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Segurança alimentar
32 FOOD INGREDIENTS BRASIL Nº 4 - 2008 www.revista-fi.com
SEGURANÇA
ALIMENTAR
Segurança alimentar é um conjunto de normas de produção,
transporte e armazenamento de alimentos visando
determinadas características físico-químicas, microbiológicas
e sensoriais padronizadas, segundo as quais os alimentos
são adequados ao consumo. Estas regras são, até certo ponto,
internacionalizadas, de modo que as relações entre os povos
possam atender as necessidades comerciais e sanitárias.
Cappylobacterjejuni/©SebastianKaulitzkiDreamstime.com
???????
33FOOD INGREDIENTS BRASIL Nº 4 - 2008www.revista-fi.com
U
m conceito
importante
na garantia
de um ali-
mento sau-
dável é o dos
“ p e r i g o s ” ,
que podem
ser de ori-
gem biológica, química ou física.
Entre os perigos de origem
biológica estão os microrganismos
(protozoários, fungos, bactérias
e vírus), as principais causas de
contaminação de alimentos. Os
alimentos possuem uma compo-
sição bastante complexa, ou seja,
possuem um número muito grande
de componentes. Estes componen-
tes são em sua maior parte água,
proteínas, lipídios e carboidratos,
além de sais minerais, vitaminas
(co-fatores) e ácidos nucléicos.
Tal como o corpo humano, que
consegue aproveitar significati-
va parte destes compostos, uma
grande variedade de espécies de
microrganismos também estão
habilitados a fazê-lo. Isto faz com
que os alimentos sejam locais
ideais para a proliferação desses
organismos.
As bactérias são um dos gru-
pos mais conhecidos e numerosos.
Podem ser deteriorantes, quando
causam alterações nas proprieda-
des sensoriais (cor, cheiro, sabor,
textura, viscosidade etc.) ou pa-
togênicas, que causam doenças.
Os fungos são, a grosso modo,
divididos em fungos filamentosos
(bolores) e leveduras. Sua ocor-
rência é mais comum em alimentos
com baixo percentual de água e/ou
elevada porção de lipídios, como
amêndoas e castanhas, por exem-
plo. Os fungos são os principais
perigos biológicos destes alimen-
tos. Seu risco está na produção de
micotoxinas por algumas espécies.
Estes compostos ao serem ingeri-
dos, acumulam-se no organismo,
causando uma série de transtornos,
desde ataques ao fígado a alguns
tipos de câncer.
Em sua maior parte, o grupo de
microrganismo mais associados aos
perigos biológicos são as bactérias
e os fungos, contudo, atualmente
vem se dando um maior destaque
aos vírus, como o caso da febre
aftosa ou da gripe aviária, por
exemplo.
Entende-se por perigos físicos
a existência de corpos estranhos,
como pedaços de metal, pedaços
de borracha, pedaços de plástico,
areia, parafusos, pedaços de ma-
deira, cacos de vidro ou pedras.
A microscopia eletrônica de grãos
de areia é um exemplo de perigo
físico. Durante o processamento
ou preparo de alimentos, pode
ocorrer uma contaminação física
no produto. Estas contaminações
provêm, principalmente, dos pró-
prios equipamentos, que podem
soltar pedaços de metais e/ou plás-
tico e/ou borracha (especialmente
em equipamentos com agitadores
mecânicos), parafusos etc., ou
das matérias-primas, que trazem
consigo sujidades aderidas aos
produtos no momento da colheita
ou do transporte.
O mercúrio, assim como os de-
mais metais pesados, é considerado
um perigo químico. Compostos
químicos tóxicos, irritantes ou
que não são habitualmente usados
como ingrediente. Podem ser agro-
tóxicos, hormônios (sintéticos),
antibióticos, detergentes, metais
pesados, óleo lubrificante, entre ou-
tros. Desde o momento da produção
até o consumo, os alimentos estão
sujeitos à contaminação química.
Esta contaminação pode ocorrer no
próprio campo, através da aplicação
de inseticidas, herbicidas e outros
agentes para controle de pragas
na agricultura. A contaminação
pode ser ocasionada também pela
contaminação do solo com metais
pesados.
A Tabela 1 contém um resu-
mo dos perigos associados aos
­alimentos.
TABELA 1 - PERIGOS ASSOCIADOS A ALIMENTOS
Biológico	 Químico	 Físico
Parasitas e protozoárlos	 Alergênlcos	 Panes de pragas
Vírus		 Metais tóxicos: chumbo, cádmlo	 Osso
Mlcotoxlnas	 Aditivos alimentares: conservantes,	 Caroços de frutas
		 coadjuvantes de fabrlcação
		 Bifenilas policloradas (PCBs)
		 Tintas de impressão
		 Substâncias proibidas
Macrobiológico	 Resíduos veterinários: antibióticos,	 Vidro
Microbiológico	 estimulantes do crescimento	 Metal
Bactérias patogênicas	 Plastificantes e migração na embalagem	 Pedras
	 Formadores de esporos 	 Resíduos químicos: pesticidas, fluidos de limpeza	 Madeira
	 Não-esporulados 	 	 Plástico
Segurança alimentar
34 FOOD INGREDIENTS BRASIL Nº 4 - 2008 www.revista-fi.com
Alimentos seguros
As diferentes definições de
alimentos seguros são dadas a
partir do que constitui um risco
significativo, ou seja, o consumidor
pode considerar que alimentos se-
guros significam risco igual a zero,
enquanto o produtor de alimentos
deve considerar o que é um risco
aceitável. Contudo, a consideração
de risco igual a zero é impraticável,
devido a quantidade de produtos
alimentícios disponíveis, a com­
plexidade da cadeia de distribuição
e a própria natureza humana. Por
outro lado, não há um consenso pú-
blico do que constitui exatamente
um risco aceitável. De qualquer
forma, é certo que os riscos de
ocorrência de doenças transmitidas
por alimentos devem ser reduzidos
ao máximo durante a sua produção.
Contudo, a produção de alimentos
seguros não é tarefa fácil e requer
alguns procedimentos básicos,
como controle da fonte, controle do
desenvolvimento e do processo dos
produtos, boas práticas higiênicas
durante a produção, processa-
mento, manipulação, distribuição,
estocagem, venda, preparação e
utilização, além de uma abordagem
preventiva.
O controle de patógenos de ori-
gem alimentar na fonte nem sempre
é fácil, pois muitos deles sobrevivem
no ambiente por longos períodos de
tempo e podem ser transmitidos de
várias maneiras, conforme apresen-
tado na figura acima.
ROTAS DE TRANSMISSÃO DE
PATÓGENOS ENTERAIS
Existe um grande número de fa-
tores que contribuem para tornar um
alimento inseguro, causando toxin-
fecções às pessoas que os ingerirem.
Entre as principais causas estão o
controle inadequado da temperatura
durante o cozimento, o resfriamen-
to e a estocagem, higiene pessoal
insuficiente, contaminação cruzada
entre produtos crus e processados,
e monitoramento inadequado dos
processos.
A chave para a produção de ali-
mentos seguros é produzir alimentos
microbiologicamente estáveis, ou
seja, é necessário certificar-se de que
nenhum microrganismo do alimento
irá se multiplicar até doses infeccio-
sas; de maneira geral, é importante
que estejam inativados e que não
haja toxinas. Assim, as temperaturas
de cozimento e de resfriamento são
essenciais, pois tem como finalidade
reduzir o número de microrganismos
infectivos em uma ordem de 6 log (106
células/g até 1 célula/g), bem como
não prover condições que permitam
o crescimento de esporos microbianos
que sobrevivam ao cozimento, e evitar
condições favoráveis para a produção
de toxinas termoestáveis que, por
definição, são resistentes a 100°C du-
rante 30 minutos e, portanto, não são
destruídas no processo de cocção.
Os alimentos que não passam pelo
processo de cozimento são, normal-
AS TOXINFECÇÕES
Apesar de serem raros os casos fatais, este tipo de doença pode causar
distúrbios na saúde pública com conseqüências sociais e econômicas mais
ou menos graves. As toxinfecções alimentares decorrem de vários fatores
e seu grau de gravidade é em função do tipo de microrganismo ingerido, do
número de microrganismos (grau de contaminação do alimento), de sua
multiplicação no organismo, da quantidade da toxina elaborada no alimento
ou no organismo, e da sensibilidade do hospedeiro (idade, estado de saúde).
Manifestam-se pelo aparecimento de sintomas característicos, conforme o
microrganismo responsável.
As doenças provocadas nos homens e nos animais têm causas muito variadas,
devendo-se destacar:
- As alergias;
- Os envenenamentos por substâncias químicas que podem existir no alimento,
ser introduzidas nele ou ser produzidas por microrganismos;
- As doenças do tipo infecciosas provocadas por microrganismos.
As doenças bacterianas de origem alimentar podem ser produzidas por três
tipos de bactérias:
- As bactérias toxigênicas - formam toxinas no alimento durante a sua multi-
plicação, cuja ingestão provoca no consumidor um quadro patológico, que está
relacionado apenas com a toxina e não com as células bacterianas. Ex.: Clostridium
botulinum e Staphylococcus aureus.
- As bactérias patogênicas - que contaminando o alimento ingerido, podem
multiplicar-se ativamente no aparelho digestivo (intestino), provocando uma reação
do tipo infeccioso. Os sintomas da doença só aparecem se no alimento existirem
células viáveis dessas bactérias. Ex.: Salmonella, Clostridium perfringens, Bacillus
cereus e Vibrio parahaemolyticus.
- Multiplicação anormal de bactérias habitualmente saprófitas - pode provocar
reações no consumidor idênticas às causadas por bactérias patogênicas. Ex.:
Enterococcus.
Nas toxinfecções alimentares as bactérias mais freqüentes são: Salmo-
nella, Staphylococcus aureus e Clostridium perfringens. As principais outras
bactérias que, embora menos vezes responsabilizadas, podem dar origem
a toxinfecções alimentares graves são: Clostridium botulinum, Bacillus
cereus, Listeria monocytogenes, Yersinia, Shigella, Campylobacter e Vibrio
parahaemolyticus.
Água
Solo
Safra Esgoto
Animais
Fezes
Carne
Humanos
Silagem, alimentação
???????
35FOOD INGREDIENTS BRASIL Nº 4 - 2008www.revista-fi.com
mente, acidificados e estocados sob
condições de resfriamento. Essa
prática baseia-se no princípio de que
o pH e a temperatura do alimento
inibirão o crescimento microbiano.
Portanto, é possível predizer o pH
e a temperatura de estocagens de
alimentos que restringirão o cresci-
mento dos patógenos de alimentos.
A faixa de crescimento da maioria
dos microrganismos que causam
toxinfecções alimentares é apresen-
tada na Tabela 2.
A faixa de pH de um microrga-
nismo é definida pelo valor mínimo
(no final ácido da escala) e pelo
valor máximo (no final básico da
escala). Cada microrganismo possui
um valor ótimo de pH, no qual seu
crescimento é máximo (veja Tabela
3). As mudanças bruscas de pH de
um alimento podem se refletir na
atividade microbiana. Os alimentos
fracamente tamponáveis (que não
resistem a mudanças de pH), como
os vegetais, por exemplo, podem
alterar seu pH consideravelmente.
Para carnes, o pH de um músculo
animal descansado pode diferir
bastante do pH de um animal fa-
tigado. Um alimento pode possuir,
inicialmente, um pH que impeça o
crescimento bacteriano, mas esse
valor pode ser alterado pelo meta-
bolismo de outros microrganismos
(mofos e leveduras), permitindo o
crescimento bacteriano.
Já as faixas de temperatura para
o crescimento microbiano, bem como
as de pH, possuem um valor mínimo
e outro máximo, com um valor ótimo
de temperatura para o crescimento
máximo. O valor ótimo de tempe-
ratura de crescimento determina o
grupo que o microrganismo perten-
cerá, ou seja, grupo dos termófilos,
dos mesófilos ou dos psicrófilos.
Um microrganismo termófilo não
se desenvolve em temperaturas
ambientes e, portanto, alimentos
enlatados podem ser estocados em
temperaturas ambientes mesmo que
contenham termófilos que sobrevi-
veram a processamentos com altas
temperaturas.
