O documento discute a metafísica da modernidade e a teoria do conhecimento. Apresenta como a filosofia moderna mudou o foco da ontologia para a epistemologia, do "ser" para o "conhecer". Também descreve as visões racionalista e empirista sobre a origem do conhecimento e como Descartes e Bacon desenvolveram métodos científicos para reformar o entendimento humano.
3. A Teoria do Conhecimento,
também conhecida pelos
nomes de Epistemologia ou
Gnosiologia, é uma das
áreas centrais da Filosofia,
tornando-se disciplina
específica somente a partir
dos filósofos modernos.
O que é Teoria do conhecimento?
4. Segundo Urbano Zilles, Teoria do
Conhecimento é a “disciplina
filosófica que indaga pela
possibilidade, origem, essência,
limites, pelos elementos e pelas
condições do conhecimento”.
O que é Teoria do conhecimento?
(ZILLES, Urbano. Teoria do Conhecimento e Teoria da
Ciência. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2006, p. 11).
5. O que é Teoria do conhecimento?
Ou seja, a Teoria do Conhecimento questiona:
1. Quais são as possibilidades do conhecimento?
Respostas: dogmatismo, ceticismo, relativismo,
subjetivismo, pragmatismo e criticismo.
2. Qual é a origem do conhecimento? Respostas:
racionalismo, empirismo, intelectualismo e apriorismo.
3. Qual é a essência do conhecimento? Respostas:
objetivismo, subjetivismo, realismo, idealismo e
fenomenalismo.
4. Quais os limites e condições de um conhecimento?
Noutras palavras, qual é o seu critério de verdade?
6. Para a Teoria do Conhecimento existem dois
elementos indispensáveis para o conhecimento:
sujeito e objeto.
No conhecimento, sujeito (consciência) e o objeto
(coisas) encontram-se frente à frente numa espécie
de relação que é, ao mesmo tempo, uma co-relação:
O sujeito só é sujeito para o objeto e o objeto só
é objeto para um sujeito.
Logo, ambos só são o que são enquanto o são
para o outro
O que é Teoria do conhecimento?
7. •Visto pelo lado do sujeito, o conhecimento seria uma espécie
de interiorização do sujeito no objeto, captando assim as
suas informações específicas.
•Visto pelo lado do objeto, o conhecimento seria uma espécie
de transferência de informações do objeto para o sujeito.
O que é Teoria do conhecimento?
9. Com a filosofia moderna, o
problema passou da
ontologia para a teoria do
conhecimento, do “ser”
para o “conhecer”.
Não estavam mais
preocupados em saber o
“que é o Ser”, mas sim em
“como conhecer o ser”.
Mudança do “ser” para o “conhecer”
10. E por que essa mudança de perspectiva dos gregos
para os modernos?
Porque a Filosofia Moderna
pressupõe algo que não
fazia parte do horizonte
conceitual da Filosofia Grega
Antiga: a presença do
Cristianismo, que trouxe
questões e problemas que
os antigos filósofos
desconheciam.
Mudança do “ser” para o “conhecer”
11. Quando se afirma que a Teoria do Conhecimento se
tornou uma disciplina específica da Filosofia somente
com os filósofos modernos, não se quer dizer que
antes deles o problema do conhecimento não havia
ocupado a tarefa de outros filósofos (antigos e
medievais), e sim que, para os modernos, a questão
do conhecimento foi considerada anterior à questão
da ontologia e pré-requisito para a Filosofia e
para as ciências.
Mudança do “ser” para o “conhecer”
12. Ou seja, pelo fato dos modernos não aceitarem as
respostas medievais (verdades de fé e verdade de
razão), a questão do conhecimento tornou-se
central para eles.
René Descartes, criador do
método científico racionalista.
Como é possível o erro ou a ilusão?
13. Os filósofos gregos antigos se surpreendiam que
pudesse haver o erro e a ilusão. Para eles a
pergunta filosófica só podia ser essa:
Como é possível o erro ou a ilusão?
Como é possível o erro ou a ilusão?
Ou seja: se o verdadeiro é
o próprio Ser presente em
tudo (percepções, palavras
e pensamento), como
então o falso é possível se
o falso é afirmar “que
existe” o que “não existe”?
14. Para os modernos, a pergunta central ia em
sentido oposto:
Como é possível o erro ou a ilusão?
Como é possível o conhecimento da
verdade?
