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t.coNsrDERAçoeslulctnts
Linguageme sociedadeestãoligadasentresi derlodo inquestionável.Mais
do que isso,podemosafirmar que essarelaçãoé a baseda constituiçãodo ser
humano.A históriada humanidadeé a históriade seresorganizadosem socie-
dadese detentoresde um sistemade comunicaçãooral, ou seja,de uma língua.
Efetivamente,a relaçãoentrelinguageme sociedadenãoé postaem dúvidapor
ninguém,e não deveriaestarausente,portanto,dasreflexõessobreo fenômeno
lingüístico.Por que se fala, então,em Sociolingürística?Ou melhor,por que
existeuma área,dentro da Lingüística,para tratar,especificamente,das rela-
çõesentrelinguageme sociedade- a Sociolingüística?A linguagernnãoseria,
essencialmente,um fenômenode naturezasocial?As respostasa questõescomo
essasnãosãotãoóbvias.Pararespondê-las,é precisoconsiderarrazõesde natu-
rezahistórica,maisprecisamente,o contextosocialmaisamploem quesesituam
aquelesquesededicama pensaro fenômenolingüístico.Assim, inicialmente,é
necessáriolevar em contaque os estudiososdo fenômenolingüístico,corrìo
homensde seutempo,assumiramposturasteóricasem consonânciacom o fazet
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:..rNïtoDUçÁoALrNGÜisïrCA
científicoda tradiçãoculturalem que estavaminseridos.Nessesentido,asteo-
riasdelinguagem,do passadoou atuais,semprerefletemconcepçõesparticula-
resde fenômenolingúísticoe compreensõesdistintasdo papeldestena vida
social.Mais concretamente,em cadaépoca,as teoriaslingüísticasdefinem,a
seumodo,a naturezae aScaracterísticasrelevantesdo fenômenolingüístico.E,
evidentemente,a maneirade descrevê-loe de analisá-lo.
Alguns manuaisde históriada Lingüísticanosoferecemum panoramade
diversasabordagensno estudodo fenômenolingüísticor.Observemos,a título
ilustrativo,algunscomentáriosde CâmaraJr., em História cla Líttgíiística,a
respeitodo IingüistaalemãoAugusto Schleicher,cujostrabalhostiveram forte
impactono séculoXIX:
Schleichernãoeraapenasum lingüistamastambémum estudiosodasciências
naturaisdedicando-seà botânica.Estefatodera-lheumaorientaçãoa favordas
ciênciasdanatuieza.Ademais,deacordocoma filosofiadeHegel,quedominou
o pensamentoalemãodessaépoca,asciênciashumanas,incluindoa história,são
o produtodo livrepensamentodohomeme nãopodemsercolocadassoba int-lu-
ênciadeleisimutáveise geraistaiscomoo fenômenodanatureza.
Ora,Schleicher,comotodosos lingüistasanteíioresa ele' tinhaa ambiçãode
elevaro estudodalinguagemao statLtsdeumaciênciarigorosacomrigorosasleis
dedesenvolvimento2.
É assimque Schleicherse propõea colocara Lingüísticano campo das
ciênciasnaturais,dissociando-ada tradiçãofilológica, vista por ele como um
ramoda História,ciênciahumana.Parao referidolingüistaalemão,o desenvo[-
vimerÌtoda linguagemera comparávelao de uma planta que llasce,crescee
mone segundoleis físicas.A linguagemé vistacomo um organismonaturalao
qual se aplica,portanto,o conceitode evolução,desenvolvidopor Darwin. A
esserespeitocâmara Jr. reÌatao que sesegue:
De acordocomSchleicher,cadalínguaé o produtodaaçãodeum complexode
substânciasnaturaisnocérebroe noaparelhofonador.Estudarumalínguaé,por-
tanto,umaabordagemindiretaa estecomplexode matérias.Destamaneira,foi
elelevadoa adiantarquea diversidadedaslínguasdependedadiversidadedos
cérebroseórgãosfonadoresdoshomens,deacordocomassuasraças.E associou
l. Ver CâmaraJr.,J.M. Hìstóriada Lingiìístü:a.Rio deJaneiro,Vozes,
de la Linguistíque.De Suninera.Sar.r.rure,Paris,PUF, l99l I Wartburg,W.
e nútodosda Ltugüística.SãoPaulo,Difel, 1975.(títulooriginal, 1943)
2. CâmaraJr.,J. M. Op. cit.,p. 50.
1975;Malmberg,B. Histoirc
von & Ulmann,S. Problenn"'
SocloLlNGúÍ5TlcÁ:porleI
a línguaà raçademaneiraindissolúvel.Advogouquea línguaé o critériomais
adequadoparaseprocederà classilicaçãoracialdahumanidader.
A orientaçãobiologizanteque schleicherimprimiu à Lingüísticada sua
épocaafastou,evidentemente,todaconsideraçãode ordem sociale culturalno
tratodo fenômenolingüístico.
A relaçãoentrelinguageme sociedade,reconhecida,masnem sempreas-
sumidacomo determinante,erìcontra-sediretamenteligadaà questãoda deter-
minaçãodo objeto de estudoda Lingüística.Isto é, embora admira-seque a
relaçãolinguagem-sociedadesejaevidentepor si só,é possívelprivilegiaruma
determinadaóptica,e estadecisãorepercutena visãoque se tem clofenômeno
lingüístico,de sua naturezae caracterização.Nessesentido,a Lingüísticado
séculoXX teve um papeldecisivona questãoda consideraçãoda relaçãolin-
guagem-sociedade:é estaque seencaÍregade excluir todaconsideraçãode na-
turezasocial,históricae culturalna observação,descrição,análisee interpreta-
ção do fenômenolingtiístico.Referimo-nos,aqui, à constituiçãoda traclição
estruturalista,iniciadapor Saussureem seuCursocleLingíiísticageral,em 1916.
E Saussurequem definea língua,por oposiçãoà fala,como o objetocentralda
Lingüística.Na visãodo autor,a língua é o sistemasubjacenteà atividadeda
fala, mais concretanìente,é o sistemainvarianteque pode ser abstraídodas
múltiplas variaçõesobserváveisda fala. Da fala, se ocuparáa Estilística,ou,
maisamplamente,a LingüísticaExterna.A Lingüística,propriamentedita,terá
como tarefadescrevero sistemaforma[,a língua.Inaugura-se,assim,a chama-
da abordagemimanenteda língua,que,em termossaussureanos,significaafas-
tar "tudo o que lhe sejaestranhoao organismo,ao seusistema"a.
Interessantemente,parasaussure,a línguaé um fato social,no senticlocle
queé um sistemaconvencionaladquiridopelosindivíduosno convíviosocial.
Mais precisamente,eleapontaa linguagemcom a faculdadenaturalquepcrmi-
te ao homem constituiruma língua.Em conseqüência,a língua se caracteriza
pol'ser"um produtosocialda faculdadeda Ìinguagem"5.
Saussureprivilegiao caráterformal e estruturaldo fenômenolingüístico,
emborareconheçaa importânciade consideraçõesde naturezaetnológica,his-
tóricae política.segundoele, "o estudodos fenômenoslingüísticosexternosé
muito frutífero;mas é falso dizer que sem estesnão seriaDossívelconhecero
3. CâmaraJr.,J. M. Op.cit.,p. 51.
4. Saussure,F. de.cursode Lfugíiístirageral.3. ed.sãopaulo,Cultrix,Ì9g L (títuloorgincl,l9lób)
5. Saussure,F. de.Op.cit.,p.17.
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?4 TNTRODUçÁOÁ LrNGÚiSTrCA
organismolingüísticointerno"6.Saussureinstitucionalizaa distinçãoentreuma
LingúísticaInternaopostaa uma LingüísticaExterna.E essadicotomiaque
dividirá,de maneirapermanente,o campodosestudosiingüísticoscontemporâ-
neos,em que orientaçõesformais se opõem a orientaçõescontextuais,sencio
que estas últimas se encontramfragmentadassob o rótulo das muitas
interdisciplinas:Sociolingüística,Etnolingüística,Psicolingüísticaetc.
A tradiçãode relacionarlinguageme sociedade,ou, mais precisamente,
língua,culturae sociedade,estáinscritana reflexãode váriosautoresdo século
XX. Integradosou nãoà grandecorrenteestruturalista,que ocupouo centroda
cena teórica,particularmente,a partir dos anos 1930,encontramoslingüistas
cujasobrassãoreferênciasobrigatórias,quandosetratade pensara questãodo
social no campo dos estudoslingüísticos.Não caberia,aqui, enumerartodos
essesestudiosos,masuma brevereferênciaa algunsnomes,ligadosao contexto
europeu,impõe-se:Antoine Meillet, Mikhail Bakhtin,Marcel Cohen,Émile
Benvenistee RomanJakobson.
Meillet, aluno de Saussure,filia-se à orientaçãodiacrônicados estudos
lingüísticos,mas, para ele, a históriadas línguasé inseparávelda história da
culturae da sociedade:é essaabordagemquepodemosver em suaobra,sobrea
históriado latim, EsqtLissecl'utteltistoirede la lcutguelatitrc.A propósitodesse
lingüistafrancês,cabedestacarsuavisãodo fenômenolingüístico,bem ilustra-
da por um trechode suaaula inauguralno ColègecleFratrce,em 1906:
Ora,a linguagemé,eminentemente,umfatosocial.Tem-se,freqüentemente,re-
petidoqueaslínguasnãoexistemÍbradossujeitosqueasfalam,e,emconseqüên-
ciadisto,nãohár'azõesparalhesatribuirumaexistênciaautônoma,umserpalti-
cular.Estaé umaconstataçãoóbvia,massemforça,comoa maiorpartedaspro-
posiçõesevidentes.Pois,seareiilidadedeumalínguanãoé algoclesubstancial,
istonãosignificaquenãosejareal.Estarealidadeé,aomesmotempo,lingüística
e socialT.
Bakhtin (1929),com suacríticaradicalà posturasaussureana,trazparao
centroda cenadosestr.rdoslingüísticosa noçãode comunicaçãosocial:
6, Saussure,F. de.Op,cit.,p. 3l.
7. O (extooriginalde MEILLET é o quesesegue:"Or, le langageesténrinementun faitsocial.On a
souvcntlepetéquelesÌanguesn'existentpasen dehorsdessujetsquelesparlent,et queparsuiteon n'est
pasfondéà leut attribucruneexistenceautonome,un êtreproprc.C'estuneconstatalionévidcntc,mais
salìspoÌtée,commela plupartdesproposirionsévidcntes.Carsi la réalitéd'unelanguen'est.pasquelquc
chosede substantiel,eÌlen'en existepasmoins.Cettererlitéestà la fois linguistiqueet socialc".In:
Mcillct, A. Estluissed'wrc lúsíoirede la langualatürc.Pxis, Klincksiek,1977,p. 16.(títulooriginal,
I 928)
SOCIOLINGUISïICÁ;pcrloÍ 25
A verdadeirasubstânciadalínguanãoé constituídapor um sistemaabstratode
formaslingüísticas,nempelaenunciaçãomonológicaisolada,nempeloato
psicofisiológicodesuaprodução,maspelcfenômenosocialdaitúeraçr1overbal
realizadaatravésda,enunciaçãooudasenunciações.A interaçãoverbalconstitui
assima realidadefundamentaldalíneua8.
De uma perspectivadiferenteda de Bakhtin, Jakobson,outro lingüista
russo,explicitasuavisãosobrea relaçãoentrelinguageme contextosocial,em
que a noçãode comunicaçãotem tambémum papelcentral.ParaJakobson,o
princípioda homogeneidadedo código lingüístico,postuladopor Saussure
(1916),e adotadopelaLingüística,"não passade uma ficçãodesconcertante"e,
já que todo indivíduo participade diferentescomunidadeslingüísticase todo
código lingüísticoé "multiforme e compreendeuma hierarquiade subcódigos
diversos,livrementeescolhidospelosujeitofaiante"r0,segundoafunçãodamen-
sagem,do interlocutorao qual sedirige e da relaçãoexistenteentreos falantes
envolvidosna situaçãocomunicativa.
ParaJakobson(1960),o pontode partidaé o processocomunicativoâm-
plo, e isso o leva a ultrapassara óptica estreitade uma análisedo fenômeno
lingüísticoancoradaapenasem suascaracterísticasestruturais.Ao privilegiaro
processocomunicativo,o referidoautorprivilegiatambérnos aspectosfuncio-
nais da linguagem.É o que podemosver com clarezaem seu célebreartigo
Lingüística e poética, em que Jakobson identifica os fatores constitutivos de
todo ato de comunicação verbal: o remetente,a mensageft4o destinatário, o
contexto,o canal e o código. Cada um dessesfatoresdetermina uma diferente
função de linguagem, seguindo-se,então,que "a estruturaverbal de uma men-
sagemdependebasicamentedafunçãopredominante"rt.Assim é que,por exem-
plo, a predominânciado fator remetenteconfiguraa funçãoemotivaou expres-
siva, que exprime "a atitude de quem fala em relaçãoàquiÌo de que estáfalan-
do"r2,e seevidencia,entreoutrosprocedimentos,pelo usode interjeições,pela
alteraçãode duraçãode vogais (por exemplo, em português,graande).
8. Bakhtin,M. Marxisnn eJiLosrfÍada linguagent.5.ed. SãoPaulo,Hucitec,1990,p. 123.(título
original,1929)
9. Jakobson,R. Relaçõesentrea ciôncidda linguageme as outrasriAtu:ìat.Lisboa,Bertrand,1973,
p.29.
10.Ibidem,p. 29.
ll. Jakobson,R. Lingüísticae poética.ln: Lüryuísticae conturúcação.São Paulo,Cultrix, 1970,
p.123.(títulooriginal,1960)
12. Jakobson,R. Linguísticae corttutticaçã.o.SãoPauÌo,Cultrix, p,124
rNïRoouçÁoÀLncúisrrcn
Em 1956,o francêsMarcelCohenpublicouPouru.nesociologiedu langage
- republicado,em I'971,com o novo título de Mutériau.xpour rurcsociologie
du langage- em que advogaa necessidadede um diálogo entreas ciências
humanas,afirmando que
'líos
fenômenoslingüísticosse realizamno contexto
variáveldosacontecimentossociais"r3.Mas,aoassumiro postuladosaussureano
de que é preciso separaraspectosinternose aspectosexternosno estudodas
línguas,Cohen assumea questãodas relaçõesentrelinguageme sociedadea
partirda consideraçãode fatoresexternos.Nessesentido,o referidoauroresra-
beleceum repertóriode tópicos de interessepara um estudosociológicoda
linguagem,como,por exemplo,o estudodasrelaçõesentreasdivisõessociaise
asvariedadesde linguagem,que permiteabordartemascomo: a distinçãoentre
variedadesrurais,urbanase declassessociais,osestilosde linguagem(varieda-
desformais e informais), asformas de tratamento,a linguagemde grupos segre-
gados(argão de estudantes,de marginais,de profissionaisetc.).
Finalmente,algunsrápidoscomentáriossobreBenveniste,lingüistafran-
cês, cuja reflexão marcou profundamente a Lingüística francesacontemporâ-
neaem gerale, particularmente,o campoda Análisedo Discursota.Exporemos
aqui apenasalgunscomentáriosque tematizama questãodas relaçõesentre
linguageme sociedade.ParaBenveniste(1963),"é dentroda,e pelalíngua,que
indivíduo e sociedadese determinammutuamente"15,dado que ambos só ga-
nhamexistênciapelalíngua.É que a línguaé a manifestaçãoconcretada facul-
dadehumanada linguagem,isto é, da faculdadehumanade simbolizar.sendo
assim,ó pelo exercícioda linguagem,peia utilizaçãoda língua,que o homem
constróisuarelaçãocom a naturezae com osoutroslromens.Em outrostermos,
"a linguagem sempreserealizadentro de uma língua, de uma estruturalingüís-
tica definida e particular, inseparávelde uma sociedadedefinida e pafticular"16.
Logo, línguae sociedadenão podemserconcebidasuma sema outra.
Particularmente, em "Estrutura da língua e estrutura da sociedacle",
Benveniste(1968) discutea questãoque nos interessaaqui. segundo ele, "a
idéia de procurar entre estasduas entidadesrelaçõesunívocas que fariam
13.O textooriginalde Cohen(1956)é o quesesegue:"Lesphénomèneslinguistiquesserealizent
danslecadrechangeantdesévénementssociaux".In: Cohen,M. Malériauxpour unesrxktlogiedu langage.
Paris,Maspcro,1956,v. 2, p. 30.
14. Cf. particularmenteo famosoartigode Benveniste,"O aparelhoformal claenunciação",in
Benveniste,E., Problenusde lhgiií.tticageral II, Sío Paulo,Cia. EditoraNacional/EDUSp,1989.(título
original,1974;.
l5' Benveniste,E. Proltlenasde Lhgüístk:aGerat..SãoPaulo,Cia. EclitoraNacional/EDUSp,1976.
D .Z t .
1 6 .I b i d e m .o . 3 1 .
SOCIOLINGUISTICATporleI
correspondertal estruturasociala tal estruturalíngüísticaparecetrair uma vi-
sãomuitosimplistadascoisas"rT.Istoporquesociedadee línguasãograndezas
de ordemdistinta,ou melhor,têm organizaçõesestruturaisdiversas.Assim é
que a língua se organizaem unidadesdistintas,que são em número finito,
combináveise hierarquizadas- o que não se observana organizaçãosocial.
