes. pptx
TomasSousa7
 
347018542-PAULINA-CHIZIANE-Balada-de-Amor-ao-Vento-pdf.pdf
347018542-PAULINA-CHIZIANE-Balada-de-Amor-ao-Vento-pdf.pdf347018542-PAULINA-CHIZIANE-Balada-de-Amor-ao-Vento-pdf.pdf
347018542-PAULINA-CHIZIANE-Balada-de-Amor-ao-Vento-pdf.pdf
AntnioManuelAgdoma
 
UFCD_10949_Lojas e-commerce no-code_índice.pdf
UFCD_10949_Lojas e-commerce no-code_índice.pdfUFCD_10949_Lojas e-commerce no-code_índice.pdf
UFCD_10949_Lojas e-commerce no-code_índice.pdf
Manuais Formação
 
A QUESTÃO ANTROPOLÓGICA: O QUE SOMOS OU QUEM SOMOS.pdf
A QUESTÃO ANTROPOLÓGICA: O QUE SOMOS OU QUEM SOMOS.pdfA QUESTÃO ANTROPOLÓGICA: O QUE SOMOS OU QUEM SOMOS.pdf
A QUESTÃO ANTROPOLÓGICA: O QUE SOMOS OU QUEM SOMOS.pdf
AurelianoFerreirades2
 
Funções e Progressões - Livro completo prisma
Funções e Progressões - Livro completo prismaFunções e Progressões - Livro completo prisma
Funções e Progressões - Livro completo prisma
djincognito
 

Último (20)

Aula história , caracteristicas e esteriótipos em relação a DANÇA DE SALAO.pptx
Aula história , caracteristicas e esteriótipos em relação a DANÇA DE SALAO.pptxAula história , caracteristicas e esteriótipos em relação a DANÇA DE SALAO.pptx
Aula história , caracteristicas e esteriótipos em relação a DANÇA DE SALAO.pptx
 
Slides Lição 9, Betel, Ordenança para uma vida de santificação, 2Tr24.pptx
Slides Lição 9, Betel, Ordenança para uma vida de santificação, 2Tr24.pptxSlides Lição 9, Betel, Ordenança para uma vida de santificação, 2Tr24.pptx
Slides Lição 9, Betel, Ordenança para uma vida de santificação, 2Tr24.pptx
 
Rimas, Luís Vaz de Camões. pptx
Rimas, Luís Vaz de Camões.          pptxRimas, Luís Vaz de Camões.          pptx
Rimas, Luís Vaz de Camões. pptx
 
Redação e Leitura_7º ano_58_Produção de cordel .pptx
Redação e Leitura_7º ano_58_Produção de cordel .pptxRedação e Leitura_7º ano_58_Produção de cordel .pptx
Redação e Leitura_7º ano_58_Produção de cordel .pptx
 
apresentação sobre Clarice Lispector .pptx
apresentação sobre Clarice Lispector .pptxapresentação sobre Clarice Lispector .pptx
apresentação sobre Clarice Lispector .pptx
 
Aula 1 do livro de Ciências do aluno - sons
Aula 1 do livro de Ciências do aluno - sonsAula 1 do livro de Ciências do aluno - sons
Aula 1 do livro de Ciências do aluno - sons
 
Potenciação e Radiciação de Números Racionais
Potenciação e Radiciação de Números RacionaisPotenciação e Radiciação de Números Racionais
Potenciação e Radiciação de Números Racionais
 
atividade 8º ano entrevista - com tirinha
atividade 8º ano entrevista - com tirinhaatividade 8º ano entrevista - com tirinha
atividade 8º ano entrevista - com tirinha
 
- TEMPLATE DA PRATICA - Psicomotricidade.pptx
- TEMPLATE DA PRATICA - Psicomotricidade.pptx- TEMPLATE DA PRATICA - Psicomotricidade.pptx
- TEMPLATE DA PRATICA - Psicomotricidade.pptx
 
Sistema de Bibliotecas UCS - Chronica do emperador Clarimundo, donde os reis ...
Sistema de Bibliotecas UCS - Chronica do emperador Clarimundo, donde os reis ...Sistema de Bibliotecas UCS - Chronica do emperador Clarimundo, donde os reis ...
Sistema de Bibliotecas UCS - Chronica do emperador Clarimundo, donde os reis ...
 