15. Como é possível o erro ou a ilusão?
De fato, se a verdade é o
que está no intelecto
infinito de Deus, então quer
dizer que ela está escondida
de nossa razão finita, sendo
impossível acessá-la.
Portanto, se essa explicação for legítima, a
verdade não é o que está manifesto na realidade,
e sim o que depende da revelação divina.
16. Como é possível o erro ou a ilusão?
A partir desse conceito de revelação, é possível fazer
duas considerações acerca do conhecimento racional:
1ª) Ideia da limitação e impotência da razão: pelo
fato da revelação ser conhecida apenas pela fé, ela
obriga o homem a dizer “assim seja” e reconhecer que a
razão não pode entender o mistério divino.
2ª) Ideia da perversão da razão: visto que o
intelecto limitado humano foi pervertido pela
vontade pecadora, torna-se impossível conhecer até
mesmo as verdades de de razão (que estão ao alcance
do homem) sem o auxílio da revelação e da fé.
17. A contaminação das verdade de razão
Observaram que as
verdades de fé haviam
influenciado a
própria maneira de
conceber as verdades
de razão.
Diante de tão problemática explicação do
conhecimento racional, os filósofos modernos
puderam identificar onde estaria o erro na teoria
do conhecimento medieval:
18. Ou seja, o princípio da
autoridade medieval
contaminou as
verdades de razão,
fazendo com que os
filósofos só aceitassem
uma ideia se esta viesse
com o “selo” de alguma
autoridade da Igreja.
A contaminação das verdade de razão
19. A fé ditando as regras da ciência
“Parece que um novo astro
logo quer provar que a Terra
se move através dos céus [...]
O tolo quer virar toda a arte da
astronomia pelo avesso”.
(Lutero apud GLEISER, M. A
Dança do Universo).
Lutero (1483-1546)
Sobre a teoria heliocêntrica de Copérnico, escreve
Lutero:
20. “Permitamos, pois, que, junto com as antigas,
em nada mais verossímeis, façam-se conhecer
também essas novas hipóteses, tanto mais por
serem elas ao mesmo tempo admiráveis e
fáceis, e por trazerem consigo um enorme
tesouro de doutíssimas observações. E que
ninguém espere da astronomia algo de certo no
que concerne a hipóteses, pois nada disso
procura ela nos oferecer” (Andreas Osiander).
Osiander
(1498-1552)
Prefácio da 1ª edição da obra “Sobre as revoluções das
órbitas celestes” de Copérnico, inserido anonimamente
por Osiander e sem o consentimento do autor
(Copérnico).
A fé ditando as regras da ciência
21. Com isso, a primeira tarefa que os modernos
apreenderam foi a de recusar o “poder da
autoridade da fé e da Igreja” sobre a razão.
Começaram, por isso,
separando a fé da razão,
considerando cada uma
delas voltada para
conhecimentos
diferentes, sem que uma
deva subordinar-se à
outra.
A recusa da autoridade eclesial
22. O problema do conhecimento tornou-se crucial para a
Filosofia, cujo ponto de partida para os modernos
passou a ser o sujeito do conhecimento.
Os dois primeiros filósofos que
iniciaram esse novo modo de fazer
filosofia a partir do séc. XVII.
Filósofos modernos
O filósofo que pela 1ª vez propõe uma teoria
do conhecimento propriamente dita.
Descartes Bacon
Locke
24. O que é o “conhecimento”? Podemos dizer que é
uma relação que se estabelece entre:
Um sujeito que
conhece...
... e um objeto
que é conhecido.
Racionalismo e Empirismo
25. De onde vem o conhecimento?
Chama-se Racionalismo quando se
afirma que a origem do conhecimento
provém do sujeito.
Do sujeito?
Do objeto?
Ou
Chama-se Empirismo quando se
afirma que a origem do conhecimento
provém do experiência.
27. Bacon elaborou uma teoria conhecida como crítica
dos ídolos. Existem quatro preconceitos (ídolos)
que impedem o conhecimento da verdade e que
precisam ser destruídos:
Bacon: crítica dos “ídolos”
1. Ídolos da Caverna
2. Ídolos do Fórum
3. Ídolos do Teatro
4. Ídolos da Tribo
28. 1. Ídolos da Caverna:
tratam-se das opiniões
distorcidas que se formam por
erro dos sentidos ou de uma
má educação. São os mais
fáceis de ser corrigidos pela
razão.
