SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 22
Baixar para ler offline
MICOTOXINAS
NO TRIGO
PARCERIA
CARTILHA DO AGRICULTOR
Associação Brasileira da Indústria do Trigo
T. +55 (11) 3078-9001
Rua Jerônimo da Veiga, 164 – 15º andar
04536-000 | Itaim Bibi | São Paulo – SP
www.abitrigo.com.br
CONTEÚDO TÉCNICO
Carolina Maria Gil Bernardi
Denise de Oliveira Resende
Equipe Abitrigo
Equipe Embrapa Trigo
Ana Christina Sagebin Albuquerque
Casiane Tibola
EDIÇÃO E PROJETO GRÁFICO
Tree Comunicação
T. +55 (11) 3093-3600
Av. Brigadeiro Faria Lima, 2081 - CJ 21
01452-001
Jardim Paulistano | São Paulo – SP
Inês Castelo (edição)
Rejane Lima (redação)
Multi Design (diagramação)
PARCERIA
CRÉDITOS
ÍNDICE
  2	APRESENTAÇÃO
  2	 CARTA DO PRESIDENTE
  3	 MENSAGEM DO MOAGEIRO
  4	INTRODUÇÃO
  5	 O QUE SÃO MICOTOXINAS?
  6	 MICOTOXICOSES
  8	 IMPACTOS ECONÔMICOS
  9	 CULTURA DO TRIGO
  9	 LEGISLAÇÕES E REGULAMENTOS
11	 INCIDÊNCIA DE MICOTOXINAS EM TRIGO NACIONAL
12	 REDUÇÃO À EXPOSIÇÃO
12	 MINIMIZANDO OS RISCOS
13	 AMOSTRAGENS
14	 CONTROLE DA GIBERELA
14	 A DOENÇA
14	 O MANEJO
15	 CUIDADOS E MONITORAMENTO
18	CONCLUSÕES
01. APRESENTAÇÃO
Carta do presidente
Prezados Agricultores e Pesquisadores
A farinha de trigo está presente em praticamente 100% dos lares brasi-
leiros. É matéria-prima base para a produção de alimentos importantes
para a população, como pães, macarrão, biscoitos, bolos, entre outros.
Produzir alimentos mais saudáveis tem sido o desafio de nossos moi-
nhos, e não faltam empenho e energia para entregar as melhores fa-
rinhas de trigo. Nossa farinha evolui a cada dia, pois o setor investe em
novos equipamentos, treinamentos e aprimoramento de processos
sempre visando atender um consumidor mais consciente e exigente.
Nós da Abitrigo respresentamos a indústria nacional de moagem
e nossos associados são o elo entre o campo e a indústria de trans-
formação. Desde 1990, atuamos para reestruturar e integrar toda a
cadeia produtiva do trigo no Brasil, estimulando as melhores práticas,
compartilhando conhecimento e gerando ainda mais valor para nos-
sa atividade.
O assunto dessa cartilha – micotoxinas no trigo – tem como principal
objetivo orientar e sensibilizar os produtores sobre as exigências da
legislação e boas práticas agrícolas. O conteúdo foi elaborado com
base em material técnico e o apoio de especialistas e pesquisadores
da área. Para conhecer as outras cartilhas orientativas, abordando os
temas classificação do trigo e uso correto dos agrotóxicos na cultura
do trigo, acesse o site da Abitrigo (www.abitrigo.com.br).
Atenciosamente,
Embaixador Rubens Barbosa
Presidente da Abitrigo
4
PRODUZIR
ALIMENTOS MAIS
SAUDÁVEIS TEM
SIDO O DESAFIO
DE NOSSOS
MOINHOS."
Mensagem do moageiro
Caros amigos
Disponibilizamos essa cartilha orientativa, em linguagem simples e
objetiva, com a finalidade de apoiar todo o segmento do trigo, quer
seja na produção primária quer seja na industrialização, sempre de
acordo com a legislação brasileira.
Queremos incentivar a adoção de cuidados que minimizem o risco
de contaminação com micotoxinas, pois acreditamos que se todos
estivermos unidos no mesmo propósito, conseguiremos entregar
alimentos cada vez mais saudáveis aos consumidores.
Derivados do trigo, como farinhas, biscoitos, massas e pães, devem
seguir as normas estabelecidas, as quais apresentam importantes
contribuições para a sociedade. Algumas são mais fáceis e perceptí-
veis, outras mais complexas, como o caso das micotoxinas. Os limites
de micotoxinas permitidos pela legislação visam proteger a saúde das
pessoas que consomem os alimentos derivados do trigo.
Apoiamos essa iniciativa e nossos esforços se voltam para que toda
a cadeia esteja informada e imbuída do espírito de produzir ali-
mentos dentro das regras, garantindo assim ainda mais qualidade
ao produto final.
Desejamos uma boa leitura aos amigos produtores, pesquisado-
res, sementeiros, cerealistas, cooperativas e sociedade. Contem
sempre conosco!
Marcelo Vosnika
Presidente do Conselho deliberativo da Abitrigo
5
CARTILHA DO AGRICULTOR MICOTOXINAS NO TRIGO
QUEREMOS
INCENTIVAR A
ADOÇÃO DE
CUIDADOS QUE
MINIMIZEM O RISCO
DE CONTAMINAÇÃO
COM MICOTOXINAS."
INTRODUÇÃO
02.
A avaliação da qualidade dos produtos agrícolas no que se refe-
re à contaminação com micotoxinas é de grande importância
para a saúde pública pelo risco que representa o consumo dos
alimentos por elas contaminados.
A legislação que estabelece os atuais Limites Máximos de
Tolerância (LMT) para micotoxinas em alimentos no Brasil é a
Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 07/2011, da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Publicada inicialmente com um cronograma que estabelecia
redução gradativa nos limites, até o ano de 2016, a entrada em
vigor da resolução foi prorrogada duas vezes graças a um traba-
lho da Abitrigo em conjunto com o segmento agrícola.
A iniciativa teve como objetivo dar mais tempo para o agricultor
se adequar, adotando as boas práticas agrícolas para a redução
da presença desse contaminante no alimento. Dessa forma, a
partir de 2019, entrará em vigor o último limite definido para
micotoxinas presentes nos alimentos.
Toda a cadeia produtiva, em especial a produção primária, deve
se movimentar para conseguir disponibilizar alimentos que
possam ser utilizados pela indústria nacional sem risco de com-
prometimento da qualidade do produto final. A matéria-prima
adquirida, após o processamento, deverá apresentar níveis de
contaminantes aceitos pela legislação.
TODOS
DEVEM SE
MOVIMENTAR
PARA
DISPONIBILIZAR
ALIMENTOS SEM
RISCO PARA A
QUALIDADE DO
PRODUTO FINAL
MICOTOXINA: Desoxinivalenol (DON) – µg/kg
Farinha
de Trigo Integral
Farelo de Trigo para
consumo Humano
Farinha
de Trigo
1.250 1.000
2017 2019
1.250 1.000
2017 2019
1.000 750
2017 2019
6
O QUE MUDA
O que são micotoxinas?
Derivada da palavra grega mikes, que significa fungo, e da
palavra latina toxicum, que significa veneno, micotoxinas são
substâncias tóxicas formadas durante o crescimento de fun-
gos, que estão associados a alterações na natureza física, sabor,
odor e aparência dos alimentos. O desenvolvimento fúngico na
produção e no armazenamento de grãos causa vários efeitos
negativos, dentre eles, perda de rendimento e produção de
micotoxinas.
A produção de micotoxina depende da presença de fungo toxi-
gênico em alguma fase do processo de produção ou armazena-
mento. No campo, fungos do gênero Fusarium estão associados
à causa da doença conhecida como giberela. Já em grãos ar-
mazenados, espécies de Aspergillus e Penicillium são os fungos
toxigênicos de maior relevância.
Tecnicamente, pode-se descrever micotoxinas como produtos
do metabolismo secundário de fungos toxigênicos que infec-
tam e/ou colonizam os grãos e seus subprodutos, especialmen-
te os cereais, no período de pré e pós-colheita. Isso ocorre por
causa de fatores como umidade e temperatura. As micotoxinas
são quimicamente estáveis e, raramente, sofrem degradação
durante o armazenamento dos grãos e o processamento dos
alimentos, sendo um importante contaminante.
Em 1960, mais de 100 mil perus morreram na Inglaterra devido a uma intoxicação que foi
acompanhada por um quadro de hemorragias internas e necrose hepática. Estudos posteriores
mostraram que a morte das aves ocorreu devido à ingestão de farinha de amendoim contami-
nada com um metabolito tóxico produzido pelo fungo filamentoso Aspergillus flavus (Goldblatt,
1969). Esse composto, após ser isolado e identificado, foi denominado de aflatoxina. A partir daí,
a implicação que as micotoxinas acarretam para a saúde humana e animal despertou a atenção
da comunidade científica e o termo genérico micotoxina começou a ser utilizado.
HISTÓRIA
7
CARTILHA DO AGRICULTOR MICOTOXINAS NO TRIGO
ESTIMA-SE QUE
CERCA DE
25%
DOS ALIMENTOS
NO MUNDO ESTEJA
CONTAMINADO
COM MICOTOXINAS
8
Micotoxicoses
A contaminação causada por micotoxinas é denominada de
micotoxicose e os órgãos do corpo humano mais afetados são
o fígado, os rins, o cérebro, os músculos e o sistema nervoso. Os
sintomas vão desde náuseas e vômitos até falta de coordenação
dos movimentos (ataxia), podendo levar à morte.
A intoxicação acontece de forma direta, quando o produto é uti-
lizado na alimentação humana ou de animais; ou indireta, quan-
do subprodutos e derivados contaminados são utilizados na
alimentação de animais que transferem as toxinas para o leite/a
carne. A maneira mais frequente de intoxicação é a direta, que
ocorre por meio do consumo de cereais, sementes oleaginosas
e produtos derivados, que foram contaminados por micotoxinas
nas fases de produção e de armazenamento.
De acordo com a Food and Agriculture Organization (FAO), esti-
ma-se que cerca de 25% dos alimentos no mundo esteja conta-
minado com micotoxinas e os produtos que geralmente podem
veicular micotoxinas para o homem ou animais são:
ۜ
ۜ Agrícolas: cereais, sementes oleaginosas, frutos, vegetais;
ۜ
ۜ Rações industrializadas;
ۜ
ۜ Origem animal: leite e derivados, carnes;
ۜ
ۜ Queijos curados por fungos;
ۜ
ۜ Alimentos orientais fermentados;
ۜ
ۜ Fermentados: cerveja, aditivos alimentares e vitaminas.
9
PRINCIPAIS MICOTOXINAS COM SEUS RESPECTIVOS FUNGOS
PRODUTORES, ALIMENTOS E EFEITOS NO HOMEM E NOS ANIMAIS
Principais
substratos
Principais fungos
produtores
Principais
toxinas
Efeitos
TRIGO
Milho, cevada, aveia,
trigo e centeio
Fusarium sp,
Myrothecium sp,
Stachybotrys sp e
Trichothecium sp
Tricotecenos,
T2, neosolaniol,
