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ALUNO
I - AUTORIA, LOCAL E DATA DO
LIVRO DE JÓ
1. O autor de Jó. Quem escreveu o
Livro de Jó é motivo de longos debates.
As opiniões passam por Moisés, Eliú,
Salomão, Ezequias, Isaías e, até mesmo,
Esdras. Os que não acreditam no
mover sobrenatural de Deus sobre os
autores bíblicos fazem do livro uma
colcha de retalhos. Afirmam ser ele a
produção de vários autores e em
diferentes épocas. Entretanto, o
cristianismo histórico e conservador
não tem o livro de Jó como uma ficção
religiosa, mas como uma narrativa
poética inspirada por Deus e redigida
por um único autor.
A própria Bíblia não apresenta
indicações do autor do livro, mas o fato
é que o autor conhecia a forma poética
e nela expressou a maior parte do livro.
2. A pessoa histórica de Jó. A
Bíblia mesma atesta que Jó foi uma
pessoa histórica. O profeta Ezequiel
confirma que ele, de fato, foi uma
pessoa real, correlacionando-o ao lado
de Noé e Daniel (Ez 14.14). Tiago, por
exemplo, atesta a realidade histórica
do principal personagem do livro,
bem como sua autenticidade textual,
quando destaca a perseverança de
Jó (Tg5.ll).
3.A terra de Jó. Já no início do seu
texto, o Livro de Jó destaca que ele era
da "terra de Uz" (Jó 1.1). Como Jó, Uz
era uma terra real. Os comentaristas
situam Uz ao sul de Edom e a oeste do
deserto da Arábia, se estendendo a
leste, indo até a Babilônia (Jr 4.21; 25-
20).
4.A época de Jó. A maioria dos
comentaristas situa os fatos narrados
no Livro de Jó dentro do período
patriarcal (Abraão, Isaque e Jacó).
Dentre outros, alguns fatos contribuem
para esse entendimento: O sacerdócio
como instituição ainda não existia,
visto que Jó era o sacerdote de sua
própria casa (Jó 1.5); as filhas de Jó
eram coerdeiras juntamente com seus
irmãos (Jó 42.15), o que não era
permitido pela lei mosaica (Nm 27.8); a
palavra hebraica qesitah, traduzida
como "uma peça de dinheiro" (Jó
42.11), só aparece em outras duas
ocasiões na Bíblia: uma em Gênesis
33.19 e a outra em Josué 24.32.
II - ESTRUTURA LITERÁRIA DO
LIVRO DE JÓ
1. Prosa e poesia. O leitor que
deseja ler o Livro de Jó precisa dar-se
conta de que diante dele há uma obra
de natureza poética. Isso não torna o
livro de Jó menos inspirado do que
outros da Bíblia, mas revela que ele
pertence a um diferente gênero
literário. Jó precisa ser lido dessa
forma. A estrutura dessa obra
demonstra isso. O texto é uma
combinação de prosa- -poesia-prosa
(nessa ordem). Ele está literariamente
organizado assim: Uma prosa nos
primeiros capítulos; uma longa poesia
no meio; mais uma prosa no último
capítulo. Assim, o prólogo (Jó 1.1-2.13)
e o epílogo (Jó 42.7-17) estão em
prosa; o texto intermediário em poesia
(Jó 3.1-42.6).
2.Organização. No texto em poesia
há a seguinte organização: Um
monólogo feito por Jó; três ciclos de
diálogos entre Jó e seus amigos (Elifaz,
Bildade e Zofá); quatro outros
discursos de um quarto amigo jovem,
Eliú; seguido pela revelação de Deus
onde Ele manifesta o seu poder e graça;
e, finalmente, a humilhação de Jó
diante da revelação divina e sua
restauração completa.
3.Abundância de figuras de
linguagens. O livro é rico em
metáforas. Esse recurso estilístico é
usado pelo autor bíblico quando ele
quer dar mais expressividade e maior
vivacidade ao texto. O autor almeja que
seu texto seja "colorido" ao invés de
"preto e branco". Jó, por exemplo, usa a
figura do "vai-e-vem" do Tecelão para
demonstrar a brevidade da vida (Jó
7.6; cf. "vento" Jó 7.7; "nuvem" 7.9;
"sombra 8.9,14.2; "uma corrida", "uma
águia", "uma flor" 9.25,26, 14.2). No
livro também há o recurso estilístico de
paralelismos onde os elementos
literários repetem-se na mesma ordem.
III - NATUREZA E MENSAGEM DO
LIVRO DE JÓ
1.Por que os justos sofrem?
Algumas das questões mais
importantes levantadas no Livro de Jó
são eminentemente de natureza
teológica e, também, filosófica. A
questão do sofrimento do inocente é a
principal delas. Por que sofre o justo?
Ou ainda, por que os ímpios prosperam
enquanto o justo sofre?
Ao longo dos anos, tanto teólogos
quanto filósofos têm procurado dar
explicações para esse dilema humano.
No contexto de Jó, a ideia que
prevalece é a de que somente os maus
sofriam em consequências de seus
pecados. Se havia sofrimento era
porque havia culpa do sofredor. Nesse
aspecto, ao longo de seus 42 capítulos,
o autor procura demonstrar um novo
olhar sobre essa questão.
2.Existe bondade
desinteressada? Para muitas pessoas
qualquer prática religiosa não passa de
barganha. Essa era também a tese do
Diabo. Para ele, Jó só permanecia fiel a
Deus porque recebia benefício em
troca: Jó era um homem agraciado com
muitos bens; com uma família
formidável; cercado de muitos amigos;
e gozava de boa saúde. Nessas
condições, como disse Satanás, todos
são devotos. Todavia, vindo o
infortúnio, a tragédia e a calamidade,
será que esse fervor religioso
permaneceria? Satanás estava disposto
a apostar que a espiritualidade de ]ó
não subsistiria a uma prova de fogo. 0
livro mostra como Jó se comportou
nessa prova.
3.Pode o homem compreender
Deus? Os últimos capítulos de Jó
mostram os impactos que a revelação
divina tem sobre os homens. Como
Paulo, que foi verdadeiramente
mudado quando contemplou o Senhor
numa visão (At 9-1-17), assim também
Jó é totalmente transformado quando
contempla a majestade do Senhor (Jó
38-42). A questão para Jó não foi tanto
o entender Deus, mas experimentá-Lo.
Viver e experienciar Deus mudou
completamente a vida de jó! Eis uma
grande lição deixada por esse precioso
livro.
I- UM HOMEM DE CARÁTER
IRRETOCÁVEL
1. Íntegro (sincero) (v.l). O caráter
define o que uma pessoa é de verdade.
Ela é vista a partir dos valores que
governam a sua vida interior. O "mau-
caráter" define uma pessoa que não
merece confiança, que é desonesta e
que, portanto, não possui valores
nobres. Jó não era um homem sem
pecado, mas tinha um caráter
irretocável. Nesse sentido, os primeiros
versículos do livro possuem vários
adjetivos que descrevem o seu caráter.
No primeiro, o autor o apresenta como
um homem íntegro. A palavra
"íntegro", que traduz o hebraico tãm,
possui o sentido de inocente, sem culpa.
No grego, segundo a Septuaginta, a
palavra
alethinós remete ao que é verdadeiro.
Assim, podemos afirmar que Jó era
sincero nas intenções, afeições e
diligente nos esforços para cumprir
seus deveres para com Deus e os
homens.
2. Reto (v.l). Ele também era um
homem reto que, no hebraico yãsãr,
tem um sentido de alguém justo,
direito. Na Septuaginta, de acordo com
o grego amemptos, possui o sentido de
irrepreensível. Portanto, o homem de
Uz era justo, reto, direito e se
comportava de maneira
irrepreensível.
3. Temente a Deus e desviava-se
do mal (v.l). Jó é descrito como
alguém temente a Deus, que desviava-
se do
mal. Estas palavras, de acordo com os
termos relativos ao hebraico, sureyare,
traduzem a ideia de alguém que
prestava reverência a Deus e evitava o
mal. Já na Sepetuaginta, os termos
relativos ao grego, theosebés e apecho,
trazem o sentido de alguém devotado
ao culto e à adoração a Deus e que, por
isso, mantinha o mal sempre à
distância.
As Escrituras mostram que, muito
antes de Salomão, Jó praticava o que o
homem mais sábio do mundo,
posteriormente, ensinaria: "Teme ao
SENHOR e aparta-te do mal" (Pv 3.7).
II - UM HOMEM SÁBIO E
PRÓSPERO
1. Um conselheiro sábio. Há
pessoas ricas que nem são sábias nem
tampouco prósperas. Possuem
conhecimento, mas não entendimento;
riquezas, mas não prosperidade. Jó
distingue-se nesse aspecto.
Ele foi um homem sábio, rico e
próspero. A Bíblia afirma que Jó era
"maior do que todos os do Oriente" (Jó
1.3). "Maior" aqui não pode ser
entendido apenas como uma referência
a bens materiais, mas também à sua
sabedoria. Estudiosos destacam que Jó
era mais importante em sabedoria,
riqueza e piedade do que qualquer
outra pessoa daquela região e
ressaltam o reconhecimento da
sabedoria de Jó conforme se destacava
a sabedoria dos orientais expressa em
provérbios, canções e histórias. Isso
fazia dele um homem proeminente, a
quem as pessoas recorriam com
frequência em busca de conselho e
orientação (Jó 29.21,22).
2.Um homem próspero. O homem
de Uz não era apenas rico, mas,
sobretudo, próspero. O texto sagrado
destaca que, além de sua esposa, ele
tinha sete filhos e três filhas (v.2). Para
os padrões da época, possuía uma
família com o formato ideal. Ele
também era um fazendeiro bem
sucedido. Em sua fazenda havia sete
mil ovelhas, três mil camelos,
quinhentas juntas de bois, e quinhentas
jumentas; e tinha também muitíssima
gente a seu serviço (v.3).
3.Uma prosperidade baseada no
"ser". Jó, portanto, possuía um grande
patrimônio e uma bela família. Sua
prosperidade se refletia na relação
harmoniosa entre ele, sua família, seus
negócios e, sobretudo. Deus. Não era
uma prosperidade estabelecida
somente no "ter", mas,
principalmente, no "ser".
III - UM HOMEM DE PROFUNDA
PIEDADE PESSOAL
1. Um homem dedicado à família.
O primeiro capítulo de Jó diz: "Iam seus
filhos e faziam banquetes em casa de
cada um no seu dia; e enviavam e
convidavam as suas três irmãs a
comerem e beberem com eles" (1.4). 0
ambiente descrito aqui é de uma
família em harmonia que, de forma
feliz, festejava a vida. De forma alguma
o texto sugere dissolução, bebedice ou
licenciosidade nessas comemorações.
Eram confraternizações feitas no
ambiente familiar.
2. Um homem de moral e piedade.
Jó foi um homem que possuía uma
forte moralidade e uma sólida
espiritualidade. Além de seu caráter
irretocável, o texto deixa claro que ele
tinha uma vida piedosa (Jó 1.5). Essa
piedade está presente não apenas nos
primeiros capítulos, mas em todo o
livro. Mesmo nos momentos de
desespero, como consequência de sua
provação, ele sempre mantinha seus
olhos em Deus. Essa piedade era a
causa da dedicação de Jó à família.
3.Um homem de vida consagrada.
A piedade de Jó está evidente no
cuidado espiritual que ele tinha com os
filhos. Jó sempre orava por eles:
"Sucedia, pois, que, tendo decorrido o
turno de dias de seus banquetes,
enviava Jó, e os santificava, e se
levantava de madrugada, e oferecia
holocaustos segundo o número de
todos eles; porque dizia Jó: Porventura,
pecaram meus filhos e blasfemaram de
Deus no seu coração. Assim o fazia Jó
continuamente." (Jó 1.5). Como
sacerdote de seu lar, Jó cumpria o
ritual do culto em favor de sua família.
0 levantar cedo ou de madrugada,
como expressão idiomática do
hebraico bíblico, é uma forma de
enfatizar a piedade de Jó. Essa devoção
é demonstrada pela consagração vivida
por ele. O texto diz que ele se
"santificava". 0 vocábulo português
"santificava" traduz o termo hebraico,
qadash, que possui o sentido de ser
separado ou consagrado. Uma pessoa
que é consagrada é uma pessoa que
ora, uma pessoa que ora é uma pessoa
consagrada. Portanto, à luz da vida de
Jó, somos instados a viver uma vida
consagrada diante de Deus e dos
homens.
I - O LIVRO DE JÓ E A NATUREZA
DE SATANÁS
1.Um ser espiritual. O Livro de Jó
não procura provara origem do Diabo,
mas o revela como um ser real. O livro
destaca algumas características da
natureza de Satanás que nos permitem
conhecê-lo melhor. Em primeiro lugar,
conforme o livro apresenta, o Diabo
é um ser espiritual e encontra-se na
mesma categoria dos anjos,
representada no texto pela expressão
"os filhos de Deus" (Jó 1.6). Os anjos
são seres espirituais que não
pertencem à dimensão natural, mas à
sobrenatural. Isso explica, por
exemplo, a capacidade da rápida
locomoção do Diabo quando rodeava a
Terra e passeava por ela (Jó 1.7).
2. Um ser criado. Satanás é um ser
criado. Mesmo sendo um Anjo, dotado
de natureza espiritual, ele não é
autoexistente. Ao contrário de Deus,
que criou todas as coisas, o anjo que se
tornou Satanás teve uma origem. Nem
sempre o Diabo foi Diabo. Ele fora um
anjo bom como os demais. Assim, ele é
uma criatura, não o Criador. Por isso, o
livro revela que Satanás tem suas
ações limitadas por Deus. Ele pode
fazer muitas coisas, mas não tudo (Jó
1.12; 2.7). Como ele não é
autoexistente e, semelhante às outras
criaturas que povoam o universo, não
é um ser incriado, o Diabo é uma
criatura limitada.
3. Um ser dotado de
personalidade. Além do fato de ser
um ente espiritual, o Diabo é dotado
também de personalidade. Ele é uma
pessoa e se apresenta como tal. No
Livro de Jó o vemos assumindo
atributos de um ser pessoal. Ele fala e
possui capacidade argumentativa (Jó
1.9-11). Essa mesma característica
aparece de forma mais explicita na
tentação de Cristo (Mt 4.1-11; Lc 4.1-
13). No livro, além de se expressar
verbalmente. Satanás também
demonstra possuir conhecimento. Ele
sabe o que se passa na Terra e como se
comportam os homens. Ele conhecia a
vida de Jó. Isso faz dele um ser
perspicaz. O apóstolo Paulo sabia que o
Diabo é um ser que possui perspicácia
quando disse não lhe ignorar os
"ardis" e que ele se valia de métodos
sofisticados para atingir as pessoas (2
Co 2.11; Ef 6.11). Assim, Satanás usou
de seu conhecimento e perspicácia
para atacar Jó.
II - O LIVRO DE JÓ E AS OBRAS DE
SATANÁS
1. Dor e sofrimento. A introdução
do Livro de Jó apresenta Satanás como
um ser capaz de agir contra o ser
humano (Jó 1.12; 2.6). Através de suas
ações é possível conhecer a natureza
maligna de suas obras. É da natureza
do Diabo provocar dor e sofrimento
aos seres humanos. No livro. Satanás
impõe ao patriarca um sofrimento, até
então, sem precedentes, pois ninguém
sofreu como Jó no Antigo Testamento.
Primeiramente, o Diabo atingiu as
posses dele, o que fez o patriarca
sofrer ao ver o seu patrimônio
destruído repentinamente. Da mesma
forma, houve grande sofrimento em Jó
quando ele viu a tragédia se abater
sobre sua casa, pois sua família foi
devastada. Entretanto, o sofrimento do
homem de Uz não cessou com a perda
da família. O Diabo o infligiu com uma
doença que o fez padecer dor e isolar-
se de todos.
2.Acusar. O Diabo é capaz de
infligir dor e sofrimento, mas não só
isso. Ele também acusa. Faz parte de
sua natureza acusar. Foi o que ele fez
com 3ó (Jó 1.10,11). 0 Diabo o acusou
de praticar uma religiosidade
motivada por interesse. Assim como
fez, posteriormente, com o apóstolo
Pedro, querendo cirandá-lo (Lc
22.31,32), o Diabo quis fazer o com Jó.
0 livro do Apocalipse mostra a
acusação como a missão do Diabo (Ap
12.10).
3.Tentar. Por outro lado, devemos
destacar a atuação de Satanás na
tentação para o mal. Também faz parte
de sua natureza tentar pessoas. Pelo
texto sagrado, podemos inferir que o
Diabo impulsionou os sabeus e os
caldeus, povos até então nômades, a
dizimarem os bens de Jó (vv.12,14,17).
É uma característica do Diabo incitar e
tentar para o mal (1 Cr 21.1).
III - O LIVRO DE JÓ E 0 OCASO DE
SATANÁS
1.Queda e ruína de Satanás. O
vocábulo "ocaso", quando usado em
sentido figurado, é definido pelo
Dicionário Aurélio como "fim, final,
queda e ruína". O Livro de Jó retrata de
forma nítida o ocaso final de Satanás.
A vitória de Jó foi uma derrota para
ele. Em quase todo o livro. Deus se
mantém em silêncio e oculto, mesmo o
leitor tendo consciência que Ele está lá
e que o seu silêncio fala alto. Por outro
lado, o Diabo não aparece mais a partir
do capítulo 3 e não é mais mencionado
no restante do livro. Não é, pois,
propósito do livro pô-lo em evidência,
nem tampouco superestimar o mal. O
Livro de Jó mostra que Satanás não
conseguiu o seu intento, que era fazer
com que Jó blasfemasse.
2.Jó e o testemunho de Deus. O
Livro tem um início dramático, mas
um final apoteótico. Jó foi submetido a
uma prova de fogo, e mesmo sendo
chamuscado pelas chamas do
sofrimento, saiu vivo e vitorioso. Deus
nunca o abandonou. A graça estava
oculta, mas estava lá. No momento
oportuno ela se manifestou (Jó 38.1).
Da mesma forma que a graça de Deus
se manifestou trazendo salvação a
todos os homens (Tt 2.11), ela também
se manifestou trazendo alívio, paz e
livramento a Jó. Deus mesmo, no
momento certo, testemunhou que Jó
era o homem que Ele sempre disse que
era: justo, reto e temente a Deus (Jó
42.7,8).
I - TRAGÉDIA DE NATUREZA
ECONÔMICA
1. O sucesso na esfera comercial.
O autor sagrado já havia sublinhado
que Jó era "maior de todos os do
Oriente" (Jó 1.3). O respeito, a
admiração, a riqueza e a prosperidade
do homem de Uz contribuíram para a
construção dessa imagem. o autor já
havia destacado a riqueza e a
prosperidade de Jó, medidas pela
grande quantidade de animais e
servos a serviço dele. O comércio e a
atividade do campo eram suas
principais atividades. Devido à sua
grande riqueza, não são poucos os
autores que igualam Jó a grandes
industriais e empresários
contemporâneos. Enquanto as ovelhas
proporcionavam lã para a produção
têxtil, por outro lado os camelos e
jumentas estavam a serviço do
transporte de cargas. Dessa forma, Jó
se destacava no Oriente como um
homem de negócios.
2.Sucesso na esfera do campo. A
atividade do campo era, sem dúvida, o
principal negócio de Jó. 0 fato de que
ele tinha tantas juntas de bois a seu
serviço demonstra que ele era um
agricultor que possuia uma grande
extensão de
terras, e não um nômade como alguns
autores supõem. Estudiosos destacam
o fato de que a palavra hebraica
'abuddah, encontrada somente em Jó e
em Gênesis 26.14, é uma referência
direta à lavoura e ao cultivo da terra.
Os bois, e da mesma forma as ovelhas,
ofereciam a proteína animal. As
ovelhas, juntamente com as jumentas,
alimentavam a produção de laticínios.
Isso fazia de Jó um verdadeiro
empreendedor no sentido moderno do
termo.
3. O ataque do Diabo na esfera
comercial. Satanás atingiu o centro
das atividades comerciais do patriarca.
O Adversário procurou retirar aquilo
que, graças ao trabalho duro, Jó havia
conquistado. Assim, destruiu os
animais e o pessoal a serviço dele,
desestabilizando-o financeiramente.
Seu negócio foi a bancarrota. Sem
animais de carga, o transporte estava
prejudicado.
4. O ataque do Diabo na esfera
do campo. Da mesma forma que
atingiu os negócios de Jó na esfera
comercial. Satanás o atingiu também
na esfera do campo. Destruindo a sua
fonte de produção de proteínas e
laticínios, o Diabo atingiu em cheio
toda a fonte de sua riqueza. Era
preciso muito equilíbrio para não se
desesperar diante de um quadro tão
sombrio.
Aqui é necessário fazer uma
ponderação. Evidentemente que nem
sempre o empreendimento de alguém
quebra por investidura de uma ação
maligna direta; muitas vezes é apenas
um mau gerenciamento ou até mesmo
consequência de uma crise de
mercado. Todavia, no caso de Jó, foi
uma ação maligna e em muitos casos
hoje também o é.
II - TRAGÉDIA DE NATUREZA
FAMILIAR
1.Filhos. A tragédia que se abateu
sobre Jó foi de fato catastrófica. Ele
perdeu em um só dia seus dez filhos de
forma calamitosa - sete filhos e três
filhas. 0 texto sagrado diz: "Estando
teus filhos e tuas filhas comendo e
bebendo vinho, em casa de seu irmão
primogênito, eis que um grande vento
sobreveio dalém do deserto, e deu nos
quatro cantos da casa, a qual caiu
sobre os jovens, e morreram"
(vv.18,19). Não haveria nada mais
trágico do que esse acontecimento.
