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Aula: O MATERIALISMO HISTÓRICO

Livro base A Ideologia alemã, de Karl MARX e Friedrich ENGELS

                                                                             Por Carlo Romani1

Em A Ideologia alemã, Karl Marx realiza a primeira grande crítica ao
pensamento filosófico hegeliano. Ele tenta mostrar como as bases
fundamentais do pensamento alemão da primeira metade do século XIX,
derivado de Hegel e cujos autores são denominados de neo-hegelianos, tem
um caráter idealista, e continua colocando a idéia à frente da realidade. Sua
crítica mais feroz é contra os irmãos Bauer, contra Strauss e contra Max
Stirner, precursor filosófico do anarquismo individualista e fonte primária de
Nietzsche.

Para isso, Marx partiu das teses de Paul Feurbach que desenvolveu um
materialismo humanista, ou seja, uma compreensão do progresso da história
em que as crescentes necessidades materiais do homem, fruto do
desenvolvimento das idéias, são o motor da evolução da civilização. Marx
nunca negou que sua compreensão de história partisse de Feuerbach. Porém, a
concepção materialista do progresso histórico, tese central de Marx, não se dá
como uma evolução das necessidades humanas, mas como uma evolução das
relações de produção, e tem como pressuposto um estudo histórico do
desenvolvimento das forças produtivas da humanidade.

Relações de produção para Marx significam basicamente como é que se dá o
trabalho humano (tecnologia produtiva), o resultado do trabalho humano em
uma escala coletiva (recursos materiais gerados por esse trabalho) e a
apropriação desses recursos pela sociedade (quem tem mais ou menos
propriedades, desde o próprio corpo até o acúmulo ilimitado de propriedades).

A partir desse estudo histórico, Marx assinala três tipos de forma de
propriedade, ou divisão do trabalho social, que para ele são sinônimos, até o
advento do capitalismo. Cada forma de propriedade gera um modo de
produção:
   1) Tribal: a primeira forma histórica organizada em torno da família e
      depois em torno do clã, em que o pai torna-se o senhor dos meios de
      produção e explora economicamente o resto da família.
1
 Professor Adjunto de História do Mundo Contemporâneo na Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro – UNIRIO.
2) Comunal e estatal antiga: em que a vila ou aldeia consagra um chefe
      guerreiro, herdeiro do pai mais forte do clã mais importante, e que se
      torna rei e, assim, institui-se primeiro uma monarquia e quando ela se
      expande através de guerras forma um império. A divisão social do
      trabalho se amplia com a submissão dos vencidos e temos a hierarquia
      entre os senhores e os escravos.
   3) Feudal e estamental: houve uma desorganização daquela sociedade
      estatal anterior seja internamente como resultado do conflito entre
      senhores e escravos, seja externamente, por pressão das tribos e das
      monarquias não dominantes, e agora há uma descentralização do
      império em que o rei não consegue mais reunir os diversos senhores que
      se tornam poderosos locais e dominam a plebe agora transformada em
      camponeses servos, uma vez que a economia enfraquecida não sustenta
      mais o trabalho escravo.

A história da humanidade para Marx, então, é a história da transformação dos
modos de produção. Além dessa concepção fundamentalmente econômica,
Marx também dá importância à produção de idéias, que na verdade seriam
para ele somente o resultado e expressão da atividade material e do modo de
produzir dominante em cada época, pois teriam como objetivo alienar o
trabalhador da compreensão dessa divisão social do trabalho existente.
Novamente, é a produção dos meios materiais de existência em cada época da
história que faz com que a humanidade se organize institucionalmente no
modo da família, a seguir do Estado, e isso implica em uma divisão do
trabalho: alguém manda, alguém obedece, alguém trabalha manualmente,
alguém pensa o trabalho, alguém faz mais força física, alguém usufrui mais,
etc. Isso torna os homens e as mulheres e as crianças desiguais e, portanto, os
indivíduos têm acesso a uma distribuição desigual dos recursos e dos
benefícios do trabalho humano.

