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INSTITUTO LUTERANO DE ENSINO SUPERIOR - ILES
Coordenação de Pedagogia
ESTÁGIO I - PRÁTICA DAS ATIVIDADES EM ORIENTAÇÃO
EDUCACIONAL I
Locimar Massalai
Acadêmico do Curso de Pedagogia do ILES
Elide Piovesan Cechin
Professora Orientadora
Ji-Paraná - RO
2000
Agradecer sempre foi e será a forma mais simples, extraordinária e exigente das
almas que se reconhecem impotentes por si mesmas diante da complexidade do ser e do
existir. Agradeço de coração ao Deus em quem sou, existo e me movo (cf. Atos dos
Apóstolos, 17,28). Fora da presença Dele, minha vida seria um caos! Aos meus amigos e
companheiros de sonho da Pastoral da Juventude, gente simples mas gente de verdade, e
aqueles que em tempos de grande intolerância me convencem cada vez mais que acima de
crenças e de ideologias, o que nos salvará é o AMOR: Érica, Rolse, Claudiney, Carlinhos,
Vilmar, Márcia e Irmão Luciano.
Um agradecimento especial às companheiras de estágio: Nara e Pati.
Agradecer também à direção da Escola Aluízio Ferreira, aos professores e demais
funcionários que de mostraram sempre muito atenciosos e abertos para que a experiência
como estagiário fosse significativa. Aos alunos do Ensino Fundamental e Médio do período
vespertino, um agradecimento especial pela abertura, carinho, respeito e amizade que
demonstraram ao longo das atividades.
Assim, o primeiro e o mais simples sentimento que quero compartilhar com você
é minha satisfação quando consigo realmente escutar alguém. Creio que essa tem sido
uma característica antiga em mim. Ocorrem-me meus primeiros dias de escola. Uma
criança fazia uma pergunta à professora, que lhe dava uma resposta perfeita a uma
pergunta completamente diferente. Nessas ocasiões, um sentimento de dor e de angústia
sempre me envadia. Minha reação era: "Mais você nem mesmo a escutou!" Eu sentia
uma espécie de desespero infantil diante da falta de comunicação que era e ainda é tão
comum .
Carl Rogers
Professor, estou cansada de manifestar que preciso ser ouvida... ninguém me
escuta. Não estou a fim de conselhos. Quero simplesmente dizer o que se passa comigo .
Keila Ramos, adolescente, 12 anos
APRESENTAÇÃO
A grande carência de Orientadores Educacionais na Educação, compreendida em seu
contexto maior não somente a nível de Rondônia , faz-nos acreditar que o Curso de Pedagogia
com especialização em Orientação Educacional vem preencher uma lacuna imensa, não somente
na falta destes profissionais mas também, na maneira distorcida de perceber sua função na
escola. Neste sentido, Eny Marisa MAIA e Regina leite GARCIA reforçam o que estamos
dizendo quando afirmam que a
"... Preocupação dos Orientadores Educacionais com a definição
de suas funções tem sido um tema constante. A insatisfação permanece e,
com ela, a insatisfação pessoal. Ora, esta satisfação está a apontar para a
necessidade de rever-se a profissão do Orientador Educacional no interior
da escola. E essa tarefa não poderá chegar a bom termo se não se fizer
uma revisão do próprio significado da escola na sociedade brasileira
hoje". (Eny Marisa MAIA e Regina leite GARCIA , 1993:07).
Se de um lado, a Prática do Estágio Supervisionado em Orientação Educacional permite a
nós acadêmicos do curso de Pedagogia, um contato direto com certo grau de profundidade na
realidade concreta de uma comunidade educativa, ou seja, um contato significativo com alunos
do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, bem como de seus professores e com os pais destes
alunos, é verdade também que permite à Escola que acolhe e recebe os estagiários, uma
experiência da verdadeira especificidade do Orientador Educacional, do quanto este profissional
é importante e vital dentro de uma comunidade educativa e do quanto é necessário resgatar a
identidade deste profissional da educação .
Penso então, que estas 300 horas deste Estágio em Práticas de Atividades em Orientação
Educacional são significativas porque nos permitem mesmo que por pouco tempo, sintonizar
com a realidade de uma escola concreta e desde ela perceber o que poderemos realizar na
educação enquanto Orientadores Educacionais e os desafios e conflitos que vamos encontrar
diante de uma situação que não é meramente de um intimismo psicológico e individualizante,
mas que compreende implicações ontológicas, políticas e históricas, compreendidas na
necessidade de se ajudar a construir um espaço educacional menos fragmentado e com
profissionais cônscios de suas funções e de como é importante o inter-relacionamento entre todos
os que trabalham em educação para que esta seja de fato, de qualidade e traga sentido de vida aos
educandos.
A tudo isto, a Prática do Estágio em Orientação Educacional nos proporciona um
mergulho que se fará com maior ou menor intensidade dependendo da atuação, compromisso e
competência de cada um.
Orientar o educando para a vida é um parto, mas vale o desafio quando nosso objetivo
maior é ajudá-lo a que seja ele mesmo e que se construa.
RESUMO
Fazer a experiência de um estágio é tarefa exigente. Cremos que o mais desafiador
seja teorizar a experiência, organizar as idéias dando-lhes coerência sem perder a vida e o
significado diante do rigor científico.
Todo o processo do Estágio em Orientação Educacional iniciou com uma
preparação teórica de buscas e perspectivas. Munidos deste e de outros instrumentos, fomos
enviados às escolas. Observando a realidade, percebemos o quanto as escolas necessitam de
Orientadores Educacionais e quanto caminho precisa ser feito para que estes sejam
respeitados enquanto profissionais da Educação com identidade própria e vitais na
construção de uma educação de mais qualidade e sentido.
Depois de vista e sentida a realidade, durante os dois semestres de estágio, os
projetos foram aparecendo de acordo com as exigências do próprio estágio e da necessidade
da escola. Esta interação foi muito significativa . Trabalhamos com toda a comunidade
educativa: pais, professores, alunos do Ensino Fundamental e Médio, funcionários da
escola e direção. Tudo dentro de uma perspectiva de ajudar a comunidade educativa a
crescer conscientemente, a se tornar mais humana e significativa.
O atendimento de casos e outros acompanhamento com alunos da escola foi
significativo e sentimos que os alunos estão de fato buscando se conhecer melhor. Nos
organizamos com um horário para que pudéssemos atender bem os alunos, devido a falta de
um local adequado para o atendimento e acompanhamento dos alunos.
Ficou muito presente em nós o contato simples, aberto e significativo entre os
alunos do Ensino Fundamental e Médio. Como diz Rubem Alves, " O corpo é um
instrumento musical que pode tocar várias músicas. A beleza do corpo está na música que
ele toca". Estivemos ouvindo e sentindo tantas músicas com professores, alunos, pais...
umas silenciosas, outras estridentes, mas sempre músicas que precisam ser apreciadas e
respeitadas.
SUMÁRIO
Apresentação ........................................................................................................... 9
Introdução .............................................................................................................. 10
Relatório das Atividades em Orientação Educacional I - Estágio I ........................ 13
Considerações Finais ............................................................................................... 39
Anexos
Referencial Bibliográfico
INTRODUÇÃO
Normalmente pensamos que conhecemos a realidade de nossa comunidade, de
nossa cidade ou do mundo que nos rodeia. A overdose de signos e informações nos deixam
frios pois nos acostumamos com aquilo que nos parece normal . É bem verdade o que nos
diz um líder religioso espanhol, fazendo um diagnóstico nada romântico da realidade
mundial:
" O terceiro milênio vai começar com quase um bilhão de
pessoas sem conhecimentos necessários para ler um livro ou assinar
seu nome; isto certamente significa que a fome aumentará, e uns 800
ou 900 milhões de seres humanos estão condenados a morrer (20%
da população, muitos deles meninos e meninas em idade escolar que
crescem sem poder receber a educação básica; outros 150 milhões
iniciam, mas não completam a 5º série . É um direito do qual estão
privados! Mas a realidade é ainda mais alarmante se temos em conta
que somente 65,4% da população mundial tem acesso ao ensino
médio quando que, nos países industrializados podem fazê-lo 96,2%
nos países em desenvolvimento apenas 60,4% têm acesso. A maioria
desejaria ir à escola. Temos ainda os sistemas educacionais que não
consideram as circunstâncias especiais dos menores que
trabalham". (Benito ARBUÉS, 2000: 11)
Apesar da citação ser um pouco longa mas é inspirado nela que procurei pautar toda
a experiência do estágio. Se não há uma crise material muito grande na clientela do meu
estágio, a crise reside na ausência de sentido para a vida e na falta de referenciais. A
situação da família é preocupante. Então é ai, dentro deste barulho permeado de vida e de
gritos que a educação compreendida na sua missão maior tem o grave dever de ajudar e
orientar para o desenvolvimento da vida em sua plenitude: solidariedade, cidadania,
respeito, tolerância...
Sabemos que a Orientação Educacional não surgiu como uma necessidade
percebida e sentida a partir da realidade e é por isto que sua história tem sido tão indefinida.
Muito mais para adaptar o educando à realidade, para ajustá-lo a um mercado de trabalho
não respondeu às suas reais necessidades, enquanto indivíduo localizado e histórico. O
educando era visto com um ser individual apenas e que por si só poderia se desenvolver a
partir de suas aptidões.
É dentro deste contexto que os profissionais de Orientação Educacional eram
formados, segundo Eny Marisa MAIA,
" ... era preciso psicologizar a forma do orientador ver educação.
Era preciso que o orientador educacional internalizasse a ideologia
das aptidões, desvinculando-o dos problemas de classe social, era
preciso que o orientador internalizasse a ideologia liberal, que
enfatiza a individualidade, destacando o indivíduo de seu grupo
social e fazendo-o acreditar na possibilidade de ascender
socialmente por caminhos individuais. Era preciso que o orientador
acreditasse que todo indivíduo tem oportunidade iguais nesta
sociedade ' harmoniosa e justa' . Era preciso que o orientador
acreditasse ser justo que se alguns indivíduos são dotados de certas
aptidões e outros não, que aqueles indivíduos, aptos e esforçados,
fossem recompensados e tivessem sucesso e riqueza, enquanto os
outros fracassassem e ficassem ou se mantivessem pobres."
(Eny Marisa MAIA Op. Cit. p. 16)
Hoje, com outras leituras, e pensando o ser humano como um ser integral,
processual, histórico, a Orientação Educacional procura trabalhar com o Educando, de
forma integrada com a família, visando o desenvolvimento de sua personalidade, o resgate
dos valores da solidariedade, do respeito para o diferente, a orientação profissional para a
vida.
Penso também que a Orientação Educacional poderá contribuir para que o
Educando possa fazer uma experiência mais significativa da escola com um todo, que esta
experiência possa contribuir para que ele seja um indivíduo criativo e solidário no meio
onde vive e trabalha, a melhoria da qualidade de suas relações e sua criativa inserção na
sociedade. Em suma, colaborar de forma profunda e integradora na sua formação humana,
espiritual, profissional e social.
Para o atual contexto da Educação de Ji-Paraná, ou, sendo mais ousado, para
Rondônia, a formação de profissionais na área de Orientação Educacional vem aportar um
elemento decisivo e de vital importância para que nossas escolas se tornem mais humanas,
e contribuam verdadeiramente, muito além de chavões fabricados e de peso morto, para a
formação integral dos educandos.
Na minha memória lateja os ecos e vivências do Estágio em Orientação
Educacional: os gritos ora silenciosos, ora muito claros e barulhentos dos adolescentes nos
dizendo do desejo de serem escutados e levados em consideração em suas dores, angústias
e dúvidas.
