Comentário bíblico: 3° Domingo do Advento - Ano B
- Tema: "JESUS É A LUZ PARA A ALEGRIA DOS POBRES"
- LEITURAS BÍBLICAS (PERÍCOPES):
http://pt.slideshare.net/josejlima3/3-domingo-do-advento-ano-b-2014-odt
- TEMAS E COMENTÁRIOS: AUTORIA: Pe. José; Bortolini, Roteiros Homiléticos, Anos A, B, C Festas e Solenidades, Editora Paulus, 3ª edição, 2007
- OUTROS:
http://www.dehonianos.org/portal/liturgia_dominical_ver.asp?liturgiaid=335
SOBRE LECIONÁRIOS:
- LUTERANOS: http://www.luteranos.com.br/conteudo/o-lecionario-ecumenico
- LECIONÁRIO PARA CRIANÇAS (Inglês/Espanhol): http://sermons4kids.com
- LECIONÁRIO COMUM REVISADO (Inglês):
http://www.lectionary.org/
http://www.commontexts.org/history/members.html ;
http://lectionary.library.vanderbilt.edu/
- ESPANHOL: http://www.isedet.edu.ar/publicaciones/eeh.htm (Less)
1. JESUS É A LUZ PARA A ALEGRIA DOS POBRES
BORTOLINE, José - Roteiros Homiléticos Anos A, B, C Festas e Solenidades - Paulos, 2007
* LIÇÃO DA SÉRIE: LECIONÁRIO DOMINICAL *
ANO: B – TEMPO LITÚRGICO: 3° DOMINGO DO ADVENTO – COR: ROXO / LILAS
I. INTRODUÇÃO GERAL
1. A missão profética nos é apresentada, também neste tempo de
preparação à chegada do Salvador, como algo fundamental. Ser pro-feta
é fazer valer os direitos dos pobres e anunciar-lhes uma boa notí-cia,
é denunciar as estruturas que estão distorcendo os caminhos de
Deus e propor uma atitude de mudança, na liberdade de quem cresce
a cada dia e respeita a vocação profética característica de cada cristão.
A proximidade do Natal não nos convida a lamentar os desafios e di-ficuldades
da missão, mas a nos alegrar sempre, pois Deus, em seu
Filho, continua vindo sempre a nós, caminhando conosco e dando
forças na construção da liberdade e da alegria dos pobres.
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1ª leitura (Is 61,1-2a.10-11): Ungidos por Deus para dar a boa no-tícia
aos pobres
2. Os quatro versículos propostos pela liturgia são o início e o final
do cap. 61 de Isaías, considerado por muitos como o centro de todo o
terceiro livro de Isaías. Nesse terceiro livro (Is 56-66), originário do
período pós-exílico, encontramos a profecia num tempo de tensões:
os que tinham voltado do exílio estavam entusiasmados com as novas
possibilidades de reconstruir a vida em Israel, mas esse entusiasmo
vai cedendo às desilusões e conflitos entre os que voltaram do exílio
e os que permaneceram na terra; a situação, como sempre, é de injus-tiça
— rejeição do domínio persa e esperança de uma libertação por
parte de Javé, de um lado, e subserviência ao domínio estrangeiro e
conformismo por parte das autoridades políticas e religiosas judaicas,
de outro. O cap. 66, apresentando a missão do profeta dirigida aos po-bres
e alimentando a esperança, anuncia a libertação desse povo in-justiçado.
3. Os vv. 1-2a apresentam a missão profética com os dois traços
fundamentais: o profeta é enviado para proclamar a palavra de Deus,
ou seja, evangelizar, anunciar a boa notícia, que não é boa notícia ge-nérica
dirigida a todos, mas aos pobres. Deus envia o profeta para
proclamar aos pobres que coisas boas estão acontecendo em favor de-les.
Vêm, então, as outras características dessa missão, que não se li-mita
ao anúncio com palavras, mas se expressa na prática: curar os
corações feridos e pôr em liberdade os prisioneiros. Que o anúncio
profético só tem sentido com a prática profética vemos no paralelis-mo
sinonímico do v. 1: “proclamar a libertação dos escravos” e “pôr
em liberdade os prisioneiros”. Nesse sentido deve ser lida a missão de
“anunciar o ano da graça de Javé”. O verbo hebraico qara’, aliás, é
corretamente traduzido pela Bíblia Pastoral como “promulgar”, pois
não se trata de simples anúncio, mas de fazer valer, com o anúncio e a
prática profética, o ano da graça, que na Bíblia se refere ao ano jubi-lar
(a cada 50 anos) e ao ano sabático (a cada sete anos), quando, en-tre
outras coisas, deveriam ser perdoadas todas as dívidas e libertados
todos os escravos, para que a justiça fosse restabelecida.
