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Diácono Luciano José Dias
1.2.1. Deus no antigo testamento
Os fios condutores de sua revelação e sua identidade
No Antigo Testamento não existe uma teologia, mas muitas. Cada escritor, cada
tradição, cada escola foi registrando sua experiência particular de Deus.
Mesmo assim, e a despeito do fato de Deus ser chamada de muitos nomes,
temos que constatar que a nomeação de Deus como Javé ocupa o centro de
todos os escritos, embora, em alguns momentos dos registros de diferentes
autores, apareçam outros nomes e a nomeação do Deus de Israel conviva com
a nomeação de outros deuses. Javé aparece como o Deus que se revelou a
Israel e do qual este povo teve a experiência no êxodo, no Sinai e em muitas
outras circunstancias de sua história de mais de 1.500 anos, desde Abraão até
Jesus Cristo. Falar de Javé implica, para o povo de Israel, uma referência
obrigatória.
Algumas citações, no entanto, supõem a existência de outras divindades ao lado
de Javé no início da caminhada do povo de Deus (cf Ex 20,2s). Uma
apresentação de Deus no Antigo Testamento supõe um triangulo formado por
Javé, outros deuses e Israel. Só lentamente Israel foi superando o politeísmo
que ainda o rondava como tentação, a idolatria que às vezes a fascinava com
falsas promessas e ilusões, para estabelecer as bases sólidas da crença num
só Deus.
Os autores do Antigo Testamento não conseguiram (nem tampouco se
propuseram) a definir ou sistematizar de maneira unívoca a mensagem do Antigo
Testamento sobre Deus. Foram desenvolvendo paulatinamente suas
experiências e ideias do Deus vivo e refletindo sobre elas, até chegar a registrá-
las par escrito. Mesma assim, não se pode dizer que na Bíblia exista um tratado
sobre Deus. Os autores bíblicos não têm essa preocupação. E toda a tentativa
de definir sistematicamente o Deus da revelação se chocara com numerosas
dificuldades. No entanto, fazendo uma releitura do ponto de vista do Novo
Testamento, ou seja, desde a fé crista, que é a nossa, sobre a revelação de Deus
no Antigo Testamento, impõe-se a constatação e a afirmação de que Deus falou
ao povo desde sempre, de muitos modos e maneiras, mas ninguém nunca viu
Deus. Somente Jesus, o Filho único de Deus, que está no seio do Pai, nô-lo deu
a conhecer (cf. Hb 1,1s; Jo 1,18).
Com esse pano de funda, apresentamos agora a concepção de Deus no
2
Antigo Testamento, seguindo passo a passo os diferentes livros ou blocos nele
contidos:
1.2.2. Prelúdios do Javismo:
As tradições bíblicas diferem quanto à origem da fé Javista. O nome de Javé
aparece, no entanto, do princípio ao fim do Gênesis e, segundo (Gn 4.26),
remonta as origens da humanidade. No entanto, de acordo com Ex 3,13-15, o
nome de Javé se revela pela primeira vez a Moises, e não aos patriarcas. Ex
6.2-3. Por sua vez, Gn 35,2-4 indica claramente que os antepassados de Israel
adoraram outros deuses, diferentes de Javé (cf. Js 24, 2. 14-15).
Os livros de Gênesis e Êxodo, além de utilizar a palavra Javé para denominar a
Deus, empregam outros nomes para referir-se a ele, principalmente de dois
tipos:
1) Um Deus mais pessoal:
a) o deus de meu pai (Gn 31,5.42; Ex 15,2; 18,4); o deus de teu pai (Gn 31,53);
o Deus de seus pais (Ex 3,13.15.16; 4,5).
b) o Deus de Abraão (Gn 24,12.27.42.48; 26,24; 28,13; 31 ,53); o Deus de Isaac
(Gn 46,1).
c) o Deus de Abraão, teu pai, e o deus de Isaac (Gn 28,13); o deus de meu pai
Abraão e o Deus de meu pai Isaac (Gn 32,9); o Deus de vossos pais, o deus de
Abraão, Isaac e Jacó (Ex 3,6.15.16; 4,5).
2) Um Deus mais ligado a um lugar (topônimos ou epítetos divinos ligados a
um lugar) ou a alguma qualificação (adjetivos que exaltam a sua supremacia):
a) EI Elyon (o deus altíssimo): Gn 14,18-22.
b) EI Roi (o deus que me vê): Gn 16,13.
c) EI Olam (o deus eterno): Gn 21,33.
d) EI Elohe Yisrael (o deus de Israel): Gn 33,18-20.
e) EI Betel (o deus de Betel): Gn 31,13.
f) EI Shaddai (o deus poderoso): Gn 17,1; 28,3; 35,11; 43,14;48,3; 49,25.
Sobre essa pluralidade de nomeações há várias tendências e várias hipóteses
na exegese moderna. Aqui colocamos as três principais:
Primeira hipótese:
O deus dos pais é diferente do deus EL: não tem nome próprio, mas recebe seu
3
nome aqueles a quem aparece pela primeira vez e que fundam seu culto. É
ligado a um grupo, o qual protege e acompanha. Não tem morada fixa, segundo
o tipo de vida nômade dos patriarcas.
O deus EI já reflete a vida dos povos sedentários. O termo el (plural elim) se usa
como apelativo divino e como nome próprio de um deus determinado. Os elim
seriam divindades locais Cananéia com santuários fixos.
O deus dos antepassados de Israel é fruto da coexistência dos dois tipos de
divindades, devido a sedentarização de Israel em Canaã.
Segunda hipótese:
Ha uma identidade original entre o deus dos pais e o deus EI. O primeiro
representaria um tipo especial de adoração do deus EI, ao qual os patriarcas
possivelmente prestaram culto antes da sedentarização.
Terceira hipótese:
Contestam-se as predominâncias das nomeações de Deus no Antigo
Testamento.
Contesta-se a relação entre religião patriarcal e vida nômade dos antepassados
de Israel.
As expressões "o deus de meu pai" ou "o deus de fulano", na literatura do Oriente
Próximo, se referem a culturas sedentárias.
No segundo milênio a.C., não se pode estabelecer uma diferença entre
nomadismo puro e cultura sedentária. o trinômio família – tribo - estado é uma
abstração artificial. Designações como "o deus de Abraão", ampliada para
"Abraão teu pai”, "Abraão, Isaac e Jacó", aparecem nas narrações patriarcais
que usam literariamente o predomínio da família sobre a tribo e o estado. A
relação do ser humano com Deus aparece então a partir da analogia Pai-Filho.
As designações divinas e as promessas em Gênesis e Êxodo não provam a
existência de uma forma de religião pré - javista associada com a primitiva forma
de vida - nômade ou seminômade de Israel.
O fato e que, mesmo com estas discussões, os relatos patriarcais têm
inegavelmente um caráter familiar. O Deus de Gênesis 12 é um Deus que
acompanha, guia e protege a família, protótipo da família humana, da
humanidade. A promessa e a bênção divina apontam para o futuro e resgatam
o passado da grande família humana.
Retornando a análise da concepção de Deus no Antigo Testamento, vejamos o
segundo item:
1.2.3. O Javismo:
No Antigo Testamento, Javé e associado principalmente a Moises e ao Êxodo.
A formula de fé "Javé tirou Israel do Egito” é o cerne da tradição bíblica do Êxodo
e de todo o Antigo Testamento. isso pode ser constatado nos credos históricos
4
(Dt 6,21-23; 26,8; Js 24.6s "as festas religiosas (Dt 16,1-3.6; Lev 23,44), nas leis
(Dt 13,11; 20,1 e nos hinos (SaI 114, 1ss; 135,8s; 136,10 ss). Tal formula, no
entanto, é tardia. pois supõe a existência do grande Israel, um povo já
organizado como povo, com 12 tribos. E mais uma retroprojeção (projeção para
trás) do hagiógrafo, livros do Antigo Testamento, menos o Pentateuco e os
Profetas- na época de Moises.
O berço do Javismo parece ser o Sinai (Dt 33; Jz 5). Deus, então, aparece ligado
a montanha. diferente do Êxodo. Parece que o berço do Javismo deveria ser
buscado na era pré-mosaica (segundo as fontes bíblicas e extra bíblicas), na
montanha do Sinai, na região de Madiã. Ali, num mesmo momento histórico e
em zonas geográficas próximas e comunicadas entre si, diferentes grupos
(madianitas, shosu, proto-israelitas) tiveram experiências sociais e religiosas
similares ou idênticas.
O Deus que vai ser nomeado como Javé: Se revela, sobretudo em sua
atuação na história e em sua relação com o povo. Israel era um povo explorado
pelo Egito, de onde é libertado por uma intervenção especial de Javé (Ex 1-3).
Ele revela seu nome a Moisés: “Eu sou o que sou” (Eu sou o único existente, o
único que existe). O nome Javé é um tetragrama sagrado: YHWH (Ex 3,14ss).
Ele se revela a Moisés para o serviço do povo, em benefício de Israel. Israel
deve, então, reconhecer que Javé é para ele, o único Deus existente e o único
salvador.
A saída do Egito para Israel, dada a situação de escravidão em que se encontra
o povo, trata-se de uma verdadeira salvação. Javé é apresentado como um
guerreiro (Ex 15,3) que combate por seu povo (Ex 14,13). A fórmula Javé tirou
Israel do Egito passou à tradição veterotestamentária como o artigo fundamental
da fé de Israel.
1.2.4. O Deus do Sinai:
Javé tira o povo do Egito para conduzi-lo a uma terra boa. Mas entre o ponto de
partida e o de chegada se interpõe uma estação: o Sinai (Ex 19-24). Ali Javé se
manifesta (Ex 19) e conclui um pacto (Ex 24) com aqueles que tirou do Egito,
constituindo uma verdadeira comunidade, um povo novo. A aliança do Sinai não
se estabelece entre as diferentes tribos ou grupos que formarão o povo de Israel,
mas entre estes e Javé, numa relação única e singular. O êxodo foi como o
batismo do povo no mar, e a aliança ao pé da montanha é o passo decisivo para
a constituição do povo de Deus.
No Sinai, Javé se manifesta teofanicamente (Ex 19). A teofania na Bíblia significa
a manifestação de Deus, que é cercada de elementos maravilhosos e
extraordinários. Ali no Sinai, em meio à teofania, Javé revela sua lei (Ex 20-23)
e faz a aliança (Ex 24).
Eis portanto, a trilogia que constitui a experiência de Deus do povo no Sinai:
5
• A teofania: Javé se apresenta como um ser luminoso e fascinante, com
uma liturgia cósmica impressionante. Sua voz soa para transmitir o
decálogo (Ex 20,2-17) e o código da aliança (Ex 20,22-23).
• A lei: a revelada por Javé, dom de Deus a seu povo. A narração teofânica
aparece emoldurada por textos de aliança. O decálogo é o documento da
aliança.
• A aliança: é o compromisso fundamental do povo com seu Deus.
A experiência com Javé carrega consigo a exigência da rejeição dos outros
deuses, primeiro dos mandamentos (Ex 20,2-3). Ele libertou o povo e o introduziu
sob seu senhorio. A ação salvífica de Javé fundamenta as exigências dos
mandamentos e a proibição de ter outros deuses (Ex 20,3-5) e fazer imagens.
Javé se mostra desde o princípio como um Deus ciumento (Ex 20,5b-6; Dt 4,24;
6,15; Js 24,19), um Deus exclusivo, que não admite rivais. Isso se choca com o
politeísmo dos outros povos. Ele se empenha sumamente em tudo que faz:
quando salva e quando castiga. Pede contas das transgressões aos que o
odeiam, mas mostra misericórdia com os que o amam e observam seus
mandamentos (Ex 20,5b-6; 34, 65; Nm 14,18; Dt 7,95). Sua misericórdia sempre
prevalece sobre o castigo. Por isso, e por muito mais, Javé é um Deus
incomparável (Ex 15,11).
1.2.5. O Deus dos profetas:
Os profetas são homens de Deus, porta-vozes de sua revelação. Falam em
nome de Deus, proferem o juízo, 0 julgamento de Deus sobre a vida do povo, os
governantes, os latifundiários, os sacerdotes que abusam do culto. Eles são, por
assim dizer, a boca falante de Deus no meio do mundo e da história. Cada um
deles tem uma experiência própria e original desse Deus que os toma por inteiro
e se serve deles para dizer o que deseja ao seu povo.
O grande profeta de Israel é Elias. Embora não haja um livro profético com seu
nome, ele é o modelo de todos os profetas. Elias, que leva a marca de Deus em
seu nome (El), é um homem de Deus (1 Rs 17,18.24; 2Rs 1 ,9-16). Grande
responsável pelo monoteísmo javista de Israel, ele combate o deus Baal para
mostrar a unicidade de Javé, que é, para ele, o único e verdadeiro Deus. Por
isso, fala contra o rei Acab (1 Rs 18,17-20), contra o povo de Israel que adora
Baal (1 Rs 18,21-24) e contra os profetas de Baal que fomentam seu culto (1 Rs
18,25-30).
Os profetas clássicos (nome com que são designados os principais profetas,
autores de livros bíblicos) são, antes de tudo, transmissores da palavra de Deus.
O Deus dos profetas é o Deus que fala por sua boca: oráculo, assim diz Javé.
Estes oráculos são de condenação ou salvação, denuncia ou convite a
6
conversão, que são as duas dimensões da palavra de Deus e de Deus mesmo:
um Deus que castiga-condena e que perdoa salva. Vejamos como Deus é
apresentado em alguns deles:
Amos: Seu livro é estruturado em torno de vários nomes e designações de Deus,
nos quais se destaca o de Javé, relacionado estreitamente com o bem, a pratica
da justiça e do direito (cf. 5,4ss)
Oséias: Usa muitas imagens para caracterizar Deus (medico, caçador, pastor,
leão, pantera e ursa), mas a imagem do matrimonio e da paternidade -
maternidade de Deus se impõe. Javé é o marido e Israel, a esposa infiel, cujos
amantes são os baales (Assíria e Egito). Oséias lutou, como Elias e Jeremias,
pela purificação do javismo. Fala contra os ritos cananeus de fertilidade. Fala de
Deus como pai -mãe do filho pequeno Israel, um amor que transcende o de
qualquer ser humano.
Isaias: Para ele, Javé é o santo por excelência e o rei e senhor dos exércitos,
cuja gloria enche toda a terra (6,1ss). Com a santidade de Javé, Isaias contrasta
o pecado de Israel, que Javé castiga e condena
(9,12;10,16;30,9;3,8;5,13.29;6,11s;28,18ss), mas antes oferece conversão e
perdão (5,25; 10,4). Haverá um resto que se salvará e do qual sairá um rebento
sobre o qual repousará o espírito do Senhor (6,13; 11,1 s; 14,32; 28,16s). Será
da raiz de David, o messias que trará a justiça e o direito à terra (7-11).