Para finalizar deixo ecoando um pensamento da Campanha da Fraternidade que a
Igreja Católica lançou em 1998 e que de certa forma norteia meus princípios quando me
faço educador e quando vivo a educação em consonância com os demais acreditando que
"...a educação tem de ajudar a despertar em cada homem e mulher a
consciência de sua própria dignidade, e também, a sua capacidade
de assumir a responsabilidade de fazer a sua parte para possibilitar
a vida, vida de qualidade, para todos e cada um na comunidade. Um
desafio central para a educação hoje é exercer seu papel de
instrumento de promoção humana numa sociedade de exclusão, onde
grande número de pessoas são simplesmente consideradas
dispensáveis. O acesso ao conhecimento, o resgate do belo, da
verdade, do bem, a valorização da pessoa humana podem determinar
significativamente a manutenção ou a transformação desta
realidade". ( Fraternidade e EDUCAÇÃO, 1998: 43)
RELATÓRIO DAS ATIVIDADES EM ORIENTAÇÃO
EDUCACIONAL I - ESTÁGIO I
Sempre todo o começo é mesmo difícil. As palavras são como que peças de um jogo
que vamos trocando e a cada troca muda o significado e a cor. É bem verdade que quando
nos obrigamos a sentar para escrever aprofundamos aquilo que nos fez viver. As palavras
depois que se fizeram carne vão agora tornar-se aquilo que de fato nossa percepção
observou, com menor ou maior profundidade pois jamais conseguirão, por exemplo, pintar
a lágrima de um adolescente que "ouvimos" chorar porque seu pai bebe e bate na mão; ou
de outra adolescente que não compreende porque sua mãe a abandonou e de outro que
"sente um vazio muito grande de noite por sentir-se sozinho e não aceitar que os pais já
não podem viver mais juntos. Palavras, palavras, sempre entidades caducas que usamos
para nos apoderarmos daquilo que nos escapa.
É quase impossível estar relatando algo que na realidade queríamos apenas
silenciar e meditar.
Para deixar claro que somente escrevo algo que possa deixar minhas impressões
digitais, mesmo porque não acredito na famosa neutralidade do espirito científico cito o
grande poeta espanhol Compomar : "Nada es verdad, nada es mentira, tudo es segun el
color del cristal com que se mira".
Guardando as devidas proporções tanto para as verdades, quanto para as mentiras,
salva-se a cor do cristal com que olhamos a realidade. A vida tem a cor com a qual nós a
pintamos.
Ao chegar na escola Aluizio Ferreira percebi logo de cara que estávamos adentrando
numa realidade permeada de vida. No pequeno espaço físico os alunos se aglomeravam e
nos olhavam com olhos de curiosidade. Fomos aos poucos criando vínculos porque
acreditamos que não é possível conquistar e realizar um trabalho significativo sem esta
premissa básica: se cativamos nos tornamos responsáveis e nos abrimos. Quando alguém
cai de numa realidade como que de "pára-quedas", o melhor de tudo é aos poucos dar-se a
conhecer e fazer-se próximo e amigos em alardes e sem forçar a barra, como dizem os
adolescentes. Procedemos assim.
Fomos bem acolhidos pelo pessoal da direção da escola e a apresentação aos
professores foi significativa, mesmo que não se mostrassem tão simpáticos assim. Até o
final do estágio alguns permaneceram fechados e outros se abriram. Assim é o mistério do
ser humano. Pede respeito e paciência.
Quanto ao aspecto físico, a escola está sempre limpa e organizada. Banheiros
limpos também. Apenas em relação ao bebedouro sentimos que poderia haver mais um ou
dois diante de uma clientela de quase mil alunos no turno vespertino, por exemplo.
Num pequeno pátio interno há um jardim bem verde denotando presença de
acolhida e bom gosto. O lugar físico, situacional sempre nos marca, pois somos de fato
seres históricos. E é como um ser histórico e situado que assim se expressa Paulo Freire
diante do "locus" de suas memórias
"... quando 'sou brasileiro', sinto que sou algo mais do que quando
digo 'sou recifense'. Mas sei também que não poderia me sentir tão
intensamente brasileiro se não tivesse o Recife, meu marco original,
em que se gera minha brasilidade. Por isso, permita-se a obviedade,
minha terra não é apenas o contorno geográfico que tenho claro na
memória e posso reproduzir de olhos fechados, mas é sobretudo um
espaço temporizado, geografia, história, cultura. Minha terra é dor,
fome, miséria é esperança também de milhões, igualmente famintos
de justiça." (Paulo FREIRE, 1995:26)
Falando ainda do espaço físico, me vem à cabeça ainda, quando numa atividade
com alunos do Ensino Fundamental solicitamos que expressassem seus desejos em relação
à escola. A maioria estava contente com os amigos de classe, professores, direção e
funcionários. Apenas que queriam uma quadra para brincar, pular e jogar bola. " É tudo
muito apertado", dizia um aluno. Sabemos que o adolescente precisa de espaço, para se
expandir, para encontrar-se na sua experiência de crescimento e identificação.
São quase 2.300 alunos e com uma procura intensa por vagas. O Diretor da escola
nos dizia que têm salas com até 50 alunos. "A cada dia chegam mais pais de alunos pedindo
vaga e como negar?" Salas de aula com aproximadamente 40 à 45 alunos, pouca
iluminação e acústica regular. Esta é a realidade de vários Estados do País conforme noticia
"A Folha de São Paulo" no início do ano letivo:
"Sem receber recursos federais para construir e ampliar
prédios e surpreendidos por uma demanda por vagas acima do
previsto, a maioria dos Estados - de regiões ricas e pobres,
indistintamente - se viu obrigada a adotar 'estratégias de guerra'
para arrumar sala de aula para todos os alunos que procuraram a
rede estadual. (...) Em Rondônia foi preciso implantar o turno
intermediário (conhecido como "turno da fome"), alternativa
pedagógica unanimemente criticada, inclusive pelos governos que
tiveram que adotar essa saída". (FOLHA DE SÃO PAULO, 27.03.
2000, 40 caderno, p.01)
Outro espaço físico que os alunos reclamam muito, principalmente os menores é em
relação à cantina - bar. Os menores são "esmagados", usando as palavras deles mesmos.
No tocante a higiene está muito bem. Percebe-se mais uma vez que um dos problemas da
escola é espaço físico mesmo.
Estivemos na escola e presenciamos que a realidade é esta mesma. É preciso
amontoar alunos e a situação vai se protelando. O que fazer? Dispensar os alunos? Aceitar a
situação? Penso que no fundo, como dizia o Frei Betto, " é tudo questão de falta de vontade
política". Continua a se improvisar sobre e com a vida das pessoas.
No tocante à parte administrativa, percebemos boa organização e espaço digno. Sala
de vídeo, de professores, secretaria, mimeógrafo, saúde tudo funcionando e bem
organizadas. Destaca-se a videoteca, com a presença de uma educadora para organizar,
gravar e selecionar filmes apresentados pela TV Escola. Apenas que quando
conversávamos com esta educadora, ela nos informava que os professores procuram muito
pouco estes recursos.
Continuando o nosso passeio, agora vamos à biblioteca. Em questão de números de
títulos é fraca. O que se vê na verdade, é em maioria a presença de livros didáticos. O
espaço físico é deficiente pois uma biblioteca necessita de, além de um acervo variado, ser
bem ventilada e com mobiliário adequado. Olhando para a realidade da escola, estamos
novamente trabalhando com possibilidades, "com aquilo que temos", como dizia um
funcionário. Este mesmo funcionário afirmava não sem um ar de alegria que mesmo assim
os alunos gostam muito de ler na biblioteca. Será que as crianças e adolescentes não gostam
mesmo de ler ou será que sentem o que Daniel Pennac experimentou:
" Que cada leitura é um ato de resistência. De resistência a
que? A todas as contingências. Todas: sociais, profissionais,
psicológicas, afetivas, climáticas, familiares, domésticas, gregárias,
patológicas, pecuniárias, ideológicas, culturais ou umbilicais. Uma
leitura bem levada nos salva de tudo, inclusive de nós mesmos".
(Daniel PENACC, 1998:80)
Destaca-se como fato importante a presença de dois periódicos e duas revistas na
biblioteca: "Estadão" e "Correio Popular" e as revistas "Veja" e "Nova Escola".
Falando da qualificação do corpo docente e administrativo, em sua maioria têm
nível superior, sendo que 70% são habilitados para as disciplinas que ministram e 20%
têm pós-graduação.
O nível sócio-econômico dos alunos é de classe média, sendo que os do noturno em
sua maioria trabalham e é neste período que está o maior índice de reprovações. Segundo a
Supervisora da escola, uma das causas é o fato de que a maioria têm que trabalhar para
ajudar em casa.
Quanto ao setor administrativo, a escola conta com a presença de um diretor e uma
vice-diretora , um secretário, duas supervisoras e oito pessoas nas limpeza.
No geral, a escola é assessorada pelo trabalho de 120 funcionários.
Outro dado que não podemos deixar de mencionar , muito importante em qualquer
comunidade social, é a questão dos relacionamentos. Percebemos que as relações humanas
e interpessoais na escola são boas e significativas. Nas primeiras falas que tivemos com a
supervisão e direção foi nos passado que o relacionamento entre professores e alunos era
bom. Esta não foi bem a realidade que encontramos na prática daquilo que ouvimos e
sentimos dos alunos. No geral eles reclamam que os professores não têm paciência e que
são muito sérios. Não sabem escutar.
" E o que dizer, mas sobretudo que esperar de mim se, como
professor, não me acho tomado por e este outro saber, o de que
preciso estar aberto ao gosto de querer bem, às vezes, à coragem de
querer bem aos educandos e á própria prática educativa de que
participo. Significa que a afetividade não me assusta, que não tenho
medo de expressá-la. Significa esta abertura ao querer bem a
maneira que tenho de autenticamente selar meu compromisso com os
educandos, numa prática específica do ser humano. Na verdade,
preciso descartar como falsa a separação radical entre seriedade
docente e afetividade. Não é certo, sobretudo do ponto de vista
democrático, que serei tão melhor professor quanto mais severo,
mais frio me ponha minhas relações com os alunos. (...) A
afetividade não se acha excluída da cognoscibilidade. A minha
abertura ao querer bem significa a minha disponibilidade à justa
alegria de viver, que, assumidas plenamente, não permite me
transformar num ser "adocicado" nem tampouco num ser arestoso e
amargo" . (Paulo FREIRE, 1998:159-160)
Salvando as devidas proporções de que os professores são mal remunerados e tantos
outros fatores, nada justifica a ausência de simpatia e de afetividade na relação professor -
aluno.
É possível perceber que a escola está fazendo um trabalho no sentido de fazer uma
caminhada de maior aproximação entre professores e alunos.
Quanto ao relacionamento dos professores entre si, percebe-se que é bom, são
receptivos e a escola está investindo neste campo com cursos de Relações Humanas,
Encontros de Formação, etc. o relacionamento entre direção, professores e supervisão e
demais funcionários da escola é amigável e tranqüilo. Não há presença de conflitos
acentuados.
É salutar destacar o progressivo trabalho que vem se fazendo para aproximar os pais
dos educandos à escola e aos professores. Os pais tem correspondido a isto, fato que
percebemos na prática durante as reuniões que tivemos com os pais, professores, supervisão
e direção.
Não será possível esquecer o relacionamento dos alunos entre si. Enquanto fazíamos
a experiência do estágio íamos partilhando que apesar de tão pouco espaço físico, os alunos
não eram acentuadamente agressivos. Claro que há presença de agressividade normal como
em qualquer ambiente onde vivem seres humanos, alunos... Não percebemos sinais de
vandalismo, carteiras rabiscadas, etc. Por não possuírem área de lazer e o espaço do pátio
interno ser tão reduzido, durante os intervalos se percebe alunos e conversando como eles
mesmos dizem "numa boa" ou "na boa". Um que outro sai do sério por questões de apelidos
(bicha, filho da puta...), uma que outra garota briga por namorado e saem aos tapas e aos
puxões de cabelo, como aconteceu. Verdade seja dita que a escola necessita expandir seu
espaço físico para que os alunos possam se expandir, porque estão crescendo, porque estão
cheios de vida e energia. Há necessidade de liberarem todo o dinamismo ou até impulsos de
agressão e serem educados para a fraternidade, para a tolerância.
