SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 72
Baixar para ler offline
1    O Conjunto dos N´ meros Reais
                     u
O primeiro conjunto num´rico que consideramos ´ o Conjunto dos N´ meros
                       e                      e                   u
Naturais. Este conjunto est´ relacionado com a opera¸˜o de contagem:
                           a                        ca

                               N = {0, 1, 2, 3, ...}.

   Admitiremos conhecidas as opera¸˜es usuais adi¸˜o e multiplica¸˜o em N
                                  co              ca              ca
bem como os conceitos de n´meros pares, ´
                          u             ımpares e primos.
   O processo de medi¸˜o de grandezas f´
                      ca                ısicas nos conduzir´ ao conjunto de
                                                           a
n´meros reais.
 u

                     Problema: Medir um segmento AB.
   Fixamos um segmento padr˜o u e vamos chamar sua medida de 1.
                             a
   Dado um segmento AB , se u couber um n´mero exato de vezes em AB,
                                             u
digamos n vezes, ent˜o dizemos que a medida de AB ser´ n.
                    a                                a
   Claramente isto nem sempre ocorre.

   Defini¸˜o: Dizemos que um segmento AB e o segmento padr˜o u s˜o
         ca                                               a     a
            ´
COMENSURAVEIS se existir algum segmento w que caiba n vezes em u e
m vezes em AB.

    Voltando ao nosso problema de medi¸˜o, se o segmento AB e o segmento
                                           ca
padr˜o u forem comensur´veis , conforme a defini¸˜o acima, diremos que a
     a                      a                       ca
                   a n                              a   a 1
medida de AB ser´ m . A medida do segmento w ser´ ent˜o n .
    Isto nos motiva definirmos um conjunto num´rico que inclua todas estas
                                                  e
poss´ıveis medidas. Chamaremos este conjunto de Conjunto de N´ meros    u
Racionais Positivos: Q+ = { m |m, n ∈ N, n = 0}.
                                  n
    Alguns racionais representam as mesmas medidas. Por exemplo 2 e 1 . De
                                                                      4    2
fato, se existe um semento w que cabe 2 vezes no segmento unit´rio ent˜o
                                                                     a          a
a metade deste segmento cabe 2 vezes nele e 4 vezes no segmento unit´rio.    a
Vamos ent˜o dizer que 1 = 2 . De um modo geral dizemos que m1 = m2 se
             a            2   4                                   n
                                                                    1
                                                                           n
                                                                             2


m1 n2 = n1 m2 .
    Continuando com o problema da medi¸˜o nos deparamos com um grande
                                             ca
problema. Nem sempre dois segmentos s˜o comensur´veis. De fato, considere-
                                           a         a
mos por exemplo a hipotenusa de um triˆngulo retˆngulo de catetos iguais a 1.
                                          a       a
Suponhamos que esta hipotenusa seja comensur´vel com o segmento unit´rio
                                                a                             a
padr˜o u.
     a
    Ent˜o existiriam naturais n e m tais que a medida da hipotenusa seria
        a
igual a m . Vamos supor que m e n sejam primos entre si, isto ´ , ´ imposs´
         n                                                    e e             ıvel
simplificarmos mais esta express˜o. De acordo com o teorema de Pit´goras
                                    a                                     a
ter´
   ıamos que
                                             m2
                                  12 + 12 = 2 .
                                             n
           2    2               2
Assim 2n = m e portanto m seria um n´mero par e portanto m tamb´m o
                                              u                             e
seria. Logo existiria algum k ∈ N tal que m = 2k. Assim 4k 2 = 2n2 e portanto

                                         1
n2 = 2k 2 o que implicaria que n tamb´m seria par. Note que isto ´ um absurdo.
                                     e                           e
Este absurdo surgiu do fato de termos suposto que a medida da hipotenusa fosse
um n´mero racional.
     u
    No entanto esta hipotenusa existe e ´ muito bem determinada em cima da
                                        e
reta. Ampliamos o conceito de n´mero de tal forma que todos os segmentos
                                   u
possuam uma medida associada. Introduzimos os chamados N´ meros Ir-u
racionais, de tal modo que , fixando uma unidade de comprimento padr˜o,     a
qualquer segmento de reta tem uma medida num´rica.
                                                 e

1.1    A Reta Real
Fixamos uma reta e um ponto chamamos de origem 0. Escolhemos um outro
ponto A, a direita da origem. Fixamos 0A como unidade de comprimento.
Facilmente marcamos sobre a reta os n´meros naturais.
                                     u
   Na semi-reta da esquerda marcamos segmentos, com extremidade na origem,
com as mesmas medidas dos segmentos que definem os naturais e associamos
`s suas extremidades esquerdas n´meros com um sinal −. Formamos ent˜o o
a                               u                                     a
chamado Conjunto dos N´ meros Inteiros:
                           u

                          Z = {..., −2, −1, 0, 1, 2, ...}.

    Em seguida marcamos todos os segmentos, com extremidade na origem,
comensur´veis com o segmento o segmento padr˜o 0A. Os que ficarem ` direita
         a                                      a                    a
ser˜o associados aos racionais positivos e os que ficarem ` esquerda ganhar˜o
   a                                                     a                a
um sinal −. Definimos ent˜o o Conjunto dos N´ meros Racionais:
                          a                       u
                                 m
                        Q == {     |m ∈ Z, n ∈ N, n = 0}.
                                 n
    Como vimos acima esta constru¸˜o n˜o ocupa todo o espa¸o existente na
                                 ca a                      c
reta. Se pararmos por aqui nossa reta ficar´ com v´rios ”buracos”. A cada
                                          a      a
um destes buracos associamos um n´mero, que chamaremos de irracional .
                                  u
Finalmente definimos o Conjunto dos N´ meros Reais:
                                       u

                       R = {x|x ∈ Q ou x eirracional}.
                                         ´

    Existe uma correspondˆncia biun´
                            e         ıvoca entre os n´meros reais e os pontos da
                                                      u
reta. Mais precisamente, a cada n´mero real est´ associado um e somente um
                                    u              a
ponto da reta e a cada ponto da reta est´ associado um e somente um n´mero
                                           a                               u
real. No que segue, n˜o distinguiremos pontos da reta e n´meros reais.
                      a                                    u
    ´
    E claro que N ⊂ Z ⊂ Q ⊂ R.
    Dizemos que x ∈ R ´ positivo, e denotamos x > 0, se x estiver no lado
                          e
direito da reta; dizemos que x ´ negativo, e denotaremos x < 0 , se x estiver no
                               e
lado esquerdo da reta. As nota¸˜es ≥ e ≤ indicam, respectivamente maior ou
                                 co
igual e menor ou igual.
    Vamos introduzir as opera¸˜es adi¸˜o e multiplica¸˜o em R.
                              co        ca              ca

   Defini¸˜o:
        ca

                                         2
a) Sejam x1 ∈ R e x2 ≥ 0. Definimos x1 + x2 como o n´mero real associado
                                                          u
a ”ponta final” do segmento, orientado para direita, com extremidade inicial em
x1 , e com medida igual a medida do segmento associado a x2 .
     b)Sejam x1 ∈ R e x2 ≤ 0. Marcamos na reta o seguinte ponto: com ex-
tremidade inicial em x1 e orientado para o lado esquerdo, com medida igual
a do segmento associado a x2 . O n´mero real associado a ”ponta final” deste
                                   u
segmento ser´ chamado de x1 + x2 .
              a

    Defini¸˜o:
          ca
    a) Se x > 0 e y > 0 definimos o produto xy da seguinte forma: Tra¸amos
                                                                      c
uma reta l formando um ˆngulo inferior a 90o com a reta real e passando
                            a
pela origem. Na reta real marcamos a unidade 1 e o n´mero y. Na reta l
                                                         u
marcamos o x. Consideramos a reta que passa por 1 e por x e chamamos de s.
Da geometria sabemos que existe uma unica reta t paralela a s e que passa y.
                                      ´
Finalmente marcamos em l o ponto P , itersec¸˜o desta com t. Com a ponta
                                              ca
seca do compasso em 0 e abertura igual a 0P marcamos na reta real o ponto
Q. O n´mero real associado a este ponto ser´ chamado de xy.
        u                                  a
    b) Nos demais casos ´ s´ mudar o sinal xy convenientemente:
                        e o
                                 x y xy
                                 + − +
                                 − + −
                                 − − +
   Observa¸˜o: Se fixarmos nossa aten¸˜o para os n´meros racionais veremos
            ca                        ca            u
que as defini¸˜es acima coincidem com as tradicionais:
            co
                             a    c       ad + bc
                               +      =
                             b    d          bd
                               a c        ac
                                .     =      .
                               b d        bd

   O conjunto R munido das opera¸˜es definidas acima forma o que chamamos
                                co
de CORPO. Mais precisamente , satisfaz as seguintes propriedades:

   1) Associatividade da Adi¸˜o e da Multiplica¸˜o:
                            ca                 ca
                  (x + y) + z   = x + (y + z), ∀x, y, z ∈ R
                       (xy)z    = x(yz), ∀x, y, z ∈ R
   2) Comutatividade da Adi¸˜o e da Multiplica¸˜o:
                           ca                 ca
                         x+y     = y + x, ∀x, y ∈ R
                          xy     = yx, ∀x, y ∈ R
   3) Existˆncia de Elemento Neutro para a Adi¸˜o e para a Multiplica¸˜o:
           e                                  ca                     ca
                            x + 0 = x, ∀x ∈ R
                              x.1 = x, ∀x ∈ R

                                      3
4) Existˆncia de Oposto para Adi¸˜o:
           e                       ca

                    ∀x ∈ R, ∃(−x) ∈ R tal que x + (−x) = 0.

   5) Existˆncia de Inverso para a Multiplica¸˜o:
           e                                 ca

                      ∀x ∈ R{0}, ∃y ∈ R tal que xy = 1.

   6) Distributividade da Multiplica¸˜o em Rela¸˜o ` Adi¸˜o:
                                    ca         ca a     ca

                        x(y + z) = xy + xz, ∀x, y, z ∈ R.


   Defini¸˜o: Dizemos que x < y se y − x > 0.
        ca

   Dentro dos reais destacamos o conjunto dos reais positivos:

                             R+ = {x ∈ R|x > 0}.

   Observe que as seguintes condi¸˜es s˜o satisfeitas:
                                 co    a
   a) A soma e o produto de elementos positivos s˜o positivos. Ou seja
                                                   a

                     x, y ∈ R+ ⇒ x + y ∈ R+ e x.y ∈ R+ .

   b) Dado x ∈ R ou x = 0 ou x ∈ R+ ou −x ∈ R+ .

   As duas propriedades acima caracterizam o que chamamos de CORPO OR-
DENADO.
   Como em qualquer outro corpo ordenado, rela¸˜o de ordem ” < ” goza das
                                                ca
seguintes propriedades:

   1) Transitiva:
                      (x, y, z ∈ R, x < y, y < z) ⇒ x < z.
   2) (Tricotomia) Quaisquer que sejam x e y ∈ R :

                           x < y ou y < x ou x = y.

   3) Compatibilidade da Ordem com a Adi¸˜o:
                                        ca

                      (x, y, z ∈ R, x < y) ⇒ x + z < y + z.

   4) Compatibilidade da Ordem com a Multiplica¸˜o:
                                               ca

                     (x, y, z ∈ R, x < y, 0 < z) ⇒ xz < yz.


   Observa¸˜o: Note que as propriedades de corpo e as propriedades de corpo
              ca
ordenado tamb´m s˜o satisfeiras para Q. Vamos agora destacar uma propriedade
                e a
que ´ satisfeita por R mas n˜o por Q.
    e                       a

                                       4
Defini¸˜o:Dado um subconjunto A ⊂ R dizemos que A ´ limitado se existe
          ca                                       e
K > 0 tal que
                      x ∈ A ⇒ −K < x < K.
   Defini¸˜o:Dizemos que s ∈ R ´ o supremo de A se s for a menor das cotas
          ca                  e
superiores de A :

                             x ≤ s, ∀x ∈ A;
                             x ≤ c, ∀x ∈ A ⇒ s ≤ c.

    Defini¸˜o:Dizemos que i ∈ R ´ o ´
           ca                  e ınfimo de A se i for a maior das cotas
inferiores de A :

                              x ≥ i, ∀x ∈ A;
                              x ≥ c, ∀x ∈ A ⇒ i ≥ c.

   O conjunto R satisfaz a propriedade:

    Axioma do Supremo: Todo conjunto limitado e n˜o vazio de n´meros
                                                 a            u
reais possui um supremo e um ´
                             ınfimo real.

   Observemos que esta propriedade n˜o ´ satisfeita por Q. Considere o con-
                                    a e
junto A = {x ∈ Q|0 < √2 < 2}.
                     x
   O supremo de A ´ 2 que como vimos antes n˜o ´ um n´mero racional.
                   e                           a e       u

  A propriedade acima nos diz que o conjunto dos n´meros reais ´ um CORPO
                                                  u            e
ORDENADO COMPLETO.

   Teorema dos Intervalos Encaixantes: Seja [a0 , b0 ] , [a1 , b1 ] , ..., [an , bn ] , ...
uma sequˆncia de intervalos satisfazendo:
        e
  a) [a0 , b0 ] ⊃ [a1 , b1 ] ⊃ ... ⊃ [an , bn ] ⊃ ...
  b) Para todo r > 0 existe um natural n tal que

                                     bn − an < r.

   Ent˜o, existe um unico real c tal que para todo natural n
      a             ´

                                     an ≤ c ≤ bn .

   Demonstra¸˜o: Temos que A = {a0 , a1 , ...} ´ n˜o vazio e limitado superi-
               ca                              e a
ormente. Seja ent˜o
                 a
                            c = sup A.
   ´
   E claro que
                                     an ≤ c ≤ bn .
   Suponhamos que exista d , diferente de c satisfazendo

                                     an ≤ d ≤ bn .

                                            5
Neste caso ter´
                 ıamos
                            |c − d| < bn − an , ∀n.
   Como a distˆncia bn − an aproxima-se de zero , ter´
              a                                      ıamos que c = d.

   Para completarmos esta se¸˜o vamos provar :
                            ca

   Teorema
   a) Entre dois n´meros reais distintos sempre existe um n´mero irracional;
                  u                                        u
   b) Entre dois n´meros reais distintos sempre existe um n´mero racional.
                  u                                        u

    Demonstra¸˜o: Provemos a primeira afirma¸˜o. Sejam x e y dois n´meros
                  ca                            ca                    u
reais distintos. Sem perda de generalidade suponhamos x < y. Assim y − x > 0.
    Observe que ´ poss´ encontrarmos n´meros naturais n, m tais que
                  e    ıvel               u

                             n (y − x) > 1
                                         √
                             m (y − x) >   2

(este fato ´ conhecido como Princ´
           e                     ıpio de Arquimedes). Desta forma temos que
                                        1
                             x <     x+    <y
                                        n
                                        √
                                          2
                             x <     x+     <y
                                         n
                                                                           √
e assim se x for irracional, assim ser´ x + n e se x for racional ent˜o x + n2
                                      a     1
                                                                     a
ser´ irracional. De qual quer forma conseguimos encontrar um irracional entre
   a
x e y.
    Provemos a segunda afirma¸˜o. Sejam x e y dois n´meros reais distintos.
                                 ca                      u
Inicialmente observemos que se x < 0 < y ent˜o nada temos para provar pois 0
                                              a
´ racional. Suponhamos 0 < x < y. Assim y − x > 0. Novamente aplicando o
e
princ´ıpio de Arquimedes encontramos um natural n tal que

                               n(y − x) > 1
                                    nx > 1

   Seja j tal que
                               j     j+1
                                 ≤x<
                               n      n
   Notemos que
                      j+1  j 1
                          = + < x + (y − x) = y
                       n   n n
    Logo basta tomarmos j+1 .
                          n
    Se x < y < 0 ent˜o 0 < −y < −x e pelo primeiro caso encontramos um
                     a
racional entre −y e −x. O sim´trico deste racional ser´ o racional procurado.
                              e                       a



                                      6
Exerc´ıcios: As propriedades que destacamos acima s˜o suficientes para
                                                           a
deduzirmos uma s´rie de outras, conforme os exerc´
                e                                ıcios abaixo.

   1) Prove que quaisquer que sejam os reais x, y, z

                             x + z = y + z ⇒ x = y.


   2) Prove que quaisquer que sejam os reais x, y, z, w

                             0≤x≤y
                                   ⇒ xz ≤ yw.
                             0≤z≤w

   3) Prove que quaisquer que sejam os reais x, y, z, w tem-se:

                          a)x < y ⇔ x + z < y + z.
                             b)z > 0 ⇔ z −1 > 0.
                              c)z > 0 ⇔ −z < 0.
                          d)z > 0, x < y ⇔ xz < yz.
                          e)z < 0, x < y ⇔ xz > yz.
                               0≤x<y
                        f)           ⇒ xz < yw
                               0≤z<w
                        g)0 < x < y ⇒ 0 < y −1 < x−1
                         h)x < y ou x = y ou y < x.
                         i)xy = 0 ⇔ x = 0 ou y = 0.


   4) Suponha x ≥ 0 e y ≥ 0. Prove que:

                             a)x < y ⇒ x2 < y 2 .
                             b)x ≤ y ⇒ x2 ≤ y 2
                             c)x < y ⇔ x2 < y 2 .



1.2    Sequˆncias de N´ meros Reais
           e          u
Nesta se¸˜o estudaremos fun¸˜es reais de uma vari´vel real cujo dom´
        ca                   co                    a                  ınio ´ um
                                                                           e
subconjunto do conjunto dos n´meros naturais. Tais fun¸˜es recebem o nome de
                              u                         co
sequˆncias. N˜o daremos um tratamento anal´
    e        a                               ıtico completo ao assunto, apenas
iremos introduzir o conceito e provaremos as principais propriedades.

   Defini¸˜o: Uma sequˆncia de n´meros reais ´ uma fun¸˜o
        ca           e         u            e        ca

                                f :A⊂N →R

                                       7
Nota¸˜o: Denotamos (an ) onde f (n) = an . Em geral apresentaremos a
         ca
sequˆncia pela lei de defini¸˜o e consideraremos o dom´
    e                      ca                        ınio como o maior sub-
conjunto de N onde tem sentido a lei de defini¸˜o.
                                             ca

   Exemplos:
   1) (an ) dada por an = n ´ a sequˆncia formada pelos n´meros 1, 1 , 3 , ...
                          1
                             e       e                       u     2
                                                                       1

   2) (an ) dada por an = 2 ´ a sequˆncia constante 2, 2, 2, ...
                            e       e
                               n
   3) (an ) dada por an = (−1) ´ a sequˆncia 1, −1, 1, −1,...
                                 e       e

   Defini¸˜o: Diz-se que uma sequˆncia (an ) converge para um n´mero L ou
          ca                       e                             u
tem limite L se , dado qualquer n´mero ε > 0 , ´ sempre poss´ encontrar um
                                 u             e            ıvel
n´mero natural N tal que
 u

                            n > N → |an − L| < ε.

   Denotamos
                            lim an = L ou an → L.
                          n→+∞

   Intuitivamente dizer que (an ) converge para L significa dizer que os termos
da sequˆncia aproximam-se de L quando n cresce .
       e
   Exemplo:
                                     1
   A sequˆncia (an ) dada por an = n converge para 0.
          e
   De fato, dado ε > 0, tomamos N o primeiro n´mero natural maior que 1 e
                                                 u                          ε
temos que
                                        1     1
                         n>N →n> →               < ε.
                                        ε     n
    Defini¸˜o: Quando uma sequˆncia n˜o converge diz-se que ela diverge ou
           ca                      e     a
que ´ divergente.
     e
    Exemplos:
                                           n
    1) A sequˆncia (an ) dada por an = (−1) ´ divergente. De fato, seus termos
              e                              e
oscilam entre −1 e 1.
    2) A sequˆncia (an ) dada por an = n ´ divergente. De fato, seus termos
               e                           e
crescem indefinidamente.

  Defini¸˜o: Uma sequˆncia (an ) ´ dita limitada se existir um n´mero real
          ca        e            e                             u
K > 0 tal que
                           |an | ≤ K, ∀n.
   Exemplos:
                                    1
   1) As sequˆncias dadas por an = n , an = cos n s˜o exemplos de sequˆncias
             e                                     a                  e
limitadas.
   2) A sequˆncia (an ) dada por an = n2 n˜o ´ limitada.
            e                             a e

    Observa¸˜o: Ser limitada n˜o ´ o mesmo que ter limite. Se uma sequˆncia
             ca                   a e                                      e
for convergente ent˜o ela ser´ limitada mas nem toda sequˆncia limitada ´ con-
                    a        a                              e             e
                                                                             n
vergente. De fato, considere por exemplo a sequˆncia (an ) dada por an = (−1) .
                                               e


                                       8
Defini¸˜o:
         ca
                              a        e         ´
  1) Se a1 < a2 < a3 < ... ent˜o (an ) ´ dita MONOTONA CRESCENTE.
                                                   ´     ˜
  2) Se a1 ≤ a2 ≤ a3 ≤ ... ent˜o (an ) ´ dita MONOTONA NAO DECRES-
                                a        e
CENTE.
                              a        e         ´
  3) Se a1 > a2 > a3 > ... ent˜o (an ) ´ dita MONOTONA DECRESCENTE.
                                                     ´     ˜
  4) Se a1 ≥ a2 ≥ a3 ≥ ... ent˜o (an ) ´ dita MONOTONA NAO CRES-
                                  a         e
CENTE.