Sinais de pontuação
Sinais de pontuaçãoSinais de pontuação
Sinais de pontuação
 
Introdução à Sociologia: caça-palavras na escola
Introdução à Sociologia: caça-palavras na escolaIntrodução à Sociologia: caça-palavras na escola
Introdução à Sociologia: caça-palavras na escola
 
Forças e leis de Newton 2024 - parte 1.pptx
Forças e leis de Newton 2024 - parte 1.pptxForças e leis de Newton 2024 - parte 1.pptx
Forças e leis de Newton 2024 - parte 1.pptx
 
educação inclusiva na atualidade como ela se estabelece atualmente
educação inclusiva na atualidade como ela se estabelece atualmenteeducação inclusiva na atualidade como ela se estabelece atualmente
educação inclusiva na atualidade como ela se estabelece atualmente
 
“A classe operária vai ao paraíso os modos de produzir e trabalhar ao longo ...
“A classe operária vai ao paraíso  os modos de produzir e trabalhar ao longo ...“A classe operária vai ao paraíso  os modos de produzir e trabalhar ao longo ...
“A classe operária vai ao paraíso os modos de produzir e trabalhar ao longo ...
 
Fernão Lopes. pptx
Fernão Lopes.                       pptxFernão Lopes.                       pptx
Fernão Lopes. pptx
 
347018542-PAULINA-CHIZIANE-Balada-de-Amor-ao-Vento-pdf.pdf
347018542-PAULINA-CHIZIANE-Balada-de-Amor-ao-Vento-pdf.pdf347018542-PAULINA-CHIZIANE-Balada-de-Amor-ao-Vento-pdf.pdf
347018542-PAULINA-CHIZIANE-Balada-de-Amor-ao-Vento-pdf.pdf
 
UFCD_10949_Lojas e-commerce no-code_índice.pdf
UFCD_10949_Lojas e-commerce no-code_índice.pdfUFCD_10949_Lojas e-commerce no-code_índice.pdf
UFCD_10949_Lojas e-commerce no-code_índice.pdf
 
A QUESTÃO ANTROPOLÓGICA: O QUE SOMOS OU QUEM SOMOS.pdf
A QUESTÃO ANTROPOLÓGICA: O QUE SOMOS OU QUEM SOMOS.pdfA QUESTÃO ANTROPOLÓGICA: O QUE SOMOS OU QUEM SOMOS.pdf
A QUESTÃO ANTROPOLÓGICA: O QUE SOMOS OU QUEM SOMOS.pdf
 
Funções e Progressões - Livro completo prisma
Funções e Progressões - Livro completo prismaFunções e Progressões - Livro completo prisma
Funções e Progressões - Livro completo prisma
 