" O comportamento agressivo sempre foi objeto de interesse
por parte dos psicólogos. É óbvio que o comportamento agressivo
representa um problema de extrema gravidade e importância para a
humanidade. Com o aumento progressivo nas circunstâncias da vida
urbana e da superpopulação nas grandes cidades, o potencial
destrutivo do homem tornou-se ainda mais perigoso. Consideramos
pois este tema como dos mais importantes a serem tratados pela
psicologia do desenvolvimento, pois é de importância crucial para a
própria sobrevivência da espécie humana que se compreendam os
mecanismos pelos quais a agressão é adquirida e mantida, para que
possa controlá-la" . ( Ângela M. Brasil BIAGGIO,1996:181)
Dentro de toda esta realidade queremos situar a presença de alguns aspectos
pedagógicos que observamos durante a prática do estágio que nos chamaram a atenção. Em
primeiro lugar a grande luta para implantar o PDE e "para que a grana venha", é necessário
que todos os professores se inteirem do que o mesmo significa, mesmo que não o
compreendam.
Diante disto se percebe uma mera adaptação à algumas exigências vindas de fora. E
daí quando perguntamos se seguem alguma linha pedagógica, nos respondem que é uma
mistura, que fazem o que a DRE quer.
Estes e outros aspectos da realidade nos fazem crer a quantas anda a educação e que
mesmo, apesar de tantas dificuldades um bem grandioso vem sendo feito. Isto não significa
adaptar-se comodamente à realidade mas vê-la desde um prisma de esperança no animados
pela fala de Rubem Alves :
"Hoje não há razões para otimismo. Hoje só é possível Ter
esperança. Esperança é o oposto do otimismo. Otimismo é quando,
sendo primavera do lado de fora, nasce a primavera do lado de
dentro. Esperança é quando, sendo seca absoluta do lado de fora,
continuam as fontes borbulhar dentro do coração. A esperança tem
suas raízes na eternidade. Nas pequenas coisas ela floresce e
desperta para a revolução". (Rubem ALVES, Tempo e Presença,
julho/agosto de 1999, p.38)
Dentro da realidade a que estamos nos referindo desde o início deste relatório, a
Escola de Ensino Fundamental e Médio Aluízio Ferreira, trabalhamos nosso primeiro
projeto com professoras de 1a à 4a séries e o tema escolhido em sintonia com a
supervisora e direção foi "Aprendizagem: avaliação-reprovação.
O tema referido acima foi trabalhado a partir de alguns pontos de vista de Piaget,
Vygotsky e Freinet.
Estávamos preparados e munidos de ânimo para começar a construção deste
relacionamento com a professoras que pareciam armadas. Desde o momento da observação
da realidade havíamos percebido que colocavam muitos rótulos nos alunos e
principalmente nos que apresentavam algum problema.
No início da fala, as professoras pareciam armadas, mas aos poucos foram se
soltando quando perceberam que nós não estávamos ali para dar receitas nem tampouco
dizer o que era certo ou errado. Com simplicidade e ao mesmo tempo, com firmeza diante
do que acreditamos, fomos colocando questões que pudessem ajudá-las a compreender que
a escola é uma realidade dinâmica e muito viva. Numa partilha sincera e fraterna, fomos
ajudando-as a perceber que
"...o educador continua indispensável, a título de animador, para
criar situações e armar os dispositivos iniciais capazes de suscitar
problemas úteis à criança, e para organizar, em seguida, contra-
exemplos que levem à reflexão e obriguem ao controle das soluções
demasiado apressadas: o que se deseja é que o professor deixe de ser
apenas um conferencista e que estimule a pesquisa e o esforço, ao
invés de contentar com a transmissão de soluções já prontas. É
preciso que o metre-animador não se limite ao conhecimento de sua
ciência, mas esteja muito bem informado a respeito das
peculiaridades do desenvolvimento psicológico da inteligência da
criança ou do adolescente." ( Jean PIAGET, 1988:15)
Outro dado interessante que percebemos nesta e em outras oportunidades no
trabalho com professores é que eles têm muita necessidade de desabafar. Quiçá por falta de
espaços para fazer esta catarse ou talvez por não serem acompanhadas de fato em questões
inerentes às suas práticas, inquietações e dificuldades. Outra vez se percebe o quanto o
papel do Orientador Educacional bem compreendido em sua função e especificidade é de
vital importância para que a escola tenha uma prática educativa mais singular e
significativa.
No geral, as professoras demonstraram pouco conhecimento de termos científicos,
pouca leitura. Apenas duas ou três participaram perguntando e interagindo.
No início, utilizamos a dinâmica da "teia envolvente". A pergunta para ser
respondida antes de passar o barbante para outra pessoa era o que cada uma pensava sobre
o processo de Aprendizagem: avaliação-reprovação . A maioria das respostas foram
superficiais e de achismos. Nenhuma das professoras fez qualquer anotação.
Em relação aos rótulos do tipo "este aluno é inteligente", "fulano de tal não aprende
mesmo", e tantos outros, disseram que não utilizavam este discurso. Talvez os usem de
forma tão inconsciente que nem percebem, pois na realidade, quando observamos na
prática, falas, ações e conceitos estão permeados de rótulos, preconceitos e outros
mecanismos de classificação diante da dificuldade de acompanhar os alunos que
apresentam dificuldades de aprendizagem.
Por isso tudo, acreditamos que o professor deve buscar construir-se; como a vida é
muito dinâmica, ninguém não está nem nunca estará preparado para a vida, para os
relacionamentos. A formação deverá ser uma constante na vida de todos os profissionais
em educação. Rever práticas e conceitos nos tornam mais próximos dos nossos educandos.
O falso conceito de que a experiência por si só é essencial para se desenvolver uma boa e
significativa prática está fadada ao fracasso. Há que se agir, refletir, avaliar, celebrar e agir
e ...
Não é possível ajudar os educandos em suas dificuldades de aprendizagem se não
percebermos e levarmos em conta que
" ...a interação face a face entre indivíduos particulares desempenha
um papel fundamental na construção do ser humano: é através da
relação interpessoal concreta que o indivíduo vai chegar a
interiorizar as formas culturalmente estabelecidas de funcionamento
psicológico. (....) que a vida social é um processo dinâmico, onde
cada sujeito é ativo e onde acontece a interação entre o mundo
cultural e o mundo subjetivo de cada um". (Marta Kohl de
OLIVEIRA, 1993:39)
Depois de termos criado alguns vínculos significativos com a comunidade
educativa da Escola Aluízio Ferreira, principalmente com os alunos, iniciamos as
atividades com alunos de 5a à 8a séries . Trabalhamos sobre "Hábitos de estudos", assunto
que nos foi passado pela supervisora.
O assunto escolhido para algumas séries com as quais trabalhamos foi mais ou
menos interessante. Na 5a série, por exemplo, os alunos eram bastante indisciplinados,
participaram bastante mas não conseguiam parar no lugar. Gostaram imensamente da cantar
a música "Cremos no Amor que todos tem ", pois é bem animada. Pediram para repetir
várias vezes. Percebe-se uma grande dificuldade de relacionamento entre eles e brigam por
causa de lugar, por um olhar diferente que um lança sobre o outro, por uma fofoca, etc.
Prometemos voltar mais vezes e de fato o fizemos, de forma gratuita em tempos livres e de
horas vagas em que estávamos na escola. A conversa girou em torno de relacionamento,
respeito, tolerância, amizade. Dá para sentir que os alunos necessitam muito de atenção, de
apoio e de trato mais humano. Na verdade, falta um trabalho de relações humanas urgente.
Coisa que eles já não recebem de casa. Valores básicos como respeito, delicadeza, limpeza
e organização.
Ouve-se reclamações diante do fato de que quando estavam na 4a série eram "tão
bons e organizados e agora estão desleixados e não rendem nos estudos". É importante a
observação de que em geral, os alunos quando chegam na 5a série
" Biologicamente em relação aos seus corpos estão se
modificando, que seus hormônios estão trabalhando loucamente
para torná-los seres sexualmente maduros. Seu corpo é uma fonte
permanente de estímulos, estranho mesmo é que alguém que está
com essa energia toda consiga se concentrar nos assuntos da
escola". (Edith RUBISNTEIN, 1999:55)
Quando retomamos a experiência com a turma de 5a série, podemos levar em consideração
outro dado interessante que é a questão de idade. Não há uma homogeneidade quanto a
idade dos alunos. As idades variam muito em cada sala. O mesmo vale para a classificação
por turmas. Percebemos que em todas as séries do Ensino Fundamental com quem
trabalhamos, as últimas, por ordem alfabética eram as mais "difíceis" no sentido de
repetência, indisciplina, etc. Atentos para estas situações começamos a mudar a fala, desde
nossas próprias experiências como estudantes, nossas dificuldades, fracassos e acertos. A
partir daí, o processo fluiu muito bem. Outro dado importante para se ressaltar, é que
quando conseguimos humanizar o ambiente, pacificar, tranqüilizar a garotada a partir de
uma fala mais dócil, sem ser menos segura e verdadeira, os alunos também se aquietaram e
foi possível falar de organização do tempo, importância de se disciplinar e de organizar a
vida em geral; também os relacionamentos. Isto valeu também para os alunos com os quais
trabalhamos das 6as , 7as e 8as séries. É bem verdade o que a Tânia Zagury relata no seu
livro, "O adolescente por ele mesmo", dizendo que:
"....nossa escola é desinteressante do ponto de vista de apelo visual,
metodológico e mesmo de conteúdo. As aulas continuam, em sua
grande maioria, meras explanações orais, com reduzido ou nenhum
apoio audiovisual. Enquanto isso, em casa, na rua, rolando tantas
coisas mais interessantes e significativas. Quantos desafios novos a
cada momento! Quem pode gostar da escola? Como fazer com que
nossos alunos se interessem verdadeiramente pelas aulas? Verdade
seja dita, a capacidade crítica dos jovens é incrível e pode-se saber
muito sobre a didática e ensino prestando atenção e deixando que
eles se expressem sobre o assunto" ( Tânia ZAGURY, 1996:55)
A questão do apelo visual é muito forte. Vivemos na era da imagem e quanto mais
colorido e atrativo, melhor, mais interessante. Não querendo transformar o professor em
bode expiatório diante das dificuldades dos alunos em estudar, se organizar, se concentrar,
podemos sim afirmar que muitos professores vivem de cara amarrada, estão constantemente
azedos e daí, como serão referencias? Um rosto alegre, animado e sereno ajuda muito. Nós
sabemos o quanto certos professores marcam a vida dos adolescentes, não por sua erudição
ou capacidade intelectual extraordinária, mas sim pelo fato de que foram capazes de se
mostrar humanos, abertos e exigentes ao mesmo tempo. Não basta professores com bons
conteúdos; as aulas precisam ser motivadoras, alegres, atraentes. É possível fazer isto sem
que o professor vire um palhaço!
"Propostas pedagógicas modernas não faltam. Mas, em
defesa dos mestres, é preciso que se diga que a maioria absoluta
dessas propostas mais modernas do ponto de vista pedagógico
demanda, pelo menos, duas coisas: primeiro, um professor mais
bem preparado didaticamente e em termos de conteúdo e, segundo,
condições de infra-estrutura muito diversas das existentes para a sua
consecução. Turmas com pequeno número de alunos seriam apenas
uma das primeiras exigências para que se pudesse verdadeiramente
implementar um ensino moderno, com diversificação de atividades,
participação ativa dos alunos e criatividade na elaboração das
atividades". (Tânia ZAGURY, 1996 :56)
Só para explicar que nossa equipe de estágio na escola, nos dividimos da seguinte
forma: cada um pegaria quatro turmas. Já relatei a experiência com a turma de 5a série com
alguns dados e reflexões que valem inteiramente para as demais que trabalhei.
A experiência com os alunos da 6a série foi um pouco mais tranqüila. Já havíamos
criado um vínculo mais estreito pois os alunos que fizemos acompanhamento de caso são
desta turma. Estivemos juntos e dialogamos em vários momentos. Cantamos com eles a
música do "Cremos no amor que todos têm", mas a empolgação já não foi tanta como na
turma da 5a série pois os da 6a são maiores e ficaram bastante "envergonhados", segundo
alguns. A sala quente e com acústica péssima e o grande número de alunos para um
ambiente tão pequeno, causou um certo desassossego nos alunos durante a fala sobre
"Hábitos de estudos". A dinâmica da "teia envolvente" apesar de ser longa e exigir
concentração, silêncio e escuta, foi proveitosa. Conseguimos enrolar e desenrolar com eles.