   Teorema: Toda sequˆncia mon´tona limitada ´ convergente.
                       e         o               e
   Demonstra¸˜o:Vamos provar que toda sequˆncia n˜o decrescente e limi-
               ca                              e     a
tada converge para seu extremo superior e deixaremos os demais casos como
exerc´
     ıcio.
   Seja K > 0 tal que
                          a1 ≤ a2 ≤ a3 ≤ ... ≤ K
   Assim temos que o conjunto

                                  {an |n ∈ N }

´ limitado superiormente.Pela propriedade do supremo temos que existe L ∈ R
e
tal que
                             L = sup{an |n ∈ N }.
   Afirmamos que
                                L = lim an .
                                      n→+∞

    De fato , dado ε > 0 temos que L − ε n˜o ´ uma cota superior de {an |n ∈ N }
                                          a e
e assim exite N > 0 tal que
                                  aN > L − ε
e portanto

             n > N → L − ε < aN ≤ an < L < L + ε → |an − L| < ε.




                 Uma importante aplica¸˜o: O n´ mero e
                                      ca      u

   Vamos provar que:
   1) A sequˆncia dada por
            e
                                                 n
                                            1
                               an =    1+
                                            n

´ crescente e limitada e portanto convergente.
e
    2) Sendo (an ) convergente, escrevemos

                                  e = lim an
                                      n→∞


                                       9
e provamos que 2 < e < 3.

   1)
   Inicialmente mostremos que a sequˆncia ´ crescente.
                                    e     e
   Vamos provar que , para todo n temos
                                             an+1
                                                  > 1.
                                              an
   Temos
                         n+1                   n+1            n+1
                    1                  n+2              n+2
              1+   n+1                 n+1              n+1
                     1 n
                                 =      n+1 n
                                                 =                   =
               1+                                     n+1 n+1 n
                     n                   n             n        n+1
                                                 n+1               n+1
                                       n+2 n              n2 +2n
                                       n+1 n+1                  2
                                                          (n+1)
                                 =          n         =        n       =
                                           n+1                n+1
                                                  n+1                  n+1
                                       (n+1)2 −1                  1
                                        (n+1)2
                                                           1 − (n+1)2
                                 =           n         =          n                     =∗
                                           n+1                   n+1

   Aplicando a desigualdade de Bernoulli em ∗ temos
                                                −1
                               1 + (n + 1)    (n+1)2           1−    1
                                                                    n+1
                         ∗>             n                  =       n      = 1.
                                       n+1                        n+1

   Logo a sequˆncia ´ crescente.
              e     e
   Provemos agora que a sequˆncia ´ limitada. Temos
                              e   e
          n
      1                1   n(n − 1) 1          n (n − 1) ... (n − (k − 1)) 1          1
 1+            = 1 + n.  +         . 2 + ... +                                + ... + n =
      n                n       2    n                       k!             nk        n
                         1       1         1       1        2          k−1
               = 1+1+       1−     + ... + (1 − )(1 − )... 1 −                 +
                         2       n        k!       n        n            n
                      1      1      2          n−1
                 ... + (1 − )(1 − )... 1 −
                      n!    n       n            n
   Por indu¸˜o ´ f´cil provar que
           ca e a
                                     1     1
                                        ≤ n−1 , ∀n ∈ N.
                                     n!  2
   Assim
                           n                                                     n
                     1                    1          1       1− 1
                                                                2
               1+              ≤1+1+        + .... + n = 1 +                         < 3.
                     n                    2         2         1− 1
                                                                 2

   Conclu´
         ımos que
                                                       n
                                                  1
                                     2<      1+            < 3.
                                                  n

                                                10
2)
                 1 n
    Como    1+   n     ´ convergente escrevemos
                       e
                                                   n
                                              1
                             e = lim     1+            .
                                 n→∞          n

2     Limites de Fun¸˜es Reais Definidas em Inter-
                    co
      valos
2.1    Introdu¸˜o
              ca

Neste cap´ıtulo introduziremos o conceito de limite. Restringiremos nosso es-
tudo para as fun¸˜es reais definidas em intervalos. Deixaremos para o curso de
                  co
An´lise Matem´tica o estudo de limites quando as fun¸˜es est˜o definidas em
   a            a                                       co     a
um subconjunto qualquer da reta.
   Todas as fun¸˜es que consideraremos neste cap´
                 co                                ıtulo s˜o do tipo f : I → R
                                                          a
onde I ´ uma uni˜o de intervalos.
       e           a

   Defini¸˜o: Dizemos que f : I → R est´ definida em uma vizinhan¸a de p,
          ca                               a                   c
exceto possivelmente em p, se existir algum r > 0 tal que

                                 (p − r, p) ⊂ I

e
                                 (p, p + r) ⊂ I.
    Exemplos:
    1) Uma fun¸˜o definida em um intervalo aberto f : (a, b) → R est´ definida
               ca                                                   a
em uma vizinhan¸a de p, qualquer que seja p ∈ (a, b).
                  c
    2) Uma fun¸˜o definida em um intervalo fechado f : [a, b] → R est´ definida
               ca                                                   a
em uma vizinhan¸a de p, qualquer que seja p ∈ (a, b). Note que f n˜o est´
                   c                                                  a     a
definida em uma vizinhan¸a de a e nem em uma vizinhan¸a de b. O mesmo
                         c                                  c
permanece v´lido para qualquer outra combina¸˜o de ( ou [.(verifique isso).
            a                                ca
                                                        2
    3) Consideremos f : R{1} → R dada por f (x) = x −1 . Observe que f
                                                       x−1
est´ definida em uma vizinhan¸a de 1, exceto no ponto 1.
   a                        c

2.2    Defini¸˜o de Limite
            ca
Defini¸˜o: Seja f : I → R uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a de p,
       ca                              ca                              c
exceto possivelmente em p. Dizemos que o limite de f (x) ao x tender a p ´    e
igual a L ∈ R se para qualquer ε > 0 existir δ > 0 tal que para 0 < |x − p| < δ
tem-se |f (x) − L| < ε. Denotamos

                                 lim f (x) = L.
                                 x→p




                                       11
Intuitivamente a defini¸˜o acima est´ nos dizendo que a medida que x
                         ca             a
aproxima-se de p temos que f (x) aproxima-se de L :

                ∀ε > 0, ∃δ > 0, 0 < |x − p| < δ ⇒ |f (x) − L| < ε
   Exemplos:
   1) Seja k ∈ R uma constante e p ∈ R. Provemos que lim k = k. De fato,
                                                              x→p
dado ε > 0 existe δ = 1 tal que

                       0 < |x − p| < 1 ⇒ |k − k| = 0 < ε.
                                                                       ε
   2) Provemos que lim (2x − 4) = 2. De fato, dado ε > 0 existe δ =    2   tal que
                     x→3

                              ε
              0 < |x − 3| <     ⇒ |2x − 6| < ε ⇒ |(2x − 4) − 2| < ε.
                              2
   3) Observe que o valor que a fun¸˜o assume no ponto p n˜o influencia seu
                                     ca                      a
                                                          −x + 4, se x = 1
limite ao x tender a p. Seja f : R → R dada por f (x) =                    .
                                                             7, se x = 1
   Temos que lim f (x) = 3. De fato, dado ε > 0 existe δ = ε tal que
               x→1

              0 < |x − 1| < ε ⇒ |−x + 4 − 3| < ε ⇒ |f (x) − 3| < ε.
                                                 16−x2
   4) Seja f : R{−4} → R dada por f (x) =        x+4 .   Temos que para x = −4,
16−x2
 x+4    = 4 − x e assim lim f (x) = lim (4 − x) = 8. De fato , dado ε > 0
                         x→−4           x→−4
tomamos δ = ε e temos

        0 < |x − (−4)| < ε ⇒ 0 < |x + 4| < ε ⇒ |4 − x − 8| = |x + 4| < ε.


   Podemos caracterizar o limite de fun¸˜es reais utilizando sequˆncias de
                                       co                        e
n´meros reais.
 u

   Teorema : Sejam f uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a de p ∈ R
                                 ca                             c
exceto possivelmente em p e L ∈ R . Vale que lim f (x) = L se e somene se
                                                 x→p

              ∀ (xn ) tal que xn → p , xn = p , tem-se f (xn ) → L.


   Demonstra¸˜o: Suponhamos que lim f (x) = L. Seja xn tal que xn → p.
            ca
                                          x→p
Provemos que f (xn ) → L.
   Seja ε > 0. Ent˜o existe δ > 0 tal que
                  a

                       0 < |x − p| < δ → |f (x) − L| < ε.

   Como xn → p, xn = p temos que exite N natural tal que

                 n > N → 0 < |xn − p| < δ → |f (xn ) − L| < ε.

                                        12
Reciprocamente, suponhamos que

              ∀ (xn ) tal que xn → p , xn = p , tem-se f (xn ) → L.

   Provemos que lim f (x) = L.
                  x→p
   Se isto n˜o fosse verdade existiria ε > 0 tal que para qualquer δ > 0 existiria
            a
x tal que
                        0 < |x − p| < δ e |f (x) − L| > ε.
                  1
   Tomando δ =    n   existiria xn tal que
                                         1
                       0 < |xn − p| <      e |f (xn ) − L| > ε.
                                         n
         ı ıamos xn → p, xn = p e no entanto f (xn ) n˜o estaria convergindo
   Mas da´ ter´                                       a
para L.
   Logo
                            lim f (x) = L.
                                   x→p




2.3    Unicidade, Conserva¸˜o de Sinal e Limita¸˜o
                          ca                   ca
Come¸aremos esta se¸˜o provando a unicidade do limite.
    c              ca

   Teorema: Seja f uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a de p ∈ R exceto
                              ca                          c
possivelmente em p. Se existe L ∈ R tal que lim f (x) = L ent˜o L ´ unico.
                                                             a    e´
                                                  x→p


   Demonstra¸˜o:Suponhamos que lim f (x) = M .Vamos provar que L = M.
            ca
                                          x→p
   Suponhamos que L = M. Sem perda de generalidade podemos supor L < M.
                 −L
   Tomemos ε = M 2 . Assim existe δ1 > 0 tal que
                                                M −L           M +L
          0 < |x − p| < δ1 ⇒ |f (x) − L| <           ⇒ f (x) <      .
                                                  2              2
   Por outro lado existe δ2 > 0 tal que
                                                M −L           M +L
         0 < |x − p| < δ2 ⇒ |f (x) − M | <           ⇒ f (x) >      .
                                                  2              2
   Tomando δ = min{δ1 , δ2 } temos que
                                        M +L           M +L
                  0 < |x − p| < δ ⇒          < f (x) <
                                          2              2
e isto ´ um absurdo.
       e
    Logo L = M.

   A seguir provaremos que a existˆncia de lim f (x) implicar´ na limita¸˜o da
                                  e                          a          ca
                                                 x→p
fun¸˜o em uma vizinhan¸a do ponto p.
   ca                 c

                                          13
Teorema: Seja f uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a de p ∈ R exceto
                              ca                           c
possivelmente em p. Se existe L ∈ R tal que lim f (x) = L ent˜o existem δ > 0
                                                             a
                                                     x→p
e M > 0 tais que
                              0 < |x − p| < δ ⇒ |f (x)| < M.

      Demonstra¸˜o: Tomando ε = 1 na defini¸˜o de limite temos que
               ca                         ca

                     ∃δ > 0, 0 < |x − p| < δ ⇒ |f (x) − L| < 1

      Da desigualdade triangular temos

                                |f (x)| − |L| ≤ |f (x) − L|

e portanto
                                     |f (x)| ≤ 1 + |L| .
      Logo basta tomarmos M = 1 + |L| e δ como acima.

    Vamos provar agora o teorema da conserva¸˜o do sinal. Em suma o teorema
                                                ca
ir´ nos dizer que o limite tem que ter o mesmo sinal da fun¸˜o em uma vizinhan¸a
  a                                                        ca                 c
do ponto ou ser nulo.

   Teorema: Sejam f uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a de p ∈ R,
                                ca                         c
exceto possivelmente em p, e L ∈ R tais que lim f (x) = L.
                                                       x→p
      a) Se L > 0 ent˜o existe δ > 0 tal que
                     a

                               0 < |x − p| < δ ⇒ f (x) > 0.

      b) Se L < 0 ent˜o existe δ > 0 tal que
                     a

                               0 < |x − p| < δ ⇒ f (x) < 0.


      Demonstra¸˜o: Vamos provar a) e deixaremos como exerc´ a prova de
               ca                                          ıcio
b).
                    L
      Tomamos ε =   2   e temos que existe δ > 0 tal que

                                                              L
                          0 < |x − p| < δ ⇒ |f (x) − L| <       .
                                                              2
                          L
      Segue que f (x) >   2   > 0.




                                             14
2.4    C´lculo de Limites
        a
Nesta se¸˜o demonstraremos algumas propriedades operacionais que facilitar˜o
         ca                                                               a
o c´lculo de limites.
   a




   Teorema: Sejam f e g fun¸˜es definidas em uma vizinhan¸a de um ponto
                             co                         c
p ∈ R , exceto possivelmente em p;L , M ∈ R tais que lim f (x) = L e
                                                                x→p
lim g(x) = M e k uma constante real.
x→p
   Ent˜o:
      a
   a) Existe lim (f (x) + g(x)) e lim (f (x) + g(x)) = L + M.
             x→p                     x→p
   b) Existe lim (f (x) − g(x)) e lim (f (x) − g(x)) = L − M.
             x→p                     x→p
   c) Existe lim (f (x).g(x)) e lim (f (x).g(x)) = L.M .
             x→p                x→p
   d) Existe lim kf (x) e lim kf (x) = kL.
             x→p            x→p
   e) Se M = 0, existe   lim f (x)   e lim f (x)
                                                   =   L
                                                       M.
                         x→p g(x)      x→p g(x)




   Demonstra¸˜o:ca
   a) Seja ε > 0. De acordo com nossa hip´tese temos que existem δ1 > 0 e
                                         o
δ2 > 0 tais que
                                                    ε
                   0 < |x − p| < δ1 ⇒ |f (x) − L| < ,
                                                    2
                                                     ε
                   0 < |x − p| < δ2 ⇒ |g(x) − M | < .
                                                     2
Tomando δ = min{δ1 , δ2 } temos que
               0 < |x − p| < δ ⇒ |f (x) + g(x) − (L + M )| <
                                               ε ε
                 < |f (x) − L| + |g(x) − M | < + = ε.
                                               2 2
   b) Deixamos como exerc´   ıcio.
   d) Se k = 0 ent˜o ´ trivial. Suponhamos k = 0. Seja ε > 0. Da nossa hip´tese
                  a e                                                     o
temos que existem δ > 0 tal que
                                                       ε
                      0 < |x − p| < δ ⇒ |f (x) − L| <     .
                                                      |k|
   Assim temos
      ∃δ1   = δ > 0 tal que
                                                                    ε
        0 < |x − p| < δ1 ⇒ |kf (x) − kL| = |k| |f (x) − L| < |k|       = ε.
                                                                   |k|

                                           15
1
   c) Inicialmente observemos que f (x).g(x) = 4 [(f (x)+g(x))2 −(f (x)−g(x))2 ].
   Provemos que, dada uma fun¸˜o h definida em uma vizinhan¸a de p, exceto
                                ca                               c
possivelmente em p, e satisfazendo lim h(x) = N temos lim h(x)2 = N 2 . De
                                           x→p                      x→p
fato, de acordo com o teorema da limita¸˜o, temos
                                       ca
                        ∃δ1 > 0, ∃K > 0 tais que
                          0 < |x − p| < δ1 ⇒ |h(x)| < K.
    Al´m disso, dado ε > 0, temos
      e
                ∃δ2     > 0 tal que
                                                                  ε
                   0 < |x − p| < δ2 ⇒ |h(x) − N | <                     .
                                                               K + |N |
    Tomamos δ satisfazendo δ = min{δ1 , δ2 } temos
         0 < |x − p| < δ ⇒ h(x) − N 2 = |h(x) − N | |h(x) + N | <
                                ε                     ε
           < (|h(x)| + |N |)          < (K + |N |)          = ε.
                             K + |N |              K + |N |
    Desta forma
                                       1
         lim (f (x).g(x)) = lim          [(f (x) + g(x))2 − (f (x) − g(x))2 ] = ∗
         x→p                     x→p   4
    Pela propriedade d) temos
                       1
                ∗=       lim [(f (x) + g(x))2 − (f (x) − g(x))2 ] = ∗∗
                       4 x→p
e pela propriedade b)
                  1                      1
           ∗∗ =     lim (f (x) + g(x))2 − lim (f (x) − g(x))2 = ∗ ∗ ∗
                  4 x→p                  4 x→p
e aplicando o que acabamos de provar
                  1                         1
        ∗∗∗=        ( lim (f (x) + g(x)))2 − ( lim (f (x) − g(x)))2 = ∗ ∗ ∗∗
                  4 x→p                     4 x→p
e voltando a aplicar a) e b) finalmente temos
                                 1
                      ∗ ∗ ∗∗ =     [(L + M )2 − (L − M )2 ] = LM.
                                 4
                                                                     1          1
    e) Para provarmos e) ´ suficiente provarmos que lim
                         e                                                  =   M.   De fato
                                                                x→p g(x)
f (x)          1
g(x) = f (x). g(x) e sabemos operar o produto por d).
    Seja ε > 0. Como lim g(x) = M = 0 temos que
                        x→p

          ∃δ1   > 0 tal que
                                                         |M |            |M |
            0 < |x − p| < δ1 ⇒ |g(x) − M | <                  ⇒ |g(x)| >
                                                          2               2

                                              16
Por outro lado
                  ∃δ2       > 0 tal que
                                                                        2
                                                                    |M |
                      0 < |x − p| < δ2 ⇒ |g(x) − M | <                   ε
                                                                      2
    Tomando δ = min{δ1 , δ2 } temos
                                                  1    1   |g(x) − M |
              0 < |x − p| < δ ⇒                      −   =              <
                                                 g(x) M     |g(x)| |M |
                                                               2
                            2                           2    |M |
                  <             2   |g(x) − M | <          2      ε=ε
                        |M |                           |M | 2

    O Teorema do Confronto (” Teorema do Sandu´           ıche”): Sejam f, g, h
fun¸˜es definidas em uma vizinhan¸a de p, exceto possivelmente em p, satis-
   co                                c
fazendo:
    a) f (x) ≤ g(x) ≤ h(x), para todo x nesta vizinhan¸a,
                                                      c
    b) Existem os limites lim f (x), lim h(x) e
                                x→p          x→p
    c) lim f (x) = lim h(x) = L.
      x→p             x→p
    Ent˜o existe lim g(x) e lim g(x) = L.
       a
                  x→p                x→p



    Demonstra¸˜o: Seja ε > 0. Por c) temos:
             ca
                       ∃δ1 > 0 tal que
                         0 < |x − p| < δ1 ⇒ |f (x) − L| < ε
e
                       ∃δ2 > 0 tal que
                         0 < |x − p| < δ2 ⇒ |h(x) − L| < ε
    Tomamos δ = min{δ1 , δ2 } e temos
         0   < |x − p| < δ ⇒ L − ε < f (x) ≤ g(x) ≤ h(x) < L + ε ⇒
             ⇒ |g(x) − L| < ε


    Exerc´
         ıcio: Prove que
                             lim f (x) = 0 ⇔ lim |f (x)| = 0.
                             x→p                    x→p

    Exemplo: lim x cos x = 0.
                x→0
    De fato, vamos mostrar que lim |x cos x| = 0.
                                           x→0
    Temos que
                                       0 ≤ |x cos x| ≤ |x|
e pelo teorema do confronto segue o resultado.

                                                  17
2.5    Limites Laterais

Nesta se¸˜o iremos estudar limites quando x aproxima-se de um ponto p assu-
        ca
mindo somente valores maiores (ou menores) que p.



   Defini¸˜o:
          ca
   a)Dizemos que f : I → R est´ definida em uma vizinhan¸a ` direita de p,
                                 a                            c a
exceto possivelmente em p, se existir algum r > 0 tal que (p, p + r) ⊂ I.
   b)Dizemos que f : I → R est´ definida em uma vizinhan¸a ` esquerda de p,
                                a                           c a
exceto possivelmente em p, se existir algum r > 0 tal que (p − r, p) ⊂ I.



    Exemplos:
    1) Uma fun¸˜o definida em um intervalo aberto f : (a, b) → R est´ definida
                ca                                                  a
em uma vizinhan¸a ` direita de p e em uma vizinhan¸a ` esquerda de p, qualquer
                  c a                             c a
que seja p ∈ (a, b).
    2) Uma fun¸˜o definida em um intervalo fechado f : [a, b] → R est´ definida
                ca                                                  a
em uma vizinhan¸a ` direita de p, qualquer que seja p ∈ [a, b) e est´ definida
                   c a                                              a
em uma vizinhan¸a ` esquerda de p, qualquer que seja p ∈ (a, b]. Note que f
                   c a
n˜o est´ definida em uma vizinhan¸a ` esquerda de a e nem em uma vizinhan¸a
  a     a                          c a                                      c
a
` direita de b. O mesmo permanece v´lido para qualquer outra combina¸˜o de
                                      a                                 ca
( ou [.(verifique isso).
        ´
    3) E imediato verificarmos que uma fun¸˜o f est´ definida
                                             ca       a              em uma
vizinhan¸a de p se e somente se est´ definida em uma vizinhan¸a ` esquerda de
          c                        a                          c a
p e em uma vizinhan¸a ` direita de p.
                      c a

    Defini¸˜o:
           ca
    a) Seja f : I → R uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a ` direita de
                                   ca                          c a
p, exceto possivelmente em p. Dizemos que o limite de f (x) ao x tender a p
pela direita ´ igual a L ∈ R se para qualquer ε > 0 existir δ > 0 tal que para
             e
x ∈ (p, p + δ) tem-se |f (x) − L| < ε. Denotamos lim f (x) = L.
                                                 x→p+
    b) Seja f : I → R uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a ` esquerda de
                                 ca                           c a
p, exceto possivelmente em p. Dizemos que o limite de f (x) ao x tender a p
pela esquerda ´ igual a L ∈ R se para qualquer ε > 0 existir δ > 0 tal que para
               e
x ∈ (p − δ, p) tem-se |f (x) − L| < ε. Denotamos limx→p− f (x) = L.