As orientações sobre o tempo e
a temperatura para a maioria dos
patógenos de origem alimentar de
frutos do mar foram determinadas
considerando o tempo total de uma
dada temperatura. Por exemplo,
para controlar o crescimento de
espécies de Salmonella, o alimento
não deve ser exposto a temperatu-
ras entre 5,2°C e 10°C durante mais
de 14 dias; ou a temperaturas entre
11°C e 21°C durante mais de 6 horas;
ou ainda, a temperaturas maiores
que 21°C por mais de três horas.
TABELA 2 - LIMITES DE CRESCIMENTO MICROBIANO
Organismo	 Atividade de 	
Faixa de pH
	 Taxa de 	 Faixa de
	 água mínima (aw
) 		 temp. (0
C)a
	 crescimento b
(td
)
A. hydrophila 	 0,970 	 (7,2 ótimo) 	 -0,1-42	 12 h, 40
C
B. cereus 	 0,930 	 4,3-9,3	 4-52 	 4 h/geração, 80
C
B. stearothermophilus	 –	 5,2-9,2 	 28-72
C. jejuni	 0,990 	 4,9-9,5 	 30-45 	 6 h/geração, 320
C
CI. botulinum tipos A e proteolíticos tipos B e F 	 0,935 	 4,6-9,0 	 10-48 	 (8 d, 100
C)C
CI. botulinum tipos E e não-proteolíticos tipos B e F 	 0,965 	 5,0-9.0 	 3,3-45	 (8 d, 10.C)C
CI. perfringens 	 0,945 	 5,0-9,0 	 10-52 	 12 h, 120
C
E. coli 	 0,935 	 4,0-9,0 	 7-49,4 	 25 h/geração, 80
C
Lactobacíllus spp. 	 0,930 	 3,8-7,2 	 5-45
L. monocytogenes 	 0,920 	 4,4-9,4 	 -0,4-45 	 1 d, 4,40
C
Salmonella spp. 	 0,940 	 3,7-9,5 	 5-46 	 (60 h)d
, 10 h, 100
C
Shigella spp. 	 0,960 	 4,8-9,3 	 6,1-47,1 	 (3,6 d, 80
C)e
St. aureus 	 0,830 	 4,0-10,0 	 7-50	 (2,8 d)d
, 1 d, 100
C
Produção de toxinas 	 0,850 	 4,0-9,8 	 10-48
V. cholerae 	 0,970 	 5,0-10,0 	 10-43 	 (4 h)d
, 98 min. 200
C
V. parahaemoiyticus 	 0,936 	 4,8-11,0 	 5-44 	 60 min, 180
C
V. vulnificus 	 0,960 	 5,0-10,0 	 8-43
Y. enterocolitica 	 0,945 	 4,2-10,0 	 -1,3-45 	 17 h, 50
C
Saccharomyces spp. 	 0,85 	 2,1-9,0 	 -
Asp. oryzae 	 0,77 	 1,6-13,0 	 10-43
F. miniliforme 	 0,87 	 < 2,5-> 10,6 	 2,5-37
Pen. verrucosum 	 0,79 	 < 2,1-> 10,0 	 0-31
Segurança alimentar
36 FOOD INGREDIENTS BRASIL Nº 4 - 2008 www.revista-fi.com
Conservação de alimentos
Pode-se definir como conservan-
te toda a substância que impede ou
retarda a alteração dos alimentos
provocada por microrganismos ou
enzimas. Os conservantes e os agen-
tes antimicrobianos têm um papel
importante no abastecimento de
alimentos quimicamente estáveis e
seguros. A demanda crescente para
alimentos de conveniência e o shelf
life razoavelmente longo exigido
pelas cadeias de distribuição, tornam
imperativo o uso de conservantes em
alimentos processados. Alguns deles,
tais como os sulfatos, nitratos e outros
sais, já estão sendo usados há séculos
em carnes processadas e vinhos. A
escolha de um agente de conservação
deve ser baseada no conhecimento
do seu espectro antimicrobiano, nas
propriedades químicas e físicas, tanto
do alimento quanto do conservante,
nas condições de manuseio, processo
e estocagem, e na segurança de uma
alta qualidade inicial do alimento a
ser conservado.
Apesar das medidas higiênicas
e normas sanitárias habitualmente
aplicadas na produção de alimentos,
perde-se anualmente, no mundo
todo, toneladas de alimentos de boa
qualidade, devido ao ataque de mo-
fos, bolores, leveduras e bactérias.
Muitas espécies de microrganismos
produzem toxinas potencialmente ne-
fastas para a saúde dos consumidores.
Um exemplo é a alfatoxina B1, uma
das substâncias mais cancerígenas,
produzida pelo fungo Aspergillus
flavus, que costuma formar-se sobre
os alimentos.
Estas perdas e riscos podem ser
evitados, em grande parte, aplicando-
se os métodos de conservação ade-
quados. Em certos casos, pode-se
utilizar processos físicos envolvendo o
frio, o calor, a desidratação, ou outros.
Esses procedimentos não podem ser
aplicados em todas as situações nem
em todos os tipos de alimentos, porque
podem alterar as propriedades gusta-
tivas do produto e, muitas vezes, são
extremamenteonerosos.Torna-se,en-
tão,necessárioousodeumconservan-
te e, dentre os mais freqüentemente
usados, destacam-se o ácido benzóico
e seus sais; os parabenos ou ésteres de
PHB;ossulfatos;osnitratosenitritos;
o cloreto de sódio; os bacteriocinos; e o
ácido sórbico e seus derivados.
O controle do crescimento de
microrganismos em alimentos por
conservantes químicos está relacio-
nado com o pH do meio. A forma não-
dissociada da molécula é que confere
a característica antimicrobiológica dos
conservantes. Os valores de kPa (pH
no qual 50% da molécula se encontra
na forma dissociada) da maioria dos
conservantes encontra-se na faixa de
pH entre 3 e 5, portanto, a concentra-
ção da forma não-dissociada aumenta
com o aumento da acidez, garantindo
uma maior eficiência no controle dos
microrganismos. Na faixa de pH
alto, particularmente entre 5,5 a 6, os
ácidos inorgânicos são relativamente
ineficientes, a exceção dos parabenos,
que permanecem na forma não-
dissociada, sendo efetivos inibidores.
A forma não-dissociada do conser-
vante penetra através da membrana,
tornando-se ionizado após alcançar o
interior da célula. A concentração in-
TABELA 3 - VALORES DE PH DE ALGUNS ALIMENTOS
Faixa de pH	 Alimento	 pH
Baixa acidez (pH7,0-5,5) 	 Ovos inteiros 	 7,1-7,9
	 Ovos congelados 	 8,5-9,5
	 Leite 	 6,3-8,5
	 Queijo Camembert 	 7,44
	 Queijo Cheddar 	 5,9
	 Queijo Roquetort 	 5,5-5,9
	 Bacon 	 6,6-5,6
	 Carne de carcaças 	 7,0-5,4
	 Carne vermelha 	 6,2-5,4
	 Presunto 	 5,9-6,1
	 Vegetais enlatados 	 6,4-5,4
	 Galinha 	 5,6-6,4
	 Peixe 	 6,6-6,8
	 Crustáceos 	 6,8-7,0
	 Leite 	 6,3-6,5
	 Manteiga 	 6,1-6,4
	 Batatas 	 5,6-6,2
	 Arroz 	 6,0-6,7
	 Pão 	 5,3-5,8
Média acidez (pH 5,3-4,5) 	 Vegetais fermentados 	 5,1-3,9
	 Queijo Cottage 	 4,5
	 Bananas 	 4,5-5,2
	 Vagem 	 4,6-5,5
Ácido (pH 4,5-3,7) 	 Maionese 	 4,1-3,0
	 Tomates 	 4,0
Muito ácido (pH 3,7) 	 Picles em conserva e 	 3,9-3,5
	 Sucos de frutas
	 Chucrutes 	 3,3-3,1
	 Frutas cítricas 	 3,5-3,0
	 Maçãs 	 2,9-3,3
???????
37FOOD INGREDIENTS BRASIL Nº 4 - 2008www.revista-fi.com
tracelular dos ácidos orgânicos altera
o funcionamento normal do gradiente
envolvido no sistema de transporte da
membrana celular.
Métodos de conservação
A maioria dos métodos de con-
servação é elaborada para inibir o
crescimento de microrganismos. Os
métodos que previnem ou inibem o
crescimento microbiano incluem o
resfriamento, congelamento, seca-
gem, cura, processos de conserva,
embalagens a vácuo, embalagens
com atmosferas modificadas, fer-
mentação e utilização de conservan-
tes. Os outros métodos inativam os
microrganismos como, por exemplo,
a pasteurização, esterilização e ir-
radiação. A maioria dos métodos de
conservação é baseada na redução
do crescimento microbiano, devido a
condições ambientais desfavoráveis,
bem como redução de temperatura,
diminuição do pH e da atividade de
água e desnaturação, devido a trata-
mentos térmicos.
A conservação por tratamento
térmico abrange os processos de pas-
teurização, esterilização, sous-vide e
altas pressões hidrostáticas.
No processo de pasteurização, o
leite, por exemplo, é normalmente
pasteurizado utilizando o método
HTST (High Temperature Short
Time), ou Alta Temperatura de Tem-
po Curto, com 72°C, por 15 segundos.
Esse método é realizado com a fina-
lidade de eliminar todas as bactérias
patogênicas, como a Mycobacterium
tuberculosis, Salmonella spp. e
Brucella spp. Os microrganismos
termodúricos são aqueles capazes de
sobreviver a pasteurização, incluin-
do-se neste grupo o Streptococus
thermophilus, Enterococus faecalis,
Micrococus luteus e Microbacterium
lacticum. Os esporos de B. cereus e
B. subtilis podem sobreviver a tra-
tamento térmico, sendo que os de B.
cereus causam degradação do leite,
conhecida por creme fino. A Tabela 4
apresenta outros regimes de tempo e
temperatura de pasteurização.
A esterilização é um método apro-
priado para prolongar a estocagem do
leite. O tratamento térmico é forte
o suficiente para eliminar todos os
microrganismos presentes, tanto os
deteriorantes quanto os patógenos de
origem alimentar. Existe uma chance
estatística de um microrganismo
sobreviver ao processo, mas isso é
normalmente aceito na produção de
alimentos seguros.
Os produtos sous-vide são aqueles
embalados a vácuo e que passam por
tratamentos térmicos brandos, pos-
suindo uma estocagem a frio cuida-
dosamente controlada para prevenir
o crescimento de patógenos formado-
res de esporos, como o Cl. botulinum.
Esse tratamento é equivalente a 90°C,
por 10 minutos. Os organismos dete-
riorantes, principalmente psicrófilos,
também são inativados durante o
tratamento térmico, o que prolonga
a vida de prateleira. Os mesófilos e
os termófilos tendem a sobreviver a
tratamentos térmicos brandos muito
mais do que os psicrófilos, mas são
incapazes de se multiplicar a tempe-
raturas frias de estocagem.
As altas pressões hidrostáticas,
entre 300 e 500 MPa, inativam bacté­
rias vegetativas, enquanto altas
pressões (acima de 1.000 MPa) são
necessárias para eliminar os esporos
bacterianos. O processo pode ser
combinado (sinergicamente) com
tratamentos térmicos sempre que
baixas pressões, entre 100 e 200 MPa,
são utilizadas.
Ferramentas de
gerenciamento da
segurança alimentar
Apesar das indústrias e dos órgãos
reguladores trabalharem pela produ-
TABELA 4 - TEMPO DE PASTEURIZAÇÃO E REGIMES DE TEMPERATURA
Alimentos	 Processo de	 Principal objetivo 	 Efeitos secundários
	 pasteurização		
Leite 	 630
C, 30 min. 	 Destruir os patógenos: 	 Destrói os microrganismos deterioradores
	 71,50
C, 15 min.	 Br. abortis, My. tuberculosis, C. bumetti
Ovo líquido 	 64,40
C, 2,5 min. 	 Destruir os patógenos 	 Destrói os microrganismos deterioradores
	 600
C, 3,5 min
Sorvete 	 650
C, 30 min. 	 Destruir os patógenos 	 Destrói os microrganismos deterioradores
	 710
C, 10 min.
	 800
C, 15 seg.