São os mais fáceis de ser corrigidos pelo
intelecto.
Ídolos da “caverna”
29. 2. Ídolos do Fórum:
tratam-se dos erros que se
formam como consequência
da ambiguidade e limitação
da linguagem humana.
São difíceis de ser vencidos, mas o intelecto ainda
tem poder sobre eles.
Ídolos do “fórum”
30. 3. Ídolos do Teatro: tratam-
se dos erros que se formam
em decorrência dos poderes
de autoridades que impõem
seus pontos de vistas e os
transformam em leis inques-
tionáveis.
Só podem ser desfeitos se houver uma mudança
social e política.
Ídolos do “teatro”
31. 4. Ídolos da Tribo: tratam-se
dos erros que se formam em
decorrência da limitação da
própria natureza humana.
São próprios da espécie humana e só podem ser
vencidos se houver uma reforma da própria
natureza humana.
Ídolos da “tribo”
32. A demolição dos ídolos é, portanto, uma reforma
do intelecto, dos conhecimentos e da sociedade.
Origem do método científico
Para os dois primeiros,
Bacon propõe a
instauração de um
método, definido como
o modo seguro de aplicar
o pensamento lógico aos
dados oferecidos pela
experiência sensível.
33. O método deve tornar possível:
1. Organizar e controlar os dados recebidos da
experiência, graças aos procedimentos de observação e
experimentação.
2. Organizar e controlar os resultados observacionais e
experimentais para chegar a conhecimentos novos ou à
formulação de teorias verdadeiras.
3. Desenvolver procedimentos adequados à aplicação
prática dos resultados teóricos, pois para Bacon o homem
é “ministro da natureza” e, se souber conhecê-la, pode
comandá-la.
Origem do método científico
35. Descartes identificava o erro em duas atitudes
infantis ou preconceitos:
Dois erros infantis
1. Ingenuidade: é facilidade com que
nossa razão se deixa levar por opiniões e
ideias alheias, sem se preocupar se elas
são ou não verdadeiras.
2. Precipitação: é facilidade e a
velocidade com que nossa vontade
nos faz emitir juízos sobre as coisas
antes de verificarmos se nossas ideias
são ou não verdadeiras.
36. Essa duas atitudes indicam que, para Descartes, o
erro situa-se no conhecimento sensível (sensação,
percepção, imaginação, memória e linguagem).
Proeminência da razão
Logo, o conhecimento
verdadeiro é puramente
intelectual: está baseado
apenas nas operações da razão
e tem como ponto de partida ou
as ideias inatas ou observações
que foram inteiramente
controladas pela razão.
37. Assim como Bacon, Descartes também via no
método a possibilidade de reforma do
entendimento e dos conhecimentos.
Reforma científica: a busca pelo
método
Essa reforma deve ser feita
pelo sujeito do
conhecimento quando este
compreende a necessidade
de encontrar fundamentos
seguros para o saber e se
instituir um método.
38. Os objetivos do método
1. Assegurar a reforma do intelecto para que este siga o
caminho mais seguro da verdade.
2. Oferecer procedimentos pelos quais a razão possa
controlar-se a si mesma durante o processo de
conhecimento, sabendo que caminho percorrer.
3. Propiciar ampliação ou o aumento dos conhecimentos
graças a procedimentos seguros que permitam passar do já
conhecido ao desconhecido.
4. Oferecer os meios para que os novos conhecimentos
possam ser aplicados, pois o saber deve tornar o homem
“senhor da natureza”.
39. Com Descartes, a Razão (“eu
penso”) passa a ser o princípio
central do conhecimento.
Posso duvidar de tudo que existe,
de todos os conhecimentos
herdados. No entanto, a única
coisa que não posso negar é o fato
de que continuo a pensar até
mesmo quando duvido das coisas.
Portanto, a Razão é o elemento mais indubitável
da realidade: “se penso, logo existo”.
Método Cartesiano
40. Ao escrever O Discurso
do Método e Regras para
direção do Espírito,
Descartes pretende
elaborar um método
que possa guiar o
pensamento em direção
aos conhecimentos
verdadeiros e distingui-
los dos falsos.
Importância do Método
41. 1. Regras certas: o método dá segurança ao
pensamento.
2. Regras fáceis: o método evita complicações e
esforços inúteis.
