1. Senhoras e senhores, autoridades, meus amigos,
A palavra estética vem do grego “aesthesis” e significa "faculdade de sentir",
"compreensãopelossentidos" oupercepção.
A obra de arte é individual, concreta e sensível, é perceptívelaosnossossentidos. É
tambémumainterpretaçãosimbólica do mundo, umaatribuição de sentidoao real e uma forma
de organizaçãoquetransforma a experiêncianumacompreensãopelossentidos.
Acredito que a percepção do Belo e do Feio não exista intrinsecamente no objeto mas no
observador. Essa é uma teoria defendida por David Hume, no Século XVII, ou seja, gosto não se
discute. Outros filósofos debruçaram-se sobre o mesmo tema, como Kant e Hegel, porém
desde que a arte desvinculou-se e rompeu com a ideia de ser “cópia do real” houve uma
magnífica abertura para o desenvolvimento e progresso das artes.
O entendimento do que é Belo ou Feio depende de variáveis tão vastas em tempo e
lugar, que uma visão estreita, miópica, poderia enxergar somente o que a circunda na própria
cicatriz umbilical.
O crítico de artes deve ser mais intransigente, mas abrangente e ensinar ou pelo
menosdirecionaro caminho pelo qual a história e experiências anteriores, puderamidentificar e
certificar além “do Belo e do Feio”, o que é bom e o que é ruim.
A literatura não é diferente. Acredito que ela contenha na sua história o canto da
verdade, originalidade e ainda mais a faculdade de traduzir aquilo que foi o desenvolvimento
humano desde priscas eras.
Na relação estética da arte, mais intensamente na literatura, faz-se mais importante
conhecer do que preferir. Aprimorar o gosto. Aprofundar nas páginas e páginas, contos e
contos, versos e trovas.
Nas questões de gostos e preferências as artes plásticas permitem perceber ou sentir
sem antecedentes culturais ou de conhecimento, que é o prazer pelo prazer.
Como experiência pessoal, lembro do momento de estupefação, falta de ar e extrema
emoção quando me deparei com a escultura de Gustav Vigeland, em Oslo na Noruega. No final
do parque Vigeland, encontra-se um monolito de 14 metros de altura com 121 figuras humanas
amontoadas, retratando a ressurreição do homem ou a briga pela sobrevivência, a
transcendência ou a repetição cíclica da vida. Maravilhoso.
Em outra oportunidade no Museo Rainha Sofia em Madrid, com a mesma intensidade,
fiquei sem ar e perdi o chão quandosemaviso nenhum, vio painel “Guernica”, de Pablo Picasso.
Com seus mais de 3 metros de largura, senti em mim naquele momento a injustiça da guerra e
o sofrimento humano.
É a arte em si e por si, que nos move.
2. Assim, intensamente belo, é um soneto de Emiliano Perneta , do prólogo de seu livro de
1911, chamado “Ilusão”, que escolhi para ler nesse momento:
“Estrelasqueluzisnaabóbadainfinita,
Inquietamente, assim, como um olharquefascina,
Vendo-vospalpitar, meucoraçãopalpita,
Mordido de paixãoporessaluzdivina...
Largos céusideais, regiãodiamantina,
Miríficoesplendor, ó perolaesquisita,
Quanta cobiçavã, quenunca se imagina,
Quanto furor enfim o ânimo me excita!
É o impossível, pois, queeuamounicamente,
Anévoaquefugiu, a forma evanescente,
A sombraque se foitalqualumavisão...
Eporissotambém, porisso é queeusuponho
Que a vida, emsuma, é um grande e extravaganteSonho,
E a Belezanão é maisdoqueumaIlusão!”
Queridos amigos, a semântica do discurso é minimamenteinvasiva, assimcomo a
medicinaatual, nãochegaaoâmago do que é viver esofrer, viver esonhar, viver e morrer. É um
palimpsesto, um quadroreutilizavel, no qual se apagam as sensações e experiências e renovam-
se de tempos em tempos.Essa é a arte moderna e também a poesia. Somosúnicos e
somostodos, um.
“Porquenãoesperoretornar
Porquenãoespero
Porquenãoesperoretornar
Aesteinvejando-lhe o dom e àquele o seuprojeto
Nãomais me empenho no empenho de taiscoisas
(Porqueabriria a velhaáguiasuaasas?)
Porquelamentariaeu, afinal,
O esvaidopoder do reino trivial?”
3. Lendoessetrecho de um poema, dentro da minhaprópriainsipiência,
talvezequivocadamentesupusesseser“Drummond”.Masé de fato Thomas Stearns Eliot. Original
e de grandeinfluênciaemváriasgerações de poetas.
AffonsoSant’Annaescreveunaapresentação do livro “Poesia” de T.S.Elliot,
puplicadopelaEditora Nova Fronteira: “CamõescitavaVirgílioquecitavaHomero”.Mesmoele,
Eliot, “poetaparapoetas” utilizou o estofopoético de escolparafundamentarseutrabalho e
aindacomimportantesinfluências, comoporexemplodo seu amigo, poeta e critico Ezra Pound
(cujolivrohá tempos habitameucriado-mudo, edo qualaindatenhoesperançasde
receberalgumainfluência!!).
Mas:
“No fundo, no fundo,
Bemlá no fundo,
A gentegostaria
De vernossosproblemas
Resolvidospordecreto.
A partirdesta data,
Aquelamágoasemremédio
É consideradanula
E sobreela – silêncioperpétuo”
EsseparanaensePaulo Leminski! Foigrande e polêmico.