Suco de fruta 	 650
C, 30 min. 	 Inativar as enzimas: pectina esterase e 	 Destrói fungos
	 770
C, 1 min. 	 poligalacturonase 	 e leveduras deterioradores
	 880
C, 15 seg.
Cerveja 	 65-680
C, 20 min. 	 Destruir os microrganismos deterioradores:
	 (na garrafa)
	 72-750
C, 1-4 min. 	leveduras e bactérias ácido-lácticas
	 (900-1.000 kPa)
Segurança alimentar
38 FOOD INGREDIENTS BRASIL Nº 4 - 2008 www.revista-fi.com
ção e por sistemas de processamento
que garantam que todos os alimen-
tos sejam seguros e saudáveis, a
isenção completa dos riscos é um
objetivo inatingível. Os fatores de
segurança alimentar precisam ser
aplicados a toda cadeia alimentar,
da produção ao consumidor e, para
isso, é necessária a integração de
ferramentas de qualidade, as quais
podem ser implementadas mundial-
mente, facilitando a comunicação
dos distribuidores de alimentos e
autoridades reguladoras.
A crescente preocupação com
a qualidade dos alimentos tem ge-
rado o desenvolvimento de várias
ferramentas de gestão da qualida-
de, as quais têm sido criadas e uti-
lizadas na expectativa de atender a
quesitos de idoneidade em respeito
ao consumidor, para oferecer um
produto seguro e, ao mesmo tempo,
contemplar as exigências de comer-
cialização, principalmente as de
exportação, nas quais os critérios
são bem mais rigorosos. Além des-
tes pontos, há também a diminuição
de custos, gerada pela redução de
perdas e otimização da produção,
dentre outros benefícios.
Das ferramentas disponíveis,
podem ser citadas as BPF (Boas
Práticas de Fabricação), PPHO
(Procedimentos Padrão de Higiene
Operacional), MRA (Avaliação de
Riscos Microbiológicos), Gerencia-
mento da Qualidade (Série ISO),
TQM (Gerenciamento da Qualidade
Total) e o Sistema APPCC (Análise
de Perigos e Pontos Críticos de
Controle), o qual tem sido ampla-
mente recomendado por órgãos
de fiscalização e utilizado em toda
cadeia produtiva de alimentos, por
ter como filosofia a prevenção, ra-
cionalidade e especificidade para
controle dos riscos que um alimento
possa oferecer, principalmente,
no que diz respeito à qualidade
sanitária.
Sistema APPCC - Análise de
Perigos e Pontos Críticos
de Controle
O sistema APPCC, da sigla ori-
ginal em inglês HACCP (Hazard
Analisys and Critical Control
Points), teve sua origem na década
de 50 em indústrias químicas na Grã
Bretanha e, nos anos 60 e 70, foi ex-
tensivamente usado nas plantas de
energia nuclear e adaptado para a
área de alimentos pela ­Pillsbury
Company, a pedido da NASA, para
que não houvesse nenhum proble-
ma com os astronautas relativo
a enfermidades transmitidas por
alimentos (ETA) e equipamentos
(migalhas de alimentos) em pleno
vôo. O problema de migalhas foi
resolvido com o uso de embalagens
especiais e, de possíveis ETA, com
a utilização do sistema APPCC,
que, por mostrar-se altamente
preventivo, evita a falsa sensação
de segurança de produtos, que
eram, até então, inspecionados lote
a lote por análises microbiológicas,
sendo esta a única garantia dada
por outras ferramentas de controle
de qualidade.
Microrganismos altamente pa-
togênicos podem ser veiculados por
alimentos e bebidas e, o sistema
APPCC, atualmente, é a única fer-
ramenta que trabalha no caminho
da prevenção.
Da sigla APPCC, o AP (Aná-
lise de Perigos) é, sem dúvida, a
peça-chave para todo o sistema,
principalmente para a determina-
ção dos PCCs (Pontos Críticos de
Controle). Estes perigos à saúde
do consumidor são classificados
em perigos químicos, físicos e bio-
lógicos, e variam quanto ao grau de
severidade e riscos potenciais de
manifestação em consumidores. Os
perigos biológicos compreendem
bactérias patogênicas e suas toxi-
nas, vírus e parasitas. Os perigos
físicos incluem cacos de vidro, es-
pículas de osso, fio de cabelo, entre
outros. Já os perigos químicos têm
como exemplo os defensivos agríco-
las, antibióticos, micotoxinas, sani-
tizantes e uma grande quantidade
de produtos que podem entrar em
contato com o alimento.
Enquanto os perigos químicos
são os mais temidos pelos consu-
midores e os perigos físicos os mais
comumente identificados (pêlos,
fragmentos de osso ou de metal,
etc.), os perigos biológicos são os
mais sérios do ponto de vista de
saúde pública, e representam a
grande maioria das ocorrências
totais ocasionadas, principalmente
por bactérias. Por esta razão, ainda
que o sistema APPCC trate dos
três tipos de perigos, os biológicos
devem ser abordados em maiores
detalhes.
O Ponto Crítico de Controle
(PCC) é qualquer ponto, etapa ou
procedimento no qual se aplicam
medidas preventivas para manter
Em sua maior parte, o grupo de microrganismos mais
associados aos perigos biológicos são as bactérias e
os fungos, contudo, atualmente vem se dando um maior
destaque aos vírus, como o caso da febre aftosa ou da
gripe aviária, por exemplo.
???????
39FOOD INGREDIENTS BRASIL Nº 4 - 2008www.revista-fi.com
um perigo identificado sob controle,
com objetivo de eliminar, prevenir
ou reduzir os riscos à saúde do
consumidor. Os PCC1, PCC2, PPC3
e assim por diante, representam a
ordem em que estes PCCs aparecem
no fluxograma do produto. Ponto de
Controle (PC) é qualquer ponto, eta-
pa ou procedimento no qual fatores
biológicos, químicos ou físicos podem
ser controlados, prioritariamente,
por programas e procedimentos de
pré-requisitos, como as Boas Práti-
cas. Justifica-se o estabelecimento
do PCC a partir da constatação do
risco significativo da ocorrência de
um determinado perigo que provo-
que impacto à saúde pública. Um
exemplo prático seria a etapa de
pasteurização do leite fluido, a qual
sempre constituirá um PCC, pois
não há etapa anterior ou posterior
efetiva (quando a matéria-prima é
de boa qualidade) para a redução
de microrganismos patogênicos a
um nível aceitável, e o item a ser
controlado (binômio tempo/tempe-
ratura) não faz parte do programa
de pré-requisitos. Já a etapa de em-
pacotamento do leite pasteurizado
pode ser tratada como um PC, pois
o seu controle depende basicamente
do programa de Boas Práticas, como
manutenção preventiva de equipa-
mentos, higienização adequada de
máquinas, tubulações e ambiente e
treinamento de pessoal.
A legislação nacional referente
ao APPCC teve início em 1993, es-
tabelecendo pelo SEPES/MAARA
normas e procedimentos para pes-
cados, e, no mesmo ano, a Portaria
1428 do MS preconizou normas
para obrigatoriedade em todas as
indústrias de alimentos. Em 1998,
a Portaria 40 do MAARA, atual
MAPA, estabeleceu um manual de
procedimentos baseado no sistema
APPCC para bebidas e vinagres
e, logo em seguida, a Portaria 46
do MAPA, obrigou a implantação
gradativa em todas as indústrias
de produtos de origem animal do
programa de garantia de qualidade
APPCC, cujo pré-requisito essen-
cial são as BPF.
O APPCC é baseado em uma
série de etapas inerentes ao pro-
cessamento industrial dos alimen-
tos, incluindo todas as operações
que ocorrem desde a obtenção
da matéria-prima até o consumo,
fundamentando-se na identificação
dos perigos potenciais à saúde do
consumidor, bem como nas medi-
das de controle das condições que
geram os perigos. É racional, por
basear-se em dados científicos e
registrados; é lógica e compreen-
sível, por considerar ingredientes,
processos e usos dos produtos; é
contínua, ou seja, os problemas
Salmonella/©SebastianKaulitzkiDreamstime.com
Segurança alimentar
40 FOOD INGREDIENTS BRASIL Nº 4 - 2008 www.revista-fi.com
são detectados e imediatamente
corrigidos; e sistemática, por ser
um plano completo, passo a passo
desde a matéria-prima até a mesa
do consumidor.
Entre os benefícios atribuídos
ao sistema APPCC está a garantia
da segurança do alimento; a dimi-
nuição de custos operacionais (evita
destruição, recolhimento e, às ve-
zes, re-processamento); a diminui-
ção do número de análises; a redu-
ção de perdas de matérias-primas
e produtos; a maior credibilidade
junto ao cliente; a maior competi-
tividade na comercialização, além
de atender a obrigatoriedade na
exportação e a requisitos legais
internos, como a Portaria 46/98, e
externos, como o Codex, Mercosul
e Comunidade Européia.
Os requisitos para a implanta-
ção do APPCC em uma indústria
vão além das BPF e PPHO; o
comprometimento da alta direção
é indispensável para o início das
atividades, a qual deve ser informa-
da e motivada para a importância
e benefícios que o sistema possa
trazer e, também, disponibilizar
recursos para aquisição de equi-
pamentos, sanitizantes, material
de pesquisa, etc.
Em uma seqüência lógica, come-
ça-se por delegar responsabilida-
des a um profissional competente e
treinado para liderar o programa.
Esse profissional deverá possuir,
além de conhecimento técnico, faci-
lidade de trabalhar em equipe. Uma
equipe multidisciplinar deverá ser
formada; a correta definição do
grupo é fundamental para o desen-
volvimento do trabalho, e deve-se
levar em consideração não somente
a necessidade de ter integrantes
com graduação formal, mas, tam-
bém, aqueles que têm vivência com
a prática da indústria. O treinamen-
to do pessoal da equipe e de toda a
indústria deve ser conduzido toda
vez que se achar necessário, para
capacitação técnica dos funcioná-
rios e envolvimento maior com o
sistema. Isso permitirá e facilitará
a implantação e/ou adequação dos
pré-requisitos PPHO ou POP e
BPF, que irão gerar o manual de
Boas Práticas de Fabricação, o qual
deve estar em dia com a legislação
vigente e ser avaliado pelo MAPA
ou outro órgão competente, antes
de se dar início a elaboração do
plano APPCC.
O sistema APPCC se baseia em
sete princípios. O primeiro deles,
inclui a análise de perigos e medidas
preventivas. Este princípio repre-
senta a base para a identificação
dos PCCs e PCs e visa identificar
perigos significativos e estabelecer
medidas preventivas cabíveis. Com
auxílio do histórico dos produtos,
consultas bibliográficas, entre
outros recursos, os perigos são
identificados, focando a atenção aos
fatores, de qualquer natureza, que
possam representar perigo. Todas
as matérias-primas, ingredientes e
etapas são avaliados e, quando não
é possível eliminar, prevenir, ou re-
duzir o perigo, por meio de medidas
preventivas, alterações no fluxogra-
ma deverão ser realizadas.
O segundo princípio diz respeito
a identificação dos pontos críticos
de controle. Os PCCs são pontos
caracterizados como realmente
críticos à segurança e devem ser
restritos ao mínimo possível. Para
determinação de PCCs e PCs, uma
árvore decisória deverá ser utiliza-
da. Os pontos considerados como
PCCs, devem ser identificados e
enumerados em um fluxograma.
O terceiro princípio é sobre o es-
tabelecimento dos limites críticos.
São valores (máximo e/ou mínimo)
que caracterizam a aceitação para
cada medida preventiva a ser moni-
torada pelo PCC e estão associados
a medidas como tempo, temperatu-
ra, pH, acidez titulável, etc. Algu-
mas empresas adotam os limites
de segurança, ou faixa de trabalho,
que são padrões mais rigorosos em
relação aos limites críticos, adota-
dos como medida para minimizar a
ocorrência de desvios.
O quarto princípio estabelece os
procedimentos de monitorização. O
primeiro passo é determinar o que
monitorar, quando, como e quem
será o responsável, que deverá ser
treinado e capacitado para esta ta-
refa. O monitoramento é a medição
ou observação esquematizada de
um PCC relativa a seus limites crí-
ticos, e os procedimentos utilizados
precisam ser capazes de detectar
perdas de controle do PCC, além
de fornecer informações em tempo
para correção.
