Trata-se da descrição da nossa 1a experiência alimentar que se dá na amamentação, na 1a hora de vida. Ressalta sobre a importância do aleitamento materno e reforça este preído dos primeiros anos de vida, como decisivos para a instalação dos hábitos alimentares.
Aula 1 - Enf. em pacientes críticos, conhecendo a UTI e sinais vitais.pdf
A 1a. experiencia alimentar
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Aleitamento Materno
A primeira experiência alimentar
Silvia Marina Anaruma – Profa da UNESP –
Câmpus de Rio Claro – SP (aposentada)
silviarcsp@gmail.com
Novembro de 2020
Introdução
A primeira experiência alimentar se dá
com o aleitamento materno. Isto porque o leite
materno é o alimento mais completo para o bebê
até os dois anos ou mais. O leite materno é
completo, natural, sustentável, pois não polui o
ambiente. Está na temperatura certa, na
quantidade certa, é limpo, quanto mais se mama,
mais se produz e não tem custo. Seus benefícios
podem ser percebidos a curto, médio e longo
prazo.
Em curto prazo a amamentação ajuda no
desenvolvimento dos músculos da face, da
respiração, atua no desenvolvimento da fala e da
arcada dentária. Em longo prazo o leite materno
aumenta a inteligência na infância e previne a
obesidade (em todas as fases) e o diabetes tipo 2.
Crianças que não amamentam tem 2 vezes mais
chance de se tornarem obesas na vida adulta. Do
ponto de vista psicológico o bebê vai estar na
fase oral de desenvolvimento em que tem o
prazer localizado na boca.
O aleitamento materno não só trás
benefícios para o bebê, como para a mãe: previne
o câncer de ovário, de útero e de mama; previne
a osteoporose e as doenças cardiovasculares;
evita a hemorragia pós-parto por causa da
liberação da ocitocina, o hormônio do amor,
(responsável pela ejeção do leite) que também
ajuda na contração do útero e expulsão da
placenta. A liberação de outro hormônio, a
prolactina, responsável pela produção do leite,
também via relaxar a mãe. A amamentação
fortalece o vínculo entre mãe e bebê.
Mesmo durante a Pandemia do COVID-19
não se encontrou evidências de que há
transmissão vertical do vírus da mãe para o bebê,
ou seja, não foi encontrado o vírus no leite
materno. Sendo assim, mesmo que a mãe esteja
infectada ela pode continuar amamentando com
todos os cuidados necessários. Mas a
possibilidade de contaminação horizontal existe,
o que nos chama a atenção para a necessidade de
se adotar todos os cuidados preconizados pela
OMS: a higiene das mãos , evitar aglomeração e
uso de máscara, dentre outros.
Por tudo isso, a amamentação é
considerada o padrão ouro em alimentação, daí a
Campanha do Laço dourado que acontece em
agosto no nosso país. Ela previne infecções e
alergias, reduz a mortalidade infantil. O leite
materno tem mais de 250 componentes
benéficos para a saúde.
Como é a Realidade Brasileira em termos
de prevalência da amamentação?
Na última pesquisa publicada em 2020
correspondente ao ENANI (Estudo Nacional sobre
Alimentação e Nutrição Infantil) vimos que 60%
dos bebês foram amamentados até os 4 meses,
45,7 % até os 6 meses de forma exclusiva, 53,1%
até 1 ano e 60% até os 2 anos. O ideal seria que
todos os bebês amamentassem no tempo
necessário, mas não é a nossa realidade, embora
os índices tenham melhorado muito se olharmos
para trás. A pesquisa aponta que com 4 meses, 4
em cada 10 bebês já começam o processo de
desmame precoce - exatamente na fase mais
importante da amamentação exclusiva - e os
índices continuam diminuindo até os dois anos.
Muitas são as causas do desmame, mas
podemos citar as mais comuns: a introdução de
bicos e mamadeiras, que leva a confusão de bicos
e a introdução do leite artificial já precocemente.
Elas são decorrentes da dificuldade da mãe em
continuar amamentando porque tem que voltar a
trabalhar; da situação econômica, da falta de
apoio, da falta de informação, por experiência
anterior negativa, por causa dos mitos e
crendices ( o leite é fraco).
Como se dá a primeira experiência
alimentar e o que aprendemos
A primeira experiência alimentar deve
começar logo após o nascimento quando o bebê
sai da barriga da mãe e é colocado para
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amamentar. Este é um comportamento próprio
dos mamíferos. Se constatou que este
procedimento é uma forma de favorecer a
amamentação e manter o bebê aquecido. Será
neste momento também que o bebê terá seu
primeiro contato com a mãe. Este contato pele a
pele é de suma importância para o bebê se sentir
acolhida e protegida.
Mas será que o bebê sabe amamentar? O
bebê tem seu aparato biológico que lhe permite
amamentar, o reflexo de sucção. Mas este reflexo
não é suficiente para que ele amamente, ele
precisa também aprender a amamentar. Para
isso, ele deve estar bem posicionado, ter uma
boa pega, estar confortavelmente vestido e estar
sem sono. Este aprendizado será feito com a
ajuda da mãe, por isso, é um processo recíproco.
Nos primeiros dias, o bebê vai receber o
colostro que é como uma vacina natural, por
conter grande quantidade de anticorpos e
glóbulos brancos; ele é nutritivo e possui gordura
para engordar o bebê. Entre 5 e 15 dias mais ou
menos, começa a ser produzido o leite de
transição e com 1 mês o leite maduro. A
composição do leite é tão perfeita que em cada
fase do bebê ela muda, para se adequar as suas
condições de crescimento.