    Observa¸˜o: Todas as propriedades provadas nas se¸˜es anteriores com
              ca                                          co
rela¸˜o a unicidade, conserva¸˜o de sinal e limita¸˜o permanecem v´lidas para
    ca                        ca                  ca              a
limites laterais, com as devidas altera¸˜es.Tamb´m permanecem v´lidas as pro-
                                       co       e               a
priedades operacionais provadas na se¸˜o anterior.
                                        ca




                                      18
Teorema: Seja f : I → R uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a de um
                                      ca                     c
ponto p exceto possivelmente em p. Vale que

       ∃ lim f (x) ⇔ ∃ lim+ f (x), ∃ lim− f (x) e lim− f (x) = lim+ f (x).
        x→p           x→p           x→p             x→p        x→p

   Deixamos a prova do resultado acima como exerc´
                                                 ıcio.

2.6    Limites no Infinito
Nesta se¸˜o iremos estudar o comportamento de algumas fun¸˜es quando a
         ca                                              co
vari´vel assume valores arbitrariamente grandes.
    a

  Defini¸˜o:
         ca
  a) Dizemos que uma      fun¸˜o f : I → R est´ definida em uma vizinhan¸a de
                             ca               a                        c
+∞ se existir a ∈ R tal   que (a, +∞) ⊂ I.
  b) Dizemos que uma      fun¸˜o f : I → R est´ definida em uma vizinhan¸a de
                             ca               a                        c
−∞ se existir a ∈ R tal   que (−∞, a) ⊂ I.

  Exemplos:
  a) Qualquer fun¸˜o f : R → R est´ definida em vizinhan¸as de +∞ e de
                  ca                a                   c
−∞.
  b) Qualquer fun¸˜o f : [b, +∞) → R ou f : (b, +∞) → R est´ definida em
                  ca                                        a
uma vizinhan¸a de +∞ mas n˜o est´ definida em uma vizinhan¸a de −∞.
            c                a   a                        c
  c) Qualquer fun¸˜o f : (−∞, b] → R ou f : (−∞, b) → R est´ definida em
                  ca                                        a
uma vizinhan¸a de −∞ mas n˜o est´ definida em uma vizinhan¸a de +∞.
            c                a   a                        c

   Defini¸˜o:
          ca
   a) Seja f : I → R uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a de +∞. Dizemos
                              ca                       c
que o limite de f (x) ao x tender a +∞ ´ L ∈ R e denotamos lim f (x) = L
                                       e
                                                                 x→+∞
se para todo ε > 0 existir x0 > 0 tal que

                            x > x0 ⇒ |f (x) − L| < ε.

   b) Seja f : I → R uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a de −∞. Dizemos
                              ca                       c
que o limite de f (x) ao x tender a −∞ ´ L ∈ R e denotamos lim f (x) = L
                                       e
                                                                 x→−∞
se para todo ε > 0 existir x0 < 0 tal que

                            x < x0 ⇒ |f (x) − L| < ε.


                                         1
   Exemplo: Vamos provar que lim             = 0.
                                  x→+∞ x
   De fato, dado ε > 0 tomamos    x0 = 1 e
                                       ε     temos

                                  1    1    1
                  x > x0 ⇒ x >      ⇒0< <ε⇒   < ε.
                                  ε    x    x


                                       19
ıcio: Sejam f : I → R uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a de
   Exerc´                               ca                       c
+∞ e L ∈ R tal que lim f (x) = L. Prove que existem x0 > 0 e M > 0 tais
                   x→+∞
que
                          x > x0 ⇒ |f (x)| < M.

   A seguir estabelecemos algumas propriedades operacionais dos limites no
infinito.

  Teorema: Sejam f e g fun¸˜es definidas em uma vizinhan¸a de +∞ ; L ,
                            co                         c
M ∈ R tais que lim f (x) = L e lim g(x) = M e k uma constante real.
                  x→+∞                 x→+∞
   Ent˜o:
      a
   a) Existe    lim (f (x) + g(x)) e    lim (f (x) + g(x)) = L + M.
               x→+∞                    x→+∞
   b) Existe    lim (f (x) − g(x)) e    lim (f (x) − g(x)) = L − M.
               x→+∞                    x→+∞
   c) Existe    lim (f (x).g(x)) e     lim (f (x).g(x)) = L.M .
               x→+∞                  x→+∞
   d) Existe    lim kf (x) e     lim kf (x) = kL.
               x→+∞           x→+∞
   e) Se M = 0, existe     lim f (x) e lim f (x)     =   L
                                                         M.
                          x→+∞ g(x)   x→+∞ g(x)


   Demonstra¸˜o:ca
   a) Seja ε > 0. De acordo com nossa hip´tese temos que existem x1 > 0 e
                                         o
x2 > 0 tais que
                                                  ε
                           x > x1 ⇒ |f (x) − L| <
                                                  2
                                                   ε
                           x > x2 ⇒ |g(x) − M | <
                                                   2
Tomando x0 = max{x1 , x2 } temos que

                  x > x0 ⇒ |f (x) + g(x) − (L + M )| <
                                                 ε ε
                    < |f (x) − L| + |g(x) − M | < + = ε.
                                                 2 2
   b) Deixamos como exerc´  ıcio.
   d) Se k = 0 ent˜o ´ trivial. Suponhamos k = 0.
                  a e
   Seja ε > 0. Da nossa hip´tese temos que existem x0 > 0 tal que
                            o
                                                      ε
                            x > x0 ⇒ |f (x) − L| <       .
                                                     |k|

   Assim temos
                                                                 ε
               x > x0 ⇒ |kf (x) − kL| = |k| |f (x) − L| < |k|       = ε.
                                                                |k|
                                               1
   c) Inicialmente observemos que f (x).g(x) = 4 [(f (x)+g(x))2 −(f (x)−g(x))2 ].



                                         20
Provemos que, dada uma fun¸˜o h definida em uma vizinhan¸a de +∞, e
                              ca                           c
satisfazendo lim h(x) = N temos lim h(x)2 = N 2 . De fato, pelo exerc´
                                                                     ıcio
             x→+∞                         x→+∞
acima,
                              ∃x1 > 0, ∃K > 0 tais que
                                x > x1 ⇒ |h(x)| < K
    Al´m disso, dado ε > 0, temos
      e
                        ∃x2   > 0 tal que
                                                           ε
                           x > x2 ⇒ |h(x) − N | <
                                                        K + |N |
    Tomamos x0 satisfazendo x0 = max{x1 , x2 } temos
           x > x0 ⇒ h(x) − N 2 = |h(x) − N | |h(x) + N | <
                                  ε                     ε
             < (|h(x)| + |N |)          < (K + |N |)          = ε.
                               K + |N |              K + |N |
    Desta forma
                                       1
         lim (f (x).g(x)) = lim          [(f (x) + g(x))2 − (f (x) − g(x))2 ] = ∗
         x→+∞                  x→+∞    4
    Pela propriedade d) temos
                       1
                 ∗=       lim [(f (x) + g(x))2 − (f (x) − g(x))2 ] = ∗∗
                       4 x→+∞
e pela propriedade b)
                 1                        1
          ∗∗ =      lim (f (x) + g(x))2 −    lim (f (x) − g(x))2 = ∗ ∗ ∗
                 4 x→+∞                   4 x→+∞
e aplicando o que acabamos de provar
                 1                         1
        ∗∗∗=       ( lim (f (x) + g(x)))2 − ( lim (f (x) − g(x)))2 = ∗ ∗ ∗∗
                 4 x→+∞                    4 x→+∞
e voltando a aplicar a) e b) finalmente temos
                                  1
                       ∗ ∗ ∗∗ =     [(L + M )2 − (L − M )2 ] = LM
                                  4
    e) Para provarmos e) ´ suficiente provarmos que
                         e                                   lim 1        =   1
                                                                              M.   De fato
                                                            x→+∞ g(x)
f (x)          1
g(x) = f (x). g(x) e sabemos operar o produto por d).
    Seja ε > 0.
    Como lim g(x) = M = 0 temos que
           x→+∞

                 ∃x1    > 0 tal que
                                                  |M |            |M |
                   x > x1 ⇒ |g(x) − M | <              ⇒ |g(x)| >
                                                   2               2

                                            21
Por outro lado

                     ∃x2     > 0 tal que
                                                                 2
                                                              |M |
                         x >         x2 ⇒ |g(x) − M | <            ε
                                                                2
   Tomando x0 = max{x1 , x2 } temos
                                       1    1   |g(x) − M |
                 x > x0 ⇒                 −   =              <
                                      g(x) M     |g(x)| |M |
                                                                2
                             2                        2  |M |
                     <           2   |g(x) − M | <        2   ε=ε
                           |M |                      |M | 2


   Observe que o resultado acima continua v´lido se considerarmos x → −∞.
                                           a

2.7   Limites Infinitos
Nesta se¸˜o estudaremos os limites infinitos. Neste caso os valores de f (x) ´
        ca                                                                  e
que assumem valores arbitrariamente grandes a medida que x aproxima-se de
algum ponto p ou de ±∞.

   Defini¸˜o:
          ca
   a) Seja f : I → R uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a ` direita de
                                 ca                             c a
p ∈ R. Dizemos que o limite de f (x) ao x tender ` p pela direita ´ igual a +∞
                                                 a                e
e denotamos
                               lim+ f (x) = +∞
                                     x→p

se para todo M > 0 existir um δ > 0 tal que

                           x ∈ (p, p + δ) ⇒ f (x) > M.

   b) Seja f : I → R uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a ` direita de
                                 ca                             c a
p ∈ R. Dizemos que o limite de f (x) ao x tender ` p pela direita ´ igual a −∞
                                                 a                e
e denotamos
                               lim+ f (x) = −∞
                                     x→p

se para todo M > 0 existir um δ > 0 tal que

                           x ∈ (p, p + δ) ⇒ f (x) < −M.

   c) Seja f : I → R uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a ` esquerda de
                             ca                            c a
p ∈ R. Dizemos que o limite de f (x) ao x tender ` p pela esquerda ´ igual a
                                                 a                 e
+∞ e denotamos
                              lim f (x) = +∞
                                     x→p−

se para todo M > 0 existir um δ > 0 tal que

                           x ∈ (p − δ, p) ⇒ f (x) > M.

                                            22
d) Seja f : I → R uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a ` esquerda de
                             ca                            c a
p ∈ R. Dizemos que o limite de f (x) ao x tender ` p pela esquerda ´ igual a
                                                 a                 e
−∞ e denotamos
                              lim f (x) = −∞
                                 x→p−

se para todo M > 0 existir um δ > 0 tal que

                          x ∈ (p − δ, p) ⇒ f (x) < −M.

   e) Seja f : I → R uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a de +∞. Dizemos
                              ca                        c
que o limite de f (x) ao x tender ` +∞ ´ igual a +∞ e denotamos
                                  a    e

                                  lim f (x) = +∞
                                x→+∞

se para todo M > 0 existir um N > 0 tal que

                               x > N ⇒ f (x) > M.

   f ) Seja f : I → R uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a de +∞. Dizemos
                              ca                        c
que o limite de f (x) ao x tender ` +∞ ´ igual a −∞ e denotamos
                                  a    e

                                  lim f (x) = −∞
                                x→+∞

se para todo M > 0 existir um N > 0 tal que

                               x > N ⇒ f (x) < −M.

   g) Seja f : I → R uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a de −∞. Dizemos
                              ca                        c
que o limite de f (x) ao x tender ` −∞ ´ igual a +∞ e denotamos
                                  a    e

                                  lim f (x) = +∞
                                x→−∞

se para todo M > 0 existir um N > 0 tal que

                               x < −N ⇒ f (x) > M.

   h) Seja f : I → R uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a de −∞. Dizemos
                              ca                        c
que o limite de f (x) ao x tender ` −∞ ´ igual a −∞ e denotamos
                                  a    e

                                  lim f (x) = −∞
                                x→−∞

se para todo M > 0 existir um N > 0 tal que

                            x < −N ⇒ f (x) < −M.

   Exemplos:
                           1
   1) Provemos que lim+    x   = +∞.
                    x→0



                                        23
1
   De fato, dado M > 0 existe δ =      M   tal que
                                       1    1
                             x ∈ (0,     ) ⇒ > M.
                                       M    x
                            1
   2) Provemos que lim     x−1   = −∞. De fato, dado M > 0 tomamos
                    x→1−

                                                1
                                 δ = min{         , 1}
                                                M
e temos
                                                        1     1
           x ∈ (1 − δ, 1) ⇒ x − 1 ∈ (−δ, 0) ⇒              < − < −M.
                                                       x−1    δ

    A seguir apresentamos a ”aritm´tica do infinito” isto ´ , estabelecemos as
                                      e                    e
rela¸˜es entre os limites infinitos e as opera¸˜es. Deixamos a prova do teorema
    co                                       co
como exerc´ıcio.

   Teorema: Sejam f, g : I → R definidas numa vizinhan¸a de p ∈ R , exceto
                                                     c
possivelmente em p . Valem as seguintes tabelas:
                                    TABELA I
                    lim f (x )   lim g(x ) lim (f (x ) + g(x )
                    x→p          x→p            x→p
                    +∞         +∞        +∞
                    −∞         −∞        −∞
                    +∞         −∞        indetermina¸˜o
                                                      ca
                    α∈R        +∞        +∞
                    α∈R        −∞        −∞
                                 TABELA II
                    lim f (x ) lim g(x ) lim f (x ).g(x )
                    x→p          x→p             x→p
                    +∞         +∞        +∞
                    +∞         −∞        −∞
                    −∞         −∞        +∞
                    0          +∞        indetermina¸˜o
                                                    ca
                    0          −∞        indetermina¸˜o
                                                    ca
                    α>0        +∞        +∞
                    α>0        −∞        −∞
                    α<0        −∞        +∞
                                TABELA III
                    lim f (x ) lim g(x ) lim f (x)
                                             g(x)
                    x→p          x→p             x→p
                    α∈R          +∞              0
                    α∈R          −∞              0
                    +∞           +∞              indetermina¸˜o
                                                            ca
                    +∞           −∞              indetermina¸˜o
                                                            ca
                    α>0          0+              +∞
                    α>0          0−              −∞
                    α<0          0+              −∞
                    α<0          0−              +∞

                                           24
Observa¸˜o: Indetermina¸˜o significa que nada se pode afirmar sobre o
            ca               ca
limite em quest˜o. Depende de f e g em cada caso particular.
               a
   O teorema continua v´lido para
                        a

                     vizinhan¸a
                             c    a
                                  ` direita de p      x   → p+
                     vizinhan¸a
                             c    a
                                  ` esquerda de p     x   → p−
                     vizinhan¸a
                             c    de +∞               x   → +∞
                     vizinhan¸a
                             c    de −∞               x   → −∞

2.8    Limite de Fun¸˜es Compostas
                    co
Para encerrarmos este cap´
                         ıtulo veremos como procedermos o calculo de limite
de compostas de fun¸˜es.
                   co

    Teorema: Sejam f : I1 → R e g : I2 → R fun¸˜es definidas em uma
                                                       co
vizinhan¸a de p ∈ R e a ∈ R , respectivamente, satisfazendo:
          c
    a) f (I1 ) ⊂ I2 ;
    b) lim f (x) = a;
      x→p
   c) lim g(u) = L;
      u→a
   d) Existe r > 0 tal que f (x) = a para 0 < |x − p| < r.
   Ent˜o lim g(f (x)) = lim g(u) = L.
      a
            x→p            u→a


    Demonstra¸˜o: Seja ε > 0. Como lim g(u) = L temos que existe δ1 > 0
             ca
                                    u→a
tal que
                  0 < |u − a| < δ1 ⇒ |g(u) − L| < ε.
   Al´m disso, como lim f (x) = a existe δ2 > 0 tal que
     e
                       x→p

                        0 < |x − p| < δ2 ⇒ |f (x) − a| < δ1 .

   Tomando δ = min{δ2 , r} temos

            0 < |x − p| < δ ⇒ 0 < |f (x) − a| < δ1 ⇒ |g(f (x)) − L| < ε.



   O teorema acima permanece v´lido para limites laterais, com as devidas
                                  a
adapta¸˜es. Fa¸a isso como exerc´
      co      c                 ıcio.

   Exemplo: Observe a importˆncia da hip´tese d). Consideremos o seguinte
                            a           o
exemplo:

                             f (x)   = 1, ∀x ∈ R
                                           u + 1, u = 1
                             g(u)    =
                                             3, u = 1


                                          25
Temos

                                 lim f (x)   =    1
                                 x→1
                                 lim g(u)    =    2
                                 u→1

e no entanto
                          lim g(f (x)) = 3 = lim g(u).
                          x→1                    u→1


    Teorema: Sejam f : I1 → R e g : I2 → R fun¸˜es definidas em uma
                                                   co
vizinhan¸a do +∞ e em uma vizinhan¸a de a ∈ R (exceto possivelmente em a),
          c                          c
respectivamente, e L ∈ R satisfazendo:
    a) f (I1 ) ⊂ I2 ;
    b) lim f (x) = a;
      x→+∞
    c) Existe N1 > 0 tal que para x > N1 tem-se f (x) = a.
    d) lim g(u) = L.
      u→a
    Ent˜o
       a     lim g(f (x)) = lim g(u) = L.
            x→+∞           u→a


    Demonstra¸˜o: Seja ε > 0. Como lim g(u) = L temos que existe δ > 0
             ca
                                    u→a
tal que
                   0 < |u − a| < δ ⇒ |g(u) − L| < ε.
    Como lim f (x) = a existe N2 > 0 tal que
            x→+∞

                           x > N2 ⇒ |f (x) − a| < δ.

    Tomando N = max{N1 , N2 } temos

               x > N ⇒ 0 < |f (x) − a| < δ ⇒ |g(f (x)) − L| < ε.


    O teorema permanece v´lido considerarmos x → −∞.
                         a


3     Continuidade de Fun¸˜es Reais de Vari´vel
                         co                a
      Real
3.1    Defini¸˜o de Continuidade
            ca
Neste cap´
         ıtulo introduziremos o conceito de continuidade. Restringiremos nosso
estudo para as fun¸˜es reais definidas em intervalos. Deixaremos para o curso de
                   co
An´lise Matem´tica o estudo da continuidade quando as fun¸˜es est˜o definidas
   a           a                                             co      a
em um subconjunto qualquer da reta.
   Todas as fun¸˜es que consideraremos neste cap´
                 co                                 ıtulo s˜o do tipo f : I → R
                                                           a
onde I ´ uma uni˜o de intervalos.
       e          a


                                        26
Defini¸˜o:
           ca
    a) Uma fun¸˜o f : I → R ´ dita cont´
                ca          e          ınua em p ∈ I se para todo ε > 0
existir δ > 0 tal que

                    x ∈ I ∩ (p − δ, p + δ) ⇒ |f (x) − f (p)| < ε.

   b) Uma fun¸˜o f : I → R ´ dita cont´
             ca              e         ınua se o for em todos os pontos de
seu dom´
       ınio.
   c) Uma fun¸˜o f : I → R ´ dita descont´
             ca            e             ınua em p ∈ I se f n˜o ´ cont´
                                                             a e      ınua
em p.

    Observa¸˜es: A verifica¸˜o da continuidade de fun¸˜es definidas em inter-
              co               ca                          co
valos (a, b) ou [a, b] ´ um pouco mais simples:
                       e
    1) De acordo com a defini¸˜o acima , temos que f : (a, b) → R ´ cont´
                               ca                                    e    ınua se
existir lim f (x) , para todo p ∈ (a, b) e ainda lim f (x) = f (p). Em particular,
       x→p                                        x→p
usando a caracteriza¸˜o de limites por sequˆncias ter´
                    ca                     e         ıamos que f ´ cont´
                                                                 e     ınua em
p se e somente se

                   ∀ (xn ) tal que xn → p tem-se f (xn ) → f (p) .

   2) De acordo com a defini¸˜o acima , temos que f : [a, b] → R ´ cont´
                              ca                                   e  ınua se:
   a) Existe lim f (x) , para todo p ∈ (a, b) e lim f (x) = f (p);
             x→p                                 x→p
   b) Existe lim+ f (x) e lim+ f (x) = f (a);
             x→a            x→a
   c) Existe lim− f (x) e lim− f (x) = f (b).
             x→b            x→b


3.2    Opera¸˜es com Fun¸˜es e Continuidade
            co          co
Os resultados que obteremos nesta se¸˜o s˜o demonstrados da mesma forma
                                    ca a
que os an´logos para limites.
         a

  Teorema: Sejam f : I → R, g : I → R fun¸˜es cont´
                                          co      ınuas em p ∈ I e k ∈ R
uma constante. Ent˜o:
                   a
  a) f + g ´ cont´
            e     ınua em p.
  b) f − g ´ cont´
           e      ınua em p.
  c) f.g ´ cont´
         e      ınua em p.
  d) Se g(p) = 0 ent˜o f ´ cont´
                     a g e     ınua em p.
  e) kf ´ cont´
         e     ınua em p.