Miquéias: Também fala de um resto, de um rei messiânico, (5,1 ss) e de
Jerusalém como centro de atração universal (4,1 ss).
Jeremias: Anuncia o Deus da palavra. A palavra de Deus e posta em sua boca
pelo próprio Senhor, para que cumpra a missão de arrancar-destruir e construir-
plantar (1,9.10.12). Deus escrevera sua lei no coração do povo, renovando-o e
transformando-o em seu interior. A brecha entre a lei de Deus e os desejos do
coração humano será fechada pelo mesmo Deus. A comunhão com Deus será
total. A nova aliança é escatológica: todos conhecerão a Javé.
Ezequiel: Fala do Deus transcendente e inacessível, mas presente através de
sua gloria (1,28; 3,23; 8,4; 10,1; 43,2). O Deus de Ezequiel julgara o povo por
seus pecados. Dentre os quais o mais grave e o da idolatria (14,18; 16,16;
20,28s).
Segundo Isaias (Is 40-55): Aqui, Deus e apresentado como o criador e o
salvador, anterior a tudo o que existe, na origem de tudo (43,10; 44,6.24) e
redentor do povo e de tudo que existe, fazendo uma nova criação (41 ,20; 48,7).
Javé se revela como um Deus singular, como um pai com entranhas de mãe. É
um Deus único e incomparável (41,4; 44,6s; 45,5.14.18.21). O monoteísmo
7
emerge no dêutero (segundo) Isaias como um monoteísmo soteriológico.
O Deus dos profetas é polifacético. Cada profeta destaca determinados traços
de seu rosto. Não falam tanto do ser mesmo de Deus, quanto de sua atuação na
história. Desse agir divino intra-histórico é que saem os diversos atributos divinos
(ciumento, misericordioso, santo, eterno), os títulos (criador, esposo, juiz, pai-
mãe, salvador, redentor), como também as imagens verbais para significá-lo
(Leão, caçador, médico, pastor, pantera, ursa).
1.2.6. O Deus dos sábios:
Ha cinco características principais sobre Deus nos livros sapienciais:
1) Muitos aspectos da vida são tratados sem uma referência explicita a
divindade.
2) Ha uma preferência frequente por expressões genéricas ou indeterminadas
ao referir-se a Deus.
3) Constata-se uma falta de referencia a eventos históricos.
4) Predomina uma descrição não mitológica do mundo e da divindade. Portanto,
uma descrição mais realista, com imagens da vida concreta e do cotidiano.
5) Percebe-se uma atitude reservada com relação ao culto.
E importante observar que cada um dos livros sapienciais apresenta sua própria
concepção de Deus:
Provérbios: Deus inspira temor (1,7;31,30). trata-se de um temor feito de respeito
filial, reverencia e amor, parte integrante da vida. Deus se remete ao
comportamento das pessoas, prova os corações e dá a cada um segundo suas
obras (16,2; 17,3; 21,2; 12,2; 24,12; 25,21s). A sabedoria não é mera
espectadora na criação e ordenação do mundo, mas a primeira criatura de Deus,
o plano de Javé sobre todas as coisas (8).
Jó: Deus e designado com vários nomes: Javé, nos marcos narrativos (1 s.;
42,7ss). No poema, como EI, Eloah, Elohim, Shaddai e EI-Shadda: (3,1-42,6).
No prólogo há uma imagem singular: Deus governa colegialmente o mundo (1,6;
2,1). Os amigos de Jó têm uma ideia coerente de Deus: ele e o criador todo
poderoso que assegura aos homens a justa retribuição de seus atos (4s; 8; 11;
15; 18), com uma justiça inquestionável. Jó discute o modo de proceder de Deus,
embora admita seu poder criador (10,8ss; 12,11 ss; 9,21; 10, 14ss; 6,4; 7,12ss).
Recorda o passado, quando Deus o protegia (29,1 ss), reconhece nele o
redentor (19,25-27), ressalta a bondade de Deus criador (38,31 ss; 39,5ss) e seu
controle sobre o mundo e a realidade.
Qohélet ou Eclesiastes: Deus é sempre chamado de Elohim. Deus é um ser
misterioso e invisível, impossível de ser conhecido. Oculta-se mais do que se
manifesta (3,11; 8,16s; 11,5). E criador e juiz (11,9), e dono e soberano da vida
8
(8,15) e dele depende a sorte e a desgraça (2,24-26; 7,14).
Eclesiástico: Toda sabedoria vem de Deus (1,1) e o temor de Deus é sua raiz (1
,11-20). Os que temem o Senhor lhe obedecem e amam (2,7-17). O temor de
Deus e equivalente a sabedoria, grande dom do Senhor a seu povo (24).
Sabedoria: O tema central é a morte e a imortalidade (1-5). Os justos viverão
eternamente com aquele que escolheram (3,1-5; 5,15). A sabedoria é mediadora
entre Deus e o âmbito cósmico – soteriológico (6-9). A sabedoria é hipostasiada
(feita pessoa). Essa hispostasiação ou personificação, ao mesmo tempo que é
um atributo divino, será terreno fértil para a sua aplicação ao Cristo, a partir do
Novo Testamento.
Deus ocupa um lugar relevante nos livros sapienciais, ora perto da concepção
tradicional do Antigo Testamento, ora abrindo novos horizontes para o Novo
Testamento. Deus fez o ser humano a sua imagem, mas ninguém humano é
capaz de modelar um Deus semelhante a si (Sb 15,16). Somente alguém divino-
humano pode aproximar Deus e o ser humano. Os livros sapienciais, relidos pelo
Cristianismo, vão reconhecer a sabedoria encarnada em Jesus de Nazaré.
.
Após este percurso pela pluralidade e pela polifonia das nomeações de Deus no
Antigo Testamento, vamos dar mais um passe no trabalho de escuta e
descoberta do fio condutor da revelação desse Deus ao povo de Israel. A
releitura do Antigo Testamento a partir do Novo Testamento é o que nos permitirá
fazer isso. Vamos, então, proceder a esta releitura pretendendo e legitimamente
tentando realizá-la na continuação deste capitulo. Com todo o respeito e amor
que temos pela revelação de Deus no Antigo Testamento, que é revelação
também para nós, nossa intenção é fazer teologia crista. Ou seja, nos propomos
a pensar e falar sobre o Deus da nossa fé, que acreditamos nos ter sido revelado
na história do povo de Israel, mas, sobretudo e plenamente em Jesus Cristo. E
com esta iluminação que vamos ler e refletir sobre as etapas da revelação de
Deus no Antigo Testamento, a partir do seu coroamento e da sua plenitude no
Novo Testamento.
1.2.7. Deus no antigo testamento:
Etapas pré-cristãs de sua revelação
Após fazer um rápido percurso sobre as muitas maneiras pelas quais os
principais livros do Antigo Testamento falam de Deus, o objetivo da nossa
reflexão é fazer um corte transversal na revelação de Deus ao povo de Israel.
Perceber os fios condutores desta revelação e procurar entrever seus
remanescentes hoje, em nossa vida e na vida da comunidade eclesial. Isso nos
ajudara a perceber como muitos de nós ainda estamos no Antigo Testamento,
9
em termos da experiência de Deus, e não fizemos totalmente a passagem para
o Novo Testamento. Não estaríamos, pois, disponíveis para ouvir e receber a
Boa Nova (Evangelho) de Jesus.
Nesta seção, vamos tentar compreender algo da nossa fé em Deus e do nosso
catolicismo atual. Isso talvez nos ajude a ver que temos que morrer para muitas
das nossas concepções mais arraigadas, ainda que religiosas, sobre Deus.
Esperamos, assim, poder dar um passo à frente da experiência do Antigo
Testamento embora conservando toda a imensa riqueza aí recebida e aprendida
e receber a grande e radical novidade da revelação de Deus que Jesus Cristo
nos traz.
O método que iremos empregar e considerar e usar o Antigo Testamento como
paradigmático e exemplar. Vamos ver que ali aparece o fundamento da evolução
para toda descoberta de Deus. Com este objetivo, vamos tomar as etapas,
tradições, e não os livros. Veremos as diferentes tradições pela ordem, indo das
mais antigas para as mais recentes, sem nos preocuparmos muito com exatidões
literárias e construções relacionais. Não se trata de uma análise filológica e
exegética, e sim de uma leitura teológica, uma das muitas possíveis para
descobrir o processo pedagógico e amoroso da revelação de Deus a seu povo.
Finalmente, veremos como somente a luz da fé em Jesus Cristo essas quatro
etapas se organizam e se tornam coerentes (cf. 2Cor 3,13-18). A luz de nossa
fé, são etapas pré-cristãs da descoberta de Deus.
A cada etapa corresponderão:
• Alguns textos fundamentais que dão a moldura da situação histórico -
bíblica.
• Uma ideia de Deus.
• A experiência correspondente a esta ideia.
• O alcance e as limitações da etapa onde esta ideia e onde esta
experiência tomam corpo.
• E, finalmente, seus remanescentes entre nós.
Primeira etapa: O Deus terrível
Textos fundamentais: Gn 4, 13; Ex 3,1 ss; Ex 19, 20 ss; Ex 20, 18-20; Ex 30,
25ss; 1Sm 6, 11-16; 2Sm 6, 3-7.
Situação histórico - bíblica: De 1250 (êxodo) a 900-800 a.C. Refere-se ao tempo
da conquista da terra e aos primeiros reis.
Idéia de Deus: Deus não aparece como poder universal, tal qual o é para nós.
Deus é o Deus da terra em que habitam aqueles que a adoram. Nessa terra ele
concentra poder e autoridade. Estar longe da terra equivale a estar longe de
Deus, de sua proteção. Por conseguinte, para o ser humano desta etapa, Deus
10
atinge e pode ser atingido só indiretamente (Gn 4,13). O acesso a Deus se da
pelo encontro concreto na terra em que vive o ser humano. A mediação da terra
é fundamental.
Experiência de Deus: Esta se dá no inexplicável e no terrível (Ex 3,1ss).o ser
humano se sente pequeno diante do tremendo mistério de Deus. experimenta
liberdade no profano, e terror diante do sagrado.
Atitude religiosa fundamental: O ser humano não pode aproximar-se
familiarmente da terrível santidade de Deus, do sagrado (Ex 19,20ss). Para isso
é preciso um intermediário. Alguém que seja, ao mesmo tempo, santo e
humano (Ex 20,18-20). Tampouco e permitido aproximar-se de uma só
vez do sagrado. Ha graduação nas aproximações, uns podem aproximar-se
mais, outros menos. A aproximação exige condições especiais: a santificação e
a preparação (Ex 19,22) conseguidas pela purificação ritual das pessoas, das
coisas e dos animais (Gn 7,2). Isso permanecera como uma experiência forte
para o povo judeu e só conhecerá uma concepção renovada em At 10,9-15,
quando e revelado a Pedro que esses rituais não interessam mais ao Deus dos
cristãos.
Esta primeira etapa da caminhada religiosa de Israel e muito centrada sobre a
necessidade da purificação para o encontro com Deus. Os puros, Deus acolhe.
Os impuros, Deus rejeita (Ex 30,25ss). o sagrado, o reservado, o separado por
Deus é o que ele reservou para si, Portanto, usar e tocar profanamente algo
sagrado é um sacrilégio, mesmo se feito sem intenção. A intenção do ser
humano e alheia a tudo isso.
Um bom exemplo do que acabamos de dizer encontra-se na comparação entre
estes dois textos: 1 Sm 6,11-15 e 2Sm 6,3-7. Qual a diferença entre a ação dos
filisteus e a ação de Oza? A dos filisteus estava prevista ritualmente. Era
programada religiosamente, fazia parte dos rituais convencionados. Eles não
pertenciam ao povo de Deus, portanto o interdito de tocar nos objetos sagrados
não lhes dizia respeito. A ação de Oza e uma ação familiar, como segurar uma
coisa que vai cair. Segundo a mentalidade religiosa, a arca de Deus não pode
ser tratada como uma coisa qualquer, mesmo que a intenção seja boa. Por isso,
Oza foi punido e os filisteus não.
Significado desta etapa: Aparentemente, e negativo. Essa centralidade no ritual
e nas purificações se choca com a nossa mentalidade moderna. Mas há muitos
pontos positivos sobre os quais deveríamos refletir com cuidado:
a) Encontramos aqui uma descoberta radical do absoluto, embora muito
rudimentar. Uma descoberta existencial de Deus fora do domínio das coisas
normais da vida humana.
11
b) Pode ser percebida uma grande valorização da experiência do ritual, que põe
o ser humano em contato com Deus, rompendo a cadeia do habito, do cotidiano,
do manipulável. O rito aqui aparece como aprendizagem do absoluto,
intervenção do incondicionado na hist6ria e no provisório. O ser humano precisa
dos rituais para relacionar-se com Deus. Nossa época,
que tanto desvalorizou o rito, precisa aprender a reencontrar sua importância,
sem cair no ritualismo, para reintroduzi-lo em sua vida de fé. O grande interesse
atual pela liturgia, pelos símbolos e gestos dão testemunho do que acabamos de
dizer.
c) Do ponto de vista do Cristianismo, Deus e amor. Essa afirmação só é possível
se compatível com esta outra: Deus e absoluto. Esta etapa já começa a ensinar
ao povo de Israel e também a humanidade que o amor e o único absoluto, e só
o absoluto e amor. Só o amor e digno de fé. Por ser Absoluto, Deus-Amor tem
as suas exigências, e suas exigências servem para fundamentar ainda mais o
amor. Numa época, como a nossa, em que o amor tornou-se, para muitos, uma
palavra vazia, precisamente pela falta de fidelidade e de disciplina para sua
conservação. essa experiência que Israel fez do absoluto de Deus torna-se
bastante atua. Pois o amor é o que desinstala. o amor e o que tira o ser humano
bíblico de sua casa, de sua terra e de sua parentela. assim como nos tira das
"nossas seguranças" e nos leva ao desconhecido. nos arrasta para onde nunca
fomos, para fazer algo Que tampouco sabemos, mas que Deus sabe (Gn 12,1 /
/ Mt 10.35-39; Jó 3.8; 21,18).
Limitações desta etapa:
• Uma certa exterioridade: Não pode haver vida religiosa, de fé, apoiada
apenas no exterior, no ritual, sem o profundo da subjetividade do ser
humano. Embora se reconheça aqui um ponto de partida da pedagogia
divina.