Os métodos de monitoramento
devem ser fáceis e de rápida men-
suração, já que não haverá tempo
para exames analíticos extensos.
Assim, são preferidos testes quí-
micos (acidez titulável) e físicos
(tempo/temperatura), já que os
microbiológicos, com exceção de al-
guns testes rápidos que geralmente
são limitados a algumas etapas, são
muito demorados. Toda monitoriza-
ção gera um documento associado a
cada PCC e deve ser assinado pelas
pessoas que executam esta tarefa e
pelos supervisores e responsáveis
da empresa.
O princípio cinco estabelece as
ações corretivas. As ações correti-
vas específicas devem ser desen-
volvidas para cada PCC de forma
a controlar um desvio nos limites
críticos ou na faixa de segurança e
devem garantir novamente a segu-
rança do processo. Estas ações vão
desde ajustes na temperatura, até a
destruição do lote de produto.
O princípio seis estabelece os
procedimentos de verificação. É
uma fase na qual tudo que já foi
realizado anteriormente passa por
uma revisão de adequação para
total segurança do processo. A
verificação consiste na utilização
de procedimentos em adição aos
de monitorização; aqui podem ser
incluídas análises microbiológicas
tradicionais que, apesar de demo-
radas, são mais seguras e possuem
respaldo da legislação. Esta ação
deverá ser conduzida rotineiramen-
te ou aleatoriamente para assegu-
rar que os PCCs estão sob controle
???????
41FOOD INGREDIENTS BRASIL Nº 4 - 2008www.revista-fi.com
e que o plano APPCC é cumprido.
Em relatórios de verificação devem
constar todos os registros já efetua-
dos, os de monitorização, de desvios
de ações corretivas, de treinamento
de funcionários, entre outros. A ve-
rificação permite, também, avaliar
se algumas determinações estão
sendo muito rigorosas, fora da rea­
lidade ou desnecessárias.
O sétimo e último princípio esta-
belece os procedimentos de regis-
tro. Todos os documentos ( análise
de perigos, por exemplo) ou regis-
tros (atividades de monitoramento
dos PCCs, por exemplo) gerados ou
utilizados (material para subsídio
técnico, por exemplo) devem ser ca-
talogados e guardados. É muito im-
portante que estes papéis estejam
organizados e arquivados em local
de fácil acesso, para que a equipe
se sinta envolvida e responsável e,
sobretudo, para facilitar uma audi-
toria. Outros exemplos de registros
e documentos incluem relatórios de
auditoria do cliente, registros de
desvios e ações corretivas e regis-
tro de treinamentos.
A implementação do plano
APPCC significa passar do papel
para a prática um plano que foi
baseado em estudos e teorias. Esse
é, sem dúvida, o passo mais difícil
para a indústria. Compreende,
além de alteração na rotina, vários
treinamentos com funcionários de
todos os setores envolvidos para a
capacitação técnica que o sistema
exige. As mudanças têm que ser in-
seridas gradativamente e da forma
mais prática possível.
O sistema APPCC, apesar de
dispensar certo trabalho e investi-
mento inerente a qualquer progra-
ma de qualidade, atualmente é o
que mais gera confiança dentro das
indústrias, não só em relação à se-
gurança do produto ou minimização
de perdas, mas pela certeza de estar
cumprindo as exigências da fiscali-
zação nacional e internacional.
BPF - Boas Práticas de
Fabricação
As Boas Práticas de Fabricação
(BPF) abrangem um conjunto de
medidas que devem ser adotadas
pelas indústrias de alimentos, a fim
de garantir a qualidade sanitária
e a conformidade dos produtos
alimentícios com os regulamentos
técnicos. A legislação sanitária fe-
deral regulamenta essas medidas
em caráter geral, aplicável a todo
tipo de indústria de alimentos,
e específico, voltadas às indús-
trias que processam determinadas
­categorias de alimentos.
As BPF abordam os princípios,
os procedimentos e os meios fun-
damentais favoráveis para a pro-
dução de alimentos com qualidade
aceitável.
Os requisitos gerais de BPF
usualmente abordam como itens
o projeto e as instalações que fa-
voreçam a higiene das fábricas de
alimentos; o projeto, a construção
e o uso higiênico apropriado da
maquinaria; os procedimentos de
limpeza e desinfecção, incluindo
controle de pragas; as práticas hi-
giênicas e de segurança alimentar
no processamento de alimentos,
incluindo a qualidade microbioló-
gica das matérias-primas, a ope-
ração higiênica de cada etapa do
processo, e a higiene do pessoal
e seu treinamento em higiene e
segurança alimentar.
As BPF foram desenvolvidas
pelos governos, pelo comitê de
higiene de alimentos do Codex
Alimentarius (FAO/WHO) e por
indústrias de alimentos, muitas
vezes em colaboração com outros
grupos de inspeção e controle.
TQM - Gerenciamento de
Qualidade Total
A gestão da qualidade total
(Total Quality Management, em
inglês, ou simplesmente TQM)
consiste em uma estratégia de
administração orientada a criar
consciência da qualidade em todos
os processos organizacionais. É
referida como “total”, uma vez
que o seu objetivo é a implicação
não apenas de todos os escalões
de uma organização, mas também
da organização estendida, ou seja,
seus fornecedores, distribuidores
e demais parceiros de negócios.
Compõe-se de diversos estágios,
como por exemplo, o planejamen-
to, a organização, o controle e a
liderança. Tem sido amplamente
utilizada por organizações públicas
e privadas, de qualquer porte, em
materiais, produtos, processos ou
serviços.
O TQM é centrado na qualidade
e no conceito de melhoria continua­
da. Também enfatiza a garantia
da qualidade e tem sido definido
como “uma atividade contínua,
conduzida pelo gerenciamento, na
qual todos reconhecem a respon-
sabilidade pessoal pela segurança
e qualidade”.
Os objetivos do TQM são mais
amplos do que os do APPCC, in-
cluindo a qualidade e a satisfação do
consumidor. O TQM e os sistemas
de qualidade fornecem a filosofia,
a cultura e a disciplina necessárias
para comprometer cada membro da
organização com o alcance de todos
os objetivos gerenciais relaciona-
O Sistema APPCC tem sido amplamente recomendado
por órgãos de fiscalização e utilizado em toda cadeia
produtiva de alimentos.
Segurança alimentar
42 FOOD INGREDIENTS BRASIL Nº 4 - 2008 www.revista-fi.com
dos à qualidade. Dentro dessa rede
de trabalho, a inclusão do APPCC,
a fim de garantir a segurança
alimentar, fornece a confiança de
que nenhum produto não seguro
deixará o local de produção.
MRA - Avaliação de Riscos
Microbiológicos
A análise de riscos microbiológi-
cos (MRA) consiste de três ativida-
des interconectadas: a avaliação de
risco, a gestão de risco, e a comuni-
cação de risco.
A avaliação de risco é o processo
onde o risco associado a um perigo
é avaliado qualitativamente e quan-
titativamente. A avaliação de risco
inclui a identificação do perigo, a
caracterização do perigo, a avaliação
de exposição, e a caracterização do
risco.
A gestão de risco é o processo
onde a informação relacionada ao
risco, incluindo-se os resultados da
avaliação de risco (se disponíveis) são
usados para tomar decisões sobre
como o risco será controlado, e então,
como esta decisão é implementada. A
gestão de risco inclui a avaliação das
opções, a implementação das opções,
o monitoramento e a revisão.
A comunicação de risco é o
processo pelo qual a informação
relacionada com a avaliação e o
gerenciamento do risco é intercam-
biada entre os indivíduos afetados
pelo perigo. É a troca interativa de
informações e opiniões relacionadas
com o risco, com as opções de ges-
tão do risco e com as medidas de
controle. É o meio que permite que
os processos de avaliação e geren-
ciamento ocorram.
A análise de riscos microbioló-
gicos pode tomar diferentes formas
e complexidades em função das
caracte­rísticas do perigo em questão,
da disponibilidade de dados e conheci-
mento científico a respeito do perigo
e da complexidade das questões de
gerenciamento do risco.
Os perigos podem ser de natureza
biológica, química e física, os quais
podem ter origem em qualquer das
etapas da cadeia produtiva, onde po-
derão ser potencializados, reduzidos
ou eliminados.
O conhecimento das origens e
comportamento destes perigos é de
importância para a avaliação da con-
centração ou da presença do perigo
em cada ponto da cadeia produtiva.
Este conhecimento auxilia o esta-
belecimento dos níveis possíveis de
segurança do produto final e deve
incluir o dimensionamento destes
níveis por modificações da concen-
tração do agente, por alterações das
características intrínsecas do produto
e por ação de processamento, como o
de secagem, salga, acidificação, trata-
mento térmico, entre outros.
Gerenciamento da
Qualidade (Série ISO)
Em 1987, a International
­Organization for Standardization,
em Genebra, Suíça, publicou os
padrões ISO 9000, que são equiva-
lentes aos padrões europeus da série
EN29000 e aos padrões britânicos BS
5750:1987.
A sigla ISO é uma referência à pa-
lavra grega iso, que significa igualda-
de. O propósito da ISO é desenvolver
e promover normas e padrões mun-
diais que traduzam o consenso dos
diferentes países do mundo de forma
a facilitar o comércio internacional. A
ISO tem 130 países membros, sendo
que no Brasil, o seu representante
é a ABNT. A ISO trabalha com 180
comitês técnicos (TC) e centenas de
sub-comitês e grupos de trabalho.
A ISO 9000 é uma série de quatro
normas internacionais para “Ges-
tão da Qualidade” e “Garantia da
Qualidade”. Não é destinada a um
“produto” nem a uma indústria espe-
cífica. Tem como objetivo orientar a
implantação de sistemas de qualidade
nas organizações.
As regras e os padrões da Gestão
da Qualidade e Garantia da Qualida-
de são complementares aos padrões
do produto, e são implantados para
melhorar a sua qualidade, com im-
pacto na funcionalidade do Sistema
da Qualidade.
A série é composta das seguintes
normas:
- ISO 9000 - Fundamentos e voca-
bulário. Descreve os fundamentos do
sistema de gerenciamento da qualida-
de e especifica a sua terminologia.
- ISO 9001 - Sistemas de geren-
ciamento da qualidade - requisitos.
Especifica os requisitos do Sistema
da Qualidade para uso onde a ca-
pacidade da organização de prover
produtos que atendam ao cliente e
aos requisitos regulatórios precisa
ser demonstrada.
- ISO 9004 - Sistemas de geren-
ciamento da qualidade - guia para
melhoramento da performance. For-
nece diretrizes para implantação de
um Sistema de Gestão da Qualidade,
incluindo os processos para melhoria
contínua, que contribui para a satis-
fação dos clientes da organização e
outras partes interessadas.
- ISO 19011 - Auditorias internas
da qualidade e ambiental. Provê guia
para o gerenciamento e condução de
auditorias da qualidade e ambiental.
A série ISO 9000 foi adotada no
Brasil pela ABNT com o nome de
NBR 9000.
PPHO - Procedimentos
Padrão de Higiene
Operacional
Os PPHO (Procedimentos Pa-
drão de Higiene Operacional), do
inglês SSOP (Standard Sanitizing
­Operating Procedures), são represen-
tados por requisitos de BPF conside-
rados críticos na cadeia produtiva de
alimentos. Para estes procedimentos,
recomenda-se a adoção de programas
de monitorização, registros, ações
corretivas e aplicação constante de
check lists. Os PPHO preconizados
pela FDA constituíam, até outubro
de 2002, a referência para o controle
de procedimentos de higiene, data em
que a resolução 275 da ANVISA criou
e instituiu no Brasil os POP (Procedi-
mentos Operacionais Padronizados),
que vão um pouco além do controle
da higiene, porém, não descaracteri-
zam os PPHO, que continuam sendo
recomendados pelo MAPA, inclusive
???????
43FOOD INGREDIENTS BRASIL Nº 4 - 2008www.revista-fi.com
em recente resolução que institui o
programa PPHO a ser utilizado nos
estabelecimentos de leite e derivados
que funcionam sob regime de inspe-
ção federal, como etapa preliminar
de programas de qualidade como o
APPCC.