   Uma consequˆncia imediata do resultado acima ´:
              e                                 e

   Corol´rio:
         a
   a) Toda fun¸˜o polinomial ´ cont´
              ca              e    ınua.
   b) Toda fun¸˜o racional ´ cont´
              ca           e     ınua.

   Demonstra¸˜o:
            ca


                                         27
a) De fato, se f ´ polinomial ent˜o existe um polinˆmio
                    e               a                 o

                            p(x) = a0 + a1 x + ... + an xn

 tal que f (x) = p(x), para todo x ∈ R.
    Como as fun¸˜es dadas por xm , m ∈ N, s˜o cont´
                   co                              a        ınuas, segue do teorema
acima que as fun¸˜es dadas por aj xj , j ∈ {0, 1, ..., n}, tamb´m o s˜o. Como
                    co                                             e      a
soma de fun¸˜es cont´
              co         ınuas ´ cont´
                               e      ınua , segue que toda fun¸˜o polinomial ´
                                                                    ca             e
cont´ınua.
    b) De fato, se f ´ uma fun¸˜o racional , ent˜o existem polinˆmios p, q tais
                       e         ca                  a                 o
que f (x) = p(x) .
             q(x)
    Como o quociente de fun¸˜es cont´
                               co         ınuas ´ cont´
                                                e       ınua, desde que o polinˆmio
                                                                               o
do denominador n˜o se anule, segue que toda fun¸˜o racional ´ cont´
                     a                                 ca           e    ınua pois o
´ em todos os pontos de seu dom´
e                                   ınio.

    Teorema: Sejam f : I1 → R e g : I2 → R satisfazendo que f (I1 ) ⊂ I2 , f
      ınua em p ∈ I1 e que g ´ cont´
´ cont´
e                            e     ınua em f (p). Ent˜o g ◦ f ´ cont´
                                                     a        e     ınua em p.

   Demonstra¸˜o: Seja ε > 0. Como g ´ cont´
               ca                   e     ınua em f (p) temos que existe
δ1 > 0 tal que

              u ∈ I2 ∩ (f (p) − δ1 , f (p) + δ1 ) ⇒ |g(u) − g(f (p))| < ε.

   Como f ´ cont´
          e     ınua em p temos que existe δ > 0 tal que

      x    ∈ I1 ∩ (p − δ, p + δ) ⇒ f (x) ∈ I2 , |f (x) − f (p)| < δ1 ⇒
           ⇒ f (x) ∈ I2 ∩ (f (p) − δ1 , f (p) + δ1 ) ⇒ |g(f (x)) − g(f (p))| < ε.



3.3       Algumas Propriedades das Fun¸˜es Cont´
                                      co       ınuas
Nesta se¸˜o provaremos alguns resultados sobre a conserva¸˜o de sinal e sobre
        ca                                               ca
a continuidade de fun¸˜es mon´tonas .
                     co      o

   Teorema: Seja f : I → R uma fun¸˜o cont´
                                  ca      ınua em p ∈ I . Se f (p) > 0
ent˜o existe δ > 0 tal que
   a

                         x ∈ I ∩ (p − δ, p + δ) ⇒ f (x) > 0.

                                                             f (p)
   Demonstra¸˜o: Como f (p) > 0, tomamos ε =
              ca                                               2     e temos que existe
δ > 0 tal que

                                                    f (p)           f (p)
       x ∈ I ∩ (p − δ, p + δ) ⇒ |f (x) − f (p)| <         ⇒ f (x) >       > 0.
                                                      2               2



                                          28
Teorema: Seja f : I → R uma fun¸˜o cont´
                                  ca      ınua em p ∈ I . Se f (p) < 0
ent˜o existe δ > 0 tal que
   a

                        x ∈ I ∩ (p − δ, p + δ) ⇒ f (x) < 0.

   Demonstra¸˜o: Como f (p) < 0, tomamos ε = − f (p) e temos que existe
              ca                                 2
δ > 0 tal que

                                          f (p)                  f (p)   f (p)
x ∈ I ∩(p−δ, p+δ) ⇒ |f (x) − f (p)| < −         ⇒ f (x) < f (p)−       =       < 0.
                                            2                      2       2


    Teorema: Se f : I → R for crescente (ou decrescente) e al´m disso tanto
                                                                   e
a imagem quanto o dom´  ınio de f forem intervalos ent˜o f ´ cont´
                                                        a     e      ınua.
    Demonstra¸˜o: Sem perda de generalidade vamos supor que f ´ crescente.
                    ca                                                 e
Dado p ∈ I, provemos a continuidade de f em p.
    Seja ε > 0. Suponhamos tamb´m que f (p) n˜o seja extremidade do intervalo
                                 e              a
que ´ a imagem.
     e
    Como f (I) ´ um intervalo ent˜o existem x1 , x2 ∈ I tais que f (x1 ) = f (p) − ε
                  e              a
e f (x2 ) = f (p) + ε .
    Assim basta tomarmos δ = min{p − x1 , x2 − p} e temos

          |x − p| < δ ⇒ f (p) − ε = f (x1 ) < f (x) < f (x2 ) = f (p) + ε.

   Deixamos como exerc´ o caso geral.
                      ıcio

   Corol´rio: As fun¸˜es trigonom´tricas inversas s˜o cont´
          a            co           e               a       ınuas.
                ca ´
   Demonstra¸˜o: E imediato pelo teorema acima, visto que localmente todas
as trigonom´tricas inversas s˜o crescentes ou decrescentes e seus dom´
            e                a                                       ınios e
imagens s˜o intervalos.
          a

3.4    O Teorema do Valor Intermedi´rio
                                   a
Nesta se¸˜o estudaremos o principal teorema relativo a continuidade. O seu
         ca
enunciado ´ bastante simples mas as consequˆncias s˜o extremamente impor-
             e                                 e      a
tantes.
    Imagine uma fun¸˜o que seja cont´
                      ca               ınua em um intervalo [a, b]. Suponhamos
que d est´ entre f (a) e f (b). Como a fun¸˜o ´ cont´
           a                                 ca e     ınua o seu gr´fico pode
                                                                      a
ser desenhado sem que soltemos o l´pis. De fato, a continuidade impede que
                                     a
o gr´fico apresente saltos. Desta forma n˜o tem como sairmos de (a, f (a)) e
     a                                     a
chegarmos em (b, f (b)) sem que no caminho passemos por um ponto que tenha
ordenada d. Logo conclu´  ımos que deve existir algum ponto c em [a, b] tal que
f (c) = d. Esta ´ a conclus˜o do Teorema do Valor Intermedi´rio.
                e          a                                a
    Vamos enunciar este teorema.

   Teorema do Valor Intermedi´rio: Sejam f : [a, b] → R cont´
                                       a                        ınua e d
entre f (a) e f (b). Ent˜o existe c ∈ [a, b] tal que f (c) = d.
                        a


                                        29
Demonstra¸˜o : Dividiremos a prova em dois casos.
                  ca
    1o Caso:
    Suponhamos que f (a) < 0 e que f (b) > 0 e mostremos que existe c ∈ [a, b]
tal que f (c) = 0.
    Fa¸amos a0 = a e b0 = b. Consideremos c0 o ponto m´dio de [a0 , b0 ]. Calcu-
       c                                                                e
lamos f (c0 ). Se f (c0 ) < 0 ent˜o definimos a1 = c0 e b1 = b0 ( se f (c0 ) = 0 n˜o
                                     a                                              a
temos mais o que provar e se f (c0 ) > 0 ent˜o definimos a1 = a0 e b1 = c0 ).
                                                       a
    Em seguida consideramos c1 o ponto m´dio de [a1 , b1 ] e repetimos o processo
                                                     e
acima.
    Prosseguindo com este racioc´      ınio, construiremos uma sequˆncia de intervalos
                                                                          e
encaixantes
                         [a0 , b0 ] ⊃ [a1 , b1 ] ⊃ ... ⊃ [an , bn ] ⊃ ...
tais que f (an ) < 0 e f (bn ) > 0.
    Al´m disso bn − an aproxima-se de zero quando n cresce indefinidamente.
       e
    O Teorema dos Intervalos Encaixantes nos que diz que existe um unico       ´
c ∈ R tal que , para todo n, an ≤ c ≤ bn .
    A continuidade da f nos garante que f (c) = 0 pois se fosse diferente de zero
o teorema da conserva¸˜o do sinal implicaria que f (an ) e f (bn ) teriam o mesmo
                        ca
sinal para n suficientemente grande, j´ que a distˆncia de an a bn tende a zero.
                                         a            a
    Da mesma forma, se f (a) > 0 e f (b) < 0 existe c ∈ [a, b] tal que f (c) = 0.
    Logo, se f for cont´ ınua em [a, b] e se f (a) e f (b) tiverem sinais contr´rios,
                                                                               a
ent˜o existir´ pelo menos um c em [a, b] tal que f (c) = 0.
   a          a
    2o Caso: Caso Geral.
    Sem perda de generalidade, suponhamos que f (a) < d < f (b).
    Consideremos a fun¸˜o g(x) = f (x) − d.
                          ca
    Obviamente g ´ cont´
                    e      ınua e g(a) < 0, g(b) > 0.
    Pelo 1o caso existe c ∈ [a, b] tal que g(c) = 0. Logo f (c) = d.

    Exemplos:
    1) Prove que x3 − 4x + 8 = 0 tem pelo menos uma raiz real.
    Considere f : [−3, 0] → R dada por f (x) = x3 − 4x + 8.
    Como f ´ polinomial segue que f ´ cont´
             e                       e      ınua. Al´m disso, f (−3) = −7 < 0,
                                                    e
f (0) = 8 > 0.
    Logo pelo Teorema do Valor Intermedi´rio,
                                          a

                           ∃c ∈ [−3, 0] tal que f (c) = 0.

   Logo o polinˆmio acima admite uma raiz real.
               o
   2) Todo polinˆmio de grau ´
                o            ımpar admite uma raiz real. De fato, seja

                    p(x) = an xn + an−1 xn−1 + ... + a1 x + a0

com n ´
      ımpar. Suponhamos, sem perda de generalidade, que an > 0.
   Provemos inicialmente que lim p(x) = +∞ e lim p(x) = −∞.
                                 x→+∞                  x→−∞




                                         30
Temos

        lim p(x) =        lim (an xn + an−1 xn−1 + ... + a1 x + a0 ) =
      x→±∞               x→±∞
                                             an−1             a1      a0
                    =     lim an xn (1 +          + .... +         +       )=
                         x→±∞                an x          an xn−1   an xn
                    = ±∞.

   Logo existem a e b tais que p(a) < 0, p(b) > 0.
   Aplicando o TVI em [a, b] segue o resultado.

3.5    O Teorema de Weierstrass
Nesta se¸˜o demonstraremos outra importante propriedade das fun¸˜es cont´
        ca                                                     co         ınuas.
Provaremos que se uma fun¸˜o for cont´
                         ca          ınua em um intervalo fechado [a, b] ent˜o
                                                                            a
ela assumir´ um valor m´ximo e um valor m´
           a           a                   ınimo.

    Teorema da Limita¸˜o: Se f : [a, b] → R ´ cont´
                     ca                      e    ınua ent˜o existe M > 0
                                                          a
tal que
                        |f (x)| < M, ∀x ∈ [a, b].

   Demonstra¸˜o: Suponhamos que n˜o exista um M > 0 satisfazendo o
                   ca                         a
que ´ desejado.
    e
   Chamamos a1 = a, b1 = b.
   Deve ent˜o existir x1 ∈ [a1 , b1 ] tal que |f (x1 )| > 1.
               a
   Seja c1 o ponto m´dio de [a1 , b1 ].
                      e
   Como f n˜o ´ limitada em [a1 , b1 ] ent˜o f n˜o ser´ limitada em [a1 , c1 ] ou
                 a e                         a        a      a
em [c1 , b1 ].
   Sem perda de generalidade, suponhamos que f n˜o ´ limitada em [c1 , b1 ].
                                                          a e
   Chamamos a2 = c1 , b2 = b1 .
   Como f n˜o ´ limitada em em [a2 , b2 ] existe x2 ∈ [a2 , b2 ] tal que |f (x2 )| > 2.
                a e
   Prosseguindo com este racioc´  ınio constru´  ımos uma sequˆncia
                                                                e

                            [a1 , b1 ] ⊃ ... ⊃ [an , bn ] ⊃ ...

satisfazendo que a distˆncia bn −an est´ se aproximando de zero quando n cresce
                       a                a
e que, para todo natural n, existe xn ∈ [an , bn ] com |f (xn )| > n.
    Pelo T. I. Encaixantes, existe c, o unico real tal que c ∈ [an , bn ], para todo
                                        ´
n ∈ N.
    ´
    E claro que xn est´ convergindo para c e que |f (xn )| est´ divergindo para
                       a                                         a
o infinito. Pela continuidade de f ter´ ıamos que lim |f (x)| = +∞. Observemos
                                                    x→c
que isto ´ um absurdo. Logo existe M > 0 tal que
         e

                               |f (x)| < M, ∀x ∈ [a, b].




                                           31
Teorema de Weierstrass: Se f : [a, b] → R ´ cont´     e     ınua existem x1 e x2
em [a, b] tais que f (x1 ) ≤ f (x) ≤ f (x2 ), para qualquer x ∈ [a, b].
   Demonstra¸˜o : Sendo f cont´
                 ca                     ınua em [a, b], pelo teorema anterior f ser´
                                                                                   a
limitada em [a, b]. Assim o conjunto A = {f (x)|x ∈ [a, b]} admite supremo e
´
ınfimo.
   Sejam M = sup A, m = inf A.
   Est´ claro que m ≤ f (x) ≤ M.
       a
   Resta-nos provar que existem x1 e x2 tais que f (x1 ) = m e f (x2 ) = M.
   Observe que se f (x) < M para todo x ent˜o a fun¸˜o dada por
                                                  a        ca
                                       1
                           g(x) =             , x ∈ [a, b]
                                    M − f (x)

seria cont´
          ınua mas n˜o seria limitada. Logo existe x2 tal que f (x2 ) = M.
                    a
    Analogamente provamos a existˆncia de x1 .
                                   e

3.6    Potˆncias Irracionais
          e
Na se¸˜o 1.3 lembramos algumas propriedades das potˆncias racionais.
     ca                                            e
   Dado m ∈ Q, a > 0 definimos
         n
                                     m        √
                                              m
                               b = an ⇔           bn = a.

   O objetivo desta se¸˜o ´ definirmos ax , x ∈ R.
                      ca e
                     √
    O que significa 3 2 ?
    Sabemos que os racionais n˜o ocupam todo o espa¸o da reta mas mesmo
                                 a                       c
assim eles est˜o presentes em√
              a                qualquer intervalo, por menor que seja. Assim em
qualquer intervalo contendo 2 existem racionais e nestes sabemos calcular as
                                             √
potˆncias. Seria natural ent˜o definirmos 3 2 como o limite de 3r , r ∈ Q, ao r
    e    √                    a
tender a 2.
    A d´vida que sobra ´ se esse limite realmente existe.
       u                 e
    O teorema que iremos enunciar a seguir nos garantir´ que existe uma unica
                                                         a                 ´
fun¸˜o cont´
   ca       ınua em R tal que f (r) = 3r , para qualquer r ∈ Q. Em outras
palavras, existe uma unica maneira de completarmos o pontilhado do gr´fico
                       ´                                                    a
acima e obtermos uma fun¸˜o cont´
                            ca      ınua. Assim iremos definir
                             √      √
                           3 2 = f ( 2) = lim f (x).
                                              √
                                                  x→ 2



   Teorema: Dado a > 0, a = 1 temos que existe uma unica fun¸˜o cont´
                                                   ´        ca      ınua
definida em R tal que
                          f (r) = ar , ∀r ∈ Q.

   Para provarmos o teorema acima precisaremos de 3 resultados preliminares.


                                         32
Lema 1: Seja a > 1 um real dado. Ent˜o para todo ε > 0, existe um natural
                                       a
n tal que
                                 1
                               an − 1 < ε
   Demonstra¸˜o: Pela desigualdade de Bernoulli
            ca
                                         n
                                 (1 + ε) ≥ 1 + nε.
                          a−1
   Basta tomarmos n >      ε .

    Lema 2: Sejam a > 1 e x dois reais dados. Para todo ε > 0 existem
racionais r e s , com r < x < s tais que

                                    as − as < ε.

   Demonstra¸˜o: Tomamos t > x, racional; assim, para qualquer racional
                ca
r < x, tem-se ar < at .Pelo lema 1, existe n natural tal que
                                        1
                                  at a n − 1 < ε.

                                                                       1
Se escolhermos racionais r e s com r < x < s e satisfazendo s − r <    n   teremos
                                                         1
                  as − ar = ar (as−r − 1) < at a n − 1 < ε.



  Lema 3: Seja a > 1 um real dado. Ent˜o , para todo x real dado , existe
                                      a
um unico real γ tal que
   ´
                            ar < γ < as
para quaisquer que sejam os racionais r e s, com r < x < s.
   Demonstra¸˜o: Como o conjunto
                ca

                             {ar |r racional , r < x}

´ n˜o vazio e limitado superiormente por todo as , s racional, tal conjunto admite
e a
um supremo que indicamos por γ. Segue que

                                    ar < γ < as .

Falta provarmos que tal γ ´ unico. De fato, se γ1 for tal que
                          e´

                                    ar < γ1 < as

quaisquer que sejam os racionais r e s, com r < x < s ter´
                                                         ıamos

                                 |γ − γ1 | < as − ar

e pelo lema 2 ter´
                 ıamos que

                                 |γ − γ1 | < ε, ∀ε > 0

                                            33
e da´ γ = γ1 .
    ı

    Prova do Teorema: Inicialmente vamos supor a > 1. Com rela¸˜o ao lema
                                                                       ca
anterior , se x for racional ent˜o γ = ax . O unico γ ser´ indicado por f (x) . Fica
                                a              ´         a
constru´ıda, assim, uma fun¸˜o f definida em R, e tal que f (r) = ar para todo
                              ca
racional r. Antes de provarmos a continuidade de f provemos que f ´ crescente.
                                                                       e
Sejam x1 < x2 . Temos
                                 ar1 < f (x1 ) < as1
e
                                ar2 < f (x2 ) < as2
quaisquer que sejam os racionais r1 , s1 , r2 e s2 tais que

                          r1 < x1 < s1 e r2 < x2 < s2 .

Assim , sendo s um racional com x1 < s < x2 temos

                               f (x1 ) < as < f (x2 )

o que prova que f ´ crescente.
                   e
    Vamos provar a continuidade de f . Seja p ∈ R. Pelo lema 2 dado ε > 0
existem racionais r e s com r < p < s tais que

                                     as − ar < ε.

Para todo x ∈ (r, s) temos

                           |f (x) − f (p)| < as − ar < ε

o que prova a continuidade da f em p. Segue que f ´ cont´
                                                  e     ınua em R.
   Finalmente se 0 < a < 1 basta considerarmos a fun¸˜o dada por
                                                     ca
                                                    −x
                                                1
                                 f (x) =                 .
                                                a


  A fun¸˜o f : R → R dada por f (x) = ax , a > 0, a = 1 ´ chamada de
       ca                                               e
   ¸˜
FUNCAO EXPONENCIAL.


