1) A tomografia linear é uma técnica radiográfica que permite visualizar um plano ou fatia específica de um órgão, eliminando a sobreposição de estruturas acima e abaixo deste plano.
2) Isto é conseguido movendo simultaneamente a ampola e o chassi em sentidos contrários durante a exposição, de modo que apenas a região central permaneça sempre na mesma posição no filme.
3) A técnica aumenta a dose de radiação no paciente devido ao tempo prolongado de exposição necessário
1. 4. TOMOGRAFIA LINEAR
4.1 INTRODUÇÃO
Desde o início da utilização da radiologia
como forma de diagnóstico clínico, os médicos sem-
pre se depararam com um problema insolúvel: a so-
breposição de órgãos e anatomias na imagem
radiográfica. Algumas soluções engenhosas, como a
radiografia tridimensional ou stereoradiografia foram
tentadas até mesmo por Roentgen. Porém a realiza-
ção de duas radiografias com pequena diferença de
posicionamento do ponto focal entre elas e a utiliza-
ção de equipamentos especiais para a visualização da
“imagem em estéreo” nunca convencerão os radiolo-
gistas.
Por isso, quando um diagnóstico não podia
ser preciso devido a superimposição das anatomias,
os médicos prescreviam a realização de uma tomo-
grafia. A tomografia, que do latim significa desenho
por partes, é uma técnica muito utilizada até o final
da década de 1980. Com a implementação dos tomó- Figura 4.1. Projeção dos objetos irradiados sobre
grafos computadorizados, assim chamados para dife- o filme na tomografia linear.
renciar dos tomógrafos originais, conhecidos como
lineares, e dos ressonadores nucleares, a radiografia Ao moverem-se em sentidos contrários,
realizada por tomógrafos lineares foi gradativamente chassi e ampola provocam que apenas a região cen-
deixa de lado. tral do objeto sobre análise permaneça sempre na
mesma porção do filme. As anatomias acima e abai-
xo do eixo de movimentação do sistema ampola-
chassi trocam de posição entre si, o que provocará
4.2 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO que ambas sejam borradas e sem definição. Somente
a posição central do objeto será reforçada, pois a ra-
diação atingirá sempre a mesma posição do filme,
O exame de tomografia linear foi desenvol- reforçando a imagem.
vido para tentar realizar a radiografia de um plano, Obviamente, a imagem não terá aquela qua-
ou uma fatia, do corpo humano, tentando dar mais lidade desejada, principalmente se comparada com as
contraste e definição a anatomia ali presente. Isto é imagens obtidas através de ressonância magnética e
conseguido não por incremento da anatomia em tomografia computadorizada. Porém, a eliminação
questão, mas pelo borramento ou desfocagem das das imagens sobrepostas de várias anatomias ajuda
anatomias que estão acima e abaixo da região de inte- em muito ao radiologista a definir melhor sobre as
resse. condições e anomalias presentes na radiografia da
O processo de obtenção deste efeito é muito anatomia desejada. Um exemplo de utilização da
simples. A tomografia consiste em fazer com que a tomografia linear é a exploração de pedras nos rins.
ampola e o chassi com o filme se movimentem si-
multaneamente, em sincronia, de forma que as ima-
gens se sobreponham e se misturem. Com ajuda da
Figura 4.1, podemos verificar que com o movimento
da ampola e do chassi as anatomias mudam a posição
de suas sombras no filme.
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2. 28 Parte 3 – RADIOGRAFIA ESPECIALIZADA
4.3 IMPLEMENTAÇÃO TÉCNICA plos usos do equipamento.
O pondo de rotação ou eixo de rotação, co-
nhecido como fulcro, é a peça chave para a realiza-
ção do exame. Na figura 4.2, podemos ver que o
fulcro está fixado sobre uma torre. Esta torre permite
4.3.1. Equipamento que o fulcro seja deslocado para cima e para baixo
Em termos construtivos, o tomógrafo linear através da manivela (nos aparelhos mais modernos,
não é diferente de um equipamento radiográfico con- um motor elétrico faz o serviço). A altura em que o
vencional. Na realidade, o tomógrafo consiste na fulcro é colocado em relação a mesa é exatamente o
adaptação de alguns acessórios ao equipamento nor- plano que será visualizado na imagem radiográfica,
mal. Desta forma, os custos são reduzidos e o equi- conforme apresentado na figura 4.1. Assim o técnico
pamento pode ser usado tanto como tomógrafo deve ter o maior cuidado ao escolher a altura do ful-
quanto para todos os exames convencionais. cro, pois esta deve corresponder a altura da anatomia
Há equipamentos inclusive que podem ser do paciente que se quer ver destacada na radiografia.