3. Regras amplas: o método deve permitir que se
alcancem todos os conhecimentos possíveis para o
entendimento humano
O método cartesiano é um conjunto de regras cujas
características principais são três:
Características das Regras:
“certas”, “fáceis” e “amplas”
42. 1ª) Regra da evidência: jamais aceitar como
verdadeiro algo que não seja evidente e claro em si e
por si mesmo.
2ª) Regra da divisão: dividir um determinado
problema em quantas partes for necessário para
analisá-las separadamente.
3ª) Regra da ordem: organizar as partes analisadas,
começando das mais simples até as mais complexas.
4ª) Regra da enumeração: revisar e enumerar
rigorosamente cada uma das partes, para se ter a
certeza de que nada foi esquecido.
As quatro regras do Método
44. John Locke é o iniciador da teoria do conhecimento
propriamente dita porque se propõe analisar:
• cada uma das formas de
conhecimento que possuímos;
• a origem das ideias;
• a finalidade das teorias;
• e as capacidades do sujeito
cognoscente com relação aos
objetos que pode conhecer.
A preocupação pelo ato de conhecer
45. Logo na abertura de sua obra, Ensaio sobre o
entendimento humano, Locke escreve:
“Visto que o entendimento situa o homem acima
dos outros seres sensíveis e dá-lhes toda
vantagem e todo domínio que tem sobre eles,
seu estudo consiste certamente num tópico que,
por sua nobreza, é merecedor de nosso trabalho
de investigá-lo. O entendimento, como o olho,
não observa a si mesmo; requer arte e esforço
situá-lo a distância e fazê-lo seu próprio objeto”.
Origem da Teoria do Conhecimento
46. A principal preocupação de Locke
foi combater a doutrina de
Descartes sobre a existência de
idéias inatas na mente do
homem.
Ao contrário de Descartes, Locke acredita que o
conhecimento só pode ser alcançado a partir das
experiências sensíveis do indivíduo, sem trazer
consigo desde o nascimento, qualquer marca ou idéia
de conhecimentos prévios.
Locke: oposição a Descartes
47. “Suponhamos então, que a
mente seja, como se diz, um
papel branco, vazio de todos os
caracteres, sem quaisquer ideias.
Como chega a recebê-las? De
onde tira todos os materiais da
razão e do conhecimento? A isto
respondo com uma só palavra:
da experiência”.
(Locke. Ensaio sobre o
Entendimento Humano)
O Empirismo de Locke
48. “Não está no poder do mais elevado engenho, nem do
mais amplo entendimento, seja qual for a agilidade ou
variedade do seu pensamento, inventar ou formar na
mente uma nova idéia simples, que não provenha das
vias antes mencionadas; nem pode nenhuma força do
entendimento destruir as que já aí existem. [...] Eu
quereria que alguém tentasse imaginar um sabor
nunca sentido pelo seu paladar, ou formar idéia de um
aroma que nunca tivesse cheirado; e, se alguém
conseguisse fazer, eu também poderia concluir que um
cego tem idéias das cores e um surdo noções distintas
e verdadeiras dos sons” (Locke, Ensaio sobre o
Entendimento Humano).
O Empirismo de Locke
49. Noutras palavras, para Locke, o intelecto recebe da
experiência sensível todo o material do
conhecimento e, por esse motivo, pode-se dizer que
não há nada em nosso entendimento que não
tenha vindo das sensações.
O Empirismo de Locke
50. Como se forma o conhecimento?
Segundo Locke, o conhecimento
se forma por um processo de
associação e combinação das
ideias e dados da experiência.
Para o autor, existem três tipos de ideias: a)
Ideias de sensação; b) Ideias de percepção; c)
Ideias de razão.
Associações e combinações
51. Ideias de SENSAÇÃO: Ideias Simples
As Sensações
da natureza
Fazem com que o homem receba
as impressões das coisas
externas, gerando as...
IDEIAS
SIMPLES
Ideias de Sensação
52. Percepção
(do sujeito)
Ideias de PERCEPÇÃO: Ideias Complexas
As ideias simples (impressões)
se associam por semelhanças e
por diferenças, gerando as...
IDEIAS
COMPLEXAS
Ideias de Percepção
53. Razão (do sujeito)
Ideias de RAZÃO: Ideias Gerais e Ideias de Relação
Ideias GERAIS ou
ABSTRATAS:
Ideias de substância, corpo,
alma, Deus, natureza etc.