O aluno pegava o rolo de barbante e jogava para um colega dizendo "qual a importância
que o estudo" tinha em sua vida". No geral foram bem críticos e se observou que é uma sala
de alunos com poucos repetentes.
Observou-se nesta 6a série que os alunos em que os pais são separados apresentam
maiores dificuldades para se organizar, são inquietos, agressivos ou em contrapartida,
apáticos.
Deixamos a 6a série e agora vamos até a 7a série "B". Um alvoroço geral e alunos
em polvorosa. Todos pedindo que ficássemos até à última hora e que demorássemos
bastante pois os "professores que vão vim depois são muito chatos e pegam muito no pé".
Aos poucos fomos tranqüilizando o ambiente pois o professor titular da aula disse que "iria
deixar-nos à vontade". Fomos conversando aos poucos e com paciência a turma se aquietou
e podemos estar a vontade e conversar sobre a dores e as alegrias da vida e estudante. Nesta
turma, o que os alunos mais reclamaram foi da cara feia dos professores, que não têm
paciência e que são tristes demais. Vários alunos pediram uma oportunidade para se
conhecerem mais e daí aplicamos num momento gratuito o "Questionário do adolescente".
Atendemos assim, "fora" do esquema do estágio quase todos os 40 alunos desta turma.
Aplicamos o questionário e depois cada aluno recebeu o resultado individualmente. Algo
que me chamou atenção foi que a maioria dos alunos são filhos de pais separados e do
quanto isto os faz sofrer. No final da aula deixamos que fizessem por escrito perguntas e
prometemos respondê-las aos que desejassem o que de fato fizemos mesmo. As perguntas
que mais apareceram foram estas: "Você é feliz"? "Por que escolheu esta profissão?"
"Quais foram minhas maiores dificuldades na época da adolescência?" Quais a maiores
dificuldades na vida de estudante?" " O que fazer para ser feliz?" "Como escolher bem
uma profissão?"
Na outra 7a série o esquema foi o mesmo, apenas que a turma era tranqüila desde o
início. A professora titular permaneceu na sala. Participaram com intensidade e interesse.
Gostaram de cantar o "Cremos no amor que todos têm" .
Foi possível desenvolver um bom trabalho a partir de uma posição serena e
tranqüila da nossa parte e a vontade sincera de partilhar também nossas experiências de
vida com os educandos, muito mais que mera teoria, estávamos colocando o que deu e o
que não deu certo conosco mesmo.
É bem verdade que:
"mesmo com todos os defeitos, a instituição escola é ainda um lugar
em que as novas gerações convivem com o respeito e a orientação, é
ainda um lugar em que o saber é valorizado e no qual apesar dos
seus erros e problemas, o ser humano se socializa, aprende a
conviver, torna-se um cidadão". (Tânia ZAGURY, 1996:56)
O que os alunos querem é que o professor os respeite como estudantes e como
pessoas humanas. É importante que o professor não tenha medo de colocar limites aos
alunos e lhes diga de modo incisivo que estão se comportando mal e de forma inadequada.
Neste sentido, ao professor cabe não apenas informar, mas formar para a vida. Os
estudantes esperam, mesmo que às vezes não consigam expressar, do professor uma atitude
de amigo na vida e no âmbito profissional. A figura que irá norteá-los a contornar suas
dificuldades ou angústias como alunos e como seres humanos.
Relativamente entrosados no ambiente educativo, e, com nossa presença constante
nas salas de aula de 5a à 8a séries, fomos nos tornando conhecidos dos professores. Mesmo
que alguns ainda se mantivessem "distantes" de nós. Algo interessante de nossa equipe de
estágio é que sempre quando íamos entrar em sala, nunca fazíamos sem respeitar o
professor, de forma que este percebia que de fato ele, apesar de todas limitações e
contratempos continua e continuará sendo o referencial maior no espaço de sala de aula.
O trabalho com os professores de 5a à 8a série aconteceu num Sábado gostoso e a
experiência foi muito significativa, tanto para nós, como para os professores. Tudo foi
tranqüilo e respeitamos o processo normal de cada encontro marcado pela presença de
pessoas com suas histórias, dores e dissabores. Mais uma vez, nossa equipe de estágio
esteve muito sintonizada.
O assunto foi "Aprendizagem: avaliação x reprovação" voltado especificamente
para alunos de 5a à 8a séries com suas características próprias, dentro da visão de
educação de Piaget, Vygotski, e no final, para concluir, um texto falando da avaliação com
duas grandes possibilidades: uma domesticadora e outra libertadora.
Iniciamos os trabalhos com a música do Roberto Carlos: "Eu quero Ter um milhão
de amigos"... Todos cantaram. Foi um momento sublime, uma forma de relax e reflexão.
Nos apresentamos e fomos desenvolvendo o trabalho naturalmente. Houve boa
receptividade por parte dos professores. As supervisoras estiveram presentes e interagiram.
A empatia marcou o encontro desde o início; assim que todos os assuntos e desafios foram
sentidos como formas de crescimento. Vários professores participaram e percebemos que
eram mais conscientes e consistentes no sentido de compreensão da realidade e dos teóricos
com os quais estávamos trabalhando.
Enquanto desenvolvíamos o trabalho, sempre fomos tentando nos colocar no lugar
dos professores o que nos ajudou muito pois eles sentiram que vivenciamos também a
realidade de suas lutas, desafios e incertezas.
Um professor colocou que "a avaliação deve ser vista como meio e não como um
fim e que o professor também participa ativamente do processo de ser avaliado enquanto
avalia".
A fala foi se encaminhando e na realidade o grupo teve presente, em sua maioria,
que a avaliação escolar tem que ser participativa onde professor e aluno devem chegar
juntos a um entendimento das situação da aprendizagem que necessariamente faz parte de
todo o processo de ensino em seu todo maior. Que, com esta forma de pensar e de agir se
contribui para a permanência do aluno na escola e esta se torna presença de inclusão e não
mais um modelo de exclusão como tantos presente na escola e na sociedade. Que, com esta
postura, estaremos superando o modo de agir comum e autoritário que vem marcando a
história das atividades e avaliações na aprendizagem escolar. Outra idéia muito interessante
é que tanto a avaliação, quanto a própria educação podem e passam a ideologia que se quer.
Ambas não são atividades neutras sem implicação políticas e ontológicas. Que, é necessário
respeitar o desenvolvimento do aluno, sua história e seu processo.
Ficamos animados que estas considerações foram sendo construídas por todo o
grupo ao longo da fala. Alguns relembrando, outros esclarecendo e outros reavaliando
conceitos e práticas. É bom dizer que a escola, segundo os próprios professores e
supervisão, já vem fazendo um trabalho nesta área da avaliação. Sabemos que leva tempo
tudo isto e que a compreensão teórica quase sempre é mais rápida do que a prática. Neste
sentido:
"...o modelo social, dentro do qual vivemos e convivemos, torna-se
quase que natural aos nossos corpos, a nossa personalidade.
Respiramo-lo como respiramos o ar que nos envolve e agimos por
ele e para ele sem que meditemos nisso. Contudo, nenhum
profissional da educação, em sã consciência, pode assim agir, a
menos que não pretenda ser sujeito da história. Agir como se as
práticas educacionais fossem neutras é tomar a postura de objeto da
história e não do sujeito, como desejável e esperável de toda criatura
humana" . (Cipriano Carlos LUCKESI,1993:71)
Quase no final do encontro durante a discussão das implicações políticas da e na
educação, salas de aula com muitos alunos, má remuneração dos professores, surgiu a
polêmica da questão dos professores e profissionais em educação que foram demitidos
pelo governador do Estado de Rondônia. Muitos professores desabafaram e procuramos
ouvir atentamente. Com certeza, este desabafo veio ser um espaço de catarse e de partilha.
Se todo o ser humano precisa de um momento e de pessoas que ouçam, com mais razão o
professor em suas dores e em suas inquietações.
Ensinar, segundo Paulo Freire,
"...exige humildade, tolerância e luta em defesa dos direitos dos
educadores. Se há algo que os educadores brasileiros precisam
saber, desde a mais tenra idade, é que a luta em favor do respeito
aos educadores e à educação inclui que a briga por salários menos
imorais é um dever irrecusável e não só um direito deles. A luta dos
professores em defesa dos seus direitos e de sua dignidade deve ser
entendida como um momento importante de sua prática docente,
enquanto pratica a ética. Não é algo que vem de fora da atividade
docente, mas algo que dela faz parte. O combate em favor da
dignidade da prática docente é tão parte dela mesma quanto dela faz
parte o respeito que o professor deve Ter à identidade do educando,
à sua pessoa, à seu direito de ser. Um dos piores males que o poder
público vem fazendo a nós, no Brasil, historicamente, desde que a
sociedade brasileira foi criada, é o de fazer muitos de nós correr o
risco de, a custo de tanto descaso pela educação publica,
existencialmente cansados, cair no indiferentismo fatalistamente
cínico que leva ao cruzamento dos braços. "Não há o que fazer" é o
discurso acomodado que não podemos aceitar. ( Paulo FREIRE,
1998:74-75)
Assim terminamos o trabalho com este grupo de professores: novamente cantamos
a canção de Roberto Carlos dizendo que " (...) eu quero Ter um milhão de amigos e bem
mais forte poder cantar..." Que a beleza destes encontros reside nesta possibilidade de nos
apoiar, de sermos solitários na prática educativa. Que avaliar exige humildade, respeito e
muita sensibilidade.
O cafezinho final foi a conclusão de uma fala permeada de escuta e de respeito!
Depois de tantos encontros, agora é nossa hora de estarmos com os pais. Todas as
falas e todos os assuntos vêm desembocar no trabalho que fizemos com os pais. Nada foi
fragmentado na nossa vivência do estágio. Sempre procurando fazer a leitura do todo.
Em relação ao trabalho com os pais nos dividimos de forma a que cada participante
do estágio pudesse fazer uma experiência significativa com os pais dos educandos.
Nos encontros com os pais, a supervisora sempre nos apresentou de forma muito
cordial e significativa de modo que nos sentimos valorizados e de fato responsáveis pela
condução do momento que cabia a nós.
Seguimos mais ou menos este roteiro na fala com os pais. Apresentação simples e
breve precedido por um momento de espiritualidade e relaxamento, que os pais gostaram
muito. Assim falou uma mãe depois deste momento. "Que bom que a escola também está
nos oferecendo um momento gostoso de encontro com Deus! Isto vai acontecer outras
vezes?" Seguimos com algumas pinceladas sobre a realidade da família hoje, a crise de
valores e de referenciais. Falamos que os pais sempre serão os referenciais na família e que
a pessoa humana que teve uma boa experiência de família, seguramente enfrentará de
forma mais madura os problemas e dificuldades da vida. Neste momento uma mãe deu o
seguinte depoimento: " Apesar de ser tão difícil educar para as coisas boas, a honestidade,
por exemplo, não dá para abrir mão de ensinar aos nossos filhos atitudes que os ajudarão
a serem pessoas de bem".
Fizemos um momento de brincadeira com as palmas das mãos: uma palma, duas
palmas e três palmas... Para descontrair e os mais quietos também participaram. Pensamos
que este encontro deveria ser assim uma conversa agradável, descontraída para que eles, os
pais se soltassem e partilhassem também seus sentimentos e vivenciassem o momento de
forma integral. Foi acontecendo tudo isto: alegria, seriedade e respeito com a participação
ativa dos pais. O canto "Cristo é a felicidade" deixou-os mais integrados ainda, pois a
maioria esmagadora são cristãos e assim trabalhamos a dimensão transcendental mais uma
vez e de forma tolerante e ecumênica.
Através deste bate-papo, trabalhamos com os pais a questão dos "limites em relação
aos filhos". Cada pai recebeu um panfleto contendo algumas frases (ver em anexo) retiradas
do livro da Tânia Zagury , ”O adolescente por ele mesmo". Fomos lendo juntos e
partilhando.