• Uma certa debilidade diante do sistema de explicação cientifica dos
fenômenos humanos. A medida em que o mundo for se explicando, com
o desenvolvimento da ciência, o sagrado primitivo tende a desaparecer.
Remanescentes entre nos: Percebemos ainda na nossa vida eclesial e na
nossa pastoral muitos remanescentes dessa primeira etapa da descoberta de
Deus do Antigo Testamento:
• A superstição (eficácia do sagrado colocada nas coisas e nos ritos
externos) ainda e extremamente presente no povo católico de todos os
níveis sociais e culturais.
• A crença numa certa eficácia mágica de certos ritos (os sacramentos
12
eficazes em si mesmos, desvinculados da pratica).
• A promessa, com uma certa dimensão de comercio divino, no senti do de
que "Deus me dará o que peço, se eu cumpro uma serie de prescrições
externas, que supostamente lhe agradariam".
• As indulgências concebidas como "compra da salvação”.
• Um certo esoterismo da liturgia, que atua independentemente da
compreensibilidade e da participação da assembleia.
• A frequência aos sacramentos concebida como aumento da graça em
termos cumulativos (quanto mais se comunga, mais "capital salvífico" se
tem guardado para a hora da morte e do julgamento).
• A multiplicação de ritos como garantia de salvação.
• A concepção do clero e pessoas consagradas como intocáveis e mais
santas do que as outras
• A importância dada a fórmula dogmática, mais que ao conteúdo.
• A vida moral baseada em prescrições e proibições: “pode", "não pode".
Essa etapa pela qual passou Israel, muitos de nós ainda hoje experimentamos.
É preciso superá-la e passar à etapa seguinte, assim como o fez o povo de Deus.
Segunda etapa: o Deus da Aliança
Textos fundamentais: Dt 26,5ss; Jz 11,17-24; Mq 4,5; Os 2,14ss; Am 5,21;
Is 1,9-17; Dt 5,1ss; 6,1-3; 7,1-13; 7,9-11; Os 7,9-11; Is 31,1 ss.
Situação histórico - bíblica: De 900 a.C. ao desterro de Judá na Babilônia. Em
721 acontece a destruição do Reino do Norte. Mais ou menos em 630, a reforma
de Josias. Corresponde aos primeiros grupos de profetas (Isaias, Amos,
Miquéias, Oseías) e a redação de Juízes, Samuel, Reis e Deuteronômio.
Ideia de Deus: Continua não sendo um Deus universal, mas o Deus de Israel,
Deus dos pais (Dt 26,555). Não chegamos ainda ao monoteísmo, no sentido
pleno do termo. E mais uma monolatria (também conhecida como henoteismo),
ou seja, o povo adora a seu Deus, em meio aos deuses dos povos vizinhos (Jz
11,17-24). Javé é o Deus de Israel, porque escolheu Israel como povo. Ele se
compromete com Israel, e vice-versa.
Experiência de Deus: Essa etapa requer e revela um Deus que se aproximação
mais do ser humano. Aproximação é sinônimo de proposta, de pacto, de ligação,
de aliança. Mais do que a relação muito exterior estabelecida pelos ritos
13
desvinculados de uma pratica, trata-se agora da instauração de uma relação
mais pessoal e próxima, mais moral, do povo com Javé.
Atitude religiosa fundamental: A fidelidade é a imagem das relações entre o povo
e seu Deus. Israel aparece e é entendido aí nesta etapa como a esposa de Javé.
Ele é o esposo de Israel (Os 2,1455). Esposo fiel e que exige fidelidade, que tem
"ciúme" quando Israel adora outros deuses. A fidelidade é uma atitude
essencialmente humana, diferente dos ritos incompreensíveis da primeira etapa.
E o fato de a fidelidade estar no centro da experiência desta etapa revela que
Javé já não quer mais ritos externos, mas o coração do ser humano (Am 5,21).
A moral expressa essa fidelidade, que se revela no mais profunda do coração
das pessoas. Condena-se a religião meramente ritual, mais ainda, condena-se
todo ritual que não chegue ao coração humano. o deserto – lugar do encontro e
do amor da juventude aparece como o tempo da fidelidade sem ritos (Am 5,21;
Is 1,9-17) e do desprezo por um ritualismo sem alma e sem justiça.
O decálogo se apresenta como código da aliança. Se Israel cumpre os
mandamentos, Deus cumpre a sua parte e protege Israel para sempre. Daí
resulta uma atitude histórica: Israel deve cumprir somente uma parte da aliança
(mandamentos); do mais, Javé cuida. Israel se ocupa da moral, e Javé, da
história (providencia). Cada problema histórico deve, portanto, suscitar em Israel
uma renovação moral (Os 7,9-11; Is 31,1 55). Nesse sentido, haverá dois
possíveis pecados denunciados pelos profetas: a infidelidade (ou seja, a
idolatria, o culto a outros deuses) e a auto-suficiência (pretender dirigir os
próprios acontecimentos sem confiar na providência divina).
Significação desta etapa: o sagrado e o divino aqui aparecem como providencia
moral e histórica. Deus dispõe os acontecimentos históricos segundo a conduta
moral do povo escolhido. Em relação a primeira etapa, há uma aproximação do
centro da existência humana, o coração. Isto implica um progresso aproximativo
de Deus em relação ao ser humano. Aparece uma nova identidade entre religião
e tarefa histórica, relacionada pela noção de aliança. A descoberta central que
preside esta experiência é a de que o ser humano é colaborador de Deus,
mesmo indireto, num desígnio que se realizara na história, descoberta que
necessitara de purificações. A revelação crista definitiva recapitulara isto tudo
em Cristo, a testemunha fiel por excelência, que recapitula a história com sua
encarnação, vida, morte e ressurreição, inaugurando a nova criação e sendo
tudo em todos.
Limitações desta etapa: Estamos longe ainda de uma religião verdadeiramente
universal, como o Cristianismo. Para nós, é incompatível, com a noção de Deus
que temos, esse privilégio exclusivo de um só povo Que não se abra para
dimensões mais universais. Além disso, a experiência histórica quase sempre
desmente a concepção providencialista, simplista, de Deus. Quase nunca o justo
vence o ímpio com o auxílio de Deus. A relação com Deus é assimétrica. Não
14
constitui, ou não se resume num "toma lá - dá cá", como parece
confortavelmente crer o israelita dessa segunda etapa. Para superar essa
amarga constatação, há que se dar mais um passo e aprender a gratuidade na
terceira etapa.
Remanescentes entre nós: Também ainda percebemos muitos resquícios desta
etapa na nossa vida espiritual e eclesial, e na nossa visão do mundo. Podemos
encontra-los em:
• Cristãos mais ativos e conquistadores, que fazem do fundamentalismo e
do proselitismo sua bandeira e sua forma de ser. A ideia de cruzada -
fazendo do cristão o depositário de um desígnio de Deus a ser realizado
na história, eliminando tudo aquilo que faz oposição histórica a isso- não é
alheia a essa concepção e pode iluminar o que acabamos de afirmar.
• A divisão do mundo em dois: bons versus maus; amigos versus inimigos,
os que estão conosco versus os que não, os que são "dos nossos" versus
os que "não o são", com desrespeito a pessoa e a liberdade.
• O uso do nome de Deus para fins puramente políticos e ideológicos, muitas
vezes desumanos. o exemplo de terroristas que matam em nome de Ala é
significativo. No entanto, não se pode esquecer que os governantes norte-
americanos pedem que Deus (qual?) abençoe a América, mas mantêm
guerras e vendem armas em várias partes do mundo.
• O fim, sendo bom, é justificado por qualquer meio, até mesmo de coação e
violência. o processo de colonização da América Latina, aliado a religião,
tem algo a nos dizer sobre isto, assim como muitas outras manchas que
prejudicam nossa história, como a Inquisição, cujos erros foram
recentemente reconhecidos pelo Papa João Paulo II.
• A redução do ser humano e do povo a mero instrumento do plano divino,
sendo este colocado, quando não manipulado, nas mãos de alguns líderes.
Na história da Igreja, essa mentalidade justificou a escravização e a tortura
em muitas épocas.
• Mais sutil ainda é um remanescente que coloca a justificação do resultado
histórico pela moral (merecimento ou desmerecimento). Por exemplo: "Os
ricos merecem sua riqueza" (Max Weber). "Que fiz eu para merecer esse
castigo?" E também a teologia da prosperidade, tão atual, presente em
muitas das seitas pentecostais novas que proliferam incessantemente pelo
continente latino-americano.
Terceira etapa: o Deus transcendente e criador
Textos fundamentais: Is 40 (livro da consolação de Israel); Gn 6,1-8; 11-14; Is
66,23; Ez 21 ,8ss; Sl 1; 37,25, 58, 12ss; 44,14-23; 73,13-16; 17-20; Jó 4.12 ss;
9,22-23; 7,19-21; 38; 39,33-42,1 ss; Ecl 3,16-22.
15
Situação histórico-bíblica: Anos 550 a.C.: tempo do exílio e restauração (Esdras
e Neemias), da redação da fonte sacerdotal (Gênesis, Êxodo, Numero, Levítico),
dos profetas exílicos (Dêutero e Trito Isaias, Ezequiel) e dos sábios (Sapienciais,
Salmos, Provérbios, Jó, Eclesiastes).
Ideia de Deus: Deus e o criador do céu e da terra. O povo deve fazer essa
descoberta a partir da dura experiência do cativeiro. Israel no exílio geme: "Como
é possível cantar ao Senhor em terra estrangeira?" E se pergunta: "Javé se teria
deixado então vencer pelos deuses locais? Teria se esquecido de sua aliança?"
O profeta Isaias responde a esse lamento do povo (Is 40,12-17), reavivando-Ihe
a esperança: Deus é quem vai resgatar Israel. Deus, que é tão Deus na babilônia
como em Jerusalém, e diante do qual os outros deuses nada são, e a verdadeira
esperança do povo. O povo não espera em vão, seu Deus o consolara, pois ele
criou o mundo do nada. Portanto, tem poder para isso e muito mais.
Deus e transcendente, afirmam os profetas do exílio. Está acima de tudo e de
todos. Não tem que lutar contra nada nem ninguém para provar seu poder, muito
menos contra os deuses babilônicos. Todos os povos são, diante dele, nada e
vaidade. Deus é único. os deuses dos outros povos não são nem sequer deuses
menores. Não são nada. Quem os adora, adora o nada, comete idolatria. Javé
nem sequer tem mais ciúmes, pois eles não existem (cf. Is 40,18ss, que fala
sobre a fragilidade de qualquer imagem).
Experiência de Deus: Se Deus é criador, o ser humano é criatura, pequena e
contingente. É carne, objeto da ação criadora, que anseia por ver e verá a gloria
de Javé (Is 40.5-8). Toda carne é como a erva, flor que murcha, frágil, incapaz
de opor-se ao poder de Javé, que a criou (Gn 6.11-14 // Gn 6,1-8). Por isso. Deus
e o único poder diante do qual, nada resiste. o próprio da criatura (carne) é
passar, ser contingente. Ser Incapaz de opor-se àquele que a fez e que, portanto,
pode amoldá-la como quiser. O próprio de Deus é sua palavra e a eterna
permanência.
Esse Deus, portanto, ao se relacionar com o ser humano, mostra sua
transcendência, muito além de qualquer exigência da criatura. Vai manifestá-la
por exigência universal. Antes, a exigência de Deus era só para Israel, o povo
da aliança. Israel podia exigir de Deus, de acordo com o cumprimento da aliança.
Na primeira etapa, Deus exigia as coisas necessárias para o ser humano
aproximar-se dele. Agora, as exigências de Javé são de criador para criatura,
para toda criatura, original e irrepetível, não mais apenas para o coletivo do povo
(Is 66,23). Cada pessoa, portanto, é valorizada.
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Atitude religiosa fundamental: A submissão a esse Deus é fundamental. Para o
ser humano desta etapa, ou a criatura se submete ao seu criador ou será
exterminada. A criatura nada pode exigir ou cobrar de Deus. Para fazer valer
isso, Deus se apresenta universalmente como Deus. Deus é o criador de toda a
criatura. Manifesta a criatura aquilo que ela é e, fazendo isso, manifesta também,
transcendente e gloriosamente, aquilo que ele mesmo é: Deus criador.
Assim, Deus exerce sua justiça sem encontrar oposição. A santidade ou a boa
conduta do ser humano não podem competir com sua ação livre e soberana. A
criatura não tem justiça própria, diante da qual Deus tenha que deter sua mão.
Deus é livre em sua soberana sabedoria e sua bondade para castigar o justo e
oi pecador. o ser humano não pode exigir de Deus o cumprimento da aliança (Ez
21 ,8ss), porque ninguém pode se pretender justo diante de Deus. Não ha justo
e pecador - existe apenas a criatura. Perceber isso é perceber, por um lado, a
infinita santidade de Deus e, por outro, a indigência absoluta da criatura.
O ser humano diante de Javé tem sede e tem temor. Sede porque é pequeno,
carente, e precisa de Javé para tudo (SI 63.2: 65,3). Tem temor e tremor porque
necessita vital e fundamentalmente de Javé. Treme, porque ele é o
transcendente, misterioso, glorioso. Ultrapassa seu entendimento e pode
aniquilá-lo. Nesta época, já não se ousa, em Israel, pronunciar o nome de Javé.
Substitui-se por Adonai (Senhor). Jura-se pelo templo, para não jurar por Deus.
Fala-se em nomes do nome, para não falar diretamente de Deus.
Coloca-se também em questão o problema da aliança. Ela continua válida? Com
o exílio e a restauração (a volta a terra e a reestruturação legislativa) os judeus
perdem os sonhos de grandeza histórica e domínio guerreiro. A religião passa a
ser mais uma moral, uma sabedoria, uma atitude do ser humano em vida. A
princípio, a aliança assume aspecto Individual, mas ainda dentro do mesmo
esquema: a atitude moral do ser humano determina o acontecimento histórico
(SI 1 .37.25: 58,12). Deus, por sua vez, garante a justiça sobre a terra,
confirmando a conduta do justo. Depois, na literatura sapiencial, o ser humano
bíblico vai perceber que não se pode afirmar isso com honestidade. Não se pode
dizer que o justo ganha sempre, mesmo quando não trai a aliança (SI 44, 14-23:
73, 2-5; 13-16).