considerados verdadeiros 3 em 1, pois são equipa- Normalmente além de uma escala colocada junto a
mentos convencionais que possuem dispositivo fluo- torre que prende o fulcro, existe uma guia ou ponta
roscópico e de tomografia linear. retrátil que pode ser encostada no paciente para faci-
Para realizar a tomografia linear, o equipa- litar a localização da altura certa.
mento precisa dispor apenas de três acessórios ou
dispositivos: 4.3.2. Controles
• uma haste que faça a ligação entre o cabe-
çote e o porta-chassi; Os controles para manipulação do tomógrafo
• o ponto de rotação ou eixo sobre o qual será consistem em ajustar os seguintes parâmetros:
realizado o deslocamento; e a) ângulo de deslocamento;
• os controles necessários para que o movi- b) tempo do deslocamento.
mento de tomografia seja realizado. A figura 4.3 nos mostra uma mesa de contro-
le disponível num equipamento onde os comandos da
tomografia linear se encontram juntos aos controles
da radiografia convencional.
cabeçote
haste
manivela
fulcro
guia Figura 4.3. Detalhe da mesa de controle de um
tomógrafo linear automático.
Podemos ver os três botões bem em cima que
Figura 4.2. Detalhe dos acessórios para realiza- definem o ângulo em que irá se deslocar o cabeçote.
ção da tomografia linear.
Quanto maior o ângulo, menor a espessura do plano
radiográfico e mais detalhes a imagem terá. Os bo-
Existem alguns equipamentos utilizados ape-
tões abaixo dos primeiros definem o tempo em que
nas para a tomografia, nos quais a haste de ligação
ocorrerá o exame, ou seja, o tempo de deslocamento.
entre cabeçote e porta-chassi é fixo, no entanto por
O técnico deve levar em conta a mobilidade do paci-
questões econômicas, a haste pode ser colocada e
ente (respiração por exemplo) e a dose envolvida no
retirada a qualquer instante, permitindo assim múlti-
exame. Tempos menores podem diminuir a dose e
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3. TOMOGRAFIA LINEAR 29
evitar borramento por movimentação, mas podem 4.4 TIPOS DE MOVIMENTAÇÃO
deixar a imagem muito clara.
A tabela 1 ajuda o técnico a definir melhor
qual ângulo escolher de acordo com a espessura da
anatomia ou do corte que quer realizar.
4.4.1. Tomografia linear
Tabela 1. Relação entre ângulo de deslo-
camento e espessura do plano de corte.
Até agora descrevemos o tomógrafo linear
como sendo um equipamento que realiza apenas um
ÂNGULO ESPESSURA DO CORTE movimento retilíneo. Em equipamentos convencio-
0o Infinita nais que são adaptados para a realização da tomogra-
2o 31 mm fia, este é o único movimento possível. Porém,
4o 16 mm equipamentos construídos especificamente para a
6o 11 mm realização da tomografia convencional podem apre-
10o 6 mm sentar movimentos circulares ou angulados, permi-
20o 3 mm tindo uma melhora no contraste e resolução da
35o 2 mm imagem.
50o 1 mm Para que a distância da anatomia (plano de
corte) e o filme se mantenha constante, é necessário
que o sistema cabeçote-porta-chassi faça um movi-
pequenos mento em arco, conforme a figura 4.4.
ângulos
trajetória
do cabeçote
grandes
ângulos
grande
espessura
pequena
espessura
Figura 4.3. Detalhe da mesa de controle de um
tomógrafo linear automático. trajetória
do filme
Ainda na figura 4.3 podemos verificar que os Figura 4.4. Movimento angular do sistema cabe-
dois botões da direita controlam a altura do ponto de çote-porta-chassi.
