1. AFETO E ALEITAMENTO
A mãe nasce para a maternidade quando a criança nasce para o mundo. Pelo seu ventre,
ela pode acompanhar seu crescimento e desenvolvimento. Tudo é preparado com muito
carinho antes de o bebê nascer. E muitas vezes a mãe se depara com uma situação bem
diferente daquela que idealizara. Isso mostra que o preparo material tão esmerado não
proporciona o preparo psicológico e emocional tão necessário. Após o parto começam a surgir
os receios : medo de manusear a criança, quebrar seu pescoço, sua coluna, afundar a moleira
ou dar um mau jeito, medo de curar o umbigo, dar banho no bebê, fazê-lo engasgar, deixá-lo
passar fome ou sede, sentir dor. Ela deve saber que o recém - nascido é um ser humano como
qualquer um de nós, e que o excesso de zelo atingirá a toda a família. E que o bebê fala
através do choro, que tem muitos significados que serão logo mais compreendidos pôr ela
durante o convívio que irá se estabelecer. A mãe passou 9 meses esperando a hora de ver o
seu bebê e tê-lo nos braços. Agora aparece uma outra questão ligada ao tempo : a diferença
entre o agora materno e o imediatamente do bebê acaba por tornar a mãe impaciente e ela
pensa : " gostaria que ele esperasse um minuto". Com o passar do tempo o agora materno
torna-se logo e o imediatamente do bebê torna-se agora . É a hora da alimentação.
A alimentação do bebê é uma questão de saúde física e mental. É uma relação mãe /
filho; é o ato de pôr em prática a relação de amor entre dois seres humanos. É uma situação
emocional, é um vínculo afetivo que se estabelece entre a mãe e o bebê, e ele deve se
desenvolver satisfatoriamente para que o aleitamento materno decorra bem.
Ao nascerem, os bebês são lançados na imensa tarefa de se tornarem eles próprios, e a
relação com a mãe nos primeiros tempos do seu desenvolvimento emocional, à medida em
que o bebê vai conhecendo gradualmente a mãe como ser humano total, como a que provê
suas necessidades físicas de alimentação ,de segurança, calor e imunidade, são experiências
que tornam também o bebê um ser humano capaz de reter o momento de carinho e de
atenção, que mais tarde é devolvido com um sorriso. Se a mãe estabelece uma amamentação
satisfatória ao mesmo tempo em que permanece como pessoa única na vida de seu filho
durante certo período de tempo, até que os dois se sintam como seres humanos integrais,
então o desenvolvimento emocional da criança terá percorrido um longo caminho na direção
do desenvolvimento saudável que irá se constituir na base para uma existência independente
num mundo de seres humanos .
O êxito na amamentação não significa que, por esse fato, todos os problemas estejam
resolvidos; o êxito significa que teve início uma experiência de relações muito mais rica e
intensa do que ocorre com outras relações em situações diversas e, com ela, uma
oportunidade maior para que o bebê revele sintomas de que estão sendo enfrentadas as
dificuldades inerentes e realmente importantes que acompanham a própria vida e as relações
humanas.
A alimentação natural é dada exatamente quando o bebê a quer, e cessa quando ele
pára de querer. Se a relação entre a mãe e seu bebê teve início e está se desenvolvendo
naturalmente, por certo serão os dois juntos que saberão o que de melhor poderá ser feito. O
tempo de amamentar e os espaços de amamentação poderão ser deixados aos cuidados da
natureza. É durante esse novo exercício que mãe e filho irão se entender, pois se dar o seio
de 3 em 3 horas for para o bebê um intervalo demasiado extenso, provocando angústia para
ele e a mãe, o método mais rápido de recuperar a confiança na sua provedora consiste na
mãe amamentar o bebê como e quando for exigido, por um certo período, até que se chegue
a um horário regular e conveniente ,desde que o filho seja capaz de tolerar. E cada bebê tem
uma tolerância própria, que deve ser respeitada pela mãe por algum tempo. Também sobre a
quantidade de leite a ser ingerida é o bebê quem sabe a porção que precisa e o ritmo durante
o aleitamento. É tudo tão normal e deve ser tão natural que, se a relação emocional entre os
dois estiver bem, ninguém mais precisará ser ouvido dando conselhos sobre como e quando
deve acontecer esse processo. Somente naqueles momentos em que a mãe, sentindo - se
cansada, precisa de mais repouso, aí sim os cuidados especiais de algum membro disponível
da família podem ser úteis.
2. O prazer com que a mãe realiza a tarefa de amamentar logo dá a perceber ao bebê que
existe um ser humano pôr trás de tudo o que é feito. Mas o que leva finalmente o bebê a
sentir uma pessoa na mãe é, talvez, a capacidade especial da mãe para colocar - se no lugar
da criança e, assim, entender o que ela sente. Se é dor ,se é apenas mal estar, se está a
estranhar pessoas ou lugares, não há regras e nem livros que possam suprir essa intuição que
a mãe tem e que lhe permite realizar, algumas vezes ,uma adaptação quase exata a essas
necessidades . O cenário que se vê quando uma mãe amamenta é como um quadro premiado,
todos querem se aproximar para ver. A mãe deve estar confortavelmente instalada e o bebê
também. Deve haver todo o tempo que for preciso. Os braços do bebê devem estar livres para
que ele possa tocar a pele da mãe. Até, se necessário , deixá- lo nu para que todo o seu corpo
sinta o corpo da mãe.
O bebê necessita sentir - se carinhosamente envolvido, sem pressa, sem impaciência.,
logo um contato se estabelece entre o mamilo materno e a boca do bebê. A mãe integra - se
na situação, faz parte da mesma e agrada -lhe muito essa sensação que lhe dá prazer sem que
ela tenha noções preconcebidas sobre como o seu filho deve se comportar. É natural. É o
bebê mamando não de uma coisa que contém leite, mas de uma propriedade pessoal cedida
pôr momentos a uma pessoa que sabe o que tem a fazer com ela. É um prazer inigualável.
E quando o crescimento do bebê atinge uma fase em que se verifica a necessidade de
abandonar algumas coisas, e a mãe sabe que o filho alcançou um estado de desenvolvimento
em que o desmame pode ser significativo para ele, essa é uma fase de experiência muito rica
para a mãe e o bebê pois ao superarem - na estarão provando a si mesmos que conseguem
resistir pois um protege o outro. A riqueza da experiência de amamentação ao seio materno
não está limitada apenas a dar mais condições de saúde às crianças, mas propicia condições
para a experiência mais rica possível com resultados a longo prazo na profundidade e valor
crescentes do caráter e personalidade da criança.
Acreditamos que toda boa relação mãe / filho se traduz em bom desenvolvimento físico
e mental, e a continuidade disso só traz benefícios às crianças contempladas com essa
riqueza. Ficam aqui algumas perguntas e um alerta aos pais em geral. Como estamos nos
relacionando com nossos filhos hoje ? E ontem ? E amanhã ? Como deve ser um bom
relacionamento ? Será aquele em que ambas as partes se sentem bem ? Como fazer para que
isso ocorra a maior parte do tempo?
ReginaZucchi
PROAMA - 21 / 08 / 2002