Camadas de transposição didática no ensino de língua materna
1. V Jornadas
Internacionales de
Investigación y Prácticas
en Didáctica de las
Lenguas y las Literaturas
03 e 04 de novembro de
2016 | Bariloche/Argentina
Fábio Delano Vidal Carneiro
Centro Universitário 7 de Setembro
GEPLA – PPGL/UFC
CAMADAS DE TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA
NO ENSINO DE LÍNGUA MATERNA: O
TEXTO DE OPINIÃO COMO OBJETO
EFETIVAMENTE ENSINADO
3. Uma necessária ancoragem sócio-histórica
Fábio Delano Vidal Carneiro (Colégio e Faculdade 7 de Setembro)
Universidade de Genebra (1559)
Instituto Jean-Jacques Rousseau (1912 – E. Claparède)
Instituto de Ciências da Educação (1929 – J. Piaget)
Faculdade de Psicologia
e Ciências da Educação (1975 – Bronckart)
Groupe LAF
"Langage Action Formation"
Interacionismo Sociodiscursivo
5. OBJETIVO
Refletir acerca da transposição
de objetos a ensinar em objetos
efetivamente ensinados no
ensino-aprendizagem de
português como língua materna.
Como se configuram os processos de
transposição dos objetos a ensinar,
prescritos nos currículos escolares,
em objetos efetivamente ensinados
pelo professor na sala de aula de
português como língua materna?
QUESTÃO
6. HIPÓTESE
Os professores e demais componentes
do corpo docente de uma escola
específica não recebem o currículo de
forma passiva.
O professor reconstrói o objeto a
ensinar, por meio de ações
transposicionais, reveladoras das
representações pré-estabelecidas
pelo docente, do seu modo de fazer,
de pensar e de valorizar os
elementos e dimensões do ensino
de LM
8. Crítica ao modelo de Chevallard
Esquema 1: a transposição no quadro dos sistemas escolares
9. A transposição nas pesquisas em
didática
Objetos de saber
(noções, conceitos,
práticas, modos de
fazer/ser/dizer e
pensar)
Transposição externa
Discretização
Despersonalização
Programabilidade
Publicidade
Controle social
Objetos a
ensinar
(reformulação
externa e
coletiva)
Nos meios de
ensino
Materializada:
No currículo
Nas instruções
oficiais
Objetos
efetivamente
ensinados
(reformulação
interna e
individual)
Transposição interna
Práticas históricas
Conjunto de estratégias
e exercícios
Representações
sociais do objeto
Limitações materiais
Socialização dos
pares
10. A pesquisa sobre o objeto ensinado em
sala de aula de línguas
Uma análise multifocal
Circulação entre os
domínios da disciplina
Os gestos didáticos
fundamentais
Macroestrutura das
sequências de ensino
Colocação em
funcionamento de
dispositivos didáticos
Regulações
Institucionalizações
Organização dos níveis
supraordenados
Série de atividades
escolares
Textos em circulação
Produções escritas
Gramática
Produções escritas
11. Tensões entre objetos ensinados
Circulação entre domínios
Matemática
Análise de dados
Cálculos
(mentais e algorítmicos)
Resolução de Problemas
Ciências da Natureza
Levantamento de
fenômenos
Método Científico
Taxonomias
Método Científico
Ciências Humanas
Historiografia
Percepção das
permanências e rupturas
Cronologias
Percepção das
permanências e
rupturas
Resolução de Problemas
12. As dimensões essenciais do
trabalho de ensino-aprendizagem
Qual é o objeto do trabalho do professor?
Os modos de pensar, agir e dizer (processos psíquicos) dos alunos
(na relação desses com os objetos de aprendizagem)
Quais são seus fins?
A transformação das capacidades dos alunos em função dos
objetivos institucionais (sistema escolar)
Quais são seus instrumentos?
Os instrumentos ou ferramentas psicológicas (diferentes
sistemas semióticos) que permitem a reestruturação
« de maneira fundamental de todas as funções do
comportamento » (Vygotski, 1930/1985, p. 45)
14. Os Gêneros Textuais são
megainstrumentos do desenvolvimento
humano, pois seu caráter mediador das
semioses e dos discursos os colocam no
centro das práticas linguageiras.
15. QUADRO TEÓRICO
Pesquisas recentes (SCHNEUWLY,
2010; CHABANNE E DEZUTTER,
2011; RONVEAUX ET ALLI, 2013)
em torno da transposição didática no
ensino de francês como língua
materna (FLM), observam a
ocorrência de camadas de
transposições nas quais as
instruções dos textos formativos
e/ou prescritivos são adaptadas a
partir do agir efetivo de professores
e alunos.