Perder um filho é calamitoso, mas
perder todos de forma inexplicável é
nefasto.
2. Esposa. A frase "Amaldiçoa a
Deus e morre" (Jó 2.9), atribuída à
esposa de Jó, é uma das mais
chocantes do livro. Talvez por isso seja
objeto de várias explicações. Muitos
autores tentam suavizá-la quando a
interpretam como sendo uma ironia
feita pela esposa de Jó. Nesse caso ela,
de fato, estaria dizendo: "Você
continua aí com essa sua fé enquanto
tudo desmorona à sua volta. Por que
tudo isso? Deixe de lutar por isso e
aceite a morte".
Outros procuram atribuir um
sentido ao texto o qual ele não tem.
Para estes, a esposa de Jó não estava
mandando amaldiçoar a Deus, mas
orientando Jó a louvá-lo e morrer em
paz. No entanto, as evidências do texto
depõem contra esse entendimento. A
reação de Jó, ao dizer que sua esposa
falava como qualquer louca, confirma
esse fato.
3. O fato. Um vento forte soprou
sobre a família de Jó, devastando-a.
Ainda hoje, "fortes ventos" continuam
a "soprar" em famílias inteiras. O
resultado desses "ventos" é a
degradação familiar, divórcios, drogas
etc. A exemplo de Jó, o crente deve se
refugiar em Deus. É preciso que a
família abra a Bíblia em casa e busque
o Senhor em estudo e devoção.
III - TRAGÉDIA DE
NATUREZA FÍSICA E PSICOLÓGICA
1. O Diabo toca na saúde de Jó.
Depois que o Diabo viu o seu plano
fracassar, pois o patriarca não
sucumbiu à tentação, mesmo diante da
dizimação de seus bens e familiares, o
Adversário agora tem a permissão
divina para tocar na saúde de Jó. Essa
nova prova é um drama muito distinto
na literatura do Antigo Testamento.
Ela dará a tônica ao restante do livro.
2.Saúde física. 0 texto sagrado diz
que o Diabo "feriu a Jó de uma chaga
maligna, desde a planta do pé até ao
alto da cabeça." (Jó 2.6,7). Tratava-se
de uma doença extremamente
maligna, capaz de provocar um grande
sofrimento em Jó, a ponto de este
sentar-se nas cinzas e pegar um caco
de barro para com ele raspar as
feridas. Essa era uma prática que o
homem antigo adotava quando se via
acometido de uma grande desgraça.
Ele ia para o monte de cinzas (hb.
mazbala), um local considerado
imundo, onde os inválidos e dementes
costumavam ficar. Ali ele esperava a
morte entre cães, insetos e aves de
rapina. Trágico!
3. Saúde mental. Não há dúvida
que, além do sofrimento físico, Jó
também experimentou o sofrimento
psicológico. Embora não haja nada no
texto que nos permita dizer que ele
entrou em depressão, não há como
negar que Jó passou por uma grande
tensão psicológica. Há vários textos no
corpo do livro que permite fazer essa
dedução, mas já no início da sua fala é
possível perceber esse fato (Jó 3.1-14).
Ainda que mantivesse sua fidelidade a
Deus, o patriarca amaldiçoou o dia de
seu nascimento, não vendo mais razão
para que fosse celebrado. Só debaixo
de forte pressão psicológica é que
pessoas chegam a tal ponto.
I - PRIMEIRO LAMENTO DE JÓ:
POR QUE NASCÍ? (3.1-10)
1. "Por que nascí?". A dor de Jó era
profunda e somente a poesia podia
expressar toda a carga emocional
vivida por ele. Nesse poema, os dez
primeiros versículos do capítulo três
são a respeito do primeiro
questionamento de Jó: Por que nasci?
Esse questionamento sai do íntimo de
Jó, assim como ocorre com a alma do
salmista (130.1). Da mesma forma, o
profeta Jeremias expôs os sentimentos
diante de seus conflitos (Jr 20.14-18).
Nesse sentido, o patriarca não está
sozinho em lamentar diante da dor.
2.Que em lugar da memória
viesse o esquecimento. Neste
momento de dor, Jó não amaldiçoou a
Deus, como Satanás previra; em vez
disso, amaldiçoou o dia de seu
nascimento. No lugar de ser ocasião de
grande celebração pelo dia do
nascimento de criança, Jó amaldiçoou
esse dia por ocasião do grande
sofrimento e decepção. Para o homem
de Uz, esse dia teria de ser apagado da
memória. Não é assim que muitas
vezes nos sentimos? Um dia em que
tudo foi mal e temos desejo de nunca
mais lembrá-lo.
3.Que em vez da ordem viesse o
caos. Mencionamos o desejo de Jó para
que o dia de seu nascimento não
tivesse entrado no calendário e, que
dessa forma, tanto esse dia como essa
noite jamais tivessem existido. No
lugar da luz que raiou por ocasião do
nascimento dele, e que revelou todo
seu sofrimento, o patriarca desejou que
as trevas dominassem (vv.4-7). E por
quê? Porque em vez da paz veio a dor;
em vez da ordem, o caos. Desse
raciocínio, Jó menciona a imagem do
Leviatã. Este famoso e assombroso
animal marinho simbolizava o caos.
O homem de Uz recorre a essa
imagem para ilustrar o momento
tenebroso que estava vivendo. A lógica
é simples: Se Deus não tivesse feito
aquele dia, ele não teria sido concebido
e, portanto, não passaria por tudo isso.
Nesse sentido, o Novo Testamento
revela como nosso Senhor é
misericordioso e nos trata com amor e
ternura nos momentos de tribulação e
angústia, pois aos pés da cruz é o
melhor lugar para derramar a nossa
alma (cf. Jo 11.32,33).
II - SEGUNDO LAMENTO DE JÓ:
POR OUE NÃO NASCI MORTO?
(3.11-19)
1. Descansando em paz. Os
intérpretes observam que o discurso
de Jó a partir do versículo onze muda
de amaldiçoar para reclamar. A partir
desse versículo, Jó passa reclamar por
não ter nascido morto. Para ele nascer
morto teria sido melhor do que existir
naquelas condições (vv.11-13). Era a
melhor maneira de não passar por toda
aquela tribulação. Essas palavras de Jó
revelam uma coisa: Ele queria
descanso de todo o seu sofrimento.
O que Jó pedia era uma
possibilidade real, pois muitos fetos
nascem mortos (vv.16). Para ele a
morte era uma forma de descansar em
paz (vv.13-15).
2.Livre de tributações. O dilema
de Jó aumenta à medida que o seu
sofrimento ganha intensidade. Ele
continua com seu argumento da "não-
existência" (vv.16-19). Ele está
convencido de que se não tivesse se
tornado um "ser", nada disso estaria
acontecendo. Ele desejava ter sido
como um "natimorto", um feto que
nunca viu a luz (v.16). A palavra
hebraica nephel, usada no versículo 16
como "natimorto", possui 0 sentido de
"um aborto espontâneo" e é traduzido
dessa forma em Eclesiastes 6.3 e Salmo
58.8. Aqui em nenhum momento Jó faz
uma apologia ao aborto, mas usa-o no
sentido metafórico de "descanso do
sofrimento". No lugar de ter sido
abortado, ele nasceu e foi lançado no
mundo da tribulação. O raciocino é
claro: Para os que morreram cessaram
as angústias e tribulações da vida
presente.
3.Uma realidade para o cristão. O
Novo Testamento nos ensina que
enquanto estivermos neste mundo
estaremos sujeito à dor, ao luto, ao
sofrimento (Fp 4.11,12). Mas, ao
mesmo tempo, temos uma promessa
consoladora de Jesus (Jo 16.33, cf. Fp
4.13).
III - TERCEIRO LAMENTO DE JÓ:
POR QUE CONTINUO VIVO? (3.20-
26)
1. Vale a pena viver? Nessa
terceira seção do capítulo três Jó faz
uma quarta pergunta (3.20): "Por que
se dá luz ao miserável, e vida aos
amargurados de ânimo?". As outras
perguntas estão em 3-1; 3.12; 3.16. A
palavra hebraica amei, traduzida aqui
como "miserável", é usada no sentido
de alguém cuja vida é atribulada pela
miséria e que, por isso, torna-se
incapaz de exercer suas funções. Em
outras palavras, para Jó a vida havia se
tornado intolerável.
2.Sem o favor de Deus? Jó
novamente volta a indagar: "Por que se
dá luz ao homem, cujo caminho é
oculto, e a quem Deus o encobriu?" (Jó
3.23). A pergunta busca o significado
do sentido de todo aquele processo. Ela
busca compreender o porquê de Deus
permitir o sofrimento. Aqui há um
paralelo com Provérbios A.18, onde é
dito que "o caminho do justo é como a
luz da aurora que brilha mais e mais
até ser dia perfeito". Na literatura
sapiencial, a palavra hebraica
traduzida como "caminho" é dereke se
refere ao caminho da sabedoria de
Deus, que conduz a vida. Para o
patriarca esse fato havia se tornado um
paradoxo, pois ele não sabia por que
Deus escolheu para ele o caminho do
sofrimento.
3.Um caminho de sabedoria e
maturidade. Muitas vezes sentimo-
nos iguais a Jó, desorientados,
passando por uma via dolorosa do
sofrimento. E, como ele, não
imaginamos nem compreendemos que
Deus está agindo. É preciso, porém,
olhar para o alto onde Cristo vive (Cl
3.1-4). Nele, podemos manter o
equilíbrio e a confiança durante a
tormenta e, assim, trilhar um caminho
de sabedoria e maturidade no
sofrimento.
I – OS PECADORES NO CONTEXTO DA
JUSTIÇA RETRIBUTIVA
1.A lei da semeadura e da
colheita. Depois de firmar um
princípio oriental de cordialidade,
Elifaz se dirige a Jó com uma defesa
contundente do pensamento teológico
tradicional - a justiça retributiva. Ele
está firmemente convencido de que a
lei de causa e efeito é um princípio da
ortodoxia teológica que não pode ser
contraditado.
2. Homem colhe o que plantou.
Essa primeira parte de seu discurso
compreende os capítulos 4 e 5, em que
defende que o homem colhe o que
plantou: "Segundo eu tenho visto, os
que lavram iniquidade e semeiam o
mal segam isso mesmo" (Jó 4.8). Para
Elifaz nós habitamos em um universo
moral que exige consequências de
nossas ações. A Bíblia mostra esse
princípio.
Por exemplo, o salmista confirma
que Deus é bom e justo e, por isso,
recompensa os bons e pune os maus
(Sl 1.6). O Novo Testamento também
atesta esse princípio: "Porque os olhos
do Senhor estão sobre os justos, [...]
mas o rosto do Senhor é contra os que
fazem males" (1 Pe 3.12). Portanto,
Elifaz defende que o pecado sempre
produz consequências, mas que
somente os pecadores pagam por isso.
Assim, segundo Elifaz, se Jó estava
sofrendo era porque havia pecado.
Cabia a Jó, então, assumir a
responsabilidade moral de seu pecado.
Não havia outra opção.
Quantos são os que fazem acusações
precipitadas quando alguém passa por
momentos delicados na vida? Ao julgar
precipitadamente, muitos cometem
injustiças e esquecem de que Deus é
quem pode ver todo o lado da questão.
3- A queixa de Jó. Em sua defesa, Jó
se contrapõe à teologia de Elifaz (Jó
6—7). Essa teologia era a base de como
se imaginava o universo governado por
uma lei moral de causa e efeito: Há
uma recompensa para os bons e
punição para os maus. Elifaz não estava
de todo errado, mas equivocou-se
quando pensava que esse pressuposto
era o único existente. Tratava de parte
da verdade, mas não de toda. Sua
teologia não se aplicava no caso de Jó.
O patriarca não aceita a tese de
Elifaz e, por isso, sente-se alienado de
Deus, (6.1-7), de si mesmo (6.8-13) e
de seus amigos (6.14-23). Isso leva Jó a
se queixar de Deus (Jó 6.1-13). Ele se
queixa pela sua atual situação. É uma
queixa fundamentada ainda nos
antigos pressupostos teológicos: Ele
era justo, não estava em pecado,
portanto, não merecia sofrer. Em
seguida, Jó se queixa a Deus (Jó 7.11-
21), desejando abrir uma porta de
diálogo com o Altíssimo. Ele não quer
explicações baseadas em teorias
teológicas antigas, mas uma conversa
sincera através de um relacionamento
direto com o Criador, onde Jó fala com
Ele e Deus fala com Jó.
No momento da dor, a melhor coisa
a se fazer é se dirigir pessoalmente a
Deus.
II - OS PECADORES NO CONTEXTO
DA TRADIÇÃO RELIGIOSA
1.Ortodoxia engessada. Em seu
segundo discurso (Jó 15.1-35), Elifaz
argumenta que as palavras de Jó são
uma ameaça ao dogma religioso aceito:
"E tu tens feito vão o temor e diminuis
os rogos diante de Deus" (15.4). Assim,
se Jó estivesse certo, a religião
tradicional, que sempre ensinou a
prosperidade dos bons e o sofrimento
dos maus, estaria errada. Nesse
aspecto, Jó era uma ameaça àquela
forma de pensar. Por isso Elifaz ataca
Jó de uma forma contundente dizendo
que suas palavras não revelam
sabedoria, mas são palavras ao vento.
O patriarca se expressa em
linguagem poética, mas sua mensagem
é profética.
2.Uma ameaça à tradição
religiosa. A partir do versículo 7 do
capítulo 15, Elifaz apela para a tradição
religiosa como forma de validar seu
princípio teológico: "Oue sabes tu, que
nós não saibamos? Oue entendes, que
não haja em nós? Também há entre nós
encanecidos e idosos, muito mais
idosos do que teu pai" (15.9,10).
Segundo Elifaz, ainda que fosse homem
sábio, Jó não era mais sábio nem mais
antigo do que o dogma que ele estava
negando.
3.Um defensor celeste. Em sua
defesa, Jó se contrapõe ironicamente
ao argumento de Elifaz (Jó 16—17).
Aqui não podemos esquecer de que a
resposta de Jó deve ser ouvida na
forma poética, conforme o fazemos em
salmos, orações e súplicas recitados
assim. Isso evita um literalismo rígido
que empobrece o sentido do texto,
quando este é poético, e,
consequentemente, transforma Jó em
um sacrílego.
Nesse texto Jó reclama, mas não
blasfema contra Deus. Ele tem
consciência de que a teologia de seu
amigo firmava-se na terra, mas o
homem de Uz apelava aos céus. Sua fé
o projeta para o alto, à procura de
quem possa defen- dê-lo. Ele quer um
defensor que interceda por ele no céu
(Jó 16.18—17.2). O patriarca se
expressa em linguagem poética, mas
sua mensagem é profética. Seu anseio
por um mediador prenuncia o justo
advogado, Jesus Cristo (1 Jo 1.5,7).
III - OS PECADORES DIANTE DE UM
DEUS INFINITO
1.Deus não se importa com
quimeras humanas. Em seu terceiro
discurso (Dó 22), Elifaz apela para a
transcendência divina ao atacar Jó.
Grosso modo, a transcendência diz
respeito ao conjunto de atributos do
Criador que ressalta a sua
superioridade em relação à criatura.
Significa que Deus está acima da
Criação e não é limitado por ela. Realça,
portanto, a infinitude divina em
contraste com a finitude humana (Dó
22.1-3). Para Elifaz, o sofrimento de Jó
era um atestado de que ele havia
pecado e que, por isso. Deus o havia
abandonado; Ele era grande e não
poderia se envolver em quimeras
humanas, principalmente nas do
pecador Jó. A teologia de Elifaz destaca
um Deus transcendente, porém,
distante, que não se importa muito
com o que acontece aqui na terra,
indiferente às coisas que criou (Jó
22.12). Não adiantava Jó chorar ou
reclamar. Ele precisava se arrepender.
2.Deus caminha com os homens.
Nessa parte da poesia Jó expõe seus
argumentos de forma mais clara (Jó
23.1—24.25). Ele demonstra que
nunca negou a transcendência de Deus
como Elifaz quer dar a entender. Ele
reconhece que Deus é excelso e pode
fazer o que intenta: "Mas, se ele está
contra alguém, quem, então, o
desviará? O que a sua alma quiser, isso
fará" (Jó 23.13). Todavia, esse é apenas
um lado da história. Jó está consciente
que esse Deus, embora grande,
também caminha com os homens (Jó
23.10). A ideia no texto hebraico é que
Jó passa a ficar cada vez mais seguro e
consciente, não apenas de seu
caminhar com Deus, mas do caminhar
de Deus com ele. É exatamente isto:
Não devemos temer mais em ficar
diante de Deus, pois o andar com Ele é
reto. Em Cristo Jesus, Deus caminha
com os homens; sendo o Altíssimo
transcendente, envolve-se com os seres
humanos nos diversos detalhes da
vida.
I – O PECADO EM CONTRASTE COM O
CARATER JUSTO E SANTO DE DEUS
1.Deus é justo e reto. A teologia de
Bildade (Jó 8.1-22) possui semelhanças
com a de seu amigo, Elifaz. Para esse
segundo amigo, as ações de Jó não
poderiam ser justificadas, pois elas
condenavam a Deus, revelando que Ele
punia pessoas justas. Por outro lado,
como Deus não era injusto, então, Jó
deveria reconhecer o seu pecado, pois
ele estava sendo terrivelmente afligido.
Assim, a teologia de Bildade pode ser
classificada em duas esferas:
A dos maus e a dos bons. Por
exemplo, Bildade assevera que os
filhos de Jó foram mortos porque eram
maus (8.4); por outro lado, como um
homem que alegava ser justo e bom, Jó
poderia desfrutar novamente do favor
de Deus se reconhecesse o seu pecado
(Jó 8.5).
2. Uma compreensão
limitada da natureza de Deus.
Bildade traz consigo uma compreensão
incompleta e limitada da natureza de
Deus, o que faz com que ele pense que
o sofrimento de Jó seja a consequência
de um pecado oculto. Assim, outra
compreensão é evidente: Jó deve
demonstrar que é realmente bom e
que merece o favor de Deus. É uma
teologia que destaca uma meritocracia
humana no processo de justificação
diante de Deus: "Mas, se tu de
madrugada buscares a Deus e ao Todo-
Poderoso pedires misericórdia,
se fores puro e reto, certamente, logo
despertará por ti e restaurará a
morada da tua justiça" (8.5,6). Logo, o
enfoque de Bildade não é a graça que
flui de Deus, mas o esforço humano
que, por mérito próprio, pretende
justificar o homem diante de Deus.
3.A imperfeição humana. Diante
da defesa teológica feita por Bildade, Jó
pergunta: "Como se justificaria o
homem para com Deus?" (Jó 9.2). Ora,
Deus é infinitamente sábio e justo. Jó
está consciente de que nenhuma
perfeição humana o habilitará a
aproximar-se de Deus. Dessa forma a
autopurificação não passava de
presunção: "Ainda que me lave com
água de neve, e purifique as minhas
mãos com sabão, mesmo assim me
submergirás no fosso, e as minhas
próprias vestes me abominarão" (Jó 9-
30,31). A linguagem é poética, mas ela
afirma objetivamente a doutrina da
santidade de Deus e a pecaminosidade
humana. Deus é santo e Jó, um pecador.
Entretanto, essa não era a questão para
Jó. O grande questionamento dele
poderia ser feito da seguinte forma: "É
verdade que onde há sofrimento há
pecado?" Seus amigos responderíam:
sim; Jó, um retumbante não.
Deus já havia testemunhado acerca
da integridade e da justiça de Jó. Isso
deixa claro que nem sempre o
sofrimento é fruto de uma imperfeição
moral ou resultado de um pecado
pessoal. Esse era o caso de Jó
II - O PECADO VISTO COMO QUEBRA
DA MORALIDADE TRADICIONAL
1.Moralismo por tradição. Bildade
(Jó 18.1-21) também está
comprometido na defesa da
moralidade que ele acredita ser a
correta. Para ele não havia nada errado
quando fez a defesa da justiça divina,
da mesma forma que acreditou estar
correto quando defendera a
moralidade dos seus dias. Todavia, não
podemos falar de uma ética ou teologia
moral de Bildade, mas simplesmente
de um moralismo fundamentado na
tradição (18.1-21).
2.A subversão da ordem moral.
Na verdade, Bildade simplesmente
repete o que já vem sendo defendido
por gerações passadas, todavia,
acrescentando alguns contornos aos
seus pressupostos teológicos. Para ele
as desgraças sofridas por Jó ocorreram
por causa da quebra da moralidade
estabelecida. Como o entendimento de
Bildade era o de que o universo é
controlado por leis morais inflexíveis,
ao quebrá-las Jó sofreu as
consequências da mesma forma que
sofre quem quebra a lei da gravidade.
Nesse aspecto, praticar a justiça é se
ajustar à dinâmica dessas leis morais.
Bildade acreditava que de nada
adiantava Jó achar que os maus
prosperavam, pois isso era apenas
ilusão. No seu entendimento, a
prosperidade dos maus assemelhava-
se as raízes de uma árvore que foram
cortadas, cujos ramos, embora
mantenham a aparência de verdor por
algum tempo, todavia,
necessariamente murcharão (18.12-
16). Ao não reconhecer isso, Jó estaria
tentando subverter a ordem moral
aceita.