4     Derivadas de Fun¸˜es Reais de Vari´vel Real
                      co                a
4.1    Introdu¸˜o e Defini¸˜o de Derivada
              ca         ca
Defini¸˜o: Seja f : I → R, uma fun¸˜o definida em I ⊂ R uma uni˜o de
       ca                            ca                      a
intervalos abertos.
    a) Dizemos que f ´ deriv´vel em p ∈ I se existe o limite
                     e      a
                                   f (p + h) − f (p)
                               lim                   .
                               h→0         h

                                           34
Introducaoanalise
Introducaoanalise
Introducaoanalise
Introducaoanalise
Introducaoanalise
Introducaoanalise
Introducaoanalise
Introducaoanalise
Introducaoanalise
Introducaoanalise
Introducaoanalise
Introducaoanalise
Introducaoanalise
Introducaoanalise
Introducaoanalise
Introducaoanalise
Introducaoanalise
Introducaoanalise
Introducaoanalise
Introducaoanalise
Introducaoanalise
Introducaoanalise
Introducaoanalise
Introducaoanalise
Introducaoanalise
Introducaoanalise
Introducaoanalise
Introducaoanalise
Introducaoanalise
Introducaoanalise
Introducaoanalise
Introducaoanalise
Introducaoanalise
Introducaoanalise
Introducaoanalise
Introducaoanalise
Introducaoanalise
Introducaoanalise

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Resumo MA14 - Aritmética - Unidades 1 e 2
Resumo MA14 - Aritmética - Unidades 1 e 2Resumo MA14 - Aritmética - Unidades 1 e 2
Resumo MA14 - Aritmética - Unidades 1 e 2Felipe Cavalcante
 
[Robson] 7. Programação Não Linear Irrestrita
[Robson] 7. Programação Não Linear Irrestrita[Robson] 7. Programação Não Linear Irrestrita
[Robson] 7. Programação Não Linear Irrestritalapodcc
 
[Alexandre] 2. Geometria
[Alexandre] 2. Geometria[Alexandre] 2. Geometria
[Alexandre] 2. Geometrialapodcc
 
Critérios de Convergência
Critérios de ConvergênciaCritérios de Convergência
Critérios de ConvergênciaPedro Dias
 
Aula 5: Operador momento e energia e o princípio da incerteza
Aula 5: Operador momento e energia e o princípio da incertezaAula 5: Operador momento e energia e o princípio da incerteza
Aula 5: Operador momento e energia e o princípio da incertezaAdriano Silva
 
[Robson] 1. Programação Linear
[Robson] 1. Programação Linear[Robson] 1. Programação Linear
[Robson] 1. Programação Linearlapodcc
 
Aula 6 - Profmat - Numeros Primos - 08 09-17
Aula 6 - Profmat - Numeros Primos -  08 09-17Aula 6 - Profmat - Numeros Primos -  08 09-17
Aula 6 - Profmat - Numeros Primos - 08 09-17Aline Guedes
 
Intro teoria dos números cap2
Intro teoria dos  números cap2Intro teoria dos  números cap2
Intro teoria dos números cap2Paulo Martins
 
Sequencias e series
Sequencias e seriesSequencias e series
Sequencias e seriesRodrigo Jrs
 
Fisica grandeza física
Fisica grandeza físicaFisica grandeza física
Fisica grandeza físicacomentada
 
Aula 6: O caso estacioário em uma dimensão
Aula 6: O caso estacioário em uma dimensãoAula 6: O caso estacioário em uma dimensão
Aula 6: O caso estacioário em uma dimensãoAdriano Silva
 
Aula 7 profmat - numeros primos e especiais - 06 10-17
Aula 7   profmat - numeros primos e especiais - 06 10-17Aula 7   profmat - numeros primos e especiais - 06 10-17
Aula 7 profmat - numeros primos e especiais - 06 10-17Aline Guedes
 
Mat conjuntos numericos
Mat conjuntos numericosMat conjuntos numericos
Mat conjuntos numericostrigono_metria
 
Aula 15: O oscilador harmônico
Aula 15: O oscilador harmônicoAula 15: O oscilador harmônico
Aula 15: O oscilador harmônicoAdriano Silva
 

Mais procurados (20)

Resumo MA14 - Aritmética - Unidades 1 e 2
Resumo MA14 - Aritmética - Unidades 1 e 2Resumo MA14 - Aritmética - Unidades 1 e 2
Resumo MA14 - Aritmética - Unidades 1 e 2
 
Resumo2
Resumo2Resumo2
Resumo2
 
[Robson] 7. Programação Não Linear Irrestrita
[Robson] 7. Programação Não Linear Irrestrita[Robson] 7. Programação Não Linear Irrestrita
[Robson] 7. Programação Não Linear Irrestrita
 
Lista 0 - Bases Matemáticas
Lista 0 - Bases MatemáticasLista 0 - Bases Matemáticas
Lista 0 - Bases Matemáticas
 
[Alexandre] 2. Geometria
[Alexandre] 2. Geometria[Alexandre] 2. Geometria
[Alexandre] 2. Geometria
 
Critérios de Convergência
Critérios de ConvergênciaCritérios de Convergência
Critérios de Convergência
 
Tnotas
TnotasTnotas
Tnotas
 
Aula 5: Operador momento e energia e o princípio da incerteza
Aula 5: Operador momento e energia e o princípio da incertezaAula 5: Operador momento e energia e o princípio da incerteza
Aula 5: Operador momento e energia e o princípio da incerteza
 
[Robson] 1. Programação Linear
[Robson] 1. Programação Linear[Robson] 1. Programação Linear
[Robson] 1. Programação Linear
 
45681
4568145681
45681
 
Aula 6 - Profmat - Numeros Primos - 08 09-17
Aula 6 - Profmat - Numeros Primos -  08 09-17Aula 6 - Profmat - Numeros Primos -  08 09-17
Aula 6 - Profmat - Numeros Primos - 08 09-17
 
Intro teoria dos números cap2
Intro teoria dos  números cap2Intro teoria dos  números cap2
Intro teoria dos números cap2
 
Sequencias e series
Sequencias e seriesSequencias e series
Sequencias e series
 
Fisica grandeza física
Fisica grandeza físicaFisica grandeza física
Fisica grandeza física
 
Aula 6: O caso estacioário em uma dimensão
Aula 6: O caso estacioário em uma dimensãoAula 6: O caso estacioário em uma dimensão
Aula 6: O caso estacioário em uma dimensão
 
Aula 7 profmat - numeros primos e especiais - 06 10-17
Aula 7   profmat - numeros primos e especiais - 06 10-17Aula 7   profmat - numeros primos e especiais - 06 10-17
Aula 7 profmat - numeros primos e especiais - 06 10-17
 
Mat conjuntos numericos
Mat conjuntos numericosMat conjuntos numericos
Mat conjuntos numericos
 
Número normal
Número normalNúmero normal
Número normal
 
Pre calculo logica
Pre calculo logicaPre calculo logica
Pre calculo logica
 
Aula 15: O oscilador harmônico
Aula 15: O oscilador harmônicoAula 15: O oscilador harmônico
Aula 15: O oscilador harmônico
 

Destaque

Economia política do bem público
Economia política do bem públicoEconomia política do bem público
Economia política do bem públicoJosé Mota
 
Teoria do conhecimento
Teoria do conhecimentoTeoria do conhecimento
Teoria do conhecimentoJosé Mota
 
A introducao e
A   introducao eA   introducao e
A introducao eJosé Mota
 
Matrix glitcher tutorial
Matrix glitcher tutorialMatrix glitcher tutorial
Matrix glitcher tutorialJosé Mota
 
Slide unid 1-_nocoes_fin_e_econ_-__merc_capitais (1)
Slide unid 1-_nocoes_fin_e_econ_-__merc_capitais (1)Slide unid 1-_nocoes_fin_e_econ_-__merc_capitais (1)
Slide unid 1-_nocoes_fin_e_econ_-__merc_capitais (1)José Mota
 
Calculos e massas
Calculos e massasCalculos e massas
Calculos e massasJosé Mota
 

Destaque (9)

Economia política do bem público
Economia política do bem públicoEconomia política do bem público
Economia política do bem público
 
Teoria do conhecimento
Teoria do conhecimentoTeoria do conhecimento
Teoria do conhecimento
 
Ligacoes
LigacoesLigacoes
Ligacoes
 
A introducao e
A   introducao eA   introducao e
A introducao e
 
Tutorial
TutorialTutorial
Tutorial
 
Matrix glitcher tutorial
Matrix glitcher tutorialMatrix glitcher tutorial
Matrix glitcher tutorial
 
Lista enc
Lista encLista enc
Lista enc
 
Slide unid 1-_nocoes_fin_e_econ_-__merc_capitais (1)
Slide unid 1-_nocoes_fin_e_econ_-__merc_capitais (1)Slide unid 1-_nocoes_fin_e_econ_-__merc_capitais (1)
Slide unid 1-_nocoes_fin_e_econ_-__merc_capitais (1)
 
Calculos e massas
Calculos e massasCalculos e massas
Calculos e massas
 

Semelhante a Introducaoanalise

Semelhante a Introducaoanalise (20)

Sequencias e series unicamp
Sequencias e series   unicampSequencias e series   unicamp
Sequencias e series unicamp
 
Lista de exercícios 1
Lista de exercícios 1Lista de exercícios 1
Lista de exercícios 1
 
Aplicações da Indução
Aplicações da InduçãoAplicações da Indução
Aplicações da Indução
 
Construcao racionais operacoes
Construcao racionais operacoesConstrucao racionais operacoes
Construcao racionais operacoes
 
SucessõEs 4
SucessõEs 4SucessõEs 4
SucessõEs 4
 
Congruências
CongruênciasCongruências
Congruências
 
NÚMEROS COMPLEXOS - PARTE 01
NÚMEROS COMPLEXOS - PARTE 01NÚMEROS COMPLEXOS - PARTE 01
NÚMEROS COMPLEXOS - PARTE 01
 
Binômio de newton
Binômio de newtonBinômio de newton
Binômio de newton
 
Binômio de newton
Binômio de newtonBinômio de newton
Binômio de newton
 
Binômio de newton
Binômio de newtonBinômio de newton
Binômio de newton
 
Binômio de newton
Binômio de newtonBinômio de newton
Binômio de newton
 
Notas de aula 01 2015-2
Notas de aula 01 2015-2Notas de aula 01 2015-2
Notas de aula 01 2015-2
 
Apostila de matemática; fatorial triangulo de pascal-binomio de newton
Apostila de matemática; fatorial triangulo de pascal-binomio de newtonApostila de matemática; fatorial triangulo de pascal-binomio de newton
Apostila de matemática; fatorial triangulo de pascal-binomio de newton
 
Relações de recorrência
Relações de recorrênciaRelações de recorrência
Relações de recorrência
 
Sucessoes e series com res
Sucessoes e series com resSucessoes e series com res
Sucessoes e series com res
 
Aula 7 MA14 PROFMAT CPII
Aula 7 MA14 PROFMAT CPIIAula 7 MA14 PROFMAT CPII
Aula 7 MA14 PROFMAT CPII
 
Introd logica mat
Introd logica matIntrod logica mat
Introd logica mat
 
Pincipio da indução
Pincipio da induçãoPincipio da indução
Pincipio da indução
 
03 grandezas e vetores
03 grandezas e vetores03 grandezas e vetores
03 grandezas e vetores
 
Aula19e20
Aula19e20Aula19e20
Aula19e20
 

Último

Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Mary Alvarenga
 
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxSlides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxleandropereira983288
 
1.ª Fase do Modernismo Brasileira - Contexto histórico, autores e obras.
1.ª Fase do Modernismo Brasileira - Contexto histórico, autores e obras.1.ª Fase do Modernismo Brasileira - Contexto histórico, autores e obras.
1.ª Fase do Modernismo Brasileira - Contexto histórico, autores e obras.MrPitobaldo
 
RedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdf
RedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdfRedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdf
RedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdfAlissonMiranda22
 
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?Rosalina Simão Nunes
 
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxBeatrizLittig1
 
CD_B3_C_ Criar e editar conteúdos digitais em diferentes formatos_índice.pdf
CD_B3_C_ Criar e editar conteúdos digitais em diferentes formatos_índice.pdfCD_B3_C_ Criar e editar conteúdos digitais em diferentes formatos_índice.pdf
CD_B3_C_ Criar e editar conteúdos digitais em diferentes formatos_índice.pdfManuais Formação
 
Gerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem OrganizacionalGerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem OrganizacionalJacqueline Cerqueira
 
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃOLEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃOColégio Santa Teresinha
 
trabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduratrabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduraAdryan Luiz
 
[Bloco 7] Recomposição das Aprendizagens.pptx
[Bloco 7] Recomposição das Aprendizagens.pptx[Bloco 7] Recomposição das Aprendizagens.pptx
[Bloco 7] Recomposição das Aprendizagens.pptxLinoReisLino
 
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADOcarolinacespedes23
 
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptx
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptxAULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptx
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptxLaurindo6
 
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBCRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBAline Santana
 
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividadeMary Alvarenga
 
Bullying - Texto e cruzadinha
Bullying        -     Texto e cruzadinhaBullying        -     Texto e cruzadinha
Bullying - Texto e cruzadinhaMary Alvarenga
 
Livro O QUE É LUGAR DE FALA - Autora Djamila Ribeiro
Livro O QUE É LUGAR DE FALA  - Autora Djamila RibeiroLivro O QUE É LUGAR DE FALA  - Autora Djamila Ribeiro
Livro O QUE É LUGAR DE FALA - Autora Djamila RibeiroMarcele Ravasio
 

Último (20)

Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
 
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxSlides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
 
1.ª Fase do Modernismo Brasileira - Contexto histórico, autores e obras.
1.ª Fase do Modernismo Brasileira - Contexto histórico, autores e obras.1.ª Fase do Modernismo Brasileira - Contexto histórico, autores e obras.
1.ª Fase do Modernismo Brasileira - Contexto histórico, autores e obras.
 
RedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdf
RedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdfRedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdf
RedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdf
 
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?
 
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
 
CD_B3_C_ Criar e editar conteúdos digitais em diferentes formatos_índice.pdf
CD_B3_C_ Criar e editar conteúdos digitais em diferentes formatos_índice.pdfCD_B3_C_ Criar e editar conteúdos digitais em diferentes formatos_índice.pdf
CD_B3_C_ Criar e editar conteúdos digitais em diferentes formatos_índice.pdf
 
Gerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem OrganizacionalGerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem Organizacional
 
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃOLEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
 
trabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduratrabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditadura
 
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA -
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA      -XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA      -
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA -
 
[Bloco 7] Recomposição das Aprendizagens.pptx
[Bloco 7] Recomposição das Aprendizagens.pptx[Bloco 7] Recomposição das Aprendizagens.pptx
[Bloco 7] Recomposição das Aprendizagens.pptx
 
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
 
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptx
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptxAULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptx
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptx
 
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULACINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
 
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBCRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
 
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
 
Bullying - Texto e cruzadinha
Bullying        -     Texto e cruzadinhaBullying        -     Texto e cruzadinha
Bullying - Texto e cruzadinha
 
Livro O QUE É LUGAR DE FALA - Autora Djamila Ribeiro
Livro O QUE É LUGAR DE FALA  - Autora Djamila RibeiroLivro O QUE É LUGAR DE FALA  - Autora Djamila Ribeiro
Livro O QUE É LUGAR DE FALA - Autora Djamila Ribeiro
 