fusanona x,
nivalenol,
deoxinivalenol
Hemorragias,
vômitos e
dermatites
Trigo, aveia, cevada,
milho e arroz
Penicillium citrinum Citrinina Nefrotóxica
para suínos
OUTROS PRODUTOS
Amendoim e milho Aspergillus flavus
e Aspergiluus
parasiticus
Aflatoxina B1 Hepatotóxica,
nefrotóxica e
carcinogênica
Centeio e grãos
em geral
Clavicepcs
purpurea
Ergotamina Gangrena de
extremidades
ou convulsões
Cereais Fursarium
graminearum
Zearalenona Baixa toxidade,
síndrome de
masculinização
e feminização
em suínos
Cevada, café e vinho Aspergillus
ochraceus e
Aspergillus
carbonarius
Ocratoxina Hepatotóxica,
nefrotóxica e
carcinogênica
Frutas e sucos
de frutas
Penicillium
expajsum e
Penicillium
griseofulvum
Patulina Toxidade
vagamente
estabelecida
Milho Fusarium
verticillioides
Fumonisinas Câncer de esôfago
Fonte: Tabela adaptada da publicação www.microbiologia.vet.br/micotoxinas.htm
10
Perdas diretas de produtos
agrícolas – redução na
produtividade
Doenças humanas
e diminuição da
produtividade de animais
Rejeição do produto
nos mercados
interno e externo
Perda de animais
por morte
Custos de desintoxicação,
para adequar os produtos
aos limites da legislação
Impactos econômicos
A contaminação de alimentos por fungos pode ocasionar, além de problemas
de saúde, perdas econômicas irreparáveis que englobam:
Lavouras de trigo com sintomas de giberela
Embrapa Embrapa
O trigo corresponde a aproximadamente 30% da produção global de grãos, destinada
à elaboração de produtos alimentícios para humanos e animais e não alimentícios,
como a geração de energia renovável. Visualmente imperceptível no produto final, a
presença de contaminantes químicos como resíduos de agrotóxicos e micotoxinas
são desafios para o controle de qualidade e segurança na produção de alimentos em
todas as cadeias produtivas.
Com o avanço do conhecimento sobre os efeitos negativos das micotoxinas, os Limites
Máximos Tolerados (LMT) estão cada vez mais restritivos, visando assegurar alimentos
com níveis aceitáveis de contaminantes.
Legislações e regulamentos
O nível de toxicidade em alimentos produzidos com matérias primas submetidas a
essas substâncias tem levado muitos países a estabelecerem regulamentos para ga-
rantir mais controle na contaminação de micotoxinas em alimentos e rações animais.
O Joint Expert Committee on Food Additives (JECFA), conselho científico da World
Health Organization (WHO), e o Food and Agriculture Organization (FAO), ambos liga-
dos à Organização das Nações Unidas (ONU), são responsáveis em avaliar, internacio-
nalmente, os riscos relacionados a essa contaminação.
No Brasil, há uma legislação específica para a micotoxina. Estabelecida pela Anvisa, a
Resolução nº 07/2011 determina os LMT de micotoxinas em alimentos. Para o trigo e a ce-
vada, a deoxinivalenol (DON) é a que apresenta a maior relevância devido à sua ocorrência
comum nas principais regiões produtoras do País. Uma vez que o acúmulo desse contami-
nante nos grãos afeta a qualidade do produto, pode causar graves efeitos tóxicos na saúde
humana e animal. A micotoxina DON tem sido amplamente estudada em produtos da moa-
gem de trigo, evidenciando como ocorre a contaminação em diversas frações e processos.
Para proteger a saúde dos consumidores, a Anvisa estabeleceu que o LMT de DON para
trigo integral e farelo de trigo é de 2.000 µg/kg (micrograma por quilograma) e para fa-
rinha de trigo 1.750 µg/kg, com reduções gradativas até 2019. A tabela da página 10
mostra os níveis máximos tolerados para alimentos à base de trigo, destinados ao consu-
mo humano. Essa resolução estabelece LMT de deoxinivalenol (DON), zearalenona (ZEA),
ocratoxina A (OCRA) e aflatoxinas B1, B2, G1 e G2 para cereais destinados à alimentação
humana, sendo menores os limites para produtos destinados à alimentação infantil.
11
CARTILHA DO AGRICULTOR MICOTOXINAS NO TRIGO
CULTURA DO TRIGO
03.
2011 2012 2017 2019
Micotoxinas Alimentos LMT
(µg/kg)1
LMT
(µg/kg)1
LMT
(µg/kg)1
LMT
(µg/kg)1
Deoxinivalenol
(DON)
Alimentos à base de cereais
para alimentação infantil
200 200 200 200
Trigo em grãos para
posterior processamento
- - 3.000 3.000
Trigo integral, trigo para
quibe, farinha de trigo
integral e farelo de trigo
- 2.000 1.250 1.000
Produtos derivados de
trigo: farinha, massa,
crackers, biscoitos e pão
- 1.750 1.000 750
Zearalenona
(ZEA)
Alimentos à base de cereais
para alimentação infantil
20 20 20 20
Trigo em grãos para
posterior processamento
- - 400 400
Trigo integral, farinha
de trigo integral e
farelo de trigo
- 400 200 200
Produtos derivados de
trigo: farinha, massa,
crackers, biscoitos e pão
- 200 100 100
Ocratoxina A
(OCRA)
Alimentos à base de cereais
para alimentação infantil
2 2 2 2
Cereais e produtos
derivados de cereais
10 10 10 10
Cereais para posterior
processamento
- - 20 20
Aflatoxinas
(AFLA)
B1, B2, G1, G2
Cereais e produtos
de cereais
5 5 5 5
Alimentos à base de cereais
para alimentação infantil
1 1 1 1
Resoluções da Diretoria Colegiada (RDCs) da Anvisa números 07/11 e 138/17
1µg/kg = micrograma por quilo.
LIMITES MÁXIMOS TOLERADOS PARA ALIMENTOS À BASE DE TRIGO
12
13
CARTILHA DO AGRICULTOR MICOTOXINAS NO TRIGO
Incidência de micotoxinas em trigo nacional
Desoxinivalenol (DON) Principal micotoxina da cultura do trigo, a desoxinivalenol (DON) é
membro da família de micotoxinas denominada tricotecenos. Sua ocorrência está associa-
da primariamente à espécie de fungos do complexo Fusarium graminearum, patógenos
de plantas encontrados normalmente em cereais, responsáveis pela ocorrência da giberela.
A ocorrência de DON na fase de produção depende, na maioria das vezes, das condições
climáticas, sendo favorecida por temperaturas amenas e alta umidade. A ingestão de
DON provoca tanto toxicidade aguda quanto crônica. Os sintomas dos tricotecenos em
humanos e outros animais são vômitos, diarreia, anorexia, alterações hematológicas, dis-
túrbios neurológicos, destruição da medula óssea e hemorragias generalizadas, podendo
ocasionar até a morte. Em geral, tricotecenos presentes em rações são fácil e rapidamente
absorvidos pelo trato gastrintestinal do animal exposto.
Zearalenona (ZEA) Produzida por fungos do gênero Fusarium, incluindo F. graminearum
e F. culmorum, a zearalenona desenvolve-se principalmente na fase de produção, sendo
influenciada por fatores ambientais como chuvas e temperaturas amenas. Esta micotoxina
provoca efeitos estrogênicos, especialmente em fêmeas de suínos, que incluem infertilida-
de, redução nos níveis de testosterona, redução da incidência de gravidez, desenvolvimen-
to precoce das mamas, prolapso vaginal, atrofia testicular e edema vulvar.
Ocratoxina A (OCRA) Produzida pelos fungos Aspergillus carbonarius, Aspergillus ochra-
ceus, Aspergillus selerotiorum, Aspergillus sulphureus e, raramente, Aspergillus niger, que
se desenvolvem principalmente na pós-colheita, em produto conservado com umidade
superior a 13%. Causa doenças em suínos (perda acentuada de peso) e também está as-
sociada ao desenvolvimento de tumores no trato urinário de seres humanos.
Aflatoxinas (AFLA) Produzidas pelos fungos Aspergillus flavus, A. parasiticus e A. nomius,
geralmente na fase pós-colheita. Há pelo menos 17 variações de afloxinas, dentre as quais
destacam-se as B1, G1, B2 e G2. A intoxicação pode ser aguda ou crônica. A síndrome tó-
xica aguda, denominada aflatoxicose, caracteriza-se por sintomas como perda de apetite,
febre baixa, depressão, hepatite aguda, icterícia, hemorragias e necrose. Na aflatoxicose
crônica, o efeito causado pela ingestão de baixas doses de aflatoxinas por um período
prolongado está associado, em seres humanos, ao carcinoma hepatocelular.
É importante considerar que os fungos que produzem micotoxinas podem crescer em
várias culturas e alimentos. Em geral, os fungos não crescem em alimentos adequada-
mente secos e armazenados, de modo que a secagem eficiente de produtos básicos e a
manutenção da umidade e do armazenamento apropriados são medidas eficazes contra
o crescimento de fungos e a produção de micotoxinas.
1. Para a saúde
Evite danos aos grãos
antes e durante a
secagem e durante
o armazenamento,
pois o grão danificado
é mais propenso à
invasão por fungos e,
portanto, à contaminação
por micotoxinas.
2. Para a contaminação da farinha de trigo
Estudos das condições higiênico-sanitárias em grãos
de trigo armazenado e a respeito do processamento de
farinhas de trigo refinada e integral mostram diferen-
tes especificações para evitar fungos e micotoxinas no
produto, conforme os distintos aspectos. O ponto em
comum é a relevância da prevenção.
Uma vez que evitar totalmente a contaminação pelos
fungos é praticamente impossível, considerando que
são de fácil disseminação pelo ambiente, é necessário
aplicar algumas estratégias para minimizar as perdas e a
contaminação por micotoxinas. Entre elas destacam-se:
ۜ
ۜ A utilização de cultivares mais resistentes
à colonização fúngica;
ۜ
ۜ Colheita apropriada;
ۜ
ۜ Estocagem adequada
ۜ
ۜ Controle de insetos e roedores;
ۜ
ۜ Controle de temperatura e umidade;
ۜ
ۜ Tempo de estocagem dentro dos limites
de vitalidade dos grãos.
O descarte de grãos leves e chochos atacados pelos
fungos também é uma medida eficiente para reduzir os
níveis de micotoxinas. Além disso, como o crescimento
desses microrganismos ocorre nas camadas externas do
grão, processos de polimento e de moagem são estraté-
gias para obter alimentos com menores níveis de conta-
minantes. Vários trabalhos demonstram que o nível de