Mas, segundoo autor,algumaspropriedadesaproximam língua e sociedade:
sãorealidadesinconscientes,representama natureza,são sempreherdadase
nãopodernserabolidaspelavontadedos homens.Há, no entanto,uma dimen-
sãoprivativada língua,quea colocanum planoespecial:seupodercoercitivo,
quetransformaum agregadode indivíduosem umacomunidade,criandoa pos-
sibilidadedaproduçãoe da subsistênciacoletiva,ParaBenveniste,a questãoda
relaçãoentre línguae sociedadese resolvepelaconsideraçãoda línguacomo
instrumentode análiseda sociedade.Ele afirmaquea línguacontérna socieda-
de e por isto é o interpretanteda sociedade.Essepapelde interpretanteé garan-
tido pelofato de quea línguaé "o instrurnentode comunicaçãoqueé e deveser
comum a todosos membrosda sociedade",possibilitando,assim,"a pr"odução
indefinidade mensagensem variedadesilimitadas"rs.Mais exatamente:"a lín-
guaé necessariamenteo instrumentopróprioparadescrever,paraconceitualìzar,
parainterpretartantoa naturezaquantoa experiência"re.Além disso,a língua
dá forma à sociedadeao exibir o semantismosocial,que consiste,principal-
mente,de designações,de fatosde vocabulário.Particularmente,o vocabulário
se apresentacomo uma fonte importanteparaos estudiososda sociedadee da
cultura,pois retém informaçõessobreasformase asfasesda organizaçãosocial,
sobreos regimespolíticosetc.Essalinha de reflexãoé exemplarmenterepre-
sentadana obra de Benveniste(1969/1970)Vocobuláriodas instituiçõesInclo'
européias.
Finalmente,cabeassinalarumaoutraconsideraçãorelevantedeBenveniste.
Paraele, a línguapermiteque o homem sesituena naturezae na sociedade;o
homem"se situanecessariamenteem umaclasse,sejauma classede autoridade
ou classeda produção"20.Em conseqüência,a língua,sendouma práticahuma-
na,"revelao usopartìcularquegruposou classesde homensfazemldela](...)e
asdifelenciaçõesquedaíresultamno interiorde umalínguacomum"zr.Vemos,
17. Benveniste,E. Problenm.çde Lingiií.tticaCeral II. São Paulo,Cia. EditoraNacional/EDUSP,
1989,p. 95. (títulooriginal,1968)
18.Ibidem,p. 98,
19.Ibidcm,p. 99.
20.Ibidem,p. l0l.
2l . lbidem,p.102.
TNTRoDUçAoÀuNoúÍsrrce
assim,queBenvenistearticulaa questãoda relaçãoiínguae sociedadeno plano
geral da construçãodo humanoe, particularmente,no plano dasrelaçõescon-
cretase contingentesestabelecidasna vida social.
O esboçofeito atéaqui podeserreduzidoa uma afirmaçãomuito simples:
a questãoda relaçãoé óbvia e complexaao mesmotempo.Sabemosque é ine-
gável,mas tambémque a passagemdo socialao lingüístico- e do lingüístico
ao social- não é feita com tranqüilidade.Não há consensosobreo modo de
tratare de explicitara questãoda relaçãoentrelinguageme sociedade:o fato é
que o lugar reservadoa essaconsideraçãoconstituium dos grandes"divisores
de águas"no campoda reflexãoda Lingúísticacontemporânea.
2.ASOC|OttNcÜíSrrCA:FIXAçÃODEUMCAMPODEEsÌUDOS
O termo Sociolingüística,relativoa uma áreada Lingüística,fixou-seem
1964.Mais precisamente,surgiu em um congresso,organizadopor William
Bright, naUniversidadeda CalifórniaemLos Angeles(UCLA), do qualpartici-
param vários estudiosos,que se constituíram,posteriormente,em referências
clássicasna tradiçãodos estudosvoltadosparaa questãoda relaçãoentre lin-
guageme sociedade:JohnGumperz,EinarHaugen,Wiliiam Labov,Dell Hymes,
John Fisher,JoséPedroRona.Ao organizare publicar,em 1966,os trabalhos
apresentadosno referido congressosobo título Sociolinguisrics,Bright escreve
o texto introdutório "As dimensõesda Sociolingüística"22,em que define e ca-
racterizaa nova áreade estudo.A propostade Bright paraa Sociolingüísticaé a
de que ela deve "demonstrara covariaçãosistemáticadasvariaçõesiingüística
e social.Ou seja,relacionaras variaçõeslingüísticasobserváveisem uma co-
munidadeàsdiferenciaçõesexistentesna estruturasocialdestamesmasocieda-
de"23.Segundoo referidoautor,o objeto de estudoda Sociolingüísticaé a di-
versidadelingüística.E, como queestabelecendoum roteiro paraatividadesde
pesquisaa seremdesenvolvidasna áreada Sociolingüística,Bright, na mesma
obra,identifica um conjuntode fatoressocialmentedefinidos,com os quaisse
supõeque a diversidadelingüísticaestejarelacionada,como:
a) identidadesocialdo emissorou falante- relevante,por exemplo,no
estudodosdialetosde classessociaise dasdiferençasentrefalasfemi-
ninase masculinas:
22. Ver Bright.W. As dimensõesda Sociolingüística.In
Sot:hlüryliística.Rio de Janeiro,Eldorado,1974.
23. Ibidem,p. 34.
SOCIOLINGUiSTiCÂ:porteI
identidadesocialdo receptorou ouvinte- relevante,por exemplo,no
estudodasformasde tratamento,da babytaLk(fala utilizadapor adul-
tos parasedirigirem aosbebês);
o contextosocial- relevante,por exemplo,no estudodasdiferenças
entre a forma e a funçãodos estilosformal e informal, existentesna
grandemaioriadas línguas;
o julgamentosocialdistintoque os falantesfazemdo próprio compor-
tamentolingüísticoe sobreo dosoutros,istoé, asatitudeslingüísticas.
A propósitodo nascimentoda Sociolingüística,Bachmannet al. (1981)
tecemconsideraçõesinteressantes.Segundoestesautores,o novo campoé o
lugar
ondevãoseencontrarosherdeirosdetradiçõesantigascomoa daantropologia
lingüÍstica- casodeHymes- oudadialectologiasocial- comoLabov- ede
especialistasdaexperimentaçãooudaintervençãosocial:psicólogos,sociólogos,
e mesmoplanificadores2a.
Os referidosautoresobservam,tarnbém,quea Sociolingüísticaseconsti-
tui e floresceno momentoem queo formalismo,representadopelagramáticade
Chornsky25,alcançaenormerepercussão,em rotaparao seupercursovitorioso.
Vemos,assim,que,deum lado,a preocupaçãocom asrelaçõesentrelinguagem
e sociedadetinha raízeshistóricasno contextoacadêmiconofie-ameficano,e
tambémquea oposiçãoentreumaabordagemimanenteda línguaversusa con-
sideraçãodo contextosocialé postacom grandevitalidadeno campodosestu-
dos lingüísticos.De fato, a constituiçãoda Sociolingüísticasefez, cleramente,
a partir da atividadede váriosestudiosose pesquisadoresque deramcontinui-
dadeà tradição,inauguradano começodo séculoXX por F. Boas( 191l) e seus
discípulosmaisconhecidos- EdwardSapir(1921)e BenjaminL. Whorf ( l94l):
a chamadaAntropologiaLingüística.Nessavertente,em quelinguagem,cultu-
ra e sociedadesãoconsideradosfenômenosinseparáveis,lingüistase antropó-
logostrabalhamladoa lado e, mesmo,de modo integlado.Nessesentido,o que
há de novo é a definiçãode uma áreaexplicitamentevoltadaparao tratamento
do fenômenolingüísticono contextosocialno interiorda Lingüística,animada
pelaatuaçãode lingüistase, particularmente,de estudiososformadosem cam-
pos das ciênciassociais.A Sociolingüísticanascemarcadapor uma origem
24. Bachmann,C. et al. Languageet cotrununü:atìortsstriales. P:rrìs,Hatier, 1914,p.11.
25.Remetemoso lcitoraocapítulode"Sintaxe"nestemesmovolume.
b)
c)
d)
Fonseca.M. S. & Ncves,M. F. (orgs.)
$
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#&
#TNTRODUçAOA LrNGUl5ÌrCA
interclisciplinar.É oportunoassinalarqueo estabelecimentodaSociolingüística,
em 1964,é precedidopelaatuaçãode váriospesquisadores,quebuscavamarti-
culara linguagemcom aspectosde ordemsociale cultural.Destacaremos,aqui.
doisdessespesquisadores.Ern 1962,Hymespublicaum artigoemque propõe
um novo domíniode pesquisa,a Etnografiada Fala,rebatizadamaistardecomo
Etnografia da Comunicação?6.De caráterìnterdisciplinar,buscandoa contri-
buiçãode áreascomo a Etnologia,a Psicologiae a Lingüística,o novo domínio
pretendedescrevere interpretaro comportamentolingüísticono contextocultu-
ral e, deslocandoo enfoquetradicionalsobreo códigolingúístico,procuradefi-
nir as funçõesda linguagema partir da observaçãoda fala e dasregrassociais
própriasa cadacomunidade.Questõescomo Qual o cotnportantentoLingiiístico
acleclttaclopara lrcttrens,mulheres e crianças na conwnicladeX? ou Que nw-
ftrcntossão adecluaclospara o exercícìodafala na conturúdadeY? podem ser
tomadascomo pontode partidaparapesquisasem Etnografiada Comunicação.
Mais tarde,Hymes (1912)publicouum artigode grandeimpacto- "Models of
the interactionof languageand sociallife" - no qual estabeleceos princípios
teóricose metodológicosda Etnografiada Comunicação.
Em 1963,Labov publica seucélebretrabalhosobrea comunidadeda itha
de Martha's Vineyard, no litoral de Massachusetts,em que sublinhao papel
decisivo dos fatoressociaisna explicaçãoda variaçãolingüística,isto é, da
diversidadelingüísticaobservada.Nessetexto,o autorrelacionafatorescomo
idade,sexo,ocupação,origem étnica e atítucleao comportamentolingüístico
manifestodos vineyardenses,mais concretamente,à pronúnciade determina-
dos fones do inglês. Logo em 1964, Labov finaliza sua pesquisasobre a
estratificaçãosocialdo inglêsem New Yolk, em quefixa um modelode descri-
çãoe interpretaçãodo fenômenoÌingüísticono contextosocialdecomunidades
urbanas- conhecidocomo SociolingüísticaVariacionistaou Teoriada Varia-
ção,de grandeimpactona Lingüísticacontemporãnea27. A segundapartedesse
capítulotrataráespecificamentedessavertenteda Sociolingüística.
Assim, o rótulo "sociolingüística",como foi possívelobservar,reuniu e
agregou,no seu início, pesquisadoresmarcadospela formaçãoacadêmicaem
diferentescamposdo sabere marcadostambémpelapreocupaçãocom asimpli-
caçõesteóricase práticasdo fenômenolingüísticona sociedadenorte-america-
26.Hymes,D. Theethnographyof speaking,In;Gladwin,T. & Stutervant,W.C.(orgs.)Antlrroytktgv
and lur.nmnbaltavior.Washington,D.C.,The AnthropologicalSocietyof Washington,l9ó4. (título origi-
nal, Ì962)
2l . Lrbov. W. ThestratiJícationof Ettglishin New Yorkcity.Washrngton,D.C.,Centerfor Applied
Lìnsuistics.l9ó6.
SOCIOLINGUISTICA:porieI
na.Surgem,assim,pesquisasvoltadasparaasminoriaslingüísticas(imigrantes
porto-riquenhos,poloneses,italianosetc.)r8,e paraa quesÌãodo insucessoesco-
Iarde criançasoriundasde grupossociaisdesfavorecidos(negrose imigrantes,
particularmente).Em suma,a realidadediversificada,tantolingüísticacomo
cultural dos EstadosUnidos, torna-seum ponto de reflexão básicopara um
contingentesignificativode estudiosos.A propósito,valelembrarque,também
em 1964,houve um congressoem Bloomington,Indiana,em que lingüistase
cientistassociaisdebateramquestõesrelativasàsrelaçõesinterdisciplinares,ao
campoda dialectologiasocial,à escolarìzaçãodecriançasprovenientesdemeio
socialpobree de origemestrangeira.Trêsobrasreferenciaisforam organizadas
a paftirdostrabalhosapresentadosnessecongresso:Ferguson( I 965) Directiorts
in Sociolinguìstics:reporton a interdisciplìnarysenúner,Lieberson( 1966)(ed.)
Exploratiotts in Sociolinguistics,e Schuy (1964) (ed.) Social dialects artcl
Languagelearníng.
3.ASOCIOLTNGÚiSrtCl,OBJETO,CONCETTOS,PRESSUPOSTOS
Pondode maneirasimplese direta,podemosdizerqueo objetodaSociolin-
güísticaé o estudo da língua falada,observada,descritae analisadaem seu
contextosocial,istoé,em situaçõesreaisde uso.Seupontode partidaé a conu-
nidade lingüística, um conjunto de pessoasque interagem verbalmentee que
compartiihamum conjuntode normascom respeitoaosusoslingüísticos.Em
outraspalavras,uma comunidadede fala secaracterizanãopelo fato de secons-
tituir por pessoasquefalamdo mesmomodo,maspor indivíduosqueserelacio-
nam, por meio de redescornunicativasdiversas,e que orientamseucomporta-
mento verbal por um mesmo conjuntode regras.Tomemos,como exemplo,o
usodo modo imperativoem português.Paraosfalantesdo português,o impera-
tivo denotaordem, exortação,conselho,solicitação,segundoo significadodo
verboe o tom de voz utilizado,como em: "Vai-te embora"l"Ouve esteconse-
lho!"; "Vem cá!"; "Descedaí!". Consideremos,agora,asseguintesobservações
de Cunha& Cintra:
Atenuação.
Por deversociale moral,geralmenteevitamosferira suscetibilidadede nosso
interlocutorcoma rudezadeumaordem.Entreosnumerososmeiosdeouenos
I
'i
28.Ver Fishman.J
tambémFishman,J. A .
d.ontünnr:ein bìtinguals.
A . et al. Lntryuagaktyalty in tlw UtLitedStates.Mouton,The Hague,196ó.Ver
el ^1.Bìlitlsualistttitt tlrc Barrio; tlu nfta.urenwnland des<rìptktttof languagc
Washington,D.C.,Dept.of Health.EducationandWelfare.l9ír8.
32 |NÌRODUçAOÁ LlNGUlSÌlCA
servimosparaenfraquecera noçãode comando,devemosressaitar(além dosjá
estudados),pelasuaeficiência,o empregode fõrmulasde polidezou de civilida-
de, tais como'.por favor, por gentilezo, cligne-sede, tenlw a botrcludeetc.:
- Fale mais alto,por favorl (F. Botelho,X, 177).
-Entrem. porfavor, quenãoocupamlugar- exclamouSeuPio.( A . F. Schmidt,
GB,r65)
- Tenhama bondadedesentare esperarum momento.[= Sentem-see esperem
um momento.l(R.Braga,CCE,272)
E claroquetambérnaquio tom de voz é de umasumaimportância.Qualquer
dessasfrasespode,nãoobstanteasfÓrmulasdecortesiaempregadas,tornar-se
rudee seca,oumesmoinsolente,coma simplesmudançadeentoação?e.
A dependerdo alcancee dosobjetosde um trabalhode naturezasocioiin-
güística,podemosselecionare descrevercornunidadesde falacomo a cidadede
New York ou a cidadedo Rio de Janeiro,de SãoPaulo,de Belém. Ou o povo
iartontânú,que vive no Estadodo Amapá. Ou, ainda,âscomunidadesdos pes-
cadoresdo litoral do Estadodo Rio de Janeiro,da iÌhade Marajó, dosestudan-
tes de Direito, dosrappers etc.
Ao estudarqualquercomunidadelingúística,a constataçãomais imediata
é a existênciade diversidadeou da variação.Istoé,todacomunidadesecaracte-
riza pelo empregode diferentesmodos de falar. A essasdiferentesmaneirasde
falar, a Sociolingüísticareservao nome de variedadeslingiiísticas. O conjunto
de variedadeslingüísticasutiÌizadopor uma comunidadeé chamadorepertório
verbal. Assim é que, a propósitoda cidadede Bruxelas,na Bélgica - país
caracter-izadopelo bilingüismo francês-flamengo(variedade do holandês) -
Fishman aponta:
Os funcionáriosadministrativosdo Governo,em Bruxelas,quesãode origem
flamenga,nemsemprefalamholandêsente sl,mesmoquandotodossabemho-
landèsmuitobeme igualntentebem.Não só háocasiõesem quefalamfrancês
ente si,em vezdeholandês,comotambémháalgumasocasiõesem quefalam
entresi o holandêsstandardenquantoem outrasusamestaou aquelavariedade
regionaldoholandês.De fato,algunsdamesmaformausamdiferentesvariedades
de francês:umavariedadeparticularmentecarregadade termosadministrativos
oficiais,outracorrespondendoaofrancêsnãotécnicofaladonoscírculosdeedu-
caçãosuperiore refinadosdaBélgica,e,aindaoutra,quenãoé apenasum "fran-
cêsmaiscoloquial"maso francêscoloquialdosquesãoflamengos.Em suma,
29.Cunha,C. & Cintra,L
Fronteira,1985.
socloLlNGüÍsÏlcA:porleI
essasdiversasvariedadesdeholandêsedeÍiancêsconstituemo repenóriolingíìís-
ticodecertoscomplexossociaisflamengosemBruxelas3o.
