Este documento discute conceitos antropológicos de identidade étnica e cultural. Apresenta as diferenças entre povo e etnia, nacionalidade e etnia. Explora como a identidade étnica emerge de relações sociais e é uma identidade "contrastiva". Discute como ideologias e representações coletivas influenciam a identidade étnica.
2. REFLETIR E ANOTAR:
1. Quais as diferenças entre
povo e etnia?
2. E entre nacionalidade e
etnia?
3. Desde quando existem
etnias?
4. Que outras identidades
existem, além da étnica?
5. Em grandes cidades como
São Paulo, Londres, Paris ou
Nova Iorque, de quantas
etnias podemos nos
lembrar?
6. Há conflitos entre essas
etnias?
7. Quais etnias convivem em
Boa Vista?
3. UM CONCEITO ANTROPOLÓGICO DE IDENTIDADE
• Quais as relações entre
identidade étnica (uma
das formas de
identidade social) e a
ideologia ou
representação coletiva?
4. UM CONCEITO ANTROPOLÓGICO DE IDENTIDADE
• Marcel Mauss (apud Roberto Cardoso de
Oliveira, p. 33): “Em nossas pesquisas,
nós, sociólogos, não temos nem
postulados nem petições de princípio.
Elas não tem outro axioma senão este:
jamais esquecer que o homem pensa
em comum com os outros, em
sociedade.”
• “[...] o homem não pensa isoladamente,
mas através de categorias engendradas
pela vida social.”
5. O JOGO DIALÉTICO ENTRE SEMELHANÇA E
DIFERENÇA
• Identidade contrastiva é a
essência da identidade étnica:
“quando uma pessoa ou grupo
se afirmam como tais, o fazem
como meio de diferenciação
em relação a alguma outra
pessoa ou grupo com que se
defronta.” (OLIVEIRA, 1976, p.
36).Requeña, c. 1780, comissão de limites na Amazônia Ocidental
6. O JOGO DIALÉTICO ENTRE SEMELHANÇA E
DIFERENÇA
• “[...] quando uma pessoa ou grupo se afirmam como tais, o fazem
como meio de diferenciação em relação a um grupo com que se
defrontam; é uma identidade que surge por oposição, implicando a
afirmação do nós diante do outros, jamais se afirmando
isoladamente”.
• Um integrante de um grupo indígena não invoca seu pertencimento
a um grupo étnico “a não ser quando posto em confronto com
membros de outra etnia.” (OLIVEIRA, 1976, p. 36).
7. O JOGO DIALÉTICO ENTRE SEMELHANÇA E
DIFERENÇA
• Por isso muitas etnias atribuem a seus próprios
grupos nomes que significam simplesmente
“gente” ou “humanos” em sua língua – como
Txané ou Pemón. Já os Tupinambá do litoral do
atual Pará chamavam a um grupo nativo que falava
uma língua diferente de NHEENGAÍBA, ou seja,
“língua ruim”.
8. IDEOLOGIA, REPRESENTAÇÃO COLETIVA,
IDENTIDADE
• Roberto Cardoso de Oliveira descarta a concepção de ideologia como “falsa
consciência” (no estilo de Karl Mannhein e Robert Merton). “Essa tendência
de se conceber ideologia como algo a ser exorcizado pelo pensamento
científico, ansioso em eludir todo comprometimento numa intolerável ‘falsa
consciência’, está bem distante de uma posição – expressa em marxistas
como Althusser e Poulantzas, como também em não-marxistas como
Berger e Luckmann” – segundo a qual “o objeto de uma sociologia do
conhecimento seriam as representações ideológicas da experiência coletiva
vivida ou o conhecimento de senso comum gerado pela realidade social do
quotidiano” (p. 39).
9. IDEOLOGIA, REPRESENTAÇÃO COLETIVA,
IDENTIDADE
• “[...] a ideologia consiste [...], em um nível objetivo específico, em um
conjunto com coerência relativa de representações, valores, crenças [...].
