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SEGUNDA GERAÇÃO
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SEGUNDA GERAÇÃO
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SEGUNDA GERAÇÃO
                     a poesia de Casimiro de Abreu
 MEUS OITO ANOS [fragmento]
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                                               ASPECTOS FORMAIS
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SEGUNDA GERAÇÃO
                          a poesia de Bernardo Guimarães
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Pendurado num pau pelo rabo,               Por três vezes zumbiu a mutuca,
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SEGUNDA GERAÇÃO
                          a poesia de Bernardo Guimarães
                             A ORGIA DOS DUENDES[fragmento]
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SEGUNDO GERAÇÃO DO ROMANTISMO
            “mal do século”, medo de amar, infância, melancolia

                                    AUTORES E OBRAS
           Álvares de Azevedo                                   Bernardo Guimarães
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Segunda geração da poesia romântica

  • 1. história da literatura Segunda geração da poesia romântica Manoel Neves
  • 2. SEGUNDA GERAÇÃO a poesia de Álvares de Azevedo SONETO ASPECTOS FORMAIS Já da morte o palor me cobre o rosto, forma clássica: soneto decassílabo Nos lábios meus o alento desfalece, Surda agonia o coração fenece, profusão de exclamações e reticências E devora meu ser mortal desgosto! ASPECTOS TEMÁTICOS Do leito embalde no macio encosto derrotismo Tento o sono reter!... Já esmorece O corpo exausto que o repouso esquece [a tristeza/mágoa leva o locutor à prostração] Eis o estado em que a mágoa me tem posto! melancolia O adeus, o teu adeus, minha saudade, Fazem que insano do viver me prive [a tristeza profunda leva à obsessão pela morte] E tenha os olhos meus na escuridade idealização Dá-me a esperança com que o seu mantive! [o locutor deseja apenas o olhar da amada] Volve ao amante os olhos por piedade, Olhos por quem viveu quem já não vive! sofrimento amoroso
  • 3. SEGUNDA GERAÇÃO a poesia de Álvares de Azevedo SONETO ASPECTOS FORMAIS Pálida, à luz da lâmpada sombria, forma clássica: soneto decassílabo Sobre o leito de flores reclinada, Como a lua por noite embalsamada, exclamações, reticências, metáforas, antítese Entre as nuvens do amor ela dormia! ASPECTOS TEMÁTICOS Era a virgem do mar! Na escuma fria idealização Pela maré das águas embalada! Era um anjo entre nuvens d’alvorada [mulher morta, dormindo, virgem, anjo, criança] Que em sonhos se banhava e se esquecia! medo de amar Era mais bela! O seio palpitando... Negros olhos as pálpebras abrindo... [receio de se envolver afetivamente e sofrer] Formas nuas no leito resvalando... vocabulário ligado à cor branca [metáfora] Não te rias de mim, meu anjo lindo! poeta voyeur [compraz-se em olhar] Por ti – as noites eu velei chorando, Por ti – nos sonhos morrerei sorrindo. mulher idealizada, indisponível
  • 4. SEGUNDA GERAÇÃO a poesia de Álvares de Azevedo O POETA MORIBUNDO Poetas! amanhã ao meu cadáver Minha tripa cortai mais sonorosa!... ASPECTOS FORMAIS Façam dela uma corda e cantem nela Os amores da vida esperançosa! quartetos decassílabos Coração, por que tremes? Vejo a morte, ASPECTOS TEMÁTICOS Ali vem lazarenta e desdentada... Que noiva!... E devo então dormir com ela? byronismo Se ela ao menos dormisse mascarada! [egocentrismo, narcisismo, boemia] No inferno estão suavíssimas belezas, crítica às convenções sociais Cleópatras, Helenas, Eleonoras; Lá se namora em boa companhia, [poeta-maldito] Não pode haver inferno com Senhoras! carnavalização da morte Se é verdade que os homens gozadores, Amigos de no vinho ter consolos, ironia romântica: visão corrosiva do mundo Foram com Satanás fazer colônia, Antes lá que do Céu sofrer os tolos!
  • 5. SEGUNDA GERAÇÃO a poesia de Álvares de Azevedo SONETO Eu durmo e vivo ao sol como um cigano, Fumando meu cigarro vaporoso; Nas noites de verão namoro estrelas; Sou pobre, sou mendigo e sou ditoso! ASPECTOS FORMAIS Ando roto, sem bolsos nem dinheiro; quartetos decassílabos Mas tenho na viola uma riqueza: Canto à lua de noite serenatas, ASPECTOS TEMÁTICOS E quem vive de amor não tem pobreza. ironia romântica Não invejo ninguém, nem ouço a raiva [poeta maldito] Nas cavernas do peito, sufocante, Quando à noite na treva em mim se entornam desidealização Os reflexos do baile fascinante. [a mulher de classe baixa aparece disponível] Namoro e sou feliz nos meus amores; Sou garboso e rapaz... Uma criada Abrasada de amor por um soneto Já um beijo me deu subindo a escada...