Introducaoanalise

  • 1. 1 O Conjunto dos N´ meros Reais u O primeiro conjunto num´rico que consideramos ´ o Conjunto dos N´ meros e e u Naturais. Este conjunto est´ relacionado com a opera¸˜o de contagem: a ca N = {0, 1, 2, 3, ...}. Admitiremos conhecidas as opera¸˜es usuais adi¸˜o e multiplica¸˜o em N co ca ca bem como os conceitos de n´meros pares, ´ u ımpares e primos. O processo de medi¸˜o de grandezas f´ ca ısicas nos conduzir´ ao conjunto de a n´meros reais. u Problema: Medir um segmento AB. Fixamos um segmento padr˜o u e vamos chamar sua medida de 1. a Dado um segmento AB , se u couber um n´mero exato de vezes em AB, u digamos n vezes, ent˜o dizemos que a medida de AB ser´ n. a a Claramente isto nem sempre ocorre. Defini¸˜o: Dizemos que um segmento AB e o segmento padr˜o u s˜o ca a a ´ COMENSURAVEIS se existir algum segmento w que caiba n vezes em u e m vezes em AB. Voltando ao nosso problema de medi¸˜o, se o segmento AB e o segmento ca padr˜o u forem comensur´veis , conforme a defini¸˜o acima, diremos que a a a ca a n a a 1 medida de AB ser´ m . A medida do segmento w ser´ ent˜o n . Isto nos motiva definirmos um conjunto num´rico que inclua todas estas e poss´ıveis medidas. Chamaremos este conjunto de Conjunto de N´ meros u Racionais Positivos: Q+ = { m |m, n ∈ N, n = 0}. n Alguns racionais representam as mesmas medidas. Por exemplo 2 e 1 . De 4 2 fato, se existe um semento w que cabe 2 vezes no segmento unit´rio ent˜o a a a metade deste segmento cabe 2 vezes nele e 4 vezes no segmento unit´rio. a Vamos ent˜o dizer que 1 = 2 . De um modo geral dizemos que m1 = m2 se a 2 4 n 1 n 2 m1 n2 = n1 m2 . Continuando com o problema da medi¸˜o nos deparamos com um grande ca problema. Nem sempre dois segmentos s˜o comensur´veis. De fato, considere- a a mos por exemplo a hipotenusa de um triˆngulo retˆngulo de catetos iguais a 1. a a Suponhamos que esta hipotenusa seja comensur´vel com o segmento unit´rio a a padr˜o u. a Ent˜o existiriam naturais n e m tais que a medida da hipotenusa seria a igual a m . Vamos supor que m e n sejam primos entre si, isto ´ , ´ imposs´ n e e ıvel simplificarmos mais esta express˜o. De acordo com o teorema de Pit´goras a a ter´ ıamos que m2 12 + 12 = 2 . n 2 2 2 Assim 2n = m e portanto m seria um n´mero par e portanto m tamb´m o u e seria. Logo existiria algum k ∈ N tal que m = 2k. Assim 4k 2 = 2n2 e portanto 1
  • 2. n2 = 2k 2 o que implicaria que n tamb´m seria par. Note que isto ´ um absurdo. e e Este absurdo surgiu do fato de termos suposto que a medida da hipotenusa fosse um n´mero racional. u No entanto esta hipotenusa existe e ´ muito bem determinada em cima da e reta. Ampliamos o conceito de n´mero de tal forma que todos os segmentos u possuam uma medida associada. Introduzimos os chamados N´ meros Ir-u racionais, de tal modo que , fixando uma unidade de comprimento padr˜o, a qualquer segmento de reta tem uma medida num´rica. e 1.1 A Reta Real Fixamos uma reta e um ponto chamamos de origem 0. Escolhemos um outro ponto A, a direita da origem. Fixamos 0A como unidade de comprimento. Facilmente marcamos sobre a reta os n´meros naturais. u Na semi-reta da esquerda marcamos segmentos, com extremidade na origem, com as mesmas medidas dos segmentos que definem os naturais e associamos `s suas extremidades esquerdas n´meros com um sinal −. Formamos ent˜o o a u a chamado Conjunto dos N´ meros Inteiros: u Z = {..., −2, −1, 0, 1, 2, ...}. Em seguida marcamos todos os segmentos, com extremidade na origem, comensur´veis com o segmento o segmento padr˜o 0A. Os que ficarem ` direita a a a ser˜o associados aos racionais positivos e os que ficarem ` esquerda ganhar˜o a a a um sinal −. Definimos ent˜o o Conjunto dos N´ meros Racionais: a u m Q == { |m ∈ Z, n ∈ N, n = 0}. n Como vimos acima esta constru¸˜o n˜o ocupa todo o espa¸o existente na ca a c reta. Se pararmos por aqui nossa reta ficar´ com v´rios ”buracos”. A cada a a um destes buracos associamos um n´mero, que chamaremos de irracional . u Finalmente definimos o Conjunto dos N´ meros Reais: u R = {x|x ∈ Q ou x eirracional}. ´ Existe uma correspondˆncia biun´ e ıvoca entre os n´meros reais e os pontos da u reta. Mais precisamente, a cada n´mero real est´ associado um e somente um u a ponto da reta e a cada ponto da reta est´ associado um e somente um n´mero a u real. No que segue, n˜o distinguiremos pontos da reta e n´meros reais. a u ´ E claro que N ⊂ Z ⊂ Q ⊂ R. Dizemos que x ∈ R ´ positivo, e denotamos x > 0, se x estiver no lado e direito da reta; dizemos que x ´ negativo, e denotaremos x < 0 , se x estiver no e lado esquerdo da reta. As nota¸˜es ≥ e ≤ indicam, respectivamente maior ou co igual e menor ou igual. Vamos introduzir as opera¸˜es adi¸˜o e multiplica¸˜o em R. co ca ca Defini¸˜o: ca 2
  • 3. a) Sejam x1 ∈ R e x2 ≥ 0. Definimos x1 + x2 como o n´mero real associado u a ”ponta final” do segmento, orientado para direita, com extremidade inicial em x1 , e com medida igual a medida do segmento associado a x2 . b)Sejam x1 ∈ R e x2 ≤ 0. Marcamos na reta o seguinte ponto: com ex- tremidade inicial em x1 e orientado para o lado esquerdo, com medida igual a do segmento associado a x2 . O n´mero real associado a ”ponta final” deste u segmento ser´ chamado de x1 + x2 . a Defini¸˜o: ca a) Se x > 0 e y > 0 definimos o produto xy da seguinte forma: Tra¸amos c uma reta l formando um ˆngulo inferior a 90o com a reta real e passando a pela origem. Na reta real marcamos a unidade 1 e o n´mero y. Na reta l u marcamos o x. Consideramos a reta que passa por 1 e por x e chamamos de s. Da geometria sabemos que existe uma unica reta t paralela a s e que passa y. ´ Finalmente marcamos em l o ponto P , itersec¸˜o desta com t. Com a ponta ca seca do compasso em 0 e abertura igual a 0P marcamos na reta real o ponto Q. O n´mero real associado a este ponto ser´ chamado de xy. u a b) Nos demais casos ´ s´ mudar o sinal xy convenientemente: e o x y xy + − + − + − − − + Observa¸˜o: Se fixarmos nossa aten¸˜o para os n´meros racionais veremos ca ca u que as defini¸˜es acima coincidem com as tradicionais: co a c ad + bc + = b d bd a c ac . = . b d bd O conjunto R munido das opera¸˜es definidas acima forma o que chamamos co de CORPO. Mais precisamente , satisfaz as seguintes propriedades: 1) Associatividade da Adi¸˜o e da Multiplica¸˜o: ca ca (x + y) + z = x + (y + z), ∀x, y, z ∈ R (xy)z = x(yz), ∀x, y, z ∈ R 2) Comutatividade da Adi¸˜o e da Multiplica¸˜o: ca ca x+y = y + x, ∀x, y ∈ R xy = yx, ∀x, y ∈ R 3) Existˆncia de Elemento Neutro para a Adi¸˜o e para a Multiplica¸˜o: e ca ca x + 0 = x, ∀x ∈ R x.1 = x, ∀x ∈ R 3
  • 4. 4) Existˆncia de Oposto para Adi¸˜o: e ca ∀x ∈ R, ∃(−x) ∈ R tal que x + (−x) = 0. 5) Existˆncia de Inverso para a Multiplica¸˜o: e ca ∀x ∈ R{0}, ∃y ∈ R tal que xy = 1. 6) Distributividade da Multiplica¸˜o em Rela¸˜o ` Adi¸˜o: ca ca a ca x(y + z) = xy + xz, ∀x, y, z ∈ R. Defini¸˜o: Dizemos que x < y se y − x > 0. ca Dentro dos reais destacamos o conjunto dos reais positivos: R+ = {x ∈ R|x > 0}. Observe que as seguintes condi¸˜es s˜o satisfeitas: co a a) A soma e o produto de elementos positivos s˜o positivos. Ou seja a x, y ∈ R+ ⇒ x + y ∈ R+ e x.y ∈ R+ . b) Dado x ∈ R ou x = 0 ou x ∈ R+ ou −x ∈ R+ . As duas propriedades acima caracterizam o que chamamos de CORPO OR- DENADO. Como em qualquer outro corpo ordenado, rela¸˜o de ordem ” < ” goza das ca seguintes propriedades: 1) Transitiva: (x, y, z ∈ R, x < y, y < z) ⇒ x < z. 2) (Tricotomia) Quaisquer que sejam x e y ∈ R : x < y ou y < x ou x = y. 3) Compatibilidade da Ordem com a Adi¸˜o: ca (x, y, z ∈ R, x < y) ⇒ x + z < y + z. 4) Compatibilidade da Ordem com a Multiplica¸˜o: ca (x, y, z ∈ R, x < y, 0 < z) ⇒ xz < yz. Observa¸˜o: Note que as propriedades de corpo e as propriedades de corpo ca ordenado tamb´m s˜o satisfeiras para Q. Vamos agora destacar uma propriedade e a que ´ satisfeita por R mas n˜o por Q. e a 4
  • 5. Defini¸˜o:Dado um subconjunto A ⊂ R dizemos que A ´ limitado se existe ca e K > 0 tal que x ∈ A ⇒ −K < x < K. Defini¸˜o:Dizemos que s ∈ R ´ o supremo de A se s for a menor das cotas ca e superiores de A : x ≤ s, ∀x ∈ A; x ≤ c, ∀x ∈ A ⇒ s ≤ c. Defini¸˜o:Dizemos que i ∈ R ´ o ´ ca e ınfimo de A se i for a maior das cotas inferiores de A : x ≥ i, ∀x ∈ A; x ≥ c, ∀x ∈ A ⇒ i ≥ c. O conjunto R satisfaz a propriedade: Axioma do Supremo: Todo conjunto limitado e n˜o vazio de n´meros a u reais possui um supremo e um ´ ınfimo real. Observemos que esta propriedade n˜o ´ satisfeita por Q. Considere o con- a e junto A = {x ∈ Q|0 < √2 < 2}. x O supremo de A ´ 2 que como vimos antes n˜o ´ um n´mero racional. e a e u A propriedade acima nos diz que o conjunto dos n´meros reais ´ um CORPO u e ORDENADO COMPLETO. Teorema dos Intervalos Encaixantes: Seja [a0 , b0 ] , [a1 , b1 ] , ..., [an , bn ] , ... uma sequˆncia de intervalos satisfazendo: e a) [a0 , b0 ] ⊃ [a1 , b1 ] ⊃ ... ⊃ [an , bn ] ⊃ ... b) Para todo r > 0 existe um natural n tal que bn − an < r. Ent˜o, existe um unico real c tal que para todo natural n a ´ an ≤ c ≤ bn . Demonstra¸˜o: Temos que A = {a0 , a1 , ...} ´ n˜o vazio e limitado superi- ca e a ormente. Seja ent˜o a c = sup A. ´ E claro que an ≤ c ≤ bn . Suponhamos que exista d , diferente de c satisfazendo an ≤ d ≤ bn . 5
  • 6. Neste caso ter´ ıamos |c − d| < bn − an , ∀n. Como a distˆncia bn − an aproxima-se de zero , ter´ a ıamos que c = d. Para completarmos esta se¸˜o vamos provar : ca Teorema a) Entre dois n´meros reais distintos sempre existe um n´mero irracional; u u b) Entre dois n´meros reais distintos sempre existe um n´mero racional. u u Demonstra¸˜o: Provemos a primeira afirma¸˜o. Sejam x e y dois n´meros ca ca u reais distintos. Sem perda de generalidade suponhamos x < y. Assim y − x > 0. Observe que ´ poss´ encontrarmos n´meros naturais n, m tais que e ıvel u n (y − x) > 1 √ m (y − x) > 2 (este fato ´ conhecido como Princ´ e ıpio de Arquimedes). Desta forma temos que 1 x < x+ <y n √ 2 x < x+ <y n √ e assim se x for irracional, assim ser´ x + n e se x for racional ent˜o x + n2 a 1 a ser´ irracional. De qual quer forma conseguimos encontrar um irracional entre a x e y. Provemos a segunda afirma¸˜o. Sejam x e y dois n´meros reais distintos. ca u Inicialmente observemos que se x < 0 < y ent˜o nada temos para provar pois 0 a ´ racional. Suponhamos 0 < x < y. Assim y − x > 0. Novamente aplicando o e princ´ıpio de Arquimedes encontramos um natural n tal que n(y − x) > 1 nx > 1 Seja j tal que j j+1 ≤x< n n Notemos que j+1 j 1 = + < x + (y − x) = y n n n Logo basta tomarmos j+1 . n Se x < y < 0 ent˜o 0 < −y < −x e pelo primeiro caso encontramos um a racional entre −y e −x. O sim´trico deste racional ser´ o racional procurado. e a 6
  • 7. Exerc´ıcios: As propriedades que destacamos acima s˜o suficientes para a deduzirmos uma s´rie de outras, conforme os exerc´ e ıcios abaixo. 1) Prove que quaisquer que sejam os reais x, y, z x + z = y + z ⇒ x = y. 2) Prove que quaisquer que sejam os reais x, y, z, w 0≤x≤y ⇒ xz ≤ yw. 0≤z≤w 3) Prove que quaisquer que sejam os reais x, y, z, w tem-se: a)x < y ⇔ x + z < y + z. b)z > 0 ⇔ z −1 > 0. c)z > 0 ⇔ −z < 0. d)z > 0, x < y ⇔ xz < yz. e)z < 0, x < y ⇔ xz > yz. 0≤x<y f) ⇒ xz < yw 0≤z<w g)0 < x < y ⇒ 0 < y −1 < x−1 h)x < y ou x = y ou y < x. i)xy = 0 ⇔ x = 0 ou y = 0. 4) Suponha x ≥ 0 e y ≥ 0. Prove que: a)x < y ⇒ x2 < y 2 . b)x ≤ y ⇒ x2 ≤ y 2 c)x < y ⇔ x2 < y 2 . 1.2 Sequˆncias de N´ meros Reais e u Nesta se¸˜o estudaremos fun¸˜es reais de uma vari´vel real cujo dom´ ca co a ınio ´ um e subconjunto do conjunto dos n´meros naturais. Tais fun¸˜es recebem o nome de u co sequˆncias. N˜o daremos um tratamento anal´ e a ıtico completo ao assunto, apenas iremos introduzir o conceito e provaremos as principais propriedades. Defini¸˜o: Uma sequˆncia de n´meros reais ´ uma fun¸˜o ca e u e ca f :A⊂N →R 7
  • 8. Nota¸˜o: Denotamos (an ) onde f (n) = an . Em geral apresentaremos a ca sequˆncia pela lei de defini¸˜o e consideraremos o dom´ e ca ınio como o maior sub- conjunto de N onde tem sentido a lei de defini¸˜o. ca Exemplos: 1) (an ) dada por an = n ´ a sequˆncia formada pelos n´meros 1, 1 , 3 , ... 1 e e u 2 1 2) (an ) dada por an = 2 ´ a sequˆncia constante 2, 2, 2, ... e e n 3) (an ) dada por an = (−1) ´ a sequˆncia 1, −1, 1, −1,... e e Defini¸˜o: Diz-se que uma sequˆncia (an ) converge para um n´mero L ou ca e u tem limite L se , dado qualquer n´mero ε > 0 , ´ sempre poss´ encontrar um u e ıvel n´mero natural N tal que u n > N → |an − L| < ε. Denotamos lim an = L ou an → L. n→+∞ Intuitivamente dizer que (an ) converge para L significa dizer que os termos da sequˆncia aproximam-se de L quando n cresce . e Exemplo: 1 A sequˆncia (an ) dada por an = n converge para 0. e De fato, dado ε > 0, tomamos N o primeiro n´mero natural maior que 1 e u ε temos que 1 1 n>N →n> → < ε. ε n Defini¸˜o: Quando uma sequˆncia n˜o converge diz-se que ela diverge ou ca e a que ´ divergente. e Exemplos: n 1) A sequˆncia (an ) dada por an = (−1) ´ divergente. De fato, seus termos e e oscilam entre −1 e 1. 2) A sequˆncia (an ) dada por an = n ´ divergente. De fato, seus termos e e crescem indefinidamente. Defini¸˜o: Uma sequˆncia (an ) ´ dita limitada se existir um n´mero real ca e e u K > 0 tal que |an | ≤ K, ∀n. Exemplos: 1 1) As sequˆncias dadas por an = n , an = cos n s˜o exemplos de sequˆncias e a e limitadas. 2) A sequˆncia (an ) dada por an = n2 n˜o ´ limitada. e a e Observa¸˜o: Ser limitada n˜o ´ o mesmo que ter limite. Se uma sequˆncia ca a e e for convergente ent˜o ela ser´ limitada mas nem toda sequˆncia limitada ´ con- a a e e n vergente. De fato, considere por exemplo a sequˆncia (an ) dada por an = (−1) . e 8
  • 9. Defini¸˜o: ca a e ´ 1) Se a1 < a2 < a3 < ... ent˜o (an ) ´ dita MONOTONA CRESCENTE. ´ ˜ 2) Se a1 ≤ a2 ≤ a3 ≤ ... ent˜o (an ) ´ dita MONOTONA NAO DECRES- a e CENTE. a e ´ 3) Se a1 > a2 > a3 > ... ent˜o (an ) ´ dita MONOTONA DECRESCENTE. ´ ˜ 4) Se a1 ≥ a2 ≥ a3 ≥ ... ent˜o (an ) ´ dita MONOTONA NAO CRES- a e CENTE. Teorema: Toda sequˆncia mon´tona limitada ´ convergente. e o e Demonstra¸˜o:Vamos provar que toda sequˆncia n˜o decrescente e limi- ca e a tada converge para seu extremo superior e deixaremos os demais casos como exerc´ ıcio. Seja K > 0 tal que a1 ≤ a2 ≤ a3 ≤ ... ≤ K Assim temos que o conjunto {an |n ∈ N } ´ limitado superiormente.Pela propriedade do supremo temos que existe L ∈ R e tal que L = sup{an |n ∈ N }. Afirmamos que L = lim an . n→+∞ De fato , dado ε > 0 temos que L − ε n˜o ´ uma cota superior de {an |n ∈ N } a e e assim exite N > 0 tal que aN > L − ε e portanto n > N → L − ε < aN ≤ an < L < L + ε → |an − L| < ε. Uma importante aplica¸˜o: O n´ mero e ca u Vamos provar que: 1) A sequˆncia dada por e n 1 an = 1+ n ´ crescente e limitada e portanto convergente. e 2) Sendo (an ) convergente, escrevemos e = lim an n→∞ 9
  • 10. e provamos que 2 < e < 3. 1) Inicialmente mostremos que a sequˆncia ´ crescente. e e Vamos provar que , para todo n temos an+1 > 1. an Temos n+1 n+1 n+1 1 n+2 n+2 1+ n+1 n+1 n+1 1 n = n+1 n = = 1+ n+1 n+1 n n n n n+1 n+1 n+1 n+2 n n2 +2n n+1 n+1 2 (n+1) = n = n = n+1 n+1 n+1 n+1 (n+1)2 −1 1 (n+1)2 1 − (n+1)2 = n = n =∗ n+1 n+1 Aplicando a desigualdade de Bernoulli em ∗ temos −1 1 + (n + 1) (n+1)2 1− 1 n+1 ∗> n = n = 1. n+1 n+1 Logo a sequˆncia ´ crescente. e e Provemos agora que a sequˆncia ´ limitada. Temos e e n 1 1 n(n − 1) 1 n (n − 1) ... (n − (k − 1)) 1 1 1+ = 1 + n. + . 2 + ... + + ... + n = n n 2 n k! nk n 1 1 1 1 2 k−1 = 1+1+ 1− + ... + (1 − )(1 − )... 1 − + 2 n k! n n n 1 1 2 n−1 ... + (1 − )(1 − )... 1 − n! n n n Por indu¸˜o ´ f´cil provar que ca e a 1 1 ≤ n−1 , ∀n ∈ N. n! 2 Assim n n 1 1 1 1− 1 2 1+ ≤1+1+ + .... + n = 1 + < 3. n 2 2 1− 1 2 Conclu´ ımos que n 1 2< 1+ < 3. n 10
  • 11. 2) 1 n Como 1+ n ´ convergente escrevemos e n 1 e = lim 1+ . n→∞ n 2 Limites de Fun¸˜es Reais Definidas em Inter- co valos 2.1 Introdu¸˜o ca Neste cap´ıtulo introduziremos o conceito de limite. Restringiremos nosso es- tudo para as fun¸˜es reais definidas em intervalos. Deixaremos para o curso de co An´lise Matem´tica o estudo de limites quando as fun¸˜es est˜o definidas em a a co a um subconjunto qualquer da reta. Todas as fun¸˜es que consideraremos neste cap´ co ıtulo s˜o do tipo f : I → R a onde I ´ uma uni˜o de intervalos. e a Defini¸˜o: Dizemos que f : I → R est´ definida em uma vizinhan¸a de p, ca a c exceto possivelmente em p, se existir algum r > 0 tal que (p − r, p) ⊂ I e (p, p + r) ⊂ I. Exemplos: 1) Uma fun¸˜o definida em um intervalo aberto f : (a, b) → R est´ definida ca a em uma vizinhan¸a de p, qualquer que seja p ∈ (a, b). c 2) Uma fun¸˜o definida em um intervalo fechado f : [a, b] → R est´ definida ca a em uma vizinhan¸a de p, qualquer que seja p ∈ (a, b). Note que f n˜o est´ c a a definida em uma vizinhan¸a de a e nem em uma vizinhan¸a de b. O mesmo c c permanece v´lido para qualquer outra combina¸˜o de ( ou [.(verifique isso). a ca 2 3) Consideremos f : R{1} → R dada por f (x) = x −1 . Observe que f x−1 est´ definida em uma vizinhan¸a de 1, exceto no ponto 1. a c 2.2 Defini¸˜o de Limite ca Defini¸˜o: Seja f : I → R uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a de p, ca ca c exceto possivelmente em p. Dizemos que o limite de f (x) ao x tender a p ´ e igual a L ∈ R se para qualquer ε > 0 existir δ > 0 tal que para 0 < |x − p| < δ tem-se |f (x) − L| < ε. Denotamos lim f (x) = L. x→p 11
