O documento discute os principais conceitos da sociologia marxista, incluindo: 1) Como Marx influenciou as ciências sociais e o mundo social apesar de não ter se dedicado explicitamente à sociologia; 2) A influência da dialética de Hegel no pensamento de Marx e o desenvolvimento do materialismo histórico dialético; 3) A distinção entre infraestrutura e superestrutura na análise social de acordo com Marx.
3. Marx nas Ciências Sociais e no
mundo social
- Diferentemente de Durkheim e Weber,
na vasta obra do alemão Karl Marx
(1818-1883) não há uma preocupação
explícita com a elaboração de uma
disciplina sociológica, já que o
pensamento de Marx tende ao holístico;
- No entanto, suas ideias tiveram enorme
impacto nas Ciências Sociais –
constituindo-se numa das fontes mais
importantes da Sociologia – assim como
na política e em vários outros âmbitos
intelectuais e sociais;
Karl Marx (1818-1883)
Fonte: Wikipédia
4. Marx nas Ciências Sociais e no
mundo social
- O pendor menor de Marx pela disciplinarização
do saber acadêmico e maior preocupação com a
transformação social refletem-se na sua
biografia.
- Marx não chegou a ocupar posições de mando
nas universidades e sua militância política
(evidente em muitas de suas obras – como o
célebre Manifesto do Partido Comunista [1848])
causaram-lhe uma série de dificuldades pessoais,
como perseguições, exílio e penúria econômica.
5. A dialética de Hegel
- Talvez a influência mais significativa no
pensamento Marx seja a do filósofo Georg
Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) que
postulava a dialética como um movimento
histórico e um método de apreensão do
conhecimento;
- Na dialética hegeliana a compreensão dos
fenômenos ocorre pela captura intelectual de
uma unidade dialética, que só pode ser
vislumbrada em algo (por exemplo, o “finito”)
se o seu oposto (o “infinito”) também for
articulado à reflexão;
Georg Wilhelm Friedrich Hegel
(1770-1831)
Fonte: Wikipédia
6. A dialética de Hegel
- O pensamento dialético operaria a partir da “tese” e da
“antítese”, em busca de uma “síntese”, que seria um raciocínio
superior, mas ainda passível de superação nesse movimento
contínuo da reflexão entre o particular e a totalidade;
- Marx funda seu método de análise, o chamado materialismo
histórico (ou materialismo dialético histórico) na crítica (e
potencial superação) ao “idealismo” da posição de Hegel. Isso
porque enquanto para Hegel haveria uma Ideia Absoluta que
regeria a marcha rumo à sua própria realização, entre
teses/antíteses e contínuas sínteses provisórias, para Marx são
os homens historicamente situados que fazem esse movimento.
7. O materialismo histórico dialético
- Em termos sintéticos, para
Marx (e para seu amigo e
colaborador Engels), o “ideal”
nasce do material, da realidade
que os homens vivem (daí o
“materialismo”), situado na
história (o “histórico”),
realizando-se em lutas
(contradições) sociais que – em
sua trajetória histórica –
possuem um caráter “dialético”;
Friedrich Engels (1820-1895)
Fonte: Wikipédia
8. O materialismo histórico dialético
- Desse modo: “Aplicada aos fenômenos
historicamente produzidos, a ótica dialética
cuida de apontar as contradições constitutivas
da vida social que resultam na negação e
superação de determinada ordem” (Oliveira e
Quintaneiro, 2002: 29);
- É por isso que se nota que na essência do
método marxista de análise está a contradição.
9. Superestrutura e infraestrutura social
- De acordo com o ponto de vista materialista de
Marx, o elemento primordial da realidade social é o
modo como os homens produzem suas condições
de existência, ou seja, a base econômica da
sociedade.
- E esta base é o fundamento das instituições
políticas e sociais do Estado, bem como das
diferentes estruturas ideológicas de uma sociedade
(arte, política, filosofia, religião, direito etc.);
10. Superestrutura e infraestrutura social
- Assim, segundo o conhecido esquema
marxista, as ideias (superestrutura)
derivam, em última análise, da base
material de uma sociedade
(infraestrutura); e as idéias dominantes
em qualquer época são as da classe
dominante, procurando manter sua
dominação.