Em geral os pais participaram ativamente. Demonstraram idéias interessantes e
querem de fato acompanhar os seus filhos. Pediram que este momento fosse repetido mais
vezes, dizendo que antes não havia este tipo de trabalho e que sabem o quando isto ajuda
para que possam melhor educar seus filhos. Uma mãe se expressou da seguinte forma em
relação a este tipo de trabalho: " ...a escola não deveria chamar os pais somente para
cobrar, mas também para orientar". No início das atividades, quando a supervisora
informou que teriam um bate-papo de uma hora, mais ou menos, uma mãe torceu a cara e
disse: "isto tudo?" No final foi a que mais agradeceu e disse que mudou de opinião e que
nem viu o tempo passar.
No fina o diretor apareceu e falou da necessidade de tornar a escola uma família e
salientou da importância deste tipo de trabalho de orientação com os pais.
Vários pais questionaram em relação à disciplina e autoridade dos professores
demonstrando certa insatisfação com a entrada e saída constantemente dos alunos de sala
de aula e da indisciplina e da fala de definição em relação ao horário. Os pais querem
professores mais sérios no sentido de cobrar dos alunos responsabilidade e respeito. Talvez
estejam delegando esta tarefa à escola, mas é certo sentido é bem verdade que muitos
alunos durante as aulas passeiam, saem das salas. Isto constatamos na prática do estágio.
Conversamos individualmente com a maioria dos alunos de uma 7a série,
justamente, filhos destes pais com quem estávamos trabalhando. A maioria dos alunos
reclamou que os pais são muito nervosos, agressivos e que jogam os problemas nos filhos.
Muitos deles já pensaram em morrer e que isto aconteceu no momento em que não foram
compreendidos e nem respeitados em suas tristezas e angústias. Muitos adolescentes
falavam isto com lágrimas nos olhos . Dissemos isto aos pais, ao que uma mãe falou: "...
como é bom a gente ouvir isto pois nem sempre percebemos nossos modos de agir em
relação aos nossos filhos. A gente sabe que certas coisas eles não falam conosco porque
não confiam na gente. Que bom que está tendo este tipo de orientação na escola".
Comentamos com os pais que:
"... pais infelizes não podem criar filhos felizes. Neste caso, os filhos
serão felizes apenas na medida em que se separar dos pais infelizes.
Quanto mais felizes e realizados forem os pais, mais condições terão
de educar seus filhos". ( Moacir GADOTTI,1990:55)
Falando para os pais, eticamente, aquilo que sentimos em relação ao gritos dos
filhos, declarados ou silenciosos em relação a questão da separação, a maioria dos
adolescentes sofrem muito por causa do abandono, não importa que seja da mãe ou da pai,
porém, na maioria das vezes, o abandono do lar por parte das mães é mais devastador do
que quando o pai é que abandona.
Pensamos que a escola deveria trabalhar mais de perto esta questão da família pois é
grande o número de adolescentes filhos de pais separados vivendo uma angustiante solidão.
Finalizando, falamos para aos pais da grande necessidade de que sejam referenciais de
honestidade, abertura, amor, diálogo e autoridade (não autoritarismo) para seus filhos. E
que os filhos esperam deles isto. Que cobrem, que exijam, mas amor e para o amor. Que o
adolescente sabe e sente quando os pais estão os orientando para a vida, mesmo que não
demonstrem isto.
É bem verdade que sempre existirá conflitos entre pais e filhos, fato este que pode
ser saudável. Como é maravilhoso observar que nesta rede de relacionamentos os filhos
tornam-se educadores dos seus pais e os pais tornam-se alunos de seus filhos e ambos
tornam-se cada vez mais humanos, próximos e amorosos.
Importante não esquecer que a maioria dos responsáveis que compareceram ao
encontro era composto pelas mães. Poucos pais. Interessante observar também o quanto isto
marca a vida da criança e do adolescente pois falam quase o tempo todo da mãe, quando
conversamos com eles. O pai é uma figura apagada, distante e quando muito agressiva e
silenciosa. Poucos adolescentes com os quais conversamos, tinham no pai um ponto de
apoio e um amigo. Isto é algo que não se está levando em conta , nem pela escola, nem
pelas famílias e nem pela sociedade em geral.
No final do encontro, deixamos como palavra final a consideração de Içami Tiba
falando em relação aos pais:
"... O que tem acontecido ultimamente é que os pais têm dado uma
educação muito mais na linha de fazer todas as vontades dos filhos,
porque não querem repetir a educação no estilo da que receberam,
altamente repressiva. Esquecendo de ver que as crianças e jovens de
hoje têm uma cabeça diferente da deles, aplicam regras que seriam
boas para si e não para os filhos.Com isso, os filhos ficam mais
folgados do que educados. Tem que se fazer uma diferenciação entre
o que os pais querem de bom para os filhos e os princípios da
educação. Esta deve Ter limites para que não fique uma criação
aleijada, que deixa o filho crescer sem responsabilidade. Se os pais
se sentirem constrangidos com algum gesto do filho e não o
corrigirem naquele momento, esse constrangimento vai aumentar e
se tornará incorrigível, porque o filho mais tarde não vai saber
quando está constrangendo outras pessoas. (Jornal de OPINIÃO,
p.19, 31 de agosto de 1998).
Terminado o encontro, os pais puderam Ter a oportunidade de conversar com os
professores de seus filhos.
O contato com os alunos e os vínculos já estavam bem firmados e nosso
relacionamento bastante familiar e simples permitiu-nos uma boa experiência quanto ao
acompanhamento de alguns alunos e os casos específicos de alunos com certas dificuldades
que a supervisão nos passou. Os alunos nos foram passados pelos professores via
supervisão.
Combinamos que, para podermos criar um vínculo mais profundo e aliviar aquela
sensação de "cair-de-pára-quedas", observaríamos os alunos com quem iríamos fazer o
acompanhamento nos intervalos, e em algumas aulas. Assim o procedemos e deu muito
certo porque os demais também se beneficiaram de nossa presença e nós percebemos o
aluno em certo sentido, no seu habitat "natural". Depois, trabalhamos um questionário com
todos os alunos da classe dando o resultado para aqueles que quisessem o retorno.
"A técnica do questionário é o elemento de pesquisa que
consiste em colher informes através de perguntas por escrito, a
respeito de um tema em estudo, a respeito de um indivíduo ou um
grupo de indivíduos. O questionário é ótimo recurso para recolher
dados pessoais a respeito do educando. É processo prático de
grande valor para investigar a conduta e o comportamento do
aluno. É usado para obter considerável número de informações
sobre grande número de alunos". (Imídeo G. NÉRICI, 1983:177)
A maioria dos adolescentes desejou conversar a sós conosco e foram muito sinceros
e abertos enquanto falavam. Importante neste momento é escutar e acolher, da forma mais
generosa, sincera e honesta possível pois é verdade que é verdade que cada pessoa é a
maior autoridade em sua própria vida. Muitos adolescentes chegavam fechados, tensos e
bastante nervosos e aos poucos... "o seu mais leve olhar vai me fazer facilmente
desabrochar apesar de Ter me fechado como um punho cerrado, você me abre sempre
pétala por pétala como a primavera abre tocando de leve , misteriosamente sua primeira
rosa". (E.E.Cummings).
Foi muito acertada a prática do teste pois nos revelou problemas comuns à turma e
em especial aos dois adolescentes da turma com os quais iríamos fazer o acompanhamento
de caso. Vale informar que grande número de adolescentes da turma são filhos de pais
separados e que este fato os deixa muito triste e com "um grande vazio no peito,
principalmente de noite", como disse um adolescente. Aqueles de famílias onde o pai bebe
ao relatar o fato, não conseguiram conter o choro. Quando o adolescente percebe que pode
se abri ele o faz mesmo e pareceu gostarem muito de conversar e partilhar algo de suas
vidas e dores.
De uma forma gratuita também desenvolvemos um questionário com alunos de uma
7a série. As impressões foram semelhantes. Observamos que a maioria das meninas
namoram com homens mais velhos significativamente, têm problemas com os pais de
aceitarem estes namoros e não conseguem dialogar em casa e muitas tentaram suicídio.
Muitos são filhos de pais distantes ou ausentes mesmo que presentes fisicamente. As mães
são agressivas e nervosas.
A maioria das meninas desejam casar-se o mais rápido possível. Quando
perguntamos sobre um sonho, a maioria colocou que desejariam casar-se logo. Têm em
geral 13 à 14 anos.
Os meninos são mais calados e se demonstraram se abrir mais com as mães.
Voltando ao estudo de caso. A partir da entrevista primeira que foi realizada por
ocasião do questionário aplicado, continuamos os encontros com os dois alunos que nos
foram encaminhados pela supervisão. Solicitamos a mesma que pedisse aos professores um
parecer sobre os alunos que nos foram encaminhados. Poucos professores nos deram
retorno. As mães ou responsáveis foram chamados mas somente uma compareceu. A outra
mãe para cada encontro dava uma desculpa e não compareceu.
Sempre que íamos até a sala de aula chamar os alunos com os quais estávamos
fazendo o acompanhamento, os demais perguntavam em coro: "...de novo? O que vocês
tanto conversam?" Como já tínhamos firmado um vínculo significativo com os
acompanhados, dissemos para a turma que estes alunos estavam querendo se conhecer
melhor e nós estávamos juntos partilhando nossas experiências de vida. Bastou dizer isto e
a turma se tranqüilizou.
Para fazer os acompanhamentos de caso, nossa equipe se organizou de tal forma que
durante todos os dias da semana, um de nós estivesse na escola para o trabalho de
orientação e acompanhamento. Não somente para o estudo de caso, mas para outros alunos
que por ventura quisessem conversar conosco. Até porque se todos os componentes da
equipe de estágio estivesse na escola não haveria lugar para realizar os encontros com os
alunos pois encontrar uma sala razoavelmente adequada para fazer as entrevistas foi um
custo. Mesmo assim fomos bem servidos com salas com possibilidade de privacidade. Até
na sala de direção fizemos entrevistas. Constatamos que os alunos, quando estávamos
conversando numa salada silenciosa e com privacidade, eles se abriram mais. O ambiente
ajuda muito, por isto é necessário que o local o mais silencioso e organizado possível e que
o orientador demonstre também com seu corpo a disposição de estar ouvindo e de fato
querendo ajudar o orientado, pois do contrário, a pessoa e aqui no caso, o adolescente
percebe se o orientador está com pressa, sono ou impaciente por qualquer motivo.
Muitos alunos nos procuraram. Como foi o caso da aluna F. O. , da 7a série com 13
anos que tem problemas em casa com o pai e que já tentou se matar várias vezes:
" Muitas vezes, a pessoa necessita apenas de ser escutada
para que possa ordenar e organizar sua própria experiência.
Quando ela encontra alguém pela frente disposto simplesmente a
parar e escutá-la, começa a dizer coisas, antes de mais nada, para
ela mesma. À medida que vai falando, escuta sua própria voz e vai
colocando em ordem pensamentos que, contidos, estavam confusos.
Sem dizermos nada, ela não só ordena sua experiência, como
também se compreende melhor e chega a encontrar uma saída para
seus problemas. Ao final de seu "monólogo", sua sensação é de
alegria por Ter achado a luz no final do túnel".
(MIRANDA, 1988: 77).
Depois de ouvir o relato da adolescente acima citada, perguntamos se queria
conversar outras vezes e se gostaria de ser ajudada. Disse-nos que estava se mudando de Ji-
Paraná mas que a conversa que teve conosco tinha ajudado-a muito.
Sentimos com este caso e outros de nossa equipe, o quanto faz falta a presença do
Orientador Educacional na escola como fonte de apoio aos alunos e professores. Ambos
sentem-se perdidos diante das dificuldades de relacionamento e de aprendizagem, por
exemplo.
Em relação ao estudo de casos, acompanhamos dois adolescentes da 6a série "F".
Depois de aplicarmos a Anamnese e conversarmos com os responsáveis tivemos mais
recursos de fazer a síntese de cada caso e fornecer uma orientação.