Essa divisão acontece dentro da família, da tribo, do clã, do estado, do
império, entre as diferentes nações, mas, para Marx, a base de toda essa
desigualdade é o surgimento de classes sociais diferentes. Por isso, a dinâmica
do progresso histórico para Marx é a dinâmica da luta entre as classes em
todas as épocas. Essa dinâmica gera o segundo conceito fundamental de Marx
que é a luta de classes. Com o decorrer do tempo, dentro de qualquer
sociedade humana o poder de uns poucos sobre os outros, a maioria, se
tornaria insuportável. Na análise histórica de Marx, a distribuição desigual se
amplia, a concentração material aumenta, gerando cada vez mais massas
totalmente destituídas de propriedade e isso levaria a uma revolução. Temos
aqui outro conceito fundamental em Marx, a idéia também central de que as
transformações dos modos de produção se dão através de uma revolução.

Durante a revolução, que é longa, até que alguma classe consiga superar a
outra e se estabelecer novamente como poder há o desenvolvimento das forças
produtivas para superar a escassez de recursos que se formou. Seguindo essa
linha de pensamento evolutiva, Marx protagonizou como última revolução da
humanidade aquela que levaria ao comunismo em escala mundial, sociedade
em que todos os homens viveriam de forma igual sem escassez de recursos.
No século XIX, a divisão social do trabalho implicou na criação de duas
grandes classes sociais antagônicas: burguesia e proletariado, que seriam as
classes em confronto na última revolução da humanidade.

Nas idéias marxistas, a burguesia é a classe social que domina os meios
materiais da existência e também os meios de produção e distribuição das
idéias. Proletariado, cujo significado é “aqueles que têm muitos filhos”,
seriam os trabalhadores oprimidos pela burguesia. Lenin, revolucionário
russo, foi o homem que na prática, em 1917, liderou a primeira revolução
comunista da história que, infelizmente para os marxistas, não alcançou o
objetivo esperado por Marx.

Voltando à época em que foi escrita a Ideologia alemã, Marx acusa os neo-
hegelianos de estarem presos, enquanto sociedade civil, ao pensamento
revolucionário da burguesia, que seria o que ele chama de superestrutura
idealista dominante. Ou seja, para Marx, o pensamento burguês democrático
de tomada do poder sem uma mudança na divisão social do trabalho, ou,
melhor dizendo, no regime da propriedade privada, seria somente mais uma
etapa histórica da humanidade. Para ele, a última etapa, a derradeira, seria a de
uma revolução que, no lugar da crítica ideológica da burguesia, teria como
meta histórica a superação de todas as diferenças de classe anteriores, acabaria
com a propriedade privada e nos levaria ao comunismo. Portanto, as
condições históricas para a revolução derradeira seriam dadas pelos elementos
materiais que oprimem uma classe subordinada à outra, e não os pensamentos
filosóficos ou idéias. O proletariado não se revoluciona por causa das idéias,
mas sim por motivos de necessidade material.

Aqui temos que esclarecer mais dois conceitos fundamentais em Marx:
Infraestrutura é o nome dado ao fundamento real, ou material, da sociedade,
que são as relações de produção, o modo de produção, a divisão do trabalho e
a propriedade privada. É o que condiciona a origem de todas as idéias.
Superestrutura corresponde às idéias que existem na sociedade de cada
época, cujas idéias das classes dominantes são as idéias que se instalariam na
maior parte da sociedade. A essas idéias, que são originadas pela classe
dominante, Marx chama de ideologia.

Estamos em frente a outro conceito marxista fundamental: ideologia. Essa
palavra expressa o conjunto de idéias dominantes em cada época e que sempre
são as idéias da classe dominante de cada época. No século XIX, o século de
Marx, para criar uma oposição a esse conjunto de idéias dominantes da
burguesia, o proletariado deveria ter suas próprias idéias. É essa a concepção
marxista de história e de revolução, de que a história se transforma pela ação
de nossa vontade, que o levou a escrever o Manifesto Comunista em 1848.
Nesse livro está presente a concepção ideológica do proletariado, ou seja, o
conjunto de idéias que os trabalhadores deveriam seguir para protagonizar a
futura revolução mundial de superação das classes sociais.