4. A missão profética, em tempos de injustiça, consiste em fazer
valer os direitos dos pobres, dos injustiçados, dos que são vítimas de
uma estrutura social em que poucos são privilegiados e a grande mai-oria
massacrada. Os pobres de Isaías são os judeus pobres que sofrem
a exploração do império estrangeiro, escravos na própria terra, e que
sofrem, ao mesmo tempo, a opressão por parte das autoridades judai-cas,
que fazem o jogo do império persa. Opressão interna e externa,
que continua ainda hoje, aumentando o número de miseráveis e ex-cluídos,
naquilo que chamamos de globalização: globalização da mi-séria,
não das riquezas, que estão sempre mais concentradas em pou-cos
países.
5. O que autoriza e sustenta a missão profética é o “espírito do Se-nhor
Javé”, que está sobre o profeta porque este foi ungido. Na Bí-blia,
a unção era feita geralmente a reis e sumos sacerdotes, em vista
de uma missão em nome de Deus. Agora, o profeta é o ungido, pois
tantas unções a reis e sacerdotes não se expressaram na prática como
serviço ao povo de Deus, mas como autoridade e domínio em vista de
privilégios pessoais. O profeta é o ungido de Deus para agir e falar
em seu nome, e tal unção divina não conseguirá ser anulada por ne-nhuma
outra autoridade humana.
6. Jesus aplica a si essa mesma missão profética, quando, no início
de sua atividade pública na sinagoga de Nazaré, em Lc 4,18-19, lê es-ses
versículos de Isaías e os toma como programa para a sua vida: Je-sus
é o profeta ungido e enviado para trazer libertação aos pobres, e
com ele todos os seus seguidores, que herdam a mesma missão profé-tica.
7. Os vv. 10-11 concluem o capítulo com um agradecimento do
povo, que reconhece as ações de Deus em seu favor. O povo dos po-bres
está unido e se expressa em primeira pessoa, usando a imagem
dos noivos que se preparam para o casamento para manifestar a pró-pria
alegria: como o turbante e as jóias dos noivos, a salvação e a jus-tiça
são as vestes que preparam o povo para o casamento com Deus.
E as imagens da terra que faz brotar uma nova planta e do jardim que
faz germinar suas sementes servem para manifestar o favor de Deus
pelo seu povo, mediante a justiça.
8. Deus doa seu espírito aos profetas e, por meio deles, alimenta a
esperança no seu povo. Se, na mentalidade bíblica, gerar filhos e ter
descendência era o bem mais precioso, agora o que conta é gerar jus-tiça,
para que os filhos vivam, de fato, livres. Para tanto, também a
esperança e a capacidade de transformar as relações de injustiça são o
grande presente de Deus.
Evangelho (Jo 1,6-8.19-28): João é a testemunha da luz
9. O início da pregação de João Batista coincide com uma grande
expectativa messiânica por parte dos judeus. Esperava-se a vinda do
Messias a qualquer hora, o Messias que iria restaurar a Aliança e des-tituir
as autoridades por sua infidelidade. Não é de estranhar, portan-to,
que as autoridades judaicas de Jerusalém enviem sacerdotes e levi-tas
para saber notícias a respeito de João Batista e sua atividade.
10. Os vv. 6-8, que pertencem ao prólogo do evangelho, apresentam
João como o enviado por Deus para dar testemunho da luz. E, para
desfazer as crenças existentes a respeito de João como Messias, diz-se
que “ele não era a luz, mas apenas a testemunha da luz”, Jesus, a
luz verdadeira que ilumina a todos e que estava chegando ao mundo.
11. As autoridades de Jerusalém, com medo de um movimento po-pular
que pusesse em risco seu poder, querem saber quem, de fato, é
João. O evangelista, apresentando três respostas negativas de João,
afasta toda e qualquer identidade messiânica para o Batista. O v. 20,
aliás, manifesta isso com a redundância: João “confessou e não negou
e confessou”. João sabe muito bem das preocupações das autoridades
de Jerusalém e nega de antemão: “Eu não sou o Messias”. Uma nega-ção
que desconcerta os enviados, que precisam encontrar uma justifi-cativa
para a missão de João. Daí a pergunta: “Quem é você? Elias?”.
E a negação: “Não sou”. E por fim: “Você é o Profeta?”. E a última
negativa, rápida e seca: “Não”.