Casoconsideremosuma comunidadecomo a de Salvador,observaremos
queo seurepertóriolingüísticoseconstituide variedadeslingüísticasdistintas,
dadoqueoshabitantesda cidadefalamde mododiferenteem função,porexem-
plo. de sua origem regional,de sua classesocial,de suasocupações,de sua
escolaridadee tambémda situaçãoem queseencontram.Assim é queum falan-
te que pronunciaa palavra"doido" como ['dojd3u] revelasuaproveniênciada
regiãoiuteriorana,assimcomoa pronúnciadapalavra"cozinha"como [cú4'ãe]
indica,alérnda origem social,a suapoucaescolaridade.Um mesmohabitante
de Salvador,segundoa situaçãoem que seencolìtrar,poderáoptarentÍeusaras
expressões"Fiquei retado" ou "Fiquei aborrecido", assimcomo entre "João
convidouele" ou "Joãoo convidou".
Qualquer língua, falada por qualquercomunidade,exibe semprevaria-
ções.Pode-seafirmarmesmoquenenhumalínguaseapresentacomo umaenti-
dadehomogênea.Isso significa dizer que qualquerlín-quaé representadapor um
conjuntode variedades.Concretamente:o quechamamosde "língua portugue-
sa" englobaos diferentesmodosde falar utilizadopelo conjuntode seusfalan-
tesdo Brasil,em Poftugal,em Angola, Moçambique,CaboVerde,Timor etc.
Língua e variaçãosãoinseparáveis:a Socìolingüísticaencaraa diversida-
delingüísticanãocomo um problema,mascomo umaqualidadeconstitutivado
fenômenolingúístico.Nessesentido,qualquertentativade buscarapreender
apenaso invariável,o sistemasubjacente* 56vnlel deoposiçõescomo "iíngua
e fala", ou competênciae perfornrtat'Lce- significa uma reduçãona compreen-
são do fenômeno lingüístico. O aspectoformal e estruturadodo fenômeno
lingüísticoé apenaspartedo fenômenototal.
3.Ì. A vorioçóo lingüísficd:um recorte
Todasaslínguasdo mundosãosemprecontinuaçõeshistóricas.Em outras
palavras,as geraçõessucessivasde indivíduos legam a seusdescendenteso
domíniode uma línguaparticular.As mudançastemporaissãoparteda história
daslínguas.Dois exemplosde mudançahistóricano portuguêssãoilustrativos:
30. Fishman,J. A. A sociologiada linguagem.
Sociolingiií.ttica.Rio de Janeiro,Eldorado,1974,p.28
s
tr:
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F. L. Novagranútk'a do porlugu1scontemporâneo.Rio de Janeiro,Nova In: Fonseca,M. S. V, & Neves,M. F. (orgs.)
34
1NTRO0UçAOA tlN6U15ÌlCA
a) no portuguêsarcaico(entreos séculosXII e XVI), ocorriam constru-
çõesimpessoaisem quea incleterminaçãodo sujeitoeraindicadapclo
vocábulo
,,homern",coll o meslrosentidoque,atualmenle,usamoso
pronome
,,se".Por exempÌo:"E pode lrornemhyr de Santarema Beia
IBeja] em quatrodias"3r,queconesponde,modenrâmente,a "E pode-
se ir de Santaréma Bejaem quatrodias";
b) a forma de tratamento"VossaSenhoria"é ateStadanosmeadosdo sé-
culo XV como expressãoreservadaao rei. Já no finaì do séculoXVI,
estapercleSeuestatutode realeza,sendoempregadano tratocom arce-
bispos,bispos,duques,marqueses,condes,alémde umagamade altos
funcionárioslcomã, por exemplo,vice-reiou governadorda Ínclia)12.
No planosincrônico,asvariaçõesobservaciasnaslínguassãorelacionáveis
a fatoresdiversos:dentrode uma mesmacomunidadede fala, pessoasde origem
geográfica,de idacle,de sexodiferentesfalamdistintamente.E bom frisar quenão
ãxisienenhumarelaçãodecausalidadeentreo fatode nascerem umadetermina-
da r.egião,serde umaclassesocialdeterminadaetc.,e falar de umacefta maneira.
os falantesadquiremas variedadeslingüísticasprópriasa sua região,a
Suaclassesocialetc.De uma perspectivageral,podemosdescrevet'asvarieda-
cleslingiiísticasa partir de dois parâmetrosbásicos:a variaçãogeográfica(ou
diatópica)e a variaçãosocial(ou diastrática).
A variaçãogeográficaou diatópicaestárelacionadaàsdiferençaslingüís-
ticasdistribuídasno espaçofísico,observáveisentrefalantesdeorigensgeográ-
ficas distintas.Alguns exemPlos:
a) brasileirose poüuguesessedistinguemem váriosaspectosde suafala.
No planolexical,apenasum exemplo:"combóio" em Poftugal,"trem"
no Brasil.No plano fonético:a pronúnciaabertada vogalanteriormé-
dia como em "prémio" ['premju], em contrastecom a pronúnciafechada
no Brasil,
,'prêmio"
['premju]. No planogramatical:derivaçõesdiver-
sasde uma raiz comum, como em ficheiro,paragem,bolseiro,que no
Brasil correspondema fichário, paradae bolsista;a colocaçãode ad-
vérbioscomo em "Lá nãovou" (Portugal)e "Não vou Ìá" (Brasil);3i
31, Dias.A. E. S. Sürra.reltistórìcaporütgtttsa.4.erl.Lisboa,Clássica,1959,p'22.(títulooriginal.
r884)
32. Cintra, L. F. L, Origensdo sistemacleformasde tratamentodo portuguêsactual ln: Sobrcas
".1'ortnasde ilatatneilto"na línguapor[t]Sttera.Lisboa,Horizonte,1972 (títulooriginal'1965)
33.Ver Câmarair., J. M, Línguaseuropéiascleuitramar:o portuguêsdo BrasiÌ.In: Dirpersos.lìio rlc
Janeiro,Fun<.laçãoGetúlioVargas,1975,(títulooriginal,1963).Ver tambémBoléo.M. P. Bresiìeirismo.
Bra:ília, v. 3, pp. 3-42, 1943.
SOCIOUNGUISÌlCA.portcI
b) entrefalantesbrasileirosorigináriosdasregiõesnordeste(incluídaa
Bahia) e sudeste,percebemosdiferençasfonéticas,como, por exem-
plo, a pronúnciade vogaismédiaspretônicas- comoocorrenapala-
vra "melado" _- pronunciadascomo vogaisabertasno nordeste
[me'ladu]e fechadasno sudesteInrc'ladul.Percebemostambémdife-
rençasgramaticais,como.por exenrplo.a preferênciapelaposposição
verbalda negação,colrìoetrÌ"sei não" (nordeste)e "não sei" (ou, "não
sei,não", no sudeste);o usodo artigodefinidoantesde nomespró-
prios cornoerrr"Falei com Joana"(nordeste)e "Falei corÌìa Joana"
(sudeste);
c) no Estadoda Bahia,por exemplo,a origemurbanaou ruralpodeser
evidenciadapelousoda expressão"de primeiro"[di prirnerol.ernlu-
gar de "antigamente","anteriormente".
Tomando-sea comunidadede fala de lírrguaportuguesacomo um todo,
podemo-nosreferir àsvariedadesbrasileira,portuguesa,baiana.curitibana,ru-
ral paulista(ou caipira)etc.
A variaçãosocialou diastrática,por suavez,relaciona-sea um conjunto
de fatoresque têm a ver com a iderrtidadedosfaÌantese tambémcom a or-qrni-
zaçãosocioculturalda comunidadede fala.Nestesentido,podernosapontaros
seguintesfatoresrelacionadosàs variaçõesde naturezasocial:a) classesocial;
b) idade;c) sexo;d) situaçãoou contextosocial.Em relaçãoaostrêsprimeiros
fatores,nos limitalemosa fornecerexemplos,rerneteudo,para um tratamento
variacionistadosfatoresernquestão,à segundapartedestecapítulo.No quediz
respeitoao fator situaçãoou contextosocial,faremosumaexposiçãoum pouco
mais aprofundada.
a) Classesocial:observemosalgunsexemplosindicativosde pertencente
à falade grupossituadosabaixona escalasocìal:
de dupla negação,como em "ninguémnão viu", "eu nem nuÌrÌ
gosto";
- n r ' È c ê n . r r r l e Í r l o m l ' , o ' ' . ' 1 a f l l a -,,.ì gruposcor'Ìsonanters.como em
"brusa"(blusa)c "grobo" (globo);
-_ na Índia,existemascastasbrâmane(superior),nãobrâmane(médie)e
intocável(inferior),quecorrespondemà hierarquiasocialvìgente.Na
áreade Bangalore,a línguaKannadaapfeserìtadadoslelativosa csta
diferenciaçãosocial:a palavra"nome" teÍnasfonnas/hesru/,"hesru",
na variedadecoloquialdos brâmanes,e /yesru/,"yesru", na variedade
nãobrâmane;a expressão"com licença"é realizadacomo /klamisu/,
rNÍRoDuçÁoÀ trNoúísrrcr
"k5antisu",na variedadecoloquialdos brâmanese /cemsu/,"cemsu",
na variedadecoloquialdosnãobrâmanes(Bright, i960).
b) Idade:
- o uso de léxico particular,como presenteem certasgírias("maneiro",
"esperto",com o sentidode avaliaçãopositivasobrecoisas,pessoase
situações),denotafaixa etáriajovem;
- uso de pronomeÍrr em situaçõesde interaçãoentre iguais no Rio de
Janeiro,como em "Tu viu só?", tarnbémsugereque os falantessão
jovens;
- a pronúnciafechadada vogal tônica posteriorda palavra"senhora"
[seloce] , em lugarde [sclrrce],é característicadealgunsfalantesmais
velhos.
c) Sexo:
- a duraçãode vogaiscomorecursoexpressivo,comoem "maaravilhoso",
costumaocoÍrerna fala de mulheres(Camacho,1978),assimcomo o
usofreqüentedediminutivos,como"bonitinho","gostosinho","verme-
lhinho";
- na línguaZuã| faladapor um grupoindígenada Américado Norte,os
fones [ty] e lcl faladospor pessoasdo sexofeminino conespondema
Iky] na falamasculina;
- no japonês,parao pronolnedeprimeirapessoaeu, aIémde uma forma
utilizável por todosos falantes,existemas formas"atashi",usadaex-
cÌusivamentepor mulheres,e "boku", própriaaoshomens.
d) Situaçãoou contextosocial:é um fato muito conhecidoque qualquer
pessoamuda suafala, de acordocom o(s)seu(s)interlocutor(es)- se
esteé mais velho ou hierarquicamentesuperior,por exemplo -, se-
gundo o lugar em que seencontra- em um bar,em uma conferência
- e atémesmosegundoo temada conversa- fofoca,assuntocientí-
fico. Ou seja,todo falantevariasuafaÍasegundoa sìtuaçãoem que se
encontra.
Fishman(1972)assimsepronuncia:"umasituaçãoé definidapelaco-
ocorrênciade dois(ou mais)interlocutoresmutuamenterelacionadosde uma
maneiradeterminada,comunicandosobreumdeterminadotópico.numcontex-
soctoLtt,tcüísTtcA,porr"t
to determinado"3r.Uma definíçãodessetipo possibilitadescreveros padrõesde
uma determinadasociedadecom respeitoao uso das variedadeslingüísticas.
Isto é, qual o comportamentolingüísticoadequadoàs situaçõesem que seen-
contramos falantes.Consideremos,por exemplo.a situaçãode uma defesade
tesee a comemoraçãoque sesegueà aprovaçãodestatese,queenvolveasmes-
maspessoas.As diferençasexistentesentreasduassituações- temadascon-
versas,local etc.* podemfazer com que uma sociedadeconsidereadequado
utilizarvariedadeslingüísticasdiferentesou a mesma.Segue-se,então,quecada
gruposocialestabeleceum contínuode situaçõescujospólosextremose opos-
tos sãorepresentadospelafonrrctlidadee irtfornnliclctde.Em nossasociedade,
conferências,entrevistasparaobtençãode emprego,solicitaçãode informação
a um desconhecido,contatoentre vendedorese clientessão,ern geral,vistos
como situaçõesformais. Já situaçõescomo passeatas,mesasredondassobre
esporte,bate-papoem bar, festasde Natal nasempresassão definidascomo
informais.As variedadeslingüísticasutilizadaspelos participantesdas situa-
çõesdevem corresponderàs expectativassociaisconvencionais:o falanteque
nãoatenderàsconvençõespodereceberalgumtipo de "punição",representada,
por exemplo, por um franzft de sobrancelhas.
Há um tipo de interaçãosocialparticularernque urnfalantedecidemudar
de variedadelingüísticasem que tenhaocorridomudançade situação:é o que
Fishman(L972)chamade mudançantetafórica.Um bom exemploé uma con-
versaem que o pai interrogaa filha nos seguintestermos:"Aonde a senhora
pensaque vai?" - em que o usoda forma de tratamento"senhora"estáobvia-
rnentecxrregadode ironia.
Aprende-sea faìar na convivência.Mas, maís do que isso,aprendemos
quandodevemosfalar de um certomodo e quandodevemosfalar de outro.Os
indivíduosque integramuma comunidadeprecisamsaberquandodevemmudar
de uma variedadeparaoutra.SegundoFishman(1,972),os membrosde qual-
quercomunidade"adquiremlentae inconscientementeascotnpetênciasconur-
nicativa e sociolingiiísrica,com respeitoao uso apropriadoda língua"35.Em
termoscollcretos,é possívelafirmar que os falantesaprendemquandopodem
falare quandodevempermanecerem silêncio,sepodemutilizar a forma impe-
rativaparadar uma ordem ou sedevemse valerde uma expressãomodalizada,
como em "saiam daqui,já" ou "por favor, dirijam-seà saída";se é oportuno
34. Fishman,J. A. A sociologiada linguagcm.In: Fonscca,M. S. V. & Ncvcs,Ní. F. (orgs.)
Soriolütgiiístìrc.Rio de Janeiro,Eldorado,1974.p.29. (títulooriginal,1972)
35. lbidem.
TNTRoDUçÃoÁ LtNçúísrtcn
dizer"tô fora" ou "nãovai serpossível";ou,ainda,"a gentenãosabia"ou "não
sabíamos",ou ainda"desconhecíamos".
Às variaçõeslingüísticasrelacionadasao contextochamamosde vu'irt-
çõesestíLísticrÍ.rou registros.Nessesentido,osfalantesdiversificamsuafala-
isto é, usam estilosou registrosdistintos- em íunçãodascircunstânciasem
que ocorremsuasinteraçõesverbais.SegundoCamacho,os falantesadequam
suasformasde expressãoàsfinalidadesespecíficasde seuatoenunciativo,sen-
do que tal adequação"decorrede uma seleçãodentreo conjuntode formasque
constituio saberlingüísticoindividual,de um modomaisou menosconscien-
te"36.A seleçãode formasenvolve,naturalmente,um grau maior ou menor de
reflexão,por partedo falante:o uso do estilo formal, em relaçãoao informal,
requeruma atuaçãomais consciente.Assim é queobservamosestilosdistintos
quandoum falanteconversacom um amigo ou colrl vizinhos recém-conheci-
dos,ou com um rnédico,duranteumaconsulta,bemcomo aoescreverum bilhe-
te a um colegade faculdade,uma cartaà seçãode leitoresde utn jomal ou ao
elaborarum relatóriodirigido a um superiorno trabalho.A terminologia pal'ase
referiraosdiferentesestilosde falanãoé nadaptecisa.Utilizamos,muito generi-
camente,expressõescomoestilosforutal, infornnl, coloquial,.faniliar, pessoal.
A noçãode situação- tal como foi definida- tem um alcancerestrito,
reduzindo-se,praticamente,àconsideraçãodacenaem queocorremasinterações
verbais.É,itit e proclutivoentendersituaçãodeumaperspectivamaisabrangente,
a saber,como o contextosocialglobal de uma comunidade,com suasmarcas
históricase culturaispróplias.Pensamosaqui, particularmente,nos contextos
ritualísticose religiososque,tomadoscomo pontode partida,sugeremo estudo
de variedadese usoslirigüísticosespeciais.Assim,por exemplo,o contextodas
tradiçõesreligiosassugereo estudodas linguagensesotéricas,das fórmulas e
invocaçõesplopiciatóriasàs práticasda relaçãocom o mundo do sagtado'O
contexto da ordenaçãojur'ídica,por sua vez, sugereo estudodas variedades
lingüísticasparticularesutilizadaspelostabeliães,advogados,juízes e promo-
toresnosjulgamentos.
No campo dos usosreligiosos,cabecitar o fascinautetrabalhode Michel
Leiris (1948),La larryuesecrèïedes DogortcleScutga,que seocupada língua
iniciáticado povo Dogon que habitauma regiãodo atual Mali (antigo Sudão
Francôs).Sobre a comunidadebrasileira,há um interessanteestudode Maria
36. Camacho,R. A variaçãolingüística.lt'. Subsídiosà propostacurrbular tle líttguaportusutsQ
para o sagundogrzrr.SãoPaLrlo,CENP,Secretariado Estadoda Educação,v. lV, I978,p.| 7.