No pensamento marxista, a ideologia burguesa está presente em todas as ações
e compreensão do real pela maioria da população. Por exemplo, a procura do
ganho e do lucro, que é uma qualidade do pensamento burguês, é transmitida
pela ideologia até para uma sociedade indígena que vive ainda uma economia
de trocas. O Direito burguês, tanto na Constituição, no Código Civil, penal, ou
no do consumidor, nada mais é o do que a compreensão legal sobre o direito
às propriedades, desde a humana até a imobiliária, ou, mais recentemente a
propriedade virtual. E isso que é passado como sendo o direito de todos, na
verdade somente seria o interesse de uma classe privilegiada e não o interesse
da maioria da população mundial. Portanto, para Marx, a lei, em última
instância, é sempre o direito do mais forte. O que talvez mude na história seja
a forma como o mais forte faz valer seu direito, se com as armas, como no
passado, ou com o tribunal, como no presente, e mesmo assim, ainda com a
ajuda da intimidação física e material.

De qualquer forma, o pensamento de Marx, datado de meados do século XIX,
mesmo que revolucionário para a época – o materialismo histórico seria a
ciência do homem – encontrava-se dentro do determinismo evolucionista que
previa um progresso teleológico para a história da humanidade. No caso de
Marx, esse progresso desembocaria finalmente na revolução mundial que
levaria ao comunismo, estágio último da humanidade, superação da
propriedade privada e das classes sociais, fim manifesto da história. Max
Stirner, o São Max tão criticado por Marx, em seu O único e sua propriedade,
escrito em 1844, ridicularizou esse princípio positivista do comunismo ao qual
ele chamou de a maior religião jamais imaginada na face da terra. O
marxismo, a corrente de pensamento dos seguidores da teoria de Karl Marx,
de fato, se tornaria fé cega em boa parte da população do século XX,
principalmente no segmento dos intelectuais da Academia, e Marx, tal qual
Jesus, seu grande profeta.

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Aula sobre materialismo historico com base na Ideologia Alema de Karl Marx

