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O professor Miranda
aldeia das Flores, apesar de não ser grande e de a maior parte das casas serem
velhas, feitas em grandes pedras sobrepostas e enegrecidas pelo tempo, era muito conhecida.
Ninguém sabia explicar a razão da aldeia se chamar das Flores.
Talvez fosse por ter muitas árvores, umas velhas e já frondosas, outras novas e ainda
pequenas, mas todas floridas na primavera, com flores de várias cores e vários tamanhos. Ou,
quem sabe, por a maior parte das casas terem vasos, às vezes, panelas de ferro já velhas, ao pé
das portas e das janelas. Ninguém sabia explicar. Mas uma coisa era certa: desde sempre, do
tempo das pessoas mais velhinhas, aquela terra de sol, mas também de muita neve, se chamou a
aldeia das Flores.
A escola primária da aldeia ficava na Bouça das Giestas. A toda a volta havia canteiros para
as flores. A rapaziada não se cansava de plantar bolbos, semear, mondar, regar. Tinham gosto em
fazer aquele trabalho, não fossem habitantes da terra das Flores! Quem ensinava na escola era a
Da
Maria, uma senhora um pouco gorda, que de ano para ano foi ficando mais idosa, lentamente,
quase sem ninguém notar. Foram muitos os anos, mais de trinta, em que a Da
Maria ensinou
naquela escola. Uma escola velhinha, onde todas as carteiras eram remendadas.
Mas um dia, a senhora já de cabelos brancos como neve, anunciou com voz fraca:
— No próximo ano, já não serei a professora desta escola... Estou cansada, estou velha... O
Estado deu-me a reforma...
E assim foi. Com uma lágrima, com muitas lágrimas, a Da
Maria despediu-se daquela casa
velha, com pouca luz, onde ensinara meninos durante mais de trinta anos.
Alguns desses meninos cresceram e já estão casados e com filhos. A Da
Maria costumava
dizer, quando os seus alunos lhe iam mostrar um bebé agarrado à chupeta:
A
— Ai, estou velha!...
— Não diga isso, Da
Maria!
Mas ela bem sabia que lhe diziam aquelas palavras para serem amáveis. Sentia-se
envelhecer. Foi a Da
Maria para sua casa. Toda a gente dizia que era difícil haver uma professora
tão amiga dos alunos e perguntavam:
— Como será a nova professora? Como será ela?...
Mas ninguém sabia explicar.
♥♥♥♥
Foi num domingo à tarde. Era o primeiro dia de setembro.
As pessoas reuniam-se no Largo da aldeia, sentadas nas pedras que por lá havia espalhadas.
As mulheres remendavam roupas, os homens fumavam e falavam do tempo e das colheitas. As
crianças jogavam à macaca, ao rou-rou:
Rou-rou
galinha choca
já'cordou
quantos ovos ela pôs
como o diabo levou!
um... dois... três...
E contavam até vinte. Enquanto um dizia “rou-rou”, os outros meninos escondiam-se.
...dezanove... vinte!... Rou-rou, já VOUUUUUU! Só o senhor Jerónimo, o marido da Da
Maria,
fumava cachimbo e lia o jornal, muito atento. Quando era notícia importante lia-a em voz alta,
vagarosamente, para que todos pudessem perceber.
Naquela tarde de setembro, o senhor Jerónimo disse:
— Ouçam, ouçam! Escutem o que vem aqui, no jornal:
A VILA TEM MAIS UMA FÁBRICA. ABRE BREVEMENTE
— A Vila?
— Sim, respondeu o senhor Jerónimo, ora escutem! — E leu: “A Vila tem mais uma fábrica.
Pouco tempo falta para a Vila acordar com mais uma chaminé a deitar fumo. O senhor Presidente
da Câmara da Vila disse ao nosso jornal:
— “Queremos que a Vila seja cada vez mais uma terra de progresso, uma terra civilizada,
para o bem de todos nós.”
O senhor Presidente pensa que a fábrica abre muito em breve. Afirmou:
— “Só faltam os esgotos. Mas amanhã mesmo começar-se-á a abertura duma rota que
levará esses esgotas para o rio das Flores, junto à aldeia das Flores”.
