FORMAÇÃO LITÚRGICA - MINISTROS EXTRAORDINÁRIOS.pptx
Comentário: 2º Domingo do advento - Ano B
1. PREPARAR O CAMINHO DO SENHOR
Pe. José Bortoline - Roteiros Homiléticos Anos A, B, C Festas e Solenidades - Paulos, 2007
* LIÇÃO DA SÉRIE: LECIONÁRIO DOMINICAL *
ANO: B – TEMPO LITÚRGICO: 2° DOMINGO DO ADVENTO – COR: ROXO / LILAS
I. INTRODUÇÃO GERAL
1. O tema principal que atravessa as leituras deste domingo
aparece sob a imagem do caminho: de libertação e volta à
pátria para os exilados (lª leitura, Is 40,1-5.9-11); de conver-são
para o encontro com o Messias, o Filho de Deus (evange-lho,
Mc 1,1-8), de esperança ativa no "Dia de Deus", colabo-rando
desde já com ele para que seja apressado o Dia em que
haverá "novos céus e nova terra, onde habitará a Justiça" (lª
leitura, 2Pd 3,8-14). É isso que queremos celebrar hoje como
anuncio e denúncia: anúncio do Deus que já está no meio de
nós, e denúncia profética de tudo o que impede o nosso povo
de ter liberdade e vida.
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1ª leitura (Is 40,1-5.9-11): Deus-pastor chefia a caminhada
de libertação
2. O Segundo Isaías é o profeta amigo e companheiro dos
exilados. Sua tarefa é devolver esperança ao povo, ou seja,
mostrar-lhe que o retomo à pátria é possível e está para acon-tecer.
É isso que ouvimos lendo os textos desse profeta anô-nimo
(Is 40-55).
3. Os versículos escolhidos como primeira leitura deste
domingo são o início da missão do Segundo Isaías (cap. 40).
Os vv. 1-11 apresentam o seguinte esquema: 1. Consolação do
povo e de Jerusalém, e os motivos do consolo (vv. 1-2); 2.
Está para iniciar novo êxodo. A volta à pátria não vai demorar
(vv. 3-5); 3. Quem garante o processo de libertação é Palavra
de Deus, que é eficaz (vv. 6-8); 4. Javé está chegando na qua-lidade
de pastor (vv. 9-11).
4. Jerusalém é a cidade-esposa de Javé. Por ocasião do exílio
ela perdeu seus filhos, sentindo-se abandonada por Deus. Ago-ra
é o próprio Senhor quem ordena: "Consolem, consolem o
meu povo! Falem ao coração de Jerusalém e digam-lhe em alta
voz que terminou o tempo da escravidão; ela recebeu da mão
do Senhor o pagamento dobrado por todos os seus pecados"
(vv. l-2). Os exilados pagaram mais do que deviam, pois além
de terem sido arrancados da própria terra e escravizados na
Babilônia, tiveram que suportar a gozação dos opressores (cf.
por exemplo, Sl 115,2;137,l-3). Os exilados aprenderam, com
o sofrimento e marginalização, uma lição importante que os
toma aptos a voltar a reconstruir o país.
5. Por isso se ouve um grito que ordena o novo êxodo: "A-bram
no deserto um caminho para o Senhor, aplainem no
descampado uma estrada para nosso Deus! Todo vale seja
entulhado e todo monte e colina sejam abaixados; as serras se
transformem em planície e as montanhas em amplo vale" (vv.
3-4). O "caminho para o Senhor" recorda várias coisas, por
exemplo, a estrada sagrada que havia diante dos templos da
Babilônia: era uma estrada reta e plana que favorecia a passa-gem
da divindade. Mas, acima de tudo, lembra o caminho de
libertação percorrido pelo povo de Deus ao ser resgatado da
escravidão egípcia. Deus está promovendo, com a força de sua
Palavra, novo êxodo para seu povo. Desta vez, a caminhada
pelo deserto não será demorada como outrora e não haverá
dificuldades como no passado, pois será como uma procissão
alegre e festiva, fácil e cômoda. O próprio Deus chefia a mar-cha
do seu povo para a liberdade e a vida, pois ele voltou a ser
"o nosso Deus", aquele que tira seu povo da escravidão. É aí
que se manifesta a "glória do Senhor".
6. A notícia de que os exilados estão para voltar chega a
Jerusalém. O profeta é portador de boas notícias para a capital
e as cidades de Judá: a libertação está chegando (v. 9), pois o
Deus libertador voltou a se manifestar com o mesmo poder e
braço com que agiu outrora, no tempo da libertação do Egito
(v. 10).
7. A imagem da procissão festiva e alegre adquire contornos
mais claros. O povo é como um rebanho conduzido com segu-rança
por Deus, seu pastor, que tem predileção pelos cordeiri-nhos
(os fracos), carregando-os ao colo, e pelas ovelhas-mães,
as fontes da vida (v. 11). Este versículo oferece algumas in-formações
sobre os que voltaram do exílio: são pessoas enfra-quecidas
(os que estavam bem de vida preferiram ficar em
Babilônia), mas cheias de esperança de vida nova. À frente
dessas pessoas, contudo, caminha aquele que conduz à liber-dade
e à vida.