Acompanhando o aluno W., 15 anos da 6a série "F" através da Anamnese e de
entrevistas feitas posteriormente, e conversando com a responsável do mesmo, a avó,
percebemos que ele parece depender muito da avó e espera que ela faça as coisas por ele. A
avó mesma admitiu que o superprotege e reconhece que devido as dificuldades pelas quais
o neto passou ela o "mimou" por demais e que agora percebe o quanto isto o prejudicou e
está prejudicando. Que apesar de Ter ido a tantos psicólogos somente agora percebe que
precisa mudar de atitudes para que o neto assuma as coisas por si próprio. Que não poderá
comprar dele responsabilidade diante do compromisso que ele mesmo tem que assumir. A
avó admitiu que pagava para que ele estudasse e fizesse as tarefas da escola.
Informamos ainda que no momento o W., apresenta as seguintes dificuldades: não
teve freqüência em várias aulas da disciplina de Ciências, não participando das atividades
propostas pela professora. Não demonstra interesse em outras disciplinas de forma mais ou
menos acentuada. Parece demonstrar interesse em disciplinas em que os professores o
motivam e interpelam pessoalmente. Nas disciplinas de História, Português e Educação
Artística vem melhorando o desempenho. Mantém um bom relacionamento com os colegas
de sala de aula e é estimado por eles.
Diante das dificuldades acima relacionadas, é provável que o W., necessite se
acompanhado de forma a que ele mesmo aprenda a necessidade de se organizar e de se
sentir responsável por seus próprios deveres e obrigações.
Ele mesmo afirmou durante a anamnese e outras entrevistas que fizemos, que lhe
falta "vontade de fazer as coisas". Parece estar consciente do fato de que em algumas
disciplinas é desmotivado, não participando das atividades e reconhece que isto prejudica
seu desempenho.
É provável que o excesso de cobrança ou a superproteção dificilmente irão
colaborar para o crescimento e o amadurecimento do referido aluno. Pensamos que, no
momento, a melhor forma de ajudá-lo é acompanhar desafiando-o ao crescimento de forma
gradativa, processual e gratuita.
Não apresenta dificuldades maiores em relação a aprendizagem em sala de aula.
A avó do W., pediu este diagnóstico e orientações e nós o fizemos por escrito pela
supervisora da escola.
Depois da Anamnese continuamos fazendo acompanhamento com o W., por
algumas semanas, a pedido da avó. Sentimos que houve progresso em relação aos estudos e
hábitos de organização e responsabilidade.
O segundo adolescente que acompanhamos para o estudo de caso é o aluno F,. de
12 anos, também da 6a série "F". Ele mesmo pediu para conversar mais depois da primeira
conversa a partir do questionário feito com todos os alunos de sua sala. Combinamos que
iríamos fazer uma conversa mais longa e ele aceitou dizendo que precisa conversar com
alguém. E assim aplicamos a anamnese e constatamos que o F,. é filho de pais separados.
Ele mesmo diz que está difícil aceitar a separação e que somente agora começa a aceitar.
Diz ainda que gostaria muito que seus pais vivessem juntos novamente. Desde o início
reclama muito da solidão e do vazio que sente, principalmente à noite e pergunta: "Você
também sente vazio e solidão, assim como um buraco na barriga?" A resposta afirmativa
arrancou um sorriso de seus lábios.
Logo no início da separação F,. foi morar com sua mãe e seu padrasto. Se
desentendeu com o padrasto e a mãe o mandou para o pai. Sentiu muito e achou injusta a
decisão da mãe. Atualmente vive com o pai mas sente muita falta da mãe e não gosta da
madrasta porque é muito asia, pessoa chata, em linguagem popular. Disse-nos que gosta
muito de conversar com pessoas mais velhas e principalmente com sua tia, que quando
conversa com alguém ele se acalma. Afirma que tem muito medo da solidão e de ficar
sozinho. A mãe do F,. foi chamada várias vezes na escola para conversar conosco mas não
compareceu alegando falta de tempo.
Por duas vezes, durante os dias em que estávamos atendendo na escola, o F,.
apareceu na sala de supervisão acompanhado de um professor pois F,. estava agredindo um
colega e brigando em sala de aula. Ele mesmo diz que quando fica nervoso começa a
"endoidar, falo alto e grito e desconto nas pessoas... não consigo parar.. tento me
controlar mas não consigo..."
Diante de tudo o que conseguimos observar e sentir, é bem provável que o aluno F,.
atualmente apresenta dificuldades em lidar com a questão da separação dos seus pais e
como não aceita o fato, fica angustiado e nervoso, não conseguindo lidar com os conflitos
que aparecem quando se relaciona com seus colegas de sala de aula e na escola. Ele mesmo
admite que tem dificuldade de relacionar-se com a maioria de seus colegas. Expressa que
não gostaria de brigar com ninguém e sofre com isto. Não apresenta problemas na área da
aprendizagem, pelo contrário. Se expressa com facilidade. É comunicativo.
Olhando para a realidade do aluno F,. podemos indicar que ele necessita ser
acompanhado mais de perto no sentido de que tenha oportunidade de falar de seus medos e
de sua revolta em relação à separação dos pais. Percebemos esta necessidade pois no final
da anamnese e das outras entrevistas que tivemos com ele, afirmou várias vezes: "Tô mais
leve agora, tô mais contente". Este trabalho de acompanhamento precisaria ser feito
juntamente com a mãe pois ele reclama muito a ausência dela em sua vida. Aproveitar que
ele gosta muito da escola e diz sentir-se muito bem nela, apesar das dificuldades com os
companheiros. Precisa ser tocado, amado e querido. Precisa sentir concretamente que não
está sozinho. No final da anamnese, o abraçamos fortemente e ele chorou copiosamente.
Possivelmente, toda a forma agressiva com que reage diante de algumas situações concretas
em casa, na sala de aula e na escola seja de fato um grito de socorro sobre si mesmo
querendo dizer que ele existe, que está vivo, que olhem para ele.
Este aluno, como tantos outros sofrem com a questão da separação dos pais e nos
parece que esta realidade não está sendo levada em consideração em geral na escola.
É bem verdade que quando um adulto e um adolescente se encontram, criam laços
significativos em que se mesclam alegria e compaixão. Não importa quão complicado, quão
assustador ou desencorajador, quão incerto se revele o processo - a possibilidade de um
encontro está sempre presente quando um adulto depõe de coragem, força e percepção. A
vida de encontros é um processo de mão dupla. É um confronto pessoa-pessoa no qual o
adolescente e o adulto buscam revelar significados ocultos; expressar os verdadeiros
sentimentos e pensamentos; criar um clima de aprendizagem em que os conflitos, desafios,
e insights e a consciência se integram à sensibilidade e à compaixão. Através deste
encontro, o adolescente é levado à maturidade e a uma identidade saudável.
RELATÓRIO DA II PARTE DO ESTÁGIO EM ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL
Estamos retornando à Escola em que realizamos a primeira parte de nosso estágio.
Desta vez, referendados pelo significativo trabalho anterior. A acolhida é simples mas
sincera e atenciosa. Com a ausência da supervisora por motivos pessoais, a escola está um
pouco tumultuada. Há alguém que viria substituí-la mas ninguém sabe se virá mesmo.
Diante disto, quem me atente é o próprio diretor que me acolhe e encaminha diante da
realidade que a escola está vivendo no momento.
Tive que voltar mais algumas vezes para terminar de organizar o roteiro em relação
às atividades de Orientação Vocacional e mesmo do Atendimento ao SOE. Às vezes tive a
impressão de que estava prestando um favor à escola. Como de fato, necessitava realizar o
estágio, avancei com ousadia e dinamismo. No final, a experiência foi muito rica e
significativa.
”Eu me sinto aprisionado, sem onde ir, sem rumo, cercado pelo mar... estou
travando uma batalha sentimental comigo mesmo" . (F., 16 anos, aluno do Ensino Médio)
Em relação ao atendimento ao SOE, me coloquei à disposição da escola.
Conversando com a vice-diretora, ficou decidido que eu iria trabalhar uma pequena fala de
conscientização com alunos de 5a ao 3o ano do Ensino Médio. Fiquei contente por estar
prestando um serviço que viesse trazer uma atividade alternativa aos alunos. Esta fala teve
como objetivo, conscientizar os alunos em relação ao cuidado com a escola, regras de
conduta para uma pessoa conviver bem com as outras, necessidade de se trabalhar pela paz
em nós mesmos, em nossas casas e em nossa escola e finalmente, colaborar para que o
ambiente ao nosso redor seja mais gostoso e humano.
Geralmente , nesta atividade de atendimento ao SOE, iniciamos com uma
apresentação simples minha e dos alunos: idade, gostos, receios e o que cada um mais
gostava de fazer. Logo após, sem pressa e tranqüilamente, com uma música de fundo,
fizemos um momento de relax. Os menores, no início achavam graça, mas depois
conseguiam fazer silêncio e foi possível fazer um bom trabalho. Depois seguimos com a
dinâmica da folha branca onde cada aluno a comparou com sua vida e com o que estava
fazendo dela e com ela. Motivamos a cada um que fizesse uma obra de arte com a folha,
uma espécie de origame. Tudo com um fundo musical para se criar o clima. A participação
foi muito rica em quase todas as turmas. Fizemos a exposição das obras e cada um pode
apreciar e refletimos juntos sobre a necessidade de se aproveitar as energias que temos para
o bem e para a vida e de compreender porque agimos desta ou daquela maneira quando não
estamos bem. A partilha foi muito bonita. Continuamos desenvolvendo a dinâmica "Era
uma vez uma escola"... Cada aluno recebia uma folha e escrevia frase acima no início da
mesma. Dado um sinal, continuava a frase e depois passava para o colega a sua direita. A
garotada se entusiasmou. Muitos também aproveitaram o momento para escrever besteiras
e avacalhar com os colegas. Aproveitamos as frases e palavras para reflexionar com eles.
Sem impor moralismos, conseguimos ajudá-los a perceber que a violência seja verbal, seja
física é um círculo vicioso que aumenta sempre que a estimulamos. Ainda cantamos,
brincamos e no final, sempre com cada turma, procuramos construir um compromisso
diante daquilos que eles achavam que precisa de melhoras. Como tínhamos o tempo de uma
aula para cada turma, aproveitamos bem cada momento. Segundo os próprios alunos, o que
mais valeu a pena foi o fato de eles terem uma oportunidade de um espaço diferente para
falar de si mesmos sem imposições, gritos. Na verdade, nós como professor, apenas
mediamos e motivamos. Deu certo. Segue abaixo uma análise que foi passada para a
escola, a pedido da própria direção depois do trabalho feito com todas as turmas de 5a à 8a
séries e do 10 ao 30 ano do Ensino Médio.
Preferimos denominar o trabalho de "encontro", visto que, segundo os alunos
mesmos, "palestra" na maioria das vezes combina com sono, chatice, uma pessoa falando
muito tempo, coisa enjoada, lição de moral.
Ao longo dos encontros, procuramos não falar muito mas, através de dinâmicas de
sensibilização e conscientização possibilitar um espaço de convivência sadia e prazerosa.
Trabalhamos com o corpo, gestos, movimentos, atitudes positivas diante da vida, silêncio e
relaxamento. É bem verdade que isto foi uma iniciativa que precisa ser alimentada e
continuada.
É gratificante perceber que a escola esteja preocupada com a formação integral dos
alunos e o desenvolvimento humano-afetivo dos mesmos.
Sabendo que toda observação é limitada e sendo consciente disto, tomamos a
liberdade de elencar o que percebemos de mais significativo no trabalhos realizado com as
turmas, no contato direto com os alunos, e nas avaliações feitas oralmente e escritas.
Avaliações não para cobrar e sim para perceber quais os gritos e necessidades dos alunos.
Percebemos que as turmas que já haviam tido conosco um contato maior no
primeiro semestre por ocasião do estagio I, estavam mais calmas, mais interessadas e
participativas, em geral. Estavam mais à vontade. Isto prova a teoria de que qualquer
trabalho de conscientização e sensibilização precisa ser continuado e processual.