  • 12. Intuitivamente a defini¸˜o acima est´ nos dizendo que a medida que x ca a aproxima-se de p temos que f (x) aproxima-se de L : ∀ε > 0, ∃δ > 0, 0 < |x − p| < δ ⇒ |f (x) − L| < ε Exemplos: 1) Seja k ∈ R uma constante e p ∈ R. Provemos que lim k = k. De fato, x→p dado ε > 0 existe δ = 1 tal que 0 < |x − p| < 1 ⇒ |k − k| = 0 < ε. ε 2) Provemos que lim (2x − 4) = 2. De fato, dado ε > 0 existe δ = 2 tal que x→3 ε 0 < |x − 3| < ⇒ |2x − 6| < ε ⇒ |(2x − 4) − 2| < ε. 2 3) Observe que o valor que a fun¸˜o assume no ponto p n˜o influencia seu ca a −x + 4, se x = 1 limite ao x tender a p. Seja f : R → R dada por f (x) = . 7, se x = 1 Temos que lim f (x) = 3. De fato, dado ε > 0 existe δ = ε tal que x→1 0 < |x − 1| < ε ⇒ |−x + 4 − 3| < ε ⇒ |f (x) − 3| < ε. 16−x2 4) Seja f : R{−4} → R dada por f (x) = x+4 . Temos que para x = −4, 16−x2 x+4 = 4 − x e assim lim f (x) = lim (4 − x) = 8. De fato , dado ε > 0 x→−4 x→−4 tomamos δ = ε e temos 0 < |x − (−4)| < ε ⇒ 0 < |x + 4| < ε ⇒ |4 − x − 8| = |x + 4| < ε. Podemos caracterizar o limite de fun¸˜es reais utilizando sequˆncias de co e n´meros reais. u Teorema : Sejam f uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a de p ∈ R ca c exceto possivelmente em p e L ∈ R . Vale que lim f (x) = L se e somene se x→p ∀ (xn ) tal que xn → p , xn = p , tem-se f (xn ) → L. Demonstra¸˜o: Suponhamos que lim f (x) = L. Seja xn tal que xn → p. ca x→p Provemos que f (xn ) → L. Seja ε > 0. Ent˜o existe δ > 0 tal que a 0 < |x − p| < δ → |f (x) − L| < ε. Como xn → p, xn = p temos que exite N natural tal que n > N → 0 < |xn − p| < δ → |f (xn ) − L| < ε. 12
  • 13. Reciprocamente, suponhamos que ∀ (xn ) tal que xn → p , xn = p , tem-se f (xn ) → L. Provemos que lim f (x) = L. x→p Se isto n˜o fosse verdade existiria ε > 0 tal que para qualquer δ > 0 existiria a x tal que 0 < |x − p| < δ e |f (x) − L| > ε. 1 Tomando δ = n existiria xn tal que 1 0 < |xn − p| < e |f (xn ) − L| > ε. n ı ıamos xn → p, xn = p e no entanto f (xn ) n˜o estaria convergindo Mas da´ ter´ a para L. Logo lim f (x) = L. x→p 2.3 Unicidade, Conserva¸˜o de Sinal e Limita¸˜o ca ca Come¸aremos esta se¸˜o provando a unicidade do limite. c ca Teorema: Seja f uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a de p ∈ R exceto ca c possivelmente em p. Se existe L ∈ R tal que lim f (x) = L ent˜o L ´ unico. a e´ x→p Demonstra¸˜o:Suponhamos que lim f (x) = M .Vamos provar que L = M. ca x→p Suponhamos que L = M. Sem perda de generalidade podemos supor L < M. −L Tomemos ε = M 2 . Assim existe δ1 > 0 tal que M −L M +L 0 < |x − p| < δ1 ⇒ |f (x) − L| < ⇒ f (x) < . 2 2 Por outro lado existe δ2 > 0 tal que M −L M +L 0 < |x − p| < δ2 ⇒ |f (x) − M | < ⇒ f (x) > . 2 2 Tomando δ = min{δ1 , δ2 } temos que M +L M +L 0 < |x − p| < δ ⇒ < f (x) < 2 2 e isto ´ um absurdo. e Logo L = M. A seguir provaremos que a existˆncia de lim f (x) implicar´ na limita¸˜o da e a ca x→p fun¸˜o em uma vizinhan¸a do ponto p. ca c 13
  • 14. Teorema: Seja f uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a de p ∈ R exceto ca c possivelmente em p. Se existe L ∈ R tal que lim f (x) = L ent˜o existem δ > 0 a x→p e M > 0 tais que 0 < |x − p| < δ ⇒ |f (x)| < M. Demonstra¸˜o: Tomando ε = 1 na defini¸˜o de limite temos que ca ca ∃δ > 0, 0 < |x − p| < δ ⇒ |f (x) − L| < 1 Da desigualdade triangular temos |f (x)| − |L| ≤ |f (x) − L| e portanto |f (x)| ≤ 1 + |L| . Logo basta tomarmos M = 1 + |L| e δ como acima. Vamos provar agora o teorema da conserva¸˜o do sinal. Em suma o teorema ca ir´ nos dizer que o limite tem que ter o mesmo sinal da fun¸˜o em uma vizinhan¸a a ca c do ponto ou ser nulo. Teorema: Sejam f uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a de p ∈ R, ca c exceto possivelmente em p, e L ∈ R tais que lim f (x) = L. x→p a) Se L > 0 ent˜o existe δ > 0 tal que a 0 < |x − p| < δ ⇒ f (x) > 0. b) Se L < 0 ent˜o existe δ > 0 tal que a 0 < |x − p| < δ ⇒ f (x) < 0. Demonstra¸˜o: Vamos provar a) e deixaremos como exerc´ a prova de ca ıcio b). L Tomamos ε = 2 e temos que existe δ > 0 tal que L 0 < |x − p| < δ ⇒ |f (x) − L| < . 2 L Segue que f (x) > 2 > 0. 14
  • 15. 2.4 C´lculo de Limites a Nesta se¸˜o demonstraremos algumas propriedades operacionais que facilitar˜o ca a o c´lculo de limites. a Teorema: Sejam f e g fun¸˜es definidas em uma vizinhan¸a de um ponto co c p ∈ R , exceto possivelmente em p;L , M ∈ R tais que lim f (x) = L e x→p lim g(x) = M e k uma constante real. x→p Ent˜o: a a) Existe lim (f (x) + g(x)) e lim (f (x) + g(x)) = L + M. x→p x→p b) Existe lim (f (x) − g(x)) e lim (f (x) − g(x)) = L − M. x→p x→p c) Existe lim (f (x).g(x)) e lim (f (x).g(x)) = L.M . x→p x→p d) Existe lim kf (x) e lim kf (x) = kL. x→p x→p e) Se M = 0, existe lim f (x) e lim f (x) = L M. x→p g(x) x→p g(x) Demonstra¸˜o:ca a) Seja ε > 0. De acordo com nossa hip´tese temos que existem δ1 > 0 e o δ2 > 0 tais que ε 0 < |x − p| < δ1 ⇒ |f (x) − L| < , 2 ε 0 < |x − p| < δ2 ⇒ |g(x) − M | < . 2 Tomando δ = min{δ1 , δ2 } temos que 0 < |x − p| < δ ⇒ |f (x) + g(x) − (L + M )| < ε ε < |f (x) − L| + |g(x) − M | < + = ε. 2 2 b) Deixamos como exerc´ ıcio. d) Se k = 0 ent˜o ´ trivial. Suponhamos k = 0. Seja ε > 0. Da nossa hip´tese a e o temos que existem δ > 0 tal que ε 0 < |x − p| < δ ⇒ |f (x) − L| < . |k| Assim temos ∃δ1 = δ > 0 tal que ε 0 < |x − p| < δ1 ⇒ |kf (x) − kL| = |k| |f (x) − L| < |k| = ε. |k| 15
  • 16. 1 c) Inicialmente observemos que f (x).g(x) = 4 [(f (x)+g(x))2 −(f (x)−g(x))2 ]. Provemos que, dada uma fun¸˜o h definida em uma vizinhan¸a de p, exceto ca c possivelmente em p, e satisfazendo lim h(x) = N temos lim h(x)2 = N 2 . De x→p x→p fato, de acordo com o teorema da limita¸˜o, temos ca ∃δ1 > 0, ∃K > 0 tais que 0 < |x − p| < δ1 ⇒ |h(x)| < K. Al´m disso, dado ε > 0, temos e ∃δ2 > 0 tal que ε 0 < |x − p| < δ2 ⇒ |h(x) − N | < . K + |N | Tomamos δ satisfazendo δ = min{δ1 , δ2 } temos 0 < |x − p| < δ ⇒ h(x) − N 2 = |h(x) − N | |h(x) + N | < ε ε < (|h(x)| + |N |) < (K + |N |) = ε. K + |N | K + |N | Desta forma 1 lim (f (x).g(x)) = lim [(f (x) + g(x))2 − (f (x) − g(x))2 ] = ∗ x→p x→p 4 Pela propriedade d) temos 1 ∗= lim [(f (x) + g(x))2 − (f (x) − g(x))2 ] = ∗∗ 4 x→p e pela propriedade b) 1 1 ∗∗ = lim (f (x) + g(x))2 − lim (f (x) − g(x))2 = ∗ ∗ ∗ 4 x→p 4 x→p e aplicando o que acabamos de provar 1 1 ∗∗∗= ( lim (f (x) + g(x)))2 − ( lim (f (x) − g(x)))2 = ∗ ∗ ∗∗ 4 x→p 4 x→p e voltando a aplicar a) e b) finalmente temos 1 ∗ ∗ ∗∗ = [(L + M )2 − (L − M )2 ] = LM. 4 1 1 e) Para provarmos e) ´ suficiente provarmos que lim e = M. De fato x→p g(x) f (x) 1 g(x) = f (x). g(x) e sabemos operar o produto por d). Seja ε > 0. Como lim g(x) = M = 0 temos que x→p ∃δ1 > 0 tal que |M | |M | 0 < |x − p| < δ1 ⇒ |g(x) − M | < ⇒ |g(x)| > 2 2 16
  • 17. Por outro lado ∃δ2 > 0 tal que 2 |M | 0 < |x − p| < δ2 ⇒ |g(x) − M | < ε 2 Tomando δ = min{δ1 , δ2 } temos 1 1 |g(x) − M | 0 < |x − p| < δ ⇒ − = < g(x) M |g(x)| |M | 2 2 2 |M | < 2 |g(x) − M | < 2 ε=ε |M | |M | 2 O Teorema do Confronto (” Teorema do Sandu´ ıche”): Sejam f, g, h fun¸˜es definidas em uma vizinhan¸a de p, exceto possivelmente em p, satis- co c fazendo: a) f (x) ≤ g(x) ≤ h(x), para todo x nesta vizinhan¸a, c b) Existem os limites lim f (x), lim h(x) e x→p x→p c) lim f (x) = lim h(x) = L. x→p x→p Ent˜o existe lim g(x) e lim g(x) = L. a x→p x→p Demonstra¸˜o: Seja ε > 0. Por c) temos: ca ∃δ1 > 0 tal que 0 < |x − p| < δ1 ⇒ |f (x) − L| < ε e ∃δ2 > 0 tal que 0 < |x − p| < δ2 ⇒ |h(x) − L| < ε Tomamos δ = min{δ1 , δ2 } e temos 0 < |x − p| < δ ⇒ L − ε < f (x) ≤ g(x) ≤ h(x) < L + ε ⇒ ⇒ |g(x) − L| < ε Exerc´ ıcio: Prove que lim f (x) = 0 ⇔ lim |f (x)| = 0. x→p x→p Exemplo: lim x cos x = 0. x→0 De fato, vamos mostrar que lim |x cos x| = 0. x→0 Temos que 0 ≤ |x cos x| ≤ |x| e pelo teorema do confronto segue o resultado. 17
  • 18. 2.5 Limites Laterais Nesta se¸˜o iremos estudar limites quando x aproxima-se de um ponto p assu- ca mindo somente valores maiores (ou menores) que p. Defini¸˜o: ca a)Dizemos que f : I → R est´ definida em uma vizinhan¸a ` direita de p, a c a exceto possivelmente em p, se existir algum r > 0 tal que (p, p + r) ⊂ I. b)Dizemos que f : I → R est´ definida em uma vizinhan¸a ` esquerda de p, a c a exceto possivelmente em p, se existir algum r > 0 tal que (p − r, p) ⊂ I. Exemplos: 1) Uma fun¸˜o definida em um intervalo aberto f : (a, b) → R est´ definida ca a em uma vizinhan¸a ` direita de p e em uma vizinhan¸a ` esquerda de p, qualquer c a c a que seja p ∈ (a, b). 2) Uma fun¸˜o definida em um intervalo fechado f : [a, b] → R est´ definida ca a em uma vizinhan¸a ` direita de p, qualquer que seja p ∈ [a, b) e est´ definida c a a em uma vizinhan¸a ` esquerda de p, qualquer que seja p ∈ (a, b]. Note que f c a n˜o est´ definida em uma vizinhan¸a ` esquerda de a e nem em uma vizinhan¸a a a c a c a ` direita de b. O mesmo permanece v´lido para qualquer outra combina¸˜o de a ca ( ou [.(verifique isso). ´ 3) E imediato verificarmos que uma fun¸˜o f est´ definida ca a em uma vizinhan¸a de p se e somente se est´ definida em uma vizinhan¸a ` esquerda de c a c a p e em uma vizinhan¸a ` direita de p. c a Defini¸˜o: ca a) Seja f : I → R uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a ` direita de ca c a p, exceto possivelmente em p. Dizemos que o limite de f (x) ao x tender a p pela direita ´ igual a L ∈ R se para qualquer ε > 0 existir δ > 0 tal que para e x ∈ (p, p + δ) tem-se |f (x) − L| < ε. Denotamos lim f (x) = L. x→p+ b) Seja f : I → R uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a ` esquerda de ca c a p, exceto possivelmente em p. Dizemos que o limite de f (x) ao x tender a p pela esquerda ´ igual a L ∈ R se para qualquer ε > 0 existir δ > 0 tal que para e x ∈ (p − δ, p) tem-se |f (x) − L| < ε. Denotamos limx→p− f (x) = L. Observa¸˜o: Todas as propriedades provadas nas se¸˜es anteriores com ca co rela¸˜o a unicidade, conserva¸˜o de sinal e limita¸˜o permanecem v´lidas para ca ca ca a limites laterais, com as devidas altera¸˜es.Tamb´m permanecem v´lidas as pro- co e a priedades operacionais provadas na se¸˜o anterior. ca 18
  • 19. Teorema: Seja f : I → R uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a de um ca c ponto p exceto possivelmente em p. Vale que ∃ lim f (x) ⇔ ∃ lim+ f (x), ∃ lim− f (x) e lim− f (x) = lim+ f (x). x→p x→p x→p x→p x→p Deixamos a prova do resultado acima como exerc´ ıcio. 2.6 Limites no Infinito Nesta se¸˜o iremos estudar o comportamento de algumas fun¸˜es quando a ca co vari´vel assume valores arbitrariamente grandes. a Defini¸˜o: ca a) Dizemos que uma fun¸˜o f : I → R est´ definida em uma vizinhan¸a de ca a c +∞ se existir a ∈ R tal que (a, +∞) ⊂ I. b) Dizemos que uma fun¸˜o f : I → R est´ definida em uma vizinhan¸a de ca a c −∞ se existir a ∈ R tal que (−∞, a) ⊂ I. Exemplos: a) Qualquer fun¸˜o f : R → R est´ definida em vizinhan¸as de +∞ e de ca a c −∞. b) Qualquer fun¸˜o f : [b, +∞) → R ou f : (b, +∞) → R est´ definida em ca a uma vizinhan¸a de +∞ mas n˜o est´ definida em uma vizinhan¸a de −∞. c a a c c) Qualquer fun¸˜o f : (−∞, b] → R ou f : (−∞, b) → R est´ definida em ca a uma vizinhan¸a de −∞ mas n˜o est´ definida em uma vizinhan¸a de +∞. c a a c Defini¸˜o: ca a) Seja f : I → R uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a de +∞. Dizemos ca c que o limite de f (x) ao x tender a +∞ ´ L ∈ R e denotamos lim f (x) = L e x→+∞ se para todo ε > 0 existir x0 > 0 tal que x > x0 ⇒ |f (x) − L| < ε. b) Seja f : I → R uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a de −∞. Dizemos ca c que o limite de f (x) ao x tender a −∞ ´ L ∈ R e denotamos lim f (x) = L e x→−∞ se para todo ε > 0 existir x0 < 0 tal que x < x0 ⇒ |f (x) − L| < ε. 1 Exemplo: Vamos provar que lim = 0. x→+∞ x De fato, dado ε > 0 tomamos x0 = 1 e ε temos 1 1 1 x > x0 ⇒ x > ⇒0< <ε⇒ < ε. ε x x 19
  • 20. ıcio: Sejam f : I → R uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a de Exerc´ ca c +∞ e L ∈ R tal que lim f (x) = L. Prove que existem x0 > 0 e M > 0 tais x→+∞ que x > x0 ⇒ |f (x)| < M. A seguir estabelecemos algumas propriedades operacionais dos limites no infinito. Teorema: Sejam f e g fun¸˜es definidas em uma vizinhan¸a de +∞ ; L , co c M ∈ R tais que lim f (x) = L e lim g(x) = M e k uma constante real. x→+∞ x→+∞ Ent˜o: a a) Existe lim (f (x) + g(x)) e lim (f (x) + g(x)) = L + M. x→+∞ x→+∞ b) Existe lim (f (x) − g(x)) e lim (f (x) − g(x)) = L − M. x→+∞ x→+∞ c) Existe lim (f (x).g(x)) e lim (f (x).g(x)) = L.M . x→+∞ x→+∞ d) Existe lim kf (x) e lim kf (x) = kL. x→+∞ x→+∞ e) Se M = 0, existe lim f (x) e lim f (x) = L M. x→+∞ g(x) x→+∞ g(x) Demonstra¸˜o:ca a) Seja ε > 0. De acordo com nossa hip´tese temos que existem x1 > 0 e o x2 > 0 tais que ε x > x1 ⇒ |f (x) − L| < 2 ε x > x2 ⇒ |g(x) − M | < 2 Tomando x0 = max{x1 , x2 } temos que x > x0 ⇒ |f (x) + g(x) − (L + M )| < ε ε < |f (x) − L| + |g(x) − M | < + = ε. 2 2 b) Deixamos como exerc´ ıcio. d) Se k = 0 ent˜o ´ trivial. Suponhamos k = 0. a e Seja ε > 0. Da nossa hip´tese temos que existem x0 > 0 tal que o ε x > x0 ⇒ |f (x) − L| < . |k| Assim temos ε x > x0 ⇒ |kf (x) − kL| = |k| |f (x) − L| < |k| = ε. |k| 1 c) Inicialmente observemos que f (x).g(x) = 4 [(f (x)+g(x))2 −(f (x)−g(x))2 ]. 20
  • 21. Provemos que, dada uma fun¸˜o h definida em uma vizinhan¸a de +∞, e ca c satisfazendo lim h(x) = N temos lim h(x)2 = N 2 . De fato, pelo exerc´ ıcio x→+∞ x→+∞ acima, ∃x1 > 0, ∃K > 0 tais que x > x1 ⇒ |h(x)| < K Al´m disso, dado ε > 0, temos e ∃x2 > 0 tal que ε x > x2 ⇒ |h(x) − N | < K + |N | Tomamos x0 satisfazendo x0 = max{x1 , x2 } temos x > x0 ⇒ h(x) − N 2 = |h(x) − N | |h(x) + N | < ε ε < (|h(x)| + |N |) < (K + |N |) = ε. K + |N | K + |N | Desta forma 1 lim (f (x).g(x)) = lim [(f (x) + g(x))2 − (f (x) − g(x))2 ] = ∗ x→+∞ x→+∞ 4 Pela propriedade d) temos 1 ∗= lim [(f (x) + g(x))2 − (f (x) − g(x))2 ] = ∗∗ 4 x→+∞ e pela propriedade b) 1 1 ∗∗ = lim (f (x) + g(x))2 − lim (f (x) − g(x))2 = ∗ ∗ ∗ 4 x→+∞ 4 x→+∞ e aplicando o que acabamos de provar 1 1 ∗∗∗= ( lim (f (x) + g(x)))2 − ( lim (f (x) − g(x)))2 = ∗ ∗ ∗∗ 4 x→+∞ 4 x→+∞ e voltando a aplicar a) e b) finalmente temos 1 ∗ ∗ ∗∗ = [(L + M )2 − (L − M )2 ] = LM 4 e) Para provarmos e) ´ suficiente provarmos que e lim 1 = 1 M. De fato x→+∞ g(x) f (x) 1 g(x) = f (x). g(x) e sabemos operar o produto por d). Seja ε > 0. Como lim g(x) = M = 0 temos que x→+∞ ∃x1 > 0 tal que |M | |M | x > x1 ⇒ |g(x) − M | < ⇒ |g(x)| > 2 2 21
  • 22. Por outro lado ∃x2 > 0 tal que 2 |M | x > x2 ⇒ |g(x) − M | < ε 2 Tomando x0 = max{x1 , x2 } temos 1 1 |g(x) − M | x > x0 ⇒ − = < g(x) M |g(x)| |M | 2 2 2 |M | < 2 |g(x) − M | < 2 ε=ε |M | |M | 2 Observe que o resultado acima continua v´lido se considerarmos x → −∞. a 2.7 Limites Infinitos Nesta se¸˜o estudaremos os limites infinitos. Neste caso os valores de f (x) ´ ca e que assumem valores arbitrariamente grandes a medida que x aproxima-se de algum ponto p ou de ±∞. Defini¸˜o: ca a) Seja f : I → R uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a ` direita de ca c a p ∈ R. Dizemos que o limite de f (x) ao x tender ` p pela direita ´ igual a +∞ a e e denotamos lim+ f (x) = +∞ x→p se para todo M > 0 existir um δ > 0 tal que x ∈ (p, p + δ) ⇒ f (x) > M. b) Seja f : I → R uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a ` direita de ca c a p ∈ R. Dizemos que o limite de f (x) ao x tender ` p pela direita ´ igual a −∞ a e e denotamos lim+ f (x) = −∞ x→p se para todo M > 0 existir um δ > 0 tal que x ∈ (p, p + δ) ⇒ f (x) < −M. c) Seja f : I → R uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a ` esquerda de ca c a p ∈ R. Dizemos que o limite de f (x) ao x tender ` p pela esquerda ´ igual a a e +∞ e denotamos lim f (x) = +∞ x→p− se para todo M > 0 existir um δ > 0 tal que x ∈ (p − δ, p) ⇒ f (x) > M. 22
  • 23. d) Seja f : I → R uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a ` esquerda de ca c a p ∈ R. Dizemos que o limite de f (x) ao x tender ` p pela esquerda ´ igual a a e −∞ e denotamos lim f (x) = −∞ x→p− se para todo M > 0 existir um δ > 0 tal que x ∈ (p − δ, p) ⇒ f (x) < −M. e) Seja f : I → R uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a de +∞. Dizemos ca c que o limite de f (x) ao x tender ` +∞ ´ igual a +∞ e denotamos a e lim f (x) = +∞ x→+∞ se para todo M > 0 existir um N > 0 tal que x > N ⇒ f (x) > M. f ) Seja f : I → R uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a de +∞. Dizemos ca c que o limite de f (x) ao x tender ` +∞ ´ igual a −∞ e denotamos a e lim f (x) = −∞ x→+∞ se para todo M > 0 existir um N > 0 tal que x > N ⇒ f (x) < −M. g) Seja f : I → R uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a de −∞. Dizemos ca c que o limite de f (x) ao x tender ` −∞ ´ igual a +∞ e denotamos a e lim f (x) = +∞ x→−∞ se para todo M > 0 existir um N > 0 tal que x < −N ⇒ f (x) > M. h) Seja f : I → R uma fun¸˜o definida em uma vizinhan¸a de −∞. Dizemos ca c que o limite de f (x) ao x tender ` −∞ ´ igual a −∞ e denotamos a e lim f (x) = −∞ x→−∞ se para todo M > 0 existir um N > 0 tal que x < −N ⇒ f (x) < −M. Exemplos: 1 1) Provemos que lim+ x = +∞. x→0 23