contaminação por micotoxinas é maior no trigo moído,
quando comparado com a farinha branca, aumentando
a preocupação com a produção de alimentos integrais.
Minimizando os riscos
Inspecione os grãos
inteiros para detectar
a presença de fungos
e descartar os que
tenham um aspecto
mofado, descolorido
e chocho.
14
04. REDUÇÃO À EXPOSIÇÃO
Amostragens
O processo amostral é essencial no monitoramento de mico-
toxinas. As especificações de quantidades e equipamentos
utilizados variam de acordo com o tipo de lavoura, se manual
ou mecânica. A qualidade dessas amostras e a segurança dos
seus resultados dependem ainda de condições de armazena-
gem e transporte. Em geral, a coleta de amostras deve ser feita
em pontos uniformemente distribuídos e obedecendo fórmulas
que definem a quantificação. Utilizando a fórmula √20*T (to-
neladas), por exemplo, para um caminhão com 30 t de trigo
haverá 24 quilos de amostras de 11 pontos.
No caso dos cereais, o envio para análise deve seguir as seguintes
etapas:
1.	 Colete aleatoriamente do lote várias amostras pequenas
(incrementos) para que somadas formem a amostra coletiva;
2.	 Homogeneíze e reduza a amostra coletiva
ao tamanho aproximado de 2kg;
3.	 Após isso, forme a amostra final ou de laboratório.
Grãos com sintoma de giberela
2 kg
DEVE SER O
TAMANHO
APROXIMADO
DA AMOSTRA
COLETIVA
Embrapa
15
CARTILHA DO AGRICULTOR MICOTOXINAS NO TRIGO
Trigo com
sintomas
de giberela
16
CONTROLE DA GIBERELA
05.
A doença
Causada pelo fungo Fusarium graminearum, também conhe-
cido como Gibberella zeae, a giberela do trigo é uma doença
de difícil controle. Altamente relacionada ao ambiente, fatores
como resistência da cultivar, níveis de inóculo e práticas cul-
turais, têm influência direta na epidemia, especialmente em
temperaturas entre 15ºC e 30ºC e duração contínua do mo-
lhamento superior a 30 horas durante as fases de floração e de
enchimento de grãos do trigo. A partir daí, ocorre a colonização
com senescência prematura dos tecidos da espiga (figura). Mas
como o fungo pode sobreviver nas sementes e nos restos cultu-
rais, as infecções também ocorrem mais tardiamente, durante a
fase de enchimento dos grãos, contribuindo assim para os níveis
de micotoxinas em lotes de grãos aparentemente sadios.
O manejo
As estratégias de manejo da giberela incluem a adoção de prá-
ticas de controle genético, químico e cultural. Milhares de linha-
gens de trigo têm sido avaliadas ao redor do mundo quanto à
sua reação à giberela. No entanto, até o momento ainda não fo-
ram obtidos materiais comerciais que conferem resistência em
níveis satisfatórios à doença para dispensar o uso de fungicidas.
Alguns fungicidas aplicados corretamente podem reduzir a
intensidade da giberela (controle de até 60%) e o teor da con-
taminação por desoxinivalenol (DON). É importante que a apli-
cação de fungicidas seja definida de acordo com as condições
climáticas durante a floração do trigo. A tabela ao lado reporta
os fungicidas indicados pela Comissão Brasileira de Pesquisa de
Trigo e Triticale (safra 2018):
17
CARTILHA DO AGRICULTOR MICOTOXINAS NO TRIGO
FUNGICIDAS INDICADOS PARA O CONTROLE DA GIBERELA (Fusarium graminearum)
Nome Técnico Nome
comercial1
Concentração
g/l2
Formulação Dose3/ha
Trifloxistrobina
+ Tebuconazol4
Nativo 100+200 SC 0,75
Epoxiconazol Opus 125 SC 1,0
Piraclostrobina
+ Metconazol
Opera ultra 130 + 180 CE 0,5
Propiconazol Tilt 250 CE 0,75
Propiconazol Juno 250 CE 0,50
Tebuconazol Orius 250 CE 0,60
Tebuconazol Folicur 200 CE 0,75
1Produto comercial. 2Grama por litro. 3Dados de eficiência são de responsabilidade do fabricante.
4Usar coadjuvante recomendado pelo fabricante.
Cuidados e monitoramento
O período de predisposição da lavoura de trigo à infecção gibe-
rela vai do início da floração (presença de anteras soltas e presas)
até o grão leitoso (presença de anteras presas). A melhor absor-
ção dos fungicidas está diretamente relacionada às caracterís-
ticas dos equipamentos pulverizadores como tipo de pontas e
velocidade dos jatos, de modo que direcionem a calda para as
laterais das espigas. Caso as condições climáticas impeçam a
realização das aplicações de fungicidas nos períodos indicados,
não há possibilidade de a doença ser controlada posteriormente.
Antes de iniciar qualquer cultura é importante seguir as orien-
tações do engenheiro agrônomo sobre a utilização de produtos
com receituários adequados.
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Seleção de cultivares com mais
resistência à giberela: escolher
sementes moderadamente resistentes
e moderadamente suscetíveis (MR
e MS) de acordo com a descrição
de seus criadores e com a condição
climática predominante na região
Escalonamento da semeadura:
semear com espaçamento de
dias para minimizar os riscos
Verificar previsão de chuvas:
Utilizar prognósticos divulgados por
institutos oficiais para saber se não
haverá chuvas em até 72 horas. A
ferramenta SISALERT da Embrapa
é uma grande aliada nessa fase
Primeira aplicação de fungicida:
com base em dados climáticos,
realizar após o início da floração
do trigo e antes da ocorrência
de chuvas previstas no período
de predisposição. Quando
ocorrer a chuva, as espigas já
devem estar protegidas
Segunda aplicação de fungicida: em
um período de no máximo 15 dias depois
da primeira aplicação, estando ainda as
espigas verdes sujeitas à nova infecção,
realizar antes de nova previsão de chuvas
NO PERÍODO PÓS-COLHEITA
Segregar grãos: após a colheita,
separar os lotes com maior risco
de presença de micotoxina ou com
maiores níveis de micotoxinas
Secagem dos grãos: realizar
a rápida secagem, de maneira
eficiente e uniforme, não
permitindo produção de
micotoxina devido à umidade
do produto logo após a colheita
PASSO A PASSO
Manejo de pragas: realizar o Manejo
Integrado de Pragas (MIP), uma vez
que as pragas podem proliferar os
fungos de armazenamento e aumentar
a contaminação por micotoxinas Eficiência na armazenagem: manter
o local de estocagem limpo, com
monitoramento sistemático da
temperatura e umidade dos grãos e
com sistema eficiente de aeração
18
SISALERT: plataforma para
simulação e alerta de riscos
Os prognósticos sobre a previsão de chuvas divulgados por institu-
tos oficiais como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)
auxiliam a tomada de decisão dos agricultores sobre o melhor mo-
mento de controle de doenças da lavoura. No caso específico da gi-
berela pode-se utilizar a plataforma SISALERT (Sistema de Previsão
de Risco de Epidemias de Doenças de Plantas) disponibilizada
gratuitamente pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa), que contém um modelo matemático preditivo calcu-
lado a partir da data de início do espigamento. Neste sistema, são
consideradas a coleta de dados meteorológicos de 400 estações da
redeINPE/INMET(InstitutoNacionaldeMeteorologia)eprocessadas
as informações para simulação de riscos de epidemias de giberela.
No caso do trigo, para fazer a simulação, basta acessar a página de
monitoramento do portal www.sisalert.com.br.
Nessa página, o produtor seleciona:
ۜ
ۜ Um dos oito estados monitorados
(Bahia, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul,
Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina);
ۜ
ۜ A estação mais próxima;
ۜ
ۜ Data do espigamento.
A partir daí, obtém informações que calculam a severidade e o
risco da infestação.
O caminho é: www.sisalert.com.br → trigo → monitoramento →
giberela → avaliação de riscos
400
ESTAÇÕES DA REDE
INPE/INMET SÃO
CONSIDERADAS
PARA A COLETA
DE DADOS
METEOROLÓGICOS
PARCERIA
19
CARTILHA DO AGRICULTOR MICOTOXINAS NO TRIGO
20
CONCLUSÕES
06.
As micotoxinas exercem seus efeitos tóxicos em quantidades
extremamente pequenas nos alimentos e vários governos já es-
tabeleceram limites regulamentares para limitar sua presença
em alimentos e rações para animais.
Os riscos associados a esses contaminantes estão relacionados
tanto ao perigo como à exposição. O perigo que envolve as micoto-
xinas é provavelmente similar em todo o mundo, mas a exposição
depende dos níveis de contaminação e da dieta de cada indivíduo.
Por essa razão, as legislações são diferentes em cada país.
A viabilização da produção de alimentos segura e saudável, com
padrões de micotoxinas que atendam à legislação brasileira vi-
gente e minimizem o risco de contaminação do trigo, depende
principalmente de um programa que estabeleça o monitora-
mento de níveis de contaminantes por meio de amostragens
representativas e as boas práticas no manejo da giberela.
É fundamental que a metodologia para quantificação da análi-
se seja adequada. A segregação de lotes de trigo com base em
resultados de análises deve ser feita de acordo com a qualidade
apresentada, otimizando assim a utilização da estrutura física
para recebimento, secagem e armazenagem.
Dessa forma, as boas práticas agrícolas (BPA) aumentam as
chances de uma próxima safra com alimentos ainda mais sau-
dáveis para o consumo da população, além de disponibilizar à
indústria, matérias-primas condizentes com os critérios de qua-
lidade exigidos, ou seja, trigo que após o processamento atenda
aos limites de micotoxinas previstos na legislação.
Para entender e aplicar as melhores técnicas para manejo da gi-
berela, o agricultor tem à disposição uma série de informações
divulgadas por instituições como a Embrapa, que ensinam so-
bre o manejo, como obter amostras representativas e minimizar
as perdas por fungos e micotoxinas.
24
PARCERIA