3.Contemplando a cruz. O capítulo
19 é dedicado à defesa de Jó. É inegável
que Jó sabia que Deus atua em um
universo moral e que tudo o que
acontece está sob seu controle. O
homem de Uz estava convicto de que
não havia quebrado nenhuma lei
moral, sendo, portanto, inocente e que
o seu sofrimento não teria razão
aparente. Mas diante das acusações
dos amigos, ele está disposto a
abandonar toda tentativa de se
autojustificar (Jó 19- 21-24). Ele quer
abandonar toda instância humana e
apelar para um mediador (redentor)
que defenderá sua causa. Ele não quer
mais se defender; ao invés disso, apela
para alguém totalmente justo, que vai
ficar entre ele e Deus. É ai que ele
contempla a cruz: "Eu sei que meu
redentor vive" (v.25). A palavra
"redentor" traduz o hebraico goel e
significa alguém que defendia um
familiar quando este não podia fazer
sua própria defesa.
Os primeiros líderes da Igreja
entendiam que Jó predisse a
ressurreição que será efetuada por
Cristo no final dos tempos e da qual ele
participará. 0 patriarca queria a
intercessão desse justo, imparcial e
eficiente mediador.
III - O PECADO EM CONTRASTE
COM A MAJESTADE DE DEUS
1.A grandeza de Deus. O terceiro
discurso de Bildade é feito para exaltar
Deus e rebaixar Jó (Jó 25.1-6). Não há
como negar que o longo debate entre
Jó e seu amigo, esgotou o poder
argumentativo de Bildade, o que fez
com que ele repetisse várias vezes o
que já havia dito. Na verdade, o seu
último discurso não traz nada de novo.
No capítulo 25 ele destaca a
onipotência divina. Deus é grande e
poderoso (v.2). Por isso nada há de
errado quando Bildade defende a
majestade do Altíssimo. Todavia, como
alguns autores destacam, Bildade
acaba por criar um abismo que não
existe entre a criatura e o Criador. O
Deus defendido por ele não é o
revelado na Bíblia. As idéias de Bildade
se antecipam àquela defendida
milênios depois pelo deísmo do final
do século XVIII. Segundo os deístas,
Deus criou o mundo, mas ausentou-se
dele.
2. Onipotente, mas não ausente.
Dó responde a Bildade com ironia:
"Como ajudaste aquele que não tinha
força e sustentaste o braço que não
tinha vigor!" (Dó 26.2). Aqui, Dó não
questiona a onipotência divina, mas a
aplicação que Bildade faz desse
conceito. O conceito de um Deus
grandioso, que é soberano em suas
ações, não deveria vir acompanhado
também do conceito de um ser
compassivo e amoroso? Deus não deve
ser visto apenas em sua força, mas,
sobretudo, por seu amor. Ele nunca
exaltou seu poder e grandeza acima do
seu amor. Ele não disciplina
simplesmente porque é grande, forte e
soberano, mas porque ama.
Diferentemente do conceito
apresentado por Bildade, o Deus que a
Bíblia apresenta é poderoso e glorioso,
mas, principalmente, misericordioso e
gracioso. Temos de cuidar para que no
momento do sofrimento não
manchemos a imagem de um Deus que
não é só força, mas igualmente amor.
I - DEUS SE MOSTRA SÁBIO OUANDO
AFLIGE O PECADOR
1. Deus grande e sábio. Zofar
defende que o sofrimento de Jó fazia
parte de um sábio julgamento divino,
pois, para ele. Deus demonstra grande
sabedoria em reprimir os maus. Por
outro lado, os bons jamais passam por
tribulação. Para Zofar, se alguém deve
algo tem de pagar. Com dureza, o
terceiro amigo de Jó não demonstra a
mínima compaixão pelo sofrimento do
patriarca de Uz ao acusá-lo de que se
comporta como um animal irracional,
um jumento que não tem
entendimento (11.12) ao não perceber
a sabedoria divina na condução das
coisas. Para Zofar, Jó valeu-se na sua
defesa de palavras exageradas (11.2),
desrespeitosas (11.3), cheias de justiça
própria (11.A) e ignorantes sobre as
coisas de Deus (11.5,6).
2. Deus não é indiferente à
ação do ímpio. O terceiro amigo de Jó
acreditava que ele havia se
autodeclarado "puro" e "sem culpa"
(Jó 11.4; cf 9.21; 10.7). Cria também
que Deus não é indiferente à ação do
ímpio como Jó parecia ter sugerido.
Assim, para Zofar, se Deus debatesse
com Jó, como era desejo deste, então
não haveria dúvidas de que Ele ficaria
contra o patriarca e não ao seu favor.
Nesse embate. Deus revelaria a Jó os
segredos de sua sabedoria e o homem
de Uz veria que Ele estava sendo sábio
em tratá-lo como merecia. Logo, Jó
seria condenado.
3. Tolos se passando por sábios.
Jó reage com ironia à “sabedoria"
defendida anteriormente por seus
amigos ("vós", Jó 12.2) e agora por
Zofar. Este, juntamente com seus
amigos, havia se levantado como
legítimo representante do verdadeiro
saber. Zofar, pois, pretende
representar o próprio Deus em seu
discurso (Jó 13). Todavia, Jó está
convencido de que isso não passava de
charlatanismo: "Vós, porém, sois
inventores de mentiras e vós todos,
médicos que não valem nada" (Jó
13.4). Ele, portanto, está resoluto em
deixar os amigos e ir à procura de
Deus: "Mas eu falarei ao Todo-
Poderoso; e quero defender-me
perante Deus." (Jó 13.3). O patriarca
estava certo de que havia uma
sabedoria do alto, que seus amigos
desconheciam por completo, e, quando
revelada, ficaria ao seu lado (cf.
cap.28).
No lugar dos julgamentos dos
homens, há uma sabedoria do alto que
sonda os corações dos que são
chamados pelo nome do Senhor, pois
Este não vê como os homens veem (1
Sm 16.7).
II - A CONVERSÃO COMO RESPOSTA
À AFLIÇÃO
1.Purificação moral. Nos
versículos 13-20 do capítulo 11, Zofar
conclui seu discurso sobre a situação
de Jó. Ele não tem dúvidas de que o
patriarca está em pecado e, por isso, a
única forma de ele se restabelecer é
por meio de uma purificação moral.
Zofar, portanto, conclama Jó ao
arrependimento e conversão. Ele
enumera três passos para que isso
aconteça: conduta correta (v.13);
oração (v.13) e renúncia ao pecado
(11.14). Então, segundo Zofar, se Jó
cumprisse essas condições,
reconhecendo que estava em pecado,
Deus o restauraria de sua miséria.
Entretanto, a ideia de arrependimento
de Zofar é mais de natureza externa do
que interna. O que está em vista é uma
teologia do moralismo salvífico em vez
da graça divina. Nesse aspecto, o
arrependimento não passava de um
mero ritual. Na teologia de Zofar a
simples prática desses ritos traziam
consigo o poder de conferir o favor
divino. Na verdade, isso era o que se
conhece hoje como legalismo religioso.
2. É possível negociar com
Deus? Estudiosos destacam que Zofar
tenta induzir Jó a negociar com Deus a
fim de se ver livre de suas
dificuldades. Era exatamente isso que
Satanás desejava que Jó fizesse (Jó
1.9). O Diabo acusou Jó de ter uma fé
interesseira, com base nas promessas
de prosperidade em troca de sua
obediência. Se Jó tivesse seguido o
conselho de Zofar, teria feito
exatamente o que o Inimigo queria.
3. A angústia de Jó. Diante
das insistentes acusações dos amigos e
do silêncio de Deus, Jó dá sinais de
desânimo (cap.12 -13). Ele manifesta
de vez toda a sua condição humana. O
justo sofre!
Se Jó seguisse o conselho de Zofar
estaria assinando um termo de
confissão. Assumindo algo que não
havia feito. Ele sabia de sua
integridade e, por isso, não se sujeita a
esse capricho do amigo. Isso o lança
num dilema angustiante. No capítulo
14, ele demonstra que sua esperança
está desvanecendo, comparando-se a
uma flor que é cortada, uma sombra
que desaparece e um empregado que
trabalha, mas que logo é dispensado.
Qual o sentido da vida nessas
circunstâncias? Haveria esperança? Jó
parece estar desiludido. Até mesmo
uma árvore quando tem seu tronco
cortado volta a ter brotos novamente,
mas isso não acontecia com o homem.
Nesse aspecto, o homem se
assemelhava mais a água que evapora
ou que se infiltra na terra. Diante
desse quadro, Jó se pergunta:
"Morrendo o homem, porventura,
tornará a viver?" (Jó 14.14). Era a
pergunta de um homem crente e
piedoso, porém, angustiado, que não
tem medo de expressar sua verdadeira
condição humana.
III - DEUS JULGA E CASTIGA OS
PECADORES
1. O castigo dos maus. 0
capítulo 20 contém o segundo
discurso de Zofar. Nele, Zofar lembra a
Jó que a aparente prosperidade dos
ímpios não passa de ilusão e dura
apenas um instante. Na verdade ele
repete o que os seus outros amigos já
há muito vinham dizendo (Jó 20.5). Os
versículos 12 a 14 desse mesmo
capítulo são usados por Zofar para
comparar o deleite do ímpio à uma
comida envenenada. Ela pode saciar,
mas proporcionará uma digestão
trágica (Jó 20.14). Dessa forma, tudo o
que o ímpio adquiriu de forma
desonesta e pecaminosa terá que
devolver e restituir (Jó 20.18). Esse
ímpio terá como adversário o próprio
Deus, que o julgará e punirá (Jó 20.27-
29).
2. Jó diante de um paradoxo. 0
capítulo 21 traz a resposta de Jó ao
argumento de Zofar. Para o patriarca a
tese de Zofar de que os ímpios são
sempre punidos era contraditada pela
experiência. Os ímpios poderiam sim
ser punidos, mas isso nem sempre
parecia acontecer, conforme descrito:
"Por que razão vivem os ímpios,
envelhecem, e ainda se esforçam em
poder?" (Jó 21.7). Jó havia constatado
que os ímpios pareciam gozar de
longevidade e prosperidade (Jó 21.8).
Além de terem vida longa, eles
passavam seus dias em total regalia e
morriam em total felicidade, como
podemos constatar neste versículo:
"Passam eles os seus dias em
prosperidade e em paz descem à
sepultura" (Jó 21.13 - ARA).
3.A verdade vem à tona. A lei da
retribuição não se aplica a todas as
esferas da existência humana nem
explica os caminhos soberanos do
Altíssimo, pois Deus também "faz que
o seu sol se levante sobre maus e bons
e a chuva desça sobre justos e
injustos" (Mt 5-45).
I - A SABEDORIA VISTA COMO UM
BEM NATURAL
1.O empenho na busca da
sabedoria. Neste capítulo
(28) Jó faz um contraste entre a busca
do homem
por minérios naturais e a sabedoria.
Primeiramente, o patriarca
descreve a habilidade do homem na
exploração dos minérios naturais
(vv.1-11). Então, ele contrasta o
trabalho nas minas com a busca do
homem pela sabedoria. Da mesma
forma que desde os primórdios o
homem usa diligentemente a
tecnologia na busca de metais
preciosos, assim também ele tem
empreendido um grande esforço para
encontrar a sabedoria. Para ser
encontrado, primeiramente, o minério
precisa ser garimpado; a sabedoria
igualmente. 0 minério existe, mas está
enterrado; a sabedoria existe, mas
está oculta.
2.Como quem explora o minério,
assim o homem faz com a
sabedoria. No trabalho de mineração
requer-se habilidade, diligência,
persistência e muita técnica na
execução; a busca da sabedoria
também demanda tais características.
As minas geralmente são locais de
difícil acesso e de pouca iluminação,
por isso, há a necessidade de se abrir
caminho e colocar luz artificial
(vv.3,4). Assim também ocorre no
empreendimento do homem pela
busca pela sabedoria, mas apesar de
todo o esforço nessa procura, Jó crê
que isso tem sido feito sem sucesso.
3.De onde vem a sabedoria? Jó
demonstra que o homem tem sido
exitoso no seu trabalho junto às
minas, todavia, incapacitado na
"escavação da sabedoria". Tem
procurado, mas não tem encontrado.
O homem descrito por Jó é capaz de
desviar o curso das águas, a fim de
evitar a inundação das minas (v.12),
mas não é capaz encontrar a
sabedoria. A sabedoria dos sábios e da
academia estava disponível para ser
alcançada. Todavia, a sabedoria
retratada por Jó não era fruto da
tradição nem podia ser obtida pelo
método acadêmico. Embora os metais
preciosos pudessem ser encontrados
na terra escavada, a verdadeira
sabedoria não podia ser obtida pelo
simples esforço humano. Isso
justificava o conflito que havia entre a
teoria teológica dos amigos de Jó e a
vivência concreta do patriarca.
Portanto, a verdadeira sabedoria não
era propriedade dos sábios, mas uma
dádiva de Deus. Tiago nos lembra de
que “se algum de vós tem falta de
sabedoria, peça-a a Deus, que a todos
dá liberalmente e não o lança em
rosto; e ser-Lhe-á dada" (1.5).
II - A SABEDORIA VISTA COMO UM
BEM COMERCIAL
1. O preço da sabedoria.
Podemos ver um paralelo entre a
sabedoria exposta por Jó neste
capítulo (vv.12-19) com a descrita no
livro de Provérbios. Esse livro, por
exemplo, contém várias exortações
para se adquirir a sabedoria. Todavia,
há uma diferença entre o que Jó
ensina e o que Salomão ensinou sobre
a sabedoria em Provérbios. Em
Salomão, a sabedoria tem um custo e
pode ser encontrada, se buscada com
diligência e entendimento. Ela tem
seu preço e pode ser passada de pai
para filho (Pv 4.5,7,23). Por outro
lado, para Jó a sabedoria está em
outro patamar. Ela tem valor, mas não
preço. Como bem destacam
estudiosos, a sabedoria em Jó é
incomparável, não se pode comprar
ou trocar com todos os outros
tesouros. É patrimônio exclusivo de
Deus; não é possessão dos mestres,
por isso, não pode ser transmitida (cf.
Tg 1.5).
2.O valor da sabedoria. Sobre o
valor da sabedoria vale a pena
recordar o que disse certo pregador
londrino: "A sabedoria é o uso correto
do conhecimento. Conhecer não é ser
sábio. Muitos homens têm extensos
conhecimentos e, justamente por isso,
são os mais tolos. Não há tolo maior
do que o tolo instruído. Mas saber
como usar o conhecimento é ter
sabedoria". Assim, em Jó, vemos que o
homem ainda não aprendeu o
verdadeiro preço da sabedoria nem
onde encontrá-la (Jó 28.13) e que, por
isso, acredita ser fácil adquiri-la.
3.A sabedoria não é um bem
comercial. O patriarca não nega que a
sabedoria exista ou que ela pode ser
encontrada, mas o que ele diz é que a
sabedoria não é um bem comercial.
Ela não pode ser encontrada em toda
parte, nem mesmo nas mais
poderosas forças da natureza
primitiva - o abismo (hb. tehon) e o
mar (hb. yam). A sabedoria é de valor
inestimável e só quem pode concedê-
la é Deus.
III - A SABEDORIA VISTA COMO
UM BEM ESPIRITUAL
1.Uma verdade revelada. No
versículo 20, Jó faz a importante
pergunta: "De onde, pois, vem a
sabedoria, e onde está o lugar da
inteligência?". Anteriormente, Jó fez
um contraste entre o trabalho de um
minerador e o de quem procura a
sabedoria. Nele, os homens,
semelhante a um mineiro, têm
garimpado à procura da sabedoria,
mas, mesmo assim, não têm achado.
Toda diligência, técnica e
determinação não têm sido suficientes
para que ele a encontre. A sabedoria
não está no centro da terra, nem com
os sábios, de forma que possa ser
passada pela simples via da tradição.
Ela está oculta. Todos os esforços
humanos revelam-se inúteis na sua
aquisição.
A sabedoria está em Deus e
somente Ele pode outorgá-la. Deus é a
fonte da sabedoria e somente Ele
pode revelá-la.
2.Uma verdade prática. A
sabedoria vem de Deus. Ela está em
Deus e é Ele quem a revela. A
sabedoria divina não é uma verdade a
ser apenas contemplada, mas a ser
vivida. Ela é prática. Jó diz que a
sabedoria está no "temor do Senhor"
(Jó 28.28). O temor do Senhor
aproxima o homem de Deus e o afasta
do mal. A sabedoria, portanto, é
relacionai. Esse foi um testemunho
que o próprio Deus já havia dado
sobre Jó. Ao contrário de seus amigos,
ele vivia a sabedoria divina. Não
apenas a sabedoria contemplativa,
tradicional, transmitida pela tradição.
A sua sabedoria era uma verdade
revelada, por isso, convertia- -se em
ação prática e relacionamento
duradouro.
I - JÓ RELEMBRA SEU PASSADO DE
GLÓRIA
1.Prosperidade material e
espiritual (29.1-11). Jó demonstra
um sentimento nostálgico com relação
a seu passado. A primeira coisa que se
lembrou desse passado glorioso foi a
comunhão que ele desfrutou com
Deus (Jó 29-2,4). Eram lembranças de
um passado que não mais existia. Ele
lembra que Deus o protegia (Jó 29-2);
suas bênçãos sobre ele e sua família
(Jó 29.3); sua orientação em meio às
dificuldades (Jó 29.3); e a presença
real de Deus na vida dele (Jó 29.5). Jó,
portanto, havia sido um homem
grandemente abençoado por Deus.
2. Reconhecimento social
(29.14-25). Jó também se lembra de
sua antiga condição
social, quando exercia a função de um
respeitado juiz de
sua cidade (Jó 29-7). Tanto os jovens
como os velhos o pro-
curavam para serem orientados
(29.8). Talvez isso explique a
linguagem jurídica que aparece com
frequência nos diálogos do livro. Isso
demonstra que ele exercia um
importante papel social na sua
comunidade. Ele ajudava o desvalido,
dava orientação de forma sábia e agia
com justiça (Jó 29.14-20,21-25).
Na sua busca pela justiça social, Jó
protegia os pobres e punia os
opressores (Jó 29-17). Seu amor e
defesa pela justiça eram-lhe como
uma vestimenta e adorno (Jó 29.14).
Ele dava apoio social aos menos
favorecidos e era como se fosse os
"olhos" do cego. Até mesmo com os
estrangeiros ele se preocupava (Jó
29.15,16). Tendo agido com justiça e
equidade, nada mais natural que
esperasse que seus dias terminassem
em paz ao lado de sua esposa e filhos
(Jó 29.18). O contrário disso não
estava em sua agenda: terminar a vida
sem saúde, sem honra e sem paz com
Deus.
3. Uma ponderação
importante. Não há dúvida de que Jó,
conforme a Bíblia mostra, era um
modelo de justiça social. Todavia,
devemos ter o cuidado de não
transportar para dentro do texto
bíblico nenhuma teoria moderna de
justiça social firmada em valores
materialistas contrários aos
defendidos nas Escrituras. De fato ele
era um homem que defendia a justiça
social, mas nem de longe se pode
classificá-lo como um socialista nos
termos modernos. Isso seria forçar o
texto, ir além do que está escrito e
sobrepor o pensamento político na
Bíblia.
II - JÓ LAMENTA SEU ESTADO
PRESENTE
1.Desprezo por parte dos jovens
e das classes menos favorecidas
(30.1- 23). Após lembrar com tristeza
da sua antiga condição social
próspera, Jó lamenta o ponto que
havia chegado sua miséria. No Antigo
Oriente, os mais velhos eram objetos
de grande estima (Pv 20.29). Por isso,
quando gozava de sua prosperidade,
ele era respeitado não apenas pelos
mais velhos, mas também pelos mais
jovens. Entretanto, Jó lembra que
"agora se riem de mim os de menos
idade do que eu, e cujos pais eu teria
desdenhado de pôr com os cães do
meu rebanho" (Jó 30.1). De homem
respeitado, ele passou a ser visto
como uma escória social (Jó 30.1-8).
Jó, portanto, lamentava estar no fundo
do poço.
2.Abatimento físico e emocional
(30.16-31). O patriarca se sente um
homem abandonado por Deus, por
isso, essa lembrança o lança numa
profunda tristeza e produz em sua
vida um grande sofrimento que, além
de físico, era também de natureza
emocional. Como o salmista, Jó
lamenta suas dores (Sl 42.4). Nas suas
vestes, ele via uma prova real de seu
sofrimento (Jó 30.18). Nesse sentido,
no versículo 18 aparece a palavra
"desfigurou". Alguns intérpretes
acreditam que a palavra melhor
traduzida é "manchada". Ou seja, as
feridas abertas de Jó haviam
manchado suas vestes. Ele imagina
que Deus está por trás de todo esse
sofrimento (Jó 30.19) e que, mesmo
depois de clamar, o Altíssimo lhe
ignora. O homem de Uz sente-se
caçado como um animal selvagem e
atormentado por um furacão (Jó
3.21,22).
3. Deus teria abandonado Jó? O
sofrimento emocional de Jó refletia a
sua crença de que havia sido
abandonado por Deus (Jó 30.16-23).