  • 1. Aula: O MATERIALISMO HISTÓRICO Livro base A Ideologia alemã, de Karl MARX e Friedrich ENGELS Por Carlo Romani1 Em A Ideologia alemã, Karl Marx realiza a primeira grande crítica ao pensamento filosófico hegeliano. Ele tenta mostrar como as bases fundamentais do pensamento alemão da primeira metade do século XIX, derivado de Hegel e cujos autores são denominados de neo-hegelianos, tem um caráter idealista, e continua colocando a idéia à frente da realidade. Sua crítica mais feroz é contra os irmãos Bauer, contra Strauss e contra Max Stirner, precursor filosófico do anarquismo individualista e fonte primária de Nietzsche. Para isso, Marx partiu das teses de Paul Feurbach que desenvolveu um materialismo humanista, ou seja, uma compreensão do progresso da história em que as crescentes necessidades materiais do homem, fruto do desenvolvimento das idéias, são o motor da evolução da civilização. Marx nunca negou que sua compreensão de história partisse de Feuerbach. Porém, a concepção materialista do progresso histórico, tese central de Marx, não se dá como uma evolução das necessidades humanas, mas como uma evolução das relações de produção, e tem como pressuposto um estudo histórico do desenvolvimento das forças produtivas da humanidade. Relações de produção para Marx significam basicamente como é que se dá o trabalho humano (tecnologia produtiva), o resultado do trabalho humano em uma escala coletiva (recursos materiais gerados por esse trabalho) e a apropriação desses recursos pela sociedade (quem tem mais ou menos propriedades, desde o próprio corpo até o acúmulo ilimitado de propriedades). A partir desse estudo histórico, Marx assinala três tipos de forma de propriedade, ou divisão do trabalho social, que para ele são sinônimos, até o advento do capitalismo. Cada forma de propriedade gera um modo de produção: 1) Tribal: a primeira forma histórica organizada em torno da família e depois em torno do clã, em que o pai torna-se o senhor dos meios de produção e explora economicamente o resto da família. 1 Professor Adjunto de História do Mundo Contemporâneo na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO.
  • 2. 2) Comunal e estatal antiga: em que a vila ou aldeia consagra um chefe guerreiro, herdeiro do pai mais forte do clã mais importante, e que se torna rei e, assim, institui-se primeiro uma monarquia e quando ela se expande através de guerras forma um império. A divisão social do trabalho se amplia com a submissão dos vencidos e temos a hierarquia entre os senhores e os escravos. 3) Feudal e estamental: houve uma desorganização daquela sociedade estatal anterior seja internamente como resultado do conflito entre senhores e escravos, seja externamente, por pressão das tribos e das monarquias não dominantes, e agora há uma descentralização do império em que o rei não consegue mais reunir os diversos senhores que se tornam poderosos locais e dominam a plebe agora transformada em camponeses servos, uma vez que a economia enfraquecida não sustenta mais o trabalho escravo. A história da humanidade para Marx, então, é a história da transformação dos modos de produção. Além dessa concepção fundamentalmente econômica, Marx também dá importância à produção de idéias, que na verdade seriam para ele somente o resultado e expressão da atividade material e do modo de produzir dominante em cada época, pois teriam como objetivo alienar o trabalhador da compreensão dessa divisão social do trabalho existente. Novamente, é a produção dos meios materiais de existência em cada época da história que faz com que a humanidade se organize institucionalmente no modo da família, a seguir do Estado, e isso implica em uma divisão do trabalho: alguém manda, alguém obedece, alguém trabalha manualmente, alguém pensa o trabalho, alguém faz mais força física, alguém usufrui mais, etc. Isso torna os homens e as mulheres e as crianças desiguais e, portanto, os indivíduos têm acesso a uma distribuição desigual dos recursos e dos benefícios do trabalho humano. Essa divisão acontece dentro da família, da tribo, do clã, do estado, do império, entre as diferentes nações, mas, para Marx, a base de toda essa desigualdade é o surgimento de classes sociais diferentes. Por isso, a dinâmica do progresso histórico para Marx é a dinâmica da luta entre as classes em todas as épocas. Essa dinâmica gera o segundo conceito fundamental de Marx que é a luta de classes. Com o decorrer do tempo, dentro de qualquer sociedade humana o poder de uns poucos sobre os outros, a maioria, se tornaria insuportável. Na análise histórica de Marx, a distribuição desigual se amplia, a concentração material aumenta, gerando cada vez mais massas totalmente destituídas de propriedade e isso levaria a uma revolução. Temos