— Mas isso é formidável! A Vila fica bem pertinho da nossa aldeia!
— Que engraçado! O jornal fala do nosso rio...
E outros comentários as pessoas fizeram, uns, na esperança de arranjar trabalho, outros,
por gostarem de ver o nome da Vila, da aldeia das Flores e do rio, naquele jornal de muitas
notícias. Estavam bastante animados quando, no Largo da aldeia, apareceu um carro de aluguer.
Dentro do carro, além do senhor Zé — o motorista — vinha um senhor que ninguém conheceu.
Tinha barbas compridas e usava óculos.
Evidentemente que a conversa acabou, as pessoas ficaram caladas, tentando reconhecer
aquele sujeito que tinha saído do carro e ajudava o senhor Zé a tirar as malas. Viram-no pagar.
Certamente deu uma gorjeta, porque o senhor Zé começou a rir, agradeceu muito, meteu-se no
carro, acelerou e em breves instantes desapareceu. Com as malas na mão, e eram muitas, o senhor
passou as mãos pelas barbas e dirigiu-se ao grupo ali reunido:
— Boa-tarde. É aqui a aldeia das Flores, não é verdade?
— É sim. — Adiantou-se o senhor Jerónimo.
— Bem, é que eu sou o novo professor da escola desta terra...
Todos, mas todos ao mesmo tempo, deram um salto.
— Sou sim. Chamo-me Miranda, professor Miranda.
Depois foi uma grande confusão para arranjar um quarto para o novo professor...
— Sabe, senhor professor, aqui não há quartos. O melhor é ir alugar um na Vila. Consta que
lá há. E dos bons!...
— Obrigado. Mas, se fosse possível, eu gostaria de ficar nesta aldeia...
— E quem terá um quarto?
— Eu não! Ainda precisava de mais dois...
— Tenho uma ideia, disse o senhor Jerónimo, vamos falar com a senhora Juliana e o Ti
Carvalheira. Talvez aluguem aquela casinha pintada de azul que tem um quarto e uma sala pequena.
— E até tem luz elétrica! lembrou uma velhinha.
A senhora Juliana e o Ti Carvalheira aceitaram a proposta.
— Porque não?! Se o senhor professor quer ficar ao pé de nós, cá o receberemos com muito
gosto!
Os rapazes pararam as brincadeiras e ajudaram a levar as malas.
Mais tarde veio uma camioneta de carga com muitos caixotes e embrulhos para o professor
Miranda. Alguns eram pesados e foram os homens que pegaram neles às costas. “Que irá aqui
dentro, que pesa mais que ferro?!...”, perguntaram os homens para os seus botões. Os meninos e
as meninas correram a avisar os companheiros que não estavam no Largo. Alguns andavam com as
cabras e as ovelhas no pasto.
— Ei, ei! Temos um professor novo!
— Um professor?!... Uma professora!
— Não, um professor, até tem barbas compridas. UM PRO-FE-SSOR!
— É novo?
— Claro que é. E tem uns óculos grandes. Vocês hão de ver!...
♥♥♥♥
No primeiro dia de aulas, muito antes da hora, lá estavam os alunos, curiosos por ouvir o
novo professor, que também apareceu bem cedo. Contou uma história com tantas aventuras como
nunca tinham ouvido! Foi uma maravilha! A Da
Maria era uma boa senhora, ensinava aquelas coisas
da escola, mas o professor Miranda sabia contar histórias! A rapaziada ficou contente e, daí em
diante, todos os dias vinham em grandes correrias, a ver quem chegava primeiro à escola.
As pessoas da aldeia das Flores comentavam:
— Quem diria que era tão amigo das crianças?!...
— E dizem que sabe contar cada história mais bonita!!!...
— E fazem passeios, recolhem tudo que podem. Até pedras levam para a escola!...
— Pedras?!... Para quê?
— O meu Chico diz que é para fazerem experiências, jogos, eu sei lá!
— No nosso tempo não era assim...
— Os tempos são outros... Você já reparou na sala da escola, já espreitou lá para dentro?
— Eu não!
— Então vá lá, e veja como aquela sala está mudada! Têm desenhos e pinturas a cobrir as
paredes, flores por todo o lado eu sei lá quantas coisas mais!...