Todavia, era também um reflexo de
ter sido abandonado pelos homens
(30.24-31). Junto a isso, ele observou
que o seu clamor foi totalmente
desconsiderado. Doía saber que havia
ajudado muitas pessoas carentes e
necessitadas de socorro (Jó 30.25),
mas agora o seu clamor por socorro
ser totalmente ignorado. Em vez de
ajudado, ele era repelido como uma
escória social (Jó 30.26). Quantas
pessoas não passam por esse
sentimento? Quantas vezes um
sentimento de injustiça não assola-
nos à alma? Cheguemo-nos diante de
Deus e entreguemos tudo em seu
altar.
III - O FUTURO EM ABERTO DE
JÓ
1. Jó em defesa de sua ética
sexual (31.1-4). Seus amigos
silenciaram, Jó sabe que nada está
resolvido, o futuro ainda está em
aberto e se mostra incerto. Haverá
alguma resposta? Ao querer mostrar a
sua inocência, Jó ainda sente a
necessidade de se defender. A
primeira defesa dele é em relação ao
comportamento ético-sexual, dizendo
que sempre se comportou com
integridade em todas as esferas da sua
vida. Nos versículos 1-4 do capítulo
31, ele mostra, por exemplo, que
jamais permitiu desvios de seu
comportamento sexual, fazendo uma
aliança com os próprios olhos para
evitar a luxúria e a impureza quando
olhasse para uma donzela. Segundo o
ensino do Novo Testamento, somos
estimulados também a fazer um
concerto com os próprios olhos (Mt
5.27-30).
2.Jó em defesa de sua ética
social (31.16-23). Jó também faz
uma defesa de sua ética social. Ele já
havia mostrado que a justiça social
marcou sua forma de agir. Todavia,
ele lembra que isso só foi possível
porque procurou conduzir-se
sempre por princípios de uma ética
social. Por exemplo, ele sempre
tratou o órfão e a viúva com
humanidade; os escravos, mesmo
sendo sua propriedade, tinham
liberdade para o procurarem e
apresentarem-lhe suas queixas. O
seu comportamento ético-social o
habilitou a agir como tribuno dos
desvalidos (Jó 31.13-23). Lembremo-
nos da verdadeira religião, como
bem Tiago afirmou: "Visitar os órfãos
e as viúvas nas suas tribulações e
guardar-se da corrupção do mundo"
(1.27). Eis um dos fundamentos de
nossa ética social.
3.Jó busca a resposta de Deus
(31.35-37). Agora Jó se dirige a Deus
na forma exclamativa: "Ah! Ouem me
dera um que me ouvisse!" (v.35). Ele
já havia feito uma viagem
retrospectiva sobre o seu passado,
agora ele faz uma análise sobre sua
situação presente, mas seu olhar está
no futuro. Ele quer se apresentar
diante de Deus porque está consciente
de sua inocência. Sua confiança é de
um príncipe que se apresenta diante
de um tribunal (Jó 31.37). Ele confia
de que será inocentado.
Como podemos nos apresentar
diante de Deus e justificar os nossos
atos? Pela graça divina, por meio de
Jesus Cristo, o Filho de Deus, Ele
mesmo nos justifica (Rm 8.31-33).
I - O SOFRIMENTO COMO UMA
FORMA DE REVELAR DEUS
1. Deus é soberano (33.14,15).
Nesse primeiro discurso, Eliú destaca
a queixa de Jó porque Deus não lhe
respondera. Para o jovem amigo do
patriarca, este não leva em conta a
majestade divina que distingue o
Criador de suas criaturas. Nesse
sentido, Jó havia ignorado que Deus é
infinitamente maior do que o homem e
não precisa explicá-lo acerca suas
ações nem de seu silêncio.
2. O orgulho do homem priva-o
de ouvir Deus. Todavia, mesmo sendo
um ser transcendente. Deus não deixa
de se revelar ao homem quando julga
necessário. Por isso, Eliú não aceita o
argumento de Jó sobre o silêncio de
Deus, pois Ele fala ao homem de várias
maneiras, incluindo sonhos e visões
(Jó 33.14,15). De acordo com Eliú, o
problema não é o silêncio do
Altíssimo, mas o orgulho humano que
não lhe permite escutá-lo. O jovem
acredita que mesmo o patriarca
considerando-se moralmente puro,
padece do pecado de orgulho (Jó
33.17). Na visão de Eliú, a revelação de
Deus tem o propósito de livrar o
homem da soberba que o conduziria à
morte (Jó 33.17,18).
3. Mistério da redenção. Além de
sonhos e visões, Eliú também destaca
que Deus usa a enfermidade como um
dos canais de comunicação entre Deus
e o homem (Jó 33.19-22). Por causa
dela, Ele pode enviar um anjo para
anunciar a Jó o seu dever (Jó 33.23),
dizer o que ele deve fazer e, também,
interceder em favor da saúde do
patriarca. Dessa forma, esse
mensageiro anuncia o que é justo e
bom a fim de recuperar o estado de
justiça que Jó desfrutava antes da
enfermidade.
As funções que são atribuídas a
esse mensageiro-mediador fazem com
que os intérpretes bíblicos vejam
nesse ser celeste uma referência ao
anjo do Senhor, uma teofania do
Senhor Jesus Cristo (Gn 16.9; 22.11; Êx
3.2; Jz 6.11). Não há dúvidas de que
esse mediador é a mesma testemunha
celestial que Jó pedia que defendesse a
sua causa (Jó 16.19) e o redentor que o
justificasse depois de sua morte (Jó
19.25). Nesse sentido, conforme
podemos atestar no livro, o ministério
desse mensageiro é um ato decorrente
inteiramente da graça de Deus em
favor de Jó para mediar sua causa e
resgatá-lo (33.24).
II - O SOFRIMENTO COMO MEIO DE
REVELAR A JUSTIÇA E A SOBERANIA
DE DEUS
1. A justiça de Deus
demonstrada. Quando defende a
justiça de Deus, Eliú faz coro com seus
amigos na acusação contra Jó. Em sua
perspectiva, os argumentos de Jó não
passavam de insolência. Como pode o
Todo-Poderoso agir com injustiça
conforme Jó deixou subtender? Deus
jamais age injustamente, pois isso
contrariaria sua própria natureza (Jó
34.10,12).
2.Caráter justo de Deus. Para não
haver dúvida, Eliú passa a descrever o
caráter justo de Deus: (l) Ele age com
justiça quando retribui ao homem o
que ele merece (Jó 34.11); (2) Deus
não precisa prestar contas de seus
atos a ninguém, visto que não recebeu
autoridade de nenhum outro ser
criado (Jó 34.13); (3) como o
provedor da vida humana, Ele tem
todo o poder de manter ou não a
humanidade (Jó 34.14,15); (4) o
Todo-Poderoso não faz acepção de
pessoas, quer sejam reis, nobres ou
pobres (Jó 34.16-20); (5) Deus é
onisciente e como tal conhece os
passos e as intenções de todos os
homens sem precisar inquiri-los em
juízo (Jó 34.21-25); (6) Ele é justo
para punir os maus (Jó 34.25-30).
3. A defesa da soberania de
Deus. Atente para a seguinte
pergunta: "Será que Deus deve
recompensá-lo segundo o que você
quer ou não quer?" (Jó 34.33 - NAA).
Eliú encerra o capítulo mostrando a Jó
que Deus, em sua soberania e livre
vontade, não tem a obrigação de agir
segundo o querer do homem. Sendo
soberano, Ele não está sujeito a
qualquer julgamento humano. Portodo
o livro de Jó o autor destaca a
soberania divina. Um exemplo disso
está claro no uso da palavra "Todo-
poderoso" que ocorre 31 vezes. Para
Eliú, portanto, por ser Soberano, Deus
jamais age com injustiça como Jó dera
a entender.
Todavia, é preciso destacar duas
coisas sobre fala de Eliú.
Primeiramente, ele, assim como seus
amigos, erra por partir do princípio de
que Jó havia cometido pecado. Em
segundo lugar, Eliú exalta apenas a
justiça de Deus e nada diz acerca de
sua misericórdia. Para ele, o Altíssimo
havia posto sua justiça soberana acima
do seu amor, o que é um erro crasso.
Deus, sem dúvida alguma, é justo; mas
grandiosamente amoroso e
misericordioso.
III - O SOFRIMENTO COMO UM
INSTRUMENTO PEDAGÓGICO DE
DEUS
1.O caráter pedagógico do
sofrimento (36.7-15). Há uma
diferença entre o pensamento
teológico de Eliú e o de seus amigos.
Elifaz, Bildade e Zofar acreditavam que
o sofrimento de Jó era por causa de um
pecado cometido por ele e sua recusa
em reconhecê-lo. Eliú também crê
dessa forma, mas vai além. Embora
compreenda que, durante sua
provação, Jó se comportou de forma
pecaminosa, Eliú introduz a ideia de
que o sofrimento tem um caráter
pedagógico (Jó 36.15). O caráter
pedagógico do sofrimento está na
capacidade de nos fazer refletir e
voltar para Deus. Dessa forma, os
justos aprendem com o sofrimento.
2. Adorando a Deus na tormenta.
No capítulo 36 e versículo 26, Eliú
afirma que "Deus é grande, e nós o não
compreendemos". Para ilustrar o
argumento da grandeza de Deus, ele
faz uma explanação sobre a ação de
Deus nas estações do ano: Outono,
Inverno, Primavera e Verão. O
argumento de Eliú tem por objetivo
demonstrar a grandeza de Deus sobre
a criação e como esse fato deve fazer
com que Jó o reconheça como grande e
o louve como tal (Jó 36.24-25). A fala
de Eliú põe em destaque o argumento
contraditório de Jó, que por um lado
magnificava a majestade de Deus, mas
por outro murmurava contra Ele.
Nesse aspecto, Eliú acerta em mostrar
que a adoração e a murmuração não
podem coexistir, são atitudes
excludentes.
Jó 37.6-13 ilustra de forma poética
o pensamento do orador. É uma
metáfora da situação do patriarca, que
no meio da tormenta, em todo o seu
impacto e estrondo, pode contemplar
o caráter pedagógico do amor de Deus.
I – A REVELAÇÃO DE UM DEUS
PESSOAL
1. O Deus que tem voz. O
Altíssimo havia falado nos dois
primeiros capítulos, mas essa fala era
totalmente desconhecida por Jó e seus
amigos ao longo do livro. Assim, até o
capítulo 38, houve muitas falas sobre
Deus. Jó falou, sua mulher e seus
amigos falaram. Todavia, Deus mesmo
não falou durante todo esse período.
Ele estava o tempo todo presente, mas
sem dizer nada a Jó. Até que quebrou
o silêncio: "Depois disto, o SENHOR
respondeu a Jó de um redemoinho"
(Jó 38.1).
2. A poderosa manifestação de
Deus. A cena, sem dúvida, é
impactante, parecida com a da pesca
maravilhosa (Lc 5.1-11).Quando Simão
Pedro, após seguir a orientação de
Jesus, pegou uma grande quantidade
de peixes ao recolher as redes que
havia lançado, imediatamente
exclamou: "Senhor, ausenta-te de
mim, por que sou um homem
pecador" (Lc 5.8). A majestade divina
impactou a Pedro.
Não foi diferente com o patriarca
Jó. Ele ouviu a voz que tanto ansiava
por ouvir. O Altíssimo revelou-se
pessoalmente. Jó estava diante de
uma manifestação teofânica de Deus,
e Este falava-lhe do meio de um
redemoinho. Essa forma de
manifestação divina é confirmada ao
longo das Escrituras, como, por
exemplo, com Moisés (Êx 19.16-19).
Isso mostra que Deus não é impessoal.
Pelo contrário, Ele é um Ser que se
revela e fala com homens. Jó teve a
sua vida transformada depois de ouvi-
lo.
3.Deus que está presente.
Expositores bíblicos destacam que
Deus se revela como "Jeová", o Deus do
pacto. Entre os capítulos 3 e 37
aparecem várias referências a Deus
como El Shaddai, o Deus Todo-
Poderoso. Na teologia tradicional
exposta pelos amigos de Jó era uma
forma fria e distante de se referir a
Deus. Um Deus que existe, mas que
está longe dos homens. Dessa forma El
Shaddai era, no entendimento deles, o
nome que identificava Deus como forte
e poderoso, mas distante e indiferente.
Essa visão tradicional de Deus acabou
por exaltar sua soberania, mas
diminuir sua compaixão e
misericórdia.
Nesse contexto, Jó clama por
encontrar a Deus, chegar ao seu trono
(Jó 23.3,8,9). Esse era o grande dilema
do homem de Uz: pensar que Deus o
havia abandonado. O patriarca nada
sabia dos bastidores celestiais, onde o
Diabo apostou na sua falta de
integridade. Ele não sabia a razão do
silêncio de Deus, daí toda a sua
angústia e desespero por se sentir
sozinho e abandonado. Para ele, o
Criador se escondeu para não ouvir
sua defesa. Mas o grande propósito do
Livro de Jó revela que, mesmo quando
estamos às escuras, andando somente
por fé, e não por vista. Deus está
presente e próximo de nós.
II - A REVELAÇÃO DE UM DEUS
SÁBIO
1. Na mecânica celeste. Deus
convida Jó a contemplar o universo e
vê-lo como funciona (Jó 38). Há uma
mecânica celeste que rege os
fenômenos naturais de forma que
garanta sua perfeita regência. O
Criador desafia Jó a contemplar tudo
isso e ver como seu funcionamento
harmônico atende a um propósito
superior. De fato, o salmista disse que
"os céus manifestam a glória de Deus
e o firmamento anuncia a obra das
suas mãos" (Sl 19-1). Jó se
comportara como um grande sábio,
mas Deus mostrou-lhe que ele nada
sabia. Por isso, o Criador o desafia a
contemplar o mar e o sol (Jó 38.8-15),
pois ele nada sabia da origem dos
oceanos, da grandeza da luz solar e,
menos ainda, das dimensões da
Criação.
2. Na dinâmica da vida. Se Jó
nada sabia sobre a ordem da criação,
muito menos sabia sobre a
providência divina para mantê-la
(38.39-41). Jó deveria ser capaz
responder as seguintes questões:
Como veio a existir a Criação? Como
ela é preservada? Saberia Jó explicar
como Deus faz para alimentar os leões
e seus filhotes? Como as cabras
monteses conseguiam dar cria a seus
filhotes e protegê-los dos predadores
(39.1-4)? E sobre o jumento e o boi
selvagem? O avestruz? O cavalo de
guerra? O falcão? A águia?
Está claro que há uma providência
divina que preserva as coisas criadas,
pois todos esses animais foram
projetados por um design inteligente
com suas peculiaridades, modo de ser
e de viver. Se Jó não sabia como
explicar como eles viviam e se
comportavam, o que o levava a pensar
que poderia discutir com Deus de
igual para igual? Era hora, portanto,
de reconhecer o seu lugar e se
humilhar diante da majestade divina.
3.Na necessidade de se conhecer
melhora Deus. Era preciso que Jó
contivesse seu orgulho. De fato, ele
falou muita verdade sobre Deus, mas
ignorou o quanto não sabia acerca do
Criador. A revelação de Deus sobre a
mecânica celeste e da vida não foi
uma censura à integridade e
sinceridade do patriarca. Aos olhos de
Deus, ele permanecia um homem
justo e íntegro, mas falto de
humildade, pois agiu de forma
presunçosa ao questionar a majestade
divina. Era necessário, portanto, que
conhecesse melhora Deus.
Cada contorno da Criação, cada
formação de uma vida e cada ato de
preservação da Criação é Deus dando-
se a conhecer ao ser humano.
Reconheçamos o agir do Criador no
universo e em nossa vida.
III - A REVELAÇÃO DE UM DEUS
PODEROSO E JUSTO
1. O Behemote o Leviatã. Nos
capítulos 40 e 41, Deus faz referências
a duas grandes criaturas. Ele chama a
atenção de Jó para a natureza
indomável desses animais, a fim de
ilustrar seu poder divino. Algumas
Bíblias traduzem esses termos como
hipopótamo e crocodilo,
respectivamente. Enquanto o
Behemot representava a força bruta
de um animal por excelência, o
Leviatã se parece mais com uma
criatura com poderes sobrenaturais.
Ele se apresenta, por exemplo, dessa
forma em Isaias 27. Assim, o
Behemote o Leviatã representam o
ápice da força tanto natural como
sobrenatural, assim como é o
inexplicável e maravilhoso mundo
criado por Deus. Mesmo poderosos,
Behemote Leviatã estavam debaixo da
mão de Deus.
2. Justiça e graça. Se 3ó não é
capaz de lidar nem com Behemot nem
com o Leviatã, então, como poderia
tratar desse mundo complexo? Ele
agiria com justiça ao tratar dos
complexos dilemas humanos? Deus
deseja mostrar a J ó o seu erro ao
dizer que o Criador não havia sido
justo com ele nem com o ímpio (Jó
6.29; 27.1-6; 21.29-31; 24.1-7). Nesse
sentido, Jó seria capaz de tratar com o
mundo de forma melhor que Deus,
como deu indiretamente a entender
nas suas argumentações? Ele não era
capaz de domar sequer duas criaturas
criadas por Deus. Logo, jamais
poderia ser igual ou mais justo que o
próprio Criador, nem, muito menos,
auto justificar-se diante dEle. Só a
graça de Deus poderia justificá-lo. Ele
dependería somente da graça divina.
Não há nada que possa justificar o
ser humano diante de Deus, senão a
sua maravilhosa graça (Ef 2.8).
I - A HUMILHAÇÃO DE JÓ
1. O Jó humilhado. Os capítulos 38,
39 e 40 demonstram como Deus expôs
a Jó sua onipotência na Criação e
sapiência em preservá-la. Ele mostrou
que o patriarca era incapaz de, não
apenas compreender a dinâmica da
Criação, mas, sobretudo, fazer algo
parecido com ela.
Jó se convenceu de que seus próprios
questionamentos
eram injustos. Se ele não era capaz de
fazer o que Deus
fez, então, com que direito criticava os
caminhos divinos? Se apenas uma das
criaturas de Deus era capaz de impor
terror em Jó, como se comportaria ele
diante do Criador
dessas criaturas?
2. Reverência e submissão.
Diante da assombrosa visão da Criação
de Deus, Jó agora exclama: "Bem sei eu
que tudo podes" (Jó 42.2). Esse
versículo demonstra sua atitude de
reverência e submissão diante de
Deus. Ele percebe que tudo o que
aconteceu em sua vida tinha um
desígnio divino e, portanto, era tolice
discutir ou questionar com a sapiência
divina: "Ouem é aquele, dizes tu, que
sem conhecimento encobre o
conselho? Por isso, falei do que não
entendia" (Jó 42.3; cf. 38.2). Ao repetir
a censura que Deus lhe fizera
anteriormente, no capítulo 38, Jó
demonstra não ver mais injustiça
alguma nas ações de Deus. Ele admite
que agiu com presunção, pois
desconhecia os sábios propósitos
divinos.
3. Uma experiência viva com
Deus. A postura de Jó diante de Deus
muda drasticamente. Ele ainda
continua a se dirigir a Ele, mas não da
mesma forma que fazia. Agora sua
atitude é humilde, reflexo de uma
experiência viva com Deus, conforme
descrita nas seguintes palavras: "Com
o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas
agora te veem os meus olhos" (Jó
42.3). Para Jó, Deus era conhecido
apenas de ouvido, mas agora o
patriarca viu o Criador. Essa
experiência mudou-lhe a forma de ser.
Segundo o teólogo Roy Zuck, Jó
possuía um conhecimento de Deus
apenas por tradição, de segunda ou
terceira mão; mas agora ele o conhecia
por meio de uma experiência pessoal.
Não podemos nos contentar com
um conhecimento teórico acerca de
Deus, mas devemos experimentá-lo.
Quando temos experiências vivas com
o Altíssimo, renunciamos aos nossos
"achismos" (42.3), confessamos nossa
miséria "no pó e na cinza" (42.6),
rejeitamos o nosso orgulho e rebeldia.
Deus é glorificado em todas as áreas
da vida.
II - A INTERCESSÃO DE JÓ
1. A ira de Deus. Após ter se
dirigido a Jó, o Senhor volta-se para
Elifaz, o temanita: “A minha ira se
acendeu contra ti, e contra os teus dois
amigos; porque não dissestes de mim
o que era reto, como o meu servo Jó."
(Jó 42.7). Estas palavras dizem muito
sobre o conteúdo teológico do livro de
Jó. Demonstram que as exposições
feitas pelos seus amigos não eram
todas verdadeiras, pois partiam de
premissas falsas. Eles não apenas
acusaram o patriarca, mas associaram
o seu sofrimento a algum pecado
cometido por ele. Jó havia se
humilhado, mas não do que lhe
acusavam. Ele humilhou-se a respeito
de suas falas precipitadas que
revelavam orgulho e falta de bom
senso. Em outras palavras, ele errou
durante o seu sofrimento, mas não por
conta de pecados cometidos antes do
atual sofrimento.
2. O pecado dos amigos de Jó.
Representados por Elifaz (42.7,9), o
mais velho, o pecado dos amigos de Jó
foi evidentemente exaltar a justiça de
Deus, mas limitar seu poder soberano.
Para eles, todo sofrimento deveria ser
uma consequência de um juízo divino
como resposta a um pecado praticado.
Como o livro de Jó demonstra, quando
dentro dos propósitos de Deus, o
sofrimento é uma manifestação de seu
amor e graça e não uma forma de
punição (Jó 1.8-12). Paulo corrobora
esse princípio quando diz que nos foi
concedida a graça de padecermos por
Cristo e não apenas de crermos nele
(Fp 1.29). Nisto os amigos de Jó
pecaram e, por isso, precisavam da
intercessão do homem de Uz.