A ideologia está a tal ponto presente em todas as atividades dos
agentes, que não pode diferenciar-se de sua experiência vivida. Nessa
medida, as ideologias fixam em um universo relativamente coerente
não só uma relação real como também uma relação imaginária”.
(Poulantzas, apud Oliveira, 1976, pp. 39-40). A ideologia não tem por
função oferecer a indivíduos e grupos um conhecimento verdadeiro da
estrutura social, mas simplesmente inseri-los em suas atividades
práticas, que sustentam e reproduzem essa estrutura.
10. IDEOLOGIA X REPRESENTAÇÃO COLETIVA,
IDEOLOGIA
• É a forma assumida pelas representações
• É discurso organizado, integrado, ainda que
não-científico, para certos fins (econômicos,
políticos, estéticos etc.)
• Pode ser consciente ou inconsciente
• Oculta as contradições reais e reconstrói em
um plano imaginário um discurso
relativamente coerente que sirva de horizonte
ao “vivido” dos agentes, dando forma a suas
representações (Poulantzas, apud Oliveira,
1976, p. 40)
REPRESENTAÇÕES COLETIVAS
• São sempre inconscientes
• Fracamente integradas e não
organizadas
• “são o produto de uma imensa
cooperação que se estende não
apenas no espaço, mas no tempo”,
fruto da mistura de ideias e
sentimentos de muitas gerações
(Durkheim, apud Oliveira, pp. 40-41)
11. CRENÇA X REPRESENTAÇÃO COLETIVA
• A “crença coletiva ou popular
estaria no polo oposto ao da
representação coletiva, uma vez
que teria como característica
essencial o ser consciente” (p.
41).
• Vive-se e fala-se sobre a crença,
portanto ela precisa ser
consciente.
12. CRENÇA X REPRESENTAÇÃO COLETIVA
• O antropólogo Lévi-Strauss mostra de forma exemplar a necessidade de “um
substrato cultural formado de representações coletivas” para “assegurar a
eficácia de certas práticas mágicas e xamanísticas. A crença no xamã, por
exemplo, estaria sustentada nesse substrato cultural”, partilhado pelo doente,
pelo público e pelo próprio xamã.
• Um indivíduo, por exemplo, tentou descobrir fraudes nos procedimentos de
um xamã (Quesalid), mas foi levado cada vez mais a acreditar nelas. “Quesalid
não se tornou um grande feiticeiro porque curava seus doentes; ele curava seus
doentes porque se tinha tornado um grande feiticeiro” (Lévi-Strauss, apud
Oliveira, p. 42).
13. CRENÇA X REPRESENTAÇÃO COLETIVA
• “A existência de ‘consensus social’ é que torna viável o xamã. [...] a
crença no xamã [...] é variável, pois passível de ser maior ou menor,
existir hoje, deixar de existir amanhã, eventualmente tornar a existir
num futuro qualquer. Mas essa crença só é susceptível de existir se
o grupo, exprimindo uma sorte de inconsciente coletivo, exige um
xamã, com tais e quais atributos, como uma categoria social
indispensável à viabilidade [...] do próprio sistema social, de sua
própria sociedade” (Oliveira, p. 42).
14. CRENÇA X REPRESENTAÇÃO COLETIVA
• As crenças populares de uma cultura
são conhecidas e transmitidas pelos
integrantes dessa cultura. “As
representações coletivas são, em
alguma medida, subjacentes às crenças
às quais conferem sua eficácia. Por sua
vez, as crenças conferem às
representações uma atualização sob
forma concreta” (Nicole Belmont, apud
Oliveira, p. 43).
15. REFLETIR E ANOTAR:
8. Quais são as relações entre crenças e representações coletivas?
9. A Crença no xamã é uma representação coletiva ou depende das
representações coletivas?
10. Por que Roberto Cardoso de Oliveira diz que a identidade étnica é
uma “identidade contrastiva”?
11. A identidade étnica pode ser simplesmente inventada por um
único indivíduo?