Enfatiza-se, então, a absoluta transcendência de Deus, para responder à
angustia do ser humano que tem de acreditar nesse Deus, que é vida, mas não
impede a desgraça, a morte e a infelicidade, mesmo daqueles que são justos e
tementes a lei do Senhor. O ser humano desta etapa vai descobrir que Deus não
está ligado as atitudes humanas. Vai perceber que é preciso rever a segunda
etapa e o conceito de aliança. No entanto, não há ruptura total com a etapa
anterior. Na tentativa desesperada de reconstruir a noção de aliança, aparece a
noção do sono de Deus (SI 44,24-27). Deus parece dormir, mas despertará e
17
fará justiça. Surge também a ideia do prazo. Deus demora. Mas virá e fará justiça
(SI 73,17-20).
Já no livro de Jó, aparece claro que a relação moral-história não existe tão
simetricamente como parece estar descrita nos escritos desta etapa. Deus tem
desígnios sobre o ser humano, que só ele conhece, e que o ser humano não
pode compreender nem alterar. Jó é justo e sofre. Busca desesperadamente um
sentido para a sucessão de perdas em que se transformou sua vida. Seus
amigos repetem-lhe a doutrina oficial que pretende unir a aliança com o Deus
transcendente (Jó 4,12ss). Mas Jó não interrompe o diálogo com Deus, mesmo
que às vezes se dirija a ele de forma violenta, agressiva, desesperada, chegando
mesmo as fronteiras da blasfêmia.
Na verdade, não há inocência de que o ser humano possa prevalecer-se diante
de Deus. Na terceira etapa Deus a livre para fazer o que quiser do ser humano
e da história, independente da conduta humana. Em Jó 9,22-23 está a grande
descoberta de Israel, nesta etapa. Essa constatação obriga a buscar algo mais
(Jó 7,19-21), para além do que pode ser percebido pelos sentidos humanos. Jó
fala da morte como termo da vida, quando há de executar-se a justiça. Ainda não
aparece a esperança para depois da morte, nessa etapa. A justiça deveria estar
dentro da vida, mas não chega (Ecl 3,16-22). Qual a solução?
Ela se encontra em Jó 38,1ss; 42,1 ss. Ora, Deus a absolutamente trans-
cendente. O ser humana não pode pretender chegar ao conhecimento de seu
mistério, nem encontrar um sentido 1ógico para sua vida. A providencia de Deus
não se explica. o ser humano deve calar e adorar, botando a mão na boca. É o
que Jó faz, no auge do desespero. Assim, o Deus de sua fé acaba respondendo-
lhe misteriosamente.
Significado desta etapa: Ha uma grande evolução em relação às anteriores. A
noção de Deus se purifica. Aparece pela primeira vez a concepção de Deus
como uma providencia transcendental. E pode-se perceber uma noção de
revelação progressiva de Deus em ritmo dialético. Se na primeira etapa há um
afastamento da concepção do Deus terrível, na segunda se percebe uma
aproximação: o Deus da aliança é providencia, moral que interpela o coração
humano. Já na terceira etapa há um novo afastamento (pedagógico), a fim de
chamar a atenção para o abismo intransponível entre o criador e a criatura, para
obrigar a criatura a dar um passo mais na experiência religiosa e viver a
gratuidade em sua relação com Deus.
Trata-se de uma religião muito pura. O ser humano adora o mistério de Deus,
entrega-se gratuitamente a sua providencia. Por outro lado, Deus se relaciona
universalmente com toda criatura, não mais só com o povo escolhido. A vocação
de Israel estende-se ao Universo inteiro.
18
O primeiro capitulo do Gênesis - texto fundamental para a compreensão desta
etapa da revelação divina - apresenta uma visão fundamental de Deus, do ser
humano e do cosmos (mundo). Deus a o criador do Universo.
Só porque criou o Universo é que, dentro deste Universo, escolheu um povo. o
suporte da aliança é, portanto, ontológico. Tem seu fundamento na criação do
Universo. Não se restringe a um único povo particular. A eleição não significa
monopólio do povo eleito. Os últimos profetas já mostram, então, a aliança
abrindo-se para todos os povos, ligada a própria criação Js 54; 60; 62 e Tb.
19,16-25).
Quanto ao mundo, percebe-se nesta etapa uma unidade do plano de Deus, como
será lembrado pelos escritores do Novo Testamento (Jo 1; CI 1,15-20; Ef 1,17-
22). o ser humano recebe de Deus a missão de dominar o mundo. Ora, esse
mundo é em si mesmo desacralizada. Existe uma profanidade fundamental de
tudo que não é Deus, portanto das coisas em geral. Ha porem uma ligação das
coisas a Deus em sua raiz ontológica. O acabamento do mundo e deixado a
cargo do ser humano para ele aí realizar a imagem de Deus, que é sua vocação.
Os elementos principais desta etapa são:
• Transcendência e universalidade de Deus.
• Esboço de afirmação da profanidade das coisas.
• Papel do ser humano no cosmos, cultual e histórico.
A revelação crista retém e desenvolve a teologia que vê o ser humano como
criatura frágil e dependente, mas, ao mesmo tempo, como colaborador de um
Deus "maior que o nosso próprio coração" (1 Jo 3,20), com um projeto de
dimensões universais.
Limitações dessa etapa: Apesar de todos os avanços que traz para a concepção
de Deus e a experiência religiosa, essa etapa apresenta também alguns limites
bem claros e evidentes:
• Uma passividade excessiva, que pode levar o ser humano mais consciente
a se libertar do religioso e par o melhor de si na missão histórica, na
profanidade das coisas.
• Um individualismo que pode levar o ser humano a partir-se
esquizofrenicamente em duas dimensões: vertical (religiosa) e horizontal
(histórica).
Remanescentes entre nós: Como resquícios deixados por esta concepção, ainda
19
em nossos dias, podemos constatar:
• Um tipo de espiritualidade que e bem evidente em nosso Cristianismo:
espiritualidade calcada na fragilidade humana, estimulando uma
passividade e mesmo um fatalismo.
• Uma desconfiança de todo empreendimento histórico humano que
reivindica para si uma missão divina.
• Uma separação estanque entre o histórico (profano), regido pelas leis da
técnica, previsível, sagrado (vertical), imprevisível, que exige confiança
cega. Trata-se de um caminho perigoso, que pode desembocar no
dualismo. Dentro desta concepção, a religião não tem nada a ver com as
estruturas sociais, as leis econômicas etc. A vida moral se dá somente no
nível do privado, com os sacramentos, as devoções.
As consequências disso são:
• O risco de um protestantismo tradicional e um catolicismo que vêem, nas
diferenças entre pobres e ricos, a vontade de Deus.
• O único mal verdadeiro seria o pecado moral, sem a devida percepção
dos pecados sociais.
• Um reforço na piedade individual, em detrimento de uma liturgia e vida
eclesial mais comunitárias.
• A vida cotidiana seria concebida como uma aceitação da vontade de
Deus expressa em acontecimentos e sinais verti cais e inesperados,
e além disso, ambíguos.
Quarta etapa: O salto além da morte - O desafio do Deus justo
Textos fundamentais: Sb 1,13-14; 12;15; 16; 2,1-11; 12-20; 3.1-5; 5,1-5;
6ss; SI 115,17; 88.
Situação histórico - bíblica: Anos 177-175 a.C., com o domínio do imperador
grego Alexandre o Grande. Trata-se da situação que Jesus irá encontrar. A
religiosidade de Israel se deparasse com a cultura e a filosofia helênica. Esta
síntese será o pano de fundo da transição do Antigo para o Novo testamento.
Idéia de Deus: Deus é o criador daquilo que é bom. A criação é boa (Sb 1,13-
14). Deus não cria para a morte, mas para a vida. O mal é o ser humano que
provoca, usando inadequadamente as coisas (Sb 1.12). o pecado é um extravio,
amartia, engano.
Experiência de Deus: O ser humano vive numa alternativa de liberdade, na qual
aposta sua vida:
1. Tem a possibilidade de escolher acreditar que a morte acaba com a existência.
Nesse sentido, torna-se óbvio que, se tudo termina com a morte, o melhor a fazer
20
é sorver e aproveitar todas as delicias da vida, seja a que preço for.
2. Tem a possibilidade (que desponta aí) de acreditar que a justiça sobreviva à
morte. Esta é a esperança do justo (Jó). O justo espera que a justiça sobreviva
à morte. O mal e o sofrimento são, por isso, uma prova. O ímpio continua
pensando que a justiça está submetida à morte. Quer gozar dos prazeres da
vida. Usa para isso da forca e oprime o justo. A morte é o centro da aposta
fundamental do ser humano.
O ímpio aposta que a morte é o fim de tudo, goza de tudo e oprime o justo Sb
2.1-11; 12-20). O justo reserva-se para uma existência que há de vir. Isso,
porém, é uma crítica constante ao ímpio (Sb 1,15 = cerne da esperança do justo).
Atitude religiosa fundamental: Esperar a justiça na imortalidade. Crer que Deus
faz justiça além do prazo da existência humana (Sb 3.1-5. O mal presente é
uma prova.
O resultado da aposta será que:
1. Os justos viverão eternamente com aquele que escolheram (Sb 5,1-5).
2. Os ímpios serão castigados pelo erro de sua aposta (Sb 5,6ss). No juízo, O
ímpio obtém o que buscou, ou seja, o vazio daquilo que possuiu em vida e que
a morte lhe arrebatou, enquanto o justo convive com seu Deus para além dos
limites da existência terrena.
Significado desta etapa: Deus é o princípio da justiça ultraterrena. O movimento
dialético impõe uma nova aproximação de Deus e do ser humano, em termos de
um pacto radical. Deus é justo e busca a justiça, exigindo uma santidade moral.
O justo, que anda por este caminho, está perto de Deus. Pela primeira vez é
afirmado o triunfo da vida sobre a morte. A ânsia da vida em plenitude se realiza
no relacionamento do ser humano com Deus.
A quarta etapa a purificação da segunda. Constitui uma aproximação radical de
Deus, já inaugurada com a noção de aliança, conservando tudo que é
descoberto na terceira etapa em termos da transcendência e da gratuidade de
Deus, mas deixando claro que a aliança que Deus faz com a humanidade não
conhece limites, nem mesmo na morte. O Deus justo é também o criador de
todas as coisas. E ele cria o ser humano para a vida que não termina. Deus nesta
etapa se aproxima cada vez mais da liberdade pessoal do ser humano enquanto
centro vital. O mal não é mais um obstáculo insuperável. Deus, na sua justiça,
mostra seu rosto mesmo além da morte.
Com estas etapas de sua revelação, Deus foi preparando e amadurecendo
pedagogicamente o ser humano para receber o Cristianismo. Este último seg-
mento é, de fato, o pano de fundo da pregação de Cristo e seus apóstolos.
21
Limitações desta etapa: São muito parecidas com as do Cristianismo vivido em
nossas latitudes ainda hoje em dia:
• Uma atitude de passividade diante do provisório desta vida vista como
tempo de prova, esperando que o resto aconteça depois da morte.
• Uma concepção da vida como destino, mais fatalista do que crista.
Remanescentes entre nós: Existem, ainda, e são muito frequentes:
• A existência presente é vista como provação. Tudo, menos os valores
eternos, é provisório e de pouco valor.
• A liberdade humana não é criadora. A liberdade é risco no sentido
negativo do termo. O ser humano pode errar definitivamente o caminho.
Portanto, quanto menos liberdade tiver, melhor. Como exemplos,
podemos citar a formação para o sacerdócio e a vida religiosa, e a
formação da criança presa em padrões morais estritos.
• Ha uma inibição resignada do ser humano durante a vida. O ser humano
religioso se torna vitima diante do ateu sem escrúpulos, especialista em
êxitos.
Retomada e releitura crista das quatro etapas
A concepção crista retém e transforma o que essas etapas trouxeram:
Primeira etapa: Deus, o absoluto, é amor. E esse absoluto não existe fora da
história. A encarnação do Filho de Deus demonstra isto.
Segunda etapa: O Deus da aliança é o Deus do Reino. Somos colaboradores
de Deus num grande desígnio histórico. Somos o novo povo de Deus, o povo
da nova e eterna aliança.
Terceira etapa: O plano de Deus é universal como o próprio Deus. Não é uma
domesticidade, um domínio, um privilegio estreito de um só povo ou de um
pequeno grupo de escolhidos, mas, sim, uma busca comum da verdade que
transforma o mundo.
Quarta etapa: A ligação prova-liberdade é superada pela noção de liberdade-
construção de um mundo novo. A justiça de Deus sobre o sofrimento do inocente
encontra sua expressão definitiva na ressurreição, que vem a ser a palavra
interpretativa do Pai ao confirmar o caminho de Jesus Cristo.
Vemos, assim, a partir desta última leitura sobre a revelação de Deus no Antigo
Testamento, que já encontramos, aí, sinais do Deus que Jesus Cristo irá nos
revelar em plenitude. Embora sabendo que o Antigo Testamento descobre e
adora o Deus de Abraão, Isaac e Jacó, cremos poder afirmar, sem medo, que
esse Deus é justamente o Abbá de Jesus Cristo, o criador, o amor supremo de
22
sua vida, que ele nos ensinou a chamar de Pai Nosso.
De qualquer forma, o rigor teológico nos obriga a não forçar os textos bíblicos, a
não fazê-los dizer "coisas bonitas", que nos agradam. Na verdade, essas
conclusões comparativas entre o Antigo e o Novo Testamento não se encontram
nem podem encontrar-se no contexto vital onde tais textos foram escritos. Muito
menos na intencionalidade de seus autores, que pertencem a urna época e um
contexto histórico -vital anterior aquele no qual nasceu Jesus de Nazaré, e no
qual se conceberam os escritos do Novo Testamento.
Bibliografia Principal:
• 1o ENCONTRO TEOLÓGICO. Deus onde estás? São Paulo: Loyola,
2000.
• AA.VV. Deus Pai de misericórdia. São Paulo: Paulinas, 1998.
• ANTONIAZZI, ALBERTO. BROSHUIS, INÊS e PULGA, ROSANA. ABC
da Bíblia. 29a ed. São Paulo: Paulus, 1984.
• BASADONNA, GIORGIO. Junto aos Rios da Babilônia. São Paulo:
Paulinas, 1995.
• CNBB. Amor sem limites, São Paulo: Paulinas, 1999².
• GARCIA, D. M. COLOMBÁS, MB. Diálogo com Deus: Introdução à “Lectio
Divina”. São Paulo: Paulus, 1996².
• GUTIÉRREZ, GUSTAVO. O Deus da vida. São Paulo: Loyola, 1990.
• JOHANNES B. BAUER, dicionário Bíblico-Teológico, São Paulo, Loyola,
2004².
• LATOURELLE, S.J. RENÉ, Teologia da Revelação, Ed. Paulinas, São
Paulo, 1972.
• MARTINS, EUCLIDES BALANCIN e STARNIOLO, IVO. Como ler o livro
do êxodo: O caminho para a liberdade. São Paulo: Paulinas, 1990².