Por intermédio de novas combinações e associações,
as ideias se tornam mais complexas, formando as...
Ideias de RELAÇÃO:
(entre as ideias gerais)
Ideias de identidade,
causalidade, finalidade etc.
Ideias de Razão
54. A formação das ideias na sensação, na percepção
e na razão acontece por um processo de
generalização:
Na generalização, a cada passo
do conhecimento, o intelecto
humano vai eliminando as
diferenças entre as ideias
para ficar apenas com as
semelhanças e os traços
comuns, cujo conjunto forma
uma ideia universal.
Por exemplo, a
cor vermelha
A generalização das ideias
55. Como já se sabe, tudo o que existe nos é dado pelas
sensações e percepções (experiência). Visto que a
experiência nos mostra e nos dá a conhecer apenas
as coisas singulares, então somente elas existem.
As ideias universais, por sua vez, não correspondem
a realidades ou a essências existentes, mas são
apenas nomes que instituímos por convenção para
organizar o nosso pensamento e o nosso discurso
As ideias universais
56. Voltado ao exemplo da cor vermelha:
Ao olhar para essas coisas vermelhas, os olhos sentem e
percebem os objetos coloridos e não a cor em si. Ou
seja, a razão humana, ao receber as percepções
singulares dos objetos coloridos, combina e organiza
essas sensações e percepções, abstrai (separa) dos
objetos as qualidades coloridas e com elas forma a ideia
universal de “cor vermelha”.
A generalização das ideias
57. Portanto, para Locke, não existe a “cor”, mas
apenas objetos singulares coloridos tal como os
percebemos.
“Cor” não passa de um nome geral com que nossa
razão organiza nossas sensações visuais.
É justamente por esse motivo Locke é considerado
pela filosofia como nominalista.
O “nominalismo” de Locke
59. O mérito de Galileu foi o de ter mostrado com
clareza e precisão a distinção entre filosofia,
ciência e religião, fazendo ver que o objeto
específicos delas é essencialmente diferente:
O mérito de Galileu
Religião
Verdades
religiosas (fé)
Filosofia
Verdades ontológicas
(reflexão)
Ciência
Verdades naturais
(experiência)
60. Segundo Galileu, no debate científico, não se pode
apelar nem para a autoridade dos filósofos, nem
para a Bíblia.
O mérito de Galileu
Nada é mais vergonhoso
do que recorrer a textos
sagrados e filosóficos
(que muitas vezes foram
escritos com outra
intenção) para resolver
os problemas específicos
da natureza.
61. Sagrada Escritura e Natureza procedem ambas do
Verbo Divino: a primeira ditada pelo Espírito
Santo; a segunda como executora da vontade de
Deus.
Natureza e Sagrada Escritura
62. Natureza e Sagrada Escritura
No entanto, enquanto a Sagrada Escritura precisou
adaptar-se arbitrariamente à interpretação dos
homens, a natureza permanece a mesma, segundo
as leis que lhe foram impostas (fato este que torna
possível conhecê-la diretamente).
63. Desta maneira, por
colocar-se como evidente
aos olhos do cientista, os
resultados e observações
da experiência devem ser
considerados como os
mais seguros, mesmo
que isso não pareça de
acordo com alguma
passagem da Sagrada
Escritura.
Autonomia da Natureza
Ilustração sobre a
Inquisição de Galileu em
16 de fevereiro de 1616.
64. Portanto, para Galileu:
Autonomia da Natureza
Bíblia
Livro da Religião
Manual
Livro da Ciência
Cuida das
verdades divinas
Cuida das
verdades naturais
Cada livro cuida da sua área: assim como não é
conveniente explicar a realidade divina a partir do
manual de ciência, não é sensato explicar a natureza a
partir da Bíblia.
65. Universo e linguagem matemática
Na opinião de Galileu, não se começa a filosofar a
partir das opiniões célebres de outros filósofos. Isso
cria um discurso estéril e infecundo.
Pelo contrário, a
filosofia encontra-se
escrita no grande livro
que permanece sempre
aberto aos olhos de
todos: o Universo.
66. Universo e linguagem matemática
Se o Universo é um livro, não se pode conhecê-lo
sem antes entender a língua e os caracteres com os
quais está escrito.
E qual é essa língua? Para
Galileu o universo está
escrito em linguagem
matemática e em figuras
geométricas, sem as
quais torna-se impossível
conhecer a realidade.