Nasrudin testa a capacidade de escuta e compreensão de seu público fazendo perguntas cujas respostas dependem do contexto, mostrando que poucos realmente ouvem. A lição ensina que a perda de algo básico pode estimular o desenvolvimento de novas habilidades e o sucesso.
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
Sala de leitura 2014
1. HISTÓRIAS DE NASRUDIN
Sobre ouvir e
compreender
A história que contaremos agora tem como
personagem principal o grande Nasrudin.
Nasrudin é um misto de sábio e idiota, uma
mistura bastante exótica, e mais comum
do que pode imaginar nossa vã filosofia.
Esta história também fala sobre “ouvir”,
um comportamento tão importante,
quanto pensar, falar, comer, dormir...
Porém, muito pouco praticado por muitos.
Eis que Nasrudin é o convidado de honra
para proferir a palestra mais aguardada do
dia. Auditório lotado. Expectativa na
audiência. Nasrudin sobe ao púlpito.
Silêncio. Todos estão curiosos para
conhecer sua palavra. Então, ele dispara a
pergunta: - vocês sabem o que eu vim falar
aqui hoje?
Todos respondem, balançando a cabeça,
com o sinal de “não”.
- Seus ignorantes! Vocês são todos burros!
Não gastarei meu tempo com pessoas
como vocês. Grita Nasrudin, abandonando
o local e deixando todos perplexos.
Os líderes se reúnem e resolvem convidar
o sábio mais uma vez. Combinam com a
população que respondam “sim” caso o
mestre repita a pergunta.
Nasrudin retorna. Sobe ao púlpito e com ar
de desdém, pergunta: - vocês sabem o que
eu vim falar aqui hoje?
O auditório em peso responde, “sim,
mestre!”.
- vocês são todos arrogantes! Pensam que
sabem de tudo! Não gastarei meu tempo
com pessoas como vocês. E Nasrudin vai
embora, para o espanto de todos.
Sem nada compreender, porém desejando
escutar a palavra do grande mestre, os
líderes resolvem convidá-lo de novo. Dessa
vez, a combinação é: metade do auditório,
responde que sim, e a outra metade
responde que não, caso a pergunta seja
feita novamente.
Não dá outra. Nasrudin sobe no palco,
platéia tensa, expectativa geral, e
pergunta: - vocês sabem o que eu vim falar
aqui? Metade do auditório, responde que
sim, e a outra metade, responde que não,
conforme combinado.
Nasrudin então ordena: - então vocês que
sabem demais, contem tudo para esses
outros que não sabem de nada. E o mestre
vai embora!
Por hoje é só, quem vai indo embora agora
sou eu! Até o nosso próximo encontro!
2. A grande lição
Um Mestre da sabedoria passeava por uma floresta com seu fiel discípulo, quando avistou ao
longe um sítio de aparência pobre e resolveu fazer uma breve visita.
Durante o percurso, ele falou ao aprendiz sobre a importância das visitas às oportunidades de
aprendizado que temos, também com as pessoas que mal conhecemos.
Chegando ao sítio, constatou a pobreza do lugar: sem calçamento, casa de madeira, os
moradores, um casal e três filhos, vestidos com roupas rasgadas e sujas... Então se aproximou
do senhor, aparentemente o pai daquela família, e perguntou:
- Neste lugar não há sinais de pontos de comércio e de trabalho. Como o senhor e a sua
família sobrevivem aqui?
E o senhor calmamente respondeu:
- Meu amigo, nós temos uma vaquinha que nos dá vários litros de leite todos os dias. Uma
parte desse produto nós vendemos ou trocamos na cidade vizinha por outros gêneros
alimentícios e a outra parte nós produzimos queijo e coalhada para o nosso consumo e assim
vamos sobrevivendo.
O sábio agradeceu pela informação, contemplou o lugar por uns momentos, depois se
despediu e foi embora. No meio do caminho, voltou ao seu fiel discípulo e ordenou:
- Aprendiz, pegue a vaquinha, leve-a ao precipício ali a frente e empurre-a, jogue-a lá embaixo.
O jovem arregalou os olhos espantado e questionou o mestre sobre o fato da vaquinha ser o
único meio de sobrevivência daquela família, mas, como percebeu o silêncio absoluto do seu
mestre, foi cumprir a ordem.
Assim, empurrou a vaquinha morro abaixo e a viu morrer. Aquela cena ficou marcada na
memória daquele jovem durante alguns anos, até que, um belo dia, ele resolveu largar tudo o
que havia aprendido e voltar naquele mesmo lugar e contar tudo aquela família, pedir perdão e
ajudá-los. E assim o fez.
Quando se aproximava do local, avistou um sítio muito bonito, com árvores floridas, todo
murado, com carro na garagem e algumas crianças brincando no jardim. Ficou triste e
desesperado, imaginando que aquela humilde família tivera que vender o sitio para sobreviver.
"Apertou" o passo e, chegando lá, foi logo recebido por um caseiro muito simpático e perguntou
sobre a família que ali morava há uns quatro anos. O caseiro respondeu:
- Continuam morando aqui.
Espantado, entrou correndo na casa e viu que era mesmo a família que visitara antes com o
mestre. Elogiou o local e perguntou ao senhor (o dono da vaquinha):
- Como o senhor melhorou este sítio e está muito bem de vida?
E o senhor, entusiasmado, respondeu:
- Nós tínhamos uma vaquinha que caiu no precipício e morreu. Daí em diante, tivemos que
fazer outras coisas e desenvolver habilidades que nem sabíamos que tínhamos, assim
alcançamos o sucesso que seus olhos vislumbram agora...
Moral da história: Todos nós temos uma vaquinha que nos dá alguma coisa básica para
sobrevivência e uma convivência com a rotina. Descubra qual é a sua. Aproveite esse novo
ano e a proximidade do final do milênio para "empurrar sua vaquinha morro abaixo!".