Calixto de Jesus foi um pintor brasileiro do século XIX que se destacou por suas paisagens e cenas históricas de São Paulo. Ele estudou arte em Paris, mas permaneceu alheio às influências e inovações da época, preferindo focar em seu estilo regionalista. Calixto viveu principalmente em São Vicente, onde produziu grande parte de sua obra, focando em encomendas para igrejas e clientes particulares. Ele é lembrado hoje principalmente por suas pinturas marinhistas e litorâneas.
1. CALIXTO de Jesus, Benedito (1853-1927). Artista que, ao lado de Almeida Júnior e Pedro
Alexandrino, completa a tríade mais representativa das tendências pictóricas em São Paulo nos
fins do Séc. XIX e começos do XX, Benedito Calixto nasceu a 14 de outubro de 1853 na Vila de
Nossa Senhora da Conceição de Itanhaem, e adolescente transferiu-se para Brotas, onde
pintou seus quadros iniciais. Incentivado pelos encômios, realizou em 1881 sua primeira
exposição, na sede do Correio Paulistano, em São Paulo. O insucesso da mostra fê-lo
abandonar para sempre a capital e buscar refúgio em São Vicente, onde viveria praticamente o
resto da existência e construiria boa parte de sua obra.
Dois anos depois da má estréia paulistana, surgiu a Calixto a oportunidade de estudar
seriamente em Paris, a convite e a expensas do Visconde de Vergueiro. O pintor, embora
casado desde 1877, parte sozinho para a França, freqüenta sem maiores motivações o ateliê
de Raffaelli, cuja arte não aprecia, e pouco depois transfere-se à Academia Julian, como aluno
de Boulanger, Lefebvre e Tony-Robert Fleury. De Paris segue até Lisboa, onde por muito
pouco tempo recebe aulas de Silva Porto, tendo ainda freqüentado o ateliê de Malhoa.
Retornando ao Brasil em 1885, Calixto é rigorosamente o mesmo de quando embarcou: imune
a influências, impermeável ao fascínio cultural da capital francesa, permanece até o fim um
isolado, praticando um tipo de pintura do qual não se arredaria um milímetro, alheio a qualquer
inovação ou renovação.
Quando descansa da pintura, é no passado histórico de São Paulo que se refugia, ou então se
volta para as estrelas, em sua paixão de astrônomo amador. Esse amor excessivo à História
seria aliás nocivo ao artista, que com escrúpulos de documentarista chegará a povoar de
indígenas o quintal de sua casa, a fim de mais fielmente pintar A Fundação de São Vicente, e
que fincaria no mesmo local gigantesco mastro, para ter uma idéia mais real de como seriam
as naus de Martim Afonso de Sousa, quando aportou em 1532 a São Vicente.
Outro fator negativo a conspirar contra a arte de Calixto foi o elevado número de encomendas a
que teve sempre de atender. Já Vítor Meireles, em fins do século passado, referira-se ao
"afogadilho com que pensa e à rapidez com que executa o que pensa", acrescentando que,
vivesse acaso Calixto no Rio, tentaria corrigi-lo, "obrigando-o a pintar um trabalho grande,
durante dois ou três anos". Para os últimos anos de vida, sobretudo, transformara-se Calixto
numa autêntica máquina de fazer quadros, como se pode observar desse trecho de uma carta
remetida em maio de 1919 a um comerciante que se incumbia de lhe vender a produção:
- Peço-lhe o favor de tomar nota das pessoas que querem outros quadros, a fim de que as
mesmas se expliquem sobre o tamanho e o gênero que desejam, bem como o ponto ou lugar
que devo reproduzir.
Na mesma carta, desencantado, acrescenta:
- Pouco ou nada me adianta, agora que já estou velho, a opinião e conselho dos críticos sobre
meus trabalhos. Desejaria apenas, que os jornais dessem notícias dos quadros vendidos, etc.,
e mais nada, pois não preciso de reclame.
Foi o isolamento em que viveu Calixto que o impediu de participar com freqüência do Salão
Nacional de Belas Artes, em cujos catálogos o seu nome surge apenas duas vezes, em 1898
(medalha de ouro de terceira classe) e em 1900. Também por isso não tomou parte, senão
raramente, de certames internacionais, como a Exposição de Saint-Louis de 1904, na qual
conquistou também medalha de ouro. Mesmo escondido em São Vicente, nunca deixou de ser
prestigiado, como o comprovam os clientes e o avultado número de alunos, a começar por sua
própria filha, Pedrina Calixto Henriques, cuja pintura aliás é subsidiária da sua, a ponto de
muitas obras de sua autoria terem sido metamorfoseadas inescrupulosamente em originais do
pai; tarefa aliás muito simples porque, além do mais, a artista assinava-se apenas P. Calixto,
bastando um traço recurvo ao P inicial para que surgisse a assinatura mais prestigiosa.
2. Calixto foi pintor de marinhas, paisagens, costumes populares, cenas históricas e religiosas. Se
durante a sua vida a tendência era considerá-lo acima de tudo como pintor de história e
religioso (gêneros esses nos quais deixou abundante produção, inclusive na Catedral e na
Bolsa de Santos, no Palácio Cardinalício do Rio de Janeiro, na Igreja de Santa Cecília em São
Paulo e na Matriz de São João Batista em Bocaina), hoje costuma-se conceder bem maior
importância às cenas portuárias e litorâneas, nas quais extravasa um caráter talvez rude, mas
pessoal e profundamente sincero na abordagem dos diversos aspectos da natureza. Os
quadros em que fixou o desembarque do café, no primitivo porto de Santos, ao lado do seu
aspecto puramente documental, revestem-se de força expressiva, apesar da aparência algo
dura das embarcações; por outro lado, convém destacar certas cenas litorâneas ou ribeirinhas,
em que a um desenho algo ingênuo e a um colorido preciso aliam-se uma nítida preocupação
atmosférica e um grande respeito ao meio ambiente.
O artista faleceu a 31 de maio de 1927, em São Paulo, tendo sido porém enterrado no
Cemitério de Paquetá, em São Vicente. Três anos antes, recebera do Papa Pio IX a comenda e
a cruz de São Silvestre Papa, em recompensa aos serviços prestados à Igreja com sua arte.
Cais do Mercado em Santos, óleo s/ tela, 1885;
0,30 X 0,50, Museu de Arte, SP.
São Vicente, óleo s/ tela, s/ data;
0,42 X 0,72, Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Baía de São Vicente, óleo s/ tela, s/ data;
Pinacoteca do Estado de São Paulo.
D. Pedro I, detalhe, óleo s/ tela, 1902;
1,40 x 1,00, Museu Paulista da USP.
Paisagem, óleo s/ tela, 1919;
0,40 X 1,04, Palácio Bandeirantes, SP.