  • 3. aqui outro conceito fundamental em Marx, a idéia também central de que as transformações dos modos de produção se dão através de uma revolução. Durante a revolução, que é longa, até que alguma classe consiga superar a outra e se estabelecer novamente como poder há o desenvolvimento das forças produtivas para superar a escassez de recursos que se formou. Seguindo essa linha de pensamento evolutiva, Marx protagonizou como última revolução da humanidade aquela que levaria ao comunismo em escala mundial, sociedade em que todos os homens viveriam de forma igual sem escassez de recursos. No século XIX, a divisão social do trabalho implicou na criação de duas grandes classes sociais antagônicas: burguesia e proletariado, que seriam as classes em confronto na última revolução da humanidade. Nas idéias marxistas, a burguesia é a classe social que domina os meios materiais da existência e também os meios de produção e distribuição das idéias. Proletariado, cujo significado é “aqueles que têm muitos filhos”, seriam os trabalhadores oprimidos pela burguesia. Lenin, revolucionário russo, foi o homem que na prática, em 1917, liderou a primeira revolução comunista da história que, infelizmente para os marxistas, não alcançou o objetivo esperado por Marx. Voltando à época em que foi escrita a Ideologia alemã, Marx acusa os neo- hegelianos de estarem presos, enquanto sociedade civil, ao pensamento revolucionário da burguesia, que seria o que ele chama de superestrutura idealista dominante. Ou seja, para Marx, o pensamento burguês democrático de tomada do poder sem uma mudança na divisão social do trabalho, ou, melhor dizendo, no regime da propriedade privada, seria somente mais uma etapa histórica da humanidade. Para ele, a última etapa, a derradeira, seria a de uma revolução que, no lugar da crítica ideológica da burguesia, teria como meta histórica a superação de todas as diferenças de classe anteriores, acabaria com a propriedade privada e nos levaria ao comunismo. Portanto, as condições históricas para a revolução derradeira seriam dadas pelos elementos materiais que oprimem uma classe subordinada à outra, e não os pensamentos filosóficos ou idéias. O proletariado não se revoluciona por causa das idéias, mas sim por motivos de necessidade material. Aqui temos que esclarecer mais dois conceitos fundamentais em Marx: Infraestrutura é o nome dado ao fundamento real, ou material, da sociedade, que são as relações de produção, o modo de produção, a divisão do trabalho e a propriedade privada. É o que condiciona a origem de todas as idéias.
  • 4. Superestrutura corresponde às idéias que existem na sociedade de cada época, cujas idéias das classes dominantes são as idéias que se instalariam na maior parte da sociedade. A essas idéias, que são originadas pela classe dominante, Marx chama de ideologia. Estamos em frente a outro conceito marxista fundamental: ideologia. Essa palavra expressa o conjunto de idéias dominantes em cada época e que sempre são as idéias da classe dominante de cada época. No século XIX, o século de Marx, para criar uma oposição a esse conjunto de idéias dominantes da burguesia, o proletariado deveria ter suas próprias idéias. É essa a concepção marxista de história e de revolução, de que a história se transforma pela ação de nossa vontade, que o levou a escrever o Manifesto Comunista em 1848. Nesse livro está presente a concepção ideológica do proletariado, ou seja, o conjunto de idéias que os trabalhadores deveriam seguir para protagonizar a futura revolução mundial de superação das classes sociais. No pensamento marxista, a ideologia burguesa está presente em todas as ações e compreensão do real pela maioria da população. Por exemplo, a procura do ganho e do lucro, que é uma qualidade do pensamento burguês, é transmitida pela ideologia até para uma sociedade indígena que vive ainda uma economia de trocas. O Direito burguês, tanto na Constituição, no Código Civil, penal, ou no do consumidor, nada mais é o do que a compreensão legal sobre o direito às propriedades, desde a humana até a imobiliária, ou, mais recentemente a propriedade virtual. E isso que é passado como sendo o direito de todos, na verdade somente seria o interesse de uma classe privilegiada e não o interesse da maioria da população mundial. Portanto, para Marx, a lei, em última instância, é sempre o direito do mais forte. O que talvez mude na história seja a forma como o mais forte faz valer seu direito, se com as armas, como no passado, ou com o tribunal, como no presente, e mesmo assim, ainda com a ajuda da intimidação física e material. De qualquer forma, o pensamento de Marx, datado de meados do século XIX, mesmo que revolucionário para a época – o materialismo histórico seria a ciência do homem – encontrava-se dentro do determinismo evolucionista que previa um progresso teleológico para a história da humanidade. No caso de Marx, esse progresso desembocaria finalmente na revolução mundial que levaria ao comunismo, estágio último da humanidade, superação da propriedade privada e das classes sociais, fim manifesto da história. Max Stirner, o São Max tão criticado por Marx, em seu O único e sua propriedade, escrito em 1844, ridicularizou esse princípio positivista do comunismo ao qual
  • 5. ele chamou de a maior religião jamais imaginada na face da terra. O marxismo, a corrente de pensamento dos seguidores da teoria de Karl Marx, de fato, se tornaria fé cega em boa parte da população do século XX, principalmente no segmento dos intelectuais da Academia, e Marx, tal qual Jesus, seu grande profeta.