17. • Análise de texto (ANTX) : Esta categoria inclui dispositivos que levam a atividades analíticas realizadas
acerca de diferentes textos.
• Produção de texto (PRTX) : trata-se de dispositivos que são projetados para fazer os alunos escreverem
textos ou pedaços de textos argumentativos ou com intenção argumentativa no contexto de atividades
subjacentes ou que buscam sancionar o ensino / aprendizagem de texto opinião.
• Elaboração de conteúdo (ELCO) : Estes são os dispositivos projetados para permitir que os alunos
identifiquem o conteúdo: argumentos, contrargumentos, informações sobre o tema , posições opostas no
debate, etc.
• Trabalho com conectores (Conn) : Esta categoria inclui todos os dispositivos em que as atividades
induzem, de uma forma ou de outra ao trabalho com conectores argumentativos (por isso, então, dessa
forma, etc.).
• Debate (Deba) : Esta categoria inclui todos os dispositivos em que os alunos são colocados em situação de
debate em sala de aula em duplas ou em grupos, etc.
• Explicação ( Expl ) : Relaciona-se a uma série de atividades orais iniciadas a fim de descrever, apresentar,
esclarecer ou definir certos conceitos na perspectiva de preparar uma exploração pontual ou posterior.
• Trabalhar na grade de avaliação (GrEv): Este é o conjunto de dispositivos que são projetados para
desenvolver ou rever uma rubrica como uma ferramenta para trabalhar com o texto, ou entender o seu
propósito.
• Teoria do Gênero ( ThLx) : Este refere-se a um trabalho essencialmente teórico para definir ou dar as
características do gênero.
• Leitura de Descoberta (LeDe) : Estes são dispositivos que incentivam a leitura, em voz alta ou em silêncio,
a fim de descobrir o conteúdo ou a forma de um ou mais textos apresentados aos estudantes.
• Autocrítica ( AuCr ) : Esta é uma série de atividades colaborativas entre professores e alunos sobre as
atividades de produção oral ou escrita anteriormente desenvolvidas pelos alunos, nas quais um retorno à
análise crítica é incentivada pelo professor para melhorar o desempenho ou fazer uma síntese crítica.
Categorias de atividades didáticas
18. As dimensões essenciais do
trabalho de ensino-aprendizagem
Os objetos de ensino-aprendizagem
Dentro de uma perspectiva sócio-histórica
do trabalho de ensino-aprendizagem,
enfatizam-se três dimensões
Os instrumentos de ensino
Os gestos didáticos fundamentais
19. Metodologia – Coleta de Dados
Aulas de Produção Textual em Língua Materna - Séries Finais do Ensino Fundamental
6º Ano 7º Ano 8º Ano 9º Ano
Aulas: (Comentários e condutas)
8 aulas de cada professor
Entrevista anterior + Gravação da aula + Entrevista posterior
Documentos (Prescritivos, de Execução e Avaliativos):
Planos, Tarefas e Produções dos alunos
20. Metodologia – Análise dos dados
Aulas de Produção Textual em Língua Materna (Séries Finais do Ensino Fundamental
6º Ano 7º Ano 8º Ano 9º Ano
Identificação das categorias de
Transposição Didática Professoral
1.Gestos didáticos
2.Regulações
3.Institucionalizações
4.Avaliações
22. Dispositivo didático
As consignas ou comandos, suas reformulações e
seus pré-requisitos
« Constitui-se de um conjunto de
consignas que definem um objetivo
suscetível de ser alcançado , assim como
as condições concretas de consecução
desse objetivo e as ações a serem
executadas »
(Dolz, Schneuwly, Thévenaz & Wirthner, 2001).
23. Analisar um dispositivo didático
significa identificar as ferramentas
(forma social de trabalho, comandos,
suportes materiais etc) reveladoras
do cenário criado pelo educador, a
fim de demonstrar e tratar as
diferentes dimensões do objeto de
saber.
24. O Agir-referente: aula de LM
Articulação de Atividades/Ações
Articulação de tarefas
Aulas anteriores
Ano escolar
Programas politicas
Planejamento-prescrições
Acolhida
Leitura Coletiva
Leitura Individual
Exposições Discussões
Resolução de Exercícios
Correções Feedbaks
Complexidade do agir Educacional
Aula de LM
Aulas
posteriores
25. Regulações e Institucionalização
Regulações = avaliação das aprendizagens
ao longo do trabalho didático.