— Olhe que um dia hei de passar por lá!
— Ó comadre, você já reparou?
— O quê?
— Olhe, uma noite fui com o meu marido, o Joaquim, levar uma saca de milho ao moinho...
— Sim.
— Era quase meia-noite quando saímos de casa, toda a gente dormia...
— Pois. Temos de nos deitar cedo, cansados como andamos. Noutras terras há cinemas e
televisão para as pessoas se divertirem. Mas nós aqui, nesta aldeia, não temos nada...
— Escute comadre! Só havia uma única luz acesa. E sabe onde?... Em casa do senhor
professor Miranda!...
— E então?!
— Então?!... Quando viemos do moinho, ainda a luz estava acesa!
— Lá se esqueceu de apagar a luz...
— Qual quê! Ao outro dia, quando o sino grande da torre da igreja bateu duas horas da
manhã, eu disse: “Joaquim, vamos ver se a luz do quarto do senhor professor está acesa?”
Fomos espreitar e lá estava o quarto todo iluminado! E a noite seguinte a mesma coisa. E na
outra. E na outra.
— Porque será? Porque será?'
Os meninos que andavam por perto ficaram entusiasmados com aquilo que ouviram.
— Porque será que o professor fica com a luz acesa?
— Sei lá! Se calhar esquece-se de a apagar...
— Não pode ser! Tu nunca reparaste que ele, antes de sair da escola, vai sempre ver se fica
tudo arrumado?
— Lá isso é. Então porque será?!...
— E se um de nós lhe perguntasse?
— Boa ideia!
♥♥♥♥
Uma tarde, depois de tudo estar arrumado, o Tónio, antes que o professor desse as aulas
por terminadas, perguntou;
— Senhor professor, há um mistério que ainda ninguém conseguiu descobrir!
Tinha o Tónio acabado de falar, quando se fez um grande silêncio. Podia-se ouvir uma mosca
a voar.
— Mistério?! -perguntou o professor.
— Sim — respondeu o Tónio — Todas as pessoas da aldeia cismam por que razão o senhor
professor fica com a luz acesa até quase ser dia...
O professor passou a mão pelo cabelo branco e sorriu:
— Ai sim!
— Pois é...
— Acho que podes descobrir esse mistério se quiseres visitar o meu quarto. Quando te
apetecer aparece por lá!
Já os meninos regressavam a suas casas e o Tónio a matutar: “Que haverá no quarto do
professor?!...” E diziam-lhe os colegas:
— Então Tónio, quando é que lá vais?
— Se fosse eu, ia lá hoje mesmo!
— Havia de abrir bem os olhos e descobrir esse mistério!
— Se tu descobrires avisa a gente!
A solução estava no quarto. E o que estaria no quarto?
Nesse dia, quando a noite veio, por sinal uma linda noite, com uma grande lua, o Tónio comeu
o caldo à pressa, poisou a malga e disse:
— Mãe, eu vou falar com o senhor professor.
A mãe ficou admirada.
— Ó filho, é noite, amanhã tens tempo...
O Tónio mentiu:
— Mas o senhor professor disse para eu lá ir hoje mesmo!
— Não te esqueças de limpar as chancas antes de entrares — recomendou a mãe.
Numa grande corrida, as chancas que trazia calçadas a fazerem barulho nas pedras, o Tónio
atravessou a rua estreita e daí a momentos parou à porta do professor. A luz estava acesa. Puxou
o lenço do bolso e limpou o nariz. Bateu à porta.
Ouviu passos. A porta abriu-se. O professor Miranda apareceu.
— Olá, és tu! Entra, entra...
Quando chegaram ao quarto o Tónio arregalou os olhos. Tanta coisa bonita! Nas paredes,
pinturas de paisagens, meninos e cavalos. O que ele mais admirou, foi um quadro de um barco de
velas brancas a navegar no azul do mar. O Tónio nunca tinha visto o mar. Encostado às paredes,
estantes repletas de livros. Livros de muitas formas e feitios. Havia-os também espalhados pelo
chão. Numa mesa que servia de secretária, uma máquina de escrever e muitas folhas dispersas.
Nunca tinha visto tanto livro! E quadros bonitos!