A partir daí, o bebê deve receber o leite
materno durante 6 meses, de forma exclusiva, ou
seja, sem nenhum outro alimento sólido ou
líquido. Isto porque o leite materno protege as
mucosas do seu trato digestivo como uma
película contra qualquer elemento estranho ao
seu organismo. Outros líquidos podem remover
esta proteção, trazendo infecções. Neste período,
é comum a família pensar que o bebê está com
sede e precisa de água, mas isto não ocorre, pois
o leite materno tem 88,2 % de água na sua
composição.
Nestes primeiros contatos o bebê vai
experimentar a deglutição junto com a
respiração, a sucção, a salivação e todas as
funções digestivas. O bebê tem que aprender a
segurar o bico do peito, ao mesmo tempo em que
respira e engole. Também vai aprender a
distinguir os sabores, pois o leite materno
modifica seu sabor de acordo com a alimentação
da mãe e esta experiência é que vai ajudar na
aceitação dos outros alimentos posteriormente.
Ele também vai aprender a
autorregulação, ou seja, através da livre demanda
o bebê vai distinguir as sensações de fome e de
saciedade. Esta capacidade é fundamental para
aprendermos a comer quando estamos com fome
e não com apetite.
É importante também destacar que
quando o bebê está amamentando, ele está
exercitando os 5 sentidos: o tato, porque ele toca
a mãe; o olfato porque ele sente o cheiro da mãe
e do leite; a visão porque ele está olhando a mãe
e este olhar é que estimula a descida do leite e o
desenvolvimento da acuidade visual; a audição,
porque ele ouve sua mãe conversar e todos os
sons da amamentação e, finalmente, o paladar.
Desta forma, a interação com a mãe na hora da
mamada é fundamental.
O bebê não mama só para se alimentar.
Ele também mama para se sentir protegido, para
sentir o calor do corpo da mãe, para desenvolver
o afeto. Daí porque este é um contato
extremamente intenso. É também sua primeira
experiência de amor. Nós iremos repetir esta
sensação ao longo da vida, quando comemos a
comida da mãe ou de outra pessoa querida.
Sendo assim, é neste momento que aprendemos
a associar comida e afeto. Quando bebês,
chorarmos e a mãe nos dá o peito e nós
aprendemos que a alimentação tem o poder de
diminuir a tristeza, a ansiedade ou a depressão,
mas também recorremos à comida quando
estamos alegres.
A amamentação, além de funcionar como
uma vacina funciona também como remédio.
Quando o bebê não está muito bem, oferecemos
o peito e isto acalma o bebê, além dele usufruir
de suas propriedades benéficas para a saúde.
Alimentação complementar dos 6 meses
aos 2 anos
Depois dos 6 meses, ocorre a introdução
gradual de outros alimentos e, como o próprio
nome já diz, é uma alimentação que não substitui
o leite materno, mas complementa, pois seus
fatores de proteção ainda são necessários. E é
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neste momento que se dá o início do desmame
natural.
Aqui é a hora de o bebê experimentar
outros alimentos, sólidos e líquidos e a melhor
fase para se instalar os hábitos alimentares.
Devem ser oferecidos os principais alimentos:
carnes, grãos, verduras, legumes, ovos, leite e
frutas, respeitando a regionalidade.
As nutricionistas recomendam que, em
média o bebê faça 3 refeições diárias
intercalando com o leite materno ou 5 refeições
sem o leite materno. Nas refeições, é bom
lembrar que não se deve punir e nem premiar a
criança por não comer, mas incentivar. Um prato
colorido, além de ser saudável, também estimula
a criança a comer, por isso que ouvimos
popularmente que nós comemos primeiros com
os olhos – a aparência da alimentação faz toda
diferença. Alimentos frescos, maduros, em bom
estado de conservação e higiene são
fundamentais. Nunca esquecer que as refeições
devem ser momentos de calma e tranquilidade.
Recomenda-se que seja usado o sal com
moderação e não oferecer para o bebê: açúcar,
café, iogurte industrializado, nada com
conservante ou aditivo, como “miojo”, sorvete,
biscoito recheado, enlatado, refrigerante,
queijinho processado.
De preferência deve-se usar um copinho
para oferecer água e outros líquidos, ao invés de
mamadeira, para que não haja a confusão de
bicos.
Há uma recomendação da OMS de que a
amamentação deve continuar até os dois anos ou
mais, pois as propriedades do leite materno não
cessam. Na verdade, não há um limite preciso. A
ruptura da amamentação deve ocorrer em
comum acordo entre mãe e bebê e deve ser
gradual.
Considerações Finais
O bebê deve ser amamentado porque é
seu direito, só que ele não tem opção de
escolher, quem tem esta opção é a mãe e ela
estará fazendo a escolha certa se amamentar. A
sociedade deve apoiar o aleitamento materno,
pela sua importância e por ser o melhor alimento
para a criança até os dois anos ou mais.
É neste momento do desenvolvimento
que se inicia a alfabetização alimentar. Os hábitos
alimentares são instalados neste período e
dificilmente serão mudados depois. Então,
comece ensinando os hábitos saudáveis. Além
disso, quanto mais a criança cresce, mais vai
ficando seletiva. Se o início foi correto, a
tendência de sucesso na alimentação no futuro é
maior. A alimentação neste período da criança é
a base para seu desenvolvimento físico e
cognitivo. Portanto, atenção redobrada nesta
fase e exemplo.
Parece uma contradição viver em um
mundo em que falta alimentação para todos e se
desperdiça um alimento tão natural, sem custo e
tão nutritivo. Por isso, sejam promotores da
amamentação, apoiando e incentivando o
aleitamento materno.