Institucionalização = construção e fixação
do estatuto cognitivo de um saber, visando
sua (re)utilização, através da tomada de
consciência acerca do saber adquirido
26. Institucionalizações
Linguagens em conexão, vol.1 p. 67
construção e fixação do estatuto cognitivo de
um saber, visando sua (re)utilização, através da
tomada de consciência acerca do saber
adquirido.
27. Institucionalizações
Linguagens em conexão, vol.1 p. 67
construção e fixação do estatuto cognitivo de
um saber, visando sua (re)utilização, através da
tomada de consciência acerca do saber
adquirido.
28. Institucionalizações
construção e fixação do estatuto cognitivo de
um saber, visando sua (re)utilização, através da
tomada de consciência acerca do saber
adquirido.
29. Currículo e Transposição Didática
Delimitar os objetos de ensino em face dos objetivos almejados
Aluno
“argumentador”
Aluno
“leitor crítico”
Aluno
“usuário da
norma culta”
Identificar
problemáticas
sociais
Ler/produzir
teses e
argumentos
Utilizar unidades
linguísticas
apropriadas
ALUNO
ACTANTE
LINGUAGEIRO
LER
PRODUZIR
ARTIGOS DE
OPINIÃO
30. Resultados: DISPOSITIVOS DIDÁTICOS UTILIZADOS
2 – PESQUISA ORIENTADA
3 – TRABALHO SOBRE O PLANO DE TEXTO
4 – RE-ESCRITA ORIENTADA
5 – RE-ESCRITA AUTÔNOMA
1 – AULA MAGISTRAL FOCO NA
GENERALIZAÇÃO
COMO ESTRATÉGIA
DE TRANSPOSICAO
EPISTEMOLÓGICA
31. CONCLUSÕES
« Observar como o professor coloca em cena
o objeto ensinado, identificar que dimensões
desse objeto ele privilegia e quais descarta é
uma ação essencial para o desenvolvimento
das dimensões epistemológicas, didáticas e
avaliativas da gestão do
trabalho escolar, da
formação docente e da
superação do fracasso
educacional. »
33. Os Gêneros Textuais são
megainstrumentos do desenvolvimento
humano, pois seu caráter mediador das
semioses e dos discursos os colocam no
centro das práticas linguageiras.
34. CONCLUSÕES
«Mais atenção deve ser dada ao discurso do
professor e aos gêneros que ele produz no seu
trabalho didático: o gesto didático, as
institucionalizações, as reformulações, as
consignas e comandos, as tarefas
e exercícios propostos,
cada um desses gêneros é
a construção de uma
prática e de um terceiro
nível de transposição: a
dos saberes efetivamente
ensinados.
35. BRONCKART, J.-P. (1997). Activité langagière, textes et discours. Pour un interactionisme socio-
discursif, Paris, Delachaux et Niestlé (Traduction: (1999). Atividade de linguagem, textos e
discursos. Por um interacionismo socio-discursivo, São Paulo, EDUC).
BRONCKART, J.-P. (2004). "Pourquoi et comment analyser le travail de l'enseignant(e)" - In: G.
Bello, P. Floris & S. Presa (Ed.), Il mestiere del'insegnante. Analisi dell'azione docente, Aoste:
Assessorato all'Istruzione e Cultura, pp. 9-35 (Traduction: (2006) Porque e como analisar o
trabalho do professor. In: Atividade de linguagem, discurso e desenvolvimento humano, Campinas
(Brasil): Mercado de Letras, pp. 203-229).
BRONCKART, J.-P. (2001). S’entendre pour agir et agir pour s’entendre. In J.-M. Baudouin & J.
Friedrich (Eds), Théories de l’action et éducation (pp. 133-154). Bruxelles: De Boeck.
Références Bibliographiques:
BRONCKART, J.-P., & Plazaola Giger, I. (1998). La transposition didactique. Histoire et perspectives
d’une problématique fondatrice. Pratiques, 97-98, 35-58.
PETITJEAN, A. (1998). La transposition didactique en français. Pratiques, 97-98, 7-35.
SCHNEUWLY, B. (2010). L'objet enseigné. In B. Schneuwly & J. dolz (Ed.), Des objets enseignés
en classe de français. Le travail de l'enseignant sur la rédaction de textes argumentatifs et sur la
subordonnée relative. Genéve: PUF.
RIESTRA, D. (2004). Thèse de Doctorat. FPE 328. Las consignas de trabajo en el espacio socio-
discursivo de la enseñanza de la lengua. Genève: Université de Genève. (Copyright Riestra, Dora
et Université de Genève). http://www.unige.ch/cyberdocuments/theses.
36.
37.