Evangelho (Mc 1,1-8): Preparar o caminho do Senhor
8. O evangelho de Marcos foi, provavelmente, o primeiro
texto de discipulado das comunidades primitivas. O evangelis-ta
concentra seus esforços na demonstração de "quem é Jesus"
E, desde o início (v. l), deixa claro: o que vamos encontrar
neste livro é apenas o começo. Esse dado é importante para
entendermos a intenção do evangelista: percorrer o caminho
que leva a Jesus é estar sempre disposto a começar, a reapren-der,
pois em Mc os discípulos se encontram num estado crôni-co
de ignorância. De fato, depois que ressuscitou, Jesus os
manda à Galiléia, lugar onde ele iniciou sua atividade liberta-dora.
É aí que poderão encontrá-lo (cf. Mc 16,7). "Galiléia" é
onde estão os marginalizados. Marcos, portanto, nos garante
uma coisa: se quisermos encontrar Jesus e saborear a boa notí-cia
que ele é e traz, precisamos recomeçar sempre a partir dos
empobrecidos e marginalizados da sociedade, aprendendo com
suas esperanças e lutas.
9. A boa notícia (= evangelho) é a pessoa e a ação de Jesus,
chamado de Cristo (= Messias) e de Filho de Deus. Essa afir-mação
se encontra estrategicamente no início (1,1), no meio
(8,29) e no fim do evangelho de Marcos (15,39). Os que pres-tam
atenção a tudo o que Jesus diz e realiza são convidados a
fazer a mesma constatação do próprio evangelista, de Pedro e
do oficial romano, que declaram ser Jesus o Messias, aquele
que concretiza a vinda do Reino.
10. Os versículos 2-8 falam de João Batista, o Precursor do
Messias-Filho de Deus, apresentando-o como o mensageiro
que vai à frente de alguém mais importante, como o profeta
que veio para preparar o caminho do Senhor (cf. vv. 2-3).
Nesses versículos temos a condensação de três citações do
Antigo Testamento. Em primeiro lugar, Ex 23,20: "Vou enviar
um anjo na frente de você para que ele cuide de você no cami-nho
e o leve até o lugar que eu preparei para você".Em segun-do
lugar, Is 40,3: "Uma voz grita: Abram no deserto um cami-nho
para o Senhor, aplainem no descampado uma estrada para
nosso Deus!" (cf. 1ª leitura). Finalmente, Ml 3,1: "Vejam!
Estou mandando o meu mensageiro para preparar o caminho à
minha frente". João Batista é, portanto, o que prepara e conduz
a humanidade ao encontro daquele que traz consigo a realiza-ção
dos tempos messiânicos, ou seja, Jesus, que irá batizar
com o Espírito Santo (cf. v. 8).
11. O Precursor aparece no deserto (v. 4). Essa indicação é
importante pois recorda, ao mesmo tempo, o período que vai
2. da libertação do Egito até a entrada na Terra Prometida, e o
período da saída do exílio na Babilônia até o regresso à pátria
(cf. lª leitura). Jesus será, portanto, aquele que vai introduzir o
povo numa nova realidade. De fato, suas primeiras palavras no
evangelho de Marcos são estas: "O tempo já se cumpriu, e o
Reino de Deus está próximo. Convertam-se e acreditem na
Boa Notícia" ( l , 15)
12. O texto afirma que "toda a região da Judéia e todos os
moradores de Jerusalém vinham ao encontro de João Batista.
Confessavam os seus pecados e ele os batizava no rio Jordão"
(v. 5). O batismo de João era o sinal que predispunha as pes-soas
à aceitação da novidade prestes a chegar na pessoa de
Jesus. Era, pois, o sinal de conversão e compromisso.
13. Marcos descreve rapidamente o perfil do Precursor: "João
se vestia com uma pele de camelo e comia gafanhotos e mel
silvestre" (v 6). Com essas poucas palavras ele o insere na lista
dos profetas do Antigo Testamento. Quanto ao modo de vestir,
João Batista é um profeta à semelhança de Elias (cf. 2Rs 1,8) e
de outros profetas (cf. Zc 13,4). Quanto à comida e bebida, ele
se iguala ao povo pobre que não quer mais depender da explo-ração
econômica dos centros de poder, onde vigora a lei do
consumismo e do luxo (cf. o banquete de Herodes na cidade e
a comida dos pobres no deserto em Mc 6,14-44).