O professor sorria.
— Então, rapaz?!...
Mas o Tónio não disse nada. O professor perguntou:
— Já descobriste?
— O quê, senhor professor!?
— O tal “mistério”...
— Ah! Eu... eu...
— Não?! Então vou tentar ajudar-te! Eu gosto muito de ler e escrever. Ora, como só à noite
é que tenho tempo...
— Põe-se a ler...
— Claro — continuou o professor Miranda — de noite, quando não há praticamente barulho,
fico aqui entregue aos meus livros, lendo ou escrevendo...
— E o senhor professor escreve todas as noites?
— Sim, quase todas.
— E porquê?... Tem assim tanta coisa para contar todos os dias?!
— Tenho!
— Escreve cartas?
— Poucas. Não é isso que escrevo.
— Então?!... — Tónio estava intrigado.
— Escrevo!...
— Redações?
Mas o professor disse que escrevia histórias.
— Histórias?! Então aquelas...
— Estás a pensar bem. Aquelas histórias que vos conto na escola, sou eu quem as invento e
escrevo.
— Ah! É por isso que fica toda a noite com a luz acesa!...
— Ora vês! Já descobriste o “mistério” da luz acesa no meu quarto!
O Tónio riu-se. Depois o professor Miranda dirigiu-se a uma das estantes.
— Olha, disse o professor, vês aqui estes livros?
— Vejo!
— Os que estão neste cantinho, fui eu que os escrevi.
— A sério?! O senhor... o senhor é um escritor? — perguntou o Tónio embasbacado.
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— Sei lá. Eu pensava que um escritor era assim um homem muito alto, muito sério, sempre
fechado num quarto, a escrever, a escrever.
Tónio sentia-se viajar sobre as nuvens. Nunca poderia imaginar que o professor Miranda
escrevesse livros. Porque ele nem era muito alto e falava com todas as pessoas da aldeia. Também
não estava fechado no quarto. Era afinal uma pessoa igual às outras. E ele a pensar que os
escritores viviam nas grandes cidades, e afinal, à beira dele, estava um escritor!
Lembrou-se de fazer uma pergunta:
— Senhor professor, um livro custa
muito a fazer?
— Claro, tudo demora o seu tempo. Há
muito trabalho a fazer. Olha, escrever uma
história é quase como pegar num arado.
Neste caso é a caneta. Escrever é lavrar um
campo que não está cultivado. Lavra-se, grada-se, semeia-se, sacha-se, arrenda-se, rega-se. E
lentamente a história vai ficando com forma, vai crescendo, amadurecendo. Num campo, depois do
milho estar maduro, é que se corta e se recolhe.
Assim é uma história: ao fim de muito tempo e de muita canseira é que está terminada.
Depois, vai para a tipografia, para as máquinas de impressão. E, finalmente, aparece o livro.
— Nunca tinha pensado nisso, senhor professor!
Então o professor perguntou:
— Queres levar um livro para leres?
— Quero.
O professar entregou-lhe um livrinho.
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O Tónio veio com o livro apertado ao peito, radiante. E só perto de casa é que se lembrou
que não tinha agradecido ao professor. Quando entrou na cozinha, a mãe, que estava a fiar lã, ao
vê-lo, ficou aflita:
— Que tens filho?
— Não tenho nada, minha mãe!
Mas a mãe conhecia muito bem o filho. Sentia que tinha havido qualquer coisa que o
impressionara.
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— Ai minha mãe, se visse tantos livros como eu vi no quarto do professor!... E sabe? Foi ele
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Como a mãe não sabia ler, o Tónio abriu o livrinho na primeira página e começou a ler em voz
alta:
— Era uma vez... — O menino deu um salto no banco em que estava sentado: — Mas nós já
conhecemos esta história. Não se lembra de eu lha ter contado?
— Sim, sim — disse a mãe, que nunca parava de fiar — mas lê-a, que é muito bonita.
O Tónio leu naquela noite as histórias todas.
A mãe a ouvir, ambos maravilhados.
Mas na casa do Tónio não havia luz elétrica.
Apenas um candeeiro a petróleo alumiava o pequeno quarto.
A candeia ficou sem petróleo.
A luz começou a tremelicar.
