O documento discute a pesquisa experimental da percepção, apresentando: 1) o "modelo-padrão" da percepção envolvendo detecção, interpretação e reconhecimento; 2) variáveis dependentes e independentes comumente usadas, como tempo de reação e características do estímulo; 3) exemplos como o Efeito Stroop demonstrando percepção sem consciência.
1. A pesquisa experimental da percepção
Psicologia Experimental
Prof. Dr. Caio Maximino
IESB/UNIFESSPA
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Objetivos
•Identificar alguns dos problemas de pesquisa no campo da
percepção
•Introduzir as variáveis comumente avaliadas na pesquisa
experimental da percepção
•Avaliar alguns tópicos experimentais e exemplos de pesquisa
da percepção
•Exemplificar o Efeito de Stroop
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“Modelo-padrão” da percepção
• Primeiro ocorre a detecção dos objetos (sensação), que
produz elementos necessários para a percepção da cena
(interpretação e reconhecimento dos objetos e eventos que
sentimos)
• Esse modelo é o pano de fundo para a maior parte das
perguntas na psicologia da percepção:
– Como o observador utiliza informação sensorial para fazer
interpretações perceptuais?
– Qual o papel da deliberação consciente nessa atribuição de
sentido?
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Percepção direta e indireta
• Gibson (1979): as pistas (relativamente) confiáveis do fluxo
óptico de uma cena visual dão informação direta sobre
características como profundidade e distância
– Bottom-up
– O indivíduo que percebe capta informações disponibilizadas
pelo ambiente de maneira natural e sem reflexão
• Gregory (1970): construímos a cena visual (p. ex., sobre
profundidade) são baseados em nossa experiência prévia com
pistas visuais
– Top-down
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Consciência e percepção
• Se o sujeito que percebe adiciona significado e interpretação às
sensações, será que essas adições resultam da deliberação
consciente?
• Helmholtz: inferências inconscientes – esses significados podem ser
aplicados automaticamente, sem que tenhamos consciência disso
• Quale – a percepção tem um caráter subjetivo (fenomenal)!
• Visão cega
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Variáveis dependentes na Psicologia da Percepção
• A variável dependente mais simples é a descrição verbal dada
por um observador
– Medida simples
– Desvantagens: imprecisão do relato por observadores não-
treinados (cf. Wundt)
• Outros métodos incluem tempo de reação e relatos que
podem ser verificados diretamente
– Apresentaçã de estímulos de maneira controlada
– Validação convergente por relatos de confiança da correção
do julgamento
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Variáveis independentes na Psicologia da
Percepção
• Comumente, VIs que alteram as características físicas do
estímulo (tamanho, forma, fundo, perspectiva, ângulo,
frequência, intesnidade, etc)
• Outras manipulações (p. ex., do desenvolvimento, indução
de ilusões, etc)
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Variáveis de controle
• Características cognitivas, emotivas, e conativas
influenciam a percepção; se não é o objetivo estudá-las,
devem ser controladas
• Aspectos físicos do estímulo devem ser mantidos fixos (p.
ex., estímulos isoluminantes, de mesma duração, contraste,
etc)
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Um exemplo: Relatos verbais
• O relato verbal pode dar acesso à experiência
fenomenológica do participante se, se somente se, estiver
correlacionado à sua consciência da experiência
• Problemas: alucinações, ilusões, visão cega, etc.
• Como saber quando a resposta de um observador se
qualifica como VD útil?
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Natsoulas T (1967). What are perceptual reports
about? Psych Bull 67: 249-272
• O relato verbal qualifica-se como VD útil se, e somente se,
há uma relação presumida ou verificável entre a resposta e
um evento perceptual prévio ou síncrone
• Ex.: controle de estímulos em animais
• O tipo de resposta não importa; a pressão de um botão é um
relato tanto quanto o relato verbal!
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Percepção sem consciência
• Marcel (1983): pré-ativação (“priming”) do efeito Stroop
– Quando pré-ativados com um nome de cor, os participantes demoravam mais tempo para
nomear a cor de um estímulo
– Mascaramento
● Letras seguindo a palavra
● Limiar de detecção definido individualmente pelo método dos limites, definido com o intervalo entre estímulo e máscara
em que o estímulo é detectado em menos de 60% das tentativas
– Quando o estímulo de pré-ativação estava mascarado, o efeito ainda se mantinha!
• Cheesman & Merikle (1984):
– Limiar de detecção de ~60% sugere que houve detecção verdadeira do estímulo mascarado
em algumas tentativas
– O limiar para relato verbal pode ser mais alto do que o limiar para detectar o estímulo
mascarado
– Mudanças no metodo: escolha forçada para determinação do limiar, com vários limiares
(25%, 55%, 90%) em todos os casos, a máscara é efetiva em eliminar a consciência verbal→
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Percepção sem consciência
Energiadoestímulo
Processamento consciente
Verbalmente consciente do S,
R indica Cs do significado do S
Processamento inconsciente
Verbalmente não-consciente do
S, mas R ao significado melhor
do que o acaso
Impossível determinar nível
de Cs
Verbalmente não-consciente do
S, R no nível do acaso
Limiar subjetivo
Limiar objetivo
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Outro exemplo: Operações convergentes
• A distinção entre a experiência perceptual e a resposta ao
estímulo foi um importante ímpeto para a ideia de que
precisamos de duas ou mais definições operacionais para
definir um conceito psicológico
• Garner, Hake, Eriksen (1956), Operationism and the concept
of perception
– Quando utilizamos somente uma definição operacional, não
podemos distinguir entre limitações do sistema perceptual e
limitações do sistema de resposta!
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Cheesman & Merikle (1986)
• Variação na frequência com que combinações congruentes (estímulo de pré-ativação e
mancha colorida) ocorriam
– Glaser & Glaser (1982): o efeito Stroop aumenta com a frequência de tentativas com
congruência
– Lowe & Mitterer (1982): Isso é uma estratégia voluntária dos participantes
• Cheesman & Merikle propuseram que o efeito de aumentar a frequência de combinações
congruentes para 2/3 das tentativas (ao invés de 1/3) iria depender de se os estímulos de
pré-ativação estavam acima ou abaixo do limiar subjetivo
– O efeito só foi observado quando os estímulos estavam acima do limiar subjetivo os→
participantes só podem usar estratégias quando estão conscientes do estímulo
– Operações convergentes sugeriram, então, que os métodos de processamento consciente e
inconsciente são qualitativamente diferentes