1. Saúde na mídia Brasília, 22 de junho de 2011
Correio Braziliense/BR
Organismos Internacionais | OMS
Nossas manias têm cura
CIDADES-DF
As sessões fazem parte do projeto de doutorado do
pesquisador Amílcar Vidica Barcelos. A ideia do psi-
cólogo é conferir os avanços fisiológicos dos pa-
cientes submetidos à psicoterapia
cognitivo-comportamental - hoje o tratamento mais
utilizado pelos psicólogos. Para isso, ele realizará tes-
tes de memória, qualidade de vida, organização per-
ceptual e níveis de depressão e ansiedade antes e
depois das sessões. "Queremos ver como a terapia vai
agir em regiões do cérebro atingidas pela doença",
explica o pesquisador.
O TOC é a quarta doença psicológica em pre-
valência, perde para depressão, dependência quí-
mica e fobias. De acordo com a Organização
Mundial de Saúde, de 2,5% a 3% da população mun-
dial sofre da doença. Seguindo essa estimativa, o DF
pode ter até 60 mil pessoas com o transtorno. A alta
incidência de TOC se deve à variedade de sintomas e
SAÚDE ao fato da doença normalmente estar associada a ou-
tras, como depressão e síndrome do pânico. Foi o que
UnB oferece atendimento a 35 portadores de trans- aconteceu com Pedro. Os médicos identificavam a
torno obsessivo compulsivo e que querem fazer parte depressão e a anorexia nervosa, mas o diagnóstico de
de um estudo TOC o só veio aos 30 anos. "Eu tenho mania de guar-
dar objetos velhos, sempre acho que vou precisar de-
FLÁVIA MAIA pois. Teve um dia que cheguei a jogar um telefone
velho fora, mas depois me arrependi e peguei de volta
Pedro (nome fictício), 33 anos, não consegue tra- no lixo", contou.
balhar. Quando bate a ansiedade, o técnico em imo-
bilização ortopédica fica trêmulo, o coração acelera, Consciência
chora e a vontade é de ficar deitado até a crise passar.
Pedro tem transtorno obsessivo compulsivo (TOC) As pessoas que sofrem de TOC têm consciência do
e, entre as compulsões, costuma trancar a mesma fe- exagero dos seus atos, mas não conseguem deixar de
chadura várias vezes. Para tratar da doença, ele se ins- realizá-los, por isso, os psicólogos dizem que o trans-
creveu como voluntário em uma pesquisa do torno é incontrolável. O que o difere de um tique ner-
Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília. voso, por exemplo, em que as ações - como
As inscrições para o tratamento a que Pedro irá se constantes piscadas - são involuntárias e a pessoa não
submeter estão abertas até o fim deste mês e os in- percebe que está fazendo.
teressados devem ter o diagnóstico da doença feito
por um profissional. São 35 vagas e o tratamento du- O estudante Caio Catarsione, 23 anos, notou que ti-
rará quatro meses. Os pacientes passarão por 16 ses- nha algo errado quando colocava no micro-ondas
sões de duas horas de terapia de grupo. apenas números repetidos para o tempo de co-
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2. Saúde na mídia Brasília, 22 de junho de 2011
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Continuação: Nossas manias têm cura
zimento de um alimento. No lugar de digitar um mi- As manias e os rituais do TOC são diversos, por isso,
nuto exato, ele digitava 111, 222 ou 333. "Eu só é difícil o paciente se conscientizar de que está doen-
comia comida fria ou esturricada", comentou. A im- te. Além disso, existem diversos graus da doença, do
plicância com os números ímpares e o mal-estar subclínico - que não precisa ser tratado - ao in-
gerado quando uma pessoa o cumprimentava apenas capacitante, quando a pessoa pode ser aposentada por
por um lado fizeram-no refletir que algo não estava causa da doença. Um passo importante no tratamento
certo. "Eu me sentia torto quando alguém pegava no é conseguir quebrar os rituais.
meu ombro, tinha que pegar no outro também", re-
latou. O tratamento do TOC é feito por psiquiatras e psi-
cólogos. Os psiquiatras receitam medicamentos an-
"Se a pessoa perder mais de uma hora no decorrer do tidepressivos. Já os psicólogos entram com a terapia.
dia com a verificação de algo, é sintoma de TOC", "Com os medicamentos, melhorei 40%, agora estou
disse o psicólogo Amílcar. Ele explica que pacientes muito esperançoso com o tratamento da pesquisa do
com o transtorno criam rituais para amenizar com- Almícar", acredita Pedro.
pulsões e perdem muito tempo neles. Quando per-
cebem o tempo perdido, buscam tratamento para sair Fique atento
do ciclodadoença quecomeça com o pensamentoob-
sessivo, que causa ansiedade. "Por exemplo, a pessoa Os interessados em participar do tratamento devem
tem a obsessão que a casa tem que estar trancada para ligar no Centro de Atendimento e Estudos Psi-
que não aconteça nada demais. Nisso, ele fica ansioso cológicos da Universidade de Brasília no telefone
com a possibilidade de não ter fechado e cria o ritual (61) 3273-8894
de conferir várias vezes a fechadura todos os dias e,
somente assim, se sente aliviado", descreve o pes-
quisador.
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