38. Conjunção gnosiológica
Os dados coletados revelam que os professores e demais componentes do corpo
docente de uma escola específica não recebem o currículo de forma passiva. As
condições específicas de cada escola, da cada grupo de alunos e de cada aprendiz,
influenciam as decisões dos professores enquanto realizam camadas sobre camadas de
adaptações, transformações e, por assim dizer transposições entre saberes. Os critérios
utilizados se baseiam nas representações de cada professor em relação ao objeto de
conhecimento, ao que ele ou ela julgam essenciais que o aluno aprenda. Outros gêneros
e outras práticas entram também na engenharia da transposição: os manuais escolares,
os textos de planificação, os instrumentos avaliativos, todos esses textos relevam de uma
determinada aproximação dos saberes constituídos e adaptados ao tempo e espaço
escolares. Mais atenção deve ser dada ao discurso do professor e aos gêneros que ele
produz no seu trabalho didático: o gesto didático, as institucionalizações, as
reformulações, as consignas e comandos, as tarefas e exercícios propostos, cada um
desses gêneros é a construção de uma prática e de um terceiro nível de transposição: a
dos saberes efetivamente ensinados.
39. Experiência INTERNA
Ocorrência EXTERNA
(ENTREVISTA ANTE PROFESSORA 3 – 5º ANO)
F.D: Então / essa tua aula que você vai/ vai
iniciar agora / de agora até a hora do recreio /o
que é que você vai fazer nessa aula / o que é que
você planejou?
P3:É sobre discurso / [F.D.: sim] e é uma aula na
biblioteca /
eu trouxe pra biblioteca /porque a biblioteca é
uma extensão da / da minha sala de aula regular /
daí / é uma aula aonde eles vão / vão ver / que na
realidade já foi dada essa aula / eles já viram o
que é discurso / é as etapas né / de como fazer o
discurso / e aí eles vão / agora em dupla / eles
vão formular / eles vão produzir um discurso / é /
vão assistir o discurso de uma canadense / antes
já visto no texto / eu baixei da internet e eles vão
assistir agora esse discurso e também de um
menino / do Lucas / e eles vão analisar o tipo de
discurso / vão ver as etapas é que contém / e daí
eles vão se juntar / e vão produzir o discurso
[F.D.: o discurso oral ou o discurso escrito] não
eles vão pro escrito. /
Ex 1
40. Codependência accional
A convivência, no plano
gnoseológico, desses dois
conjuntos de interpretações
gera uma dupla ancoragem:
Do ponto de vista da prática
(ontologia) o agir do professor se
caracteriza pela intervenção no agir
de outrem (alunos) e vice-versa.
No plano interpretativo a ação na
aula de LM se constrói como
alternância de figurações internas
e externas em constante relação
de codependência complexa
(motivacional; de resultados etc.).
41. Para concluir:
A característica principal do agir do professor
é a de se desdobrar em microatividades cujo
<<eixo de validade>> sociosubjetivo é o
da negociação sobre o agir dos alunos.
Paralelamente, o professor avalia e reconstrói
esse agir a partir do sucesso ou fracasso dos
seus efeitos sobre o agir dos alunos.
42. Para concluir?
Como Bronckart (2001) apresenta, o
professor tenta <<se entender para agir e
agir para se entender>> com seus alunos.
Resta então a questão: como apoiar o
professor a reorganizar suas capacidades
accionais, seus conhecimentos e seus
modos de fazer a partir da figuração
presente no seu discurso?
A pesquisa continua.
43. Agir educacional
Ensino/aprendizagem
de língua materna
O FLUXO COMPLEXO DA FIGURAÇÃO
DO AGIR DO PROFESSOR
Curso de LM na
escola regular
Aula de LM
(geral)
Aula especifica de:
Leitura
Produção
Estrutura
O Agir-referente: aula de LM
44. Quadro teórico
Prática Específica
Atividade Linguageira Texto
Espaço da Esfera
Gnosiológica e
Representacional
Representações
Coletivas e Individuais
Esquema 1: Relação Práxis & Linguagem (adaptado de BRONCKART: 2008, p.45)
Prática em geral
Atividade Prática Linguagem
Praxeologia
Campo
Semiótico Geral
Gênero
Atividade Prática
46. Enunciados formalizados:
“Manifestação singular fundamentada
sobre um tratamento de reelaboração
temática de diversos saberes referenciais
e experienciais, no contexto de uma
tomada de responsabilização enunciativa
subjetiva (do sujeito).
(Kerbrat-Orcchioni, 1999).”
Critérios de referencia(ção)
(p.250)