11. Superestrutura e infraestrutura
social
- Entretanto, superestrutura
e infraestrutura
desenvolvem-se de maneira
dialética, e algumas
vertentes do marxismo
(como prática política)
enfatizaram a importância
de promover mudanças no
plano das ideias e valores
da sociedade
Cartas de Agit-prop
Fonte: Communist University
(http://domza.blogspot.com.br/2
014/01/agitprop.html)
12. Superestrutura e infraestrutura
social
- Isso pode se dar tanto
para a feitura da
revolução (por exemplo,
o agit-prop russo)
quanto durante o
desenvolvimento da
sociedade socialista (p.
ex., estética do “realismo
socialista” e Revolução
Cultural Chinesa)
Ilustração de livro didático
chinês da época da Revolução
Cultural
Fonte: Wikipédia
13. Conhecimento científico e
objetividade
- Para Marx, o ponto de vista de classe e o
conhecimento científico não são contraditórios;
- Ao contrário, o desmascaramento da ideologia só
é possível pelos grupos que se colocam em
oposição ao sistema existente (o proletariado);
- As ideologias dominantes, pelo contrário, são um
obstáculo ao conhecimento.
14. Modos de produção e mudança social
- Para compreender como Marx vê o desenvolvimento
histórico, é importante detalhar mais a noção de “base
econômica”. Esta é constituída de determinadas
relações sociais de produção e forças produtivas, que
possuem determinado estágio de desenvolvimento
conforme a época.
- A ideia de “forças produtivas” resume os elementos
essenciais à produção (tecnologia, instrumentos,
matéria-prima etc.) e as “relações sociais de produção”
dizem respeito ao modo como os meios de produção
são distribuídos e o produto é apropriado;
15. Modos de produção e mudança social
- Da conjunção entre certa organização de
forças produtivas e relações sociais de
produção resulta determinado modo de
produção (por exemplo, o capitalismo) e é
a partir da sucessão entre modos de
produção que se dá a mudança histórica,
segundo Marx.
16. A “luta de classes” como motor
(e lei) da história
- Se é a sucessão entre os modos de produção que
gera a mudança histórica e social, o que faz com que
um modo de produção supere outro? Segundo Marx,
isso ocorre devido à luta de classes;
- A luta de classes seria, então, o motor da história,
sendo um conceito que permitiria compreender o
passado e o futuro da humanidade (até a síntese final
que seria o “comunismo”);
17. A “luta de classes” como motor
(e lei) da história
- A luta de classes pode
ser definida como as
relações de antagonismo
existentes entre classes
sociais (a dominante e a
explorada), que levam a
uma superação dialética
no plano da história, em
outro estágio;
Fonte:
https://www.youtube.com/watch?
v=EaVbYyky-Bw
18. A “luta de classes” como motor
(e lei) da história
- São exemplos de situações de lutas de classe
(e correspondentes modos de produção):
escravos e patrícios na Antiguidade
(escravismo), servos e senhores feudais
(feudalismo), trabalhadores e capitalistas
(capitalismo). Grosso modo, no esquema
dicotômico apresentado, a classe dominante
é a proprietária dos meios de produção, ao
contrário da classe explorada;
19. A “luta de classes” como motor
(e lei) da história
- É no sentido exposto que Marx
afirma no Manifesto Comunista
que toda história humana tinha
sido a história da luta de
classes, na qual a classe
explorada era a agente de
mudança.
Manifesto Comunista
(1848)
Fonte: Wikipédia
20. A crítica do capitalismo em Marx
- Marx dedicou grande parte de sua obra – principalmente seu
trabalho mais elaborado, O Capital (Livro 1 – 1867) – à análise
do capitalismo;
- De um lado, Marx reconhecia o caráter revolucionário, dentro
da história humana, desse modo de produção e o papel da
burguesia no mesmo;
- De outro lado, criticava os aspectos alienantes e
antiemancipação humana que observara, afirmando que o
estágio de superação do capitalismo e consequentes relações
sociais – via luta de classe – seria a posterior sociedade sem
classes do “comunismo” (após a “ditadura do proletariado” e o
socialismo que a vitória dos explorados pelo capitalismo
produziria);
21. A crítica do capitalismo em Marx
- Um dos pontos criticados por Marx no capitalismo era a
alienação que o sistema produzia no trabalhador, já que este:
:: Não se reconhecia nos produtos que elaborava,
:: Perdia o domínio em relação às condições do trabalho
(que poderia sequer ser compreendido pelo ele), sendo
sua energia mental e física sugada por atividades que
não lhe diziam respeito e,
:: Por fim, o capitalismo fazia com que o trabalho
humano – o que distingue os homens dos animais –
não fosse livre, passando a ser algo apenas ligado à
sobrevivência.