SOCiOtlNGUISï|CArporleI
IzabelS.Magalhães(1985),Tlrcrezasuttl benzeçrles:healüryspccchactivities
irt Brazil, que focaliza a prática lingüísticade benzedores,a partir de dados
coletadoserncidades-satólitesde Brasília.
W. M. O'Barr & J.F. O'Barr (1976)organizaramum volume,deextremo
interesse- Lrntgu.ageatd politícs- em que analisama questãodasrelações
entrelinguageme o funcionamentodo sistemacieordenaçõeslegaisna Íncliae
na Tanzânia,dois paísesque compartilhamalgumascaracterísticasmarcantes:
sãoex-colôniasinglesas,sociedadesplurilíngüese plecisampensara questão
da relaçãoentrea herançahistóricatradicionale a recente,produzidapelo
colonialismoinglês.
Os parâmetrosda variaçãolingüísticasãodiversos,como se pode inferir
da exposiçãofeita até aqui. Paraefeito de apresentação,isolamosos fatoresa
que a variaçãolingüística,como um todo,estárelacionada.Não podernosdei-
xar de apontar,no entanto,que,na realidadedasrelaçõessociais,os fatoresde
variaçãoseencontramimbricados.No atode interagirverbalmente,um falante
utilizaráa variedadelingüísticarelativaa suaregiãode origem, classesocial,
idade,escolaridade,sexo etc. e segundoa situaçãoem que se encontrâr.Por
exemplo: um brasileiro,nascido em Recife, apresentará,sempre,vogais
pretônicasabertascoltloern [reau] "real", masaindaa dependerde suaescola-
ridade,da origem rural ou urbana,utllizará,o verbo "assuntar" ou "prestar aten-
ção" e, a dependerda situação,dirá "Fui nada"ou "Fui não".
3.2.Asvoriedqdeslingüísticose o estruturosociql
Comojá foi dito,emqualquercomunidadedefala,podemosobservara
coexistênciade umconjuntodevariedadeslingüístìcas.Essacoexistência,en-
tretanto,nãosedánovácuo,masnocontextodasrelaçõessociaisestabelecidas
pelaestruturasociopolíticadecadacomunidade.Narealidadeobjetivadavida
sociai,hásempreumaordenaçãovalorativadasvariedadeslingüísticasemuso,
querefletea hierarquiadosgrupossociais.Istoé, em todasascomunidades
existemvariedadesquesãoconsideradassuperiorese outrasinferiores.Em ou-
traspalavras,comoafirmaGnerre,"umavariedadelingüística'vale'o que'va-
lem' na sociedadeos seusfalantes,istoé, valecomoreflexodo podere da
autoridadequeelestêmnasrelaçõeseconômicase sociais"rT.Constata-se,de
37.Cnerre,M. Lhguagetn,escritae poder.Sr'oPaulo.MartinsFontes,1985,p. 4. (câpítuloI
guagem,podere discrimrnação)
Lin-
40 lNrRoDUçÂoÀLtlcÚÍsrtcr
modo muito evidente, a existênciade variedaclesde prestígio e de varieclatles
rtãoprestigiadasnassociedadesem geral.As sociedadesde tradiçãoocidental
oferecemum casoparticularde variedadeprestigiada:a variedadepaclrão.A
variedadepadrãoé a variedadelingüísticasocialmentemais valorizada,de re-
conhecidoprestígiodentrode umacomunidade,cujousoé,normalmente,reque-
rido em situaçõesde interaçãodeterminadas,deflinidaspelacomunidadecomo
próprias,em funçãoda formalidadeda situação,do assuntotratado,da relação
entreos interlocutoresetc.A questãoda línguapadrãotem umaenoÍrneimpor-
tânciaem sociedadescomo a nossa.Algumas consideraçõesa seurespeitose
impõem.
A variedadepadrãode uma comunidade- tambémchamadanorma culta,
ou línguaculta- nãoé, como o sensocomum fazcrer,a línguapor excelência,
a iíngua original, postaem circulação,da qual os falantesse apropriamcomo
podem ou sãocapazes.O que chamamosde variedadepadrãoé o resultadode
uma atitudesocialantea língua,que setraduz,de um lado,pelaseleçãode um
dos modos de falar entreos váriosexistentesna comunidadee, de outro, pelo
estabelecimentode um conjunto de normas que definem o modo "cometo" de
falar. Tradicionalmente, o melhor modo de falar e as regras do bom uso
correspondemaoshábitoslingüísticosdosgrupossocialmentedominantes.Em
nossassociedadesde tradição ocidental, a variedadepadrão, historicamente,
coincide com a variedadefalada pelasclassessociaisaltas,de determinadas
regiõesgeográficas.Ou melhor, coincide com a variedadelingüísticafalada
pela nobreza,pela burguesia,pelo habitantede núcleosurbanos,que sãocen-
trosdo poder econômicoe do sistemaculturalpredominante.
Fishman(1970)definea padronização,istoé, o estabelecimentoda varie-
dadepadrão,como um tratamentosocialcaracteístico da língua,que se verifi-
ca quandohá diversidadesocialsuficientee necessidadede elaboraçãosimbó-
lica. Em outraspalavras,a definição de uma variedadepadrãorepresentao ideal
da homogeneidadeem meio à realidadeconcretada variaçãolingüística- algo
que,por estaracimado corpo social,representao conjuntode suasdiversidades
e contradições.A variedadealçadaà condiçãode padrãonão detém proprieda-
desintrínsecasque garantemuma qualidade"naturalmente" superioràsdemais
variedades.Na verdade,a padronizaçãoé semprehistoricamentedefinida. Isto
é, cadaépocadeterminao que consideracomo forma padrão:determinadaspro-
núncias,construçõesgramaticaise expressõeslexicais.Segue-se,então,que
certas formas podem ser consideradascomo pertencentesà variedadepadrão
em uma épocae deixar de sê-lo em outra.As línguasmudam incessantemente,e
a definição do "certo", do "agradável" e do "adequado" também. Na prática,
podemosconcordarcom Fishman, o que é padrãopode tornar-senão padrão,e
soclOtlNGÜÍSTICA:porte| 4r
o que é consideradonão padrãopode serestabelecidocomo padrão.A história
da línguaportuguesa,como a de tantasoutras,oferece-nosinumeráveisexem-
plos dessaordem de fatos.Consideremos,a propósito,os seguintesexemplos
do séculoXVI:
- asformas"dereito", "despois","frecha", "frito", "premeìramente",hoje
desabonadas,sãoencontradasno textoda cartade PeroVaz de Cami-
nha.de 1500;
- as formas "frauta", "escuitar","intonce", assimcomo as construções
sintáticasdo tipo "desejade comprar"(com a presençada preposição
cle)e "se esta gente,cuja valia e obra tanto amaste/nãoqueresque
padeçam vitupório" (concordânciado sujeito gente com o verbo
flexionadono plural) - hojeconsideradasincorretas- sãoencontra-
das em Os Lusíadas,de Camões(1572).
como sevô,representaçõesdepronúnciase construçõesgramaticaisates-
tadasem textoslegitimadosnãosãomaisconsideradascomo "bom uso".como
entender,então,queocorrênciasequivalentes,tãovivas em variedadesnãopa-
drõescontemporâneas,como por exemplo"Framengo","ele devede sair,ago-
ra" e "a gentefomos lá", sejamconsideradascomo "erradas","flrutode ignorân-
cia"? A fala das classesaltasmudou e a de outrosgrupossociaisreteveesses
usos:essefoi o "erro".
A avaliaçãosocial das variedadeslingüísticasé um fato observávelem
qualquercomunidadeda fala.Freqüentemente,ouvimosfalarem línguas"sim-
ples", "inferiores", "primitivas". Paraa Lingi.iística,essetipo de afirmaçãoca-
recede qualquerfundamentocientífico.Toda línguaé adequadaà comuniclade
que a utiliza,é um sistemacompÌetoque permitea um povo exprirniro mundo
físicoe simbólicoem que vive. É absolutamenteimprópriodizerquehá línguas
pobresem vocabulário.Não existemtambémsistemasgramaticaisimperfeitos.
seria um contra-sensoimaginarsereshumanoscom uma "meia língua".A falta
de léxicoespecíficoparadescrever,por exemplo,a astronomiana línguade urn
povo correspondeao desinteressepor esteassunto:a sociedadenãotem neces-
sidadede dominar estedado do real. caso a sociedadenecessite,bastafazer
empréstimoslingüísticos:o contatocuIturalcom outrospovos.o conhecimento
de novosconteúdosou a descobertade realidadesatéentãodesconhecidassãoo
motordaelaboraçãode novosconceitose daproduçãode novaspalavras.euanto
ao aspectogramatica[,o estudodasmaisdistintaslínguastem reveladoque ele
seapresentasemprecomo um sistemaorganizadoe coerentede regras.As lín-
guasdiferementresi em numerososaspectos,e essasdiferençascorrespondem
ao patrimônioexpressivoda humanidade.
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42 rNïRoDUçÃoÀ uNcüisrrce
Assimcomonãoexistemlínguas"inferiores",nãoexistemvariedadeslin-
güísticas"inferiores".Como vimos,as línguasnãosãohomogênease a varia-
ção observávelem todaselasé produto de suahistóriae do seupresente.Enr
que se baseiam,então,asavaliaçõessociais?Podemosafirmar,com todatran-
qüilidade,que os julgamentossociaisantea língua- ou melhoras atitudes
sociais- sebaseiamem critériosnão[ingüísticos:sãojulgamentosde natureza
políticae social.Não é casual,portanto,que sejulgue "f,eia"a variedadedos
falantesde origem rural, de classesocial baixa,com pouca escolaridade,de
regiõesculturalmentedesvalorizadas.Por que seconsidera"desagradável"o r
retroflexo,o chamador ccLipira,presenteem realizaçõescomo ['pc4tu] "por-
ta"? Afinal, a mesmaarticulaçãoretroflexaocorreernpalavl'asdo inglêscomo
[kafl "car" (carro),que ninguémsentecomo "feia". Em resumo:julgamos não
a fala, maso falante,e o fazemosem funçãode suainserçãona estruturasocial.
Para a Sociolingüística,a naturezavariávelda língua é um pressuposto
fundamental,que orientae sustentaa observação,a descriçãoe a interpretação
do comportamentolingüístico.As diferençaslingüísticas,observáveisnasco-
munidadesem geral,sãovistascomo um dadoinerenteao fenômenolingüístico.
A não aceitaçãoda diferençaé responsávelpor numerosose nefastosprecon-
ceitossociaise,nesteaspecto,o preconceitolingüísticoteÌÌìum efeitoparticular-
mentenegativo.A sociedadereagedemaneiraparticulârmenteconsensualquan-
do setratade questõeslingüísticas:ficamosunanimementechocadosdianteda
paÌavrainadequada,daconcordânciaverbalnãorealizada,do estiloimpróprioà
situaçãode fala. A intolerâncialingüísticaé um dos comportamentossociais
mais facilmenteobserváveis,sejana mídia,nasrelaçõessociaiscotidianas,nos
espaçosinstìtucionaisetc.A rejeiçãoa certasvariedadeslingüísticas,concreti-
zadana desqualificaçãode pronúncias,de construçõesgramaticaise de usos
vocabulares,é compartilhadasemmaioresconflitospelosnãoespecialistasem
linguagem.O sensocomum operacom a idéia de que existeuma língua - o
bem social à disposiçãode todos- que é adquiridadistintamente,em função
de condiçõesdiversas,pelosfalantes.Na realidade,existesempreum conjunto
de variedadeslingüísticasem circulaçãono meio social.Aprende-sea varieda-
de a que seé exposto,e nãohá nadade erradocom essasvariedades.Os grupos
sociaisdão continuidadeà herançalingüísticarecebida.Nessesentido,é preci-
so ter cìaro que os grupos situadosembaixona escalasocial não adquirem a
línguade modo imperfeito,nãodeturpama língua"comum". A homogeneidade
lingüísticaé um mito, quepodeter conseqüênciasgravesna vida social.Pensar
quea diferençalingüísticaé um mal a sereruadicadojustifica a práticada exclu-
sãoe do bloqueioao acessoa benssociais.Trata-sesemprede impor a cultura
dos grupos detentoresdo poder (ou a eles ligados)aos outros grupos- e a
SOCIOLINGUISTICA:poae| 43
línguaé unrdoscomponentesdo sistemacultural.A existênciade uma varieda-
depadrão,quedeslocatodasasoutrasvariedadeslingúísticase cria um contex-
to de relaçõesassimétrìcasentrefalantesde uma comunidade,é um exemplo
objetivodessaquestão.Cabeaosusuáriosdasvariedadesnão-paclrõesadotara
variedadesocialmenteaceitável- pelomerÌos,em certascircunstâncias,como
ernsituaçãode falapúblicaou duranteurrraentrevistaem uma agênciade em-
prego.Por queaprenderum outromodo de falar?Ondeadquiriresteoutron'ìodo
de falar?A motivaçãoparafalar um outro rnodode falaré sempresocial,e isso
podeserproduzidopelaescola.ou pelaexperiênciasocial.De qualquermanei-
ra,a decisãode falarde um modo distintodaquelequeaprendemosnãosecon-
cretizafacilmente:há sempreum longo caminhoa percorrer,tanto mais longo
quantomais distantese encontrao falantedos padrõeslingüísticose culturais
legitimados.
4.CONSTDERAçótSrrHatS
Marcadapor uma heterogeneidadeoriginal, a Sociolingüísticados anos
1960podeservistacomo o pontode partidadenovascorrel'ltese orientaçõesde
pesquisas,centradasno trato do fenômenolingúísticorelacionadoao contexto
sociale cultural, que se distinguem,de forma mais evidente,pela vinculação
explícitaa algum campodasciênciashumanas.De uma perspectivabem gelal,
podemosapontara Antropologiae a Sociologiacomo áreasrelevantes.Dentre
estascofferìtes,destacaremosapenasalgumas:
- a Sociologiada Linguagem,representadapor J. Fishman;
- a SociolingüísticaInteracional,ligadaao nomede J. Gumperz;
- a DialectologiaSocial, associadaao trabalhode estudiososcomo R.
Shuye P. Trudgil;
- aEtnografiada Comunicação,inseparáveldo nomedeD. Hymes,refe-
rida anteriormente.Caberia,também,uma referência,nestavertente,
aos trabalhosde R. Bauman e J. Sherzer,voltados,particularmente,
paraa questãoda arteverbale da poéticadosgênerosde fala.
Algumas antologias,bastantecitadas,oferecemuma visãoda produçãono
campoda Sociolingüísticae permitemobservara diversidadede ternasestuda-
dos e de abordagenspraticadas,como, por exemplo:Pride,J. B. & Holms, J.
