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Relato de ideias a partir do texto “Um Artista da Fome”, de Frank Kafka
Alexandra de Castilhos Moojen
Era impossível lutar contra essa incompreensão, contra esse mundo de insensatez.
F. Kafka
A leitura do texto Um Artista da Fome de Frank Kafka apresenta a
contradição do ser humano e dos valores adotados por uma sociedade.
Através de uma narrativa aparentemente comum, o texto de Kafka se utiliza de
personagens comuns como o empresário e o artista e através do desenrolar de
uma relação quase absurda a narrativa leva o leitor(a) questionar quais as
relações e práticas na sua própria vida são absurdas mas, pela repetição delas
já estão naturalizada. E que por estarem naturalizadas são consideradas
normais, comum e mesmo aceitáveis perante os(as) demais membros da
comunidade ao qual cada sujeito esta inserido.
Os tempos eram outros. Antigamente toda a cidade se ocupava com
os artistas da fome; a participação aumentava a cada dia de jejum;
todo mundo queria ver o jejuador no mínimo uma vez por dia; nos
últimos, havia espectadores que ficavam sentados dias inteiros diante
da pequena jaula; também à noite se faziam visitas cujo efeito era
intensificado pela luz de tochas; nos dias de bom tempo a jaula era
levada ao ar livre e o artista mostrado especialmente às crianças.
Embora para os adultos ele não passasse de um divertimento, no
qual tomavam parte por causa da moda, as crianças olhavam com
assombro, de boca aberta (p.01)
A narrativa permite a reflexão sobre as práticas adotas por cada sujeito
para alcançar os objetivos desejados, bem como os acordos que
estabelecemos com nossos pares. Muitas vezes nos sentimos como vítimas da
nossa própria realidade, impotentes perante as situações que permeiam
nossas vidas. Nos enganamos de que a culpa pela situação vivida é do Outro,
não reconhecemos que somos protagonistas de nossas próprias histórias e
que nossas escolhas muitas vezes são cruéis.
Embora sempre tivesse ouvido de boa fé o empresário, quando as
fotografias apareciam ele largava das grades da jaula, às quais
estivera ansiosamente grudado, e afundava outra vez na palha,
soluçando; e então o público, acalmado, podia aproximar-se e
examiná-lo. Quando as testemunhas se recordavam dessas cenas,
alguns anos mais tarde, muitas vezes não compreendiam a si
mesmas. (p.7)
Através da metáfora do artista da fome, nós artista refletimos sobre a
nossa própria existência e prática. Porque fazemos arte? O que nos motiva em
cada criação? Porque criamos e continuamos a criar? Estamos satisfeitos ou
realizamos nossa arte para a satisfação do outro? Para que serve o público?
Quem é o público?
Seja como for o mimado artista da fome se viu um dia abandonado
pela multidão ávida de diversão que preferia afluir a outros
espetáculos. (...)O que o artista da fome podia então fazer? Quem
tinha sido amado por milhares de pessoas não podia exibir-se em
barracas nas pequenas feiras, e para adotar outra profissão o artista
estava não só muito velho, mas sobretudo entregue com demasiado
fanatismo ao jejum. Sendo assim, demitiu o empresário, companheiro
de uma carreira incomparável, e se empregou num grande circo; para
poupar a própria suscetibilidade nem olhou as condições do contrato.
(p.7)
Em quais momentos o jejum é falta de algo, um vazio, uma ausência,
uma lacuna, um silêncio, um lugar sem nome? Quantas vezes buscamos e não
encontramos?
Quantas vezes o próprio fazer artístico é a única forma de manifestar,
de materializar o que sentimos, ou o que temos necessidade expor, de colocar
para fora como um... vômito?
- Porque eu preciso jejuar, não posso evitá-lo - disse o artista da
fome.
- Bem se vê - disse o inspetor. - E por que não pode evitá-lo?
- Porque eu - disse o jejuador, levantando um pouco a cabecinha e
falando dentro da orelha do inspetor com os lábios em ponta, como
se fosse um beijo, para que nada se perdesse. - Porque eu não pude
encontrar o alimento que me agrada. Se eu o tivesse encontrado,
pode acreditar, não teria feito nenhum alarde e me empanturrado
como você e todo mundo. (p. 11)
O texto Um artista da Fome, me traz a imagem das repetições e da
naturalização dos absurdos que praticamos, vemos, ouvimos e sentimos
diariamente. Seja a fome e a miséria que encontramos ao andar na rua, a
insegurança e o medo da violência, o preço da comida, do transporte, da
liberdade. A mercantilização do corpo e da vida dos animais e dos seres
humanos. Tudo isso vivido rotineiramente, de forma comum.
A proposta de ação se dará pela repetição de partituras de movimento
que cada sujeito considera próprio. Em diferentes momentos despertadores
tocarão, abrindo espaço para atenção ao próprio corpo e aos próprios
movimentos. Espaço esse que deverá ser aproveitado para motivar o corpo em
todas as suas dimensões a continuar, continuar e continuar.
E assim, vamos tecendo nossos dias, com linhas de morte e
desatenção ao absurdo naturalizando o que é horrível, docilizando o corpo.
Amarrando e enforcando ideias.
Materiais: Som, linha.