12. No tempo de Jesus, acreditava-se que a vinda do Messias seria
precedida pelo envio de Elias, que prepararia o povo para a chegada
do Salvador, restaurando a Lei de Moisés (cf. Ml 3,22ss). João não é
profeta como Elias, pois rompe completamente com a instituição ju-daica
e se move fora dos círculos políticos e religiosos judaicos do
seu tempo: ele vem preparar a chegada da Luz que libertará o povo da
Lei, transmitindo a vida plena.
13. Acreditava-se também que um segundo Moisés apareceria nos
últimos tempos (cf. Dt 18,15-18: “Deus suscitará um profeta como eu
no meio de ti”). João não é sucessor de Moisés, pois não olha para o
passado da Lei e da tradição, mas para o futuro completamente novo
do Messias que inaugurará uma nova Aliança.
2. 14. João nega, portanto, ser o Messias, Elias e o Profeta, sobretudo
porque essas três figuras serão representadas por Jesus, a luz que ele
veio testemunhar. De fato, ao longo do evangelho, as figuras de Elias
e do Profeta se fundirão, e Jesus será apresentado como o Profeta que
devia vir ao mundo, rejeitado pelos seus (cf. 4,4; 6,9.14). Como
Elias/Profeta, Jesus não restaurará a Lei, mas doará o Espírito que cri-ará
uma nova humanidade.
15. Depois de três negações, vem a afirmação sobre a identidade de
João. Ele não usa a expressão “eu sou”, que, na Bíblia, tem fortes
atributos divinos. No grego, temos a expressão ego phoné, ou seja:
“eu voz”. João responde: “Eu, voz que grita no deserto”, e, citando Is
40,3, denuncia e critica as autoridades judaicas por terem distorcido o
caminho do Senhor. João chama a atenção das autoridades não para a
sua pessoa, mas para a sua pregação, que é séria crítica aos podero-sos.
16. Os fariseus querem saber com qual autoridade ou por qual moti-vo
João, portanto, batiza. Também aqui se estabelece uma distinção,
agora entre o batismo de João e o de Jesus. O batismo de João, com
água (v. 26a), usando um elemento da natureza, atinge somente o físi-co
das pessoas. É o batismo que procura levar à consciência das tre-vas
e sujeiras presentes na ordem social injusta e suscitar o desejo de
renovação, limpeza, mudança. Porém, João anuncia alguém que che-ga
depois dele e que já está presente (vv. 26b-27). Jesus batizará com
o Espírito, um elemento novo que só ele pode transmitir e que atingi-rá
a intimidade das pessoas e, transmitindo-lhes a vida, as tornará ca-pazes
de construir novas relações, de liberdade e vida.
17. Por fim, João diz não ser digno de “desamarrar as correias das
sandálias” daquele que vem depois dele. Essa expressão, muitas ve-zes
interpretada como um gesto de humildade de João Batista, alude
no entanto, claramente, à lei judaica do levirato. Segundo essa lei,
quando alguém morria sem deixar filhos, um parente próximo devia
casar-se com a viúva para dar filhos ao falecido e garantir-lhe, assim,
uma descendência. Se quem tinha o direito e a obrigação de fazê-lo
não o fazia, um outro podia ocupar o seu lugar, numa cerimônia em
que se declarava a perda desse direito e que consistia em desamarrar
as sandálias (cf. Dt 25,5-10; Rt 4,6-7). João está afirmando que Jesus
é quem tem o direito de tomar a humanidade como esposa e garantir-lhe
uma herança de filhos. João tem consciência de ser a testemunha
da luz, e não a luz: não pode tomar o lugar daquele que, por direito,
será o esposo da humanidade.
18. João, batizando com água, manifesta o rompimento com as es-truturas
políticas e religiosas de seu tempo, que aprisionavam o povo
numa situação de trevas e morte. Jesus, o Messias que vem, batizando
com o Espírito, a partir do rompimento manifestado por João e res-pondendo
aos anseios do povo, conduzindo-o para fora das estruturas
de dominação e morte, construirá com a humanidade uma nova histó-ria,
inaugurando uma nova criação.
2ª leitura (1Ts 5,16-24): “Examinem tudo e fiquem com o que é
bom”
19. A primeira carta aos Tessalonicenses é o primeiro escrito do
Novo Testamento. De Atenas ou Corinto, no ano 50 ou 51, Paulo es-creve
à comunidade que teve de deixar às pressas, para escapar à per-seguição.