Os PPHO, assim como os POP e
as BPF, fornecem o suporte necessá-
rio para que o sistema APPCC não
desvie do seu objetivo de ser focal
e possa agir em pontos cruciais,
onde as ferramentas anteriores não
­conseguiam atuar.
Conclusão
A quantidade de produtos dis-
poníveis no mercado oferece ao
consumidor a oportunidade de am-
pla escolha. Entretanto, apesar do
progresso na medicina, na ciência
e na tecnologia de produção de ali-
mentos, as enfermidades causadas
por patógenos alimentares con-
tinuam apresentando problemas
significativos para a saúde e para
a economia.
Em 1990, uma média de 120
casos de enfermidades de origem
alimentar foi notificada em um
grupo de 100 mil pessoas, em 11
paí­ses europeus. Mais recente-
mente, estimativas baseadas em
estudo-sentinela indicaram que em
alguns países europeus há, no míni-
mo, 30 mil casos de gastroenterites
agudas, muitas delas de origem
alimentar, para um grupo de 100
mil pessoas, anualmente.
Na produção de alimentos, é
essencial que medidas apropria-
das sejam tomadas para garantir
a segurança e a estabilidade do
produto durante toda a sua vida
de prateleira. Para tanto, novas
técnicas de processamento foram
introduzidas com o objetivo de
aumentar a qualidade dos pro-
dutos, tais como processamentos
térmicos mais brandos, aqueci-
mentos em microondas e técnicas
de processamento que envolvem
altas pressões.
A prática de analisar microbio-
logicamente produtos finais tem
sido realizada durante décadas. É
importante salientar que os testes
microbiológicos devem ser realizados
como parte do sistema de Análise de
Perigos e Pontos Críticos de Controle
(APPCC), mais precisamente, na
etapa de verificação. O teste microbio-
lógico não garante a produção de um
alimento seguro, porém, dá suporte à
implementação do sistema APPCC,
o qual tem sido amplamente reco-
mendado por órgãos de fiscalização
e utilizado em toda cadeia produtiva
de ­alimentos.	 n
Bactéria/©SebastianKaulitzkiDreamstime.com

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Segurança alimentar: normas para produção, transporte e armazenamento de alimentos

  • 1. Segurança alimentar 32 FOOD INGREDIENTS BRASIL Nº 4 - 2008 www.revista-fi.com SEGURANÇA ALIMENTAR Segurança alimentar é um conjunto de normas de produção, transporte e armazenamento de alimentos visando determinadas características físico-químicas, microbiológicas e sensoriais padronizadas, segundo as quais os alimentos são adequados ao consumo. Estas regras são, até certo ponto, internacionalizadas, de modo que as relações entre os povos possam atender as necessidades comerciais e sanitárias. Cappylobacterjejuni/©SebastianKaulitzkiDreamstime.com
  • 2. ??????? 33FOOD INGREDIENTS BRASIL Nº 4 - 2008www.revista-fi.com U m conceito importante na garantia de um ali- mento sau- dável é o dos “ p e r i g o s ” , que podem ser de ori- gem biológica, química ou física. Entre os perigos de origem biológica estão os microrganismos (protozoários, fungos, bactérias e vírus), as principais causas de contaminação de alimentos. Os alimentos possuem uma compo- sição bastante complexa, ou seja, possuem um número muito grande de componentes. Estes componen- tes são em sua maior parte água, proteínas, lipídios e carboidratos, além de sais minerais, vitaminas (co-fatores) e ácidos nucléicos. Tal como o corpo humano, que consegue aproveitar significati- va parte destes compostos, uma grande variedade de espécies de microrganismos também estão habilitados a fazê-lo. Isto faz com que os alimentos sejam locais ideais para a proliferação desses organismos. As bactérias são um dos gru- pos mais conhecidos e numerosos. Podem ser deteriorantes, quando causam alterações nas proprieda- des sensoriais (cor, cheiro, sabor, textura, viscosidade etc.) ou pa- togênicas, que causam doenças. Os fungos são, a grosso modo, divididos em fungos filamentosos (bolores) e leveduras. Sua ocor- rência é mais comum em alimentos com baixo percentual de água e/ou elevada porção de lipídios, como amêndoas e castanhas, por exem- plo. Os fungos são os principais perigos biológicos destes alimen- tos. Seu risco está na produção de micotoxinas por algumas espécies. Estes compostos ao serem ingeri- dos, acumulam-se no organismo, causando uma série de transtornos, desde ataques ao fígado a alguns tipos de câncer. Em sua maior parte, o grupo de microrganismo mais associados aos perigos biológicos são as bactérias e os fungos, contudo, atualmente vem se dando um maior destaque aos vírus, como o caso da febre aftosa ou da gripe aviária, por exemplo. Entende-se por perigos físicos a existência de corpos estranhos, como pedaços de metal, pedaços de borracha, pedaços de plástico, areia, parafusos, pedaços de ma- deira, cacos de vidro ou pedras. A microscopia eletrônica de grãos de areia é um exemplo de perigo físico. Durante o processamento ou preparo de alimentos, pode ocorrer uma contaminação física no produto. Estas contaminações provêm, principalmente, dos pró- prios equipamentos, que podem soltar pedaços de metais e/ou plás- tico e/ou borracha (especialmente em equipamentos com agitadores mecânicos), parafusos etc., ou das matérias-primas, que trazem consigo sujidades aderidas aos produtos no momento da colheita ou do transporte. O mercúrio, assim como os de- mais metais pesados, é considerado um perigo químico. Compostos químicos tóxicos, irritantes ou que não são habitualmente usados como ingrediente. Podem ser agro- tóxicos, hormônios (sintéticos), antibióticos, detergentes, metais pesados, óleo lubrificante, entre ou- tros. Desde o momento da produção até o consumo, os alimentos estão sujeitos à contaminação química. Esta contaminação pode ocorrer no próprio campo, através da aplicação de inseticidas, herbicidas e outros agentes para controle de pragas na agricultura. A contaminação pode ser ocasionada também pela contaminação do solo com metais pesados. A Tabela 1 contém um resu- mo dos perigos associados aos ­alimentos. TABELA 1 - PERIGOS ASSOCIADOS A ALIMENTOS Biológico Químico Físico Parasitas e protozoárlos Alergênlcos Panes de pragas Vírus Metais tóxicos: chumbo, cádmlo Osso Mlcotoxlnas Aditivos alimentares: conservantes, Caroços de frutas coadjuvantes de fabrlcação Bifenilas policloradas (PCBs) Tintas de impressão Substâncias proibidas Macrobiológico Resíduos veterinários: antibióticos, Vidro Microbiológico estimulantes do crescimento Metal Bactérias patogênicas Plastificantes e migração na embalagem Pedras Formadores de esporos Resíduos químicos: pesticidas, fluidos de limpeza Madeira Não-esporulados Plástico
  • 3. Segurança alimentar 34 FOOD INGREDIENTS BRASIL Nº 4 - 2008 www.revista-fi.com Alimentos seguros As diferentes definições de alimentos seguros são dadas a partir do que constitui um risco significativo, ou seja, o consumidor pode considerar que alimentos se- guros significam risco igual a zero, enquanto o produtor de alimentos deve considerar o que é um risco aceitável. Contudo, a consideração de risco igual a zero é impraticável, devido a quantidade de produtos alimentícios disponíveis, a com­ plexidade da cadeia de distribuição e a própria natureza humana. Por outro lado, não há um consenso pú- blico do que constitui exatamente um risco aceitável. De qualquer forma, é certo que os riscos de ocorrência de doenças transmitidas por alimentos devem ser reduzidos ao máximo durante a sua produção. Contudo, a produção de alimentos seguros não é tarefa fácil e requer alguns procedimentos básicos, como controle da fonte, controle do desenvolvimento e do processo dos produtos, boas práticas higiênicas durante a produção, processa- mento, manipulação, distribuição, estocagem, venda, preparação e utilização, além de uma abordagem preventiva. O controle de patógenos de ori- gem alimentar na fonte nem sempre é fácil, pois muitos deles sobrevivem no ambiente por longos períodos de tempo e podem ser transmitidos de várias maneiras, conforme apresen- tado na figura acima. ROTAS DE TRANSMISSÃO DE PATÓGENOS ENTERAIS Existe um grande número de fa- tores que contribuem para tornar um alimento inseguro, causando toxin- fecções às pessoas que os ingerirem. Entre as principais causas estão o controle inadequado da temperatura durante o cozimento, o resfriamen- to e a estocagem, higiene pessoal insuficiente, contaminação cruzada entre produtos crus e processados, e monitoramento inadequado dos processos. A chave para a produção de ali- mentos seguros é produzir alimentos microbiologicamente estáveis, ou seja, é necessário certificar-se de que nenhum microrganismo do alimento irá se multiplicar até doses infeccio- sas; de maneira geral, é importante que estejam inativados e que não haja toxinas. Assim, as temperaturas de cozimento e de resfriamento são essenciais, pois tem como finalidade reduzir o número de microrganismos infectivos em uma ordem de 6 log (106 células/g até 1 célula/g), bem como não prover condições que permitam o crescimento de esporos microbianos que sobrevivam ao cozimento, e evitar condições favoráveis para a produção de toxinas termoestáveis que, por definição, são resistentes a 100°C du- rante 30 minutos e, portanto, não são destruídas no processo de cocção. Os alimentos que não passam pelo processo de cozimento são, normal- AS TOXINFECÇÕES Apesar de serem raros os casos fatais, este tipo de doença pode causar distúrbios na saúde pública com conseqüências sociais e econômicas mais ou menos graves. As toxinfecções alimentares decorrem de vários fatores e seu grau de gravidade é em função do tipo de microrganismo ingerido, do número de microrganismos (grau de contaminação do alimento), de sua multiplicação no organismo, da quantidade da toxina elaborada no alimento ou no organismo, e da sensibilidade do hospedeiro (idade, estado de saúde). Manifestam-se pelo aparecimento de sintomas característicos, conforme o microrganismo responsável. As doenças provocadas nos homens e nos animais têm causas muito variadas, devendo-se destacar: - As alergias; - Os envenenamentos por substâncias químicas que podem existir no alimento, ser introduzidas nele ou ser produzidas por microrganismos; - As doenças do tipo infecciosas provocadas por microrganismos. As doenças bacterianas de origem alimentar podem ser produzidas por três tipos de bactérias: - As bactérias toxigênicas - formam toxinas no alimento durante a sua multi- plicação, cuja ingestão provoca no consumidor um quadro patológico, que está relacionado apenas com a toxina e não com as células bacterianas. Ex.: Clostridium botulinum e Staphylococcus aureus. - As bactérias patogênicas - que contaminando o alimento ingerido, podem multiplicar-se ativamente no aparelho digestivo (intestino), provocando uma reação do tipo infeccioso. Os sintomas da doença só aparecem se no alimento existirem células viáveis dessas bactérias. Ex.: Salmonella, Clostridium perfringens, Bacillus cereus e Vibrio parahaemolyticus. - Multiplicação anormal de bactérias habitualmente saprófitas - pode provocar reações no consumidor idênticas às causadas por bactérias patogênicas. Ex.: Enterococcus. Nas toxinfecções alimentares as bactérias mais freqüentes são: Salmo- nella, Staphylococcus aureus e Clostridium perfringens. As principais outras bactérias que, embora menos vezes responsabilizadas, podem dar origem a toxinfecções alimentares graves são: Clostridium botulinum, Bacillus cereus, Listeria monocytogenes, Yersinia, Shigella, Campylobacter e Vibrio parahaemolyticus. Água Solo Safra Esgoto Animais Fezes Carne Humanos Silagem, alimentação