3. A oração de Jó. Deus dirige-se
aos amigos de Jó e aconselha-os irem
ao patriarca para que este interceda
por eles (Jó 42.7,8). Esse episódio
mostra que uma teologia errada,
evidentemente, conduz para uma
crença igualmente equivocada. Os
amigos de Jó defenderam Deus de
forma enérgica e sincera, mas errada.
O sofrimento do patriarca não veio
como uma punição, mas como
provação. A fidelidade de Jó foi
provada por Deus e ele foi aprovado
pelo Criador, pois continuava íntegro e
com seu caráter reto, conforme sua
humilhação demonstrou. Agora, esse
homem, outrora acusado de pecador
pelos seus amigos, os socorrerá por
meio da oração.
III - A RESTAURAÇÃO DE JÓ
1. Restauração moral e
espiritual. A restauração de Jó
acontece primeiramente nas
dimensões moral e espiritual. Convém
destacar que as bênçãos recebidas por
ele devem ser vistas como uma
restauração e não retribuição. Não há
uma teologia da retribuição no Livro
de Jó, onde o ímpio é sempre punido e
o justo sempre recompensado. A
mensagem de Jó é diametralmente
oposta a esse princípio. A lição moral e
espiritual do livro é que Deus abençoa
os homens porque os ama e não
porque estão envolvidos numa troca
de favores em que prevalece uma
barganha espiritual.
2. Restauração social e material.
A restauração de Jó também aconteceu
nas dimensões social e material (Jó
42.11). As calamidades que
sobrevieram sobre ele, especialmente,
suas feridas físicas e emocionais, o
expulsaram do convívio social. Ele
suportou sozinho o que pensavam ser
um julgamento de Deus. Mas agora
todos veem a graça divina derramada
de forma abundante sobre ele. Era,
portanto, a hora de voltar ao convívio
social e desfrutar de tudo o que o
Senhor lhe deu, pois "o SENHOR
acrescentou a Jó outro tanto em dobro
a tudo quanto dantes possuía" (Jó
42.10).
A restauração que o Senhor Jesus
faz na vida do ser humano leva em
conta todas as dimensões da vida. Ele
restaura a vida espiritual, moral,
social, material, trazendo dignidade ao
homem que teve, por meio da graça
divina, a imagem de Deus restaurada.
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  • 2.
  • 3.
  • 4.
  • 5. I - AUTORIA, LOCAL E DATA DO LIVRO DE JÓ 1. O autor de Jó. Quem escreveu o Livro de Jó é motivo de longos debates. As opiniões passam por Moisés, Eliú, Salomão, Ezequias, Isaías e, até mesmo, Esdras. Os que não acreditam no mover sobrenatural de Deus sobre os autores bíblicos fazem do livro uma colcha de retalhos. Afirmam ser ele a produção de vários autores e em diferentes épocas. Entretanto, o cristianismo histórico e conservador não tem o livro de Jó como uma ficção religiosa, mas como uma narrativa poética inspirada por Deus e redigida por um único autor. A própria Bíblia não apresenta indicações do autor do livro, mas o fato é que o autor conhecia a forma poética e nela expressou a maior parte do livro. 2. A pessoa histórica de Jó. A Bíblia mesma atesta que Jó foi uma pessoa histórica. O profeta Ezequiel confirma que ele, de fato, foi uma pessoa real, correlacionando-o ao lado de Noé e Daniel (Ez 14.14). Tiago, por exemplo, atesta a realidade histórica do principal personagem do livro, bem como sua autenticidade textual, quando destaca a perseverança de Jó (Tg5.ll). 3.A terra de Jó. Já no início do seu texto, o Livro de Jó destaca que ele era da "terra de Uz" (Jó 1.1). Como Jó, Uz era uma terra real. Os comentaristas situam Uz ao sul de Edom e a oeste do deserto da Arábia, se estendendo a leste, indo até a Babilônia (Jr 4.21; 25- 20). 4.A época de Jó. A maioria dos comentaristas situa os fatos narrados no Livro de Jó dentro do período patriarcal (Abraão, Isaque e Jacó). Dentre outros, alguns fatos contribuem para esse entendimento: O sacerdócio como instituição ainda não existia, visto que Jó era o sacerdote de sua própria casa (Jó 1.5); as filhas de Jó eram coerdeiras juntamente com seus irmãos (Jó 42.15), o que não era
  • 6. permitido pela lei mosaica (Nm 27.8); a palavra hebraica qesitah, traduzida como "uma peça de dinheiro" (Jó 42.11), só aparece em outras duas ocasiões na Bíblia: uma em Gênesis 33.19 e a outra em Josué 24.32. II - ESTRUTURA LITERÁRIA DO LIVRO DE JÓ 1. Prosa e poesia. O leitor que deseja ler o Livro de Jó precisa dar-se conta de que diante dele há uma obra de natureza poética. Isso não torna o livro de Jó menos inspirado do que outros da Bíblia, mas revela que ele pertence a um diferente gênero literário. Jó precisa ser lido dessa forma. A estrutura dessa obra demonstra isso. O texto é uma combinação de prosa- -poesia-prosa (nessa ordem). Ele está literariamente organizado assim: Uma prosa nos primeiros capítulos; uma longa poesia no meio; mais uma prosa no último capítulo. Assim, o prólogo (Jó 1.1-2.13) e o epílogo (Jó 42.7-17) estão em prosa; o texto intermediário em poesia (Jó 3.1-42.6). 2.Organização. No texto em poesia há a seguinte organização: Um monólogo feito por Jó; três ciclos de diálogos entre Jó e seus amigos (Elifaz, Bildade e Zofá); quatro outros discursos de um quarto amigo jovem, Eliú; seguido pela revelação de Deus onde Ele manifesta o seu poder e graça; e, finalmente, a humilhação de Jó diante da revelação divina e sua restauração completa. 3.Abundância de figuras de linguagens. O livro é rico em metáforas. Esse recurso estilístico é usado pelo autor bíblico quando ele quer dar mais expressividade e maior vivacidade ao texto. O autor almeja que seu texto seja "colorido" ao invés de "preto e branco". Jó, por exemplo, usa a figura do "vai-e-vem" do Tecelão para demonstrar a brevidade da vida (Jó 7.6; cf. "vento" Jó 7.7; "nuvem" 7.9; "sombra 8.9,14.2; "uma corrida", "uma águia", "uma flor" 9.25,26, 14.2). No livro também há o recurso estilístico de paralelismos onde os elementos literários repetem-se na mesma ordem. III - NATUREZA E MENSAGEM DO LIVRO DE JÓ 1.Por que os justos sofrem? Algumas das questões mais importantes levantadas no Livro de Jó são eminentemente de natureza teológica e, também, filosófica. A questão do sofrimento do inocente é a principal delas. Por que sofre o justo? Ou ainda, por que os ímpios prosperam enquanto o justo sofre? Ao longo dos anos, tanto teólogos quanto filósofos têm procurado dar explicações para esse dilema humano. No contexto de Jó, a ideia que prevalece é a de que somente os maus sofriam em consequências de seus pecados. Se havia sofrimento era porque havia culpa do sofredor. Nesse aspecto, ao longo de seus 42 capítulos, o autor procura demonstrar um novo olhar sobre essa questão. 2.Existe bondade desinteressada? Para muitas pessoas qualquer prática religiosa não passa de barganha. Essa era também a tese do Diabo. Para ele, Jó só permanecia fiel a
  • 7. Deus porque recebia benefício em troca: Jó era um homem agraciado com muitos bens; com uma família formidável; cercado de muitos amigos; e gozava de boa saúde. Nessas condições, como disse Satanás, todos são devotos. Todavia, vindo o infortúnio, a tragédia e a calamidade, será que esse fervor religioso permaneceria? Satanás estava disposto a apostar que a espiritualidade de ]ó não subsistiria a uma prova de fogo. 0 livro mostra como Jó se comportou nessa prova. 3.Pode o homem compreender Deus? Os últimos capítulos de Jó mostram os impactos que a revelação divina tem sobre os homens. Como Paulo, que foi verdadeiramente mudado quando contemplou o Senhor numa visão (At 9-1-17), assim também Jó é totalmente transformado quando contempla a majestade do Senhor (Jó 38-42). A questão para Jó não foi tanto o entender Deus, mas experimentá-Lo. Viver e experienciar Deus mudou completamente a vida de jó! Eis uma grande lição deixada por esse precioso livro.
  • 8.
  • 9. I- UM HOMEM DE CARÁTER IRRETOCÁVEL 1. Íntegro (sincero) (v.l). O caráter define o que uma pessoa é de verdade. Ela é vista a partir dos valores que governam a sua vida interior. O "mau- caráter" define uma pessoa que não merece confiança, que é desonesta e que, portanto, não possui valores nobres. Jó não era um homem sem pecado, mas tinha um caráter irretocável. Nesse sentido, os primeiros versículos do livro possuem vários adjetivos que descrevem o seu caráter. No primeiro, o autor o apresenta como um homem íntegro. A palavra "íntegro", que traduz o hebraico tãm, possui o sentido de inocente, sem culpa. No grego, segundo a Septuaginta, a palavra alethinós remete ao que é verdadeiro. Assim, podemos afirmar que Jó era sincero nas intenções, afeições e diligente nos esforços para cumprir seus deveres para com Deus e os homens. 2. Reto (v.l). Ele também era um homem reto que, no hebraico yãsãr, tem um sentido de alguém justo, direito. Na Septuaginta, de acordo com o grego amemptos, possui o sentido de irrepreensível. Portanto, o homem de Uz era justo, reto, direito e se comportava de maneira irrepreensível. 3. Temente a Deus e desviava-se do mal (v.l). Jó é descrito como alguém temente a Deus, que desviava- se do mal. Estas palavras, de acordo com os termos relativos ao hebraico, sureyare, traduzem a ideia de alguém que prestava reverência a Deus e evitava o mal. Já na Sepetuaginta, os termos relativos ao grego, theosebés e apecho, trazem o sentido de alguém devotado ao culto e à adoração a Deus e que, por isso, mantinha o mal sempre à distância. As Escrituras mostram que, muito antes de Salomão, Jó praticava o que o homem mais sábio do mundo,
  • 10. posteriormente, ensinaria: "Teme ao SENHOR e aparta-te do mal" (Pv 3.7). II - UM HOMEM SÁBIO E PRÓSPERO 1. Um conselheiro sábio. Há pessoas ricas que nem são sábias nem tampouco prósperas. Possuem conhecimento, mas não entendimento; riquezas, mas não prosperidade. Jó distingue-se nesse aspecto. Ele foi um homem sábio, rico e próspero. A Bíblia afirma que Jó era "maior do que todos os do Oriente" (Jó 1.3). "Maior" aqui não pode ser entendido apenas como uma referência a bens materiais, mas também à sua sabedoria. Estudiosos destacam que Jó era mais importante em sabedoria, riqueza e piedade do que qualquer outra pessoa daquela região e ressaltam o reconhecimento da sabedoria de Jó conforme se destacava a sabedoria dos orientais expressa em provérbios, canções e histórias. Isso fazia dele um homem proeminente, a quem as pessoas recorriam com frequência em busca de conselho e orientação (Jó 29.21,22). 2.Um homem próspero. O homem de Uz não era apenas rico, mas, sobretudo, próspero. O texto sagrado destaca que, além de sua esposa, ele tinha sete filhos e três filhas (v.2). Para os padrões da época, possuía uma família com o formato ideal. Ele também era um fazendeiro bem sucedido. Em sua fazenda havia sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois, e quinhentas jumentas; e tinha também muitíssima gente a seu serviço (v.3). 3.Uma prosperidade baseada no "ser". Jó, portanto, possuía um grande patrimônio e uma bela família. Sua prosperidade se refletia na relação harmoniosa entre ele, sua família, seus negócios e, sobretudo. Deus. Não era uma prosperidade estabelecida somente no "ter", mas, principalmente, no "ser". III - UM HOMEM DE PROFUNDA PIEDADE PESSOAL 1. Um homem dedicado à família. O primeiro capítulo de Jó diz: "Iam seus filhos e faziam banquetes em casa de cada um no seu dia; e enviavam e convidavam as suas três irmãs a comerem e beberem com eles" (1.4). 0 ambiente descrito aqui é de uma família em harmonia que, de forma feliz, festejava a vida. De forma alguma o texto sugere dissolução, bebedice ou licenciosidade nessas comemorações. Eram confraternizações feitas no ambiente familiar. 2. Um homem de moral e piedade. Jó foi um homem que possuía uma forte moralidade e uma sólida espiritualidade. Além de seu caráter irretocável, o texto deixa claro que ele tinha uma vida piedosa (Jó 1.5). Essa piedade está presente não apenas nos primeiros capítulos, mas em todo o livro. Mesmo nos momentos de desespero, como consequência de sua provação, ele sempre mantinha seus olhos em Deus. Essa piedade era a causa da dedicação de Jó à família.
  • 11. 3.Um homem de vida consagrada. A piedade de Jó está evidente no cuidado espiritual que ele tinha com os filhos. Jó sempre orava por eles: "Sucedia, pois, que, tendo decorrido o turno de dias de seus banquetes, enviava Jó, e os santificava, e se levantava de madrugada, e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles; porque dizia Jó: Porventura, pecaram meus filhos e blasfemaram de Deus no seu coração. Assim o fazia Jó continuamente." (Jó 1.5). Como sacerdote de seu lar, Jó cumpria o ritual do culto em favor de sua família. 0 levantar cedo ou de madrugada, como expressão idiomática do hebraico bíblico, é uma forma de enfatizar a piedade de Jó. Essa devoção é demonstrada pela consagração vivida por ele. O texto diz que ele se "santificava". 0 vocábulo português "santificava" traduz o termo hebraico, qadash, que possui o sentido de ser separado ou consagrado. Uma pessoa que é consagrada é uma pessoa que ora, uma pessoa que ora é uma pessoa consagrada. Portanto, à luz da vida de Jó, somos instados a viver uma vida consagrada diante de Deus e dos homens.
  • 12.
  • 13. I - O LIVRO DE JÓ E A NATUREZA DE SATANÁS 1.Um ser espiritual. O Livro de Jó não procura provara origem do Diabo, mas o revela como um ser real. O livro destaca algumas características da natureza de Satanás que nos permitem conhecê-lo melhor. Em primeiro lugar, conforme o livro apresenta, o Diabo é um ser espiritual e encontra-se na mesma categoria dos anjos, representada no texto pela expressão "os filhos de Deus" (Jó 1.6). Os anjos são seres espirituais que não pertencem à dimensão natural, mas à sobrenatural. Isso explica, por exemplo, a capacidade da rápida locomoção do Diabo quando rodeava a Terra e passeava por ela (Jó 1.7). 2. Um ser criado. Satanás é um ser criado. Mesmo sendo um Anjo, dotado de natureza espiritual, ele não é autoexistente. Ao contrário de Deus, que criou todas as coisas, o anjo que se tornou Satanás teve uma origem. Nem sempre o Diabo foi Diabo. Ele fora um anjo bom como os demais. Assim, ele é uma criatura, não o Criador. Por isso, o livro revela que Satanás tem suas ações limitadas por Deus. Ele pode fazer muitas coisas, mas não tudo (Jó 1.12; 2.7). Como ele não é autoexistente e, semelhante às outras criaturas que povoam o universo, não é um ser incriado, o Diabo é uma criatura limitada.
  • 14. 3. Um ser dotado de personalidade. Além do fato de ser um ente espiritual, o Diabo é dotado também de personalidade. Ele é uma pessoa e se apresenta como tal. No Livro de Jó o vemos assumindo atributos de um ser pessoal. Ele fala e possui capacidade argumentativa (Jó 1.9-11). Essa mesma característica aparece de forma mais explicita na tentação de Cristo (Mt 4.1-11; Lc 4.1- 13). No livro, além de se expressar verbalmente. Satanás também demonstra possuir conhecimento. Ele sabe o que se passa na Terra e como se comportam os homens. Ele conhecia a vida de Jó. Isso faz dele um ser perspicaz. O apóstolo Paulo sabia que o Diabo é um ser que possui perspicácia quando disse não lhe ignorar os "ardis" e que ele se valia de métodos sofisticados para atingir as pessoas (2 Co 2.11; Ef 6.11). Assim, Satanás usou de seu conhecimento e perspicácia para atacar Jó. II - O LIVRO DE JÓ E AS OBRAS DE SATANÁS 1. Dor e sofrimento. A introdução do Livro de Jó apresenta Satanás como um ser capaz de agir contra o ser humano (Jó 1.12; 2.6). Através de suas ações é possível conhecer a natureza maligna de suas obras. É da natureza do Diabo provocar dor e sofrimento aos seres humanos. No livro. Satanás impõe ao patriarca um sofrimento, até então, sem precedentes, pois ninguém sofreu como Jó no Antigo Testamento. Primeiramente, o Diabo atingiu as posses dele, o que fez o patriarca sofrer ao ver o seu patrimônio destruído repentinamente. Da mesma forma, houve grande sofrimento em Jó quando ele viu a tragédia se abater sobre sua casa, pois sua família foi devastada. Entretanto, o sofrimento do homem de Uz não cessou com a perda da família. O Diabo o infligiu com uma doença que o fez padecer dor e isolar- se de todos. 2.Acusar. O Diabo é capaz de infligir dor e sofrimento, mas não só isso. Ele também acusa. Faz parte de sua natureza acusar. Foi o que ele fez com 3ó (Jó 1.10,11). 0 Diabo o acusou de praticar uma religiosidade motivada por interesse. Assim como fez, posteriormente, com o apóstolo Pedro, querendo cirandá-lo (Lc 22.31,32), o Diabo quis fazer o com Jó. 0 livro do Apocalipse mostra a acusação como a missão do Diabo (Ap 12.10). 3.Tentar. Por outro lado, devemos destacar a atuação de Satanás na tentação para o mal. Também faz parte de sua natureza tentar pessoas. Pelo texto sagrado, podemos inferir que o Diabo impulsionou os sabeus e os caldeus, povos até então nômades, a dizimarem os bens de Jó (vv.12,14,17). É uma característica do Diabo incitar e tentar para o mal (1 Cr 21.1). III - O LIVRO DE JÓ E 0 OCASO DE SATANÁS 1.Queda e ruína de Satanás. O vocábulo "ocaso", quando usado em sentido figurado, é definido pelo Dicionário Aurélio como "fim, final, queda e ruína". O Livro de Jó retrata de
  • 15. forma nítida o ocaso final de Satanás. A vitória de Jó foi uma derrota para ele. Em quase todo o livro. Deus se mantém em silêncio e oculto, mesmo o leitor tendo consciência que Ele está lá e que o seu silêncio fala alto. Por outro lado, o Diabo não aparece mais a partir do capítulo 3 e não é mais mencionado no restante do livro. Não é, pois, propósito do livro pô-lo em evidência, nem tampouco superestimar o mal. O Livro de Jó mostra que Satanás não conseguiu o seu intento, que era fazer com que Jó blasfemasse. 2.Jó e o testemunho de Deus. O Livro tem um início dramático, mas um final apoteótico. Jó foi submetido a uma prova de fogo, e mesmo sendo chamuscado pelas chamas do sofrimento, saiu vivo e vitorioso. Deus nunca o abandonou. A graça estava oculta, mas estava lá. No momento oportuno ela se manifestou (Jó 38.1). Da mesma forma que a graça de Deus se manifestou trazendo salvação a todos os homens (Tt 2.11), ela também se manifestou trazendo alívio, paz e livramento a Jó. Deus mesmo, no momento certo, testemunhou que Jó era o homem que Ele sempre disse que era: justo, reto e temente a Deus (Jó 42.7,8).
  • 16.