- Assim, Marx acreditava que a existência humana degradava-se,
em função do capitalista só reconhecer o homem enquanto um
ser a explorar. O desempregado, o miserável e o doente eram
vistos como “fantasmas” inúteis para o capitalista;
22. A crítica do capitalismo em Marx
- Ao não reconhecer a humanidade de todos os
homens, o próprio burguês estaria
desumanizando-se. Por isso, a transformação no
modo de produção (rumo ao socialismo)
também emanciparia o capitalista.
23. A “mais-valia” e o “fetichismo da
mercadoria”
- O capitalismo, para Marx, era o reino da mercadoria, sendo esta uma
categoria central desse sistema, e toda mercadoria possuiria dois tipos de
valor:
:: Valor de uso, correspondente ao tipo de necessidade a
que ela responde (comer, vestir etc.) e
:: Valor de troca, que é derivado do tempo de trabalho
socialmente necessário para produzir a mercadoria;
- Assim, no mercado do capitalismo, as trocas são regidas por essa
abstração do trabalho humano (“valor de troca”) e, mesmo, do valor de
uso;
- Como para Marx o trabalho é a única fonte de geração do valor, e o
trabalhador vende sua força de trabalho (uma mercadoria) por um valor
menor do que aquele que cria, essa diferença gera a “mais valia” que é
apropriada pelo capitalista, tornando-se parte da riqueza do mesmo. Essa
taxa de exploração do trabalhador é mascarada pela ideologia igualitária do
24. A “mais-valia” e o “fetichismo da
mercadoria”
- Ao mesmo tempo, a ideologia capitalista, segundo Marx,
obscurece a relação (homens/trabalho) que existe na troca de
mercadorias, alienando os homens de suas reais relações
(humanas) no mercado;
- Desse modo, parece a muitas pessoas que as mercadorias
possuem vida própria, uma relação mágica entre si. Isso é o que
Marx chamou de o “fetichismo da mercadoria”, que faz com que
os valores pareçam uma propriedade natural das coisas;
- “Através da forma fixa em valor-dinheiro, o caráter social dos
trabalhos privados e as relações entre os produtores se
obscurecem. É como se um véu nublasse a percepção da vida
social materializada na forma dos objetos, dos produtos do
trabalho e de seu valor” (Oliveira e Quintaneiro, 2002, 55).
25. O marxismo como teoria crítica
revolucionária
- Ao dedicar-se à crítica do capitalismo a obra marxista buscou
afirmou-se como um meio para a tomada de consciência
necessária para o fim da exploração capitalista, ou seja, uma
teoria voltada à praxis;
- O fim do capitalismo, que traria em si seus elementos de
superação, seria inevitável, segundo o modelo histórico
marxista, e o grupo social que mudaria a realidade seria aquele
em situação de antagonismo com a burguesia dominante: o
proletariado;
- É famosa, como uma síntese do que imaginava ser a tarefa de
sua filosofia, a frase de Marx: “os filósofos até agora apenas
interpretaram o mundo, de vários modos; agora é preciso
transformá-lo”.
26. Críticas ao marxismo
- O pensamento de Marx recebeu muitas críticas e
ainda recebe (sobretudo com o fim do chamado
“socialismo real”), porém sua obra não deixa de
ocupar um lugar de referência no pensamento
social;
- Entre as restrições à reflexão de Marx, destacam-
se a posição do filósofo Karl Popper (1902-1994),
que critica o “historicismo” de Marx, que
prejudicaria sua compreensão científica da
realidade;
27. Críticas ao marxismo
- Outra crítica (senão ao marxismo, pelo menos a suas
implicações na realidade) é o fato, destacado por filósofos da
Escola de Frankfurt, que o proletariado dos países
desenvolvidos, graças às políticas de distribuição de renda e
bem-estar social, deixara de ser um agente interessado na
revolução. Esse grupo estaria, desde meados do século XX,
na verdade, bem integrado ao sistema capitalista (embora
numa posição subalterna e alienada, para os frankfurtianos);
- Também importante, em termos das críticas recebidas pelo
marxismo, é a questão do determinismo econômico que
estaria embutido no esquema explicativo de Marx.
28. Referências
LÖWY, Michel. Marxismo. In: ____. Ideologia e
Ciência Social: elementos para uma análise marxista.
São Paulo: Cortez, 1991. p. 93-112.
OLIVEIRA, Márcia Gardênia Monteiro e
QUINTANEIRO, Tania. Karl Marx. In: QUINTANEIRO,
Tânia et al. Um toque de clássicos, Belo Horizonte,
Ed. UFMG. p. 27-66, 2002.