(1972)(orgs.),SociolirryLristlcs;Giglioli, P.P. (1974)(org.),Lcuryuagearu!so-
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Sociolinguística - Tânia Maria Alkmin

  • 1. t; & * !;.,h ;r s0cÍ0ríNGUrsïrcA Pnnru| Tânia Maria Alknint t.coNsrDERAçoeslulctnts Linguageme sociedadeestãoligadasentresi derlodo inquestionável.Mais do que isso,podemosafirmar que essarelaçãoé a baseda constituiçãodo ser humano.A históriada humanidadeé a históriade seresorganizadosem socie- dadese detentoresde um sistemade comunicaçãooral, ou seja,de uma língua. Efetivamente,a relaçãoentrelinguageme sociedadenãoé postaem dúvidapor ninguém,e não deveriaestarausente,portanto,dasreflexõessobreo fenômeno lingüístico.Por que se fala, então,em Sociolingürística?Ou melhor,por que existeuma área,dentro da Lingüística,para tratar,especificamente,das rela- çõesentrelinguageme sociedade- a Sociolingüística?A linguagernnãoseria, essencialmente,um fenômenode naturezasocial?As respostasa questõescomo essasnãosãotãoóbvias.Pararespondê-las,é precisoconsiderarrazõesde natu- rezahistórica,maisprecisamente,o contextosocialmaisamploem quesesituam aquelesquesededicama pensaro fenômenolingüístico.Assim, inicialmente,é necessáriolevar em contaque os estudiososdo fenômenolingüístico,corrìo homensde seutempo,assumiramposturasteóricasem consonânciacom o fazet
  • 2. Ç v. I ; :..rNïtoDUçÁoALrNGÜisïrCA científicoda tradiçãoculturalem que estavaminseridos.Nessesentido,asteo- riasdelinguagem,do passadoou atuais,semprerefletemconcepçõesparticula- resde fenômenolingúísticoe compreensõesdistintasdo papeldestena vida social.Mais concretamente,em cadaépoca,as teoriaslingüísticasdefinem,a seumodo,a naturezae aScaracterísticasrelevantesdo fenômenolingüístico.E, evidentemente,a maneirade descrevê-loe de analisá-lo. Alguns manuaisde históriada Lingüísticanosoferecemum panoramade diversasabordagensno estudodo fenômenolingüísticor.Observemos,a título ilustrativo,algunscomentáriosde CâmaraJr., em História cla Líttgíiística,a respeitodo IingüistaalemãoAugusto Schleicher,cujostrabalhostiveram forte impactono séculoXIX: Schleichernãoeraapenasum lingüistamastambémum estudiosodasciências naturaisdedicando-seà botânica.Estefatodera-lheumaorientaçãoa favordas ciênciasdanatuieza.Ademais,deacordocoma filosofiadeHegel,quedominou o pensamentoalemãodessaépoca,asciênciashumanas,incluindoa história,são o produtodo livrepensamentodohomeme nãopodemsercolocadassoba int-lu- ênciadeleisimutáveise geraistaiscomoo fenômenodanatureza. Ora,Schleicher,comotodosos lingüistasanteíioresa ele' tinhaa ambiçãode elevaro estudodalinguagemao statLtsdeumaciênciarigorosacomrigorosasleis dedesenvolvimento2. É assimque Schleicherse propõea colocara Lingüísticano campo das ciênciasnaturais,dissociando-ada tradiçãofilológica, vista por ele como um ramoda História,ciênciahumana.Parao referidolingüistaalemão,o desenvo[- vimerÌtoda linguagemera comparávelao de uma planta que llasce,crescee mone segundoleis físicas.A linguagemé vistacomo um organismonaturalao qual se aplica,portanto,o conceitode evolução,desenvolvidopor Darwin. A esserespeitocâmara Jr. reÌatao que sesegue: De acordocomSchleicher,cadalínguaé o produtodaaçãodeum complexode substânciasnaturaisnocérebroe noaparelhofonador.Estudarumalínguaé,por- tanto,umaabordagemindiretaa estecomplexode matérias.Destamaneira,foi elelevadoa adiantarquea diversidadedaslínguasdependedadiversidadedos cérebroseórgãosfonadoresdoshomens,deacordocomassuasraças.E associou l. Ver CâmaraJr.,J.M. Hìstóriada Lingiìístü:a.Rio deJaneiro,Vozes, de la Linguistíque.De Suninera.Sar.r.rure,Paris,PUF, l99l I Wartburg,W. e nútodosda Ltugüística.SãoPaulo,Difel, 1975.(títulooriginal, 1943) 2. CâmaraJr.,J. M. Op. cit.,p. 50. 1975;Malmberg,B. Histoirc von & Ulmann,S. Problenn"' SocloLlNGúÍ5TlcÁ:porleI a línguaà raçademaneiraindissolúvel.Advogouquea línguaé o critériomais adequadoparaseprocederà classilicaçãoracialdahumanidader. A orientaçãobiologizanteque schleicherimprimiu à Lingüísticada sua épocaafastou,evidentemente,todaconsideraçãode ordem sociale culturalno tratodo fenômenolingüístico. A relaçãoentrelinguageme sociedade,reconhecida,masnem sempreas- sumidacomo determinante,erìcontra-sediretamenteligadaà questãoda deter- minaçãodo objeto de estudoda Lingüística.Isto é, embora admira-seque a relaçãolinguagem-sociedadesejaevidentepor si só,é possívelprivilegiaruma determinadaóptica,e estadecisãorepercutena visãoque se tem clofenômeno lingüístico,de sua naturezae caracterização.Nessesentido,a Lingüísticado séculoXX teve um papeldecisivona questãoda consideraçãoda relaçãolin- guagem-sociedade:é estaque seencaÍregade excluir todaconsideraçãode na- turezasocial,históricae culturalna observação,descrição,análisee interpreta- ção do fenômenolingtiístico.Referimo-nos,aqui, à constituiçãoda traclição estruturalista,iniciadapor Saussureem seuCursocleLingíiísticageral,em 1916. E Saussurequem definea língua,por oposiçãoà fala,como o objetocentralda Lingüística.Na visãodo autor,a língua é o sistemasubjacenteà atividadeda fala, mais concretanìente,é o sistemainvarianteque pode ser abstraídodas múltiplas variaçõesobserváveisda fala. Da fala, se ocuparáa Estilística,ou, maisamplamente,a LingüísticaExterna.A Lingüística,propriamentedita,terá como tarefadescrevero sistemaforma[,a língua.Inaugura-se,assim,a chama- da abordagemimanenteda língua,que,em termossaussureanos,significaafas- tar "tudo o que lhe sejaestranhoao organismo,ao seusistema"a. Interessantemente,parasaussure,a línguaé um fato social,no senticlocle queé um sistemaconvencionaladquiridopelosindivíduosno convíviosocial. Mais precisamente,eleapontaa linguagemcom a faculdadenaturalquepcrmi- te ao homem constituiruma língua.Em conseqüência,a língua se caracteriza pol'ser"um produtosocialda faculdadeda Ìinguagem"5. Saussureprivilegiao caráterformal e estruturaldo fenômenolingüístico, emborareconheçaa importânciade consideraçõesde naturezaetnológica,his- tóricae política.segundoele, "o estudodos fenômenoslingüísticosexternosé muito frutífero;mas é falso dizer que sem estesnão seriaDossívelconhecero 3. CâmaraJr.,J. M. Op.cit.,p. 51. 4. Saussure,F. de.cursode Lfugíiístirageral.3. ed.sãopaulo,Cultrix,Ì9g L (títuloorgincl,l9lób) 5. Saussure,F. de.Op.cit.,p.17.
  • 3. ç ft; ti I i i ! ?4 TNTRODUçÁOÁ LrNGÚiSTrCA organismolingüísticointerno"6.Saussureinstitucionalizaa distinçãoentreuma LingúísticaInternaopostaa uma LingüísticaExterna.E essadicotomiaque dividirá,de maneirapermanente,o campodosestudosiingüísticoscontemporâ- neos,em que orientaçõesformais se opõem a orientaçõescontextuais,sencio que estas últimas se encontramfragmentadassob o rótulo das muitas interdisciplinas:Sociolingüística,Etnolingüística,Psicolingüísticaetc. A tradiçãode relacionarlinguageme sociedade,ou, mais precisamente, língua,culturae sociedade,estáinscritana reflexãode váriosautoresdo século XX. Integradosou nãoà grandecorrenteestruturalista,que ocupouo centroda cena teórica,particularmente,a partir dos anos 1930,encontramoslingüistas cujasobrassãoreferênciasobrigatórias,quandosetratade pensara questãodo social no campo dos estudoslingüísticos.Não caberia,aqui, enumerartodos essesestudiosos,masuma brevereferênciaa algunsnomes,ligadosao contexto europeu,impõe-se:Antoine Meillet, Mikhail Bakhtin,Marcel Cohen,Émile Benvenistee RomanJakobson. Meillet, aluno de Saussure,filia-se à orientaçãodiacrônicados estudos lingüísticos,mas, para ele, a históriadas línguasé inseparávelda história da culturae da sociedade:é essaabordagemquepodemosver em suaobra,sobrea históriado latim, EsqtLissecl'utteltistoirede la lcutguelatitrc.A propósitodesse lingüistafrancês,cabedestacarsuavisãodo fenômenolingüístico,bem ilustra- da por um trechode suaaula inauguralno ColègecleFratrce,em 1906: Ora,a linguagemé,eminentemente,umfatosocial.Tem-se,freqüentemente,re- petidoqueaslínguasnãoexistemÍbradossujeitosqueasfalam,e,emconseqüên- ciadisto,nãohár'azõesparalhesatribuirumaexistênciaautônoma,umserpalti- cular.Estaé umaconstataçãoóbvia,massemforça,comoa maiorpartedaspro- posiçõesevidentes.Pois,seareiilidadedeumalínguanãoé algoclesubstancial, istonãosignificaquenãosejareal.Estarealidadeé,aomesmotempo,lingüística e socialT. Bakhtin (1929),com suacríticaradicalà posturasaussureana,trazparao centroda cenadosestr.rdoslingüísticosa noçãode comunicaçãosocial: 6, Saussure,F. de.Op,cit.,p. 3l. 7. O (extooriginalde MEILLET é o quesesegue:"Or, le langageesténrinementun faitsocial.On a souvcntlepetéquelesÌanguesn'existentpasen dehorsdessujetsquelesparlent,et queparsuiteon n'est pasfondéà leut attribucruneexistenceautonome,un êtreproprc.C'estuneconstatalionévidcntc,mais salìspoÌtée,commela plupartdesproposirionsévidcntes.Carsi la réalitéd'unelanguen'est.pasquelquc chosede substantiel,eÌlen'en existepasmoins.Cettererlitéestà la fois linguistiqueet socialc".In: Mcillct, A. Estluissed'wrc lúsíoirede la langualatürc.Pxis, Klincksiek,1977,p. 16.(títulooriginal, I 928) SOCIOLINGUISïICÁ;pcrloÍ 25 A verdadeirasubstânciadalínguanãoé constituídapor um sistemaabstratode formaslingüísticas,nempelaenunciaçãomonológicaisolada,nempeloato psicofisiológicodesuaprodução,maspelcfenômenosocialdaitúeraçr1overbal realizadaatravésda,enunciaçãooudasenunciações.A interaçãoverbalconstitui assima realidadefundamentaldalíneua8. De uma perspectivadiferenteda de Bakhtin, Jakobson,outro lingüista russo,explicitasuavisãosobrea relaçãoentrelinguageme contextosocial,em que a noçãode comunicaçãotem tambémum papelcentral.ParaJakobson,o princípioda homogeneidadedo código lingüístico,postuladopor Saussure (1916),e adotadopelaLingüística,"não passade uma ficçãodesconcertante"e, já que todo indivíduo participade diferentescomunidadeslingüísticase todo código lingüísticoé "multiforme e compreendeuma hierarquiade subcódigos diversos,livrementeescolhidospelosujeitofaiante"r0,segundoafunçãodamen- sagem,do interlocutorao qual sedirige e da relaçãoexistenteentreos falantes envolvidosna situaçãocomunicativa. ParaJakobson(1960),o pontode partidaé o processocomunicativoâm- plo, e isso o leva a ultrapassara óptica estreitade uma análisedo fenômeno lingüísticoancoradaapenasem suascaracterísticasestruturais.Ao privilegiaro processocomunicativo,o referidoautorprivilegiatambérnos aspectosfuncio- nais da linguagem.É o que podemosver com clarezaem seu célebreartigo Lingüística e poética, em que Jakobson identifica os fatores constitutivos de todo ato de comunicação verbal: o remetente,a mensageft4o destinatário, o contexto,o canal e o código. Cada um dessesfatoresdetermina uma diferente função de linguagem, seguindo-se,então,que "a estruturaverbal de uma men- sagemdependebasicamentedafunçãopredominante"rt.Assim é que,por exem- plo, a predominânciado fator remetenteconfiguraa funçãoemotivaou expres- siva, que exprime "a atitude de quem fala em relaçãoàquiÌo de que estáfalan- do"r2,e seevidencia,entreoutrosprocedimentos,pelo usode interjeições,pela alteraçãode duraçãode vogais (por exemplo, em português,graande). 8. Bakhtin,M. Marxisnn eJiLosrfÍada linguagent.5.ed. SãoPaulo,Hucitec,1990,p. 123.(título original,1929) 9. Jakobson,R. Relaçõesentrea ciôncidda linguageme as outrasriAtu:ìat.Lisboa,Bertrand,1973, p.29. 10.Ibidem,p. 29. ll. Jakobson,R. Lingüísticae poética.ln: Lüryuísticae conturúcação.São Paulo,Cultrix, 1970, p.123.(títulooriginal,1960) 12. Jakobson,R. Linguísticae corttutticaçã.o.SãoPauÌo,Cultrix, p,124
  • 4. rNïRoouçÁoÀLncúisrrcn Em 1956,o francêsMarcelCohenpublicouPouru.nesociologiedu langage - republicado,em I'971,com o novo título de Mutériau.xpour rurcsociologie du langage- em que advogaa necessidadede um diálogo entreas ciências humanas,afirmando que 'líos fenômenoslingüísticosse realizamno contexto variáveldosacontecimentossociais"r3.Mas,aoassumiro postuladosaussureano de que é preciso separaraspectosinternose aspectosexternosno estudodas línguas,Cohen assumea questãodas relaçõesentrelinguageme sociedadea partirda consideraçãode fatoresexternos.Nessesentido,o referidoauroresra- beleceum repertóriode tópicos de interessepara um estudosociológicoda linguagem,como,por exemplo,o estudodasrelaçõesentreasdivisõessociaise asvariedadesde linguagem,que permiteabordartemascomo: a distinçãoentre variedadesrurais,urbanase declassessociais,osestilosde linguagem(varieda- desformais e informais), asformas de tratamento,a linguagemde grupos segre- gados(argão de estudantes,de marginais,de profissionaisetc.). Finalmente,algunsrápidoscomentáriossobreBenveniste,lingüistafran- cês, cuja reflexão marcou profundamente a Lingüística francesacontemporâ- neaem gerale, particularmente,o campoda Análisedo Discursota.Exporemos aqui apenasalgunscomentáriosque tematizama questãodas relaçõesentre linguageme sociedade.ParaBenveniste(1963),"é dentroda,e pelalíngua,que indivíduo e sociedadese determinammutuamente"15,dado que ambos só ga- nhamexistênciapelalíngua.É que a línguaé a manifestaçãoconcretada facul- dadehumanada linguagem,isto é, da faculdadehumanade simbolizar.sendo assim,ó pelo exercícioda linguagem,peia utilizaçãoda língua,que o homem constróisuarelaçãocom a naturezae com osoutroslromens.Em outrostermos, "a linguagem sempreserealizadentro de uma língua, de uma estruturalingüís- tica definida e particular, inseparávelde uma sociedadedefinida e pafticular"16. Logo, línguae sociedadenão podemserconcebidasuma sema outra. Particularmente, em "Estrutura da língua e estrutura da sociedacle", Benveniste(1968) discutea questãoque nos interessaaqui. segundo ele, "a idéia de procurar entre estasduas entidadesrelaçõesunívocas que fariam 13.O textooriginalde Cohen(1956)é o quesesegue:"Lesphénomèneslinguistiquesserealizent danslecadrechangeantdesévénementssociaux".In: Cohen,M. Malériauxpour unesrxktlogiedu langage. Paris,Maspcro,1956,v. 2, p. 30. 14. Cf. particularmenteo famosoartigode Benveniste,"O aparelhoformal claenunciação",in Benveniste,E., Problenusde lhgiií.tticageral II, Sío Paulo,Cia. EditoraNacional/EDUSp,1989.(título original,1974;. l5' Benveniste,E. Proltlenasde Lhgüístk:aGerat..SãoPaulo,Cia. EclitoraNacional/EDUSp,1976. D .Z t . 1 6 .I b i d e m .o . 3 1 . SOCIOLINGUISTICATporleI correspondertal estruturasociala tal estruturalíngüísticaparecetrair uma vi- sãomuitosimplistadascoisas"rT.Istoporquesociedadee línguasãograndezas de ordemdistinta,ou melhor,têm organizaçõesestruturaisdiversas.Assim é que a língua se organizaem unidadesdistintas,que são em número finito, combináveise hierarquizadas- o que não se observana organizaçãosocial. Mas, segundoo autor,algumaspropriedadesaproximam língua e sociedade: sãorealidadesinconscientes,representama natureza,são sempreherdadase nãopodernserabolidaspelavontadedos homens.Há, no entanto,uma dimen- sãoprivativada língua,quea colocanum planoespecial:seupodercoercitivo, quetransformaum agregadode indivíduosem umacomunidade,criandoa pos- sibilidadedaproduçãoe da subsistênciacoletiva,ParaBenveniste,a questãoda relaçãoentre línguae sociedadese resolvepelaconsideraçãoda línguacomo instrumentode análiseda sociedade.Ele afirmaquea línguacontérna socieda- de e por isto é o interpretanteda sociedade.Essepapelde interpretanteé garan- tido pelofato de quea línguaé "o instrurnentode comunicaçãoqueé e deveser comum a todosos membrosda sociedade",possibilitando,assim,"a pr"odução indefinidade mensagensem variedadesilimitadas"rs.Mais exatamente:"a lín- guaé necessariamenteo instrumentopróprioparadescrever,paraconceitualìzar, parainterpretartantoa naturezaquantoa experiência"re.Além disso,a língua dá forma à sociedadeao exibir o semantismosocial,que consiste,principal- mente,de designações,de fatosde vocabulário.Particularmente,o vocabulário se apresentacomo uma fonte importanteparaos estudiososda sociedadee da cultura,pois retém informaçõessobreasformase asfasesda organizaçãosocial, sobreos regimespolíticosetc.Essalinha de reflexãoé exemplarmenterepre- sentadana obra de Benveniste(1969/1970)Vocobuláriodas instituiçõesInclo' européias. Finalmente,cabeassinalarumaoutraconsideraçãorelevantedeBenveniste. Paraele, a línguapermiteque o homem sesituena naturezae na sociedade;o homem"se situanecessariamenteem umaclasse,sejauma classede autoridade ou classeda produção"20.Em conseqüência,a língua,sendouma práticahuma- na,"revelao usopartìcularquegruposou classesde homensfazemldela](...)e asdifelenciaçõesquedaíresultamno interiorde umalínguacomum"zr.Vemos, 17. Benveniste,E. Problenm.çde Lingiií.tticaCeral II. São Paulo,Cia. EditoraNacional/EDUSP, 1989,p. 95. (títulooriginal,1968) 18.Ibidem,p. 98, 19.Ibidcm,p. 99. 20.Ibidem,p. l0l. 2l . lbidem,p.102.
