O documento resume a primeira geração da poesia romântica no Brasil, destacando autores e obras. A poesia de Gonçalves Dias celebra o indígena e a natureza brasileira, enquanto a de Gonçalves de Magalhães promove o nacionalismo e a formação da identidade nacional. Ambos contribuíram para a consolidação do Romantismo no país.
2. PRIMEIRA GERAÇÃO
a poesia de Gonçalves Dias
O CANTO DO GUERREIRO [fragmento]
Aqui na floresta
ASPECTOS FORMAIS
Dos ventos batida,
Façanhas de bravos estrofes regulares
Não geram escravos,
Que estimem a vida redondilha menor
Sem guerra e lidar. vocabulário acessível
— Ouvi-me, Guerreiros,
— Ouvi meu cantar. o locutor é o índio
Valente na guerra, ASPECTOS TEMÁTICOS
Quem há, como eu sou?
Quem vibra o tacape indianismo
Com mais valentia?
o herói aparece idealizado [bravo, forte, orgulhoso]
Quem golpes daria
Fatais, como eu dou? o índio representa o [ante]passado americano
— Guerreiros, ouvi-me;
— Quem há, como eu sou?
3. PRIMEIRA GERAÇÃO
a poesia de Gonçalves Dias
O CANTO DO PIAGA
Ó Guerreiros da Taba sagrada, [...] Por que dormes, Ó Piaga divino?
Ó Guerreiros da Tribo Tupi, Começou-me a Visão a falar,
Falam Deuses nos cantos do Piaga, Por que dormes? O sacro instrumento
Ó Guerreiros, meus cantos ouvi. De per si já começa a vibrar.
Tu não viste nos céus um negrume [...] Ouve o anúncio do horrendo fantasma,
Toda a face do sol ofuscar; Ouve os sons do fiel Maracá;
Não ouviste a coruja, de dia, Manitôs já fugiram da Taba!
Seus estrídulos torva soltar? Ó desgraça! Ó ruína! Ó Tupá!
Pelas ondas do mar sem limites [...] Negro monstro os sustenta por baixo,
Basta selva, sem folhas, i vem; Brancas asas abrindo ao tufão,
Hartos troncos, robustos, gigantes; Como um bando de cândidas garças,
Vossas matas tais monstros contêm. Que nos ares pairando - lá vão.
tema: o locutor assume o ponto de vista de uma voz divina que fala com o pajé
a voz alerta o piaga para o desastre que está por vir – a chegada do europeu [5ª. e 6ª. estrofes]
forma: quartetos com versos predominantemente eneassílabos [ritmo lento e grave]
4. PRIMEIRA GERAÇÃO
a poesia de Gonçalves Dias
O CANTO DO PIAGA
Oh! quem foi das entranhas das águas, Não sabeis o que o monstro procura?
O marinho arcabouço arrancar? Não sabeis a que vem, o que quer?
Nossas terras demanda, fareja... Vem matar vossos bravos guerreiros,
Esse monstro... - o que vem cá buscar? Vem roubar-vos a filha, a mulher!
Vem trazer-vos crueza, impiedade - Vem trazer-vos algemas pesadas,
Dons cruéis do cruel Anhangá; Com que a tribo Tupi vai gemer;
Vem quebrar-vos a maça valente, Hão-de os velhos servirem de escravos
Profanar Manitôs, Maracás. Mesmo o Piaga inda escravo há de ser?
Fugireis procurando um asilo, Vossos Deuses, ó Piaga, conjura,
Triste asilo por ínvio sertão; Susta as iras do fero Anhangá.
Anhangá de prazer há de rir-se, Manitôs já fugiram da Taba,
Vendo os vossos quão poucos serão. Ó desgraça! ó ruína!! ó Tupá!
tema: o sujeito poético anuncia os desastres que serão trazidos pela chegada do colonizador
o discurso do locutor se configura num momento anterior à chegada do branco à América
tema/forma: fixação de costumes e vocabulário indígenas
5. UM PARALELO COM O MODERNISMO
o indianismo na poesia de Murilo Mendes
MARCHA FINAL DO GUARANI ASPECTOS FORMAIS
Ninguém mais vive quieto na terra. soneto eneassílabo
Outros deuses povoam o país
Ando agora vestido de fraque, uso de metonímias e antíteses
Pus no prego a gentil açoiaba.
paródia: “O canto do piaga”, Iracema, O guarani
O tacape enferruja num canto,
A bengala não largo da mão. ASPECTOS TEMÁTICOS
Sons agudos da inúbia não ouço, apropriação paródica do indianismo romântico
Na vitrola só tangos escuto.
discurso de um índio já aculturado
Já não tarda o final desta raça,
Manitôs abandonam as tabas. metonímias
Meus irmãos, azulemos pra Europa: [antepassado indígena x cidadão aculturado]
O inimigo já chega bufando, ironia [versos 11 e 14]
Na maloca já fogo tocaram...