• MESQUITA, ANTÕNIO GALVÃO. A Santíssima Trindade: O mistério de
três pessoas em um só Deus. São Paulo: Ave-Maria, 2000.
• MINI AURÉLIO, o minidicionário da língua portuguesa, Rio de Janeiro,
Nova Fronteira, 2001³.
• ZENGER, ERICH. O Deus da Bíblia. São Paulo: Paulinas, 1989.
Bibliografia auxiliar:
• CIC, cap. II, CO – ED. Vozes, 1993.
• CONSTITUIÇÃO DOGMATICA dei Verbum sobre a Revelação Divina,
Petrópolis, Vozes, 1965.
• QUEIRUGA A T., A revelação de Deus na realização humana, São Paulo,
Paulus, 1995.

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Deus no AT

  • 1. Diácono Luciano José Dias 1.2.1. Deus no antigo testamento Os fios condutores de sua revelação e sua identidade No Antigo Testamento não existe uma teologia, mas muitas. Cada escritor, cada tradição, cada escola foi registrando sua experiência particular de Deus. Mesmo assim, e a despeito do fato de Deus ser chamada de muitos nomes, temos que constatar que a nomeação de Deus como Javé ocupa o centro de todos os escritos, embora, em alguns momentos dos registros de diferentes autores, apareçam outros nomes e a nomeação do Deus de Israel conviva com a nomeação de outros deuses. Javé aparece como o Deus que se revelou a Israel e do qual este povo teve a experiência no êxodo, no Sinai e em muitas outras circunstancias de sua história de mais de 1.500 anos, desde Abraão até Jesus Cristo. Falar de Javé implica, para o povo de Israel, uma referência obrigatória. Algumas citações, no entanto, supõem a existência de outras divindades ao lado de Javé no início da caminhada do povo de Deus (cf Ex 20,2s). Uma apresentação de Deus no Antigo Testamento supõe um triangulo formado por Javé, outros deuses e Israel. Só lentamente Israel foi superando o politeísmo que ainda o rondava como tentação, a idolatria que às vezes a fascinava com falsas promessas e ilusões, para estabelecer as bases sólidas da crença num só Deus. Os autores do Antigo Testamento não conseguiram (nem tampouco se propuseram) a definir ou sistematizar de maneira unívoca a mensagem do Antigo Testamento sobre Deus. Foram desenvolvendo paulatinamente suas experiências e ideias do Deus vivo e refletindo sobre elas, até chegar a registrá- las par escrito. Mesma assim, não se pode dizer que na Bíblia exista um tratado sobre Deus. Os autores bíblicos não têm essa preocupação. E toda a tentativa de definir sistematicamente o Deus da revelação se chocara com numerosas dificuldades. No entanto, fazendo uma releitura do ponto de vista do Novo Testamento, ou seja, desde a fé crista, que é a nossa, sobre a revelação de Deus no Antigo Testamento, impõe-se a constatação e a afirmação de que Deus falou ao povo desde sempre, de muitos modos e maneiras, mas ninguém nunca viu Deus. Somente Jesus, o Filho único de Deus, que está no seio do Pai, nô-lo deu a conhecer (cf. Hb 1,1s; Jo 1,18). Com esse pano de funda, apresentamos agora a concepção de Deus no
  • 2. 2 Antigo Testamento, seguindo passo a passo os diferentes livros ou blocos nele contidos: 1.2.2. Prelúdios do Javismo: As tradições bíblicas diferem quanto à origem da fé Javista. O nome de Javé aparece, no entanto, do princípio ao fim do Gênesis e, segundo (Gn 4.26), remonta as origens da humanidade. No entanto, de acordo com Ex 3,13-15, o nome de Javé se revela pela primeira vez a Moises, e não aos patriarcas. Ex 6.2-3. Por sua vez, Gn 35,2-4 indica claramente que os antepassados de Israel adoraram outros deuses, diferentes de Javé (cf. Js 24, 2. 14-15). Os livros de Gênesis e Êxodo, além de utilizar a palavra Javé para denominar a Deus, empregam outros nomes para referir-se a ele, principalmente de dois tipos: 1) Um Deus mais pessoal: a) o deus de meu pai (Gn 31,5.42; Ex 15,2; 18,4); o deus de teu pai (Gn 31,53); o Deus de seus pais (Ex 3,13.15.16; 4,5). b) o Deus de Abraão (Gn 24,12.27.42.48; 26,24; 28,13; 31 ,53); o Deus de Isaac (Gn 46,1). c) o Deus de Abraão, teu pai, e o deus de Isaac (Gn 28,13); o deus de meu pai Abraão e o Deus de meu pai Isaac (Gn 32,9); o Deus de vossos pais, o deus de Abraão, Isaac e Jacó (Ex 3,6.15.16; 4,5). 2) Um Deus mais ligado a um lugar (topônimos ou epítetos divinos ligados a um lugar) ou a alguma qualificação (adjetivos que exaltam a sua supremacia): a) EI Elyon (o deus altíssimo): Gn 14,18-22. b) EI Roi (o deus que me vê): Gn 16,13. c) EI Olam (o deus eterno): Gn 21,33. d) EI Elohe Yisrael (o deus de Israel): Gn 33,18-20. e) EI Betel (o deus de Betel): Gn 31,13. f) EI Shaddai (o deus poderoso): Gn 17,1; 28,3; 35,11; 43,14;48,3; 49,25. Sobre essa pluralidade de nomeações há várias tendências e várias hipóteses na exegese moderna. Aqui colocamos as três principais: Primeira hipótese: O deus dos pais é diferente do deus EL: não tem nome próprio, mas recebe seu
  • 3. 3 nome aqueles a quem aparece pela primeira vez e que fundam seu culto. É ligado a um grupo, o qual protege e acompanha. Não tem morada fixa, segundo o tipo de vida nômade dos patriarcas. O deus EI já reflete a vida dos povos sedentários. O termo el (plural elim) se usa como apelativo divino e como nome próprio de um deus determinado. Os elim seriam divindades locais Cananéia com santuários fixos. O deus dos antepassados de Israel é fruto da coexistência dos dois tipos de divindades, devido a sedentarização de Israel em Canaã. Segunda hipótese: Ha uma identidade original entre o deus dos pais e o deus EI. O primeiro representaria um tipo especial de adoração do deus EI, ao qual os patriarcas possivelmente prestaram culto antes da sedentarização. Terceira hipótese: Contestam-se as predominâncias das nomeações de Deus no Antigo Testamento. Contesta-se a relação entre religião patriarcal e vida nômade dos antepassados de Israel. As expressões "o deus de meu pai" ou "o deus de fulano", na literatura do Oriente Próximo, se referem a culturas sedentárias. No segundo milênio a.C., não se pode estabelecer uma diferença entre nomadismo puro e cultura sedentária. o trinômio família – tribo - estado é uma abstração artificial. Designações como "o deus de Abraão", ampliada para "Abraão teu pai”, "Abraão, Isaac e Jacó", aparecem nas narrações patriarcais que usam literariamente o predomínio da família sobre a tribo e o estado. A relação do ser humano com Deus aparece então a partir da analogia Pai-Filho. As designações divinas e as promessas em Gênesis e Êxodo não provam a existência de uma forma de religião pré - javista associada com a primitiva forma de vida - nômade ou seminômade de Israel. O fato e que, mesmo com estas discussões, os relatos patriarcais têm inegavelmente um caráter familiar. O Deus de Gênesis 12 é um Deus que acompanha, guia e protege a família, protótipo da família humana, da humanidade. A promessa e a bênção divina apontam para o futuro e resgatam o passado da grande família humana. Retornando a análise da concepção de Deus no Antigo Testamento, vejamos o segundo item: 1.2.3. O Javismo: No Antigo Testamento, Javé e associado principalmente a Moises e ao Êxodo. A formula de fé "Javé tirou Israel do Egito” é o cerne da tradição bíblica do Êxodo e de todo o Antigo Testamento. isso pode ser constatado nos credos históricos
  • 4. 4 (Dt 6,21-23; 26,8; Js 24.6s "as festas religiosas (Dt 16,1-3.6; Lev 23,44), nas leis (Dt 13,11; 20,1 e nos hinos (SaI 114, 1ss; 135,8s; 136,10 ss). Tal formula, no entanto, é tardia. pois supõe a existência do grande Israel, um povo já organizado como povo, com 12 tribos. E mais uma retroprojeção (projeção para trás) do hagiógrafo, livros do Antigo Testamento, menos o Pentateuco e os Profetas- na época de Moises. O berço do Javismo parece ser o Sinai (Dt 33; Jz 5). Deus, então, aparece ligado a montanha. diferente do Êxodo. Parece que o berço do Javismo deveria ser buscado na era pré-mosaica (segundo as fontes bíblicas e extra bíblicas), na montanha do Sinai, na região de Madiã. Ali, num mesmo momento histórico e em zonas geográficas próximas e comunicadas entre si, diferentes grupos (madianitas, shosu, proto-israelitas) tiveram experiências sociais e religiosas similares ou idênticas. O Deus que vai ser nomeado como Javé: Se revela, sobretudo em sua atuação na história e em sua relação com o povo. Israel era um povo explorado pelo Egito, de onde é libertado por uma intervenção especial de Javé (Ex 1-3). Ele revela seu nome a Moisés: “Eu sou o que sou” (Eu sou o único existente, o único que existe). O nome Javé é um tetragrama sagrado: YHWH (Ex 3,14ss). Ele se revela a Moisés para o serviço do povo, em benefício de Israel. Israel deve, então, reconhecer que Javé é para ele, o único Deus existente e o único salvador. A saída do Egito para Israel, dada a situação de escravidão em que se encontra o povo, trata-se de uma verdadeira salvação. Javé é apresentado como um guerreiro (Ex 15,3) que combate por seu povo (Ex 14,13). A fórmula Javé tirou Israel do Egito passou à tradição veterotestamentária como o artigo fundamental da fé de Israel. 1.2.4. O Deus do Sinai: Javé tira o povo do Egito para conduzi-lo a uma terra boa. Mas entre o ponto de partida e o de chegada se interpõe uma estação: o Sinai (Ex 19-24). Ali Javé se manifesta (Ex 19) e conclui um pacto (Ex 24) com aqueles que tirou do Egito, constituindo uma verdadeira comunidade, um povo novo. A aliança do Sinai não se estabelece entre as diferentes tribos ou grupos que formarão o povo de Israel, mas entre estes e Javé, numa relação única e singular. O êxodo foi como o batismo do povo no mar, e a aliança ao pé da montanha é o passo decisivo para a constituição do povo de Deus. No Sinai, Javé se manifesta teofanicamente (Ex 19). A teofania na Bíblia significa a manifestação de Deus, que é cercada de elementos maravilhosos e extraordinários. Ali no Sinai, em meio à teofania, Javé revela sua lei (Ex 20-23) e faz a aliança (Ex 24). Eis portanto, a trilogia que constitui a experiência de Deus do povo no Sinai:
  • 5. 5 • A teofania: Javé se apresenta como um ser luminoso e fascinante, com uma liturgia cósmica impressionante. Sua voz soa para transmitir o decálogo (Ex 20,2-17) e o código da aliança (Ex 20,22-23). • A lei: a revelada por Javé, dom de Deus a seu povo. A narração teofânica aparece emoldurada por textos de aliança. O decálogo é o documento da aliança. • A aliança: é o compromisso fundamental do povo com seu Deus. A experiência com Javé carrega consigo a exigência da rejeição dos outros deuses, primeiro dos mandamentos (Ex 20,2-3). Ele libertou o povo e o introduziu sob seu senhorio. A ação salvífica de Javé fundamenta as exigências dos mandamentos e a proibição de ter outros deuses (Ex 20,3-5) e fazer imagens. Javé se mostra desde o princípio como um Deus ciumento (Ex 20,5b-6; Dt 4,24; 6,15; Js 24,19), um Deus exclusivo, que não admite rivais. Isso se choca com o politeísmo dos outros povos. Ele se empenha sumamente em tudo que faz: quando salva e quando castiga. Pede contas das transgressões aos que o odeiam, mas mostra misericórdia com os que o amam e observam seus mandamentos (Ex 20,5b-6; 34, 65; Nm 14,18; Dt 7,95). Sua misericórdia sempre prevalece sobre o castigo. Por isso, e por muito mais, Javé é um Deus incomparável (Ex 15,11). 1.2.5. O Deus dos profetas: Os profetas são homens de Deus, porta-vozes de sua revelação. Falam em nome de Deus, proferem o juízo, 0 julgamento de Deus sobre a vida do povo, os governantes, os latifundiários, os sacerdotes que abusam do culto. Eles são, por assim dizer, a boca falante de Deus no meio do mundo e da história. Cada um deles tem uma experiência própria e original desse Deus que os toma por inteiro e se serve deles para dizer o que deseja ao seu povo. O grande profeta de Israel é Elias. Embora não haja um livro profético com seu nome, ele é o modelo de todos os profetas. Elias, que leva a marca de Deus em seu nome (El), é um homem de Deus (1 Rs 17,18.24; 2Rs 1 ,9-16). Grande responsável pelo monoteísmo javista de Israel, ele combate o deus Baal para mostrar a unicidade de Javé, que é, para ele, o único e verdadeiro Deus. Por isso, fala contra o rei Acab (1 Rs 18,17-20), contra o povo de Israel que adora Baal (1 Rs 18,21-24) e contra os profetas de Baal que fomentam seu culto (1 Rs 18,25-30). Os profetas clássicos (nome com que são designados os principais profetas, autores de livros bíblicos) são, antes de tudo, transmissores da palavra de Deus. O Deus dos profetas é o Deus que fala por sua boca: oráculo, assim diz Javé. Estes oráculos são de condenação ou salvação, denuncia ou convite a