As turmas em que os alunos foram mais motivados para vir ao encontro, também
responderam de forma mais consciente e animada. Isto também ratifica a teoria de que o
adolescente em geral, quando tem um referencial de autoridade que se mostra presente,
desafia e motiva de forma amiga e honesta, desperta no adolescente o desejo de participar e
de querer se conhecer e por sua vez crescer e se tornar melhor. Amadurece de forma
saudável. De que o aluno precisa sentir quem é quem na escola. Quem é a autoridade, no
sentido de referencial de coordenação e animação da comunidade educativa. É bem verdade
que o adolescente necessita de referenciais numa sociedade com crise generalizada de
anomia.
De algumas turmas compareceram poucos alunos. Com exceção de uma 7a série, a
maioria dos alunos ausentes foi do Ensino Médio. Parece que foram pouco motivados.
Muitos aproveitaram o momento para ir embora ou matar aula. Os que compareceram
aproveitaram o momento.
Os alunos de 5a e 6a reclamaram muito da falta de educação e da brutalização entre
eles mesmos. Parece que aqui está um grito muito sério pois em geral eles já vêm de um
clima violento e hostil e continuam este círculo vicioso na escola. Pensamos que as relações
humanas trabalhadas dentro do contexto da escola e da realidade dos adolescentes seria
algo a se pensar com certa urgência. Dentro desta realidade, é certo o que diz Maria Helena
Novaes quando afirma que a aprendizagem é um processo dinâmico que implica na
modificação adaptativa do comportamento do indivíduo e envolve experiência de vida além
de conhecimentos.
Com as 7as e 8as séries o trabalho foi tranqüilo e não apareceram dificuldades
maiores. Alguns alunos tiveram dificuldade de concentração e disciplina. Em geral
demonstraram gostar de estar convivendo fora de sala de aula com os colegas num espaço
diferente. Participantes e ativos, partilharam sobre suas vidas, temores, sexualidade e
desejos de serem respeitados.
Quanto aos alunos do Ensino Médio, foram os que mais faltaram nos encontros.
Bastante apáticos e pouco interessados. Com uma ou duas turmas houve participação ativa
e reclamaram porque o tempo foi curto. Conversando com outros professores, a colocação
foi a mesma de que os alunos do Ensino Médio em geral são muito parados e participam
muito pouco. Não cabe aqui reflexões maiores sobre esta realidade. Nos parece que em
geral a fala da escola não toca a realidade juvenil.
Foi um pedido geral dos alunos para que a escola tivesse mais espaços de encontro
como os que realizamos. Espaços de convivência para estarem juntos, contando com a
presença de um professor ou motivador. Estão conscientes de que a escola têm bons
professores mas parecem desejosos de outras experiências significativas.
Levando em consideração o calor, a realidade do mundo dos adolescentes, mundo
de movimentos e ebulição, psicológica e biológica, podemos dizer que o trabalho foi
significativo e marcante por possibilitar aos alunos um momento de experiência sadia e
descontraída de convivência. Oxalá a escola continue neste processo de oferecer aos alunos
oportunidades de crescimento intelectual, afetivo e social. Parece não ser necessário coisas
complicadas para se trabalhar significativamente com os adolescentes. É preciso sim,
paciência abertura e respeito por eles. É desafiante mas vale a pena quando os vemos
partilhar a vida e seus temores com naturalidade e profundidade.
Foi interessante que em geral os alunos reclamaram da falta de respeito em relação
aos professores e de alguns professores que são muito agressivos e que gritam muito com
os alunos. Parece que esta realidade a escola precisaria retomar pois desde o primeiro
contato que tivemos com os alunos eles vêm reclamando muito quanto a isto. Pensamos
que não se trata de dar razão aos alunos e sim tornar a sala de aula um espaço mais humano
e educativo.
Os alunos demonstraram saber de suas limitações mas pensamos que necessitam
dentro de um trabalho sistemático serem orientados e desafiados a relacionamentos menos
agressivos e violentos. Mesmo que levemos em consideração que o adolescente passa por
processos de mudança muito fortes e intensos, não necessariamente ele tem que agredir e
dar vazão à sua agressidade como quer e deseja. Necessita ser orientado e educado para
crescer e amadurecer. Quem sabe ai, a escola estaria dando um importante
acompanhamento ao aluno como ser que deseja muito mais do que conhecimento teóricos.
Neste desejo de orientar para a vida a partir da realidade do adolescente e do seu
contexto sócio-cultural, partimos para o trabalho de Orientação Vocacional com os alunos
do 30 ano do Ensino Médio.
Iniciamos o processo de Orientação Vocacional entrando em contato com os alunos
do 3o ano, do turno vespertino. Alunos simpáticos, acolhedores se mostraram dispostos a
participar da O.V. Foi um primeiro encontro. Na verdade, como estávamos na escola
fazendo um trabalho sobre a "Questão do Plebiscito da Dívida Externa" aproveitamos para
ligar o tema com a questão da cidadania e dos ideais e projetos, pois acreditamos que nunca
podemos isolar as coisas e tampouco a vida.
Para saber quantos alunos desejavam participar da O.V. falamos do projeto, de
como seria desenvolvido e dos objetivos da Orientação Vocacional em relação aos alunos
que estão terminando o Ensino Médio e ou estão cursando o Ensino Médio. Falamos
também da riqueza do projeto e do bem que poderia trazer aos alunos em relação ao futuro
de suas vidas a partir da realidade atual que estão vivendo. Para responsabilizar aqueles que
desejavam fazer a O.V. aplicamos as seguintes questões e no final pedimos que eles
colocassem os nomes: Você deseja participar dos encontros de Orientação Vocacional? Por
que? Você já recebeu ou buscou alguma orientação sobre sua vida ou seu futuro
profissional? Em relação a este último ano de estudos no Ensino Médio, como você se
sente? Deseja perguntar algo que despertou tua curiosidade em relação a Orientação
Vocacional?
Em relação as respostas que os alunos deram podemos fazer as seguintes
observações: dos 30 alunos da turma, apenas dois não quiseram fazer os encontros. Dois
rapazes. A maioria quer participar dos encontros para conhecer melhor a personalidade,
abrir os horizontes em relação ao futuro e se encontrar profissionalmente. Uns 30% já
tiveram alguma informação em relação ao futuro profissional através de leitura de livros e
revistas, de palestras e cursos. Os outros 70% não tinham recebido até o exato momento
nenhuma orientação vocacional. Em relação a este último ano de estudos no ensino médio,
se sentem felizes mas muito preocupados, ansiosos e nervosos em relação ao futuro
profissional, mercado de trabalho, vestibular. A maioria está ansiosa em relação ao
vestibular e preocupados em fazer a opção certa. Diante deste quadro, orientamos que os
encontros de orientação vocacional poderia ajudar a esclarecer dúvidas enquanto ao
conhecimento de suas próprias aptidões e conhecimento das várias profissões, mercado de
trabalho e tendências de mercado. Deixamos claro que os encontros de orientação
vocacional seriam meios mas não precisamente respostas para todas as dúvidas.
Diante destes esclarecimentos todos, partimos para o primeiro encontro. Neste,
procuramos acolher a turma e deixá-la bem à vontade, fazendo uma brincadeira para
relaxar. Logo após, fizemos algumas observações em relação aos encontros de orientação
vocacional dizendo que escolher uma profissão é começar a rabiscar um projeto de vida que
implica riscos e possibilidades. Que estabelecer um projeto de vida implica em renunciar a
outras escolhas possíveis. Que uma pessoa pode amar várias profissões e Ter que escolher
uma. Que decidir é um processo e um ato de coragem que implica uma escolha e encarar o
conflito que se trava dentro de cada um. Que é muito salutar conversar com pais,
professores e profissionais das diversas áreas. Que o diálogo sempre enriquece mas deve
ser a própria pessoa que deverá tomar a decisão final. Que avaliar as profissões mais
rentáveis e em ascensão no mercado pode ajudar mas é preciso Ter cuidado pois o que está
em alta hoje, amanhã pode não estar. Que o que ajuda muito é buscar apoio, se conhecer e
estudar muito.
Após estas colocações, com um fundo musical, fizemos a dinâmica do "Palito de
Fósforo", onde cada aluno tinha que acender o palito e falar de si mesmo o tempo que o
palito permanecesse aceso. Alguns não quiseram participar. Percebemos grande dificuldade
que eles demonstram no falar de si mesmos. Em geral falaram de sua idade, família e
sonhos. Porém, o que apareceu em primeiro lugar nas falas dos alunos foi a questão de
Deus e da religião. Característica muito forte da turma. Os alunos (rapazes) não quiseram
falar de si mesmos. Depois demos mais um tempo para falar da dinâmica e eles colocaram
que é muito difícil falar de si mesmos e que na sala de aula não tinham oportunidade para
isto e nem confiança para tal. Percebendo esta realidade da turma, procuramos não forçar a
barra e ir com paciência favorecendo momentos de partilha durante todas as atividades
realizadas.
Na continuação, pedimos que cada um se imaginasse como um "ET" que acabou de
chegar a uma cidade sendo este seu primeiro contato com a terra. Perguntamos como ele,
sendo um ET, veria o mundo das profissões e escolhesse três. Demos um tempo. Silêncio e
um fundo musical agradável. No princípio acharam super engraçado mas depois entraram
no clima e a coisa fluiu. A partilha foi super interessante e a partir daí cada um já começou
a dar-se conta que a imaginação ajuda muito e que as dinâmicas podem ajudar a burilar
nossos desejos, sonhos e aptidões. A maioria partilhou de uma forma descontraída. Neste
clima, aplicamos o primeiro teste de personalidade "Quem sou eu?", tirado do Guia do
Estudante - Profissões e Mercado de Trabalho 2000 . O teste traz a personalidade como
resultado da combinação de oito tipos básicos de temperamento: extrovertido x
introvertido, racional x emotivo, perspectivo x intuitivo, analítico x perspicaz. O teste
possibilita cada aluno se conhecer melhor e indica quais as profissões que mais combinam
com o jeito de ser de cada um. Aplicamos o teste mas os alunos tiveram grande dificuldade
de compreender as questões do teste e daí não foi possível terminá-lo e tampouco fazer a
correção do mesmo. Ficamos frustados por isto e como o tempo do encontro já estava
terminando, combinamos que retomaríamos o teste no próximo encontro. Os alunos porém
queriam continuar. Queriam o resultado. Ficaram um pouco frustrados também. Como a
frustração também é salutar, encerramos o encontro com saldo positivo em favor de todos.
Prosseguindo nossos encontros, neste os alunos já estão mais a vontade e
manifestam a alegria de estar participando. Incialmente fizemos um momento de relax para
sentir o corpo, a vida e os movimentos do ser: sensibilidade. Retomamos o encontro
anterior e fizemos uma pequena avaliação. Os alunos estão contente e dizem que está
valendo a pena participar. Depois desta conversa, ponderamos as seguintes questões: que
em relação aos testes, podemos dizer que eles são instrumentos, meios para ajudar a
esclarecer algumas tendências que já trazemos dentro de nós. Que os testes dependem
muito do momento que estamos vivendo, sentimentos, fase da vida. Que vocação é aquilo
para o qual nós somos chamados a ser em relação à profissão. Que aptidão é aquilo para
qual eu vivo, que tenho facilidade. Que interesse cada um pode Ter vários, por várias
profissões, mas precisa-se priorizar.
Pensamos ser muito útil fazer os esclarecimentos acima. Após animamos a galera
com alguns movimentos de ginástica onde os alunos ficavam dois a dois de costas e um
levantando o outro numa gostosa gangorra e depois outros movimentos. Gostaram imenso e
riram a vontade. Este contato com o corpo do outro possibilitou uma maior abertura e
interação entre eles mesmos. Há alunos que estão juntos dois anos e se conhecem apenas
pelo primeiro nome.