  • 5. TNTRoDUçAoÀuNoúÍsrrce assim,queBenvenistearticulaa questãoda relaçãoiínguae sociedadeno plano geral da construçãodo humanoe, particularmente,no plano dasrelaçõescon- cretase contingentesestabelecidasna vida social. O esboçofeito atéaqui podeserreduzidoa uma afirmaçãomuito simples: a questãoda relaçãoé óbvia e complexaao mesmotempo.Sabemosque é ine- gável,mas tambémque a passagemdo socialao lingüístico- e do lingüístico ao social- não é feita com tranqüilidade.Não há consensosobreo modo de tratare de explicitara questãoda relaçãoentrelinguageme sociedade:o fato é que o lugar reservadoa essaconsideraçãoconstituium dos grandes"divisores de águas"no campoda reflexãoda Lingúísticacontemporânea. 2.ASOC|OttNcÜíSrrCA:FIXAçÃODEUMCAMPODEEsÌUDOS O termo Sociolingüística,relativoa uma áreada Lingüística,fixou-seem 1964.Mais precisamente,surgiu em um congresso,organizadopor William Bright, naUniversidadeda CalifórniaemLos Angeles(UCLA), do qualpartici- param vários estudiosos,que se constituíram,posteriormente,em referências clássicasna tradiçãodos estudosvoltadosparaa questãoda relaçãoentre lin- guageme sociedade:JohnGumperz,EinarHaugen,Wiliiam Labov,Dell Hymes, John Fisher,JoséPedroRona.Ao organizare publicar,em 1966,os trabalhos apresentadosno referido congressosobo título Sociolinguisrics,Bright escreve o texto introdutório "As dimensõesda Sociolingüística"22,em que define e ca- racterizaa nova áreade estudo.A propostade Bright paraa Sociolingüísticaé a de que ela deve "demonstrara covariaçãosistemáticadasvariaçõesiingüística e social.Ou seja,relacionaras variaçõeslingüísticasobserváveisem uma co- munidadeàsdiferenciaçõesexistentesna estruturasocialdestamesmasocieda- de"23.Segundoo referidoautor,o objeto de estudoda Sociolingüísticaé a di- versidadelingüística.E, como queestabelecendoum roteiro paraatividadesde pesquisaa seremdesenvolvidasna áreada Sociolingüística,Bright, na mesma obra,identifica um conjuntode fatoressocialmentedefinidos,com os quaisse supõeque a diversidadelingüísticaestejarelacionada,como: a) identidadesocialdo emissorou falante- relevante,por exemplo,no estudodosdialetosde classessociaise dasdiferençasentrefalasfemi- ninase masculinas: 22. Ver Bright.W. As dimensõesda Sociolingüística.In Sot:hlüryliística.Rio de Janeiro,Eldorado,1974. 23. Ibidem,p. 34. SOCIOLINGUiSTiCÂ:porteI identidadesocialdo receptorou ouvinte- relevante,por exemplo,no estudodasformasde tratamento,da babytaLk(fala utilizadapor adul- tos parasedirigirem aosbebês); o contextosocial- relevante,por exemplo,no estudodasdiferenças entre a forma e a funçãodos estilosformal e informal, existentesna grandemaioriadas línguas; o julgamentosocialdistintoque os falantesfazemdo próprio compor- tamentolingüísticoe sobreo dosoutros,istoé, asatitudeslingüísticas. A propósitodo nascimentoda Sociolingüística,Bachmannet al. (1981) tecemconsideraçõesinteressantes.Segundoestesautores,o novo campoé o lugar ondevãoseencontrarosherdeirosdetradiçõesantigascomoa daantropologia lingüÍstica- casodeHymes- oudadialectologiasocial- comoLabov- ede especialistasdaexperimentaçãooudaintervençãosocial:psicólogos,sociólogos, e mesmoplanificadores2a. Os referidosautoresobservam,tarnbém,quea Sociolingüísticaseconsti- tui e floresceno momentoem queo formalismo,representadopelagramáticade Chornsky25,alcançaenormerepercussão,em rotaparao seupercursovitorioso. Vemos,assim,que,deum lado,a preocupaçãocom asrelaçõesentrelinguagem e sociedadetinha raízeshistóricasno contextoacadêmiconofie-ameficano,e tambémquea oposiçãoentreumaabordagemimanenteda línguaversusa con- sideraçãodo contextosocialé postacom grandevitalidadeno campodosestu- dos lingüísticos.De fato, a constituiçãoda Sociolingüísticasefez, cleramente, a partir da atividadede váriosestudiosose pesquisadoresque deramcontinui- dadeà tradição,inauguradano começodo séculoXX por F. Boas( 191l) e seus discípulosmaisconhecidos- EdwardSapir(1921)e BenjaminL. Whorf ( l94l): a chamadaAntropologiaLingüística.Nessavertente,em quelinguagem,cultu- ra e sociedadesãoconsideradosfenômenosinseparáveis,lingüistase antropó- logostrabalhamladoa lado e, mesmo,de modo integlado.Nessesentido,o que há de novo é a definiçãode uma áreaexplicitamentevoltadaparao tratamento do fenômenolingüísticono contextosocialno interiorda Lingüística,animada pelaatuaçãode lingüistase, particularmente,de estudiososformadosem cam- pos das ciênciassociais.A Sociolingüísticanascemarcadapor uma origem 24. Bachmann,C. et al. Languageet cotrununü:atìortsstriales. P:rrìs,Hatier, 1914,p.11. 25.Remetemoso lcitoraocapítulode"Sintaxe"nestemesmovolume. b) c) d) Fonseca.M. S. & Ncves,M. F. (orgs.)
  • 6. $ # #& #TNTRODUçAOA LrNGUl5ÌrCA interclisciplinar.É oportunoassinalarqueo estabelecimentodaSociolingüística, em 1964,é precedidopelaatuaçãode váriospesquisadores,quebuscavamarti- culara linguagemcom aspectosde ordemsociale cultural.Destacaremos,aqui. doisdessespesquisadores.Ern 1962,Hymespublicaum artigoemque propõe um novo domíniode pesquisa,a Etnografiada Fala,rebatizadamaistardecomo Etnografia da Comunicação?6.De caráterìnterdisciplinar,buscandoa contri- buiçãode áreascomo a Etnologia,a Psicologiae a Lingüística,o novo domínio pretendedescrevere interpretaro comportamentolingüísticono contextocultu- ral e, deslocandoo enfoquetradicionalsobreo códigolingúístico,procuradefi- nir as funçõesda linguagema partir da observaçãoda fala e dasregrassociais própriasa cadacomunidade.Questõescomo Qual o cotnportantentoLingiiístico acleclttaclopara lrcttrens,mulheres e crianças na conwnicladeX? ou Que nw- ftrcntossão adecluaclospara o exercícìodafala na conturúdadeY? podem ser tomadascomo pontode partidaparapesquisasem Etnografiada Comunicação. Mais tarde,Hymes (1912)publicouum artigode grandeimpacto- "Models of the interactionof languageand sociallife" - no qual estabeleceos princípios teóricose metodológicosda Etnografiada Comunicação. Em 1963,Labov publica seucélebretrabalhosobrea comunidadeda itha de Martha's Vineyard, no litoral de Massachusetts,em que sublinhao papel decisivo dos fatoressociaisna explicaçãoda variaçãolingüística,isto é, da diversidadelingüísticaobservada.Nessetexto,o autorrelacionafatorescomo idade,sexo,ocupação,origem étnica e atítucleao comportamentolingüístico manifestodos vineyardenses,mais concretamente,à pronúnciade determina- dos fones do inglês. Logo em 1964, Labov finaliza sua pesquisasobre a estratificaçãosocialdo inglêsem New Yolk, em quefixa um modelode descri- çãoe interpretaçãodo fenômenoÌingüísticono contextosocialdecomunidades urbanas- conhecidocomo SociolingüísticaVariacionistaou Teoriada Varia- ção,de grandeimpactona Lingüísticacontemporãnea27. A segundapartedesse capítulotrataráespecificamentedessavertenteda Sociolingüística. Assim, o rótulo "sociolingüística",como foi possívelobservar,reuniu e agregou,no seu início, pesquisadoresmarcadospela formaçãoacadêmicaem diferentescamposdo sabere marcadostambémpelapreocupaçãocom asimpli- caçõesteóricase práticasdo fenômenolingüísticona sociedadenorte-america- 26.Hymes,D. Theethnographyof speaking,In;Gladwin,T. & Stutervant,W.C.(orgs.)Antlrroytktgv and lur.nmnbaltavior.Washington,D.C.,The AnthropologicalSocietyof Washington,l9ó4. (título origi- nal, Ì962) 2l . Lrbov. W. ThestratiJícationof Ettglishin New Yorkcity.Washrngton,D.C.,Centerfor Applied Lìnsuistics.l9ó6. SOCIOLINGUISTICA:porieI na.Surgem,assim,pesquisasvoltadasparaasminoriaslingüísticas(imigrantes porto-riquenhos,poloneses,italianosetc.)r8,e paraa quesÌãodo insucessoesco- Iarde criançasoriundasde grupossociaisdesfavorecidos(negrose imigrantes, particularmente).Em suma,a realidadediversificada,tantolingüísticacomo cultural dos EstadosUnidos, torna-seum ponto de reflexão básicopara um contingentesignificativode estudiosos.A propósito,valelembrarque,também em 1964,houve um congressoem Bloomington,Indiana,em que lingüistase cientistassociaisdebateramquestõesrelativasàsrelaçõesinterdisciplinares,ao campoda dialectologiasocial,à escolarìzaçãodecriançasprovenientesdemeio socialpobree de origemestrangeira.Trêsobrasreferenciaisforam organizadas a paftirdostrabalhosapresentadosnessecongresso:Ferguson( I 965) Directiorts in Sociolinguìstics:reporton a interdisciplìnarysenúner,Lieberson( 1966)(ed.) Exploratiotts in Sociolinguistics,e Schuy (1964) (ed.) Social dialects artcl Languagelearníng. 3.ASOCIOLTNGÚiSrtCl,OBJETO,CONCETTOS,PRESSUPOSTOS Pondode maneirasimplese direta,podemosdizerqueo objetodaSociolin- güísticaé o estudo da língua falada,observada,descritae analisadaem seu contextosocial,istoé,em situaçõesreaisde uso.Seupontode partidaé a conu- nidade lingüística, um conjunto de pessoasque interagem verbalmentee que compartiihamum conjuntode normascom respeitoaosusoslingüísticos.Em outraspalavras,uma comunidadede fala secaracterizanãopelo fato de secons- tituir por pessoasquefalamdo mesmomodo,maspor indivíduosqueserelacio- nam, por meio de redescornunicativasdiversas,e que orientamseucomporta- mento verbal por um mesmo conjuntode regras.Tomemos,como exemplo,o usodo modo imperativoem português.Paraosfalantesdo português,o impera- tivo denotaordem, exortação,conselho,solicitação,segundoo significadodo verboe o tom de voz utilizado,como em: "Vai-te embora"l"Ouve esteconse- lho!"; "Vem cá!"; "Descedaí!". Consideremos,agora,asseguintesobservações de Cunha& Cintra: Atenuação. Por deversociale moral,geralmenteevitamosferira suscetibilidadede nosso interlocutorcoma rudezadeumaordem.Entreosnumerososmeiosdeouenos I 'i 28.Ver Fishman.J tambémFishman,J. A . d.ontünnr:ein bìtinguals. A . et al. Lntryuagaktyalty in tlw UtLitedStates.Mouton,The Hague,196ó.Ver el ^1.Bìlitlsualistttitt tlrc Barrio; tlu nfta.urenwnland des<rìptktttof languagc Washington,D.C.,Dept.of Health.EducationandWelfare.l9ír8.
  • 7. 32 |NÌRODUçAOÁ LlNGUlSÌlCA servimosparaenfraquecera noçãode comando,devemosressaitar(além dosjá estudados),pelasuaeficiência,o empregode fõrmulasde polidezou de civilida- de, tais como'.por favor, por gentilezo, cligne-sede, tenlw a botrcludeetc.: - Fale mais alto,por favorl (F. Botelho,X, 177). -Entrem. porfavor, quenãoocupamlugar- exclamouSeuPio.( A . F. Schmidt, GB,r65) - Tenhama bondadedesentare esperarum momento.[= Sentem-see esperem um momento.l(R.Braga,CCE,272) E claroquetambérnaquio tom de voz é de umasumaimportância.Qualquer dessasfrasespode,nãoobstanteasfÓrmulasdecortesiaempregadas,tornar-se rudee seca,oumesmoinsolente,coma simplesmudançadeentoação?e. A dependerdo alcancee dosobjetosde um trabalhode naturezasocioiin- güística,podemosselecionare descrevercornunidadesde falacomo a cidadede New York ou a cidadedo Rio de Janeiro,de SãoPaulo,de Belém. Ou o povo iartontânú,que vive no Estadodo Amapá. Ou, ainda,âscomunidadesdos pes- cadoresdo litoral do Estadodo Rio de Janeiro,da iÌhade Marajó, dosestudan- tes de Direito, dosrappers etc. Ao estudarqualquercomunidadelingúística,a constataçãomais imediata é a existênciade diversidadeou da variação.Istoé,todacomunidadesecaracte- riza pelo empregode diferentesmodos de falar. A essasdiferentesmaneirasde falar, a Sociolingüísticareservao nome de variedadeslingiiísticas. O conjunto de variedadeslingüísticasutiÌizadopor uma comunidadeé chamadorepertório verbal. Assim é que, a propósitoda cidadede Bruxelas,na Bélgica - país caracter-izadopelo bilingüismo francês-flamengo(variedade do holandês) - Fishman aponta: Os funcionáriosadministrativosdo Governo,em Bruxelas,quesãode origem flamenga,nemsemprefalamholandêsente sl,mesmoquandotodossabemho- landèsmuitobeme igualntentebem.Não só háocasiõesem quefalamfrancês ente si,em vezdeholandês,comotambémháalgumasocasiõesem quefalam entresi o holandêsstandardenquantoem outrasusamestaou aquelavariedade regionaldoholandês.De fato,algunsdamesmaformausamdiferentesvariedades de francês:umavariedadeparticularmentecarregadade termosadministrativos oficiais,outracorrespondendoaofrancêsnãotécnicofaladonoscírculosdeedu- caçãosuperiore refinadosdaBélgica,e,aindaoutra,quenãoé apenasum "fran- cêsmaiscoloquial"maso francêscoloquialdosquesãoflamengos.Em suma, 29.Cunha,C. & Cintra,L Fronteira,1985. socloLlNGüÍsÏlcA:porleI essasdiversasvariedadesdeholandêsedeÍiancêsconstituemo repenóriolingíìís- ticodecertoscomplexossociaisflamengosemBruxelas3o. Casoconsideremosuma comunidadecomo a de Salvador,observaremos queo seurepertóriolingüísticoseconstituide variedadeslingüísticasdistintas, dadoqueoshabitantesda cidadefalamde mododiferenteem função,porexem- plo. de sua origem regional,de sua classesocial,de suasocupações,de sua escolaridadee tambémda situaçãoem queseencontram.Assim é queum falan- te que pronunciaa palavra"doido" como ['dojd3u] revelasuaproveniênciada regiãoiuteriorana,assimcomoa pronúnciadapalavra"cozinha"como [cú4'ãe] indica,alérnda origem social,a suapoucaescolaridade.Um mesmohabitante de Salvador,segundoa situaçãoem que seencolìtrar,poderáoptarentÍeusaras expressões"Fiquei retado" ou "Fiquei aborrecido", assimcomo entre "João convidouele" ou "Joãoo convidou". Qualquer língua, falada por qualquercomunidade,exibe semprevaria- ções.Pode-seafirmarmesmoquenenhumalínguaseapresentacomo umaenti- dadehomogênea.Isso significa dizer que qualquerlín-quaé representadapor um conjuntode variedades.Concretamente:o quechamamosde "língua portugue- sa" englobaos diferentesmodosde falar utilizadopelo conjuntode seusfalan- tesdo Brasil,em Poftugal,em Angola, Moçambique,CaboVerde,Timor etc. Língua e variaçãosãoinseparáveis:a Socìolingüísticaencaraa diversida- delingüísticanãocomo um problema,mascomo umaqualidadeconstitutivado fenômenolingúístico.Nessesentido,qualquertentativade buscarapreender apenaso invariável,o sistemasubjacente* 56vnlel deoposiçõescomo "iíngua e fala", ou competênciae perfornrtat'Lce- significa uma reduçãona compreen- são do fenômeno lingüístico. O aspectoformal e estruturadodo fenômeno lingüísticoé apenaspartedo fenômenototal. 3.Ì. A vorioçóo lingüísficd:um recorte Todasaslínguasdo mundosãosemprecontinuaçõeshistóricas.Em outras palavras,as geraçõessucessivasde indivíduos legam a seusdescendenteso domíniode uma línguaparticular.As mudançastemporaissãoparteda história daslínguas.Dois exemplosde mudançahistóricano portuguêssãoilustrativos: 30. Fishman,J. A. A sociologiada linguagem. Sociolingiií.ttica.Rio de Janeiro,Eldorado,1974,p.28 s tr: ï ,, lÌ rr i! F. L. Novagranútk'a do porlugu1scontemporâneo.Rio de Janeiro,Nova In: Fonseca,M. S. V, & Neves,M. F. (orgs.)