Queridos amigos, apósesseprelúdio,
enalteçoduasfigurasilustresquedevemserlouvadasnestemomento e
semosquaiseunãoestariarecebendo o cargo de Presidente,quetanto me honra e dignifica,
sãoeles: EuricoBrancoRibeiro, médicoparanaense de Guarapuava, de 29 de março de 1092,
radicadoem São Paulo,idealizadore fundadorde nossasociedade e um dos seuspilares,
atuandocomoseudefensorferrenhodesde o início. EGláucioBandeira,
tambémmédicorenomadoe escritorparanaense, nossoprimeiropresidente. Eletambémpresidiuo
Centro de Letrasdo Paraná emduasGestõesem 1948 e 1956.
A história da SociedadeBrasileira de MédicosEscritorsteveinícioem 23 de abril de
1965.Somos, portanto, umaegrégora de quase48 anos.
4. Atualmentecentenas de médicosbrasileirosdedicam-se à literatura, pertencem e
estãoconectadosaessaentidadeassociativa, sem fins lucrativos.
São 23 regionaisestaduais e uma no Distrito Federal.Foramrealizadosdezenas de
congressos e jornadas.Em Curitiba,tivemos o prazer de recebersobramistas de todos o
paísemtrêsoportunidades, CongressosNacionaisem 1984 e 2012 e Jornadaem 1992.
Inesquecíveis.
Helena Kolodyfoiumapoetisaparanaense. No últimoanocomemoramos o centenário de
seunascimento. Houvehomenagensjustas e sincerasde todotipoemtodoo Estado do Paraná.
Recorro a um dos seuspoemasparahomenagearossobramistasparanaensesfalecidos
nesses últimostrêsanos, ApolônioZardo, Ary de Christan, Domingos de Carvalho, MárioPilotto,
MoisésPaciornik, Ruy Noronha de Miranda, Sebastião Vicente de Castro e recentemente o
querido amigo parauaraSérgioPandolfo, queparticipouativamente do Congressoem Curitiba e
das recentesatividades da Academia Brasileira de MédicosEscritores.
“A morteespreita, emsilêncio,
o vivo jogo dos homens,
notabuleiro do tempo.
Estende, àsvezes, de repente,
A longa mãofeita de sombra
E tira um peão do tabuleiro.”
Mas as batalhasnãocessam:
“Quandonissoiam, descobriramtrintaouquarentamoinhos de vento, quehánaquele campo.
Assimque D. Quixote osviu, dissepara o escudeiro:
- A aventuravaiencaminhandoosnossosnegóciosmelhor do queo soubemosdesejar; porque,
vêali, amigo Sancho Pança, onde se descobremtrintaoumaisdesaforadosgigantes, com
quempensofazerbatalha e tirar-lhes a todos as vidas..”
“Cavaleiro de TristeFigura”, “Exército de um CavaleiroSó”vaicomseuRocinantee seufiel
amigo e escudeiro Sancho Pança. É a guerrapelossonhos e pelosideaisquevivemos e
lutamos.Nosidentificamos à sua saga, emproteger e salvarDulcinéia, sejaelaqual for,
umdesideratoouumaaspiração.
A Sobrames, Senhoras e Senhores, é um sonho de muitos.Um ideal. Umcaminho a
5. serpercorrido, comoimaginado e sonhadoporEuricoBrancoRibeiro, GláucioBandeira e outros
hipocráticosescritores, que se tornaramarautos da cultura no seumeio e aguerridosdefensores
da literatura.
Agradeço o apoio fundamental para o sucesso do XXIV Congresso da Sobramesaquiem
Curitiba, no ultimo mês de Outubro, da AssociaçãoMédica do Paraná através do seupresidente
o sobramistaJoão Carlos Baracho e da Academia Paranaense de Medicinaatravés do
seupresidente o sobramistaHélioGerminiani.
Agradeço a confiançadepositadanavotaçãomaciça, unânime, nesta nova Diretoria,
AlípioBordalo de Belém do Pará, Luiz Gonzaga Barreto de Recife, Hélio Moreira de Goiania,
Marco AurélioBaggio de Belo Horizonte e Sonia Maria Braga, MárcioFabianoBastos, Paulo
MaurícioPiá de Andrade, Roberto Carneiro,todosde Curitiba. São amigos, companheiros, agora
comdenominaçãoestaturária de vice-presidentes, secretários e tesoureiros.
SomenteNominaburocrática. O que vale é o esforço, entusiasmo, alegria e
determinaçãonaatitude e responsabilidadecom as quaisagora abraçamos.
Agradeçoosmembros da DiretoriaGestão 2011-2012 quevieramparaessasolenidade, Marco
AurélioBaggio, JosemarAlvarenga e José Carlos Serufo, mineiros de bomestofo e de
altadensidadeliterária, queengrandecem a Sobrames.
Agradeço a presença da presidente da Academia Brasileira de MédicosEscritores,
tambémsobramista, JuçaraViegasValverde.
6. Olho pelas minhas janelas abertas,
Apreciando outras no Brasil inteiro.
E assim, me vejam descobertas
Virtudes algumas que me façam faceiro.
Vejo muitos caminhos tortos
Traçados sem muito conceito.
Percorrem-se quaisquer portos
Com muito fogo no peito.
Enxergo tudo muito de perto
Mapas, detalhes e trajetos
Numa viagem de rumocerto.
Imagino um destino perfeito.
Mas rotas com caminhos corretos
Não se conhecem de nenhum jeito.
Creio que esse meu poema traduz o começo de uma gestão de âmbito nacional.
Destino perfeito, mas rotas e caminhos corretos são desconhecidos.
Há que se trilhar, com coragem e determinação.
A cada um de vocês, agradeçoa presença.Engalanaramesseinefávelmomento.
Muito obrigado!