  • 6. SEGUNDA GERAÇÃO a poesia de Álvares de Azevedo É ELA! É ELA! É ELA! É ELA! É ela! é ela! murmurei tremendo, E o eco ao longe murmurou - é ela! Eu a vi... minha fada aérea e pura - A minha lavadeira na janela! ASPECTOS FORMAIS Esta noite eu ousei mais atrevido quartetos decassílabos Nas telhas que estalavam nos meus passos Ir espiar seu venturoso sono, ASPECTOS TEMÁTICOS Vê-la mais bela de Morfeu nos braços! ironia romântica Como dormia! que profundo sono!... [a mulher de classe baixa aparece disponível] Tinha na mão o ferro do engomado... Como roncava maviosa e pura!... desidealização Quase caí na rua desmaiado! [lavadeira, ferro de passar roupas, ronco] Afastei a janela, entrei medroso... Palpitava-lhe o seio adormecido... Fui beijá-la... roubei do seio dela Um bilhete que estava ali metido...
  • 7.
  • 8. SEGUNDA GERAÇÃO a poesia de Casimiro de Abreu MEUS OITO ANOS [fragmento] Oh que saudades que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais ASPECTOS FORMAIS Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueiras, simplicidade formal: quartetos heptassílabos A sombra das bananeiras, ASPECTOS TEMÁTICOS Debaixo dos laranjais. Como são belos os dias simplicidade temática Do despontar da existência [idealização da infância] Respira a alma inocência, Como perfume a flor; visão ingênua e sentimental O mar é lago sereno, O céu um manto azulado, O mundo um sonho dourado, A vida um hino de amor!
  • 9. SEGUNDA GERAÇÃO a poesia de Bernardo Guimarães A ORGIA DOS DUENDES[fragmento] Meia-noite soou na floresta Getirana com todo o sossego No relógio de sino de pau; A caldeira da sopa adubava E a velhinha, rainha da festa, Com o sangue de um velho morcego, Se assentou sobre o grande jirau. Que ali mesmo co’as unhas sangrava. Lobisome apanhava os gravetos Mamangava frigia nas banhas E a fogueira no chão acendia, Que tirou do cachaço de um frade Revirando os compridos espetos, Adubado com pernas de aranha, Para a ceia da grande folia. Fresco lombo de um frei dom abade. Junto dele um vermelho diabo Vento sul sobiou na cumbuca, Que saíra do antro das focas, Galo-Preto na cinza espojou; Pendurado num pau pelo rabo, Por três vezes zumbiu a mutuca, No borralho torrava pipocas. No cupim o macuco piou. Taturana, uma bruxa amarela, E a rainha co’as mãos ressequidas Resmungando com ar carrancudo, O sinal por três vezes foi dando, Se ocupava em frigir na panela A corte das almas perdidas Um menino com tripas e tudo. Desta sorte ao batuque chamando:
  • 10. SEGUNDA GERAÇÃO a poesia de Bernardo Guimarães A ORGIA DOS DUENDES[fragmento] "Vinde, ó filhas do oco do pau, Galo-preto da torre da morte, Lagartixas do rabo vermelho, Que te aninhas em leito de brasas, Vinde, vinde tocar marimbau, Vem agora esquecer tua sorte, Que hoje é festa de grande aparelho Vem-me em torno arrastar tuas asas. Raparigas do monte das cobras, Sapo-inchado, que moras na cova Que fazeis lá no fundo da brenha? Onde a mão do defunto enterrei, Do sepulcro trazei-me as abobras, Tu não sabes que hoje é lua nova, E do inferno os meus feixes de lenha. Que é o dia das danças da lei? Ide já procurar-me a bandurra Tu também, ó gentil Crocodilo, Que me deu minha tia Marselha, Não deplores o suco das uvas; E que aos ventos da noite sussurra, Vem beber excelente restilo Pendurada no arco-da-velha. Que eu do pranto extraí das viúvas. Onde estás, que inda aqui não te vejo, Lobisome, que fazes, meu bem Esqueleto gamenho e gentil? Que não vens ao sagrado batuque? Eu quisera acordar-te c’um beijo Como tratas com tanto desdém, Lá no teu tenebroso covil. Quem a c’roa te deu de grão-duque?”
  • 11. SEGUNDO GERAÇÃO DO ROMANTISMO “mal do século”, medo de amar, infância, melancolia AUTORES E OBRAS Álvares de Azevedo Bernardo Guimarães [Ariel e Caliban] [sátira e ironia romântica] Lira dos vinte anos A orgia dos duendes único livro de poemas A origem do mênstruo textos mais importantes do mal-do-século brasileiro O elixir do pajé seu livro é dividido em duas faces: a solar e poemas irônicos idealizada [Ariel] e a noturna e irônica [Caliban] visão corrosiva [satânica, irônica] da vida e do mundo
  • 12. SEGUNDO GERAÇÃO DO ROMANTISMO “mal do século”, medo de amar, infância, melancolia AUTORES E OBRAS Casimiro de Abreu Fagundes Varela [leveza e suavidade] [um poeta de transição] As primaveras Varela escreveu muito. Entretanto, seu poema mais poemas ternos como “Meus oito anos” fizeram dele conhecido é “Cântico do calvário”, feito por ocasião da o poeta mais lido da segunda geração em seu tempo morte de seu primeiro filho, aos três meses; em poemas muito musicais, aborda saudade, infância, sua obra é considerada pela crítica literária como de natureza e desejo. transição, pois antecipa temas sociais da 3ª. geração