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Os danos dos agrotóxicos ao meio ambiente
Os danos dos agrotóxicos ao meio ambienteOs danos dos agrotóxicos ao meio ambiente
Os danos dos agrotóxicos ao meio ambienteSergio Adreliane
 
Segurança alimentar
Segurança alimentarSegurança alimentar
Segurança alimentarUERGS
 
Agrotóxicos - aula para o ensino fundamental
Agrotóxicos - aula para o ensino fundamentalAgrotóxicos - aula para o ensino fundamental
Agrotóxicos - aula para o ensino fundamentalPriscila Oliveira Boralho
 
Aplicacao agrotoxicos manual
Aplicacao agrotoxicos manualAplicacao agrotoxicos manual
Aplicacao agrotoxicos manualPaulo Heroncio
 
Consea divulga documento com propostas para enfrentar agrotóxicos
Consea divulga documento com propostas para enfrentar agrotóxicosConsea divulga documento com propostas para enfrentar agrotóxicos
Consea divulga documento com propostas para enfrentar agrotóxicosJoão Siqueira da Mata
 
Anvisa lança cartilha com orientações sobre como evitar intoxicação com agrot...
Anvisa lança cartilha com orientações sobre como evitar intoxicação com agrot...Anvisa lança cartilha com orientações sobre como evitar intoxicação com agrot...
Anvisa lança cartilha com orientações sobre como evitar intoxicação com agrot...Portal Canal Rural
 
Projeto de Segurança Alimentar
Projeto de Segurança AlimentarProjeto de Segurança Alimentar
Projeto de Segurança Alimentartammygerbasi
 
Docsity o-uso-de-biopesticidas-na-agricultura
Docsity o-uso-de-biopesticidas-na-agriculturaDocsity o-uso-de-biopesticidas-na-agricultura
Docsity o-uso-de-biopesticidas-na-agriculturaAmillima
 
Cartilha gicra rdc 216
Cartilha gicra rdc 216Cartilha gicra rdc 216
Cartilha gicra rdc 216visacamacan
 
Alimentos organicos
Alimentos organicos Alimentos organicos
Alimentos organicos Keylla Tayne
 

Mais procurados (20)

Os danos dos agrotóxicos ao meio ambiente
Os danos dos agrotóxicos ao meio ambienteOs danos dos agrotóxicos ao meio ambiente
Os danos dos agrotóxicos ao meio ambiente
 
Agrotoxicos slide
Agrotoxicos slideAgrotoxicos slide
Agrotoxicos slide
 
Segurança alimentar
Segurança alimentarSegurança alimentar
Segurança alimentar
 
iv 2
iv 2 iv 2
iv 2
 
Agrotóxicos - aula para o ensino fundamental
Agrotóxicos - aula para o ensino fundamentalAgrotóxicos - aula para o ensino fundamental
Agrotóxicos - aula para o ensino fundamental
 
Aplicacao agrotoxicos manual
Aplicacao agrotoxicos manualAplicacao agrotoxicos manual
Aplicacao agrotoxicos manual
 
Cartilha sobre produtos orgânicos
Cartilha sobre produtos orgânicosCartilha sobre produtos orgânicos
Cartilha sobre produtos orgânicos
 
Consea divulga documento com propostas para enfrentar agrotóxicos
Consea divulga documento com propostas para enfrentar agrotóxicosConsea divulga documento com propostas para enfrentar agrotóxicos
Consea divulga documento com propostas para enfrentar agrotóxicos
 
Agrotoxicos nrfacil
Agrotoxicos nrfacilAgrotoxicos nrfacil
Agrotoxicos nrfacil
 
Anvisa lança cartilha com orientações sobre como evitar intoxicação com agrot...
Anvisa lança cartilha com orientações sobre como evitar intoxicação com agrot...Anvisa lança cartilha com orientações sobre como evitar intoxicação com agrot...
Anvisa lança cartilha com orientações sobre como evitar intoxicação com agrot...
 