  • 17. I - TRAGÉDIA DE NATUREZA ECONÔMICA 1. O sucesso na esfera comercial. O autor sagrado já havia sublinhado que Jó era "maior de todos os do Oriente" (Jó 1.3). O respeito, a admiração, a riqueza e a prosperidade do homem de Uz contribuíram para a construção dessa imagem. o autor já havia destacado a riqueza e a prosperidade de Jó, medidas pela grande quantidade de animais e servos a serviço dele. O comércio e a atividade do campo eram suas principais atividades. Devido à sua grande riqueza, não são poucos os autores que igualam Jó a grandes industriais e empresários contemporâneos. Enquanto as ovelhas
  • 18. proporcionavam lã para a produção têxtil, por outro lado os camelos e jumentas estavam a serviço do transporte de cargas. Dessa forma, Jó se destacava no Oriente como um homem de negócios. 2.Sucesso na esfera do campo. A atividade do campo era, sem dúvida, o principal negócio de Jó. 0 fato de que ele tinha tantas juntas de bois a seu serviço demonstra que ele era um agricultor que possuia uma grande extensão de terras, e não um nômade como alguns autores supõem. Estudiosos destacam o fato de que a palavra hebraica 'abuddah, encontrada somente em Jó e em Gênesis 26.14, é uma referência direta à lavoura e ao cultivo da terra. Os bois, e da mesma forma as ovelhas, ofereciam a proteína animal. As ovelhas, juntamente com as jumentas, alimentavam a produção de laticínios. Isso fazia de Jó um verdadeiro empreendedor no sentido moderno do termo. 3. O ataque do Diabo na esfera comercial. Satanás atingiu o centro das atividades comerciais do patriarca. O Adversário procurou retirar aquilo que, graças ao trabalho duro, Jó havia conquistado. Assim, destruiu os animais e o pessoal a serviço dele, desestabilizando-o financeiramente. Seu negócio foi a bancarrota. Sem animais de carga, o transporte estava prejudicado. 4. O ataque do Diabo na esfera do campo. Da mesma forma que atingiu os negócios de Jó na esfera comercial. Satanás o atingiu também na esfera do campo. Destruindo a sua fonte de produção de proteínas e laticínios, o Diabo atingiu em cheio toda a fonte de sua riqueza. Era preciso muito equilíbrio para não se desesperar diante de um quadro tão sombrio. Aqui é necessário fazer uma ponderação. Evidentemente que nem sempre o empreendimento de alguém quebra por investidura de uma ação maligna direta; muitas vezes é apenas um mau gerenciamento ou até mesmo consequência de uma crise de mercado. Todavia, no caso de Jó, foi uma ação maligna e em muitos casos hoje também o é. II - TRAGÉDIA DE NATUREZA FAMILIAR 1.Filhos. A tragédia que se abateu sobre Jó foi de fato catastrófica. Ele perdeu em um só dia seus dez filhos de forma calamitosa - sete filhos e três filhas. 0 texto sagrado diz: "Estando teus filhos e tuas filhas comendo e bebendo vinho, em casa de seu irmão primogênito, eis que um grande vento sobreveio dalém do deserto, e deu nos quatro cantos da casa, a qual caiu sobre os jovens, e morreram" (vv.18,19). Não haveria nada mais trágico do que esse acontecimento. Perder um filho é calamitoso, mas perder todos de forma inexplicável é nefasto. 2. Esposa. A frase "Amaldiçoa a Deus e morre" (Jó 2.9), atribuída à esposa de Jó, é uma das mais chocantes do livro. Talvez por isso seja objeto de várias explicações. Muitos
  • 19. autores tentam suavizá-la quando a interpretam como sendo uma ironia feita pela esposa de Jó. Nesse caso ela, de fato, estaria dizendo: "Você continua aí com essa sua fé enquanto tudo desmorona à sua volta. Por que tudo isso? Deixe de lutar por isso e aceite a morte". Outros procuram atribuir um sentido ao texto o qual ele não tem. Para estes, a esposa de Jó não estava mandando amaldiçoar a Deus, mas orientando Jó a louvá-lo e morrer em paz. No entanto, as evidências do texto depõem contra esse entendimento. A reação de Jó, ao dizer que sua esposa falava como qualquer louca, confirma esse fato. 3. O fato. Um vento forte soprou sobre a família de Jó, devastando-a. Ainda hoje, "fortes ventos" continuam a "soprar" em famílias inteiras. O resultado desses "ventos" é a degradação familiar, divórcios, drogas etc. A exemplo de Jó, o crente deve se refugiar em Deus. É preciso que a família abra a Bíblia em casa e busque o Senhor em estudo e devoção. III - TRAGÉDIA DE NATUREZA FÍSICA E PSICOLÓGICA 1. O Diabo toca na saúde de Jó. Depois que o Diabo viu o seu plano fracassar, pois o patriarca não sucumbiu à tentação, mesmo diante da dizimação de seus bens e familiares, o Adversário agora tem a permissão divina para tocar na saúde de Jó. Essa nova prova é um drama muito distinto na literatura do Antigo Testamento. Ela dará a tônica ao restante do livro. 2.Saúde física. 0 texto sagrado diz que o Diabo "feriu a Jó de uma chaga maligna, desde a planta do pé até ao alto da cabeça." (Jó 2.6,7). Tratava-se de uma doença extremamente maligna, capaz de provocar um grande sofrimento em Jó, a ponto de este sentar-se nas cinzas e pegar um caco de barro para com ele raspar as feridas. Essa era uma prática que o homem antigo adotava quando se via acometido de uma grande desgraça. Ele ia para o monte de cinzas (hb. mazbala), um local considerado imundo, onde os inválidos e dementes costumavam ficar. Ali ele esperava a morte entre cães, insetos e aves de rapina. Trágico! 3. Saúde mental. Não há dúvida que, além do sofrimento físico, Jó também experimentou o sofrimento psicológico. Embora não haja nada no texto que nos permita dizer que ele entrou em depressão, não há como negar que Jó passou por uma grande tensão psicológica. Há vários textos no corpo do livro que permite fazer essa dedução, mas já no início da sua fala é possível perceber esse fato (Jó 3.1-14). Ainda que mantivesse sua fidelidade a Deus, o patriarca amaldiçoou o dia de seu nascimento, não vendo mais razão para que fosse celebrado. Só debaixo de forte pressão psicológica é que pessoas chegam a tal ponto.
  • 20.
  • 21.
  • 22. I - PRIMEIRO LAMENTO DE JÓ: POR QUE NASCÍ? (3.1-10) 1. "Por que nascí?". A dor de Jó era profunda e somente a poesia podia expressar toda a carga emocional vivida por ele. Nesse poema, os dez primeiros versículos do capítulo três são a respeito do primeiro questionamento de Jó: Por que nasci? Esse questionamento sai do íntimo de Jó, assim como ocorre com a alma do salmista (130.1). Da mesma forma, o profeta Jeremias expôs os sentimentos diante de seus conflitos (Jr 20.14-18). Nesse sentido, o patriarca não está sozinho em lamentar diante da dor. 2.Que em lugar da memória viesse o esquecimento. Neste momento de dor, Jó não amaldiçoou a Deus, como Satanás previra; em vez disso, amaldiçoou o dia de seu nascimento. No lugar de ser ocasião de grande celebração pelo dia do nascimento de criança, Jó amaldiçoou esse dia por ocasião do grande sofrimento e decepção. Para o homem de Uz, esse dia teria de ser apagado da memória. Não é assim que muitas vezes nos sentimos? Um dia em que tudo foi mal e temos desejo de nunca mais lembrá-lo. 3.Que em vez da ordem viesse o caos. Mencionamos o desejo de Jó para que o dia de seu nascimento não tivesse entrado no calendário e, que dessa forma, tanto esse dia como essa noite jamais tivessem existido. No lugar da luz que raiou por ocasião do nascimento dele, e que revelou todo seu sofrimento, o patriarca desejou que as trevas dominassem (vv.4-7). E por quê? Porque em vez da paz veio a dor; em vez da ordem, o caos. Desse raciocínio, Jó menciona a imagem do Leviatã. Este famoso e assombroso animal marinho simbolizava o caos. O homem de Uz recorre a essa imagem para ilustrar o momento tenebroso que estava vivendo. A lógica é simples: Se Deus não tivesse feito aquele dia, ele não teria sido concebido e, portanto, não passaria por tudo isso. Nesse sentido, o Novo Testamento revela como nosso Senhor é misericordioso e nos trata com amor e ternura nos momentos de tribulação e angústia, pois aos pés da cruz é o melhor lugar para derramar a nossa alma (cf. Jo 11.32,33). II - SEGUNDO LAMENTO DE JÓ: POR OUE NÃO NASCI MORTO? (3.11-19) 1. Descansando em paz. Os intérpretes observam que o discurso de Jó a partir do versículo onze muda de amaldiçoar para reclamar. A partir desse versículo, Jó passa reclamar por não ter nascido morto. Para ele nascer morto teria sido melhor do que existir naquelas condições (vv.11-13). Era a melhor maneira de não passar por toda aquela tribulação. Essas palavras de Jó revelam uma coisa: Ele queria descanso de todo o seu sofrimento. O que Jó pedia era uma possibilidade real, pois muitos fetos nascem mortos (vv.16). Para ele a morte era uma forma de descansar em paz (vv.13-15).
  • 23. 2.Livre de tributações. O dilema de Jó aumenta à medida que o seu sofrimento ganha intensidade. Ele continua com seu argumento da "não- existência" (vv.16-19). Ele está convencido de que se não tivesse se tornado um "ser", nada disso estaria acontecendo. Ele desejava ter sido como um "natimorto", um feto que nunca viu a luz (v.16). A palavra hebraica nephel, usada no versículo 16 como "natimorto", possui 0 sentido de "um aborto espontâneo" e é traduzido dessa forma em Eclesiastes 6.3 e Salmo 58.8. Aqui em nenhum momento Jó faz uma apologia ao aborto, mas usa-o no sentido metafórico de "descanso do sofrimento". No lugar de ter sido abortado, ele nasceu e foi lançado no mundo da tribulação. O raciocino é claro: Para os que morreram cessaram as angústias e tribulações da vida presente. 3.Uma realidade para o cristão. O Novo Testamento nos ensina que enquanto estivermos neste mundo estaremos sujeito à dor, ao luto, ao sofrimento (Fp 4.11,12). Mas, ao mesmo tempo, temos uma promessa consoladora de Jesus (Jo 16.33, cf. Fp 4.13). III - TERCEIRO LAMENTO DE JÓ: POR QUE CONTINUO VIVO? (3.20- 26) 1. Vale a pena viver? Nessa terceira seção do capítulo três Jó faz uma quarta pergunta (3.20): "Por que se dá luz ao miserável, e vida aos amargurados de ânimo?". As outras perguntas estão em 3-1; 3.12; 3.16. A palavra hebraica amei, traduzida aqui como "miserável", é usada no sentido de alguém cuja vida é atribulada pela miséria e que, por isso, torna-se incapaz de exercer suas funções. Em outras palavras, para Jó a vida havia se tornado intolerável. 2.Sem o favor de Deus? Jó novamente volta a indagar: "Por que se dá luz ao homem, cujo caminho é oculto, e a quem Deus o encobriu?" (Jó 3.23). A pergunta busca o significado do sentido de todo aquele processo. Ela busca compreender o porquê de Deus permitir o sofrimento. Aqui há um paralelo com Provérbios A.18, onde é dito que "o caminho do justo é como a luz da aurora que brilha mais e mais até ser dia perfeito". Na literatura sapiencial, a palavra hebraica traduzida como "caminho" é dereke se refere ao caminho da sabedoria de Deus, que conduz a vida. Para o patriarca esse fato havia se tornado um paradoxo, pois ele não sabia por que Deus escolheu para ele o caminho do sofrimento. 3.Um caminho de sabedoria e maturidade. Muitas vezes sentimo- nos iguais a Jó, desorientados, passando por uma via dolorosa do sofrimento. E, como ele, não imaginamos nem compreendemos que Deus está agindo. É preciso, porém, olhar para o alto onde Cristo vive (Cl 3.1-4). Nele, podemos manter o equilíbrio e a confiança durante a tormenta e, assim, trilhar um caminho de sabedoria e maturidade no sofrimento.
  • 24.
  • 25. I – OS PECADORES NO CONTEXTO DA JUSTIÇA RETRIBUTIVA 1.A lei da semeadura e da colheita. Depois de firmar um princípio oriental de cordialidade, Elifaz se dirige a Jó com uma defesa contundente do pensamento teológico tradicional - a justiça retributiva. Ele está firmemente convencido de que a lei de causa e efeito é um princípio da ortodoxia teológica que não pode ser contraditado. 2. Homem colhe o que plantou. Essa primeira parte de seu discurso compreende os capítulos 4 e 5, em que defende que o homem colhe o que plantou: "Segundo eu tenho visto, os que lavram iniquidade e semeiam o mal segam isso mesmo" (Jó 4.8). Para Elifaz nós habitamos em um universo moral que exige consequências de nossas ações. A Bíblia mostra esse princípio. Por exemplo, o salmista confirma
  • 26. que Deus é bom e justo e, por isso, recompensa os bons e pune os maus (Sl 1.6). O Novo Testamento também atesta esse princípio: "Porque os olhos do Senhor estão sobre os justos, [...] mas o rosto do Senhor é contra os que fazem males" (1 Pe 3.12). Portanto, Elifaz defende que o pecado sempre produz consequências, mas que somente os pecadores pagam por isso. Assim, segundo Elifaz, se Jó estava sofrendo era porque havia pecado. Cabia a Jó, então, assumir a responsabilidade moral de seu pecado. Não havia outra opção. Quantos são os que fazem acusações precipitadas quando alguém passa por momentos delicados na vida? Ao julgar precipitadamente, muitos cometem injustiças e esquecem de que Deus é quem pode ver todo o lado da questão. 3- A queixa de Jó. Em sua defesa, Jó se contrapõe à teologia de Elifaz (Jó 6—7). Essa teologia era a base de como se imaginava o universo governado por uma lei moral de causa e efeito: Há uma recompensa para os bons e punição para os maus. Elifaz não estava de todo errado, mas equivocou-se quando pensava que esse pressuposto era o único existente. Tratava de parte da verdade, mas não de toda. Sua teologia não se aplicava no caso de Jó. O patriarca não aceita a tese de Elifaz e, por isso, sente-se alienado de Deus, (6.1-7), de si mesmo (6.8-13) e de seus amigos (6.14-23). Isso leva Jó a se queixar de Deus (Jó 6.1-13). Ele se queixa pela sua atual situação. É uma queixa fundamentada ainda nos antigos pressupostos teológicos: Ele era justo, não estava em pecado, portanto, não merecia sofrer. Em seguida, Jó se queixa a Deus (Jó 7.11- 21), desejando abrir uma porta de diálogo com o Altíssimo. Ele não quer explicações baseadas em teorias teológicas antigas, mas uma conversa sincera através de um relacionamento direto com o Criador, onde Jó fala com Ele e Deus fala com Jó. No momento da dor, a melhor coisa a se fazer é se dirigir pessoalmente a Deus. II - OS PECADORES NO CONTEXTO DA TRADIÇÃO RELIGIOSA 1.Ortodoxia engessada. Em seu segundo discurso (Jó 15.1-35), Elifaz argumenta que as palavras de Jó são uma ameaça ao dogma religioso aceito: "E tu tens feito vão o temor e diminuis os rogos diante de Deus" (15.4). Assim, se Jó estivesse certo, a religião tradicional, que sempre ensinou a prosperidade dos bons e o sofrimento dos maus, estaria errada. Nesse aspecto, Jó era uma ameaça àquela forma de pensar. Por isso Elifaz ataca Jó de uma forma contundente dizendo que suas palavras não revelam sabedoria, mas são palavras ao vento. O patriarca se expressa em linguagem poética, mas sua mensagem é profética. 2.Uma ameaça à tradição religiosa. A partir do versículo 7 do capítulo 15, Elifaz apela para a tradição religiosa como forma de validar seu princípio teológico: "Oue sabes tu, que nós não saibamos? Oue entendes, que não haja em nós? Também há entre nós encanecidos e idosos, muito mais
  • 27. idosos do que teu pai" (15.9,10). Segundo Elifaz, ainda que fosse homem sábio, Jó não era mais sábio nem mais antigo do que o dogma que ele estava negando. 3.Um defensor celeste. Em sua defesa, Jó se contrapõe ironicamente ao argumento de Elifaz (Jó 16—17). Aqui não podemos esquecer de que a resposta de Jó deve ser ouvida na forma poética, conforme o fazemos em salmos, orações e súplicas recitados assim. Isso evita um literalismo rígido que empobrece o sentido do texto, quando este é poético, e, consequentemente, transforma Jó em um sacrílego. Nesse texto Jó reclama, mas não blasfema contra Deus. Ele tem consciência de que a teologia de seu amigo firmava-se na terra, mas o homem de Uz apelava aos céus. Sua fé o projeta para o alto, à procura de quem possa defen- dê-lo. Ele quer um defensor que interceda por ele no céu (Jó 16.18—17.2). O patriarca se expressa em linguagem poética, mas sua mensagem é profética. Seu anseio por um mediador prenuncia o justo advogado, Jesus Cristo (1 Jo 1.5,7). III - OS PECADORES DIANTE DE UM DEUS INFINITO 1.Deus não se importa com quimeras humanas. Em seu terceiro discurso (Dó 22), Elifaz apela para a transcendência divina ao atacar Jó. Grosso modo, a transcendência diz respeito ao conjunto de atributos do Criador que ressalta a sua superioridade em relação à criatura. Significa que Deus está acima da Criação e não é limitado por ela. Realça, portanto, a infinitude divina em contraste com a finitude humana (Dó 22.1-3). Para Elifaz, o sofrimento de Jó era um atestado de que ele havia pecado e que, por isso. Deus o havia abandonado; Ele era grande e não poderia se envolver em quimeras humanas, principalmente nas do pecador Jó. A teologia de Elifaz destaca um Deus transcendente, porém, distante, que não se importa muito com o que acontece aqui na terra, indiferente às coisas que criou (Jó 22.12). Não adiantava Jó chorar ou reclamar. Ele precisava se arrepender. 2.Deus caminha com os homens. Nessa parte da poesia Jó expõe seus argumentos de forma mais clara (Jó 23.1—24.25). Ele demonstra que nunca negou a transcendência de Deus como Elifaz quer dar a entender. Ele reconhece que Deus é excelso e pode fazer o que intenta: "Mas, se ele está contra alguém, quem, então, o desviará? O que a sua alma quiser, isso fará" (Jó 23.13). Todavia, esse é apenas um lado da história. Jó está consciente que esse Deus, embora grande, também caminha com os homens (Jó 23.10). A ideia no texto hebraico é que Jó passa a ficar cada vez mais seguro e consciente, não apenas de seu caminhar com Deus, mas do caminhar de Deus com ele. É exatamente isto: Não devemos temer mais em ficar diante de Deus, pois o andar com Ele é reto. Em Cristo Jesus, Deus caminha com os homens; sendo o Altíssimo transcendente, envolve-se com os seres humanos nos diversos detalhes da vida.
  • 28.
  • 29. I – O PECADO EM CONTRASTE COM O CARATER JUSTO E SANTO DE DEUS 1.Deus é justo e reto. A teologia de Bildade (Jó 8.1-22) possui semelhanças com a de seu amigo, Elifaz. Para esse segundo amigo, as ações de Jó não poderiam ser justificadas, pois elas condenavam a Deus, revelando que Ele punia pessoas justas. Por outro lado, como Deus não era injusto, então, Jó deveria reconhecer o seu pecado, pois ele estava sendo terrivelmente afligido. Assim, a teologia de Bildade pode ser classificada em duas esferas: A dos maus e a dos bons. Por exemplo, Bildade assevera que os filhos de Jó foram mortos porque eram maus (8.4); por outro lado, como um homem que alegava ser justo e bom, Jó poderia desfrutar novamente do favor de Deus se reconhecesse o seu pecado (Jó 8.5). 2. Uma compreensão limitada da natureza de Deus. Bildade traz consigo uma compreensão incompleta e limitada da natureza de Deus, o que faz com que ele pense que o sofrimento de Jó seja a consequência de um pecado oculto. Assim, outra
  • 30. compreensão é evidente: Jó deve demonstrar que é realmente bom e que merece o favor de Deus. É uma teologia que destaca uma meritocracia humana no processo de justificação diante de Deus: "Mas, se tu de madrugada buscares a Deus e ao Todo- Poderoso pedires misericórdia, se fores puro e reto, certamente, logo despertará por ti e restaurará a morada da tua justiça" (8.5,6). Logo, o enfoque de Bildade não é a graça que flui de Deus, mas o esforço humano que, por mérito próprio, pretende justificar o homem diante de Deus. 3.A imperfeição humana. Diante da defesa teológica feita por Bildade, Jó pergunta: "Como se justificaria o homem para com Deus?" (Jó 9.2). Ora, Deus é infinitamente sábio e justo. Jó está consciente de que nenhuma perfeição humana o habilitará a aproximar-se de Deus. Dessa forma a autopurificação não passava de presunção: "Ainda que me lave com água de neve, e purifique as minhas mãos com sabão, mesmo assim me submergirás no fosso, e as minhas próprias vestes me abominarão" (Jó 9- 30,31). A linguagem é poética, mas ela afirma objetivamente a doutrina da santidade de Deus e a pecaminosidade humana. Deus é santo e Jó, um pecador. Entretanto, essa não era a questão para Jó. O grande questionamento dele poderia ser feito da seguinte forma: "É verdade que onde há sofrimento há pecado?" Seus amigos responderíam: sim; Jó, um retumbante não. Deus já havia testemunhado acerca da integridade e da justiça de Jó. Isso deixa claro que nem sempre o sofrimento é fruto de uma imperfeição moral ou resultado de um pecado pessoal. Esse era o caso de Jó II - O PECADO VISTO COMO QUEBRA DA MORALIDADE TRADICIONAL 1.Moralismo por tradição. Bildade (Jó 18.1-21) também está comprometido na defesa da moralidade que ele acredita ser a correta. Para ele não havia nada errado quando fez a defesa da justiça divina, da mesma forma que acreditou estar correto quando defendera a moralidade dos seus dias. Todavia, não podemos falar de uma ética ou teologia moral de Bildade, mas simplesmente de um moralismo fundamentado na tradição (18.1-21). 2.A subversão da ordem moral. Na verdade, Bildade simplesmente repete o que já vem sendo defendido por gerações passadas, todavia, acrescentando alguns contornos aos seus pressupostos teológicos. Para ele as desgraças sofridas por Jó ocorreram por causa da quebra da moralidade estabelecida. Como o entendimento de Bildade era o de que o universo é controlado por leis morais inflexíveis, ao quebrá-las Jó sofreu as consequências da mesma forma que sofre quem quebra a lei da gravidade. Nesse aspecto, praticar a justiça é se ajustar à dinâmica dessas leis morais. Bildade acreditava que de nada adiantava Jó achar que os maus prosperavam, pois isso era apenas ilusão. No seu entendimento, a prosperidade dos maus assemelhava- se as raízes de uma árvore que foram
  • 31. cortadas, cujos ramos, embora mantenham a aparência de verdor por algum tempo, todavia, necessariamente murcharão (18.12- 16). Ao não reconhecer isso, Jó estaria tentando subverter a ordem moral aceita. 3.Contemplando a cruz. O capítulo 19 é dedicado à defesa de Jó. É inegável que Jó sabia que Deus atua em um universo moral e que tudo o que acontece está sob seu controle. O homem de Uz estava convicto de que não havia quebrado nenhuma lei moral, sendo, portanto, inocente e que o seu sofrimento não teria razão aparente. Mas diante das acusações dos amigos, ele está disposto a abandonar toda tentativa de se autojustificar (Jó 19- 21-24). Ele quer abandonar toda instância humana e apelar para um mediador (redentor) que defenderá sua causa. Ele não quer mais se defender; ao invés disso, apela para alguém totalmente justo, que vai ficar entre ele e Deus. É ai que ele contempla a cruz: "Eu sei que meu redentor vive" (v.25). A palavra "redentor" traduz o hebraico goel e significa alguém que defendia um familiar quando este não podia fazer sua própria defesa. Os primeiros líderes da Igreja entendiam que Jó predisse a ressurreição que será efetuada por Cristo no final dos tempos e da qual ele participará. 0 patriarca queria a intercessão desse justo, imparcial e eficiente mediador. III - O PECADO EM CONTRASTE COM A MAJESTADE DE DEUS 1.A grandeza de Deus. O terceiro discurso de Bildade é feito para exaltar Deus e rebaixar Jó (Jó 25.1-6). Não há como negar que o longo debate entre Jó e seu amigo, esgotou o poder argumentativo de Bildade, o que fez com que ele repetisse várias vezes o que já havia dito. Na verdade, o seu último discurso não traz nada de novo. No capítulo 25 ele destaca a onipotência divina. Deus é grande e poderoso (v.2). Por isso nada há de errado quando Bildade defende a majestade do Altíssimo. Todavia, como alguns autores destacam, Bildade acaba por criar um abismo que não existe entre a criatura e o Criador. O Deus defendido por ele não é o revelado na Bíblia. As idéias de Bildade se antecipam àquela defendida milênios depois pelo deísmo do final do século XVIII. Segundo os deístas, Deus criou o mundo, mas ausentou-se dele. 2. Onipotente, mas não ausente. Dó responde a Bildade com ironia: "Como ajudaste aquele que não tinha força e sustentaste o braço que não tinha vigor!" (Dó 26.2). Aqui, Dó não questiona a onipotência divina, mas a aplicação que Bildade faz desse conceito. O conceito de um Deus grandioso, que é soberano em suas ações, não deveria vir acompanhado também do conceito de um ser compassivo e amoroso? Deus não deve ser visto apenas em sua força, mas, sobretudo, por seu amor. Ele nunca exaltou seu poder e grandeza acima do
  • 32. seu amor. Ele não disciplina simplesmente porque é grande, forte e soberano, mas porque ama. Diferentemente do conceito apresentado por Bildade, o Deus que a Bíblia apresenta é poderoso e glorioso, mas, principalmente, misericordioso e gracioso. Temos de cuidar para que no momento do sofrimento não manchemos a imagem de um Deus que não é só força, mas igualmente amor.