  • 4. ??????? 35FOOD INGREDIENTS BRASIL Nº 4 - 2008www.revista-fi.com mente, acidificados e estocados sob condições de resfriamento. Essa prática baseia-se no princípio de que o pH e a temperatura do alimento inibirão o crescimento microbiano. Portanto, é possível predizer o pH e a temperatura de estocagens de alimentos que restringirão o cresci- mento dos patógenos de alimentos. A faixa de crescimento da maioria dos microrganismos que causam toxinfecções alimentares é apresen- tada na Tabela 2. A faixa de pH de um microrga- nismo é definida pelo valor mínimo (no final ácido da escala) e pelo valor máximo (no final básico da escala). Cada microrganismo possui um valor ótimo de pH, no qual seu crescimento é máximo (veja Tabela 3). As mudanças bruscas de pH de um alimento podem se refletir na atividade microbiana. Os alimentos fracamente tamponáveis (que não resistem a mudanças de pH), como os vegetais, por exemplo, podem alterar seu pH consideravelmente. Para carnes, o pH de um músculo animal descansado pode diferir bastante do pH de um animal fa- tigado. Um alimento pode possuir, inicialmente, um pH que impeça o crescimento bacteriano, mas esse valor pode ser alterado pelo meta- bolismo de outros microrganismos (mofos e leveduras), permitindo o crescimento bacteriano. Já as faixas de temperatura para o crescimento microbiano, bem como as de pH, possuem um valor mínimo e outro máximo, com um valor ótimo de temperatura para o crescimento máximo. O valor ótimo de tempe- ratura de crescimento determina o grupo que o microrganismo perten- cerá, ou seja, grupo dos termófilos, dos mesófilos ou dos psicrófilos. Um microrganismo termófilo não se desenvolve em temperaturas ambientes e, portanto, alimentos enlatados podem ser estocados em temperaturas ambientes mesmo que contenham termófilos que sobrevi- veram a processamentos com altas temperaturas. As orientações sobre o tempo e a temperatura para a maioria dos patógenos de origem alimentar de frutos do mar foram determinadas considerando o tempo total de uma dada temperatura. Por exemplo, para controlar o crescimento de espécies de Salmonella, o alimento não deve ser exposto a temperatu- ras entre 5,2°C e 10°C durante mais de 14 dias; ou a temperaturas entre 11°C e 21°C durante mais de 6 horas; ou ainda, a temperaturas maiores que 21°C por mais de três horas. TABELA 2 - LIMITES DE CRESCIMENTO MICROBIANO Organismo Atividade de Faixa de pH Taxa de Faixa de água mínima (aw ) temp. (0 C)a crescimento b (td ) A. hydrophila 0,970 (7,2 ótimo) -0,1-42 12 h, 40 C B. cereus 0,930 4,3-9,3 4-52 4 h/geração, 80 C B. stearothermophilus – 5,2-9,2 28-72 C. jejuni 0,990 4,9-9,5 30-45 6 h/geração, 320 C CI. botulinum tipos A e proteolíticos tipos B e F 0,935 4,6-9,0 10-48 (8 d, 100 C)C CI. botulinum tipos E e não-proteolíticos tipos B e F 0,965 5,0-9.0 3,3-45 (8 d, 10.C)C CI. perfringens 0,945 5,0-9,0 10-52 12 h, 120 C E. coli 0,935 4,0-9,0 7-49,4 25 h/geração, 80 C Lactobacíllus spp. 0,930 3,8-7,2 5-45 L. monocytogenes 0,920 4,4-9,4 -0,4-45 1 d, 4,40 C Salmonella spp. 0,940 3,7-9,5 5-46 (60 h)d , 10 h, 100 C Shigella spp. 0,960 4,8-9,3 6,1-47,1 (3,6 d, 80 C)e St. aureus 0,830 4,0-10,0 7-50 (2,8 d)d , 1 d, 100 C Produção de toxinas 0,850 4,0-9,8 10-48 V. cholerae 0,970 5,0-10,0 10-43 (4 h)d , 98 min. 200 C V. parahaemoiyticus 0,936 4,8-11,0 5-44 60 min, 180 C V. vulnificus 0,960 5,0-10,0 8-43 Y. enterocolitica 0,945 4,2-10,0 -1,3-45 17 h, 50 C Saccharomyces spp. 0,85 2,1-9,0 - Asp. oryzae 0,77 1,6-13,0 10-43 F. miniliforme 0,87 < 2,5-> 10,6 2,5-37 Pen. verrucosum 0,79 < 2,1-> 10,0 0-31
  • 5. Segurança alimentar 36 FOOD INGREDIENTS BRASIL Nº 4 - 2008 www.revista-fi.com Conservação de alimentos Pode-se definir como conservan- te toda a substância que impede ou retarda a alteração dos alimentos provocada por microrganismos ou enzimas. Os conservantes e os agen- tes antimicrobianos têm um papel importante no abastecimento de alimentos quimicamente estáveis e seguros. A demanda crescente para alimentos de conveniência e o shelf life razoavelmente longo exigido pelas cadeias de distribuição, tornam imperativo o uso de conservantes em alimentos processados. Alguns deles, tais como os sulfatos, nitratos e outros sais, já estão sendo usados há séculos em carnes processadas e vinhos. A escolha de um agente de conservação deve ser baseada no conhecimento do seu espectro antimicrobiano, nas propriedades químicas e físicas, tanto do alimento quanto do conservante, nas condições de manuseio, processo e estocagem, e na segurança de uma alta qualidade inicial do alimento a ser conservado. Apesar das medidas higiênicas e normas sanitárias habitualmente aplicadas na produção de alimentos, perde-se anualmente, no mundo todo, toneladas de alimentos de boa qualidade, devido ao ataque de mo- fos, bolores, leveduras e bactérias. Muitas espécies de microrganismos produzem toxinas potencialmente ne- fastas para a saúde dos consumidores. Um exemplo é a alfatoxina B1, uma das substâncias mais cancerígenas, produzida pelo fungo Aspergillus flavus, que costuma formar-se sobre os alimentos. Estas perdas e riscos podem ser evitados, em grande parte, aplicando- se os métodos de conservação ade- quados. Em certos casos, pode-se utilizar processos físicos envolvendo o frio, o calor, a desidratação, ou outros. Esses procedimentos não podem ser aplicados em todas as situações nem em todos os tipos de alimentos, porque podem alterar as propriedades gusta- tivas do produto e, muitas vezes, são extremamenteonerosos.Torna-se,en- tão,necessárioousodeumconservan- te e, dentre os mais freqüentemente usados, destacam-se o ácido benzóico e seus sais; os parabenos ou ésteres de PHB;ossulfatos;osnitratosenitritos; o cloreto de sódio; os bacteriocinos; e o ácido sórbico e seus derivados. O controle do crescimento de microrganismos em alimentos por conservantes químicos está relacio- nado com o pH do meio. A forma não- dissociada da molécula é que confere a característica antimicrobiológica dos conservantes. Os valores de kPa (pH no qual 50% da molécula se encontra na forma dissociada) da maioria dos conservantes encontra-se na faixa de pH entre 3 e 5, portanto, a concentra- ção da forma não-dissociada aumenta com o aumento da acidez, garantindo uma maior eficiência no controle dos microrganismos. Na faixa de pH alto, particularmente entre 5,5 a 6, os ácidos inorgânicos são relativamente ineficientes, a exceção dos parabenos, que permanecem na forma não- dissociada, sendo efetivos inibidores. A forma não-dissociada do conser- vante penetra através da membrana, tornando-se ionizado após alcançar o interior da célula. A concentração in- TABELA 3 - VALORES DE PH DE ALGUNS ALIMENTOS Faixa de pH Alimento pH Baixa acidez (pH7,0-5,5) Ovos inteiros 7,1-7,9 Ovos congelados 8,5-9,5 Leite 6,3-8,5 Queijo Camembert 7,44 Queijo Cheddar 5,9 Queijo Roquetort 5,5-5,9 Bacon 6,6-5,6 Carne de carcaças 7,0-5,4 Carne vermelha 6,2-5,4 Presunto 5,9-6,1 Vegetais enlatados 6,4-5,4 Galinha 5,6-6,4 Peixe 6,6-6,8 Crustáceos 6,8-7,0 Leite 6,3-6,5 Manteiga 6,1-6,4 Batatas 5,6-6,2 Arroz 6,0-6,7 Pão 5,3-5,8 Média acidez (pH 5,3-4,5) Vegetais fermentados 5,1-3,9 Queijo Cottage 4,5 Bananas 4,5-5,2 Vagem 4,6-5,5 Ácido (pH 4,5-3,7) Maionese 4,1-3,0 Tomates 4,0 Muito ácido (pH 3,7) Picles em conserva e 3,9-3,5 Sucos de frutas Chucrutes 3,3-3,1 Frutas cítricas 3,5-3,0 Maçãs 2,9-3,3
  • 6. ??????? 37FOOD INGREDIENTS BRASIL Nº 4 - 2008www.revista-fi.com tracelular dos ácidos orgânicos altera o funcionamento normal do gradiente envolvido no sistema de transporte da membrana celular. Métodos de conservação A maioria dos métodos de con- servação é elaborada para inibir o crescimento de microrganismos. Os métodos que previnem ou inibem o crescimento microbiano incluem o resfriamento, congelamento, seca- gem, cura, processos de conserva, embalagens a vácuo, embalagens com atmosferas modificadas, fer- mentação e utilização de conservan- tes. Os outros métodos inativam os microrganismos como, por exemplo, a pasteurização, esterilização e ir- radiação. A maioria dos métodos de conservação é baseada na redução do crescimento microbiano, devido a condições ambientais desfavoráveis, bem como redução de temperatura, diminuição do pH e da atividade de água e desnaturação, devido a trata- mentos térmicos. A conservação por tratamento térmico abrange os processos de pas- teurização, esterilização, sous-vide e altas pressões hidrostáticas. No processo de pasteurização, o leite, por exemplo, é normalmente pasteurizado utilizando o método HTST (High Temperature Short Time), ou Alta Temperatura de Tem- po Curto, com 72°C, por 15 segundos. Esse método é realizado com a fina- lidade de eliminar todas as bactérias patogênicas, como a Mycobacterium tuberculosis, Salmonella spp. e Brucella spp. Os microrganismos termodúricos são aqueles capazes de sobreviver a pasteurização, incluin- do-se neste grupo o Streptococus thermophilus, Enterococus faecalis, Micrococus luteus e Microbacterium lacticum. Os esporos de B. cereus e B. subtilis podem sobreviver a tra- tamento térmico, sendo que os de B. cereus causam degradação do leite, conhecida por creme fino. A Tabela 4 apresenta outros regimes de tempo e temperatura de pasteurização. A esterilização é um método apro- priado para prolongar a estocagem do leite. O tratamento térmico é forte o suficiente para eliminar todos os microrganismos presentes, tanto os deteriorantes quanto os patógenos de origem alimentar. Existe uma chance estatística de um microrganismo sobreviver ao processo, mas isso é normalmente aceito na produção de alimentos seguros. Os produtos sous-vide são aqueles embalados a vácuo e que passam por tratamentos térmicos brandos, pos- suindo uma estocagem a frio cuida- dosamente controlada para prevenir o crescimento de patógenos formado- res de esporos, como o Cl. botulinum. Esse tratamento é equivalente a 90°C, por 10 minutos. Os organismos dete- riorantes, principalmente psicrófilos, também são inativados durante o tratamento térmico, o que prolonga a vida de prateleira. Os mesófilos e os termófilos tendem a sobreviver a tratamentos térmicos brandos muito mais do que os psicrófilos, mas são incapazes de se multiplicar a tempe- raturas frias de estocagem. As altas pressões hidrostáticas, entre 300 e 500 MPa, inativam bacté­ rias vegetativas, enquanto altas pressões (acima de 1.000 MPa) são necessárias para eliminar os esporos bacterianos. O processo pode ser combinado (sinergicamente) com tratamentos térmicos sempre que baixas pressões, entre 100 e 200 MPa, são utilizadas. Ferramentas de gerenciamento da segurança alimentar Apesar das indústrias e dos órgãos reguladores trabalharem pela produ- TABELA 4 - TEMPO DE PASTEURIZAÇÃO E REGIMES DE TEMPERATURA Alimentos Processo de Principal objetivo Efeitos secundários pasteurização Leite 630 C, 30 min. Destruir os patógenos: Destrói os microrganismos deterioradores 71,50 C, 15 min. Br. abortis, My. tuberculosis, C. bumetti Ovo líquido 64,40 C, 2,5 min. Destruir os patógenos Destrói os microrganismos deterioradores 600 C, 3,5 min Sorvete 650 C, 30 min. Destruir os patógenos Destrói os microrganismos deterioradores 710 C, 10 min. 800 C, 15 seg. Suco de fruta 650 C, 30 min. Inativar as enzimas: pectina esterase e Destrói fungos 770 C, 1 min. poligalacturonase e leveduras deterioradores 880 C, 15 seg. Cerveja 65-680 C, 20 min. Destruir os microrganismos deterioradores: (na garrafa) 72-750 C, 1-4 min. leveduras e bactérias ácido-lácticas (900-1.000 kPa)