  • 8. 34 1NTRO0UçAOA tlN6U15ÌlCA a) no portuguêsarcaico(entreos séculosXII e XVI), ocorriam constru- çõesimpessoaisem quea incleterminaçãodo sujeitoeraindicadapclo vocábulo ,,homern",coll o meslrosentidoque,atualmenle,usamoso pronome ,,se".Por exempÌo:"E pode lrornemhyr de Santarema Beia IBeja] em quatrodias"3r,queconesponde,modenrâmente,a "E pode- se ir de Santaréma Bejaem quatrodias"; b) a forma de tratamento"VossaSenhoria"é ateStadanosmeadosdo sé- culo XV como expressãoreservadaao rei. Já no finaì do séculoXVI, estapercleSeuestatutode realeza,sendoempregadano tratocom arce- bispos,bispos,duques,marqueses,condes,alémde umagamade altos funcionárioslcomã, por exemplo,vice-reiou governadorda Ínclia)12. No planosincrônico,asvariaçõesobservaciasnaslínguassãorelacionáveis a fatoresdiversos:dentrode uma mesmacomunidadede fala, pessoasde origem geográfica,de idacle,de sexodiferentesfalamdistintamente.E bom frisar quenão ãxisienenhumarelaçãodecausalidadeentreo fatode nascerem umadetermina- da r.egião,serde umaclassesocialdeterminadaetc.,e falar de umacefta maneira. os falantesadquiremas variedadeslingüísticasprópriasa sua região,a Suaclassesocialetc.De uma perspectivageral,podemosdescrevet'asvarieda- cleslingiiísticasa partir de dois parâmetrosbásicos:a variaçãogeográfica(ou diatópica)e a variaçãosocial(ou diastrática). A variaçãogeográficaou diatópicaestárelacionadaàsdiferençaslingüís- ticasdistribuídasno espaçofísico,observáveisentrefalantesdeorigensgeográ- ficas distintas.Alguns exemPlos: a) brasileirose poüuguesessedistinguemem váriosaspectosde suafala. No planolexical,apenasum exemplo:"combóio" em Poftugal,"trem" no Brasil.No plano fonético:a pronúnciaabertada vogalanteriormé- dia como em "prémio" ['premju], em contrastecom a pronúnciafechada no Brasil, ,'prêmio" ['premju]. No planogramatical:derivaçõesdiver- sasde uma raiz comum, como em ficheiro,paragem,bolseiro,que no Brasil correspondema fichário, paradae bolsista;a colocaçãode ad- vérbioscomo em "Lá nãovou" (Portugal)e "Não vou Ìá" (Brasil);3i 31, Dias.A. E. S. Sürra.reltistórìcaporütgtttsa.4.erl.Lisboa,Clássica,1959,p'22.(títulooriginal. r884) 32. Cintra, L. F. L, Origensdo sistemacleformasde tratamentodo portuguêsactual ln: Sobrcas ".1'ortnasde ilatatneilto"na línguapor[t]Sttera.Lisboa,Horizonte,1972 (títulooriginal'1965) 33.Ver Câmarair., J. M, Línguaseuropéiascleuitramar:o portuguêsdo BrasiÌ.In: Dirpersos.lìio rlc Janeiro,Fun<.laçãoGetúlioVargas,1975,(títulooriginal,1963).Ver tambémBoléo.M. P. Bresiìeirismo. Bra:ília, v. 3, pp. 3-42, 1943. SOCIOUNGUISÌlCA.portcI b) entrefalantesbrasileirosorigináriosdasregiõesnordeste(incluídaa Bahia) e sudeste,percebemosdiferençasfonéticas,como, por exem- plo, a pronúnciade vogaismédiaspretônicas- comoocorrenapala- vra "melado" _- pronunciadascomo vogaisabertasno nordeste [me'ladu]e fechadasno sudesteInrc'ladul.Percebemostambémdife- rençasgramaticais,como.por exenrplo.a preferênciapelaposposição verbalda negação,colrìoetrÌ"sei não" (nordeste)e "não sei" (ou, "não sei,não", no sudeste);o usodo artigodefinidoantesde nomespró- prios cornoerrr"Falei com Joana"(nordeste)e "Falei corÌìa Joana" (sudeste); c) no Estadoda Bahia,por exemplo,a origemurbanaou ruralpodeser evidenciadapelousoda expressão"de primeiro"[di prirnerol.ernlu- gar de "antigamente","anteriormente". Tomando-sea comunidadede fala de lírrguaportuguesacomo um todo, podemo-nosreferir àsvariedadesbrasileira,portuguesa,baiana.curitibana,ru- ral paulista(ou caipira)etc. A variaçãosocialou diastrática,por suavez,relaciona-sea um conjunto de fatoresque têm a ver com a iderrtidadedosfaÌantese tambémcom a or-qrni- zaçãosocioculturalda comunidadede fala.Nestesentido,podernosapontaros seguintesfatoresrelacionadosàs variaçõesde naturezasocial:a) classesocial; b) idade;c) sexo;d) situaçãoou contextosocial.Em relaçãoaostrêsprimeiros fatores,nos limitalemosa fornecerexemplos,rerneteudo,para um tratamento variacionistadosfatoresernquestão,à segundapartedestecapítulo.No quediz respeitoao fator situaçãoou contextosocial,faremosumaexposiçãoum pouco mais aprofundada. a) Classesocial:observemosalgunsexemplosindicativosde pertencente à falade grupossituadosabaixona escalasocìal: de dupla negação,como em "ninguémnão viu", "eu nem nuÌrÌ gosto"; - n r ' È c ê n . r r r l e Í r l o m l ' , o ' ' . ' 1 a f l l a -,,.ì gruposcor'Ìsonanters.como em "brusa"(blusa)c "grobo" (globo); -_ na Índia,existemascastasbrâmane(superior),nãobrâmane(médie)e intocável(inferior),quecorrespondemà hierarquiasocialvìgente.Na áreade Bangalore,a línguaKannadaapfeserìtadadoslelativosa csta diferenciaçãosocial:a palavra"nome" teÍnasfonnas/hesru/,"hesru", na variedadecoloquialdos brâmanes,e /yesru/,"yesru", na variedade nãobrâmane;a expressão"com licença"é realizadacomo /klamisu/,
  • 9. rNÍRoDuçÁoÀ trNoúísrrcr "k5antisu",na variedadecoloquialdos brâmanese /cemsu/,"cemsu", na variedadecoloquialdosnãobrâmanes(Bright, i960). b) Idade: - o uso de léxico particular,como presenteem certasgírias("maneiro", "esperto",com o sentidode avaliaçãopositivasobrecoisas,pessoase situações),denotafaixa etáriajovem; - uso de pronomeÍrr em situaçõesde interaçãoentre iguais no Rio de Janeiro,como em "Tu viu só?", tarnbémsugereque os falantessão jovens; - a pronúnciafechadada vogal tônica posteriorda palavra"senhora" [seloce] , em lugarde [sclrrce],é característicadealgunsfalantesmais velhos. c) Sexo: - a duraçãode vogaiscomorecursoexpressivo,comoem "maaravilhoso", costumaocoÍrerna fala de mulheres(Camacho,1978),assimcomo o usofreqüentedediminutivos,como"bonitinho","gostosinho","verme- lhinho"; - na línguaZuã| faladapor um grupoindígenada Américado Norte,os fones [ty] e lcl faladospor pessoasdo sexofeminino conespondema Iky] na falamasculina; - no japonês,parao pronolnedeprimeirapessoaeu, aIémde uma forma utilizável por todosos falantes,existemas formas"atashi",usadaex- cÌusivamentepor mulheres,e "boku", própriaaoshomens. d) Situaçãoou contextosocial:é um fato muito conhecidoque qualquer pessoamuda suafala, de acordocom o(s)seu(s)interlocutor(es)- se esteé mais velho ou hierarquicamentesuperior,por exemplo -, se- gundo o lugar em que seencontra- em um bar,em uma conferência - e atémesmosegundoo temada conversa- fofoca,assuntocientí- fico. Ou seja,todo falantevariasuafaÍasegundoa sìtuaçãoem que se encontra. Fishman(1972)assimsepronuncia:"umasituaçãoé definidapelaco- ocorrênciade dois(ou mais)interlocutoresmutuamenterelacionadosde uma maneiradeterminada,comunicandosobreumdeterminadotópico.numcontex- soctoLtt,tcüísTtcA,porr"t to determinado"3r.Uma definíçãodessetipo possibilitadescreveros padrõesde uma determinadasociedadecom respeitoao uso das variedadeslingüísticas. Isto é, qual o comportamentolingüísticoadequadoàs situaçõesem que seen- contramos falantes.Consideremos,por exemplo.a situaçãode uma defesade tesee a comemoraçãoque sesegueà aprovaçãodestatese,queenvolveasmes- maspessoas.As diferençasexistentesentreasduassituações- temadascon- versas,local etc.* podemfazer com que uma sociedadeconsidereadequado utilizarvariedadeslingüísticasdiferentesou a mesma.Segue-se,então,quecada gruposocialestabeleceum contínuode situaçõescujospólosextremose opos- tos sãorepresentadospelafonrrctlidadee irtfornnliclctde.Em nossasociedade, conferências,entrevistasparaobtençãode emprego,solicitaçãode informação a um desconhecido,contatoentre vendedorese clientessão,ern geral,vistos como situaçõesformais. Já situaçõescomo passeatas,mesasredondassobre esporte,bate-papoem bar, festasde Natal nasempresassão definidascomo informais.As variedadeslingüísticasutilizadaspelos participantesdas situa- çõesdevem corresponderàs expectativassociaisconvencionais:o falanteque nãoatenderàsconvençõespodereceberalgumtipo de "punição",representada, por exemplo, por um franzft de sobrancelhas. Há um tipo de interaçãosocialparticularernque urnfalantedecidemudar de variedadelingüísticasem que tenhaocorridomudançade situação:é o que Fishman(L972)chamade mudançantetafórica.Um bom exemploé uma con- versaem que o pai interrogaa filha nos seguintestermos:"Aonde a senhora pensaque vai?" - em que o usoda forma de tratamento"senhora"estáobvia- rnentecxrregadode ironia. Aprende-sea faìar na convivência.Mas, maís do que isso,aprendemos quandodevemosfalar de um certomodo e quandodevemosfalar de outro.Os indivíduosque integramuma comunidadeprecisamsaberquandodevemmudar de uma variedadeparaoutra.SegundoFishman(1,972),os membrosde qual- quercomunidade"adquiremlentae inconscientementeascotnpetênciasconur- nicativa e sociolingiiísrica,com respeitoao uso apropriadoda língua"35.Em termoscollcretos,é possívelafirmar que os falantesaprendemquandopodem falare quandodevempermanecerem silêncio,sepodemutilizar a forma impe- rativaparadar uma ordem ou sedevemse valerde uma expressãomodalizada, como em "saiam daqui,já" ou "por favor, dirijam-seà saída";se é oportuno 34. Fishman,J. A. A sociologiada linguagcm.In: Fonscca,M. S. V. & Ncvcs,Ní. F. (orgs.) Soriolütgiiístìrc.Rio de Janeiro,Eldorado,1974.p.29. (títulooriginal,1972) 35. lbidem.
  • 10. TNTRoDUçÃoÁ LtNçúísrtcn dizer"tô fora" ou "nãovai serpossível";ou,ainda,"a gentenãosabia"ou "não sabíamos",ou ainda"desconhecíamos". Às variaçõeslingüísticasrelacionadasao contextochamamosde vu'irt- çõesestíLísticrÍ.rou registros.Nessesentido,osfalantesdiversificamsuafala- isto é, usam estilosou registrosdistintos- em íunçãodascircunstânciasem que ocorremsuasinteraçõesverbais.SegundoCamacho,os falantesadequam suasformasde expressãoàsfinalidadesespecíficasde seuatoenunciativo,sen- do que tal adequação"decorrede uma seleçãodentreo conjuntode formasque constituio saberlingüísticoindividual,de um modomaisou menosconscien- te"36.A seleçãode formasenvolve,naturalmente,um grau maior ou menor de reflexão,por partedo falante:o uso do estilo formal, em relaçãoao informal, requeruma atuaçãomais consciente.Assim é queobservamosestilosdistintos quandoum falanteconversacom um amigo ou colrl vizinhos recém-conheci- dos,ou com um rnédico,duranteumaconsulta,bemcomo aoescreverum bilhe- te a um colegade faculdade,uma cartaà seçãode leitoresde utn jomal ou ao elaborarum relatóriodirigido a um superiorno trabalho.A terminologia pal'ase referiraosdiferentesestilosde falanãoé nadaptecisa.Utilizamos,muito generi- camente,expressõescomoestilosforutal, infornnl, coloquial,.faniliar, pessoal. A noçãode situação- tal como foi definida- tem um alcancerestrito, reduzindo-se,praticamente,àconsideraçãodacenaem queocorremasinterações verbais.É,itit e proclutivoentendersituaçãodeumaperspectivamaisabrangente, a saber,como o contextosocialglobal de uma comunidade,com suasmarcas históricase culturaispróplias.Pensamosaqui, particularmente,nos contextos ritualísticose religiososque,tomadoscomo pontode partida,sugeremo estudo de variedadese usoslirigüísticosespeciais.Assim,por exemplo,o contextodas tradiçõesreligiosassugereo estudodas linguagensesotéricas,das fórmulas e invocaçõesplopiciatóriasàs práticasda relaçãocom o mundo do sagtado'O contexto da ordenaçãojur'ídica,por sua vez, sugereo estudodas variedades lingüísticasparticularesutilizadaspelostabeliães,advogados,juízes e promo- toresnosjulgamentos. No campo dos usosreligiosos,cabecitar o fascinautetrabalhode Michel Leiris (1948),La larryuesecrèïedes DogortcleScutga,que seocupada língua iniciáticado povo Dogon que habitauma regiãodo atual Mali (antigo Sudão Francôs).Sobre a comunidadebrasileira,há um interessanteestudode Maria 36. Camacho,R. A variaçãolingüística.lt'. Subsídiosà propostacurrbular tle líttguaportusutsQ para o sagundogrzrr.SãoPaLrlo,CENP,Secretariado Estadoda Educação,v. lV, I978,p.| 7. SOCiOtlNGUISï|CArporleI IzabelS.Magalhães(1985),Tlrcrezasuttl benzeçrles:healüryspccchactivities irt Brazil, que focaliza a prática lingüísticade benzedores,a partir de dados coletadoserncidades-satólitesde Brasília. W. M. O'Barr & J.F. O'Barr (1976)organizaramum volume,deextremo interesse- Lrntgu.ageatd politícs- em que analisama questãodasrelações entrelinguageme o funcionamentodo sistemacieordenaçõeslegaisna Íncliae na Tanzânia,dois paísesque compartilhamalgumascaracterísticasmarcantes: sãoex-colôniasinglesas,sociedadesplurilíngüese plecisampensara questão da relaçãoentrea herançahistóricatradicionale a recente,produzidapelo colonialismoinglês. Os parâmetrosda variaçãolingüísticasãodiversos,como se pode inferir da exposiçãofeita até aqui. Paraefeito de apresentação,isolamosos fatoresa que a variaçãolingüística,como um todo,estárelacionada.Não podernosdei- xar de apontar,no entanto,que,na realidadedasrelaçõessociais,os fatoresde variaçãoseencontramimbricados.No atode interagirverbalmente,um falante utilizaráa variedadelingüísticarelativaa suaregiãode origem, classesocial, idade,escolaridade,sexo etc. e segundoa situaçãoem que se encontrâr.Por exemplo: um brasileiro,nascido em Recife, apresentará,sempre,vogais pretônicasabertascoltloern [reau] "real", masaindaa dependerde suaescola- ridade,da origem rural ou urbana,utllizará,o verbo "assuntar" ou "prestar aten- ção" e, a dependerda situação,dirá "Fui nada"ou "Fui não". 3.2.Asvoriedqdeslingüísticose o estruturosociql Comojá foi dito,emqualquercomunidadedefala,podemosobservara coexistênciade umconjuntodevariedadeslingüístìcas.Essacoexistência,en- tretanto,nãosedánovácuo,masnocontextodasrelaçõessociaisestabelecidas pelaestruturasociopolíticadecadacomunidade.Narealidadeobjetivadavida sociai,hásempreumaordenaçãovalorativadasvariedadeslingüísticasemuso, querefletea hierarquiadosgrupossociais.Istoé, em todasascomunidades existemvariedadesquesãoconsideradassuperiorese outrasinferiores.Em ou- traspalavras,comoafirmaGnerre,"umavariedadelingüística'vale'o que'va- lem' na sociedadeos seusfalantes,istoé, valecomoreflexodo podere da autoridadequeelestêmnasrelaçõeseconômicase sociais"rT.Constata-se,de 37.Cnerre,M. Lhguagetn,escritae poder.Sr'oPaulo.MartinsFontes,1985,p. 4. (câpítuloI guagem,podere discrimrnação) Lin-