Ó desgraça! Ó ruína! Ó Rondon! revisão crítica do passado histórico cultural
6. PRIMEIRA GERAÇÃO
a poesia de Gonçalves Dias
A CANÇÃO DO EXÍLIO
Minha terra tem palmeiras, Minha terra tem primores,
Onde canta o Sabiá; Que tais não encontro eu cá;
As aves, que aqui gorjeiam, Em cismar – sozinho, à noite –
Não gorjeiam como lá. Mais prazer encontro eu lá;
Nosso céu tem mais estrelas, Minha terra tem palmeiras,
Nossas várzeas têm mais flores, Onde canta o Sabiá.
Nossos bosques têm mais vida, Não permita Deus que eu morra,
Nossa vida mais amores. Sem que eu volte para lá;
Em cismar, sozinho, à noite, Sem que desfrute os primores
Mais prazer encontro eu lá; Que não encontro por cá;
Minha terra tem palmeiras, Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá. Onde canta o Sabiá.
temas: nacionalismo [fala-se da pátria], nativismo [natureza] e ufanismo [orgulho da terra]
o locutor celebra a pátria de modo ufanista: a natureza deslumbrante e a terra é sem males
a celebração ufanista da natureza se insere no Projeto de Formação da Identidade Nacional
forma: três tercetos e dois sextetos; versos heptassílabos; anáfora [minha terra]
7. UM PARALELO COM O MODERNISMO
discutindo a identidade nacional
REIFICAÇÃO, Claudius Hermann Portugal
As palmeiras derrubaram
para no lugar construírem uma autoestrada
O Sabiá ganhou um festival nos idos de 68
mas está sendo rapidamente exterminado
ou anda preso em alguma gaiola.
O exílio de minha terra deixou de ser uma canção.
ASPECTOS FORMAIS
sextilha
versos livres e brancos
intertextualidades
ASPECTOS TEMÁTICOS
apropriação paródica do discurso ufanista romântico
intertextos
[Canção do exílio, Sabiá, Festivais dos anos 1960]
8. PRIMEIRA GERAÇÃO
a poesia de Gonçalves Dias
AINDA UMA VEZ – ADEUS [fragmento]
Enfim te vejo! – Enfim posso, Louco, aflito, a saciar-me Vivi; pois Deus me guardava
Curvado a teus pés, dizer-te D’agravar minha ferida, Para este lugar e hora!
Que não cessei de querer-te, Tomou-me o tédio da vida. Depois de tanto, senhora,
Pesar de quanto sofri. Passos da morte senti; Ver-te e falar-te outra vez;
Muito penei! Cruas ânsias, Mas quase no passo extremo, Rever-me em teu rosto amigo,
Dos teus olhos afastado, No último arcar da esp’rança, Pensar em quanto hei perdido
Houveram-me acabrunhado, Tu me vieste à lembrança: E este pranto dolorido,
A não me lembrar de ti! Quis viver mais e vivi! Deixar correr a teus pés.
platonismo: o locutor ama o amor que devota à mulher amada
idealização: a mulher aparece num plano superior ao do sujeito poético
subjetivismo: o poema tem ares confessionais: o locutor externa seus sentimentos
forma: oitavas; versos heptassilábicos
9. PRIMEIRA GERAÇÃO
ecos da poesia trovadoresca na obra de Pedro Kilkerry
O VERME E A ESTRELA
Agora sabes que sou verme.
Agora, sei da tua luz.
Se não notei minha epiderme...
É, nunca estrela eu te supus
Mas, se cantar pudesse um verme, ASPECTOS FORMAIS
Eu cantaria a tua luz!
três sextetos octossilábicos
E eras assim... Por que não deste
Um raio, brando, ao teu viver? preferência por metáforas e antítese
Não te lembrava. Azul-celeste
ASPECTOS TEMÁTICOS
O céu, talvez, não pôde ser...
Mas, ora! enfim, por que não deste platonismo e idealização da amada
Somente um raio ao teu viver?
diálogo com a poesia trovadoresca e com o romantismo
Olho, examino-me a epiderme,
Olho e não vejo a tua luz!
Vamos que sou, talvez, um verme...
Estrela nunca eu te supus!
Olho, examino-me a epiderme...
Ceguei! ceguei da tua luz?
10. PRIMEIRA GERAÇÃO
indianismo, nacionalismo e platonismo
AUTORES E OBRAS
Gonçalves de Magalhães Gonçalves Dias
[tudo pelo Brasil e para o Brasil] [a formação da alma brasileira]
Suspiros poéticos e saudades Primeiros cantos
obra de valor histórico Segundos cantos
“Prólogo”: inspiração, pátria, religiosidade Últimos cantos
Revista Niterói Sextilhas de Frei Antão
teoriza sobre o Romantismo [brasileiro] amor, índio, pátria, saudade