16. IDENTIDADE ÉTNICA COMO IDEOLOGIA – O
SISTEMA INTERÉTNICO
• “Identidade é um fenômeno que emerge da dialética entre indivíduo e
sociedade”. Sendo formada por processos sociais, essa identidade pode ser
mantida, modificada ou remodelada pelas relações sociais (Berger & Luckmann,
apud Oliveira, 1976, p. 43-44).
• “O sistema interétnico, constituído por duas ou mais etnias em conjunção e
possuidor de uma estrutura e dinâmica próprias, [...] engendra a ‘cultura do
contato’ [...].” As ‘ideias organizadoras’ dessa cultura do contato “não se
encontram ao nível do consciente, mas tal como a gramática (a linguagem) ou os
costumes [...], encontram-se ao nível do inconsciente coletivo.”
17. IDENTIDADE ÉTNICA COMO IDEOLOGIA – O
SISTEMA INTERÉTNICO
• “Entendida como um processo de ideação coletiva, a cultura tem nas representações
o seu núcleo formador e mais dinâmico. Os homens se representam com tais ou quais
características escolhidas de modo variável de um repertório culturalmente definido
de qualificações étnicas e obedecendo a um padrão (matemático) inerente a um
determinado sistema interétnico” (p. 45).
• “É assim que quando um índio Tükuna se identifica como ‘caboclo’, ele está dando
forma àquelas representações altamente negativas, expressas no discurso que os
brancos, ou ‘civilizados’, produzem sobre a população Tükuna como um todo. É toda
uma crosta de preconceitos e estereótipos difusamente existentes na ‘cultura do
contato’, produzidos pelos ‘civilizados’ e consumidos igualmente por índios e
brancos” (pp. 44-45).
18. IDENTIDADE ÉTNICA COMO IDEOLOGIA – O
SISTEMA INTERÉTNICO
• Surge assim uma nova categoria cultural: o caboclo. No caso dos Tükuna, o
caboclo é o Tükuna que se diferencia de outros povos ameríndios da região por
estar “pacificado”, “desmoralizado”, atado às formas de trabalho impostas pelos
“civilizados” e extremamente dependente do comércio regional, na periferia da
sociedade nacional.
• “Em certo sentido o caboclo pode ser visto ainda como o resultado da
interiorização do mundo do branco pelo Tükuna, dividida que está a sua
consciência em duas: uma voltada para seus ancestrais, outra para os poderosos
homens que o circundam. O caboclo é, assim, o Tükuna vendo-se a si mesmo
com os olhos do branco, i.e., como intruso, indolente, traiçoeiro, enfim como
alguém cujo único destino é trabalhar para o branco” (pp. 46). Trata-se, portanto,
de uma ideologia. Uma ideologia étnica alienadora.
19. IDENTIDADE ÉTNICA COMO IDEOLOGIA EM
CONTEXTO DE MUDANÇA SOCIAL
• O “caboclismo” é um caso extremo de identidade alienada, mas existem
as mais variadas formas de identidade, como por exemplo as ideologias
revolucionárias ou reformistas indígenas que se veem nos EUA, Canadá ou
no Brasil nos últimos 30 anos.
• O caso da identidade cabocla serve para compreender o fenômeno
identitário, pois abre uma janela estratégica em meio a uma crise de
identidade. É uma situação “Privilegiada porque surpreende o grupo
étnico num processo de questionar-se continuamente, como que
buscando adequar-se às condições de existência emergentes ou recém-
instituídas.” (OLIVEIRA, 1976, p. 48).
20. IDENTIDADE ÉTNICA COMO IDEOLOGIA
• Em contraste, quando o sertanista Francisco Meirelles iniciou a atração dos Xavante
ao convívio com a sociedade nacional, tanto ele quanto o chefe Xavante achavam que
estavam pacificando o outro (o chefe Xavante colocou um colar no pescoço de
Meirelles e disse, no idioma nativo: “Amanso-te, branco”). (p. 49). Duas ideologias
etnocêntricas, portanto.