14. João Batista é profeta nas palavras e no modo de ser,
inclusive na roupa e no alimento. Sua pregação e vida são ao
mesmo tempo denúncia e apelo: denúncia do que está aí, e
apelo do que vai ser implantado com a vinda do Messias. A
figura do Batista ainda está presente em nossa sociedade: basta
que olhemos para o modo como o nosso povo se veste e ali-menta:
chinelos de dedo, tênis velhos, camisetas surradas,
calças gastas, farinha e rapadura, arroz e feijão, não são tudo
isso denúncia e sinais proféticos? Sim, tudo isso é uma denún-cia
da nossa sociedade desigual. E a vinda do Messias, "aquele
que se compadece desse povo" (cf. 6,34), quer ser vida para os
que dela foram privados.
15. João Batista anuncia a vinda do forte que vem depois dele.
Lido à luz das passagens do Antigo Testamento acima citadas,
o forte é o Senhor, aquele que vai batizar a humanidade com o
Espírito Santo (cf. vv. 7-8). Jesus é forte porque, logo em
seguida, ao ser batizado (v. 10), o céu se rasga, e o Espírito
repousa sobre ele, levando-o a proclamar o fim do tempo de
espera e a chegada do Reino (1,15).
2ª leitura (2Pd 3,8-14): Esperamos e apressamos a chegada
do Dia de Deus
16. "Embora se apresente como sendo de Simão Pedro... esta
carta é o último escrito do Novo Testamento, e foi provavel-mente
escrita no fim do séc. I ou mesmo em meados do séc. II.
Seu autor imita o gênero literário do 'testamento dos antepas-sados',
comum naquela época: colocar conselhos e advertên-cias
na boca dos patriarcas que estão próximos à morte. Esta-mos
no tempo em que a Igreja está passando da época primiti-va
para a chamada era pós-apostólica. Até aí o cristianismo
fora vivido como novidade entusiasmante e esperava-se arden-te
e continuamente pela volta gloriosa de Jesus. Nesse momen-to,
porém, o tempo do Jesus terrestre começava a perder-se no
passado, e o futuro da parusia torna-se cada vez mais distan-te..."(
Introdução à segunda carta de Pedro, em Bíblia Sagrada
– Edição Pastoral, Paulus, p. 1574).
17. O final da carta, ao qual pertencem os versículos de hoje,
trata da demora da vinda do Senhor. Deus não mede o tempo
segundo nossos critérios: "Para o Senhor, um dia é como mil
anos, e mil anos como um dia" (v. 8). Sua chegada não depen-de
dos nossos cálculos, pois ele vem quando a gente menos
espera, como um ladrão (cf. v. 10a). Parece, contudo, que essa
resposta, já dada por Paulo muito tempo antes (cf. 1Ts 5,2),
não satisfazia plenamente. O autor da carta, então, procura
aprofundar o tema à luz da paciência de Deus. O tempo pre-sente,
marcado pela espera, faz parte do projeto de Deus "que
está usando de paciência com vocês, pois deseja que ninguém
se perca. Ao contrário, quer que todos venham a converter-se"
(v. 9).
18. Portanto – pensa o autor da carta – não é tempo de fazer
previsões e especulações sobre a última e definitiva interven-ção
de Deus, o "Dia do Senhor". Importa, isso sim, "esperar e
apressar a chegada desse Dia". É possível apressar esse Dia
mediante o "esforço para sermos encontrados numa vida pura
e perfeita na paz com Deus" (v. 14).
19. Usando linguagem apocalíptica, os vv. 10.12 descrevem o
final dos tempos ou "Dia do Senhor". Era a forma como o
autor – e as pessoas daquele tempo – imaginava que isso fosse
acontecer: barulho espantoso, dissolução dos elementos devo-rados
pelas chamas, desaparecimento da terra, os céus incen-diados
e os elementos que se fundem etc. Naquele tempo, fogo
e água eram considerados fatores de destruição. O mais impor-tante
disso tudo não é o modo como o Dia do Senhor vai acon-tecer,
mas a transformação de tudo em "novos céus e nova
terra, onde habitará a justiça" (v. 13). O autor da carta empre-gou
imagens da destruição de elementos visíveis para falar da
ação invisível de Deus e da nova realidade que será criada,
meta da nossa esperança e, ao mesmo tempo, resultado do
nosso esforço.
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
20. Deus-pastor chefia a caminhada de libertação. Advento é tempo de proclamar a chegada
da libertação do nosso povo. Preparar o caminho do Senhor é ajudar o povo a ter liberdade e vi-da.
O texto de Isaías sugere que se faça uma caminhada/procissão em que estejam presentes os
anseios de vida do nosso povo. Dar cuidado especial aos fracos e às fontes da vida.
21. Preparar o caminho do Senhor. O batismo de João, sinal de conversão c adesão a boa notí-cia
trazida por Jesus, precisa hoje ser substituído por outros sinais. Sugere-se apresentar coisas
da vida do povo que denunciam a situação de opressão e são forte apelo à conversão. Não seria
esse um modo interessante de "preparar o caminho do Senhor"?
22. Esperamos e apressamos a chegada do Dia de Deus. A segunda carta de Pedro nos garante
que é possível apressar o "Dia de Deus". Quais são, em nossas comunidades, os sinais de que es-se
Dia já está raiando?