  • 7. Segurança alimentar 38 FOOD INGREDIENTS BRASIL Nº 4 - 2008 www.revista-fi.com ção e por sistemas de processamento que garantam que todos os alimen- tos sejam seguros e saudáveis, a isenção completa dos riscos é um objetivo inatingível. Os fatores de segurança alimentar precisam ser aplicados a toda cadeia alimentar, da produção ao consumidor e, para isso, é necessária a integração de ferramentas de qualidade, as quais podem ser implementadas mundial- mente, facilitando a comunicação dos distribuidores de alimentos e autoridades reguladoras. A crescente preocupação com a qualidade dos alimentos tem ge- rado o desenvolvimento de várias ferramentas de gestão da qualida- de, as quais têm sido criadas e uti- lizadas na expectativa de atender a quesitos de idoneidade em respeito ao consumidor, para oferecer um produto seguro e, ao mesmo tempo, contemplar as exigências de comer- cialização, principalmente as de exportação, nas quais os critérios são bem mais rigorosos. Além des- tes pontos, há também a diminuição de custos, gerada pela redução de perdas e otimização da produção, dentre outros benefícios. Das ferramentas disponíveis, podem ser citadas as BPF (Boas Práticas de Fabricação), PPHO (Procedimentos Padrão de Higiene Operacional), MRA (Avaliação de Riscos Microbiológicos), Gerencia- mento da Qualidade (Série ISO), TQM (Gerenciamento da Qualidade Total) e o Sistema APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle), o qual tem sido ampla- mente recomendado por órgãos de fiscalização e utilizado em toda cadeia produtiva de alimentos, por ter como filosofia a prevenção, ra- cionalidade e especificidade para controle dos riscos que um alimento possa oferecer, principalmente, no que diz respeito à qualidade sanitária. Sistema APPCC - Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle O sistema APPCC, da sigla ori- ginal em inglês HACCP (Hazard Analisys and Critical Control Points), teve sua origem na década de 50 em indústrias químicas na Grã Bretanha e, nos anos 60 e 70, foi ex- tensivamente usado nas plantas de energia nuclear e adaptado para a área de alimentos pela ­Pillsbury Company, a pedido da NASA, para que não houvesse nenhum proble- ma com os astronautas relativo a enfermidades transmitidas por alimentos (ETA) e equipamentos (migalhas de alimentos) em pleno vôo. O problema de migalhas foi resolvido com o uso de embalagens especiais e, de possíveis ETA, com a utilização do sistema APPCC, que, por mostrar-se altamente preventivo, evita a falsa sensação de segurança de produtos, que eram, até então, inspecionados lote a lote por análises microbiológicas, sendo esta a única garantia dada por outras ferramentas de controle de qualidade. Microrganismos altamente pa- togênicos podem ser veiculados por alimentos e bebidas e, o sistema APPCC, atualmente, é a única fer- ramenta que trabalha no caminho da prevenção. Da sigla APPCC, o AP (Aná- lise de Perigos) é, sem dúvida, a peça-chave para todo o sistema, principalmente para a determina- ção dos PCCs (Pontos Críticos de Controle). Estes perigos à saúde do consumidor são classificados em perigos químicos, físicos e bio- lógicos, e variam quanto ao grau de severidade e riscos potenciais de manifestação em consumidores. Os perigos biológicos compreendem bactérias patogênicas e suas toxi- nas, vírus e parasitas. Os perigos físicos incluem cacos de vidro, es- pículas de osso, fio de cabelo, entre outros. Já os perigos químicos têm como exemplo os defensivos agríco- las, antibióticos, micotoxinas, sani- tizantes e uma grande quantidade de produtos que podem entrar em contato com o alimento. Enquanto os perigos químicos são os mais temidos pelos consu- midores e os perigos físicos os mais comumente identificados (pêlos, fragmentos de osso ou de metal, etc.), os perigos biológicos são os mais sérios do ponto de vista de saúde pública, e representam a grande maioria das ocorrências totais ocasionadas, principalmente por bactérias. Por esta razão, ainda que o sistema APPCC trate dos três tipos de perigos, os biológicos devem ser abordados em maiores detalhes. O Ponto Crítico de Controle (PCC) é qualquer ponto, etapa ou procedimento no qual se aplicam medidas preventivas para manter Em sua maior parte, o grupo de microrganismos mais associados aos perigos biológicos são as bactérias e os fungos, contudo, atualmente vem se dando um maior destaque aos vírus, como o caso da febre aftosa ou da gripe aviária, por exemplo.
  • 8. ??????? 39FOOD INGREDIENTS BRASIL Nº 4 - 2008www.revista-fi.com um perigo identificado sob controle, com objetivo de eliminar, prevenir ou reduzir os riscos à saúde do consumidor. Os PCC1, PCC2, PPC3 e assim por diante, representam a ordem em que estes PCCs aparecem no fluxograma do produto. Ponto de Controle (PC) é qualquer ponto, eta- pa ou procedimento no qual fatores biológicos, químicos ou físicos podem ser controlados, prioritariamente, por programas e procedimentos de pré-requisitos, como as Boas Práti- cas. Justifica-se o estabelecimento do PCC a partir da constatação do risco significativo da ocorrência de um determinado perigo que provo- que impacto à saúde pública. Um exemplo prático seria a etapa de pasteurização do leite fluido, a qual sempre constituirá um PCC, pois não há etapa anterior ou posterior efetiva (quando a matéria-prima é de boa qualidade) para a redução de microrganismos patogênicos a um nível aceitável, e o item a ser controlado (binômio tempo/tempe- ratura) não faz parte do programa de pré-requisitos. Já a etapa de em- pacotamento do leite pasteurizado pode ser tratada como um PC, pois o seu controle depende basicamente do programa de Boas Práticas, como manutenção preventiva de equipa- mentos, higienização adequada de máquinas, tubulações e ambiente e treinamento de pessoal. A legislação nacional referente ao APPCC teve início em 1993, es- tabelecendo pelo SEPES/MAARA normas e procedimentos para pes- cados, e, no mesmo ano, a Portaria 1428 do MS preconizou normas para obrigatoriedade em todas as indústrias de alimentos. Em 1998, a Portaria 40 do MAARA, atual MAPA, estabeleceu um manual de procedimentos baseado no sistema APPCC para bebidas e vinagres e, logo em seguida, a Portaria 46 do MAPA, obrigou a implantação gradativa em todas as indústrias de produtos de origem animal do programa de garantia de qualidade APPCC, cujo pré-requisito essen- cial são as BPF. O APPCC é baseado em uma série de etapas inerentes ao pro- cessamento industrial dos alimen- tos, incluindo todas as operações que ocorrem desde a obtenção da matéria-prima até o consumo, fundamentando-se na identificação dos perigos potenciais à saúde do consumidor, bem como nas medi- das de controle das condições que geram os perigos. É racional, por basear-se em dados científicos e registrados; é lógica e compreen- sível, por considerar ingredientes, processos e usos dos produtos; é contínua, ou seja, os problemas Salmonella/©SebastianKaulitzkiDreamstime.com
  • 9. Segurança alimentar 40 FOOD INGREDIENTS BRASIL Nº 4 - 2008 www.revista-fi.com são detectados e imediatamente corrigidos; e sistemática, por ser um plano completo, passo a passo desde a matéria-prima até a mesa do consumidor. Entre os benefícios atribuídos ao sistema APPCC está a garantia da segurança do alimento; a dimi- nuição de custos operacionais (evita destruição, recolhimento e, às ve- zes, re-processamento); a diminui- ção do número de análises; a redu- ção de perdas de matérias-primas e produtos; a maior credibilidade junto ao cliente; a maior competi- tividade na comercialização, além de atender a obrigatoriedade na exportação e a requisitos legais internos, como a Portaria 46/98, e externos, como o Codex, Mercosul e Comunidade Européia. Os requisitos para a implanta- ção do APPCC em uma indústria vão além das BPF e PPHO; o comprometimento da alta direção é indispensável para o início das atividades, a qual deve ser informa- da e motivada para a importância e benefícios que o sistema possa trazer e, também, disponibilizar recursos para aquisição de equi- pamentos, sanitizantes, material de pesquisa, etc. Em uma seqüência lógica, come- ça-se por delegar responsabilida- des a um profissional competente e treinado para liderar o programa. Esse profissional deverá possuir, além de conhecimento técnico, faci- lidade de trabalhar em equipe. Uma equipe multidisciplinar deverá ser formada; a correta definição do grupo é fundamental para o desen- volvimento do trabalho, e deve-se levar em consideração não somente a necessidade de ter integrantes com graduação formal, mas, tam- bém, aqueles que têm vivência com a prática da indústria. O treinamen- to do pessoal da equipe e de toda a indústria deve ser conduzido toda vez que se achar necessário, para capacitação técnica dos funcioná- rios e envolvimento maior com o sistema. Isso permitirá e facilitará a implantação e/ou adequação dos pré-requisitos PPHO ou POP e BPF, que irão gerar o manual de Boas Práticas de Fabricação, o qual deve estar em dia com a legislação vigente e ser avaliado pelo MAPA ou outro órgão competente, antes de se dar início a elaboração do plano APPCC. O sistema APPCC se baseia em sete princípios. O primeiro deles, inclui a análise de perigos e medidas preventivas. Este princípio repre- senta a base para a identificação dos PCCs e PCs e visa identificar perigos significativos e estabelecer medidas preventivas cabíveis. Com auxílio do histórico dos produtos, consultas bibliográficas, entre outros recursos, os perigos são identificados, focando a atenção aos fatores, de qualquer natureza, que possam representar perigo. Todas as matérias-primas, ingredientes e etapas são avaliados e, quando não é possível eliminar, prevenir, ou re- duzir o perigo, por meio de medidas preventivas, alterações no fluxogra- ma deverão ser realizadas. O segundo princípio diz respeito a identificação dos pontos críticos de controle. Os PCCs são pontos caracterizados como realmente críticos à segurança e devem ser restritos ao mínimo possível. Para determinação de PCCs e PCs, uma árvore decisória deverá ser utiliza- da. Os pontos considerados como PCCs, devem ser identificados e enumerados em um fluxograma. O terceiro princípio é sobre o es- tabelecimento dos limites críticos. São valores (máximo e/ou mínimo) que caracterizam a aceitação para cada medida preventiva a ser moni- torada pelo PCC e estão associados a medidas como tempo, temperatu- ra, pH, acidez titulável, etc. Algu- mas empresas adotam os limites de segurança, ou faixa de trabalho, que são padrões mais rigorosos em relação aos limites críticos, adota- dos como medida para minimizar a ocorrência de desvios. O quarto princípio estabelece os procedimentos de monitorização. O primeiro passo é determinar o que monitorar, quando, como e quem será o responsável, que deverá ser treinado e capacitado para esta ta- refa. O monitoramento é a medição ou observação esquematizada de um PCC relativa a seus limites crí- ticos, e os procedimentos utilizados precisam ser capazes de detectar perdas de controle do PCC, além de fornecer informações em tempo para correção. Os métodos de monitoramento devem ser fáceis e de rápida men- suração, já que não haverá tempo para exames analíticos extensos. Assim, são preferidos testes quí- micos (acidez titulável) e físicos (tempo/temperatura), já que os microbiológicos, com exceção de al- guns testes rápidos que geralmente são limitados a algumas etapas, são muito demorados. Toda monitoriza- ção gera um documento associado a cada PCC e deve ser assinado pelas pessoas que executam esta tarefa e pelos supervisores e responsáveis da empresa. O princípio cinco estabelece as ações corretivas. As ações correti- vas específicas devem ser desen- volvidas para cada PCC de forma a controlar um desvio nos limites críticos ou na faixa de segurança e devem garantir novamente a segu- rança do processo. Estas ações vão desde ajustes na temperatura, até a destruição do lote de produto. O princípio seis estabelece os procedimentos de verificação. É uma fase na qual tudo que já foi realizado anteriormente passa por uma revisão de adequação para total segurança do processo. A verificação consiste na utilização de procedimentos em adição aos de monitorização; aqui podem ser incluídas análises microbiológicas tradicionais que, apesar de demo- radas, são mais seguras e possuem respaldo da legislação. Esta ação deverá ser conduzida rotineiramen- te ou aleatoriamente para assegu- rar que os PCCs estão sob controle