  • 33.
  • 34. I - DEUS SE MOSTRA SÁBIO OUANDO AFLIGE O PECADOR 1. Deus grande e sábio. Zofar defende que o sofrimento de Jó fazia parte de um sábio julgamento divino, pois, para ele. Deus demonstra grande sabedoria em reprimir os maus. Por outro lado, os bons jamais passam por tribulação. Para Zofar, se alguém deve algo tem de pagar. Com dureza, o terceiro amigo de Jó não demonstra a mínima compaixão pelo sofrimento do patriarca de Uz ao acusá-lo de que se comporta como um animal irracional,
  • 35. um jumento que não tem entendimento (11.12) ao não perceber a sabedoria divina na condução das coisas. Para Zofar, Jó valeu-se na sua defesa de palavras exageradas (11.2), desrespeitosas (11.3), cheias de justiça própria (11.A) e ignorantes sobre as coisas de Deus (11.5,6). 2. Deus não é indiferente à ação do ímpio. O terceiro amigo de Jó acreditava que ele havia se autodeclarado "puro" e "sem culpa" (Jó 11.4; cf 9.21; 10.7). Cria também que Deus não é indiferente à ação do ímpio como Jó parecia ter sugerido. Assim, para Zofar, se Deus debatesse com Jó, como era desejo deste, então não haveria dúvidas de que Ele ficaria contra o patriarca e não ao seu favor. Nesse embate. Deus revelaria a Jó os segredos de sua sabedoria e o homem de Uz veria que Ele estava sendo sábio em tratá-lo como merecia. Logo, Jó seria condenado. 3. Tolos se passando por sábios. Jó reage com ironia à “sabedoria" defendida anteriormente por seus amigos ("vós", Jó 12.2) e agora por Zofar. Este, juntamente com seus amigos, havia se levantado como legítimo representante do verdadeiro saber. Zofar, pois, pretende representar o próprio Deus em seu discurso (Jó 13). Todavia, Jó está convencido de que isso não passava de charlatanismo: "Vós, porém, sois inventores de mentiras e vós todos, médicos que não valem nada" (Jó 13.4). Ele, portanto, está resoluto em deixar os amigos e ir à procura de Deus: "Mas eu falarei ao Todo- Poderoso; e quero defender-me perante Deus." (Jó 13.3). O patriarca estava certo de que havia uma sabedoria do alto, que seus amigos desconheciam por completo, e, quando revelada, ficaria ao seu lado (cf. cap.28). No lugar dos julgamentos dos homens, há uma sabedoria do alto que sonda os corações dos que são chamados pelo nome do Senhor, pois Este não vê como os homens veem (1 Sm 16.7). II - A CONVERSÃO COMO RESPOSTA À AFLIÇÃO 1.Purificação moral. Nos versículos 13-20 do capítulo 11, Zofar conclui seu discurso sobre a situação de Jó. Ele não tem dúvidas de que o patriarca está em pecado e, por isso, a única forma de ele se restabelecer é por meio de uma purificação moral. Zofar, portanto, conclama Jó ao arrependimento e conversão. Ele enumera três passos para que isso aconteça: conduta correta (v.13); oração (v.13) e renúncia ao pecado (11.14). Então, segundo Zofar, se Jó cumprisse essas condições, reconhecendo que estava em pecado, Deus o restauraria de sua miséria. Entretanto, a ideia de arrependimento de Zofar é mais de natureza externa do que interna. O que está em vista é uma teologia do moralismo salvífico em vez da graça divina. Nesse aspecto, o arrependimento não passava de um mero ritual. Na teologia de Zofar a simples prática desses ritos traziam consigo o poder de conferir o favor divino. Na verdade, isso era o que se
  • 36. conhece hoje como legalismo religioso. 2. É possível negociar com Deus? Estudiosos destacam que Zofar tenta induzir Jó a negociar com Deus a fim de se ver livre de suas dificuldades. Era exatamente isso que Satanás desejava que Jó fizesse (Jó 1.9). O Diabo acusou Jó de ter uma fé interesseira, com base nas promessas de prosperidade em troca de sua obediência. Se Jó tivesse seguido o conselho de Zofar, teria feito exatamente o que o Inimigo queria. 3. A angústia de Jó. Diante das insistentes acusações dos amigos e do silêncio de Deus, Jó dá sinais de desânimo (cap.12 -13). Ele manifesta de vez toda a sua condição humana. O justo sofre! Se Jó seguisse o conselho de Zofar estaria assinando um termo de confissão. Assumindo algo que não havia feito. Ele sabia de sua integridade e, por isso, não se sujeita a esse capricho do amigo. Isso o lança num dilema angustiante. No capítulo 14, ele demonstra que sua esperança está desvanecendo, comparando-se a uma flor que é cortada, uma sombra que desaparece e um empregado que trabalha, mas que logo é dispensado. Qual o sentido da vida nessas circunstâncias? Haveria esperança? Jó parece estar desiludido. Até mesmo uma árvore quando tem seu tronco cortado volta a ter brotos novamente, mas isso não acontecia com o homem. Nesse aspecto, o homem se assemelhava mais a água que evapora ou que se infiltra na terra. Diante desse quadro, Jó se pergunta: "Morrendo o homem, porventura, tornará a viver?" (Jó 14.14). Era a pergunta de um homem crente e piedoso, porém, angustiado, que não tem medo de expressar sua verdadeira condição humana. III - DEUS JULGA E CASTIGA OS PECADORES 1. O castigo dos maus. 0 capítulo 20 contém o segundo discurso de Zofar. Nele, Zofar lembra a Jó que a aparente prosperidade dos ímpios não passa de ilusão e dura apenas um instante. Na verdade ele repete o que os seus outros amigos já há muito vinham dizendo (Jó 20.5). Os versículos 12 a 14 desse mesmo capítulo são usados por Zofar para comparar o deleite do ímpio à uma comida envenenada. Ela pode saciar, mas proporcionará uma digestão trágica (Jó 20.14). Dessa forma, tudo o que o ímpio adquiriu de forma desonesta e pecaminosa terá que devolver e restituir (Jó 20.18). Esse ímpio terá como adversário o próprio Deus, que o julgará e punirá (Jó 20.27- 29). 2. Jó diante de um paradoxo. 0 capítulo 21 traz a resposta de Jó ao argumento de Zofar. Para o patriarca a tese de Zofar de que os ímpios são sempre punidos era contraditada pela experiência. Os ímpios poderiam sim ser punidos, mas isso nem sempre parecia acontecer, conforme descrito: "Por que razão vivem os ímpios, envelhecem, e ainda se esforçam em poder?" (Jó 21.7). Jó havia constatado que os ímpios pareciam gozar de
  • 37. longevidade e prosperidade (Jó 21.8). Além de terem vida longa, eles passavam seus dias em total regalia e morriam em total felicidade, como podemos constatar neste versículo: "Passam eles os seus dias em prosperidade e em paz descem à sepultura" (Jó 21.13 - ARA). 3.A verdade vem à tona. A lei da retribuição não se aplica a todas as esferas da existência humana nem explica os caminhos soberanos do Altíssimo, pois Deus também "faz que o seu sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos" (Mt 5-45).
  • 38.
  • 39.
  • 40. I - A SABEDORIA VISTA COMO UM BEM NATURAL 1.O empenho na busca da sabedoria. Neste capítulo (28) Jó faz um contraste entre a busca do homem por minérios naturais e a sabedoria. Primeiramente, o patriarca descreve a habilidade do homem na exploração dos minérios naturais (vv.1-11). Então, ele contrasta o trabalho nas minas com a busca do homem pela sabedoria. Da mesma forma que desde os primórdios o homem usa diligentemente a tecnologia na busca de metais preciosos, assim também ele tem empreendido um grande esforço para encontrar a sabedoria. Para ser encontrado, primeiramente, o minério precisa ser garimpado; a sabedoria igualmente. 0 minério existe, mas está enterrado; a sabedoria existe, mas está oculta. 2.Como quem explora o minério, assim o homem faz com a sabedoria. No trabalho de mineração requer-se habilidade, diligência, persistência e muita técnica na execução; a busca da sabedoria também demanda tais características. As minas geralmente são locais de difícil acesso e de pouca iluminação, por isso, há a necessidade de se abrir caminho e colocar luz artificial (vv.3,4). Assim também ocorre no empreendimento do homem pela busca pela sabedoria, mas apesar de todo o esforço nessa procura, Jó crê que isso tem sido feito sem sucesso. 3.De onde vem a sabedoria? Jó demonstra que o homem tem sido exitoso no seu trabalho junto às minas, todavia, incapacitado na "escavação da sabedoria". Tem procurado, mas não tem encontrado. O homem descrito por Jó é capaz de desviar o curso das águas, a fim de evitar a inundação das minas (v.12), mas não é capaz encontrar a sabedoria. A sabedoria dos sábios e da academia estava disponível para ser alcançada. Todavia, a sabedoria retratada por Jó não era fruto da tradição nem podia ser obtida pelo método acadêmico. Embora os metais preciosos pudessem ser encontrados na terra escavada, a verdadeira sabedoria não podia ser obtida pelo simples esforço humano. Isso justificava o conflito que havia entre a teoria teológica dos amigos de Jó e a vivência concreta do patriarca. Portanto, a verdadeira sabedoria não era propriedade dos sábios, mas uma dádiva de Deus. Tiago nos lembra de que “se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não o lança em rosto; e ser-Lhe-á dada" (1.5). II - A SABEDORIA VISTA COMO UM BEM COMERCIAL 1. O preço da sabedoria. Podemos ver um paralelo entre a sabedoria exposta por Jó neste capítulo (vv.12-19) com a descrita no livro de Provérbios. Esse livro, por exemplo, contém várias exortações para se adquirir a sabedoria. Todavia, há uma diferença entre o que Jó ensina e o que Salomão ensinou sobre
  • 41. a sabedoria em Provérbios. Em Salomão, a sabedoria tem um custo e pode ser encontrada, se buscada com diligência e entendimento. Ela tem seu preço e pode ser passada de pai para filho (Pv 4.5,7,23). Por outro lado, para Jó a sabedoria está em outro patamar. Ela tem valor, mas não preço. Como bem destacam estudiosos, a sabedoria em Jó é incomparável, não se pode comprar ou trocar com todos os outros tesouros. É patrimônio exclusivo de Deus; não é possessão dos mestres, por isso, não pode ser transmitida (cf. Tg 1.5). 2.O valor da sabedoria. Sobre o valor da sabedoria vale a pena recordar o que disse certo pregador londrino: "A sabedoria é o uso correto do conhecimento. Conhecer não é ser sábio. Muitos homens têm extensos conhecimentos e, justamente por isso, são os mais tolos. Não há tolo maior do que o tolo instruído. Mas saber como usar o conhecimento é ter sabedoria". Assim, em Jó, vemos que o homem ainda não aprendeu o verdadeiro preço da sabedoria nem onde encontrá-la (Jó 28.13) e que, por isso, acredita ser fácil adquiri-la. 3.A sabedoria não é um bem comercial. O patriarca não nega que a sabedoria exista ou que ela pode ser encontrada, mas o que ele diz é que a sabedoria não é um bem comercial. Ela não pode ser encontrada em toda parte, nem mesmo nas mais poderosas forças da natureza primitiva - o abismo (hb. tehon) e o mar (hb. yam). A sabedoria é de valor inestimável e só quem pode concedê- la é Deus. III - A SABEDORIA VISTA COMO UM BEM ESPIRITUAL 1.Uma verdade revelada. No versículo 20, Jó faz a importante pergunta: "De onde, pois, vem a sabedoria, e onde está o lugar da inteligência?". Anteriormente, Jó fez um contraste entre o trabalho de um minerador e o de quem procura a sabedoria. Nele, os homens, semelhante a um mineiro, têm garimpado à procura da sabedoria, mas, mesmo assim, não têm achado. Toda diligência, técnica e determinação não têm sido suficientes para que ele a encontre. A sabedoria não está no centro da terra, nem com os sábios, de forma que possa ser passada pela simples via da tradição. Ela está oculta. Todos os esforços humanos revelam-se inúteis na sua aquisição. A sabedoria está em Deus e somente Ele pode outorgá-la. Deus é a fonte da sabedoria e somente Ele pode revelá-la. 2.Uma verdade prática. A sabedoria vem de Deus. Ela está em Deus e é Ele quem a revela. A sabedoria divina não é uma verdade a ser apenas contemplada, mas a ser vivida. Ela é prática. Jó diz que a sabedoria está no "temor do Senhor" (Jó 28.28). O temor do Senhor aproxima o homem de Deus e o afasta do mal. A sabedoria, portanto, é relacionai. Esse foi um testemunho
  • 42. que o próprio Deus já havia dado sobre Jó. Ao contrário de seus amigos, ele vivia a sabedoria divina. Não apenas a sabedoria contemplativa, tradicional, transmitida pela tradição. A sua sabedoria era uma verdade revelada, por isso, convertia- -se em ação prática e relacionamento duradouro.
  • 43.
  • 44. I - JÓ RELEMBRA SEU PASSADO DE GLÓRIA 1.Prosperidade material e espiritual (29.1-11). Jó demonstra um sentimento nostálgico com relação a seu passado. A primeira coisa que se lembrou desse passado glorioso foi a comunhão que ele desfrutou com Deus (Jó 29-2,4). Eram lembranças de um passado que não mais existia. Ele lembra que Deus o protegia (Jó 29-2); suas bênçãos sobre ele e sua família (Jó 29.3); sua orientação em meio às dificuldades (Jó 29.3); e a presença real de Deus na vida dele (Jó 29.5). Jó, portanto, havia sido um homem grandemente abençoado por Deus. 2. Reconhecimento social (29.14-25). Jó também se lembra de sua antiga condição social, quando exercia a função de um respeitado juiz de sua cidade (Jó 29-7). Tanto os jovens como os velhos o pro- curavam para serem orientados (29.8). Talvez isso explique a linguagem jurídica que aparece com
  • 45. frequência nos diálogos do livro. Isso demonstra que ele exercia um importante papel social na sua comunidade. Ele ajudava o desvalido, dava orientação de forma sábia e agia com justiça (Jó 29.14-20,21-25). Na sua busca pela justiça social, Jó protegia os pobres e punia os opressores (Jó 29-17). Seu amor e defesa pela justiça eram-lhe como uma vestimenta e adorno (Jó 29.14). Ele dava apoio social aos menos favorecidos e era como se fosse os "olhos" do cego. Até mesmo com os estrangeiros ele se preocupava (Jó 29.15,16). Tendo agido com justiça e equidade, nada mais natural que esperasse que seus dias terminassem em paz ao lado de sua esposa e filhos (Jó 29.18). O contrário disso não estava em sua agenda: terminar a vida sem saúde, sem honra e sem paz com Deus. 3. Uma ponderação importante. Não há dúvida de que Jó, conforme a Bíblia mostra, era um modelo de justiça social. Todavia, devemos ter o cuidado de não transportar para dentro do texto bíblico nenhuma teoria moderna de justiça social firmada em valores materialistas contrários aos defendidos nas Escrituras. De fato ele era um homem que defendia a justiça social, mas nem de longe se pode classificá-lo como um socialista nos termos modernos. Isso seria forçar o texto, ir além do que está escrito e sobrepor o pensamento político na Bíblia. II - JÓ LAMENTA SEU ESTADO PRESENTE 1.Desprezo por parte dos jovens e das classes menos favorecidas (30.1- 23). Após lembrar com tristeza da sua antiga condição social próspera, Jó lamenta o ponto que havia chegado sua miséria. No Antigo Oriente, os mais velhos eram objetos de grande estima (Pv 20.29). Por isso, quando gozava de sua prosperidade, ele era respeitado não apenas pelos mais velhos, mas também pelos mais jovens. Entretanto, Jó lembra que "agora se riem de mim os de menos idade do que eu, e cujos pais eu teria desdenhado de pôr com os cães do meu rebanho" (Jó 30.1). De homem respeitado, ele passou a ser visto como uma escória social (Jó 30.1-8). Jó, portanto, lamentava estar no fundo do poço. 2.Abatimento físico e emocional (30.16-31). O patriarca se sente um homem abandonado por Deus, por isso, essa lembrança o lança numa profunda tristeza e produz em sua vida um grande sofrimento que, além de físico, era também de natureza emocional. Como o salmista, Jó lamenta suas dores (Sl 42.4). Nas suas vestes, ele via uma prova real de seu sofrimento (Jó 30.18). Nesse sentido, no versículo 18 aparece a palavra "desfigurou". Alguns intérpretes acreditam que a palavra melhor traduzida é "manchada". Ou seja, as feridas abertas de Jó haviam manchado suas vestes. Ele imagina que Deus está por trás de todo esse sofrimento (Jó 30.19) e que, mesmo
  • 46. depois de clamar, o Altíssimo lhe ignora. O homem de Uz sente-se caçado como um animal selvagem e atormentado por um furacão (Jó 3.21,22). 3. Deus teria abandonado Jó? O sofrimento emocional de Jó refletia a sua crença de que havia sido abandonado por Deus (Jó 30.16-23). Todavia, era também um reflexo de ter sido abandonado pelos homens (30.24-31). Junto a isso, ele observou que o seu clamor foi totalmente desconsiderado. Doía saber que havia ajudado muitas pessoas carentes e necessitadas de socorro (Jó 30.25), mas agora o seu clamor por socorro ser totalmente ignorado. Em vez de ajudado, ele era repelido como uma escória social (Jó 30.26). Quantas pessoas não passam por esse sentimento? Quantas vezes um sentimento de injustiça não assola- nos à alma? Cheguemo-nos diante de Deus e entreguemos tudo em seu altar. III - O FUTURO EM ABERTO DE JÓ 1. Jó em defesa de sua ética sexual (31.1-4). Seus amigos silenciaram, Jó sabe que nada está resolvido, o futuro ainda está em aberto e se mostra incerto. Haverá alguma resposta? Ao querer mostrar a sua inocência, Jó ainda sente a necessidade de se defender. A primeira defesa dele é em relação ao comportamento ético-sexual, dizendo que sempre se comportou com integridade em todas as esferas da sua vida. Nos versículos 1-4 do capítulo 31, ele mostra, por exemplo, que jamais permitiu desvios de seu comportamento sexual, fazendo uma aliança com os próprios olhos para evitar a luxúria e a impureza quando olhasse para uma donzela. Segundo o ensino do Novo Testamento, somos estimulados também a fazer um concerto com os próprios olhos (Mt 5.27-30). 2.Jó em defesa de sua ética social (31.16-23). Jó também faz uma defesa de sua ética social. Ele já havia mostrado que a justiça social marcou sua forma de agir. Todavia, ele lembra que isso só foi possível porque procurou conduzir-se sempre por princípios de uma ética social. Por exemplo, ele sempre tratou o órfão e a viúva com humanidade; os escravos, mesmo sendo sua propriedade, tinham liberdade para o procurarem e apresentarem-lhe suas queixas. O seu comportamento ético-social o habilitou a agir como tribuno dos desvalidos (Jó 31.13-23). Lembremo- nos da verdadeira religião, como bem Tiago afirmou: "Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo" (1.27). Eis um dos fundamentos de nossa ética social. 3.Jó busca a resposta de Deus (31.35-37). Agora Jó se dirige a Deus na forma exclamativa: "Ah! Ouem me dera um que me ouvisse!" (v.35). Ele já havia feito uma viagem retrospectiva sobre o seu passado, agora ele faz uma análise sobre sua
  • 47. situação presente, mas seu olhar está no futuro. Ele quer se apresentar diante de Deus porque está consciente de sua inocência. Sua confiança é de um príncipe que se apresenta diante de um tribunal (Jó 31.37). Ele confia de que será inocentado. Como podemos nos apresentar diante de Deus e justificar os nossos atos? Pela graça divina, por meio de Jesus Cristo, o Filho de Deus, Ele mesmo nos justifica (Rm 8.31-33).