A mãe disse:
— Filho, vamos dormir. A luz está a acabar...
António Mota
A Aldeia das Flores
Porto, Edições Asa, 1999

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A aldeia das flores

  • 1. O professor Miranda aldeia das Flores, apesar de não ser grande e de a maior parte das casas serem velhas, feitas em grandes pedras sobrepostas e enegrecidas pelo tempo, era muito conhecida. Ninguém sabia explicar a razão da aldeia se chamar das Flores. Talvez fosse por ter muitas árvores, umas velhas e já frondosas, outras novas e ainda pequenas, mas todas floridas na primavera, com flores de várias cores e vários tamanhos. Ou, quem sabe, por a maior parte das casas terem vasos, às vezes, panelas de ferro já velhas, ao pé das portas e das janelas. Ninguém sabia explicar. Mas uma coisa era certa: desde sempre, do tempo das pessoas mais velhinhas, aquela terra de sol, mas também de muita neve, se chamou a aldeia das Flores. A escola primária da aldeia ficava na Bouça das Giestas. A toda a volta havia canteiros para as flores. A rapaziada não se cansava de plantar bolbos, semear, mondar, regar. Tinham gosto em fazer aquele trabalho, não fossem habitantes da terra das Flores! Quem ensinava na escola era a Da Maria, uma senhora um pouco gorda, que de ano para ano foi ficando mais idosa, lentamente, quase sem ninguém notar. Foram muitos os anos, mais de trinta, em que a Da Maria ensinou naquela escola. Uma escola velhinha, onde todas as carteiras eram remendadas. Mas um dia, a senhora já de cabelos brancos como neve, anunciou com voz fraca: — No próximo ano, já não serei a professora desta escola... Estou cansada, estou velha... O Estado deu-me a reforma... E assim foi. Com uma lágrima, com muitas lágrimas, a Da Maria despediu-se daquela casa velha, com pouca luz, onde ensinara meninos durante mais de trinta anos. Alguns desses meninos cresceram e já estão casados e com filhos. A Da Maria costumava dizer, quando os seus alunos lhe iam mostrar um bebé agarrado à chupeta: A
  • 2. — Ai, estou velha!... — Não diga isso, Da Maria! Mas ela bem sabia que lhe diziam aquelas palavras para serem amáveis. Sentia-se envelhecer. Foi a Da Maria para sua casa. Toda a gente dizia que era difícil haver uma professora tão amiga dos alunos e perguntavam: — Como será a nova professora? Como será ela?... Mas ninguém sabia explicar. ♥♥♥♥ Foi num domingo à tarde. Era o primeiro dia de setembro. As pessoas reuniam-se no Largo da aldeia, sentadas nas pedras que por lá havia espalhadas. As mulheres remendavam roupas, os homens fumavam e falavam do tempo e das colheitas. As crianças jogavam à macaca, ao rou-rou: Rou-rou galinha choca já'cordou quantos ovos ela pôs como o diabo levou! um... dois... três... E contavam até vinte. Enquanto um dizia “rou-rou”, os outros meninos escondiam-se. ...dezanove... vinte!... Rou-rou, já VOUUUUUU! Só o senhor Jerónimo, o marido da Da Maria, fumava cachimbo e lia o jornal, muito atento. Quando era notícia importante lia-a em voz alta, vagarosamente, para que todos pudessem perceber. Naquela tarde de setembro, o senhor Jerónimo disse: — Ouçam, ouçam! Escutem o que vem aqui, no jornal: A VILA TEM MAIS UMA FÁBRICA. ABRE BREVEMENTE — A Vila? — Sim, respondeu o senhor Jerónimo, ora escutem! — E leu: “A Vila tem mais uma fábrica. Pouco tempo falta para a Vila acordar com mais uma chaminé a deitar fumo. O senhor Presidente da Câmara da Vila disse ao nosso jornal: — “Queremos que a Vila seja cada vez mais uma terra de progresso, uma terra civilizada, para o bem de todos nós.” O senhor Presidente pensa que a fábrica abre muito em breve. Afirmou: — “Só faltam os esgotos. Mas amanhã mesmo começar-se-á a abertura duma rota que levará esses esgotas para o rio das Flores, junto à aldeia das Flores”. — Mas isso é formidável! A Vila fica bem pertinho da nossa aldeia! — Que engraçado! O jornal fala do nosso rio... E outros comentários as pessoas fizeram, uns, na esperança de arranjar trabalho, outros, por gostarem de ver o nome da Vila, da aldeia das Flores e do rio, naquele jornal de muitas