• As relações interétnicas podem ser
A. simétricas (caso dos povos do alto Xingu);
B. estratificadas, como no caso das relações assimétricas e hierárquicas dos povos do Chaco
antes da conquista e, finalmente,
C. de “fricção interétnica, em que as unidades étnicas guardam relações de contradição e tem
lugar no âmbito de uma estrutura de classes”, como no referido caso dos Tükuna com os
regionais do alto Solimões (pp. 49-50).
21. IDENTIDADE ÉTNICA COMO IDEOLOGIA EM
CONTEXTO DE MUDANÇA SOCIAL
• “O certo [...] é que nenhum estudo de identidade étnica pode ser
cabalmente realizado sem referência expressa `as condições de existência
geradoras da identidade focalizada, sob pena [...] de trabalhar com um
objeto ‘solto no ar’. Tais condições de existência devem ser tomadas, por
sua vez, como determinadas pelo sistema de relações interétnicas,
igualmente merecedor de uma etnografia cuidadosa.” (OLIVEIRA, 1976, p.
50).
• “Enfim, [...] as representações coletivas, as ideologias ou as identidades
étnicas somente serão inteligíveis à condição de serem referidas ao
sistema de relações sociais que lhes deram origem” (pp. 50-51).
22. REFLETIR E ANOTAR
12. O que significa, para os Tükuna, a identidade “cabocla”, segundo
Roberto Cardoso de Oliveira?
13. Na situação chamada de “fricção interétnica”, na expressão desse
antropólogo, qual a outra divisão que está em jogo além da
étnica?
14. Na história de Roraima, podemos encontrar situações de fricção
interétnica?
15. Quais relações interétnicas de simetria podemos encontrar em
Roraima?
23. DOIS MODOS DE ENTENDER A CULTURA E A
ETNICIDADE:
1) O MODO “PLATÔNICO”
• “Percebe a identidade e a cultura
como coisas.”
• “A identidade consistiria em [...]
ser idêntica a um modelo” (uma
essência).
• “a cultura seria um conjunto de
itens, regras, valores, posições etc.
previamente dados”.
2) O MODO “HERACLITEANO”
• “Pode-se entender a identidade como sendo
simplesmente a percepção de uma
continuidade, de um processo, de um fluxo, em
suma, uma memória”.
• “A cultura não seria [...] um conjunto de traços
dados e sim a possibilidade de gera-los em
sistemas perpetuamente cambiantes”.
• A etnicidade é portanto uma linguagem que
usa signos culturais para falar de segmentos
sociais” (CUNHA, M. C., 1997, p. 105).
24. ETNIA E CULTURA
• Toda sociedade tem imperativos de
“razão prática – uma sociedade e seus
membros tem de sobreviver – e os da
razão simbólica – uma sociedade e seus
membros sobrevivem de uma maneira
culturalmente marcada em um mundo
significante.”
• A história da reflexão antropológica
sobre a etnia reflete “as descobertas e
as hesitações da antropologia”.
Manuela Carneiro da Cunha
25. ETNIA E CULTURA
• Uma forma de pensar sobre esse tema foi indagar sobre a
substância da etnicidade, e isso em termos biológicos (RAÇA).
• “A noção de cultura veio substituir-se à de raça [...]”. Mas “já que
cultura era adquirida, inculcada e não biologicamente dada,
também podia ser perdida. Inventou-se o conceito de aculturação e
com ele foi possível pensar [...] na perda de diversidade cultural e
em cadinhos de raças e culturas” (CUNHA, 1987, p. 98).
26. ETNIA E CULTURA
• Na África pós-independência, “a etnicidade era vista como um empecilho
à constituição de uma nação moderna, e acusava-se o chamado
‘tribalismo’ de dificultar a sua construção.” Acreditava-se que a vida
urbana dissolveria essa diversidade e homogeneizaria essas populações.
• No entanto, descobriu-se que essas identidades étnicas e o apego às
tradições culturais se exacerbava nas cidades e nas comunidades de
emigrados nos EUA, na Europa e em toda parte. Mesmo atividades
consideradas mais “modernas e racionais”, como o crédito e o comércio,
processam-se amplamente por canais de solidariedade étnica e práticas
tradicionais (CUNHA, 1987, p. 98).