  • 10. ??????? 41FOOD INGREDIENTS BRASIL Nº 4 - 2008www.revista-fi.com e que o plano APPCC é cumprido. Em relatórios de verificação devem constar todos os registros já efetua- dos, os de monitorização, de desvios de ações corretivas, de treinamento de funcionários, entre outros. A ve- rificação permite, também, avaliar se algumas determinações estão sendo muito rigorosas, fora da rea­ lidade ou desnecessárias. O sétimo e último princípio esta- belece os procedimentos de regis- tro. Todos os documentos ( análise de perigos, por exemplo) ou regis- tros (atividades de monitoramento dos PCCs, por exemplo) gerados ou utilizados (material para subsídio técnico, por exemplo) devem ser ca- talogados e guardados. É muito im- portante que estes papéis estejam organizados e arquivados em local de fácil acesso, para que a equipe se sinta envolvida e responsável e, sobretudo, para facilitar uma audi- toria. Outros exemplos de registros e documentos incluem relatórios de auditoria do cliente, registros de desvios e ações corretivas e regis- tro de treinamentos. A implementação do plano APPCC significa passar do papel para a prática um plano que foi baseado em estudos e teorias. Esse é, sem dúvida, o passo mais difícil para a indústria. Compreende, além de alteração na rotina, vários treinamentos com funcionários de todos os setores envolvidos para a capacitação técnica que o sistema exige. As mudanças têm que ser in- seridas gradativamente e da forma mais prática possível. O sistema APPCC, apesar de dispensar certo trabalho e investi- mento inerente a qualquer progra- ma de qualidade, atualmente é o que mais gera confiança dentro das indústrias, não só em relação à se- gurança do produto ou minimização de perdas, mas pela certeza de estar cumprindo as exigências da fiscali- zação nacional e internacional. BPF - Boas Práticas de Fabricação As Boas Práticas de Fabricação (BPF) abrangem um conjunto de medidas que devem ser adotadas pelas indústrias de alimentos, a fim de garantir a qualidade sanitária e a conformidade dos produtos alimentícios com os regulamentos técnicos. A legislação sanitária fe- deral regulamenta essas medidas em caráter geral, aplicável a todo tipo de indústria de alimentos, e específico, voltadas às indús- trias que processam determinadas ­categorias de alimentos. As BPF abordam os princípios, os procedimentos e os meios fun- damentais favoráveis para a pro- dução de alimentos com qualidade aceitável. Os requisitos gerais de BPF usualmente abordam como itens o projeto e as instalações que fa- voreçam a higiene das fábricas de alimentos; o projeto, a construção e o uso higiênico apropriado da maquinaria; os procedimentos de limpeza e desinfecção, incluindo controle de pragas; as práticas hi- giênicas e de segurança alimentar no processamento de alimentos, incluindo a qualidade microbioló- gica das matérias-primas, a ope- ração higiênica de cada etapa do processo, e a higiene do pessoal e seu treinamento em higiene e segurança alimentar. As BPF foram desenvolvidas pelos governos, pelo comitê de higiene de alimentos do Codex Alimentarius (FAO/WHO) e por indústrias de alimentos, muitas vezes em colaboração com outros grupos de inspeção e controle. TQM - Gerenciamento de Qualidade Total A gestão da qualidade total (Total Quality Management, em inglês, ou simplesmente TQM) consiste em uma estratégia de administração orientada a criar consciência da qualidade em todos os processos organizacionais. É referida como “total”, uma vez que o seu objetivo é a implicação não apenas de todos os escalões de uma organização, mas também da organização estendida, ou seja, seus fornecedores, distribuidores e demais parceiros de negócios. Compõe-se de diversos estágios, como por exemplo, o planejamen- to, a organização, o controle e a liderança. Tem sido amplamente utilizada por organizações públicas e privadas, de qualquer porte, em materiais, produtos, processos ou serviços. O TQM é centrado na qualidade e no conceito de melhoria continua­ da. Também enfatiza a garantia da qualidade e tem sido definido como “uma atividade contínua, conduzida pelo gerenciamento, na qual todos reconhecem a respon- sabilidade pessoal pela segurança e qualidade”. Os objetivos do TQM são mais amplos do que os do APPCC, in- cluindo a qualidade e a satisfação do consumidor. O TQM e os sistemas de qualidade fornecem a filosofia, a cultura e a disciplina necessárias para comprometer cada membro da organização com o alcance de todos os objetivos gerenciais relaciona- O Sistema APPCC tem sido amplamente recomendado por órgãos de fiscalização e utilizado em toda cadeia produtiva de alimentos.
  • 11. Segurança alimentar 42 FOOD INGREDIENTS BRASIL Nº 4 - 2008 www.revista-fi.com dos à qualidade. Dentro dessa rede de trabalho, a inclusão do APPCC, a fim de garantir a segurança alimentar, fornece a confiança de que nenhum produto não seguro deixará o local de produção. MRA - Avaliação de Riscos Microbiológicos A análise de riscos microbiológi- cos (MRA) consiste de três ativida- des interconectadas: a avaliação de risco, a gestão de risco, e a comuni- cação de risco. A avaliação de risco é o processo onde o risco associado a um perigo é avaliado qualitativamente e quan- titativamente. A avaliação de risco inclui a identificação do perigo, a caracterização do perigo, a avaliação de exposição, e a caracterização do risco. A gestão de risco é o processo onde a informação relacionada ao risco, incluindo-se os resultados da avaliação de risco (se disponíveis) são usados para tomar decisões sobre como o risco será controlado, e então, como esta decisão é implementada. A gestão de risco inclui a avaliação das opções, a implementação das opções, o monitoramento e a revisão. A comunicação de risco é o processo pelo qual a informação relacionada com a avaliação e o gerenciamento do risco é intercam- biada entre os indivíduos afetados pelo perigo. É a troca interativa de informações e opiniões relacionadas com o risco, com as opções de ges- tão do risco e com as medidas de controle. É o meio que permite que os processos de avaliação e geren- ciamento ocorram. A análise de riscos microbioló- gicos pode tomar diferentes formas e complexidades em função das caracte­rísticas do perigo em questão, da disponibilidade de dados e conheci- mento científico a respeito do perigo e da complexidade das questões de gerenciamento do risco. Os perigos podem ser de natureza biológica, química e física, os quais podem ter origem em qualquer das etapas da cadeia produtiva, onde po- derão ser potencializados, reduzidos ou eliminados. O conhecimento das origens e comportamento destes perigos é de importância para a avaliação da con- centração ou da presença do perigo em cada ponto da cadeia produtiva. Este conhecimento auxilia o esta- belecimento dos níveis possíveis de segurança do produto final e deve incluir o dimensionamento destes níveis por modificações da concen- tração do agente, por alterações das características intrínsecas do produto e por ação de processamento, como o de secagem, salga, acidificação, trata- mento térmico, entre outros. Gerenciamento da Qualidade (Série ISO) Em 1987, a International ­Organization for Standardization, em Genebra, Suíça, publicou os padrões ISO 9000, que são equiva- lentes aos padrões europeus da série EN29000 e aos padrões britânicos BS 5750:1987. A sigla ISO é uma referência à pa- lavra grega iso, que significa igualda- de. O propósito da ISO é desenvolver e promover normas e padrões mun- diais que traduzam o consenso dos diferentes países do mundo de forma a facilitar o comércio internacional. A ISO tem 130 países membros, sendo que no Brasil, o seu representante é a ABNT. A ISO trabalha com 180 comitês técnicos (TC) e centenas de sub-comitês e grupos de trabalho. A ISO 9000 é uma série de quatro normas internacionais para “Ges- tão da Qualidade” e “Garantia da Qualidade”. Não é destinada a um “produto” nem a uma indústria espe- cífica. Tem como objetivo orientar a implantação de sistemas de qualidade nas organizações. As regras e os padrões da Gestão da Qualidade e Garantia da Qualida- de são complementares aos padrões do produto, e são implantados para melhorar a sua qualidade, com im- pacto na funcionalidade do Sistema da Qualidade. A série é composta das seguintes normas: - ISO 9000 - Fundamentos e voca- bulário. Descreve os fundamentos do sistema de gerenciamento da qualida- de e especifica a sua terminologia. - ISO 9001 - Sistemas de geren- ciamento da qualidade - requisitos. Especifica os requisitos do Sistema da Qualidade para uso onde a ca- pacidade da organização de prover produtos que atendam ao cliente e aos requisitos regulatórios precisa ser demonstrada. - ISO 9004 - Sistemas de geren- ciamento da qualidade - guia para melhoramento da performance. For- nece diretrizes para implantação de um Sistema de Gestão da Qualidade, incluindo os processos para melhoria contínua, que contribui para a satis- fação dos clientes da organização e outras partes interessadas. - ISO 19011 - Auditorias internas da qualidade e ambiental. Provê guia para o gerenciamento e condução de auditorias da qualidade e ambiental. A série ISO 9000 foi adotada no Brasil pela ABNT com o nome de NBR 9000. PPHO - Procedimentos Padrão de Higiene Operacional Os PPHO (Procedimentos Pa- drão de Higiene Operacional), do inglês SSOP (Standard Sanitizing ­Operating Procedures), são represen- tados por requisitos de BPF conside- rados críticos na cadeia produtiva de alimentos. Para estes procedimentos, recomenda-se a adoção de programas de monitorização, registros, ações corretivas e aplicação constante de check lists. Os PPHO preconizados pela FDA constituíam, até outubro de 2002, a referência para o controle de procedimentos de higiene, data em que a resolução 275 da ANVISA criou e instituiu no Brasil os POP (Procedi- mentos Operacionais Padronizados), que vão um pouco além do controle da higiene, porém, não descaracteri- zam os PPHO, que continuam sendo recomendados pelo MAPA, inclusive
  • 12. ??????? 43FOOD INGREDIENTS BRASIL Nº 4 - 2008www.revista-fi.com em recente resolução que institui o programa PPHO a ser utilizado nos estabelecimentos de leite e derivados que funcionam sob regime de inspe- ção federal, como etapa preliminar de programas de qualidade como o APPCC. Os PPHO, assim como os POP e as BPF, fornecem o suporte necessá- rio para que o sistema APPCC não desvie do seu objetivo de ser focal e possa agir em pontos cruciais, onde as ferramentas anteriores não ­conseguiam atuar. Conclusão A quantidade de produtos dis- poníveis no mercado oferece ao consumidor a oportunidade de am- pla escolha. Entretanto, apesar do progresso na medicina, na ciência e na tecnologia de produção de ali- mentos, as enfermidades causadas por patógenos alimentares con- tinuam apresentando problemas significativos para a saúde e para a economia. Em 1990, uma média de 120 casos de enfermidades de origem alimentar foi notificada em um grupo de 100 mil pessoas, em 11 paí­ses europeus. Mais recente- mente, estimativas baseadas em estudo-sentinela indicaram que em alguns países europeus há, no míni- mo, 30 mil casos de gastroenterites agudas, muitas delas de origem alimentar, para um grupo de 100 mil pessoas, anualmente. Na produção de alimentos, é essencial que medidas apropria- das sejam tomadas para garantir a segurança e a estabilidade do produto durante toda a sua vida de prateleira. Para tanto, novas técnicas de processamento foram introduzidas com o objetivo de aumentar a qualidade dos pro- dutos, tais como processamentos térmicos mais brandos, aqueci- mentos em microondas e técnicas de processamento que envolvem altas pressões. A prática de analisar microbio- logicamente produtos finais tem sido realizada durante décadas. É importante salientar que os testes microbiológicos devem ser realizados como parte do sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), mais precisamente, na etapa de verificação. O teste microbio- lógico não garante a produção de um alimento seguro, porém, dá suporte à implementação do sistema APPCC, o qual tem sido amplamente reco- mendado por órgãos de fiscalização e utilizado em toda cadeia produtiva de ­alimentos. n Bactéria/©SebastianKaulitzkiDreamstime.com