  • 3. notícias. Estavam bastante animados quando, no Largo da aldeia, apareceu um carro de aluguer. Dentro do carro, além do senhor Zé — o motorista — vinha um senhor que ninguém conheceu. Tinha barbas compridas e usava óculos. Evidentemente que a conversa acabou, as pessoas ficaram caladas, tentando reconhecer aquele sujeito que tinha saído do carro e ajudava o senhor Zé a tirar as malas. Viram-no pagar. Certamente deu uma gorjeta, porque o senhor Zé começou a rir, agradeceu muito, meteu-se no carro, acelerou e em breves instantes desapareceu. Com as malas na mão, e eram muitas, o senhor passou as mãos pelas barbas e dirigiu-se ao grupo ali reunido: — Boa-tarde. É aqui a aldeia das Flores, não é verdade? — É sim. — Adiantou-se o senhor Jerónimo. — Bem, é que eu sou o novo professor da escola desta terra... Todos, mas todos ao mesmo tempo, deram um salto. — Sou sim. Chamo-me Miranda, professor Miranda. Depois foi uma grande confusão para arranjar um quarto para o novo professor... — Sabe, senhor professor, aqui não há quartos. O melhor é ir alugar um na Vila. Consta que lá há. E dos bons!... — Obrigado. Mas, se fosse possível, eu gostaria de ficar nesta aldeia... — E quem terá um quarto? — Eu não! Ainda precisava de mais dois... — Tenho uma ideia, disse o senhor Jerónimo, vamos falar com a senhora Juliana e o Ti Carvalheira. Talvez aluguem aquela casinha pintada de azul que tem um quarto e uma sala pequena. — E até tem luz elétrica! lembrou uma velhinha. A senhora Juliana e o Ti Carvalheira aceitaram a proposta. — Porque não?! Se o senhor professor quer ficar ao pé de nós, cá o receberemos com muito gosto! Os rapazes pararam as brincadeiras e ajudaram a levar as malas. Mais tarde veio uma camioneta de carga com muitos caixotes e embrulhos para o professor Miranda. Alguns eram pesados e foram os homens que pegaram neles às costas. “Que irá aqui dentro, que pesa mais que ferro?!...”, perguntaram os homens para os seus botões. Os meninos e as meninas correram a avisar os companheiros que não estavam no Largo. Alguns andavam com as cabras e as ovelhas no pasto. — Ei, ei! Temos um professor novo! — Um professor?!... Uma professora! — Não, um professor, até tem barbas compridas. UM PRO-FE-SSOR! — É novo? — Claro que é. E tem uns óculos grandes. Vocês hão de ver!...
  • 4. ♥♥♥♥ No primeiro dia de aulas, muito antes da hora, lá estavam os alunos, curiosos por ouvir o novo professor, que também apareceu bem cedo. Contou uma história com tantas aventuras como nunca tinham ouvido! Foi uma maravilha! A Da Maria era uma boa senhora, ensinava aquelas coisas da escola, mas o professor Miranda sabia contar histórias! A rapaziada ficou contente e, daí em diante, todos os dias vinham em grandes correrias, a ver quem chegava primeiro à escola. As pessoas da aldeia das Flores comentavam: — Quem diria que era tão amigo das crianças?!... — E dizem que sabe contar cada história mais bonita!!!... — E fazem passeios, recolhem tudo que podem. Até pedras levam para a escola!... — Pedras?!... Para quê? — O meu Chico diz que é para fazerem experiências, jogos, eu sei lá! — No nosso tempo não era assim... — Os tempos são outros... Você já reparou na sala da escola, já espreitou lá para dentro? — Eu não! — Então vá lá, e veja como aquela sala está mudada! Têm desenhos e pinturas a cobrir as paredes, flores por todo o lado eu sei lá quantas coisas mais!... — Olhe que um dia hei de passar por lá! — Ó comadre, você já reparou? — O quê? — Olhe, uma noite fui com o meu marido, o Joaquim, levar uma saca de milho ao moinho... — Sim. — Era quase meia-noite quando saímos de casa, toda a gente dormia... — Pois. Temos de nos deitar cedo, cansados como andamos. Noutras terras há cinemas e televisão para as pessoas se divertirem. Mas nós aqui, nesta aldeia, não temos nada... — Escute comadre! Só havia uma única luz acesa. E sabe onde?... Em casa do senhor professor Miranda!... — E então?! — Então?!... Quando viemos do moinho, ainda a luz estava acesa! — Lá se esqueceu de apagar a luz... — Qual quê! Ao outro dia, quando o sino grande da torre da igreja bateu duas horas da manhã, eu disse: “Joaquim, vamos ver se a luz do quarto do senhor professor está acesa?” Fomos espreitar e lá estava o quarto todo iluminado! E a noite seguinte a mesma coisa. E na outra. E na outra. — Porque será? Porque será?' Os meninos que andavam por perto ficaram entusiasmados com aquilo que ouviram.