Adamastor

  • 2. Gigante Adamastor (CANTO V, 37-60) As naus portuguesas navegavam há cinco dias, estando junto do Cabo das Tormentas (futuro Cabo da Boa Esperança) quando subitamente aparece, perante o espanto dos marinheiros uma nuvem escura e imensa, que escondia o céu; o mar bramia e agitava-se, pressagiando uma ameaça terrível. Desenha-se a imensa figura do Adamastor, gigante de aspecto horrendo e irado. O Poeta compara-o ao colosso de Rodes, não se poupando a adjectivos para a sua descrição. O monstro interpela os marinheiros aterrorizados, reduzidos pela sua presença avassaladora à dimensão de seres frágeis e indefesos. Censura-lhes a ambição, a constante procura do novo, a ousadia de invadirem domínios que jamais tinham sido atravessados. Vasco da Gama enfrentando o próprio medo, ergue-se e frente àquela grandíssima estatura (59.5), ousa perguntar: Quem és tu? (49.3).O poeta mostra, com estes efeitos cenográficos e intensamente dramáticos, a sua concepção de valentia: herói não é aquele que não teme, mas o que supera o temor. O gigante, irritado, profetiza a sua terrível vingança para os portugueses que ousarem por ali passar no futuro. Os segredos do mar nunca tinham sido a nenhum grande humano concedidos (42.3), e nem a coragem reconhecida do povo luso poderá alterar essa lei. Vasco da Gama fica a saber quais serão os destinos fatais de Pedro Álvares Cabral, Bartolomeu Dias, D. Francisco de Almeida e Manuel de Sousa Sepúlveda, com sua mulher e filhos, que irão morrer naquele local, a que D. João II dá o nome de Cabo da Boa Esperança. Mas, diante da pergunta de Vasco da Gama, o Gigante muda o seu discurso. Explica que ele é o próprio Cabo Tormentoso, castigo que os deuses lhe deram pela sua paixão por Tétis, que o despreza. A cólera das suas primeiras palavras termina em lágrimas de dor. A nuvem negra desfaz-se, depois desta confidência. O Adamastor condensa em si todos os medos que suscitava o Mar Tenebroso, com o imaginário domínio de forças sobrenaturais e maléficas. Mais um obstáculo vencido, à custa da coragem e inteligência de alguns Portugueses.
  • 3. ADAMASTOR Significado/Simbolismo do episódio Geograficamente simboliza o Cabo das Tormentas, posteriormente chamado da Boa Esperança. Mitologicamente representa o Gigante apaixonado pela deusa Tétis, transformado em promontório pelos deuses, que não toleram ousadias; símbolo da frustração amorosa. Caraterísticas físicas: enorme estatura, aspeto disforme, barba imunda, olhos encovados, cabelos cheios de terra, boca negra, os dentes amarelos e a sua voz parece sair do mar profundo. Simbolicamente é a personificação das dificuldades e dos perigos que os portugueses tiveram de enfrentar e vencer. No dizer de Amélia Pinto Pais, este episódio "é uma espécie de abóbada arquitectónica do Poema, em que vêm concentrar-se as grandes linhas da epopeia: o real- maravilhoso (...); a existência de profecias (...); é igualmente um episódio lírico (...); por outro lado, é igualmente um episódio trágico (...). É sobretudo um episódio épico, em que se consolida a vitória do homem, "bicho da terra", sobre uma natureza poderosa."
  • 4. ADAMASTOR Evolução dos comportamentos destas duas personagens ... do Gigante ... de Vasco da Gama 1 - mostra-se rancoroso, vingativo, ameaçador; 1 - amedrontado: "arrepiam-se as carnes e o cabelo"; 2 - dor profunda, raiva, desespero; humaniza- se, reconhece a sua derrota; 2 - sem medo, de cabeça erguida (Alçado), num tom de igual para igual, quase de desafio; 3 - desaparecimento. 3 - atitude de fé: no momento em que o Gigante, a chorar, desaparece, o Gama pede a Deus que "removesse os duros/Casos que Adamastor contou futuros." A evolução dos comportamentos é oposta.
  • 5. ADAMASTOR DIVISÃO EM PARTES LÓGICAS 1. Introdução – Preparação do ambiente para o aparecimento do gigante (estrofes 37 e 38) Depois de cinco dias claros (“cinco sóis”), surge uma nuvem negra "tão temerosa vinha e carregada" que põe “nos corações um grande medo” e leva Vasco da Gama a interpelar o próprio Deus todo-poderoso. 2. Aparição do gigante: retrato físico e traços morais (estrofes 39-40) A caracterização é feita sobretudo através da adjectivação sugestiva e abundante a mostrar a imponência, o terror e a estupefacção de Vasco da Gama e dos seus companheiros (“Arrepiam-se as carnes e o cabelo/A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo!”). 3. Discurso do gigante (estrofes 41-48) A primeira parte do discurso é de carácter profético e ameaçador e nele Adamastor, num tom de voz “horrendo e grosso”, anuncia os castigos e os danos por si reservados para aquela "gente ousada" que invadira os seus domínios: Bartolomeu Dias; D. Francisco de Almeida (primeiro Vice-rei da Índia), o naufrágio e morte da família Sepúlveda e, em geral, a todas as naus portuguesas que terão sempre “inimiga esta paragem”. 4. Interpelação do Gama (estrofe 49) Incomodado com as profecias, Vasco da Gama interroga o monstro sobre a sua identidade. É essa questão tão simples que promove a profunda viragem do seu discurso, fazendo-o recordar a frustração amorosa passada e meditar na sua actual condição de solitário e petrificado. 5. Discurso do gigante - continuação A segunda parte do discurso do gigante (estrofes 50-59) é de carácter autobiográfico e o tom é elegíaco (“com voz pesada e amara”) e disfórico, pois assistimos à evocação do seu passado amoroso infeliz. 6. Epílogo (estrofe 60) Dá-se o súbito desaparecimento do Gigante, agora choroso pela evocação do seu passado triste e levando consigo a nuvem negra e o “sonoro bramido” do mar com que aparecera. Vasco da Gama pede a Deus que remova "os duros casos que Adamastor contou futuros".
  • 6. ADAMASTOR DIVISÃO EM PARTES LÓGICAS ESQUEMA-SÍNTESE ESTROFES PARTES CONTEÚDO 37-38 1. Preparação do ambiente · «Uma nuvem que os ares escurece», «temerosa» e «carregada» · «Bramindo, o negro mar de longe brada» 39-40 2. Retrato do gigante · Figura colossal · Medo 41-48 3. Discurso do Adamastor (1ª parte) · Ameaças / · Elogio sobre a «gente ousada» 49 4. Interpelação de Vasco da Gama · Pedido de identificação · Espanto e sangue-frio 50-59 5. Discurso do Adamastor (2ª parte) · Humanização / frustração amorosa 60 6. Epílogo · Choro e desaparecimento do gigante