  • 24. 1 De fato, dado M > 0 existe δ = M tal que 1 1 x ∈ (0, ) ⇒ > M. M x 1 2) Provemos que lim x−1 = −∞. De fato, dado M > 0 tomamos x→1− 1 δ = min{ , 1} M e temos 1 1 x ∈ (1 − δ, 1) ⇒ x − 1 ∈ (−δ, 0) ⇒ < − < −M. x−1 δ A seguir apresentamos a ”aritm´tica do infinito” isto ´ , estabelecemos as e e rela¸˜es entre os limites infinitos e as opera¸˜es. Deixamos a prova do teorema co co como exerc´ıcio. Teorema: Sejam f, g : I → R definidas numa vizinhan¸a de p ∈ R , exceto c possivelmente em p . Valem as seguintes tabelas: TABELA I lim f (x ) lim g(x ) lim (f (x ) + g(x ) x→p x→p x→p +∞ +∞ +∞ −∞ −∞ −∞ +∞ −∞ indetermina¸˜o ca α∈R +∞ +∞ α∈R −∞ −∞ TABELA II lim f (x ) lim g(x ) lim f (x ).g(x ) x→p x→p x→p +∞ +∞ +∞ +∞ −∞ −∞ −∞ −∞ +∞ 0 +∞ indetermina¸˜o ca 0 −∞ indetermina¸˜o ca α>0 +∞ +∞ α>0 −∞ −∞ α<0 −∞ +∞ TABELA III lim f (x ) lim g(x ) lim f (x) g(x) x→p x→p x→p α∈R +∞ 0 α∈R −∞ 0 +∞ +∞ indetermina¸˜o ca +∞ −∞ indetermina¸˜o ca α>0 0+ +∞ α>0 0− −∞ α<0 0+ −∞ α<0 0− +∞ 24
  • 25. Observa¸˜o: Indetermina¸˜o significa que nada se pode afirmar sobre o ca ca limite em quest˜o. Depende de f e g em cada caso particular. a O teorema continua v´lido para a vizinhan¸a c a ` direita de p x → p+ vizinhan¸a c a ` esquerda de p x → p− vizinhan¸a c de +∞ x → +∞ vizinhan¸a c de −∞ x → −∞ 2.8 Limite de Fun¸˜es Compostas co Para encerrarmos este cap´ ıtulo veremos como procedermos o calculo de limite de compostas de fun¸˜es. co Teorema: Sejam f : I1 → R e g : I2 → R fun¸˜es definidas em uma co vizinhan¸a de p ∈ R e a ∈ R , respectivamente, satisfazendo: c a) f (I1 ) ⊂ I2 ; b) lim f (x) = a; x→p c) lim g(u) = L; u→a d) Existe r > 0 tal que f (x) = a para 0 < |x − p| < r. Ent˜o lim g(f (x)) = lim g(u) = L. a x→p u→a Demonstra¸˜o: Seja ε > 0. Como lim g(u) = L temos que existe δ1 > 0 ca u→a tal que 0 < |u − a| < δ1 ⇒ |g(u) − L| < ε. Al´m disso, como lim f (x) = a existe δ2 > 0 tal que e x→p 0 < |x − p| < δ2 ⇒ |f (x) − a| < δ1 . Tomando δ = min{δ2 , r} temos 0 < |x − p| < δ ⇒ 0 < |f (x) − a| < δ1 ⇒ |g(f (x)) − L| < ε. O teorema acima permanece v´lido para limites laterais, com as devidas a adapta¸˜es. Fa¸a isso como exerc´ co c ıcio. Exemplo: Observe a importˆncia da hip´tese d). Consideremos o seguinte a o exemplo: f (x) = 1, ∀x ∈ R u + 1, u = 1 g(u) = 3, u = 1 25
  • 26. Temos lim f (x) = 1 x→1 lim g(u) = 2 u→1 e no entanto lim g(f (x)) = 3 = lim g(u). x→1 u→1 Teorema: Sejam f : I1 → R e g : I2 → R fun¸˜es definidas em uma co vizinhan¸a do +∞ e em uma vizinhan¸a de a ∈ R (exceto possivelmente em a), c c respectivamente, e L ∈ R satisfazendo: a) f (I1 ) ⊂ I2 ; b) lim f (x) = a; x→+∞ c) Existe N1 > 0 tal que para x > N1 tem-se f (x) = a. d) lim g(u) = L. u→a Ent˜o a lim g(f (x)) = lim g(u) = L. x→+∞ u→a Demonstra¸˜o: Seja ε > 0. Como lim g(u) = L temos que existe δ > 0 ca u→a tal que 0 < |u − a| < δ ⇒ |g(u) − L| < ε. Como lim f (x) = a existe N2 > 0 tal que x→+∞ x > N2 ⇒ |f (x) − a| < δ. Tomando N = max{N1 , N2 } temos x > N ⇒ 0 < |f (x) − a| < δ ⇒ |g(f (x)) − L| < ε. O teorema permanece v´lido considerarmos x → −∞. a 3 Continuidade de Fun¸˜es Reais de Vari´vel co a Real 3.1 Defini¸˜o de Continuidade ca Neste cap´ ıtulo introduziremos o conceito de continuidade. Restringiremos nosso estudo para as fun¸˜es reais definidas em intervalos. Deixaremos para o curso de co An´lise Matem´tica o estudo da continuidade quando as fun¸˜es est˜o definidas a a co a em um subconjunto qualquer da reta. Todas as fun¸˜es que consideraremos neste cap´ co ıtulo s˜o do tipo f : I → R a onde I ´ uma uni˜o de intervalos. e a 26
  • 27. Defini¸˜o: ca a) Uma fun¸˜o f : I → R ´ dita cont´ ca e ınua em p ∈ I se para todo ε > 0 existir δ > 0 tal que x ∈ I ∩ (p − δ, p + δ) ⇒ |f (x) − f (p)| < ε. b) Uma fun¸˜o f : I → R ´ dita cont´ ca e ınua se o for em todos os pontos de seu dom´ ınio. c) Uma fun¸˜o f : I → R ´ dita descont´ ca e ınua em p ∈ I se f n˜o ´ cont´ a e ınua em p. Observa¸˜es: A verifica¸˜o da continuidade de fun¸˜es definidas em inter- co ca co valos (a, b) ou [a, b] ´ um pouco mais simples: e 1) De acordo com a defini¸˜o acima , temos que f : (a, b) → R ´ cont´ ca e ınua se existir lim f (x) , para todo p ∈ (a, b) e ainda lim f (x) = f (p). Em particular, x→p x→p usando a caracteriza¸˜o de limites por sequˆncias ter´ ca e ıamos que f ´ cont´ e ınua em p se e somente se ∀ (xn ) tal que xn → p tem-se f (xn ) → f (p) . 2) De acordo com a defini¸˜o acima , temos que f : [a, b] → R ´ cont´ ca e ınua se: a) Existe lim f (x) , para todo p ∈ (a, b) e lim f (x) = f (p); x→p x→p b) Existe lim+ f (x) e lim+ f (x) = f (a); x→a x→a c) Existe lim− f (x) e lim− f (x) = f (b). x→b x→b 3.2 Opera¸˜es com Fun¸˜es e Continuidade co co Os resultados que obteremos nesta se¸˜o s˜o demonstrados da mesma forma ca a que os an´logos para limites. a Teorema: Sejam f : I → R, g : I → R fun¸˜es cont´ co ınuas em p ∈ I e k ∈ R uma constante. Ent˜o: a a) f + g ´ cont´ e ınua em p. b) f − g ´ cont´ e ınua em p. c) f.g ´ cont´ e ınua em p. d) Se g(p) = 0 ent˜o f ´ cont´ a g e ınua em p. e) kf ´ cont´ e ınua em p. Uma consequˆncia imediata do resultado acima ´: e e Corol´rio: a a) Toda fun¸˜o polinomial ´ cont´ ca e ınua. b) Toda fun¸˜o racional ´ cont´ ca e ınua. Demonstra¸˜o: ca 27
  • 28. a) De fato, se f ´ polinomial ent˜o existe um polinˆmio e a o p(x) = a0 + a1 x + ... + an xn tal que f (x) = p(x), para todo x ∈ R. Como as fun¸˜es dadas por xm , m ∈ N, s˜o cont´ co a ınuas, segue do teorema acima que as fun¸˜es dadas por aj xj , j ∈ {0, 1, ..., n}, tamb´m o s˜o. Como co e a soma de fun¸˜es cont´ co ınuas ´ cont´ e ınua , segue que toda fun¸˜o polinomial ´ ca e cont´ınua. b) De fato, se f ´ uma fun¸˜o racional , ent˜o existem polinˆmios p, q tais e ca a o que f (x) = p(x) . q(x) Como o quociente de fun¸˜es cont´ co ınuas ´ cont´ e ınua, desde que o polinˆmio o do denominador n˜o se anule, segue que toda fun¸˜o racional ´ cont´ a ca e ınua pois o ´ em todos os pontos de seu dom´ e ınio. Teorema: Sejam f : I1 → R e g : I2 → R satisfazendo que f (I1 ) ⊂ I2 , f ınua em p ∈ I1 e que g ´ cont´ ´ cont´ e e ınua em f (p). Ent˜o g ◦ f ´ cont´ a e ınua em p. Demonstra¸˜o: Seja ε > 0. Como g ´ cont´ ca e ınua em f (p) temos que existe δ1 > 0 tal que u ∈ I2 ∩ (f (p) − δ1 , f (p) + δ1 ) ⇒ |g(u) − g(f (p))| < ε. Como f ´ cont´ e ınua em p temos que existe δ > 0 tal que x ∈ I1 ∩ (p − δ, p + δ) ⇒ f (x) ∈ I2 , |f (x) − f (p)| < δ1 ⇒ ⇒ f (x) ∈ I2 ∩ (f (p) − δ1 , f (p) + δ1 ) ⇒ |g(f (x)) − g(f (p))| < ε. 3.3 Algumas Propriedades das Fun¸˜es Cont´ co ınuas Nesta se¸˜o provaremos alguns resultados sobre a conserva¸˜o de sinal e sobre ca ca a continuidade de fun¸˜es mon´tonas . co o Teorema: Seja f : I → R uma fun¸˜o cont´ ca ınua em p ∈ I . Se f (p) > 0 ent˜o existe δ > 0 tal que a x ∈ I ∩ (p − δ, p + δ) ⇒ f (x) > 0. f (p) Demonstra¸˜o: Como f (p) > 0, tomamos ε = ca 2 e temos que existe δ > 0 tal que f (p) f (p) x ∈ I ∩ (p − δ, p + δ) ⇒ |f (x) − f (p)| < ⇒ f (x) > > 0. 2 2 28
  • 29. Teorema: Seja f : I → R uma fun¸˜o cont´ ca ınua em p ∈ I . Se f (p) < 0 ent˜o existe δ > 0 tal que a x ∈ I ∩ (p − δ, p + δ) ⇒ f (x) < 0. Demonstra¸˜o: Como f (p) < 0, tomamos ε = − f (p) e temos que existe ca 2 δ > 0 tal que f (p) f (p) f (p) x ∈ I ∩(p−δ, p+δ) ⇒ |f (x) − f (p)| < − ⇒ f (x) < f (p)− = < 0. 2 2 2 Teorema: Se f : I → R for crescente (ou decrescente) e al´m disso tanto e a imagem quanto o dom´ ınio de f forem intervalos ent˜o f ´ cont´ a e ınua. Demonstra¸˜o: Sem perda de generalidade vamos supor que f ´ crescente. ca e Dado p ∈ I, provemos a continuidade de f em p. Seja ε > 0. Suponhamos tamb´m que f (p) n˜o seja extremidade do intervalo e a que ´ a imagem. e Como f (I) ´ um intervalo ent˜o existem x1 , x2 ∈ I tais que f (x1 ) = f (p) − ε e a e f (x2 ) = f (p) + ε . Assim basta tomarmos δ = min{p − x1 , x2 − p} e temos |x − p| < δ ⇒ f (p) − ε = f (x1 ) < f (x) < f (x2 ) = f (p) + ε. Deixamos como exerc´ o caso geral. ıcio Corol´rio: As fun¸˜es trigonom´tricas inversas s˜o cont´ a co e a ınuas. ca ´ Demonstra¸˜o: E imediato pelo teorema acima, visto que localmente todas as trigonom´tricas inversas s˜o crescentes ou decrescentes e seus dom´ e a ınios e imagens s˜o intervalos. a 3.4 O Teorema do Valor Intermedi´rio a Nesta se¸˜o estudaremos o principal teorema relativo a continuidade. O seu ca enunciado ´ bastante simples mas as consequˆncias s˜o extremamente impor- e e a tantes. Imagine uma fun¸˜o que seja cont´ ca ınua em um intervalo [a, b]. Suponhamos que d est´ entre f (a) e f (b). Como a fun¸˜o ´ cont´ a ca e ınua o seu gr´fico pode a ser desenhado sem que soltemos o l´pis. De fato, a continuidade impede que a o gr´fico apresente saltos. Desta forma n˜o tem como sairmos de (a, f (a)) e a a chegarmos em (b, f (b)) sem que no caminho passemos por um ponto que tenha ordenada d. Logo conclu´ ımos que deve existir algum ponto c em [a, b] tal que f (c) = d. Esta ´ a conclus˜o do Teorema do Valor Intermedi´rio. e a a Vamos enunciar este teorema. Teorema do Valor Intermedi´rio: Sejam f : [a, b] → R cont´ a ınua e d entre f (a) e f (b). Ent˜o existe c ∈ [a, b] tal que f (c) = d. a 29
  • 30. Demonstra¸˜o : Dividiremos a prova em dois casos. ca 1o Caso: Suponhamos que f (a) < 0 e que f (b) > 0 e mostremos que existe c ∈ [a, b] tal que f (c) = 0. Fa¸amos a0 = a e b0 = b. Consideremos c0 o ponto m´dio de [a0 , b0 ]. Calcu- c e lamos f (c0 ). Se f (c0 ) < 0 ent˜o definimos a1 = c0 e b1 = b0 ( se f (c0 ) = 0 n˜o a a temos mais o que provar e se f (c0 ) > 0 ent˜o definimos a1 = a0 e b1 = c0 ). a Em seguida consideramos c1 o ponto m´dio de [a1 , b1 ] e repetimos o processo e acima. Prosseguindo com este racioc´ ınio, construiremos uma sequˆncia de intervalos e encaixantes [a0 , b0 ] ⊃ [a1 , b1 ] ⊃ ... ⊃ [an , bn ] ⊃ ... tais que f (an ) < 0 e f (bn ) > 0. Al´m disso bn − an aproxima-se de zero quando n cresce indefinidamente. e O Teorema dos Intervalos Encaixantes nos que diz que existe um unico ´ c ∈ R tal que , para todo n, an ≤ c ≤ bn . A continuidade da f nos garante que f (c) = 0 pois se fosse diferente de zero o teorema da conserva¸˜o do sinal implicaria que f (an ) e f (bn ) teriam o mesmo ca sinal para n suficientemente grande, j´ que a distˆncia de an a bn tende a zero. a a Da mesma forma, se f (a) > 0 e f (b) < 0 existe c ∈ [a, b] tal que f (c) = 0. Logo, se f for cont´ ınua em [a, b] e se f (a) e f (b) tiverem sinais contr´rios, a ent˜o existir´ pelo menos um c em [a, b] tal que f (c) = 0. a a 2o Caso: Caso Geral. Sem perda de generalidade, suponhamos que f (a) < d < f (b). Consideremos a fun¸˜o g(x) = f (x) − d. ca Obviamente g ´ cont´ e ınua e g(a) < 0, g(b) > 0. Pelo 1o caso existe c ∈ [a, b] tal que g(c) = 0. Logo f (c) = d. Exemplos: 1) Prove que x3 − 4x + 8 = 0 tem pelo menos uma raiz real. Considere f : [−3, 0] → R dada por f (x) = x3 − 4x + 8. Como f ´ polinomial segue que f ´ cont´ e e ınua. Al´m disso, f (−3) = −7 < 0, e f (0) = 8 > 0. Logo pelo Teorema do Valor Intermedi´rio, a ∃c ∈ [−3, 0] tal que f (c) = 0. Logo o polinˆmio acima admite uma raiz real. o 2) Todo polinˆmio de grau ´ o ımpar admite uma raiz real. De fato, seja p(x) = an xn + an−1 xn−1 + ... + a1 x + a0 com n ´ ımpar. Suponhamos, sem perda de generalidade, que an > 0. Provemos inicialmente que lim p(x) = +∞ e lim p(x) = −∞. x→+∞ x→−∞ 30
  • 31. Temos lim p(x) = lim (an xn + an−1 xn−1 + ... + a1 x + a0 ) = x→±∞ x→±∞ an−1 a1 a0 = lim an xn (1 + + .... + + )= x→±∞ an x an xn−1 an xn = ±∞. Logo existem a e b tais que p(a) < 0, p(b) > 0. Aplicando o TVI em [a, b] segue o resultado. 3.5 O Teorema de Weierstrass Nesta se¸˜o demonstraremos outra importante propriedade das fun¸˜es cont´ ca co ınuas. Provaremos que se uma fun¸˜o for cont´ ca ınua em um intervalo fechado [a, b] ent˜o a ela assumir´ um valor m´ximo e um valor m´ a a ınimo. Teorema da Limita¸˜o: Se f : [a, b] → R ´ cont´ ca e ınua ent˜o existe M > 0 a tal que |f (x)| < M, ∀x ∈ [a, b]. Demonstra¸˜o: Suponhamos que n˜o exista um M > 0 satisfazendo o ca a que ´ desejado. e Chamamos a1 = a, b1 = b. Deve ent˜o existir x1 ∈ [a1 , b1 ] tal que |f (x1 )| > 1. a Seja c1 o ponto m´dio de [a1 , b1 ]. e Como f n˜o ´ limitada em [a1 , b1 ] ent˜o f n˜o ser´ limitada em [a1 , c1 ] ou a e a a a em [c1 , b1 ]. Sem perda de generalidade, suponhamos que f n˜o ´ limitada em [c1 , b1 ]. a e Chamamos a2 = c1 , b2 = b1 . Como f n˜o ´ limitada em em [a2 , b2 ] existe x2 ∈ [a2 , b2 ] tal que |f (x2 )| > 2. a e Prosseguindo com este racioc´ ınio constru´ ımos uma sequˆncia e [a1 , b1 ] ⊃ ... ⊃ [an , bn ] ⊃ ... satisfazendo que a distˆncia bn −an est´ se aproximando de zero quando n cresce a a e que, para todo natural n, existe xn ∈ [an , bn ] com |f (xn )| > n. Pelo T. I. Encaixantes, existe c, o unico real tal que c ∈ [an , bn ], para todo ´ n ∈ N. ´ E claro que xn est´ convergindo para c e que |f (xn )| est´ divergindo para a a o infinito. Pela continuidade de f ter´ ıamos que lim |f (x)| = +∞. Observemos x→c que isto ´ um absurdo. Logo existe M > 0 tal que e |f (x)| < M, ∀x ∈ [a, b]. 31
  • 32. Teorema de Weierstrass: Se f : [a, b] → R ´ cont´ e ınua existem x1 e x2 em [a, b] tais que f (x1 ) ≤ f (x) ≤ f (x2 ), para qualquer x ∈ [a, b]. Demonstra¸˜o : Sendo f cont´ ca ınua em [a, b], pelo teorema anterior f ser´ a limitada em [a, b]. Assim o conjunto A = {f (x)|x ∈ [a, b]} admite supremo e ´ ınfimo. Sejam M = sup A, m = inf A. Est´ claro que m ≤ f (x) ≤ M. a Resta-nos provar que existem x1 e x2 tais que f (x1 ) = m e f (x2 ) = M. Observe que se f (x) < M para todo x ent˜o a fun¸˜o dada por a ca 1 g(x) = , x ∈ [a, b] M − f (x) seria cont´ ınua mas n˜o seria limitada. Logo existe x2 tal que f (x2 ) = M. a Analogamente provamos a existˆncia de x1 . e 3.6 Potˆncias Irracionais e Na se¸˜o 1.3 lembramos algumas propriedades das potˆncias racionais. ca e Dado m ∈ Q, a > 0 definimos n m √ m b = an ⇔ bn = a. O objetivo desta se¸˜o ´ definirmos ax , x ∈ R. ca e √ O que significa 3 2 ? Sabemos que os racionais n˜o ocupam todo o espa¸o da reta mas mesmo a c assim eles est˜o presentes em√ a qualquer intervalo, por menor que seja. Assim em qualquer intervalo contendo 2 existem racionais e nestes sabemos calcular as √ potˆncias. Seria natural ent˜o definirmos 3 2 como o limite de 3r , r ∈ Q, ao r e √ a tender a 2. A d´vida que sobra ´ se esse limite realmente existe. u e O teorema que iremos enunciar a seguir nos garantir´ que existe uma unica a ´ fun¸˜o cont´ ca ınua em R tal que f (r) = 3r , para qualquer r ∈ Q. Em outras palavras, existe uma unica maneira de completarmos o pontilhado do gr´fico ´ a acima e obtermos uma fun¸˜o cont´ ca ınua. Assim iremos definir √ √ 3 2 = f ( 2) = lim f (x). √ x→ 2 Teorema: Dado a > 0, a = 1 temos que existe uma unica fun¸˜o cont´ ´ ca ınua definida em R tal que f (r) = ar , ∀r ∈ Q. Para provarmos o teorema acima precisaremos de 3 resultados preliminares. 32
  • 33. Lema 1: Seja a > 1 um real dado. Ent˜o para todo ε > 0, existe um natural a n tal que 1 an − 1 < ε Demonstra¸˜o: Pela desigualdade de Bernoulli ca n (1 + ε) ≥ 1 + nε. a−1 Basta tomarmos n > ε . Lema 2: Sejam a > 1 e x dois reais dados. Para todo ε > 0 existem racionais r e s , com r < x < s tais que as − as < ε. Demonstra¸˜o: Tomamos t > x, racional; assim, para qualquer racional ca r < x, tem-se ar < at .Pelo lema 1, existe n natural tal que 1 at a n − 1 < ε. 1 Se escolhermos racionais r e s com r < x < s e satisfazendo s − r < n teremos 1 as − ar = ar (as−r − 1) < at a n − 1 < ε. Lema 3: Seja a > 1 um real dado. Ent˜o , para todo x real dado , existe a um unico real γ tal que ´ ar < γ < as para quaisquer que sejam os racionais r e s, com r < x < s. Demonstra¸˜o: Como o conjunto ca {ar |r racional , r < x} ´ n˜o vazio e limitado superiormente por todo as , s racional, tal conjunto admite e a um supremo que indicamos por γ. Segue que ar < γ < as . Falta provarmos que tal γ ´ unico. De fato, se γ1 for tal que e´ ar < γ1 < as quaisquer que sejam os racionais r e s, com r < x < s ter´ ıamos |γ − γ1 | < as − ar e pelo lema 2 ter´ ıamos que |γ − γ1 | < ε, ∀ε > 0 33
  • 34. e da´ γ = γ1 . ı Prova do Teorema: Inicialmente vamos supor a > 1. Com rela¸˜o ao lema ca anterior , se x for racional ent˜o γ = ax . O unico γ ser´ indicado por f (x) . Fica a ´ a constru´ıda, assim, uma fun¸˜o f definida em R, e tal que f (r) = ar para todo ca racional r. Antes de provarmos a continuidade de f provemos que f ´ crescente. e Sejam x1 < x2 . Temos ar1 < f (x1 ) < as1 e ar2 < f (x2 ) < as2 quaisquer que sejam os racionais r1 , s1 , r2 e s2 tais que r1 < x1 < s1 e r2 < x2 < s2 . Assim , sendo s um racional com x1 < s < x2 temos f (x1 ) < as < f (x2 ) o que prova que f ´ crescente. e Vamos provar a continuidade de f . Seja p ∈ R. Pelo lema 2 dado ε > 0 existem racionais r e s com r < p < s tais que as − ar < ε. Para todo x ∈ (r, s) temos |f (x) − f (p)| < as − ar < ε o que prova a continuidade da f em p. Segue que f ´ cont´ e ınua em R. Finalmente se 0 < a < 1 basta considerarmos a fun¸˜o dada por ca −x 1 f (x) = . a A fun¸˜o f : R → R dada por f (x) = ax , a > 0, a = 1 ´ chamada de ca e ¸˜ FUNCAO EXPONENCIAL. 4 Derivadas de Fun¸˜es Reais de Vari´vel Real co a 4.1 Introdu¸˜o e Defini¸˜o de Derivada ca ca Defini¸˜o: Seja f : I → R, uma fun¸˜o definida em I ⊂ R uma uni˜o de ca ca a intervalos abertos. a) Dizemos que f ´ deriv´vel em p ∈ I se existe o limite e a f (p + h) − f (p) lim . h→0 h 34