HSAR.pptx
HSAR.pptxHSAR.pptx
HSAR.pptx
 
Seminatio micro geral_micotoxinas
Seminatio micro geral_micotoxinasSeminatio micro geral_micotoxinas
Seminatio micro geral_micotoxinas
 
Segurança alimentar
Segurança alimentarSegurança alimentar
Segurança alimentar
 
Projeto de Segurança Alimentar
Projeto de Segurança AlimentarProjeto de Segurança Alimentar
Projeto de Segurança Alimentar
 
Docsity o-uso-de-biopesticidas-na-agricultura
Docsity o-uso-de-biopesticidas-na-agriculturaDocsity o-uso-de-biopesticidas-na-agricultura
Docsity o-uso-de-biopesticidas-na-agricultura
 
1 4 ii
1 4 ii1 4 ii
1 4 ii
 
Agrotoxico e meio ambiente -3ºA
Agrotoxico  e meio ambiente -3ºAAgrotoxico  e meio ambiente -3ºA
Agrotoxico e meio ambiente -3ºA
 
Agrotoxicos
AgrotoxicosAgrotoxicos
Agrotoxicos
 
Cartilha gicra rdc 216
Cartilha gicra rdc 216Cartilha gicra rdc 216
Cartilha gicra rdc 216
 
Alimentos organicos
Alimentos organicos Alimentos organicos
Alimentos organicos
 

Semelhante a MICOTOXINAS NO TRIGO: ENTENDA OS RISCOS E COMO EVITÁ-LOS

Cartilha sobre Trichoderma
Cartilha sobre TrichodermaCartilha sobre Trichoderma
Cartilha sobre TrichodermaBMP2015
 
Frutasminimamenteprocessadas 000fdejd97n02wx5eo0a2ndxyb8wg7w1
Frutasminimamenteprocessadas 000fdejd97n02wx5eo0a2ndxyb8wg7w1Frutasminimamenteprocessadas 000fdejd97n02wx5eo0a2ndxyb8wg7w1
Frutasminimamenteprocessadas 000fdejd97n02wx5eo0a2ndxyb8wg7w1Ray Everton de Almeida Freitas
 
Perigos no processamento de alimentos
Perigos no processamento de alimentosPerigos no processamento de alimentos
Perigos no processamento de alimentosPriscilla Macêdo
 
Perigos durante o processamento de alimentos
Perigos durante o processamento de alimentosPerigos durante o processamento de alimentos
Perigos durante o processamento de alimentosPriscilla Macêdo
 
Os Desafios Socioambientais para o Agro Sustentável
Os Desafios Socioambientais para o Agro SustentávelOs Desafios Socioambientais para o Agro Sustentável
Os Desafios Socioambientais para o Agro SustentávelAgriculturaSustentavel
 
Agricultura orgânica e produção integrada diferenças e semelhanças
Agricultura orgânica e produção integrada  diferenças e semelhançasAgricultura orgânica e produção integrada  diferenças e semelhanças
Agricultura orgânica e produção integrada diferenças e semelhançasJoão Siqueira da Mata
 
Higiene Pessoal na Industria Alimentar.pdf
Higiene Pessoal na Industria Alimentar.pdfHigiene Pessoal na Industria Alimentar.pdf
Higiene Pessoal na Industria Alimentar.pdfFrancisco Veiga
 
Trabalho escrito problemática-do-uso-de-biocidas-e-de-métodos-alternativos-n...
Trabalho escrito  problemática-do-uso-de-biocidas-e-de-métodos-alternativos-n...Trabalho escrito  problemática-do-uso-de-biocidas-e-de-métodos-alternativos-n...
Trabalho escrito problemática-do-uso-de-biocidas-e-de-métodos-alternativos-n...Maria Paredes
 
Page1 13-134
Page1 13-134Page1 13-134
Page1 13-134mvezzone
 
53-Texto do Artigo-160-1-10-20171020.pdf
53-Texto do Artigo-160-1-10-20171020.pdf53-Texto do Artigo-160-1-10-20171020.pdf
53-Texto do Artigo-160-1-10-20171020.pdfLUCIENECRISTALDOALBU
 

Semelhante a MICOTOXINAS NO TRIGO: ENTENDA OS RISCOS E COMO EVITÁ-LOS (20)

Cartilha sobre Trichoderma
Cartilha sobre TrichodermaCartilha sobre Trichoderma
Cartilha sobre Trichoderma
 
Frutasminimamenteprocessadas 000fdejd97n02wx5eo0a2ndxyb8wg7w1
Frutasminimamenteprocessadas 000fdejd97n02wx5eo0a2ndxyb8wg7w1Frutasminimamenteprocessadas 000fdejd97n02wx5eo0a2ndxyb8wg7w1
Frutasminimamenteprocessadas 000fdejd97n02wx5eo0a2ndxyb8wg7w1
 
Frutasminimamenteprocessadas 2
Frutasminimamenteprocessadas 2Frutasminimamenteprocessadas 2
Frutasminimamenteprocessadas 2
 
Perigos no processamento de alimentos
Perigos no processamento de alimentosPerigos no processamento de alimentos
Perigos no processamento de alimentos
 
Perigos durante o processamento de alimentos
Perigos durante o processamento de alimentosPerigos durante o processamento de alimentos
Perigos durante o processamento de alimentos
 
Manual alimentos
Manual alimentos Manual alimentos
Manual alimentos
 
Os Desafios Socioambientais para o Agro Sustentável
Os Desafios Socioambientais para o Agro SustentávelOs Desafios Socioambientais para o Agro Sustentável
Os Desafios Socioambientais para o Agro Sustentável
 
Agricultura orgânica e produção integrada diferenças e semelhanças
Agricultura orgânica e produção integrada  diferenças e semelhançasAgricultura orgânica e produção integrada  diferenças e semelhanças
Agricultura orgânica e produção integrada diferenças e semelhanças
 
Higiene Pessoal na Industria Alimentar.pdf
Higiene Pessoal na Industria Alimentar.pdfHigiene Pessoal na Industria Alimentar.pdf
Higiene Pessoal na Industria Alimentar.pdf
 
Apostilaproctecnalim 2015
Apostilaproctecnalim 2015Apostilaproctecnalim 2015
Apostilaproctecnalim 2015
 
Manual.biohorta.coimbra
Manual.biohorta.coimbraManual.biohorta.coimbra
Manual.biohorta.coimbra
 
Manual.biohorta.coimbra
Manual.biohorta.coimbraManual.biohorta.coimbra
Manual.biohorta.coimbra
 
Culturas regionais modulo iii
Culturas regionais modulo iiiCulturas regionais modulo iii
Culturas regionais modulo iii
 
Documento 156
Documento 156Documento 156
Documento 156
 
Trabalho escrito problemática-do-uso-de-biocidas-e-de-métodos-alternativos-n...
Trabalho escrito  problemática-do-uso-de-biocidas-e-de-métodos-alternativos-n...Trabalho escrito  problemática-do-uso-de-biocidas-e-de-métodos-alternativos-n...
Trabalho escrito problemática-do-uso-de-biocidas-e-de-métodos-alternativos-n...
 
Cartilha gicra
Cartilha gicraCartilha gicra
Cartilha gicra
 
Page1 13-134
Page1 13-134Page1 13-134
Page1 13-134
 
Dossie abrasco 02
Dossie abrasco 02Dossie abrasco 02
Dossie abrasco 02
 
Artigo abmba v7_n2_2019_01
Artigo abmba v7_n2_2019_01Artigo abmba v7_n2_2019_01
Artigo abmba v7_n2_2019_01
 
53-Texto do Artigo-160-1-10-20171020.pdf
53-Texto do Artigo-160-1-10-20171020.pdf53-Texto do Artigo-160-1-10-20171020.pdf
53-Texto do Artigo-160-1-10-20171020.pdf
 