Quando Timóteo e Silas, que ele enviara para saber notícias
da comunidade, retornam com boas notícias, Paulo e seus colabora-dores
escrevem esta carta cheia de alegria pela perseverança dos cris-tãos
de Tessalônica e aproveitam para dar conselhos práticos para a
vida comunitária. Os versículos da liturgia de hoje são parte desses
conselhos para que a comunidade permaneça firme e continue cres-cendo.
20. Antes de tudo, é preciso notar que Paulo não exerce poder auto-ritário
sobre as comunidades: ele não ordena, mas aconselha; não
olha o negativo e insiste sobre ele, mas considera o positivo e anima a
melhorar e continuar progredindo. Uma metodologia válida sobrema-neira
para nossos tempos e nossas lideranças na pastoral...
21. A comunidade é convidada a viver em contínua alegria e oração
(vv. 16-17). A oração, que é relacionamento constante da comunidade
com Deus, e a alegria, que é consciência de estar vivendo uma nova
dinâmica, que é histórica e transcende a história, são as novas rela-ções
do evangelho. Estar sempre alegres, portanto, não tem nada que
ver com atitudes abobadas, românticas ou resignadas, tal como ser o
“inocente útil” da história...
22. Paulo e seus colaboradores convidam a comunidade a agradecer
sempre a Deus, não somente nos momentos bons, mas “em todas as
circunstâncias”, também nos momentos difíceis (v. 18). A comunida-de
que constrói novas relações enfrenta oposições e tribulações, e es-tar
consciente disso, sabendo que seguir fielmente a Jesus é o que im-porta,
leva a agradecer a Deus também pelas tribulações que demons-tram
a fidelidade a essa mesma missão.
23. Os vv. 19-22 deixam entrever como Paulo, o fariseu “converti-do”,
não admitia nas comunidades nenhum legalismo. E não é para
menos: basta considerar seu árduo trabalho de libertar os seguidores
de Jesus da Lei judaica e de todo e qualquer legalismo, para que os
cristãos vivessem de fato a liberdade para a qual Jesus os libertara.
Numa cidade como Tessalônica, importante pelo comércio e local de
encontro de tantos pensadores com as filosofias e doutrinas as mais
diversas, Paulo enuncia o princípio ético fundamental: “Examinem
tudo e fiquem com o que é bom” (v. 21). A comunidade que não se
deixa escravizar pelo legalismo, que não está aprisionada pela rotina,
pelas regras e pelo que está estabelecido, pode crescer, ser espontânea
e criativa. Quando os cristãos são adultos, têm a capacidade de exa-minar
tudo e ficar somente com o que é bom, ou seja, com aquilo que
é bom para a comunidade e constrói fraternidade. Quando os cristãos
são adultos, não precisam que tudo seja decidido pelos outros, pelos
que são chamados, sim, a animar e servir a comunidade, mas não a
dar respostas prontas.
24. Daí os conselhos: “não extingam o Espírito” e “não desprezem
as profecias”. Extinguir o Espírito seria banir da comunidade a liber-dade
que Jesus nos conquistou, liberdade que nos dá o direito de errar
e crescer aprendendo, em vez de ser eternos e infantis observantes de
leis e regras fixadas que muitas vezes não nos permitem ser fiéis ao
evangelho — exatamente porque fidelidade exige criatividade. Des-prezar
as profecias, a esse respeito, é rejeitar a voz da liberdade do
Espírito. É rejeitar de antemão a insegurança da novidade para ficar
na segurança do estabelecido. E aqui o critério é examinar as profeci-as,
para discernir quais delas contribuem para o bem da comunidade.
Se não contribuem para o bem, não são verdadeiras profecias, e por
levarem ao mal devem ser afastadas (v. 22).
25. Paulo e os colaboradores expressam sua comunhão com a comu-nidade
suplicando por ela a Deus, na confiança de que a santidade é
dom do Deus fiel que chama, conserva e realiza o prometido (vv. 23-
24).
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
26. Em que medida a missão profética está transformando a sociedade e as relações dentro de nossas comunidades?
Que libertação somos chamados a "promulgar" hoje?
27. João Batista é a testemunha que não se põe no lugar do Messias, não chama a atenção para si, mas aponta para
"aquele que vem". Isso é iluminador, ao pensarmos no papel das lideranças hoje. Testemunhar Jesus e preparar sua che-gada,
endireitando seus caminhos, significa romper com as estruturas de injustiça e de morte. Como é o nosso testemu-nho?
28. O que seria hoje "extinguir o Espírito" e "desprezar as profecias"? O princípio ético: "examinem tudo e fiquem com
o que é bom" exige maturidade — que desafios ele nos apresenta? Nossas relações nos levam a crescer na fé e ser res-ponsáveis?