  • 6. 6 conversão, que são as duas dimensões da palavra de Deus e de Deus mesmo: um Deus que castiga-condena e que perdoa salva. Vejamos como Deus é apresentado em alguns deles: Amos: Seu livro é estruturado em torno de vários nomes e designações de Deus, nos quais se destaca o de Javé, relacionado estreitamente com o bem, a pratica da justiça e do direito (cf. 5,4ss) Oséias: Usa muitas imagens para caracterizar Deus (medico, caçador, pastor, leão, pantera e ursa), mas a imagem do matrimonio e da paternidade - maternidade de Deus se impõe. Javé é o marido e Israel, a esposa infiel, cujos amantes são os baales (Assíria e Egito). Oséias lutou, como Elias e Jeremias, pela purificação do javismo. Fala contra os ritos cananeus de fertilidade. Fala de Deus como pai -mãe do filho pequeno Israel, um amor que transcende o de qualquer ser humano. Isaias: Para ele, Javé é o santo por excelência e o rei e senhor dos exércitos, cuja gloria enche toda a terra (6,1ss). Com a santidade de Javé, Isaias contrasta o pecado de Israel, que Javé castiga e condena (9,12;10,16;30,9;3,8;5,13.29;6,11s;28,18ss), mas antes oferece conversão e perdão (5,25; 10,4). Haverá um resto que se salvará e do qual sairá um rebento sobre o qual repousará o espírito do Senhor (6,13; 11,1 s; 14,32; 28,16s). Será da raiz de David, o messias que trará a justiça e o direito à terra (7-11). Miquéias: Também fala de um resto, de um rei messiânico, (5,1 ss) e de Jerusalém como centro de atração universal (4,1 ss). Jeremias: Anuncia o Deus da palavra. A palavra de Deus e posta em sua boca pelo próprio Senhor, para que cumpra a missão de arrancar-destruir e construir- plantar (1,9.10.12). Deus escrevera sua lei no coração do povo, renovando-o e transformando-o em seu interior. A brecha entre a lei de Deus e os desejos do coração humano será fechada pelo mesmo Deus. A comunhão com Deus será total. A nova aliança é escatológica: todos conhecerão a Javé. Ezequiel: Fala do Deus transcendente e inacessível, mas presente através de sua gloria (1,28; 3,23; 8,4; 10,1; 43,2). O Deus de Ezequiel julgara o povo por seus pecados. Dentre os quais o mais grave e o da idolatria (14,18; 16,16; 20,28s). Segundo Isaias (Is 40-55): Aqui, Deus e apresentado como o criador e o salvador, anterior a tudo o que existe, na origem de tudo (43,10; 44,6.24) e redentor do povo e de tudo que existe, fazendo uma nova criação (41 ,20; 48,7). Javé se revela como um Deus singular, como um pai com entranhas de mãe. É um Deus único e incomparável (41,4; 44,6s; 45,5.14.18.21). O monoteísmo
  • 7. 7 emerge no dêutero (segundo) Isaias como um monoteísmo soteriológico. O Deus dos profetas é polifacético. Cada profeta destaca determinados traços de seu rosto. Não falam tanto do ser mesmo de Deus, quanto de sua atuação na história. Desse agir divino intra-histórico é que saem os diversos atributos divinos (ciumento, misericordioso, santo, eterno), os títulos (criador, esposo, juiz, pai- mãe, salvador, redentor), como também as imagens verbais para significá-lo (Leão, caçador, médico, pastor, pantera, ursa). 1.2.6. O Deus dos sábios: Ha cinco características principais sobre Deus nos livros sapienciais: 1) Muitos aspectos da vida são tratados sem uma referência explicita a divindade. 2) Ha uma preferência frequente por expressões genéricas ou indeterminadas ao referir-se a Deus. 3) Constata-se uma falta de referencia a eventos históricos. 4) Predomina uma descrição não mitológica do mundo e da divindade. Portanto, uma descrição mais realista, com imagens da vida concreta e do cotidiano. 5) Percebe-se uma atitude reservada com relação ao culto. E importante observar que cada um dos livros sapienciais apresenta sua própria concepção de Deus: Provérbios: Deus inspira temor (1,7;31,30). trata-se de um temor feito de respeito filial, reverencia e amor, parte integrante da vida. Deus se remete ao comportamento das pessoas, prova os corações e dá a cada um segundo suas obras (16,2; 17,3; 21,2; 12,2; 24,12; 25,21s). A sabedoria não é mera espectadora na criação e ordenação do mundo, mas a primeira criatura de Deus, o plano de Javé sobre todas as coisas (8). Jó: Deus e designado com vários nomes: Javé, nos marcos narrativos (1 s.; 42,7ss). No poema, como EI, Eloah, Elohim, Shaddai e EI-Shadda: (3,1-42,6). No prólogo há uma imagem singular: Deus governa colegialmente o mundo (1,6; 2,1). Os amigos de Jó têm uma ideia coerente de Deus: ele e o criador todo poderoso que assegura aos homens a justa retribuição de seus atos (4s; 8; 11; 15; 18), com uma justiça inquestionável. Jó discute o modo de proceder de Deus, embora admita seu poder criador (10,8ss; 12,11 ss; 9,21; 10, 14ss; 6,4; 7,12ss). Recorda o passado, quando Deus o protegia (29,1 ss), reconhece nele o redentor (19,25-27), ressalta a bondade de Deus criador (38,31 ss; 39,5ss) e seu controle sobre o mundo e a realidade. Qohélet ou Eclesiastes: Deus é sempre chamado de Elohim. Deus é um ser misterioso e invisível, impossível de ser conhecido. Oculta-se mais do que se manifesta (3,11; 8,16s; 11,5). E criador e juiz (11,9), e dono e soberano da vida
  • 8. 8 (8,15) e dele depende a sorte e a desgraça (2,24-26; 7,14). Eclesiástico: Toda sabedoria vem de Deus (1,1) e o temor de Deus é sua raiz (1 ,11-20). Os que temem o Senhor lhe obedecem e amam (2,7-17). O temor de Deus e equivalente a sabedoria, grande dom do Senhor a seu povo (24). Sabedoria: O tema central é a morte e a imortalidade (1-5). Os justos viverão eternamente com aquele que escolheram (3,1-5; 5,15). A sabedoria é mediadora entre Deus e o âmbito cósmico – soteriológico (6-9). A sabedoria é hipostasiada (feita pessoa). Essa hispostasiação ou personificação, ao mesmo tempo que é um atributo divino, será terreno fértil para a sua aplicação ao Cristo, a partir do Novo Testamento. Deus ocupa um lugar relevante nos livros sapienciais, ora perto da concepção tradicional do Antigo Testamento, ora abrindo novos horizontes para o Novo Testamento. Deus fez o ser humano a sua imagem, mas ninguém humano é capaz de modelar um Deus semelhante a si (Sb 15,16). Somente alguém divino- humano pode aproximar Deus e o ser humano. Os livros sapienciais, relidos pelo Cristianismo, vão reconhecer a sabedoria encarnada em Jesus de Nazaré. . Após este percurso pela pluralidade e pela polifonia das nomeações de Deus no Antigo Testamento, vamos dar mais um passe no trabalho de escuta e descoberta do fio condutor da revelação desse Deus ao povo de Israel. A releitura do Antigo Testamento a partir do Novo Testamento é o que nos permitirá fazer isso. Vamos, então, proceder a esta releitura pretendendo e legitimamente tentando realizá-la na continuação deste capitulo. Com todo o respeito e amor que temos pela revelação de Deus no Antigo Testamento, que é revelação também para nós, nossa intenção é fazer teologia crista. Ou seja, nos propomos a pensar e falar sobre o Deus da nossa fé, que acreditamos nos ter sido revelado na história do povo de Israel, mas, sobretudo e plenamente em Jesus Cristo. E com esta iluminação que vamos ler e refletir sobre as etapas da revelação de Deus no Antigo Testamento, a partir do seu coroamento e da sua plenitude no Novo Testamento. 1.2.7. Deus no antigo testamento: Etapas pré-cristãs de sua revelação Após fazer um rápido percurso sobre as muitas maneiras pelas quais os principais livros do Antigo Testamento falam de Deus, o objetivo da nossa reflexão é fazer um corte transversal na revelação de Deus ao povo de Israel. Perceber os fios condutores desta revelação e procurar entrever seus remanescentes hoje, em nossa vida e na vida da comunidade eclesial. Isso nos ajudara a perceber como muitos de nós ainda estamos no Antigo Testamento,
  • 9. 9 em termos da experiência de Deus, e não fizemos totalmente a passagem para o Novo Testamento. Não estaríamos, pois, disponíveis para ouvir e receber a Boa Nova (Evangelho) de Jesus. Nesta seção, vamos tentar compreender algo da nossa fé em Deus e do nosso catolicismo atual. Isso talvez nos ajude a ver que temos que morrer para muitas das nossas concepções mais arraigadas, ainda que religiosas, sobre Deus. Esperamos, assim, poder dar um passo à frente da experiência do Antigo Testamento embora conservando toda a imensa riqueza aí recebida e aprendida e receber a grande e radical novidade da revelação de Deus que Jesus Cristo nos traz. O método que iremos empregar e considerar e usar o Antigo Testamento como paradigmático e exemplar. Vamos ver que ali aparece o fundamento da evolução para toda descoberta de Deus. Com este objetivo, vamos tomar as etapas, tradições, e não os livros. Veremos as diferentes tradições pela ordem, indo das mais antigas para as mais recentes, sem nos preocuparmos muito com exatidões literárias e construções relacionais. Não se trata de uma análise filológica e exegética, e sim de uma leitura teológica, uma das muitas possíveis para descobrir o processo pedagógico e amoroso da revelação de Deus a seu povo. Finalmente, veremos como somente a luz da fé em Jesus Cristo essas quatro etapas se organizam e se tornam coerentes (cf. 2Cor 3,13-18). A luz de nossa fé, são etapas pré-cristãs da descoberta de Deus. A cada etapa corresponderão: • Alguns textos fundamentais que dão a moldura da situação histórico - bíblica. • Uma ideia de Deus. • A experiência correspondente a esta ideia. • O alcance e as limitações da etapa onde esta ideia e onde esta experiência tomam corpo. • E, finalmente, seus remanescentes entre nós. Primeira etapa: O Deus terrível Textos fundamentais: Gn 4, 13; Ex 3,1 ss; Ex 19, 20 ss; Ex 20, 18-20; Ex 30, 25ss; 1Sm 6, 11-16; 2Sm 6, 3-7. Situação histórico - bíblica: De 1250 (êxodo) a 900-800 a.C. Refere-se ao tempo da conquista da terra e aos primeiros reis. Idéia de Deus: Deus não aparece como poder universal, tal qual o é para nós. Deus é o Deus da terra em que habitam aqueles que a adoram. Nessa terra ele concentra poder e autoridade. Estar longe da terra equivale a estar longe de Deus, de sua proteção. Por conseguinte, para o ser humano desta etapa, Deus
  • 10. 10 atinge e pode ser atingido só indiretamente (Gn 4,13). O acesso a Deus se da pelo encontro concreto na terra em que vive o ser humano. A mediação da terra é fundamental. Experiência de Deus: Esta se dá no inexplicável e no terrível (Ex 3,1ss).o ser humano se sente pequeno diante do tremendo mistério de Deus. experimenta liberdade no profano, e terror diante do sagrado. Atitude religiosa fundamental: O ser humano não pode aproximar-se familiarmente da terrível santidade de Deus, do sagrado (Ex 19,20ss). Para isso é preciso um intermediário. Alguém que seja, ao mesmo tempo, santo e humano (Ex 20,18-20). Tampouco e permitido aproximar-se de uma só vez do sagrado. Ha graduação nas aproximações, uns podem aproximar-se mais, outros menos. A aproximação exige condições especiais: a santificação e a preparação (Ex 19,22) conseguidas pela purificação ritual das pessoas, das coisas e dos animais (Gn 7,2). Isso permanecera como uma experiência forte para o povo judeu e só conhecerá uma concepção renovada em At 10,9-15, quando e revelado a Pedro que esses rituais não interessam mais ao Deus dos cristãos. Esta primeira etapa da caminhada religiosa de Israel e muito centrada sobre a necessidade da purificação para o encontro com Deus. Os puros, Deus acolhe. Os impuros, Deus rejeita (Ex 30,25ss). o sagrado, o reservado, o separado por Deus é o que ele reservou para si, Portanto, usar e tocar profanamente algo sagrado é um sacrilégio, mesmo se feito sem intenção. A intenção do ser humano e alheia a tudo isso. Um bom exemplo do que acabamos de dizer encontra-se na comparação entre estes dois textos: 1 Sm 6,11-15 e 2Sm 6,3-7. Qual a diferença entre a ação dos filisteus e a ação de Oza? A dos filisteus estava prevista ritualmente. Era programada religiosamente, fazia parte dos rituais convencionados. Eles não pertenciam ao povo de Deus, portanto o interdito de tocar nos objetos sagrados não lhes dizia respeito. A ação de Oza e uma ação familiar, como segurar uma coisa que vai cair. Segundo a mentalidade religiosa, a arca de Deus não pode ser tratada como uma coisa qualquer, mesmo que a intenção seja boa. Por isso, Oza foi punido e os filisteus não. Significado desta etapa: Aparentemente, e negativo. Essa centralidade no ritual e nas purificações se choca com a nossa mentalidade moderna. Mas há muitos pontos positivos sobre os quais deveríamos refletir com cuidado: a) Encontramos aqui uma descoberta radical do absoluto, embora muito rudimentar. Uma descoberta existencial de Deus fora do domínio das coisas normais da vida humana.