MICOTOXINAS NO TRIGO: ENTENDA OS RISCOS E COMO EVITÁ-LOS

  • 2. Associação Brasileira da Indústria do Trigo T. +55 (11) 3078-9001 Rua Jerônimo da Veiga, 164 – 15º andar 04536-000 | Itaim Bibi | São Paulo – SP www.abitrigo.com.br CONTEÚDO TÉCNICO Carolina Maria Gil Bernardi Denise de Oliveira Resende Equipe Abitrigo Equipe Embrapa Trigo Ana Christina Sagebin Albuquerque Casiane Tibola EDIÇÃO E PROJETO GRÁFICO Tree Comunicação T. +55 (11) 3093-3600 Av. Brigadeiro Faria Lima, 2081 - CJ 21 01452-001 Jardim Paulistano | São Paulo – SP Inês Castelo (edição) Rejane Lima (redação) Multi Design (diagramação) PARCERIA CRÉDITOS
  • 3. ÍNDICE   2 APRESENTAÇÃO   2 CARTA DO PRESIDENTE   3 MENSAGEM DO MOAGEIRO   4 INTRODUÇÃO   5 O QUE SÃO MICOTOXINAS?   6 MICOTOXICOSES   8 IMPACTOS ECONÔMICOS   9 CULTURA DO TRIGO   9 LEGISLAÇÕES E REGULAMENTOS 11 INCIDÊNCIA DE MICOTOXINAS EM TRIGO NACIONAL 12 REDUÇÃO À EXPOSIÇÃO 12 MINIMIZANDO OS RISCOS 13 AMOSTRAGENS 14 CONTROLE DA GIBERELA 14 A DOENÇA 14 O MANEJO 15 CUIDADOS E MONITORAMENTO 18 CONCLUSÕES
  • 4. 01. APRESENTAÇÃO Carta do presidente Prezados Agricultores e Pesquisadores A farinha de trigo está presente em praticamente 100% dos lares brasi- leiros. É matéria-prima base para a produção de alimentos importantes para a população, como pães, macarrão, biscoitos, bolos, entre outros. Produzir alimentos mais saudáveis tem sido o desafio de nossos moi- nhos, e não faltam empenho e energia para entregar as melhores fa- rinhas de trigo. Nossa farinha evolui a cada dia, pois o setor investe em novos equipamentos, treinamentos e aprimoramento de processos sempre visando atender um consumidor mais consciente e exigente. Nós da Abitrigo respresentamos a indústria nacional de moagem e nossos associados são o elo entre o campo e a indústria de trans- formação. Desde 1990, atuamos para reestruturar e integrar toda a cadeia produtiva do trigo no Brasil, estimulando as melhores práticas, compartilhando conhecimento e gerando ainda mais valor para nos- sa atividade. O assunto dessa cartilha – micotoxinas no trigo – tem como principal objetivo orientar e sensibilizar os produtores sobre as exigências da legislação e boas práticas agrícolas. O conteúdo foi elaborado com base em material técnico e o apoio de especialistas e pesquisadores da área. Para conhecer as outras cartilhas orientativas, abordando os temas classificação do trigo e uso correto dos agrotóxicos na cultura do trigo, acesse o site da Abitrigo (www.abitrigo.com.br). Atenciosamente, Embaixador Rubens Barbosa Presidente da Abitrigo 4 PRODUZIR ALIMENTOS MAIS SAUDÁVEIS TEM SIDO O DESAFIO DE NOSSOS MOINHOS."
  • 5. Mensagem do moageiro Caros amigos Disponibilizamos essa cartilha orientativa, em linguagem simples e objetiva, com a finalidade de apoiar todo o segmento do trigo, quer seja na produção primária quer seja na industrialização, sempre de acordo com a legislação brasileira. Queremos incentivar a adoção de cuidados que minimizem o risco de contaminação com micotoxinas, pois acreditamos que se todos estivermos unidos no mesmo propósito, conseguiremos entregar alimentos cada vez mais saudáveis aos consumidores. Derivados do trigo, como farinhas, biscoitos, massas e pães, devem seguir as normas estabelecidas, as quais apresentam importantes contribuições para a sociedade. Algumas são mais fáceis e perceptí- veis, outras mais complexas, como o caso das micotoxinas. Os limites de micotoxinas permitidos pela legislação visam proteger a saúde das pessoas que consomem os alimentos derivados do trigo. Apoiamos essa iniciativa e nossos esforços se voltam para que toda a cadeia esteja informada e imbuída do espírito de produzir ali- mentos dentro das regras, garantindo assim ainda mais qualidade ao produto final. Desejamos uma boa leitura aos amigos produtores, pesquisado- res, sementeiros, cerealistas, cooperativas e sociedade. Contem sempre conosco! Marcelo Vosnika Presidente do Conselho deliberativo da Abitrigo 5 CARTILHA DO AGRICULTOR MICOTOXINAS NO TRIGO QUEREMOS INCENTIVAR A ADOÇÃO DE CUIDADOS QUE MINIMIZEM O RISCO DE CONTAMINAÇÃO COM MICOTOXINAS."
  • 6. INTRODUÇÃO 02. A avaliação da qualidade dos produtos agrícolas no que se refe- re à contaminação com micotoxinas é de grande importância para a saúde pública pelo risco que representa o consumo dos alimentos por elas contaminados. A legislação que estabelece os atuais Limites Máximos de Tolerância (LMT) para micotoxinas em alimentos no Brasil é a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 07/2011, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Publicada inicialmente com um cronograma que estabelecia redução gradativa nos limites, até o ano de 2016, a entrada em vigor da resolução foi prorrogada duas vezes graças a um traba- lho da Abitrigo em conjunto com o segmento agrícola. A iniciativa teve como objetivo dar mais tempo para o agricultor se adequar, adotando as boas práticas agrícolas para a redução da presença desse contaminante no alimento. Dessa forma, a partir de 2019, entrará em vigor o último limite definido para micotoxinas presentes nos alimentos. Toda a cadeia produtiva, em especial a produção primária, deve se movimentar para conseguir disponibilizar alimentos que possam ser utilizados pela indústria nacional sem risco de com- prometimento da qualidade do produto final. A matéria-prima adquirida, após o processamento, deverá apresentar níveis de contaminantes aceitos pela legislação. TODOS DEVEM SE MOVIMENTAR PARA DISPONIBILIZAR ALIMENTOS SEM RISCO PARA A QUALIDADE DO PRODUTO FINAL MICOTOXINA: Desoxinivalenol (DON) – µg/kg Farinha de Trigo Integral Farelo de Trigo para consumo Humano Farinha de Trigo 1.250 1.000 2017 2019 1.250 1.000 2017 2019 1.000 750 2017 2019 6 O QUE MUDA
  • 7. O que são micotoxinas? Derivada da palavra grega mikes, que significa fungo, e da palavra latina toxicum, que significa veneno, micotoxinas são substâncias tóxicas formadas durante o crescimento de fun- gos, que estão associados a alterações na natureza física, sabor, odor e aparência dos alimentos. O desenvolvimento fúngico na produção e no armazenamento de grãos causa vários efeitos negativos, dentre eles, perda de rendimento e produção de micotoxinas. A produção de micotoxina depende da presença de fungo toxi- gênico em alguma fase do processo de produção ou armazena- mento. No campo, fungos do gênero Fusarium estão associados à causa da doença conhecida como giberela. Já em grãos ar- mazenados, espécies de Aspergillus e Penicillium são os fungos toxigênicos de maior relevância. Tecnicamente, pode-se descrever micotoxinas como produtos do metabolismo secundário de fungos toxigênicos que infec- tam e/ou colonizam os grãos e seus subprodutos, especialmen- te os cereais, no período de pré e pós-colheita. Isso ocorre por causa de fatores como umidade e temperatura. As micotoxinas são quimicamente estáveis e, raramente, sofrem degradação durante o armazenamento dos grãos e o processamento dos alimentos, sendo um importante contaminante. Em 1960, mais de 100 mil perus morreram na Inglaterra devido a uma intoxicação que foi acompanhada por um quadro de hemorragias internas e necrose hepática. Estudos posteriores mostraram que a morte das aves ocorreu devido à ingestão de farinha de amendoim contami- nada com um metabolito tóxico produzido pelo fungo filamentoso Aspergillus flavus (Goldblatt, 1969). Esse composto, após ser isolado e identificado, foi denominado de aflatoxina. A partir daí, a implicação que as micotoxinas acarretam para a saúde humana e animal despertou a atenção da comunidade científica e o termo genérico micotoxina começou a ser utilizado. HISTÓRIA 7 CARTILHA DO AGRICULTOR MICOTOXINAS NO TRIGO
  • 8. ESTIMA-SE QUE CERCA DE 25% DOS ALIMENTOS NO MUNDO ESTEJA CONTAMINADO COM MICOTOXINAS 8 Micotoxicoses A contaminação causada por micotoxinas é denominada de micotoxicose e os órgãos do corpo humano mais afetados são o fígado, os rins, o cérebro, os músculos e o sistema nervoso. Os sintomas vão desde náuseas e vômitos até falta de coordenação dos movimentos (ataxia), podendo levar à morte. A intoxicação acontece de forma direta, quando o produto é uti- lizado na alimentação humana ou de animais; ou indireta, quan- do subprodutos e derivados contaminados são utilizados na alimentação de animais que transferem as toxinas para o leite/a carne. A maneira mais frequente de intoxicação é a direta, que ocorre por meio do consumo de cereais, sementes oleaginosas e produtos derivados, que foram contaminados por micotoxinas nas fases de produção e de armazenamento. De acordo com a Food and Agriculture Organization (FAO), esti- ma-se que cerca de 25% dos alimentos no mundo esteja conta- minado com micotoxinas e os produtos que geralmente podem veicular micotoxinas para o homem ou animais são: ۜ ۜ Agrícolas: cereais, sementes oleaginosas, frutos, vegetais; ۜ ۜ Rações industrializadas; ۜ ۜ Origem animal: leite e derivados, carnes; ۜ ۜ Queijos curados por fungos; ۜ ۜ Alimentos orientais fermentados; ۜ ۜ Fermentados: cerveja, aditivos alimentares e vitaminas.