  • 48.
  • 49. I - O SOFRIMENTO COMO UMA FORMA DE REVELAR DEUS 1. Deus é soberano (33.14,15). Nesse primeiro discurso, Eliú destaca a queixa de Jó porque Deus não lhe respondera. Para o jovem amigo do patriarca, este não leva em conta a majestade divina que distingue o Criador de suas criaturas. Nesse sentido, Jó havia ignorado que Deus é infinitamente maior do que o homem e não precisa explicá-lo acerca suas ações nem de seu silêncio.
  • 50. 2. O orgulho do homem priva-o de ouvir Deus. Todavia, mesmo sendo um ser transcendente. Deus não deixa de se revelar ao homem quando julga necessário. Por isso, Eliú não aceita o argumento de Jó sobre o silêncio de Deus, pois Ele fala ao homem de várias maneiras, incluindo sonhos e visões (Jó 33.14,15). De acordo com Eliú, o problema não é o silêncio do Altíssimo, mas o orgulho humano que não lhe permite escutá-lo. O jovem acredita que mesmo o patriarca considerando-se moralmente puro, padece do pecado de orgulho (Jó 33.17). Na visão de Eliú, a revelação de Deus tem o propósito de livrar o homem da soberba que o conduziria à morte (Jó 33.17,18). 3. Mistério da redenção. Além de sonhos e visões, Eliú também destaca que Deus usa a enfermidade como um dos canais de comunicação entre Deus e o homem (Jó 33.19-22). Por causa dela, Ele pode enviar um anjo para anunciar a Jó o seu dever (Jó 33.23), dizer o que ele deve fazer e, também, interceder em favor da saúde do patriarca. Dessa forma, esse mensageiro anuncia o que é justo e bom a fim de recuperar o estado de justiça que Jó desfrutava antes da enfermidade. As funções que são atribuídas a esse mensageiro-mediador fazem com que os intérpretes bíblicos vejam nesse ser celeste uma referência ao anjo do Senhor, uma teofania do Senhor Jesus Cristo (Gn 16.9; 22.11; Êx 3.2; Jz 6.11). Não há dúvidas de que esse mediador é a mesma testemunha celestial que Jó pedia que defendesse a sua causa (Jó 16.19) e o redentor que o justificasse depois de sua morte (Jó 19.25). Nesse sentido, conforme podemos atestar no livro, o ministério desse mensageiro é um ato decorrente inteiramente da graça de Deus em favor de Jó para mediar sua causa e resgatá-lo (33.24). II - O SOFRIMENTO COMO MEIO DE REVELAR A JUSTIÇA E A SOBERANIA DE DEUS 1. A justiça de Deus demonstrada. Quando defende a justiça de Deus, Eliú faz coro com seus amigos na acusação contra Jó. Em sua perspectiva, os argumentos de Jó não passavam de insolência. Como pode o Todo-Poderoso agir com injustiça conforme Jó deixou subtender? Deus jamais age injustamente, pois isso contrariaria sua própria natureza (Jó 34.10,12). 2.Caráter justo de Deus. Para não haver dúvida, Eliú passa a descrever o caráter justo de Deus: (l) Ele age com justiça quando retribui ao homem o que ele merece (Jó 34.11); (2) Deus não precisa prestar contas de seus atos a ninguém, visto que não recebeu autoridade de nenhum outro ser criado (Jó 34.13); (3) como o provedor da vida humana, Ele tem todo o poder de manter ou não a humanidade (Jó 34.14,15); (4) o Todo-Poderoso não faz acepção de pessoas, quer sejam reis, nobres ou pobres (Jó 34.16-20); (5) Deus é onisciente e como tal conhece os passos e as intenções de todos os homens sem precisar inquiri-los em
  • 51. juízo (Jó 34.21-25); (6) Ele é justo para punir os maus (Jó 34.25-30). 3. A defesa da soberania de Deus. Atente para a seguinte pergunta: "Será que Deus deve recompensá-lo segundo o que você quer ou não quer?" (Jó 34.33 - NAA). Eliú encerra o capítulo mostrando a Jó que Deus, em sua soberania e livre vontade, não tem a obrigação de agir segundo o querer do homem. Sendo soberano, Ele não está sujeito a qualquer julgamento humano. Portodo o livro de Jó o autor destaca a soberania divina. Um exemplo disso está claro no uso da palavra "Todo- poderoso" que ocorre 31 vezes. Para Eliú, portanto, por ser Soberano, Deus jamais age com injustiça como Jó dera a entender. Todavia, é preciso destacar duas coisas sobre fala de Eliú. Primeiramente, ele, assim como seus amigos, erra por partir do princípio de que Jó havia cometido pecado. Em segundo lugar, Eliú exalta apenas a justiça de Deus e nada diz acerca de sua misericórdia. Para ele, o Altíssimo havia posto sua justiça soberana acima do seu amor, o que é um erro crasso. Deus, sem dúvida alguma, é justo; mas grandiosamente amoroso e misericordioso. III - O SOFRIMENTO COMO UM INSTRUMENTO PEDAGÓGICO DE DEUS 1.O caráter pedagógico do sofrimento (36.7-15). Há uma diferença entre o pensamento teológico de Eliú e o de seus amigos. Elifaz, Bildade e Zofar acreditavam que o sofrimento de Jó era por causa de um pecado cometido por ele e sua recusa em reconhecê-lo. Eliú também crê dessa forma, mas vai além. Embora compreenda que, durante sua provação, Jó se comportou de forma pecaminosa, Eliú introduz a ideia de que o sofrimento tem um caráter pedagógico (Jó 36.15). O caráter pedagógico do sofrimento está na capacidade de nos fazer refletir e voltar para Deus. Dessa forma, os justos aprendem com o sofrimento. 2. Adorando a Deus na tormenta. No capítulo 36 e versículo 26, Eliú afirma que "Deus é grande, e nós o não compreendemos". Para ilustrar o argumento da grandeza de Deus, ele faz uma explanação sobre a ação de Deus nas estações do ano: Outono, Inverno, Primavera e Verão. O argumento de Eliú tem por objetivo demonstrar a grandeza de Deus sobre a criação e como esse fato deve fazer com que Jó o reconheça como grande e o louve como tal (Jó 36.24-25). A fala de Eliú põe em destaque o argumento contraditório de Jó, que por um lado magnificava a majestade de Deus, mas por outro murmurava contra Ele. Nesse aspecto, Eliú acerta em mostrar que a adoração e a murmuração não podem coexistir, são atitudes excludentes. Jó 37.6-13 ilustra de forma poética o pensamento do orador. É uma metáfora da situação do patriarca, que no meio da tormenta, em todo o seu impacto e estrondo, pode contemplar o caráter pedagógico do amor de Deus.
  • 52.
  • 53. I – A REVELAÇÃO DE UM DEUS PESSOAL 1. O Deus que tem voz. O Altíssimo havia falado nos dois primeiros capítulos, mas essa fala era totalmente desconhecida por Jó e seus amigos ao longo do livro. Assim, até o capítulo 38, houve muitas falas sobre Deus. Jó falou, sua mulher e seus amigos falaram. Todavia, Deus mesmo não falou durante todo esse período. Ele estava o tempo todo presente, mas sem dizer nada a Jó. Até que quebrou o silêncio: "Depois disto, o SENHOR respondeu a Jó de um redemoinho" (Jó 38.1). 2. A poderosa manifestação de Deus. A cena, sem dúvida, é impactante, parecida com a da pesca maravilhosa (Lc 5.1-11).Quando Simão Pedro, após seguir a orientação de Jesus, pegou uma grande quantidade
  • 54. de peixes ao recolher as redes que havia lançado, imediatamente exclamou: "Senhor, ausenta-te de mim, por que sou um homem pecador" (Lc 5.8). A majestade divina impactou a Pedro. Não foi diferente com o patriarca Jó. Ele ouviu a voz que tanto ansiava por ouvir. O Altíssimo revelou-se pessoalmente. Jó estava diante de uma manifestação teofânica de Deus, e Este falava-lhe do meio de um redemoinho. Essa forma de manifestação divina é confirmada ao longo das Escrituras, como, por exemplo, com Moisés (Êx 19.16-19). Isso mostra que Deus não é impessoal. Pelo contrário, Ele é um Ser que se revela e fala com homens. Jó teve a sua vida transformada depois de ouvi- lo. 3.Deus que está presente. Expositores bíblicos destacam que Deus se revela como "Jeová", o Deus do pacto. Entre os capítulos 3 e 37 aparecem várias referências a Deus como El Shaddai, o Deus Todo- Poderoso. Na teologia tradicional exposta pelos amigos de Jó era uma forma fria e distante de se referir a Deus. Um Deus que existe, mas que está longe dos homens. Dessa forma El Shaddai era, no entendimento deles, o nome que identificava Deus como forte e poderoso, mas distante e indiferente. Essa visão tradicional de Deus acabou por exaltar sua soberania, mas diminuir sua compaixão e misericórdia. Nesse contexto, Jó clama por encontrar a Deus, chegar ao seu trono (Jó 23.3,8,9). Esse era o grande dilema do homem de Uz: pensar que Deus o havia abandonado. O patriarca nada sabia dos bastidores celestiais, onde o Diabo apostou na sua falta de integridade. Ele não sabia a razão do silêncio de Deus, daí toda a sua angústia e desespero por se sentir sozinho e abandonado. Para ele, o Criador se escondeu para não ouvir sua defesa. Mas o grande propósito do Livro de Jó revela que, mesmo quando estamos às escuras, andando somente por fé, e não por vista. Deus está presente e próximo de nós. II - A REVELAÇÃO DE UM DEUS SÁBIO 1. Na mecânica celeste. Deus convida Jó a contemplar o universo e vê-lo como funciona (Jó 38). Há uma mecânica celeste que rege os fenômenos naturais de forma que garanta sua perfeita regência. O Criador desafia Jó a contemplar tudo isso e ver como seu funcionamento harmônico atende a um propósito superior. De fato, o salmista disse que "os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos" (Sl 19-1). Jó se comportara como um grande sábio, mas Deus mostrou-lhe que ele nada sabia. Por isso, o Criador o desafia a contemplar o mar e o sol (Jó 38.8-15), pois ele nada sabia da origem dos oceanos, da grandeza da luz solar e, menos ainda, das dimensões da Criação. 2. Na dinâmica da vida. Se Jó nada sabia sobre a ordem da criação, muito menos sabia sobre a
  • 55. providência divina para mantê-la (38.39-41). Jó deveria ser capaz responder as seguintes questões: Como veio a existir a Criação? Como ela é preservada? Saberia Jó explicar como Deus faz para alimentar os leões e seus filhotes? Como as cabras monteses conseguiam dar cria a seus filhotes e protegê-los dos predadores (39.1-4)? E sobre o jumento e o boi selvagem? O avestruz? O cavalo de guerra? O falcão? A águia? Está claro que há uma providência divina que preserva as coisas criadas, pois todos esses animais foram projetados por um design inteligente com suas peculiaridades, modo de ser e de viver. Se Jó não sabia como explicar como eles viviam e se comportavam, o que o levava a pensar que poderia discutir com Deus de igual para igual? Era hora, portanto, de reconhecer o seu lugar e se humilhar diante da majestade divina. 3.Na necessidade de se conhecer melhora Deus. Era preciso que Jó contivesse seu orgulho. De fato, ele falou muita verdade sobre Deus, mas ignorou o quanto não sabia acerca do Criador. A revelação de Deus sobre a mecânica celeste e da vida não foi uma censura à integridade e sinceridade do patriarca. Aos olhos de Deus, ele permanecia um homem justo e íntegro, mas falto de humildade, pois agiu de forma presunçosa ao questionar a majestade divina. Era necessário, portanto, que conhecesse melhora Deus. Cada contorno da Criação, cada formação de uma vida e cada ato de preservação da Criação é Deus dando- se a conhecer ao ser humano. Reconheçamos o agir do Criador no universo e em nossa vida. III - A REVELAÇÃO DE UM DEUS PODEROSO E JUSTO 1. O Behemote o Leviatã. Nos capítulos 40 e 41, Deus faz referências a duas grandes criaturas. Ele chama a atenção de Jó para a natureza indomável desses animais, a fim de ilustrar seu poder divino. Algumas Bíblias traduzem esses termos como hipopótamo e crocodilo, respectivamente. Enquanto o Behemot representava a força bruta de um animal por excelência, o Leviatã se parece mais com uma criatura com poderes sobrenaturais. Ele se apresenta, por exemplo, dessa forma em Isaias 27. Assim, o Behemote o Leviatã representam o ápice da força tanto natural como sobrenatural, assim como é o inexplicável e maravilhoso mundo criado por Deus. Mesmo poderosos, Behemote Leviatã estavam debaixo da mão de Deus. 2. Justiça e graça. Se 3ó não é capaz de lidar nem com Behemot nem com o Leviatã, então, como poderia tratar desse mundo complexo? Ele agiria com justiça ao tratar dos complexos dilemas humanos? Deus deseja mostrar a J ó o seu erro ao dizer que o Criador não havia sido justo com ele nem com o ímpio (Jó 6.29; 27.1-6; 21.29-31; 24.1-7). Nesse sentido, Jó seria capaz de tratar com o mundo de forma melhor que Deus, como deu indiretamente a entender
  • 56. nas suas argumentações? Ele não era capaz de domar sequer duas criaturas criadas por Deus. Logo, jamais poderia ser igual ou mais justo que o próprio Criador, nem, muito menos, auto justificar-se diante dEle. Só a graça de Deus poderia justificá-lo. Ele dependería somente da graça divina. Não há nada que possa justificar o ser humano diante de Deus, senão a sua maravilhosa graça (Ef 2.8).
  • 57.
  • 58. I - A HUMILHAÇÃO DE JÓ 1. O Jó humilhado. Os capítulos 38, 39 e 40 demonstram como Deus expôs a Jó sua onipotência na Criação e sapiência em preservá-la. Ele mostrou que o patriarca era incapaz de, não
  • 59. apenas compreender a dinâmica da Criação, mas, sobretudo, fazer algo parecido com ela. Jó se convenceu de que seus próprios questionamentos eram injustos. Se ele não era capaz de fazer o que Deus fez, então, com que direito criticava os caminhos divinos? Se apenas uma das criaturas de Deus era capaz de impor terror em Jó, como se comportaria ele diante do Criador dessas criaturas? 2. Reverência e submissão. Diante da assombrosa visão da Criação de Deus, Jó agora exclama: "Bem sei eu que tudo podes" (Jó 42.2). Esse versículo demonstra sua atitude de reverência e submissão diante de Deus. Ele percebe que tudo o que aconteceu em sua vida tinha um desígnio divino e, portanto, era tolice discutir ou questionar com a sapiência divina: "Ouem é aquele, dizes tu, que sem conhecimento encobre o conselho? Por isso, falei do que não entendia" (Jó 42.3; cf. 38.2). Ao repetir a censura que Deus lhe fizera anteriormente, no capítulo 38, Jó demonstra não ver mais injustiça alguma nas ações de Deus. Ele admite que agiu com presunção, pois desconhecia os sábios propósitos divinos. 3. Uma experiência viva com Deus. A postura de Jó diante de Deus muda drasticamente. Ele ainda continua a se dirigir a Ele, mas não da mesma forma que fazia. Agora sua atitude é humilde, reflexo de uma experiência viva com Deus, conforme descrita nas seguintes palavras: "Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te veem os meus olhos" (Jó 42.3). Para Jó, Deus era conhecido apenas de ouvido, mas agora o patriarca viu o Criador. Essa experiência mudou-lhe a forma de ser. Segundo o teólogo Roy Zuck, Jó possuía um conhecimento de Deus apenas por tradição, de segunda ou terceira mão; mas agora ele o conhecia por meio de uma experiência pessoal. Não podemos nos contentar com um conhecimento teórico acerca de Deus, mas devemos experimentá-lo. Quando temos experiências vivas com o Altíssimo, renunciamos aos nossos "achismos" (42.3), confessamos nossa miséria "no pó e na cinza" (42.6), rejeitamos o nosso orgulho e rebeldia. Deus é glorificado em todas as áreas da vida. II - A INTERCESSÃO DE JÓ 1. A ira de Deus. Após ter se dirigido a Jó, o Senhor volta-se para Elifaz, o temanita: “A minha ira se acendeu contra ti, e contra os teus dois amigos; porque não dissestes de mim o que era reto, como o meu servo Jó." (Jó 42.7). Estas palavras dizem muito sobre o conteúdo teológico do livro de Jó. Demonstram que as exposições feitas pelos seus amigos não eram todas verdadeiras, pois partiam de premissas falsas. Eles não apenas acusaram o patriarca, mas associaram o seu sofrimento a algum pecado cometido por ele. Jó havia se humilhado, mas não do que lhe acusavam. Ele humilhou-se a respeito de suas falas precipitadas que
  • 60. revelavam orgulho e falta de bom senso. Em outras palavras, ele errou durante o seu sofrimento, mas não por conta de pecados cometidos antes do atual sofrimento. 2. O pecado dos amigos de Jó. Representados por Elifaz (42.7,9), o mais velho, o pecado dos amigos de Jó foi evidentemente exaltar a justiça de Deus, mas limitar seu poder soberano. Para eles, todo sofrimento deveria ser uma consequência de um juízo divino como resposta a um pecado praticado. Como o livro de Jó demonstra, quando dentro dos propósitos de Deus, o sofrimento é uma manifestação de seu amor e graça e não uma forma de punição (Jó 1.8-12). Paulo corrobora esse princípio quando diz que nos foi concedida a graça de padecermos por Cristo e não apenas de crermos nele (Fp 1.29). Nisto os amigos de Jó pecaram e, por isso, precisavam da intercessão do homem de Uz. 3. A oração de Jó. Deus dirige-se aos amigos de Jó e aconselha-os irem ao patriarca para que este interceda por eles (Jó 42.7,8). Esse episódio mostra que uma teologia errada, evidentemente, conduz para uma crença igualmente equivocada. Os amigos de Jó defenderam Deus de forma enérgica e sincera, mas errada. O sofrimento do patriarca não veio como uma punição, mas como provação. A fidelidade de Jó foi provada por Deus e ele foi aprovado pelo Criador, pois continuava íntegro e com seu caráter reto, conforme sua humilhação demonstrou. Agora, esse homem, outrora acusado de pecador pelos seus amigos, os socorrerá por meio da oração. III - A RESTAURAÇÃO DE JÓ 1. Restauração moral e espiritual. A restauração de Jó acontece primeiramente nas dimensões moral e espiritual. Convém destacar que as bênçãos recebidas por ele devem ser vistas como uma restauração e não retribuição. Não há uma teologia da retribuição no Livro de Jó, onde o ímpio é sempre punido e o justo sempre recompensado. A mensagem de Jó é diametralmente oposta a esse princípio. A lição moral e espiritual do livro é que Deus abençoa os homens porque os ama e não porque estão envolvidos numa troca de favores em que prevalece uma barganha espiritual. 2. Restauração social e material. A restauração de Jó também aconteceu nas dimensões social e material (Jó 42.11). As calamidades que sobrevieram sobre ele, especialmente, suas feridas físicas e emocionais, o expulsaram do convívio social. Ele suportou sozinho o que pensavam ser um julgamento de Deus. Mas agora todos veem a graça divina derramada de forma abundante sobre ele. Era, portanto, a hora de voltar ao convívio social e desfrutar de tudo o que o Senhor lhe deu, pois "o SENHOR acrescentou a Jó outro tanto em dobro a tudo quanto dantes possuía" (Jó 42.10). A restauração que o Senhor Jesus faz na vida do ser humano leva em conta todas as dimensões da vida. Ele
  • 61. restaura a vida espiritual, moral, social, material, trazendo dignidade ao homem que teve, por meio da graça divina, a imagem de Deus restaurada.