  • 5. — Porque será que o professor fica com a luz acesa? — Sei lá! Se calhar esquece-se de a apagar... — Não pode ser! Tu nunca reparaste que ele, antes de sair da escola, vai sempre ver se fica tudo arrumado? — Lá isso é. Então porque será?!... — E se um de nós lhe perguntasse? — Boa ideia! ♥♥♥♥ Uma tarde, depois de tudo estar arrumado, o Tónio, antes que o professor desse as aulas por terminadas, perguntou; — Senhor professor, há um mistério que ainda ninguém conseguiu descobrir! Tinha o Tónio acabado de falar, quando se fez um grande silêncio. Podia-se ouvir uma mosca a voar. — Mistério?! -perguntou o professor. — Sim — respondeu o Tónio — Todas as pessoas da aldeia cismam por que razão o senhor professor fica com a luz acesa até quase ser dia... O professor passou a mão pelo cabelo branco e sorriu: — Ai sim! — Pois é... — Acho que podes descobrir esse mistério se quiseres visitar o meu quarto. Quando te apetecer aparece por lá! Já os meninos regressavam a suas casas e o Tónio a matutar: “Que haverá no quarto do professor?!...” E diziam-lhe os colegas: — Então Tónio, quando é que lá vais? — Se fosse eu, ia lá hoje mesmo! — Havia de abrir bem os olhos e descobrir esse mistério! — Se tu descobrires avisa a gente! A solução estava no quarto. E o que estaria no quarto? Nesse dia, quando a noite veio, por sinal uma linda noite, com uma grande lua, o Tónio comeu o caldo à pressa, poisou a malga e disse: — Mãe, eu vou falar com o senhor professor. A mãe ficou admirada. — Ó filho, é noite, amanhã tens tempo... O Tónio mentiu: — Mas o senhor professor disse para eu lá ir hoje mesmo! — Não te esqueças de limpar as chancas antes de entrares — recomendou a mãe.
  • 6. Numa grande corrida, as chancas que trazia calçadas a fazerem barulho nas pedras, o Tónio atravessou a rua estreita e daí a momentos parou à porta do professor. A luz estava acesa. Puxou o lenço do bolso e limpou o nariz. Bateu à porta. Ouviu passos. A porta abriu-se. O professor Miranda apareceu. — Olá, és tu! Entra, entra... Quando chegaram ao quarto o Tónio arregalou os olhos. Tanta coisa bonita! Nas paredes, pinturas de paisagens, meninos e cavalos. O que ele mais admirou, foi um quadro de um barco de velas brancas a navegar no azul do mar. O Tónio nunca tinha visto o mar. Encostado às paredes, estantes repletas de livros. Livros de muitas formas e feitios. Havia-os também espalhados pelo chão. Numa mesa que servia de secretária, uma máquina de escrever e muitas folhas dispersas. Nunca tinha visto tanto livro! E quadros bonitos! O professor sorria. — Então, rapaz?!... Mas o Tónio não disse nada. O professor perguntou: — Já descobriste? — O quê, senhor professor!? — O tal “mistério”... — Ah! Eu... eu... — Não?! Então vou tentar ajudar-te! Eu gosto muito de ler e escrever. Ora, como só à noite é que tenho tempo... — Põe-se a ler... — Claro — continuou o professor Miranda — de noite, quando não há praticamente barulho, fico aqui entregue aos meus livros, lendo ou escrevendo... — E o senhor professor escreve todas as noites? — Sim, quase todas. — E porquê?... Tem assim tanta coisa para contar todos os dias?! — Tenho! — Escreve cartas? — Poucas. Não é isso que escrevo. — Então?!... — Tónio estava intrigado. — Escrevo!... — Redações? Mas o professor disse que escrevia histórias. — Histórias?! Então aquelas... — Estás a pensar bem. Aquelas histórias que vos conto na escola, sou eu quem as invento e escrevo.