28. ETNIA E CULTURA
• Em pleno século XXI, vemos movimentos
separatistas importantes na Grã-
Bretanha, na Bélgica, na Espanha e em
outros países. Tudo isso levou a retomar
o que Max Weber escreveu há quase
cem anos: que as comunidades étnicas
podem ser “formas de organizações
eficientes para resistência ou conquista
de espaços”, ou seja, que são formas de
organização política (p. 99).
29. ETNIA E CULTURA
• Como forma de organização política, a etnicidade só existe em um meio
mais amplo “(daí, aliás, seu exacerbamento em situações de contato mais
íntimo com outros grupos), e é esse meio mais amplo que fornece os
quadros e as categorias” da etnicidade como linguagem. A cultura de um
grupo étnico oferece características de contraste em um meio
multiétnico.
• “Assim, a escolha dos tipos de traços culturais que irão garantir a
distinção do grupo enquanto tal depende dos outros grupos em
presença e da sociedade em que se acham inseridos, já que os sinais
diacríticos devem poder se opor, por definição, a outros de mesmo tipo.”
(p. 100).
30. ETNIA E CULTURA
• Por tudo isso, “não se podem definir grupos étnicos a partir de sua
cultura, embora, como veremos, a cultura entre de modo essencial na
etnicidade. Foram essas considerações que levaram antropólogos
interacionistas, como Moerman e Barth, a definirem adequadamente a
identidade étnica em termos que adscrição: assim, é índio quem se
considera e é considerado índio. Sartre já dizia o mesmo dos judeus.” (p.
101).
• Os sinais diacríticos podem ser dialetais, religiosos, podem ser formas de
preparar o alimento, de se vestir, de construir suas casas etc. No entanto,
isso não é definido a priori mas a partir da interação com outros grupos.
31. CRITÉRIOS DE INDIANIDADE: QUEM É ÍNDIO?
• Integração é diferente de assimilação. Integrar é dar “às comunidades indígenas
verdadeiros direitos de cidadania, [...] enquanto grupos etnicamente distintos [...]”
(CUNHA, M. C. da, 1987, p. 110).
• “Raça” não tem nada a ver com etnia. “Raça” não é sequer um conceito científico. Não
existe.
• Não se podem tampouco invocar “critérios baseados em formas culturais que se
mantivessem inalteradas, pois isso seria contrário à natureza essencialmente dinâmica
das culturas humanas: com efeito, qual o povo que pode exibir os mesmos traços
culturais de seus antepassados? Partilharíamos nós os usos e a língua que aqui
vigoravam há apenas cem anos?”
32. CRITÉRIOS DE INDIANIDADE: QUEM É ÍNDIO?
• “[...] os grupos étnicos só podem ser caracterizados pela própria distinção
que eles percebem entre eles próprios e os outros grupos com os quais
interagem. Existem enquanto se consideram distintos, não importando se
esta distinção se manifesta ou não em traços culturais. E, quanto ao
critério individual de pertinência a tais grupos, ele depende tão-somente
de uma auto-identificação e do reconhecimento pelo grupo de que
determinado indivíduo lhe pertence.” O grupo tem “suas próprias regras
de inclusão e exclusão”.
33. CRITÉRIOS DE INDIANIDADE: QUEM É ÍNDIO?
• “Comunidades indígenas são pois aquelas que, tendo uma continuidade
histórica com sociedades pré-colombianas, se consideram distintas da
sociedade nacional. E índio é quem pertence a uma dessas comunidades
indígenas e é por ela reconhecido.” (CUNHA, M. C. da, 1987, p. 111).
• Nem mesmo uma língua própria seria um traço imprescindível para a
diferenciação étnica.
• “A cultura, portanto, em vez de ser o pressuposto de um grupo étnico, é de
certa maneira produto deste.” (p. 116). Essa perspectiva remonta a Weber
(1922), Sartre, Leach e Barth.
34. REFLETIR E ANOTAR
16. Com a modernidade, as diferenças étnicas estão desaparecendo?
17. Que tipo de grupo social é um grupo étnico?
18. Quais as relações entre etnia e cultura?
19. Quem pode ser considerado índio?
20. Para o senso comum, quem pode ser considerado índio? Por que
essa percepção está equivocada?