  • 11. 11 b) Pode ser percebida uma grande valorização da experiência do ritual, que põe o ser humano em contato com Deus, rompendo a cadeia do habito, do cotidiano, do manipulável. O rito aqui aparece como aprendizagem do absoluto, intervenção do incondicionado na hist6ria e no provisório. O ser humano precisa dos rituais para relacionar-se com Deus. Nossa época, que tanto desvalorizou o rito, precisa aprender a reencontrar sua importância, sem cair no ritualismo, para reintroduzi-lo em sua vida de fé. O grande interesse atual pela liturgia, pelos símbolos e gestos dão testemunho do que acabamos de dizer. c) Do ponto de vista do Cristianismo, Deus e amor. Essa afirmação só é possível se compatível com esta outra: Deus e absoluto. Esta etapa já começa a ensinar ao povo de Israel e também a humanidade que o amor e o único absoluto, e só o absoluto e amor. Só o amor e digno de fé. Por ser Absoluto, Deus-Amor tem as suas exigências, e suas exigências servem para fundamentar ainda mais o amor. Numa época, como a nossa, em que o amor tornou-se, para muitos, uma palavra vazia, precisamente pela falta de fidelidade e de disciplina para sua conservação. essa experiência que Israel fez do absoluto de Deus torna-se bastante atua. Pois o amor é o que desinstala. o amor e o que tira o ser humano bíblico de sua casa, de sua terra e de sua parentela. assim como nos tira das "nossas seguranças" e nos leva ao desconhecido. nos arrasta para onde nunca fomos, para fazer algo Que tampouco sabemos, mas que Deus sabe (Gn 12,1 / / Mt 10.35-39; Jó 3.8; 21,18). Limitações desta etapa: • Uma certa exterioridade: Não pode haver vida religiosa, de fé, apoiada apenas no exterior, no ritual, sem o profundo da subjetividade do ser humano. Embora se reconheça aqui um ponto de partida da pedagogia divina. • Uma certa debilidade diante do sistema de explicação cientifica dos fenômenos humanos. A medida em que o mundo for se explicando, com o desenvolvimento da ciência, o sagrado primitivo tende a desaparecer. Remanescentes entre nos: Percebemos ainda na nossa vida eclesial e na nossa pastoral muitos remanescentes dessa primeira etapa da descoberta de Deus do Antigo Testamento: • A superstição (eficácia do sagrado colocada nas coisas e nos ritos externos) ainda e extremamente presente no povo católico de todos os níveis sociais e culturais. • A crença numa certa eficácia mágica de certos ritos (os sacramentos
  • 12. 12 eficazes em si mesmos, desvinculados da pratica). • A promessa, com uma certa dimensão de comercio divino, no senti do de que "Deus me dará o que peço, se eu cumpro uma serie de prescrições externas, que supostamente lhe agradariam". • As indulgências concebidas como "compra da salvação”. • Um certo esoterismo da liturgia, que atua independentemente da compreensibilidade e da participação da assembleia. • A frequência aos sacramentos concebida como aumento da graça em termos cumulativos (quanto mais se comunga, mais "capital salvífico" se tem guardado para a hora da morte e do julgamento). • A multiplicação de ritos como garantia de salvação. • A concepção do clero e pessoas consagradas como intocáveis e mais santas do que as outras • A importância dada a fórmula dogmática, mais que ao conteúdo. • A vida moral baseada em prescrições e proibições: “pode", "não pode". Essa etapa pela qual passou Israel, muitos de nós ainda hoje experimentamos. É preciso superá-la e passar à etapa seguinte, assim como o fez o povo de Deus. Segunda etapa: o Deus da Aliança Textos fundamentais: Dt 26,5ss; Jz 11,17-24; Mq 4,5; Os 2,14ss; Am 5,21; Is 1,9-17; Dt 5,1ss; 6,1-3; 7,1-13; 7,9-11; Os 7,9-11; Is 31,1 ss. Situação histórico - bíblica: De 900 a.C. ao desterro de Judá na Babilônia. Em 721 acontece a destruição do Reino do Norte. Mais ou menos em 630, a reforma de Josias. Corresponde aos primeiros grupos de profetas (Isaias, Amos, Miquéias, Oseías) e a redação de Juízes, Samuel, Reis e Deuteronômio. Ideia de Deus: Continua não sendo um Deus universal, mas o Deus de Israel, Deus dos pais (Dt 26,555). Não chegamos ainda ao monoteísmo, no sentido pleno do termo. E mais uma monolatria (também conhecida como henoteismo), ou seja, o povo adora a seu Deus, em meio aos deuses dos povos vizinhos (Jz 11,17-24). Javé é o Deus de Israel, porque escolheu Israel como povo. Ele se compromete com Israel, e vice-versa. Experiência de Deus: Essa etapa requer e revela um Deus que se aproximação mais do ser humano. Aproximação é sinônimo de proposta, de pacto, de ligação, de aliança. Mais do que a relação muito exterior estabelecida pelos ritos
  • 13. 13 desvinculados de uma pratica, trata-se agora da instauração de uma relação mais pessoal e próxima, mais moral, do povo com Javé. Atitude religiosa fundamental: A fidelidade é a imagem das relações entre o povo e seu Deus. Israel aparece e é entendido aí nesta etapa como a esposa de Javé. Ele é o esposo de Israel (Os 2,1455). Esposo fiel e que exige fidelidade, que tem "ciúme" quando Israel adora outros deuses. A fidelidade é uma atitude essencialmente humana, diferente dos ritos incompreensíveis da primeira etapa. E o fato de a fidelidade estar no centro da experiência desta etapa revela que Javé já não quer mais ritos externos, mas o coração do ser humano (Am 5,21). A moral expressa essa fidelidade, que se revela no mais profunda do coração das pessoas. Condena-se a religião meramente ritual, mais ainda, condena-se todo ritual que não chegue ao coração humano. o deserto – lugar do encontro e do amor da juventude aparece como o tempo da fidelidade sem ritos (Am 5,21; Is 1,9-17) e do desprezo por um ritualismo sem alma e sem justiça. O decálogo se apresenta como código da aliança. Se Israel cumpre os mandamentos, Deus cumpre a sua parte e protege Israel para sempre. Daí resulta uma atitude histórica: Israel deve cumprir somente uma parte da aliança (mandamentos); do mais, Javé cuida. Israel se ocupa da moral, e Javé, da história (providencia). Cada problema histórico deve, portanto, suscitar em Israel uma renovação moral (Os 7,9-11; Is 31,1 55). Nesse sentido, haverá dois possíveis pecados denunciados pelos profetas: a infidelidade (ou seja, a idolatria, o culto a outros deuses) e a auto-suficiência (pretender dirigir os próprios acontecimentos sem confiar na providência divina). Significação desta etapa: o sagrado e o divino aqui aparecem como providencia moral e histórica. Deus dispõe os acontecimentos históricos segundo a conduta moral do povo escolhido. Em relação a primeira etapa, há uma aproximação do centro da existência humana, o coração. Isto implica um progresso aproximativo de Deus em relação ao ser humano. Aparece uma nova identidade entre religião e tarefa histórica, relacionada pela noção de aliança. A descoberta central que preside esta experiência é a de que o ser humano é colaborador de Deus, mesmo indireto, num desígnio que se realizara na história, descoberta que necessitara de purificações. A revelação crista definitiva recapitulara isto tudo em Cristo, a testemunha fiel por excelência, que recapitula a história com sua encarnação, vida, morte e ressurreição, inaugurando a nova criação e sendo tudo em todos. Limitações desta etapa: Estamos longe ainda de uma religião verdadeiramente universal, como o Cristianismo. Para nós, é incompatível, com a noção de Deus que temos, esse privilégio exclusivo de um só povo Que não se abra para dimensões mais universais. Além disso, a experiência histórica quase sempre desmente a concepção providencialista, simplista, de Deus. Quase nunca o justo vence o ímpio com o auxílio de Deus. A relação com Deus é assimétrica. Não
  • 14. 14 constitui, ou não se resume num "toma lá - dá cá", como parece confortavelmente crer o israelita dessa segunda etapa. Para superar essa amarga constatação, há que se dar mais um passo e aprender a gratuidade na terceira etapa. Remanescentes entre nós: Também ainda percebemos muitos resquícios desta etapa na nossa vida espiritual e eclesial, e na nossa visão do mundo. Podemos encontra-los em: • Cristãos mais ativos e conquistadores, que fazem do fundamentalismo e do proselitismo sua bandeira e sua forma de ser. A ideia de cruzada - fazendo do cristão o depositário de um desígnio de Deus a ser realizado na história, eliminando tudo aquilo que faz oposição histórica a isso- não é alheia a essa concepção e pode iluminar o que acabamos de afirmar. • A divisão do mundo em dois: bons versus maus; amigos versus inimigos, os que estão conosco versus os que não, os que são "dos nossos" versus os que "não o são", com desrespeito a pessoa e a liberdade. • O uso do nome de Deus para fins puramente políticos e ideológicos, muitas vezes desumanos. o exemplo de terroristas que matam em nome de Ala é significativo. No entanto, não se pode esquecer que os governantes norte- americanos pedem que Deus (qual?) abençoe a América, mas mantêm guerras e vendem armas em várias partes do mundo. • O fim, sendo bom, é justificado por qualquer meio, até mesmo de coação e violência. o processo de colonização da América Latina, aliado a religião, tem algo a nos dizer sobre isto, assim como muitas outras manchas que prejudicam nossa história, como a Inquisição, cujos erros foram recentemente reconhecidos pelo Papa João Paulo II. • A redução do ser humano e do povo a mero instrumento do plano divino, sendo este colocado, quando não manipulado, nas mãos de alguns líderes. Na história da Igreja, essa mentalidade justificou a escravização e a tortura em muitas épocas. • Mais sutil ainda é um remanescente que coloca a justificação do resultado histórico pela moral (merecimento ou desmerecimento). Por exemplo: "Os ricos merecem sua riqueza" (Max Weber). "Que fiz eu para merecer esse castigo?" E também a teologia da prosperidade, tão atual, presente em muitas das seitas pentecostais novas que proliferam incessantemente pelo continente latino-americano. Terceira etapa: o Deus transcendente e criador Textos fundamentais: Is 40 (livro da consolação de Israel); Gn 6,1-8; 11-14; Is 66,23; Ez 21 ,8ss; Sl 1; 37,25, 58, 12ss; 44,14-23; 73,13-16; 17-20; Jó 4.12 ss; 9,22-23; 7,19-21; 38; 39,33-42,1 ss; Ecl 3,16-22.
  • 15. 15 Situação histórico-bíblica: Anos 550 a.C.: tempo do exílio e restauração (Esdras e Neemias), da redação da fonte sacerdotal (Gênesis, Êxodo, Numero, Levítico), dos profetas exílicos (Dêutero e Trito Isaias, Ezequiel) e dos sábios (Sapienciais, Salmos, Provérbios, Jó, Eclesiastes). Ideia de Deus: Deus e o criador do céu e da terra. O povo deve fazer essa descoberta a partir da dura experiência do cativeiro. Israel no exílio geme: "Como é possível cantar ao Senhor em terra estrangeira?" E se pergunta: "Javé se teria deixado então vencer pelos deuses locais? Teria se esquecido de sua aliança?" O profeta Isaias responde a esse lamento do povo (Is 40,12-17), reavivando-Ihe a esperança: Deus é quem vai resgatar Israel. Deus, que é tão Deus na babilônia como em Jerusalém, e diante do qual os outros deuses nada são, e a verdadeira esperança do povo. O povo não espera em vão, seu Deus o consolara, pois ele criou o mundo do nada. Portanto, tem poder para isso e muito mais. Deus e transcendente, afirmam os profetas do exílio. Está acima de tudo e de todos. Não tem que lutar contra nada nem ninguém para provar seu poder, muito menos contra os deuses babilônicos. Todos os povos são, diante dele, nada e vaidade. Deus é único. os deuses dos outros povos não são nem sequer deuses menores. Não são nada. Quem os adora, adora o nada, comete idolatria. Javé nem sequer tem mais ciúmes, pois eles não existem (cf. Is 40,18ss, que fala sobre a fragilidade de qualquer imagem). Experiência de Deus: Se Deus é criador, o ser humano é criatura, pequena e contingente. É carne, objeto da ação criadora, que anseia por ver e verá a gloria de Javé (Is 40.5-8). Toda carne é como a erva, flor que murcha, frágil, incapaz de opor-se ao poder de Javé, que a criou (Gn 6.11-14 // Gn 6,1-8). Por isso. Deus e o único poder diante do qual, nada resiste. o próprio da criatura (carne) é passar, ser contingente. Ser Incapaz de opor-se àquele que a fez e que, portanto, pode amoldá-la como quiser. O próprio de Deus é sua palavra e a eterna permanência. Esse Deus, portanto, ao se relacionar com o ser humano, mostra sua transcendência, muito além de qualquer exigência da criatura. Vai manifestá-la por exigência universal. Antes, a exigência de Deus era só para Israel, o povo da aliança. Israel podia exigir de Deus, de acordo com o cumprimento da aliança. Na primeira etapa, Deus exigia as coisas necessárias para o ser humano aproximar-se dele. Agora, as exigências de Javé são de criador para criatura, para toda criatura, original e irrepetível, não mais apenas para o coletivo do povo (Is 66,23). Cada pessoa, portanto, é valorizada.
  • 16. 16 Atitude religiosa fundamental: A submissão a esse Deus é fundamental. Para o ser humano desta etapa, ou a criatura se submete ao seu criador ou será exterminada. A criatura nada pode exigir ou cobrar de Deus. Para fazer valer isso, Deus se apresenta universalmente como Deus. Deus é o criador de toda a criatura. Manifesta a criatura aquilo que ela é e, fazendo isso, manifesta também, transcendente e gloriosamente, aquilo que ele mesmo é: Deus criador. Assim, Deus exerce sua justiça sem encontrar oposição. A santidade ou a boa conduta do ser humano não podem competir com sua ação livre e soberana. A criatura não tem justiça própria, diante da qual Deus tenha que deter sua mão. Deus é livre em sua soberana sabedoria e sua bondade para castigar o justo e oi pecador. o ser humano não pode exigir de Deus o cumprimento da aliança (Ez 21 ,8ss), porque ninguém pode se pretender justo diante de Deus. Não ha justo e pecador - existe apenas a criatura. Perceber isso é perceber, por um lado, a infinita santidade de Deus e, por outro, a indigência absoluta da criatura. O ser humano diante de Javé tem sede e tem temor. Sede porque é pequeno, carente, e precisa de Javé para tudo (SI 63.2: 65,3). Tem temor e tremor porque necessita vital e fundamentalmente de Javé. Treme, porque ele é o transcendente, misterioso, glorioso. Ultrapassa seu entendimento e pode aniquilá-lo. Nesta época, já não se ousa, em Israel, pronunciar o nome de Javé. Substitui-se por Adonai (Senhor). Jura-se pelo templo, para não jurar por Deus. Fala-se em nomes do nome, para não falar diretamente de Deus. Coloca-se também em questão o problema da aliança. Ela continua válida? Com o exílio e a restauração (a volta a terra e a reestruturação legislativa) os judeus perdem os sonhos de grandeza histórica e domínio guerreiro. A religião passa a ser mais uma moral, uma sabedoria, uma atitude do ser humano em vida. A princípio, a aliança assume aspecto Individual, mas ainda dentro do mesmo esquema: a atitude moral do ser humano determina o acontecimento histórico (SI 1 .37.25: 58,12). Deus, por sua vez, garante a justiça sobre a terra, confirmando a conduta do justo. Depois, na literatura sapiencial, o ser humano bíblico vai perceber que não se pode afirmar isso com honestidade. Não se pode dizer que o justo ganha sempre, mesmo quando não trai a aliança (SI 44, 14-23: 73, 2-5; 13-16). Enfatiza-se, então, a absoluta transcendência de Deus, para responder à angustia do ser humano que tem de acreditar nesse Deus, que é vida, mas não impede a desgraça, a morte e a infelicidade, mesmo daqueles que são justos e tementes a lei do Senhor. O ser humano desta etapa vai descobrir que Deus não está ligado as atitudes humanas. Vai perceber que é preciso rever a segunda etapa e o conceito de aliança. No entanto, não há ruptura total com a etapa anterior. Na tentativa desesperada de reconstruir a noção de aliança, aparece a noção do sono de Deus (SI 44,24-27). Deus parece dormir, mas despertará e
  • 17. 17 fará justiça. Surge também a ideia do prazo. Deus demora. Mas virá e fará justiça (SI 73,17-20). Já no livro de Jó, aparece claro que a relação moral-história não existe tão simetricamente como parece estar descrita nos escritos desta etapa. Deus tem desígnios sobre o ser humano, que só ele conhece, e que o ser humano não pode compreender nem alterar. Jó é justo e sofre. Busca desesperadamente um sentido para a sucessão de perdas em que se transformou sua vida. Seus amigos repetem-lhe a doutrina oficial que pretende unir a aliança com o Deus transcendente (Jó 4,12ss). Mas Jó não interrompe o diálogo com Deus, mesmo que às vezes se dirija a ele de forma violenta, agressiva, desesperada, chegando mesmo as fronteiras da blasfêmia. Na verdade, não há inocência de que o ser humano possa prevalecer-se diante de Deus. Na terceira etapa Deus a livre para fazer o que quiser do ser humano e da história, independente da conduta humana. Em Jó 9,22-23 está a grande descoberta de Israel, nesta etapa. Essa constatação obriga a buscar algo mais (Jó 7,19-21), para além do que pode ser percebido pelos sentidos humanos. Jó fala da morte como termo da vida, quando há de executar-se a justiça. Ainda não aparece a esperança para depois da morte, nessa etapa. A justiça deveria estar dentro da vida, mas não chega (Ecl 3,16-22). Qual a solução? Ela se encontra em Jó 38,1ss; 42,1 ss. Ora, Deus a absolutamente trans- cendente. O ser humana não pode pretender chegar ao conhecimento de seu mistério, nem encontrar um sentido 1ógico para sua vida. A providencia de Deus não se explica. o ser humano deve calar e adorar, botando a mão na boca. É o que Jó faz, no auge do desespero. Assim, o Deus de sua fé acaba respondendo- lhe misteriosamente. Significado desta etapa: Ha uma grande evolução em relação às anteriores. A noção de Deus se purifica. Aparece pela primeira vez a concepção de Deus como uma providencia transcendental. E pode-se perceber uma noção de revelação progressiva de Deus em ritmo dialético. Se na primeira etapa há um afastamento da concepção do Deus terrível, na segunda se percebe uma aproximação: o Deus da aliança é providencia, moral que interpela o coração humano. Já na terceira etapa há um novo afastamento (pedagógico), a fim de chamar a atenção para o abismo intransponível entre o criador e a criatura, para obrigar a criatura a dar um passo mais na experiência religiosa e viver a gratuidade em sua relação com Deus. Trata-se de uma religião muito pura. O ser humano adora o mistério de Deus, entrega-se gratuitamente a sua providencia. Por outro lado, Deus se relaciona universalmente com toda criatura, não mais só com o povo escolhido. A vocação de Israel estende-se ao Universo inteiro.