  • 9. 9 PRINCIPAIS MICOTOXINAS COM SEUS RESPECTIVOS FUNGOS PRODUTORES, ALIMENTOS E EFEITOS NO HOMEM E NOS ANIMAIS Principais substratos Principais fungos produtores Principais toxinas Efeitos TRIGO Milho, cevada, aveia, trigo e centeio Fusarium sp, Myrothecium sp, Stachybotrys sp e Trichothecium sp Tricotecenos, T2, neosolaniol, fusanona x, nivalenol, deoxinivalenol Hemorragias, vômitos e dermatites Trigo, aveia, cevada, milho e arroz Penicillium citrinum Citrinina Nefrotóxica para suínos OUTROS PRODUTOS Amendoim e milho Aspergillus flavus e Aspergiluus parasiticus Aflatoxina B1 Hepatotóxica, nefrotóxica e carcinogênica Centeio e grãos em geral Clavicepcs purpurea Ergotamina Gangrena de extremidades ou convulsões Cereais Fursarium graminearum Zearalenona Baixa toxidade, síndrome de masculinização e feminização em suínos Cevada, café e vinho Aspergillus ochraceus e Aspergillus carbonarius Ocratoxina Hepatotóxica, nefrotóxica e carcinogênica Frutas e sucos de frutas Penicillium expajsum e Penicillium griseofulvum Patulina Toxidade vagamente estabelecida Milho Fusarium verticillioides Fumonisinas Câncer de esôfago Fonte: Tabela adaptada da publicação www.microbiologia.vet.br/micotoxinas.htm
  • 10. 10 Perdas diretas de produtos agrícolas – redução na produtividade Doenças humanas e diminuição da produtividade de animais Rejeição do produto nos mercados interno e externo Perda de animais por morte Custos de desintoxicação, para adequar os produtos aos limites da legislação Impactos econômicos A contaminação de alimentos por fungos pode ocasionar, além de problemas de saúde, perdas econômicas irreparáveis que englobam: Lavouras de trigo com sintomas de giberela Embrapa Embrapa
  • 11. O trigo corresponde a aproximadamente 30% da produção global de grãos, destinada à elaboração de produtos alimentícios para humanos e animais e não alimentícios, como a geração de energia renovável. Visualmente imperceptível no produto final, a presença de contaminantes químicos como resíduos de agrotóxicos e micotoxinas são desafios para o controle de qualidade e segurança na produção de alimentos em todas as cadeias produtivas. Com o avanço do conhecimento sobre os efeitos negativos das micotoxinas, os Limites Máximos Tolerados (LMT) estão cada vez mais restritivos, visando assegurar alimentos com níveis aceitáveis de contaminantes. Legislações e regulamentos O nível de toxicidade em alimentos produzidos com matérias primas submetidas a essas substâncias tem levado muitos países a estabelecerem regulamentos para ga- rantir mais controle na contaminação de micotoxinas em alimentos e rações animais. O Joint Expert Committee on Food Additives (JECFA), conselho científico da World Health Organization (WHO), e o Food and Agriculture Organization (FAO), ambos liga- dos à Organização das Nações Unidas (ONU), são responsáveis em avaliar, internacio- nalmente, os riscos relacionados a essa contaminação. No Brasil, há uma legislação específica para a micotoxina. Estabelecida pela Anvisa, a Resolução nº 07/2011 determina os LMT de micotoxinas em alimentos. Para o trigo e a ce- vada, a deoxinivalenol (DON) é a que apresenta a maior relevância devido à sua ocorrência comum nas principais regiões produtoras do País. Uma vez que o acúmulo desse contami- nante nos grãos afeta a qualidade do produto, pode causar graves efeitos tóxicos na saúde humana e animal. A micotoxina DON tem sido amplamente estudada em produtos da moa- gem de trigo, evidenciando como ocorre a contaminação em diversas frações e processos. Para proteger a saúde dos consumidores, a Anvisa estabeleceu que o LMT de DON para trigo integral e farelo de trigo é de 2.000 µg/kg (micrograma por quilograma) e para fa- rinha de trigo 1.750 µg/kg, com reduções gradativas até 2019. A tabela da página 10 mostra os níveis máximos tolerados para alimentos à base de trigo, destinados ao consu- mo humano. Essa resolução estabelece LMT de deoxinivalenol (DON), zearalenona (ZEA), ocratoxina A (OCRA) e aflatoxinas B1, B2, G1 e G2 para cereais destinados à alimentação humana, sendo menores os limites para produtos destinados à alimentação infantil. 11 CARTILHA DO AGRICULTOR MICOTOXINAS NO TRIGO CULTURA DO TRIGO 03.
  • 12. 2011 2012 2017 2019 Micotoxinas Alimentos LMT (µg/kg)1 LMT (µg/kg)1 LMT (µg/kg)1 LMT (µg/kg)1 Deoxinivalenol (DON) Alimentos à base de cereais para alimentação infantil 200 200 200 200 Trigo em grãos para posterior processamento - - 3.000 3.000 Trigo integral, trigo para quibe, farinha de trigo integral e farelo de trigo - 2.000 1.250 1.000 Produtos derivados de trigo: farinha, massa, crackers, biscoitos e pão - 1.750 1.000 750 Zearalenona (ZEA) Alimentos à base de cereais para alimentação infantil 20 20 20 20 Trigo em grãos para posterior processamento - - 400 400 Trigo integral, farinha de trigo integral e farelo de trigo - 400 200 200 Produtos derivados de trigo: farinha, massa, crackers, biscoitos e pão - 200 100 100 Ocratoxina A (OCRA) Alimentos à base de cereais para alimentação infantil 2 2 2 2 Cereais e produtos derivados de cereais 10 10 10 10 Cereais para posterior processamento - - 20 20 Aflatoxinas (AFLA) B1, B2, G1, G2 Cereais e produtos de cereais 5 5 5 5 Alimentos à base de cereais para alimentação infantil 1 1 1 1 Resoluções da Diretoria Colegiada (RDCs) da Anvisa números 07/11 e 138/17 1µg/kg = micrograma por quilo. LIMITES MÁXIMOS TOLERADOS PARA ALIMENTOS À BASE DE TRIGO 12
  • 13. 13 CARTILHA DO AGRICULTOR MICOTOXINAS NO TRIGO Incidência de micotoxinas em trigo nacional Desoxinivalenol (DON) Principal micotoxina da cultura do trigo, a desoxinivalenol (DON) é membro da família de micotoxinas denominada tricotecenos. Sua ocorrência está associa- da primariamente à espécie de fungos do complexo Fusarium graminearum, patógenos de plantas encontrados normalmente em cereais, responsáveis pela ocorrência da giberela. A ocorrência de DON na fase de produção depende, na maioria das vezes, das condições climáticas, sendo favorecida por temperaturas amenas e alta umidade. A ingestão de DON provoca tanto toxicidade aguda quanto crônica. Os sintomas dos tricotecenos em humanos e outros animais são vômitos, diarreia, anorexia, alterações hematológicas, dis- túrbios neurológicos, destruição da medula óssea e hemorragias generalizadas, podendo ocasionar até a morte. Em geral, tricotecenos presentes em rações são fácil e rapidamente absorvidos pelo trato gastrintestinal do animal exposto. Zearalenona (ZEA) Produzida por fungos do gênero Fusarium, incluindo F. graminearum e F. culmorum, a zearalenona desenvolve-se principalmente na fase de produção, sendo influenciada por fatores ambientais como chuvas e temperaturas amenas. Esta micotoxina provoca efeitos estrogênicos, especialmente em fêmeas de suínos, que incluem infertilida- de, redução nos níveis de testosterona, redução da incidência de gravidez, desenvolvimen- to precoce das mamas, prolapso vaginal, atrofia testicular e edema vulvar. Ocratoxina A (OCRA) Produzida pelos fungos Aspergillus carbonarius, Aspergillus ochra- ceus, Aspergillus selerotiorum, Aspergillus sulphureus e, raramente, Aspergillus niger, que se desenvolvem principalmente na pós-colheita, em produto conservado com umidade superior a 13%. Causa doenças em suínos (perda acentuada de peso) e também está as- sociada ao desenvolvimento de tumores no trato urinário de seres humanos. Aflatoxinas (AFLA) Produzidas pelos fungos Aspergillus flavus, A. parasiticus e A. nomius, geralmente na fase pós-colheita. Há pelo menos 17 variações de afloxinas, dentre as quais destacam-se as B1, G1, B2 e G2. A intoxicação pode ser aguda ou crônica. A síndrome tó- xica aguda, denominada aflatoxicose, caracteriza-se por sintomas como perda de apetite, febre baixa, depressão, hepatite aguda, icterícia, hemorragias e necrose. Na aflatoxicose crônica, o efeito causado pela ingestão de baixas doses de aflatoxinas por um período prolongado está associado, em seres humanos, ao carcinoma hepatocelular.
  • 14. É importante considerar que os fungos que produzem micotoxinas podem crescer em várias culturas e alimentos. Em geral, os fungos não crescem em alimentos adequada- mente secos e armazenados, de modo que a secagem eficiente de produtos básicos e a manutenção da umidade e do armazenamento apropriados são medidas eficazes contra o crescimento de fungos e a produção de micotoxinas. 1. Para a saúde Evite danos aos grãos antes e durante a secagem e durante o armazenamento, pois o grão danificado é mais propenso à invasão por fungos e, portanto, à contaminação por micotoxinas. 2. Para a contaminação da farinha de trigo Estudos das condições higiênico-sanitárias em grãos de trigo armazenado e a respeito do processamento de farinhas de trigo refinada e integral mostram diferen- tes especificações para evitar fungos e micotoxinas no produto, conforme os distintos aspectos. O ponto em comum é a relevância da prevenção. Uma vez que evitar totalmente a contaminação pelos fungos é praticamente impossível, considerando que são de fácil disseminação pelo ambiente, é necessário aplicar algumas estratégias para minimizar as perdas e a contaminação por micotoxinas. Entre elas destacam-se: ۜ ۜ A utilização de cultivares mais resistentes à colonização fúngica; ۜ ۜ Colheita apropriada; ۜ ۜ Estocagem adequada ۜ ۜ Controle de insetos e roedores; ۜ ۜ Controle de temperatura e umidade; ۜ ۜ Tempo de estocagem dentro dos limites de vitalidade dos grãos. O descarte de grãos leves e chochos atacados pelos fungos também é uma medida eficiente para reduzir os níveis de micotoxinas. Além disso, como o crescimento desses microrganismos ocorre nas camadas externas do grão, processos de polimento e de moagem são estraté- gias para obter alimentos com menores níveis de conta- minantes. Vários trabalhos demonstram que o nível de contaminação por micotoxinas é maior no trigo moído, quando comparado com a farinha branca, aumentando a preocupação com a produção de alimentos integrais. Minimizando os riscos Inspecione os grãos inteiros para detectar a presença de fungos e descartar os que tenham um aspecto mofado, descolorido e chocho. 14 04. REDUÇÃO À EXPOSIÇÃO