Elenco: Artistas do Pibid – Unidade Montenegro.

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Relato de ideias a partir do texto um artista da fome de frank kafka

  • 1. Relato de ideias a partir do texto “Um Artista da Fome”, de Frank Kafka Alexandra de Castilhos Moojen Era impossível lutar contra essa incompreensão, contra esse mundo de insensatez. F. Kafka A leitura do texto Um Artista da Fome de Frank Kafka apresenta a contradição do ser humano e dos valores adotados por uma sociedade. Através de uma narrativa aparentemente comum, o texto de Kafka se utiliza de personagens comuns como o empresário e o artista e através do desenrolar de uma relação quase absurda a narrativa leva o leitor(a) questionar quais as relações e práticas na sua própria vida são absurdas mas, pela repetição delas já estão naturalizada. E que por estarem naturalizadas são consideradas normais, comum e mesmo aceitáveis perante os(as) demais membros da comunidade ao qual cada sujeito esta inserido. Os tempos eram outros. Antigamente toda a cidade se ocupava com os artistas da fome; a participação aumentava a cada dia de jejum; todo mundo queria ver o jejuador no mínimo uma vez por dia; nos últimos, havia espectadores que ficavam sentados dias inteiros diante da pequena jaula; também à noite se faziam visitas cujo efeito era intensificado pela luz de tochas; nos dias de bom tempo a jaula era levada ao ar livre e o artista mostrado especialmente às crianças. Embora para os adultos ele não passasse de um divertimento, no qual tomavam parte por causa da moda, as crianças olhavam com assombro, de boca aberta (p.01) A narrativa permite a reflexão sobre as práticas adotas por cada sujeito para alcançar os objetivos desejados, bem como os acordos que estabelecemos com nossos pares. Muitas vezes nos sentimos como vítimas da nossa própria realidade, impotentes perante as situações que permeiam nossas vidas. Nos enganamos de que a culpa pela situação vivida é do Outro, não reconhecemos que somos protagonistas de nossas próprias histórias e que nossas escolhas muitas vezes são cruéis. Embora sempre tivesse ouvido de boa fé o empresário, quando as fotografias apareciam ele largava das grades da jaula, às quais estivera ansiosamente grudado, e afundava outra vez na palha, soluçando; e então o público, acalmado, podia aproximar-se e examiná-lo. Quando as testemunhas se recordavam dessas cenas,
  • 2. alguns anos mais tarde, muitas vezes não compreendiam a si mesmas. (p.7) Através da metáfora do artista da fome, nós artista refletimos sobre a nossa própria existência e prática. Porque fazemos arte? O que nos motiva em cada criação? Porque criamos e continuamos a criar? Estamos satisfeitos ou realizamos nossa arte para a satisfação do outro? Para que serve o público? Quem é o público? Seja como for o mimado artista da fome se viu um dia abandonado pela multidão ávida de diversão que preferia afluir a outros espetáculos. (...)O que o artista da fome podia então fazer? Quem tinha sido amado por milhares de pessoas não podia exibir-se em barracas nas pequenas feiras, e para adotar outra profissão o artista estava não só muito velho, mas sobretudo entregue com demasiado fanatismo ao jejum. Sendo assim, demitiu o empresário, companheiro de uma carreira incomparável, e se empregou num grande circo; para poupar a própria suscetibilidade nem olhou as condições do contrato. (p.7) Em quais momentos o jejum é falta de algo, um vazio, uma ausência, uma lacuna, um silêncio, um lugar sem nome? Quantas vezes buscamos e não encontramos? Quantas vezes o próprio fazer artístico é a única forma de manifestar, de materializar o que sentimos, ou o que temos necessidade expor, de colocar para fora como um... vômito? - Porque eu preciso jejuar, não posso evitá-lo - disse o artista da fome. - Bem se vê - disse o inspetor. - E por que não pode evitá-lo? - Porque eu - disse o jejuador, levantando um pouco a cabecinha e falando dentro da orelha do inspetor com os lábios em ponta, como se fosse um beijo, para que nada se perdesse. - Porque eu não pude encontrar o alimento que me agrada. Se eu o tivesse encontrado, pode acreditar, não teria feito nenhum alarde e me empanturrado como você e todo mundo. (p. 11) O texto Um artista da Fome, me traz a imagem das repetições e da naturalização dos absurdos que praticamos, vemos, ouvimos e sentimos diariamente. Seja a fome e a miséria que encontramos ao andar na rua, a insegurança e o medo da violência, o preço da comida, do transporte, da liberdade. A mercantilização do corpo e da vida dos animais e dos seres humanos. Tudo isso vivido rotineiramente, de forma comum.
  • 3. A proposta de ação se dará pela repetição de partituras de movimento que cada sujeito considera próprio. Em diferentes momentos despertadores tocarão, abrindo espaço para atenção ao próprio corpo e aos próprios movimentos. Espaço esse que deverá ser aproveitado para motivar o corpo em todas as suas dimensões a continuar, continuar e continuar. E assim, vamos tecendo nossos dias, com linhas de morte e desatenção ao absurdo naturalizando o que é horrível, docilizando o corpo. Amarrando e enforcando ideias. Materiais: Som, linha. Elenco: Artistas do Pibid – Unidade Montenegro.