1. Uma Platéia da Fome
Patrick Aoani Moraes
Ao fazer a leitura do “Artista da Fome” do Kafka, me deparei com uma
história completamente voltada a um grande amor. Um amor que fala de dor,
de alegria, de entrega e de alma. Um artista que não faz a arte, mas que se faz
ser arte. Ele se coloca como a obra de arte nas vinte e quatro horas do dia.
Talvez tenha sido o primeiro artista a fazer uma performance. Talvez tenha sido
ele o precursor do movimento Dadaísta ao se colocar como a obra de arte.
Talvez tenha sido um sonhador que almejava uma arte que era impossível,
incompreendida. Ou talvez tenha sido apenas um artista que como tantos
morreram da própria arte.
Essa história me fez (faz), viajar há lugares que desconheço lugares
dentro de mim, lugares que me deixam sem chão, pois talvez dentro de mim
exista um artista da fome. Falo isso, pois me coloco no lugar desse artista que
só queria o reconhecimento do publico. Será? Será essa nossa missão, ficar
condenados a viver dependentes do publico? Será que era esse o alimento que
o artista da fome falava, o publico? são perguntas que não poderão se
respondidas e o que nos resta e tratar de interpretá-las da forma que nos
melhor convém.
A partir do dialogo entre o supervisor e o artista da fome que no decorrer
diz: “Mas vocês não deveriam admirá-lo”, disse o artista da fome. “Tudo bem,
então nós não o admiramos”, disse o supervisor, “mas porque não devemos
admirá-lo?” “porque o jejum é uma necessidade, e eu não tenho como evitar”,
disse o artista da fome. “isso se vê logo”, disse o supervisor, “mas porque você
não tem como evitar?” (p.41). Então o artista da fome coloca em cheque toda e
qualquer interpretação concreta com a sua resposta. Ele nos surpreende ao
2. responder que nunca encontrou uma comida que o agradasse. E que se ele
tivesse encontrado teria comido até se empanturrar. E essas foram as suas
ultimas palavras.
E então voltando as minhas indagações qual seria essa tal comida de
que o artista da fome nunca encontrou? Seria um publico que pouco tenha
reconhecido sua arte de jejuar? Então com todas essas perguntas onde as
respostas são minhas interpretações, proponho uma performance onde
jejuaríamos de arte. Jejuaríamos de artista, faremos uma performance sem o
artista. Será que mataríamos o publico de fome?
O Artista entraria pelo palco e se sentaria na platéia, no meio ou mais ao
canto em fim, se colocaria no lugar de platéia. E ali ficaria sentado olhando
para o palco com a platéia. E no palco o que aconteceria? Nada. Neste caso
teríamos uma inversão dos papéis. O artista da fome era a arte mas não tinha
publico acabou no esquecimento. Mas como seria uma platéia sem a arte?
Quanto tempo a platéia permaneceria sentada a espera da arte? Agüentaria
anos como o artista da fome esperou pelo reconhecimento do publico? São
perguntas que também não posso ter a resposta nesse momento, mas que
proporciona uma reflexão sobre quão ingrata pode ser a vida de um artista que
não da fome, mas um artista da vida.
Um artista da fome seguido de Na colônia penal & outras historias. Franks
Kafka; tradução de Guilherme da Silva Braga. Porto Alegre, RS. L&PM, 2012.