35. CRITÉRIOS DE INDIANIDADE: QUEM É ÍNDIO?
• Ao longo dos períodos colonial, imperial e republicano, em nosso país, os
povos nativos foram sendo proibidos de falar suas línguas maternas,
tiveram seus costumes discriminados e foram ensinados a se
envergonhar deles; foram obrigados a mudar de religião, a mudar sua
organização familiar e econômica.
• “A resistência indígena a essa interferência manifestou-se no apego a
alguns traços culturais que, enfatizados, preservavam a identidade do
grupo. Esse é um processo recorrente na afirmação étnica: a seleção de
alguns símbolos que garantem, diante das perdas culturais, a
continuidade e a singularidade do grupo.” (p. 116).
36. CRITÉRIOS DE INDIANIDADE: QUEM É ÍNDIO?
• “[...] traços culturais poderão
variar no tempo e no espaço,
como de fato variam, sem que
isso afete a identidade do
grupo.” Ou seja, cultura é “algo
essencialmente dinâmico e
perpetuamente reelaborado”.
37. CRITÉRIOS DE INDIANIDADE: QUEM É ÍNDIO?
• Grupos étnicos são diferentes de outros tipos de grupos identitários,
como, por exemplo, grupos religiosos. Grupos étnicos “entendem a si
mesmos e são percebidos pelos outros como contínuos ao longo da
história, provindos de uma mesma ascendência [...]. Entendem-se
também a si mesmos como portadores de uma cultura e de tradições que
os distinguem de outros”, seja essa crença confirmada ou não
empiricamente (p. 117).
• “O foco da pesquisa, como sublinha Barth, passa a centrar-se, portanto,
nas fronteiras sociais do grupo”, e não no conteúdo mesmo da cultura.
38. IDENTIDADES DINÂMICAS – O CASO DOS
BRASILEIROS EM LAGOS (NIGÉRIA)
• “Grupos étnicos são formas de organização que respondem às condições políticas e
econômicas contemporâneas e não vestígios de organizações passadas. Elas se
servem do arsenal cultural não para conservá-los como um todo [...] mas para
selecionar traços que servirão de sinais diacríticos para se exibir a filiação de um
grupo (CUNHA, 2009, p. 231; a autora está aí reafirmando a conclusão de Abner
Cohen em estudo anterior; para Cunha, foi um “momento funcionalista”, influenciado
por Cohen).
• É consciente a manipulação da tradição cultural? “Sim e não. Recuperar tradições
culturais é parte consciente de qualquer revivalismo. “ Trata-se de uma “auto-
organização largamente inconsciente em sistema de diferenças: a mesma que me faz
ser mãe em um sistema doméstico, em contraste com filhos e marido; paciente em
um sistema médico; professora em sistema acadêmico”.
39. IDENTIDADES DINÂMICAS – O CASO DOS
BRASILEIROS EM LAGOS (NIGÉRIA)
• “Que a identidade, além de atender a imperativos
cognitivos, possa ter uma ‘função’ e até ser
estrategicamente usada, que possa beneficiar pessoas ou
grupos de interesse e frequentemente o faça, não significa
que ela não passe de um cálculo estratégico, de uma
manipulação.” (p. 233) A identidade estrutura a realidade
para seus portadores.
• 21. Elabore um conceito de grupo étnico.
40. REFERÊNCIAS
• CUNHA, Manuela Carneiro da. Antropologia do Brasil: mito, história,
etnicidade. 2ª. Ed.. São Paulo: Brasiliense, 1987.
• CUNHA, Manuela Carneiro da. Cultura com aspas. São Paulo: Cosac &
Naify, 2009.
• CUNHA, Manuela Carneiro da. O futuro da questão indígena. Revista De
Ciências Sociais, v. 28 N.1 /2 1997. P. 105 a 114.
• OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. Identidade, Etnia e Estrutura Social. São
Paulo: Pioneira, 1976.