  • 15. Amostragens O processo amostral é essencial no monitoramento de mico- toxinas. As especificações de quantidades e equipamentos utilizados variam de acordo com o tipo de lavoura, se manual ou mecânica. A qualidade dessas amostras e a segurança dos seus resultados dependem ainda de condições de armazena- gem e transporte. Em geral, a coleta de amostras deve ser feita em pontos uniformemente distribuídos e obedecendo fórmulas que definem a quantificação. Utilizando a fórmula √20*T (to- neladas), por exemplo, para um caminhão com 30 t de trigo haverá 24 quilos de amostras de 11 pontos. No caso dos cereais, o envio para análise deve seguir as seguintes etapas: 1. Colete aleatoriamente do lote várias amostras pequenas (incrementos) para que somadas formem a amostra coletiva; 2. Homogeneíze e reduza a amostra coletiva ao tamanho aproximado de 2kg; 3. Após isso, forme a amostra final ou de laboratório. Grãos com sintoma de giberela 2 kg DEVE SER O TAMANHO APROXIMADO DA AMOSTRA COLETIVA Embrapa 15 CARTILHA DO AGRICULTOR MICOTOXINAS NO TRIGO
  • 16. Trigo com sintomas de giberela 16 CONTROLE DA GIBERELA 05. A doença Causada pelo fungo Fusarium graminearum, também conhe- cido como Gibberella zeae, a giberela do trigo é uma doença de difícil controle. Altamente relacionada ao ambiente, fatores como resistência da cultivar, níveis de inóculo e práticas cul- turais, têm influência direta na epidemia, especialmente em temperaturas entre 15ºC e 30ºC e duração contínua do mo- lhamento superior a 30 horas durante as fases de floração e de enchimento de grãos do trigo. A partir daí, ocorre a colonização com senescência prematura dos tecidos da espiga (figura). Mas como o fungo pode sobreviver nas sementes e nos restos cultu- rais, as infecções também ocorrem mais tardiamente, durante a fase de enchimento dos grãos, contribuindo assim para os níveis de micotoxinas em lotes de grãos aparentemente sadios. O manejo As estratégias de manejo da giberela incluem a adoção de prá- ticas de controle genético, químico e cultural. Milhares de linha- gens de trigo têm sido avaliadas ao redor do mundo quanto à sua reação à giberela. No entanto, até o momento ainda não fo- ram obtidos materiais comerciais que conferem resistência em níveis satisfatórios à doença para dispensar o uso de fungicidas. Alguns fungicidas aplicados corretamente podem reduzir a intensidade da giberela (controle de até 60%) e o teor da con- taminação por desoxinivalenol (DON). É importante que a apli- cação de fungicidas seja definida de acordo com as condições climáticas durante a floração do trigo. A tabela ao lado reporta os fungicidas indicados pela Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale (safra 2018):
  • 17. 17 CARTILHA DO AGRICULTOR MICOTOXINAS NO TRIGO FUNGICIDAS INDICADOS PARA O CONTROLE DA GIBERELA (Fusarium graminearum) Nome Técnico Nome comercial1 Concentração g/l2 Formulação Dose3/ha Trifloxistrobina + Tebuconazol4 Nativo 100+200 SC 0,75 Epoxiconazol Opus 125 SC 1,0 Piraclostrobina + Metconazol Opera ultra 130 + 180 CE 0,5 Propiconazol Tilt 250 CE 0,75 Propiconazol Juno 250 CE 0,50 Tebuconazol Orius 250 CE 0,60 Tebuconazol Folicur 200 CE 0,75 1Produto comercial. 2Grama por litro. 3Dados de eficiência são de responsabilidade do fabricante. 4Usar coadjuvante recomendado pelo fabricante. Cuidados e monitoramento O período de predisposição da lavoura de trigo à infecção gibe- rela vai do início da floração (presença de anteras soltas e presas) até o grão leitoso (presença de anteras presas). A melhor absor- ção dos fungicidas está diretamente relacionada às caracterís- ticas dos equipamentos pulverizadores como tipo de pontas e velocidade dos jatos, de modo que direcionem a calda para as laterais das espigas. Caso as condições climáticas impeçam a realização das aplicações de fungicidas nos períodos indicados, não há possibilidade de a doença ser controlada posteriormente. Antes de iniciar qualquer cultura é importante seguir as orien- tações do engenheiro agrônomo sobre a utilização de produtos com receituários adequados.
  • 18. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Seleção de cultivares com mais resistência à giberela: escolher sementes moderadamente resistentes e moderadamente suscetíveis (MR e MS) de acordo com a descrição de seus criadores e com a condição climática predominante na região Escalonamento da semeadura: semear com espaçamento de dias para minimizar os riscos Verificar previsão de chuvas: Utilizar prognósticos divulgados por institutos oficiais para saber se não haverá chuvas em até 72 horas. A ferramenta SISALERT da Embrapa é uma grande aliada nessa fase Primeira aplicação de fungicida: com base em dados climáticos, realizar após o início da floração do trigo e antes da ocorrência de chuvas previstas no período de predisposição. Quando ocorrer a chuva, as espigas já devem estar protegidas Segunda aplicação de fungicida: em um período de no máximo 15 dias depois da primeira aplicação, estando ainda as espigas verdes sujeitas à nova infecção, realizar antes de nova previsão de chuvas NO PERÍODO PÓS-COLHEITA Segregar grãos: após a colheita, separar os lotes com maior risco de presença de micotoxina ou com maiores níveis de micotoxinas Secagem dos grãos: realizar a rápida secagem, de maneira eficiente e uniforme, não permitindo produção de micotoxina devido à umidade do produto logo após a colheita PASSO A PASSO Manejo de pragas: realizar o Manejo Integrado de Pragas (MIP), uma vez que as pragas podem proliferar os fungos de armazenamento e aumentar a contaminação por micotoxinas Eficiência na armazenagem: manter o local de estocagem limpo, com monitoramento sistemático da temperatura e umidade dos grãos e com sistema eficiente de aeração 18
  • 19. SISALERT: plataforma para simulação e alerta de riscos Os prognósticos sobre a previsão de chuvas divulgados por institu- tos oficiais como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) auxiliam a tomada de decisão dos agricultores sobre o melhor mo- mento de controle de doenças da lavoura. No caso específico da gi- berela pode-se utilizar a plataforma SISALERT (Sistema de Previsão de Risco de Epidemias de Doenças de Plantas) disponibilizada gratuitamente pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que contém um modelo matemático preditivo calcu- lado a partir da data de início do espigamento. Neste sistema, são consideradas a coleta de dados meteorológicos de 400 estações da redeINPE/INMET(InstitutoNacionaldeMeteorologia)eprocessadas as informações para simulação de riscos de epidemias de giberela. No caso do trigo, para fazer a simulação, basta acessar a página de monitoramento do portal www.sisalert.com.br. Nessa página, o produtor seleciona: ۜ ۜ Um dos oito estados monitorados (Bahia, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina); ۜ ۜ A estação mais próxima; ۜ ۜ Data do espigamento. A partir daí, obtém informações que calculam a severidade e o risco da infestação. O caminho é: www.sisalert.com.br → trigo → monitoramento → giberela → avaliação de riscos 400 ESTAÇÕES DA REDE INPE/INMET SÃO CONSIDERADAS PARA A COLETA DE DADOS METEOROLÓGICOS PARCERIA 19 CARTILHA DO AGRICULTOR MICOTOXINAS NO TRIGO
  • 20. 20 CONCLUSÕES 06. As micotoxinas exercem seus efeitos tóxicos em quantidades extremamente pequenas nos alimentos e vários governos já es- tabeleceram limites regulamentares para limitar sua presença em alimentos e rações para animais. Os riscos associados a esses contaminantes estão relacionados tanto ao perigo como à exposição. O perigo que envolve as micoto- xinas é provavelmente similar em todo o mundo, mas a exposição depende dos níveis de contaminação e da dieta de cada indivíduo. Por essa razão, as legislações são diferentes em cada país. A viabilização da produção de alimentos segura e saudável, com padrões de micotoxinas que atendam à legislação brasileira vi- gente e minimizem o risco de contaminação do trigo, depende principalmente de um programa que estabeleça o monitora- mento de níveis de contaminantes por meio de amostragens representativas e as boas práticas no manejo da giberela. É fundamental que a metodologia para quantificação da análi- se seja adequada. A segregação de lotes de trigo com base em resultados de análises deve ser feita de acordo com a qualidade apresentada, otimizando assim a utilização da estrutura física para recebimento, secagem e armazenagem. Dessa forma, as boas práticas agrícolas (BPA) aumentam as chances de uma próxima safra com alimentos ainda mais sau- dáveis para o consumo da população, além de disponibilizar à indústria, matérias-primas condizentes com os critérios de qua- lidade exigidos, ou seja, trigo que após o processamento atenda aos limites de micotoxinas previstos na legislação. Para entender e aplicar as melhores técnicas para manejo da gi- berela, o agricultor tem à disposição uma série de informações divulgadas por instituições como a Embrapa, que ensinam so- bre o manejo, como obter amostras representativas e minimizar as perdas por fungos e micotoxinas.
  • 21.