fulcro. Os dois últimos botões em baixo, permitem
colocar o conjunto cabeçote-porta-chassi na posição
inicial do exame (esquerda) e testar o movimento 4.4.2. Tomografia multidirecional
(direita). Os tomogramas lineares muitas vezes apare-
Os controles também podem estar localiza- cem marcados com listras, principalmente quando
dos junto a mesa do paciente, permitindo que o técni- radiografamos estruturas compridas como grandes
co posicione o paciente ao mesmo tempo em que ossos que, embora estejam fora do plano de cor-
ajusta a posição do cabeçote e do fulcro. te,estão orientados segundo o movimento do sistema
cabeçote-filme. Além disso, a tomografia linear não
consegue fixar bem o foco de certas estruturas e pla-
nos de corte, resultando numa imagem pouco nítida e
borrada. Estes problemas são acentuados quanto
maiores forem os ângulos de movimentação do cabe-
çote, pois mais angulada será a projeção da imagem
da anatomia no filme. Para superar estes problemas a
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4. 30 Parte 3 – RADIOGRAFIA ESPECIALIZADA
solução é alterar a trajetória de movimentação do beçote necessita para cumprir todo o seu movimento,
sistema cabeçote-porta-chassi. seja linear ou circular. Este tempo, de 1 a 10 segun-
Embora não tenha sido comentado até agora, dos, pode elevar a dose do paciente em até dez vezes
o principio de funcionamento da tomografia consiste se comparada a uma radiografia comum. Uma tomo-
me movimentar o sistema cabeçote-porta-chassi de grafia dos rins pode infligir no paciente uma dose de
forma síncrona. Ou seja, se ambos permanecerem a até 10 mGy. Além disso, o técnico tem que avaliar
mesma distância, o que significa distâncias de foco- muito bem a espessura do paciente e acertar na pri-
paciente e paciente-filme constantes, não importa a meira tentativa ao plano de corte, evitando assim que
trajetória ou o movimento feito pelo cabeçote. novos tomogramas sejam realizadas por má posicio-
Assim, foram desenvolvidos quatro tipos de namento do fulcro.
movimentos que podem ser realizados por um siste- Outro problema relativo a dose é a utilização
ma cabeçote-porta-chassi: de grade durante a realização do exame. Como o uso
a) circular; da grade antidifusora é recomendada para melhorar a
b) elíptico; nitidez da imagem radiográfica, também deve ser
c) hipocicloidal; utilizada na tomografia. Porém a grade deve ser ori-
d) trispiral. entada segundo o movimento do cabeçote, para que
ela não bloqueie todos os fótons de raios X por estar
De acordo com o ângulo utilizado, as ima- perpendicular ao feixe. No caso de movimentos cir-
gens fornecidas pelo movimento hipocicloidal e tris- culares, a grade deve alterar sua orientação durante o
piral serão as mais nítidas. O movimento circular do movimento do cabeçote, o que constitui numa solu-
cabeçote possui uma resolução e nitidez melhores ção de engenharia muito complexa (figura 4.6).
que o sistema linear, porém aquém dos outros três
movimentos. Por serem estruturas um tanto comple- movimento
xas para uma realização prática, estes equipamentos do cabeçote
não são mais fabricados uma vez que a tomografia
computadorizada e a ressonância magnética produ-
zem imagens muito mais nítidas e de melhor resolu-
ção.
grade
filme
(a) (b)
Figura 4.6. Movimentos executados pela grade
antidifusora para acompanhar os movimentos do
cabeçote.
Uma solução para diminuir a dose no pacien-
te é a utilização de vários filmes ao mesmo tempo. A
(c) (d) tomografia com múltiplos filmes consiste em utilizar-
Figura 4.5. Movimentos executados em tomógra- se um porta-chassi especial onde se utiliza um chassi
fos com trajetória bidimensional do cabeçote: a) mais alto. Este chassi, por ser mais alto ou mais gros-
circular; b) elíptico; c) hipocicloidal; d) trispiral. so permite a inserção de 4 a 6 filmes simultaneamen-
te. Os filmes são espaçados com folhas de um
material radiotransparente e translúcido de 0,5 a 1 cm
de espessura. Com isso, são obtidos de 4 a 6 tomo-
4.5 DOSE gramas simultâneos com o paciente recebendo uma
dose ligeiramente maior do que para realização de
um simples tomograma. E com certeza, muito menor
A principal desvantagem da tomografia con- do que se fosse necessário realizar 4 a 6 exposições
vencional é o aumento da dose no paciente devido ao distintas para cada imagem separadamente.
excessivo tempo de exposição. A radiação é mantida
constante durante os poucos segundos em que o ca-
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5. TOMOGRAFIA LINEAR 31
Figura 4.7. Tomografia com múltiplos filmes di-
minui a dose no paciente por ser realizada uma
única exposição para vários planos de corte.
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6. 32 Parte 3 – RADIOGRAFIA ESPECIALIZADA
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7. 5. BIBLIOGRAFIA
BUSHONG, Stewart C. Radiologic science for technologists: physics, biology, and protection. 6 ed.
Mosby-Year Book, Inc. St. Louis 1997, 600 pp.
EISENBERG, Ronald L. Radiology: an illustrated history. Mosby-Year Book, Inc. St. Louis 1992, 606
pp.
HOXTER, Erwin A. Introdução a técnica radiográfica. Siemens AG - Editora Edgard Blücher Ltda. São
Paulo 1977, 223 pp.
Manuais de Fabricantes: Philips, General Electric e Siemens.
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