  • 18. 18 O primeiro capitulo do Gênesis - texto fundamental para a compreensão desta etapa da revelação divina - apresenta uma visão fundamental de Deus, do ser humano e do cosmos (mundo). Deus a o criador do Universo. Só porque criou o Universo é que, dentro deste Universo, escolheu um povo. o suporte da aliança é, portanto, ontológico. Tem seu fundamento na criação do Universo. Não se restringe a um único povo particular. A eleição não significa monopólio do povo eleito. Os últimos profetas já mostram, então, a aliança abrindo-se para todos os povos, ligada a própria criação Js 54; 60; 62 e Tb. 19,16-25). Quanto ao mundo, percebe-se nesta etapa uma unidade do plano de Deus, como será lembrado pelos escritores do Novo Testamento (Jo 1; CI 1,15-20; Ef 1,17- 22). o ser humano recebe de Deus a missão de dominar o mundo. Ora, esse mundo é em si mesmo desacralizada. Existe uma profanidade fundamental de tudo que não é Deus, portanto das coisas em geral. Ha porem uma ligação das coisas a Deus em sua raiz ontológica. O acabamento do mundo e deixado a cargo do ser humano para ele aí realizar a imagem de Deus, que é sua vocação. Os elementos principais desta etapa são: • Transcendência e universalidade de Deus. • Esboço de afirmação da profanidade das coisas. • Papel do ser humano no cosmos, cultual e histórico. A revelação crista retém e desenvolve a teologia que vê o ser humano como criatura frágil e dependente, mas, ao mesmo tempo, como colaborador de um Deus "maior que o nosso próprio coração" (1 Jo 3,20), com um projeto de dimensões universais. Limitações dessa etapa: Apesar de todos os avanços que traz para a concepção de Deus e a experiência religiosa, essa etapa apresenta também alguns limites bem claros e evidentes: • Uma passividade excessiva, que pode levar o ser humano mais consciente a se libertar do religioso e par o melhor de si na missão histórica, na profanidade das coisas. • Um individualismo que pode levar o ser humano a partir-se esquizofrenicamente em duas dimensões: vertical (religiosa) e horizontal (histórica). Remanescentes entre nós: Como resquícios deixados por esta concepção, ainda
  • 19. 19 em nossos dias, podemos constatar: • Um tipo de espiritualidade que e bem evidente em nosso Cristianismo: espiritualidade calcada na fragilidade humana, estimulando uma passividade e mesmo um fatalismo. • Uma desconfiança de todo empreendimento histórico humano que reivindica para si uma missão divina. • Uma separação estanque entre o histórico (profano), regido pelas leis da técnica, previsível, sagrado (vertical), imprevisível, que exige confiança cega. Trata-se de um caminho perigoso, que pode desembocar no dualismo. Dentro desta concepção, a religião não tem nada a ver com as estruturas sociais, as leis econômicas etc. A vida moral se dá somente no nível do privado, com os sacramentos, as devoções. As consequências disso são: • O risco de um protestantismo tradicional e um catolicismo que vêem, nas diferenças entre pobres e ricos, a vontade de Deus. • O único mal verdadeiro seria o pecado moral, sem a devida percepção dos pecados sociais. • Um reforço na piedade individual, em detrimento de uma liturgia e vida eclesial mais comunitárias. • A vida cotidiana seria concebida como uma aceitação da vontade de Deus expressa em acontecimentos e sinais verti cais e inesperados, e além disso, ambíguos. Quarta etapa: O salto além da morte - O desafio do Deus justo Textos fundamentais: Sb 1,13-14; 12;15; 16; 2,1-11; 12-20; 3.1-5; 5,1-5; 6ss; SI 115,17; 88. Situação histórico - bíblica: Anos 177-175 a.C., com o domínio do imperador grego Alexandre o Grande. Trata-se da situação que Jesus irá encontrar. A religiosidade de Israel se deparasse com a cultura e a filosofia helênica. Esta síntese será o pano de fundo da transição do Antigo para o Novo testamento. Idéia de Deus: Deus é o criador daquilo que é bom. A criação é boa (Sb 1,13- 14). Deus não cria para a morte, mas para a vida. O mal é o ser humano que provoca, usando inadequadamente as coisas (Sb 1.12). o pecado é um extravio, amartia, engano. Experiência de Deus: O ser humano vive numa alternativa de liberdade, na qual aposta sua vida: 1. Tem a possibilidade de escolher acreditar que a morte acaba com a existência. Nesse sentido, torna-se óbvio que, se tudo termina com a morte, o melhor a fazer
  • 20. 20 é sorver e aproveitar todas as delicias da vida, seja a que preço for. 2. Tem a possibilidade (que desponta aí) de acreditar que a justiça sobreviva à morte. Esta é a esperança do justo (Jó). O justo espera que a justiça sobreviva à morte. O mal e o sofrimento são, por isso, uma prova. O ímpio continua pensando que a justiça está submetida à morte. Quer gozar dos prazeres da vida. Usa para isso da forca e oprime o justo. A morte é o centro da aposta fundamental do ser humano. O ímpio aposta que a morte é o fim de tudo, goza de tudo e oprime o justo Sb 2.1-11; 12-20). O justo reserva-se para uma existência que há de vir. Isso, porém, é uma crítica constante ao ímpio (Sb 1,15 = cerne da esperança do justo). Atitude religiosa fundamental: Esperar a justiça na imortalidade. Crer que Deus faz justiça além do prazo da existência humana (Sb 3.1-5. O mal presente é uma prova. O resultado da aposta será que: 1. Os justos viverão eternamente com aquele que escolheram (Sb 5,1-5). 2. Os ímpios serão castigados pelo erro de sua aposta (Sb 5,6ss). No juízo, O ímpio obtém o que buscou, ou seja, o vazio daquilo que possuiu em vida e que a morte lhe arrebatou, enquanto o justo convive com seu Deus para além dos limites da existência terrena. Significado desta etapa: Deus é o princípio da justiça ultraterrena. O movimento dialético impõe uma nova aproximação de Deus e do ser humano, em termos de um pacto radical. Deus é justo e busca a justiça, exigindo uma santidade moral. O justo, que anda por este caminho, está perto de Deus. Pela primeira vez é afirmado o triunfo da vida sobre a morte. A ânsia da vida em plenitude se realiza no relacionamento do ser humano com Deus. A quarta etapa a purificação da segunda. Constitui uma aproximação radical de Deus, já inaugurada com a noção de aliança, conservando tudo que é descoberto na terceira etapa em termos da transcendência e da gratuidade de Deus, mas deixando claro que a aliança que Deus faz com a humanidade não conhece limites, nem mesmo na morte. O Deus justo é também o criador de todas as coisas. E ele cria o ser humano para a vida que não termina. Deus nesta etapa se aproxima cada vez mais da liberdade pessoal do ser humano enquanto centro vital. O mal não é mais um obstáculo insuperável. Deus, na sua justiça, mostra seu rosto mesmo além da morte. Com estas etapas de sua revelação, Deus foi preparando e amadurecendo pedagogicamente o ser humano para receber o Cristianismo. Este último seg- mento é, de fato, o pano de fundo da pregação de Cristo e seus apóstolos.
  • 21. 21 Limitações desta etapa: São muito parecidas com as do Cristianismo vivido em nossas latitudes ainda hoje em dia: • Uma atitude de passividade diante do provisório desta vida vista como tempo de prova, esperando que o resto aconteça depois da morte. • Uma concepção da vida como destino, mais fatalista do que crista. Remanescentes entre nós: Existem, ainda, e são muito frequentes: • A existência presente é vista como provação. Tudo, menos os valores eternos, é provisório e de pouco valor. • A liberdade humana não é criadora. A liberdade é risco no sentido negativo do termo. O ser humano pode errar definitivamente o caminho. Portanto, quanto menos liberdade tiver, melhor. Como exemplos, podemos citar a formação para o sacerdócio e a vida religiosa, e a formação da criança presa em padrões morais estritos. • Ha uma inibição resignada do ser humano durante a vida. O ser humano religioso se torna vitima diante do ateu sem escrúpulos, especialista em êxitos. Retomada e releitura crista das quatro etapas A concepção crista retém e transforma o que essas etapas trouxeram: Primeira etapa: Deus, o absoluto, é amor. E esse absoluto não existe fora da história. A encarnação do Filho de Deus demonstra isto. Segunda etapa: O Deus da aliança é o Deus do Reino. Somos colaboradores de Deus num grande desígnio histórico. Somos o novo povo de Deus, o povo da nova e eterna aliança. Terceira etapa: O plano de Deus é universal como o próprio Deus. Não é uma domesticidade, um domínio, um privilegio estreito de um só povo ou de um pequeno grupo de escolhidos, mas, sim, uma busca comum da verdade que transforma o mundo. Quarta etapa: A ligação prova-liberdade é superada pela noção de liberdade- construção de um mundo novo. A justiça de Deus sobre o sofrimento do inocente encontra sua expressão definitiva na ressurreição, que vem a ser a palavra interpretativa do Pai ao confirmar o caminho de Jesus Cristo. Vemos, assim, a partir desta última leitura sobre a revelação de Deus no Antigo Testamento, que já encontramos, aí, sinais do Deus que Jesus Cristo irá nos revelar em plenitude. Embora sabendo que o Antigo Testamento descobre e adora o Deus de Abraão, Isaac e Jacó, cremos poder afirmar, sem medo, que esse Deus é justamente o Abbá de Jesus Cristo, o criador, o amor supremo de
  • 22. 22 sua vida, que ele nos ensinou a chamar de Pai Nosso. De qualquer forma, o rigor teológico nos obriga a não forçar os textos bíblicos, a não fazê-los dizer "coisas bonitas", que nos agradam. Na verdade, essas conclusões comparativas entre o Antigo e o Novo Testamento não se encontram nem podem encontrar-se no contexto vital onde tais textos foram escritos. Muito menos na intencionalidade de seus autores, que pertencem a urna época e um contexto histórico -vital anterior aquele no qual nasceu Jesus de Nazaré, e no qual se conceberam os escritos do Novo Testamento. Bibliografia Principal: • 1o ENCONTRO TEOLÓGICO. Deus onde estás? São Paulo: Loyola, 2000. • AA.VV. Deus Pai de misericórdia. São Paulo: Paulinas, 1998. • ANTONIAZZI, ALBERTO. BROSHUIS, INÊS e PULGA, ROSANA. ABC da Bíblia. 29a ed. São Paulo: Paulus, 1984. • BASADONNA, GIORGIO. Junto aos Rios da Babilônia. São Paulo: Paulinas, 1995. • CNBB. Amor sem limites, São Paulo: Paulinas, 1999². • GARCIA, D. M. COLOMBÁS, MB. Diálogo com Deus: Introdução à “Lectio Divina”. São Paulo: Paulus, 1996². • GUTIÉRREZ, GUSTAVO. O Deus da vida. São Paulo: Loyola, 1990. • JOHANNES B. BAUER, dicionário Bíblico-Teológico, São Paulo, Loyola, 2004². • LATOURELLE, S.J. RENÉ, Teologia da Revelação, Ed. Paulinas, São Paulo, 1972. • MARTINS, EUCLIDES BALANCIN e STARNIOLO, IVO. Como ler o livro do êxodo: O caminho para a liberdade. São Paulo: Paulinas, 1990². • MESQUITA, ANTÕNIO GALVÃO. A Santíssima Trindade: O mistério de três pessoas em um só Deus. São Paulo: Ave-Maria, 2000. • MINI AURÉLIO, o minidicionário da língua portuguesa, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2001³. • ZENGER, ERICH. O Deus da Bíblia. São Paulo: Paulinas, 1989. Bibliografia auxiliar: • CIC, cap. II, CO – ED. Vozes, 1993. • CONSTITUIÇÃO DOGMATICA dei Verbum sobre a Revelação Divina, Petrópolis, Vozes, 1965. • QUEIRUGA A T., A revelação de Deus na realização humana, São Paulo, Paulus, 1995.