  • 7. — Ah! É por isso que fica toda a noite com a luz acesa!... — Ora vês! Já descobriste o “mistério” da luz acesa no meu quarto! O Tónio riu-se. Depois o professor Miranda dirigiu-se a uma das estantes. — Olha, disse o professor, vês aqui estes livros? — Vejo! — Os que estão neste cantinho, fui eu que os escrevi. — A sério?! O senhor... o senhor é um escritor? — perguntou o Tónio embasbacado. — Porque estás tão espantado? Como imaginavas tu um escritor? — Sei lá. Eu pensava que um escritor era assim um homem muito alto, muito sério, sempre fechado num quarto, a escrever, a escrever. Tónio sentia-se viajar sobre as nuvens. Nunca poderia imaginar que o professor Miranda escrevesse livros. Porque ele nem era muito alto e falava com todas as pessoas da aldeia. Também não estava fechado no quarto. Era afinal uma pessoa igual às outras. E ele a pensar que os escritores viviam nas grandes cidades, e afinal, à beira dele, estava um escritor! Lembrou-se de fazer uma pergunta: — Senhor professor, um livro custa muito a fazer? — Claro, tudo demora o seu tempo. Há muito trabalho a fazer. Olha, escrever uma história é quase como pegar num arado. Neste caso é a caneta. Escrever é lavrar um campo que não está cultivado. Lavra-se, grada-se, semeia-se, sacha-se, arrenda-se, rega-se. E lentamente a história vai ficando com forma, vai crescendo, amadurecendo. Num campo, depois do milho estar maduro, é que se corta e se recolhe. Assim é uma história: ao fim de muito tempo e de muita canseira é que está terminada. Depois, vai para a tipografia, para as máquinas de impressão. E, finalmente, aparece o livro. — Nunca tinha pensado nisso, senhor professor! Então o professor perguntou: — Queres levar um livro para leres? — Quero. O professar entregou-lhe um livrinho. — Lê-o Tónio, fui eu que o escrevi. O Tónio veio com o livro apertado ao peito, radiante. E só perto de casa é que se lembrou que não tinha agradecido ao professor. Quando entrou na cozinha, a mãe, que estava a fiar lã, ao vê-lo, ficou aflita: — Que tens filho?
  • 8. — Não tenho nada, minha mãe! Mas a mãe conhecia muito bem o filho. Sentia que tinha havido qualquer coisa que o impressionara. — Que foi? Que te aconteceu? Então ele disse: — Ai minha mãe, se visse tantos livros como eu vi no quarto do professor!... E sabe? Foi ele quem escreveu este que trago aqui! Emprestou-mo! Como a mãe não sabia ler, o Tónio abriu o livrinho na primeira página e começou a ler em voz alta: — Era uma vez... — O menino deu um salto no banco em que estava sentado: — Mas nós já conhecemos esta história. Não se lembra de eu lha ter contado? — Sim, sim — disse a mãe, que nunca parava de fiar — mas lê-a, que é muito bonita. O Tónio leu naquela noite as histórias todas. A mãe a ouvir, ambos maravilhados. Mas na casa do Tónio não havia luz elétrica. Apenas um candeeiro a petróleo alumiava o pequeno quarto. A candeia ficou sem petróleo. A luz começou a tremelicar. A mãe disse: — Filho, vamos dormir. A luz está a acabar... António Mota A Aldeia das Flores Porto, Edições Asa, 1999