  • 11. 40 lNrRoDUçÂoÀLtlcÚÍsrtcr modo muito evidente, a existênciade variedaclesde prestígio e de varieclatles rtãoprestigiadasnassociedadesem geral.As sociedadesde tradiçãoocidental oferecemum casoparticularde variedadeprestigiada:a variedadepaclrão.A variedadepadrãoé a variedadelingüísticasocialmentemais valorizada,de re- conhecidoprestígiodentrode umacomunidade,cujousoé,normalmente,reque- rido em situaçõesde interaçãodeterminadas,deflinidaspelacomunidadecomo próprias,em funçãoda formalidadeda situação,do assuntotratado,da relação entreos interlocutoresetc.A questãoda línguapadrãotem umaenoÍrneimpor- tânciaem sociedadescomo a nossa.Algumas consideraçõesa seurespeitose impõem. A variedadepadrãode uma comunidade- tambémchamadanorma culta, ou línguaculta- nãoé, como o sensocomum fazcrer,a línguapor excelência, a iíngua original, postaem circulação,da qual os falantesse apropriamcomo podem ou sãocapazes.O que chamamosde variedadepadrãoé o resultadode uma atitudesocialantea língua,que setraduz,de um lado,pelaseleçãode um dos modos de falar entreos váriosexistentesna comunidadee, de outro, pelo estabelecimentode um conjunto de normas que definem o modo "cometo" de falar. Tradicionalmente, o melhor modo de falar e as regras do bom uso correspondemaoshábitoslingüísticosdosgrupossocialmentedominantes.Em nossassociedadesde tradição ocidental, a variedadepadrão, historicamente, coincide com a variedadefalada pelasclassessociaisaltas,de determinadas regiõesgeográficas.Ou melhor, coincide com a variedadelingüísticafalada pela nobreza,pela burguesia,pelo habitantede núcleosurbanos,que sãocen- trosdo poder econômicoe do sistemaculturalpredominante. Fishman(1970)definea padronização,istoé, o estabelecimentoda varie- dadepadrão,como um tratamentosocialcaracteístico da língua,que se verifi- ca quandohá diversidadesocialsuficientee necessidadede elaboraçãosimbó- lica. Em outraspalavras,a definição de uma variedadepadrãorepresentao ideal da homogeneidadeem meio à realidadeconcretada variaçãolingüística- algo que,por estaracimado corpo social,representao conjuntode suasdiversidades e contradições.A variedadealçadaà condiçãode padrãonão detém proprieda- desintrínsecasque garantemuma qualidade"naturalmente" superioràsdemais variedades.Na verdade,a padronizaçãoé semprehistoricamentedefinida. Isto é, cadaépocadeterminao que consideracomo forma padrão:determinadaspro- núncias,construçõesgramaticaise expressõeslexicais.Segue-se,então,que certas formas podem ser consideradascomo pertencentesà variedadepadrão em uma épocae deixar de sê-lo em outra.As línguasmudam incessantemente,e a definição do "certo", do "agradável" e do "adequado" também. Na prática, podemosconcordarcom Fishman, o que é padrãopode tornar-senão padrão,e soclOtlNGÜÍSTICA:porte| 4r o que é consideradonão padrãopode serestabelecidocomo padrão.A história da línguaportuguesa,como a de tantasoutras,oferece-nosinumeráveisexem- plos dessaordem de fatos.Consideremos,a propósito,os seguintesexemplos do séculoXVI: - asformas"dereito", "despois","frecha", "frito", "premeìramente",hoje desabonadas,sãoencontradasno textoda cartade PeroVaz de Cami- nha.de 1500; - as formas "frauta", "escuitar","intonce", assimcomo as construções sintáticasdo tipo "desejade comprar"(com a presençada preposição cle)e "se esta gente,cuja valia e obra tanto amaste/nãoqueresque padeçam vitupório" (concordânciado sujeito gente com o verbo flexionadono plural) - hojeconsideradasincorretas- sãoencontra- das em Os Lusíadas,de Camões(1572). como sevô,representaçõesdepronúnciase construçõesgramaticaisates- tadasem textoslegitimadosnãosãomaisconsideradascomo "bom uso".como entender,então,queocorrênciasequivalentes,tãovivas em variedadesnãopa- drõescontemporâneas,como por exemplo"Framengo","ele devede sair,ago- ra" e "a gentefomos lá", sejamconsideradascomo "erradas","flrutode ignorân- cia"? A fala das classesaltasmudou e a de outrosgrupossociaisreteveesses usos:essefoi o "erro". A avaliaçãosocial das variedadeslingüísticasé um fato observávelem qualquercomunidadeda fala.Freqüentemente,ouvimosfalarem línguas"sim- ples", "inferiores", "primitivas". Paraa Lingi.iística,essetipo de afirmaçãoca- recede qualquerfundamentocientífico.Toda línguaé adequadaà comuniclade que a utiliza,é um sistemacompÌetoque permitea um povo exprirniro mundo físicoe simbólicoem que vive. É absolutamenteimprópriodizerquehá línguas pobresem vocabulário.Não existemtambémsistemasgramaticaisimperfeitos. seria um contra-sensoimaginarsereshumanoscom uma "meia língua".A falta de léxicoespecíficoparadescrever,por exemplo,a astronomiana línguade urn povo correspondeao desinteressepor esteassunto:a sociedadenãotem neces- sidadede dominar estedado do real. caso a sociedadenecessite,bastafazer empréstimoslingüísticos:o contatocuIturalcom outrospovos.o conhecimento de novosconteúdosou a descobertade realidadesatéentãodesconhecidassãoo motordaelaboraçãode novosconceitose daproduçãode novaspalavras.euanto ao aspectogramatica[,o estudodasmaisdistintaslínguastem reveladoque ele seapresentasemprecomo um sistemaorganizadoe coerentede regras.As lín- guasdiferementresi em numerososaspectos,e essasdiferençascorrespondem ao patrimônioexpressivoda humanidade. r rË & m$" & È g,i fr It i n i I i I"4i i
  • 12. 42 rNïRoDUçÃoÀ uNcüisrrce Assimcomonãoexistemlínguas"inferiores",nãoexistemvariedadeslin- güísticas"inferiores".Como vimos,as línguasnãosãohomogênease a varia- ção observávelem todaselasé produto de suahistóriae do seupresente.Enr que se baseiam,então,asavaliaçõessociais?Podemosafirmar,com todatran- qüilidade,que os julgamentossociaisantea língua- ou melhoras atitudes sociais- sebaseiamem critériosnão[ingüísticos:sãojulgamentosde natureza políticae social.Não é casual,portanto,que sejulgue "f,eia"a variedadedos falantesde origem rural, de classesocial baixa,com pouca escolaridade,de regiõesculturalmentedesvalorizadas.Por que seconsidera"desagradável"o r retroflexo,o chamador ccLipira,presenteem realizaçõescomo ['pc4tu] "por- ta"? Afinal, a mesmaarticulaçãoretroflexaocorreernpalavl'asdo inglêscomo [kafl "car" (carro),que ninguémsentecomo "feia". Em resumo:julgamos não a fala, maso falante,e o fazemosem funçãode suainserçãona estruturasocial. Para a Sociolingüística,a naturezavariávelda língua é um pressuposto fundamental,que orientae sustentaa observação,a descriçãoe a interpretação do comportamentolingüístico.As diferençaslingüísticas,observáveisnasco- munidadesem geral,sãovistascomo um dadoinerenteao fenômenolingüístico. A não aceitaçãoda diferençaé responsávelpor numerosose nefastosprecon- ceitossociaise,nesteaspecto,o preconceitolingüísticoteÌÌìum efeitoparticular- mentenegativo.A sociedadereagedemaneiraparticulârmenteconsensualquan- do setratade questõeslingüísticas:ficamosunanimementechocadosdianteda paÌavrainadequada,daconcordânciaverbalnãorealizada,do estiloimpróprioà situaçãode fala. A intolerâncialingüísticaé um dos comportamentossociais mais facilmenteobserváveis,sejana mídia,nasrelaçõessociaiscotidianas,nos espaçosinstìtucionaisetc.A rejeiçãoa certasvariedadeslingüísticas,concreti- zadana desqualificaçãode pronúncias,de construçõesgramaticaise de usos vocabulares,é compartilhadasemmaioresconflitospelosnãoespecialistasem linguagem.O sensocomum operacom a idéia de que existeuma língua - o bem social à disposiçãode todos- que é adquiridadistintamente,em função de condiçõesdiversas,pelosfalantes.Na realidade,existesempreum conjunto de variedadeslingüísticasem circulaçãono meio social.Aprende-sea varieda- de a que seé exposto,e nãohá nadade erradocom essasvariedades.Os grupos sociaisdão continuidadeà herançalingüísticarecebida.Nessesentido,é preci- so ter cìaro que os grupos situadosembaixona escalasocial não adquirem a línguade modo imperfeito,nãodeturpama língua"comum". A homogeneidade lingüísticaé um mito, quepodeter conseqüênciasgravesna vida social.Pensar quea diferençalingüísticaé um mal a sereruadicadojustifica a práticada exclu- sãoe do bloqueioao acessoa benssociais.Trata-sesemprede impor a cultura dos grupos detentoresdo poder (ou a eles ligados)aos outros grupos- e a SOCIOLINGUISTICA:poae| 43 línguaé unrdoscomponentesdo sistemacultural.A existênciade uma varieda- depadrão,quedeslocatodasasoutrasvariedadeslingúísticase cria um contex- to de relaçõesassimétrìcasentrefalantesde uma comunidade,é um exemplo objetivodessaquestão.Cabeaosusuáriosdasvariedadesnão-paclrõesadotara variedadesocialmenteaceitável- pelomerÌos,em certascircunstâncias,como ernsituaçãode falapúblicaou duranteurrraentrevistaem uma agênciade em- prego.Por queaprenderum outromodo de falar?Ondeadquiriresteoutron'ìodo de falar?A motivaçãoparafalar um outro rnodode falaré sempresocial,e isso podeserproduzidopelaescola.ou pelaexperiênciasocial.De qualquermanei- ra,a decisãode falarde um modo distintodaquelequeaprendemosnãosecon- cretizafacilmente:há sempreum longo caminhoa percorrer,tanto mais longo quantomais distantese encontrao falantedos padrõeslingüísticose culturais legitimados. 4.CONSTDERAçótSrrHatS Marcadapor uma heterogeneidadeoriginal, a Sociolingüísticados anos 1960podeservistacomo o pontode partidadenovascorrel'ltese orientaçõesde pesquisas,centradasno trato do fenômenolingúísticorelacionadoao contexto sociale cultural, que se distinguem,de forma mais evidente,pela vinculação explícitaa algum campodasciênciashumanas.De uma perspectivabem gelal, podemosapontara Antropologiae a Sociologiacomo áreasrelevantes.Dentre estascofferìtes,destacaremosapenasalgumas: - a Sociologiada Linguagem,representadapor J. Fishman; - a SociolingüísticaInteracional,ligadaao nomede J. Gumperz; - a DialectologiaSocial, associadaao trabalhode estudiososcomo R. Shuye P. Trudgil; - aEtnografiada Comunicação,inseparáveldo nomedeD. Hymes,refe- rida anteriormente.Caberia,também,uma referência,nestavertente, aos trabalhosde R. Bauman e J. Sherzer,voltados,particularmente, paraa questãoda arteverbale da poéticadosgênerosde fala. Algumas antologias,bastantecitadas,oferecemuma visãoda produçãono campoda Sociolingüísticae permitemobservara diversidadede ternasestuda- dos e de abordagenspraticadas,como, por exemplo:Pride,J. B. & Holms, J. (1972)(orgs.),SociolirryLristlcs;Giglioli, P.P. (1974)(org.),Lcuryuagearu!so- cìal context;Coupland,N. & Jaworski,A. (1997)(orgs.),Sociolinguistics.Duas outrasreferênciasmerecemserfeitas:a coletâneade trabalhosreoresentativos
  • 13. rNÌRoDUçÁoÀ trNcüÍsrtcr da Sociolinguísticapraticadano mundoromânico- Dittmar,N. & schlieben- Lange,B. (1982) (orgs.),La Sociolinguisticlu.edanslespays de languerou&tc - e o número B9do periódico IrúenmtiottctlJottrnal of socíologv of Langttoge (1989),dedicadoà produçãobrasileira. 5.BIBTIOGRAFIA BACHMANN, c. et al.Langageetcoìrrtu,icationssocíales.paris,Hatier,1981. BAKHTIN, M. tuíarxistrtoefílosofiada lüryuagent5. ed.sãopauro,Hucitec,1990. (títuÌooriginal,1929) BAUMAN, R. & SFIERZER,J. (orgs.)Exploratiortsin the etlutograplryof speakittg. London,CambridgeUniversityPress,1974. BENVENISTE,E.vocabttláriodas ittstituiçõesindo-européia.s.campinas,Editorada UNICAMP,2 v., 1995.(títulooriginal,9691t91-0) Estruturadalínguaeestruturadasociedade.rn'.Problenmsdelinguísticageral 1LSãoPaulo,Cia.EditoraNacional/EDUSp,1989.(títulooriginal,1969) Vista d'olhos sobreo desenvolvimentoda Lingüística.In: problenns de lrn- gi.iísticageral.Sío Paulo,Cia.EditoraNacional/EDUSP,1976.(títuloorieinal. I 963) BOAS, F. Itxroductiouto the lnndbookof AntericanIndian langtmges.washington, D. C.,GeorgerownUniversityPress,191l. BoDINE, A. sexocentrismoe pesquísaslingüísticasIn: AEBisGHER,v. & FOREI-, C. (orgs.)FalasnasculürcsefaLasfenüninas?Sãopaulo,Brasiliense,19g3. BOLEO,M. P.Brasileirismo.Brasília,v.3, 1943,pp.3-42. BRIGHT, W. (org.) Sociolinguisrcs.In: PROCEEDINGOF THE UCLA SOCIOLINGUISTICSCONFERENCE,1964.3.ed.Mouton,TheHague,l966. Dialetosocialehistóriadalinguagem.In:FONSECA,M. S.V. & NEVES,M. F. (orgs.)sociolingtiística.Rio deJaneiro,Eldorado,1974.(rítulooriginal,1960) BAUMAN, R. verbalartasperfornrance.Rowley.Mass.,NewburyHousepublishers, t977. CAMACHO, R' A variaçãolingüística.In: Subsícliosà propostacLrrictilarde líttgua portuguesaparcro segundogrzu. SãoPaulo,cENp, secretariado Estadoda Educação,v. IV, 1978. CÂNAARR,Jr.,J.M. Históriaclalingiiística.perrópolis,Vozes,1975. Línguaseuropéiasde ultramar:o portuguêsdo Brasil. rn'.Dispersos.Rio de Janeiro,FundaçãoGetúlioVargas,1975.(títulooriginal,l963) CINTRA,L. F, L. origensdosistemadeformasdetratamentodo portuguêsactual.In: sobreas 'fonnas detratanrcnto'na Iíngtmportuguesct.Lisboa,Horizonte,1912. (títulooriginal;1965) S0CiOLlNGUlSÍlCÂ:porleI COFIEN,M. Maróriauxpour utrcsociologicdu langagc.Prris,Mrspero,v. 2, 1956. COUPLAND,N. & JAWORSKI,A. (orgs.)Sociolürgrrlstlcs.New York, St. Martin Press,1997. CUNHA,C. & CINTRA,L. F. L. NovagrarríLticutloporluguêscr.trttottpnrâtreo.Ri<t deJaneiro,NovaFronteira,1985. DIAS.A. E.S.Sirrlc-rclústóricaportuguesa.4.ed.Lisboa,Clírssica,1959.(títuloorigi- nal,1884) DITTMAR,N. & SCHLiEBEN-LANGE,B. (orgs.)LaSociolinguisíiquedattslespays delarryueronruÌe.Tübingen,GunterNarrVerlag,1982. FASOLD,R. Sociolirtguisticsof lattgLragc.Oxford,BlackwelÌ,1990, FERGUSON,C. A. Directionsin Linguistics:reporton a interdisciplinaryseminar. S.S.R.C.ITEMS.19,n.1,pp.1-Í4,1965. FISHMAN,I. A. Lattguageartdrwcìottalísrtr.Tn,oüttegrativee,r.r..yr.Rowley,Mass., NewburyHousePublishers,1973. A Sociologiadalinguagem.In:FONSECA,M. S.V. & NEVES,M. F.(orgs.) Sociolittgí.iístlca.Rio de Janeiro,Eldorado, 1974(título original, 1972) Sociolinguistics.A brief irúroductiort. Rowley, Mass., Newbury House Publishers.1970. etal. Bilütgualisnt ìrttlrc Barrio: tltenrcasurerrtetÍatrcldescriptiortof Lattguage dotrtitnttcein bìlittguals.Washington,D.C.,Dept.of Health,Educationand Welfare,1968, et al.Lcutguageloyal.tyitttlrc Utüted,SrdÍe.r.Mouton,TheHague,1966. FONSECA,M. S.V. & NEVES,M. F.(orgs.)Sociolirtgiiísticn.RiodeJaneiro,Eldorado, 1974. GERALDI,J.-V'l. Litryuagente ertsitto.Exercíciosdenilitâttcìae divulgação.Campi- nas,MercadodeLetras,1996. GIGLIOLI,P.P.LatryuageartdsociaLcotúert.Selectedreadings.GreatBritain,Penguin Books,1974. GNERRE,M. Littguagettr,escritaepoder.SiroPaulo,MartinsFontes,1985.(capítulo I: Linguagem,podere discriminação) GUMPERZ,J.J.Discoursestrategies.New York,AcademicPress,1981. LartguageirtsociaLgroups.Essnysby J. J. Gutnperl..Stanford,Stantbrd UniversityPress,197l. HOLMS,J.An itúroductiortío Sociolittguistic.s.London,Longman,1992. HYMES,D. Modeìsof theinteractionof languageandsociaÌlife.In: GUMPERZ,J.J. & HYMES, D. (orgs.)Directiotrsitt SociolirtgLtistìcs.Tlte etlrrtograpltyof connutúcatiorr.New York,Holt,RinehartandWinston,1972. Introduction:towardethnographyof communication.In:GUMPERZ,J.J.& HYMES, D. (orgs.)The etnographyof communication.Atrrcrícettdtúltropologist (specialpubtication),66, 6. part2, 1961.
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