Num terceiro momento, novamente aplicamos o teste de personalidade, desta vez
lendo com eles, pergunta por pergunta e esperando que todos as respondessem para que
depois pudéssemos prosseguir. Deu certo e tivemos êxito. Em seguida, com a posse do
escore pedimos que fizessem grupos de três alunos para que corrigissem . Assessoramos
este momento de correção e de identificação. A maior dificuldade que tiveram foi mesmo
quanto à interpretação. No geral, ficaram contentes pois se sentiram identificados com o
resultado. Colocamos que este trabalho de descoberta da personalidade é trabalho de uma
vida inteira, que é um processo que precisa ser alimentado e construído. Que a
personalidade é algo que vamos construindo e desenvolvendo.
Finalizamos este encontro com a dinâmica do "Guia do cego", muito conhecida e
não necessária de explicações maiores. Participaram com intensidade. Salientaram na
partilha, que a dinâmica vem bem de encontro à realidade deles mesmos: `as vezes se
sentem como cegos e que necessitam de orientação mas tem dificuldade de confiar, de que
existem poucas pessoas para o serviço de acompanhar. Gostaram de conduzir muito mais
do que serem conduzidos, justamente porque tem dificuldade de confiar. Durante o avançar
dos encontros percebemos que eles também foram se soltando e participando mais. Para
fechar o encontro, fizemos propaganda da "Mesa Redonda" que iria acontecer no próximo
encontro, nas dependências da ULBRA. Explicamos os objetivos e a importância do
encontro.
Juntamente com o ônibus, os alunos e uma professora da escola que nos
acompanhou, às 13 horas do dia 04.09., rumamos para a ULBRA. Este encontro teria como
objetivo central possibilitar aos alunos um contato com profissionais de diversas áreas que
trabalham em nossa cidade: um administrador, um professor de informática, um contador e
uma médica veterinária. Os profissionais foram muito claros e objetivos em suas
colocações. Em geral os alunos fizeram poucas perguntas mas colocaram que a mesa
redonda foi muito esclarecedora para eles. No final, na ULBRA mesmo, fizemos uma
avaliação com os alunos e eles colocaram que tudo foi válido. No entanto, disseram eles,
alguns alunos tinham perguntas mas ficaram com medo de se manifestar. Acharam que
poderia Ter havido um momento de entrosamento com os alunos do CEDUSP que também
estavam participando da mesa redonda. No final, como faltava um tempo para que o ônibus
viesse buscá-los, a Nara mostrou para nós as dependências dos prédios da ULBRA e do
CEDUSP explicando um pouco a organização da escola e da própria faculdade. Na
conversa informal os alunos disseram que gostaram mais do contador pois foi o que brincou
com a turma e foi capaz de estabelecer um relacionamento mais simpático e lúdico com os
mesmos. A professora da Escola Aluízio Ferreira que nos acompanhou os alunos no final
do momento de partilha que tivemos disse que eles deveriam exigir estruturas boas na
escola pública onde estudam. Porém, não somente exigir mas acima de tudo, zelar por
aquilo que já possuem.
No encontro seguinte os alunos estavam um pouco desanimados. Procuramos
conversar com eles. Às vezes estão assim mesmo: apáticos e desejam somente ficar em
silêncio. Resta saber se este silêncio é um grito de socorro ou uma necessidade.
Iniciamos o encontro com um momento de ginástica para sentir o corpo, relaxar e
deixar os alunos à vontade. Com um fundo musical colocamos figuras variadas no chão que
demonstravam situações inusitadas da vida de um ser humano. Desejamos trabalhar com
esta dinâmica as questões das escolhas, identificação, gostos, o momento presente que estão
vivendo, situação pessoal, futuro e perspectivas. Os alunos partilharam bastante, no sentido
de se identificarem com as gravuras, por exemplo: casamento próximo (medos, sonhos),
vida de casada com mais sentido e Ter uma casa própria, identificação profissional,
recordações dolorosas da infância que estão trabalhando para aceitar e mudar, dificuldades
espirituais e materiais para viver uma vida decente, momento intenso de felicidade, desejo e
busca de um espaço para ficar só, ás vezes, chamado à responsabilidade para enfrentar a
vida e preocupação com o futuro. Foi um exercício de escuta muito significativo.
Prosseguimos com a dinâmica "do auto-retrato", com o objetivo de continuar
desenvolvendo maior consciência de si mesmo e de sua história pessoal. Pedimos para que
cada um desenhasse um homem ou uma mulher conforme o seu sexo. Diante da cabeça
deveria escrever três idéias que jamais desejaria esquecer; diante da boca, três expressões
que teve que se arrepender na vida por Ter falado; diante dos olhos, três coisas que viu e
que mais o impressionou; diante do coração, pessoas que ama e que gostaria que nunca
saíssem do seu coração; diante das mãos, coisas que fez de bom e que nunca serão
esquecidas; diante dos pés, quais foram as piores coisas que fez e que se arrepende de Ter
feito. Tiveram dificuldades de resolver algumas questões, em especial de se lembrar ou
relatar as coisas desagradáveis que fizeram. Foi feita uma partilha dois a dois e percebemos
o quanto os alunos continuam apreciando momentos que lhes possibilitem um
conhecimento mútuo. Continuamos as atividades sugerindo a eles que fizessem uma
viagem imaginária. O objetivo deste momento foi de experimentar papéis profissionais
distintos a partir da pergunta: " Sonhei que era um profissional, como eu vivia?" Onde se
vê? Quem são meus chefes? Quem são meus amigos e parceiros? Qual a tarefa que lhe é
mais simpática? Qual você menos gosta? Quando você volta para casa o que conta para seu
parceiro e filhos? Depois de viajarem, fizemos o momento de partilha e para muitos, estava
ficando cada vez mais claro a identificação profissional e em relação aos alunos com a vida
bastante definida (as alunas casadas) surge cada vez mais a idéia de que o casamento não
corta a possibilidade de crescer pessoal e profissionalmente, mesmo que mais exigente, é
verdade. Assim, com estas dinâmicas cada começava a redefinir seu sonhos e espaços
utópicos.
Terminamos o encontro aplicando o Teste Inventário de Interesses. Em relação a
este, não tiveram dificuldade de interpretação pois alguém já havia aplicado neles, este
mesmo teste. Apenas que ficaram frustrados pois o aplicador não foi capaz de encaminhar
satisfatoriamente . Aplicamos o teste e a reação dos alunos foi tranqüila. Solicitaram apenas
que o resultado fosse repassado com tempo esclarecendo as dúvidas dos alunos.
Nosso próximo encontro foi na ULBRA. Compareceram apenas 15 alunos dos 28
que geralmente participam. Uma das causas para a pouca freqüência foi que muitos alunos
estavam participando do JOER e outros tinham outras atividades. A professora Asta, com
sua paciência e calma características, aplicou nos alunos o Teste Visual de Interesses
(Slides). No princípio algumas alunas tiveram dificuldade de compreensão mais aos poucos
tudo foi se esclarecendo.
Os alunos que participaram viram mais uma vez suas opções ou sonhos sendo
confirmados. A professora Asta foi muito feliz na aplicação do teste e os alunos gostaram
das pequenas colocações que ela foi colocando ao longo e no final do teste. A correção foi
feita no mesmo dia e os alunos puderam confirmar o que vêm percebendo ao longo dos
encontros. Neste encontro, novamente uma professora da escola acompanhou os alunos e
isto foi um fator positivo e a presença dela foi muito significativa pois fez algumas
colocações muito pertinentes em relação à história profissional dela mesma.
Estamos quase chegando ao final dos encontros. Partimos para o antepenúltimo.
Iniciamos este com a reflexão "Gente Cometa", que desafiou cada aluno a assumir com
responsabilidade a construção de seus próprios destinos, contra uma falsa teoria de que
nossos destinos estão traçados e que não temos muito mais a fazer do que esperar e nos
adaptar fatalisticamente ao acaso. Partilhamos impressões e sentimentos. A caminhada é
progressiva e exige paciência. Logo após este momento, corrigimos junto com os alunos o
Teste de Interesses (L.L. TRUSTONE). Não tiveram dificuldade para fazê-lo. O teste traz
um espaço para observações e solicitamos que eles escrevessem algo em relação aos
resultados dos testes que vêm fazendo. No geral estão contentes com o resultado e aqueles
que não foram sinceros, agora demonstram um pouco de descontentamento e
arrependimento pela falta de autenticidade. Procuramos fazer um processo de orientação
realista pois sabemos que, diante dos resultados, muitos terão grande dificuldade de fazer a
faculdade que desejam fazer. Mesmo assim, a oportunidade de se conhecer melhor está
sendo um dos pontos altos dos encontros e os alunos demonstram isto pela forma como
reagem nos encontros.
Continuamos este encontro com a dinâmica "O Jogo de Decisões", com o objetivo
de ajudar os alunos a perceber seu próprio processo de tomada de decisão. Explicamos aos
alunos que iríamos apresentar propostas, uma de cada vez, às quais cada participante
deveria responder negativa ou afirmativamente. Que seria necessário tomar decisões
rápidas. Solicitamos ao grupo que quando a resposta fosse afirmativa, deveriam dar três
passos para frente. No caso de reposta negativa, três passos para trás. Eis exemplos de
propostas para tomada de decisões e inventamos outras na hora e pedimos que eles mesmos
falassem outras durante a dinâmica: Viajar para São Paulo como doméstica ou jardineiro
por seis meses. Participar de um grupo de teatro, tendo de deixar este grupo, trabalhar num
posto médico todas as tardes, saber a verdade acerca do seu passado - você é filho adotivo,
experimentar maconha para ver como é, tomar parte numa ocupação de terra, dedicar parte
de sua vida a um trabalho voluntário numa região de fronteira... Gostaram imenso. A
questão que mais causou polêmica foi a do trabalho voluntário. Apareceu claro questões de
valores, desejos, capacidade de renúncia. Duas alunas disseram que jamais fariam isto e os
demais debateram com elas o valor de um trabalho voluntário. Não interferimos na
discussão mas no final procuramos colocar que isto é uma prática que está crescendo muito
entre os recém formados e a experiência bem sucedida de profissionais já formados que
atendem pessoas carentes um dia por semana, gratuitamente. Colocamos também a
necessidade do valor social do trabalho de voluntariado. Sem impor-mos verdades prontas,
a discussão foi muito pertinente.
Prosseguimos (fundo musical) pedindo que eles preenchessem uma folha com
pequenas perguntas simples mas profundas. Eles gostam tanto da música como de escrever.
Aproveitamos isto. As perguntas estavam relacionadas aos gostos deles, infância, presente,
desejos em relação ao futuro e algo das "Fábulas de Duss". A resposta de uma pergunta nos
chamou a atenção pela forma como os alunos se expressaram. pergunta é a seguinte: Para
escolher uma profissão levo em consideração... Aí os alunos colocaram: mercado de
trabalho, realização pessoal, vocação, desejos pessoais e necessidades dos outros, gostos e
tendências pessoais, ideais e valores pessoais, questão salarial, todos os testes que fizemos,
aptidões pessoais. Olhando para estas colocações se percebe que os alunos aproveitaram os
encontros para buscar referenciais para suas escolhas e situação atual de vida.
Terminamos o encontro passando uma folha de inscrição para aqueles que
desejassem Ter uma conversa pessoal. Tivemos 15 alunos inscritos. Uma aluna pediu:
"Mas o senhor faz as perguntas tá?"
Chegamos na escola no horário marcado. A partir da folha de inscrição que fizemos,
começamos chamar os alunos. No início ficaram um pouco nervosos e foram se soltando,
falando de suas vidas, dúvidas e temores. Ficamos na escola a tarde inteira atendendo os
O papel do Orientador Educacional na escola
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O papel do Orientador Educacional na escola

  • 1. INSTITUTO LUTERANO DE ENSINO SUPERIOR - ILES Coordenação de Pedagogia ESTÁGIO I - PRÁTICA DAS ATIVIDADES EM ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL I Locimar Massalai Acadêmico do Curso de Pedagogia do ILES Elide Piovesan Cechin Professora Orientadora Ji-Paraná - RO 2000
  • 2. Agradecer sempre foi e será a forma mais simples, extraordinária e exigente das almas que se reconhecem impotentes por si mesmas diante da complexidade do ser e do existir. Agradeço de coração ao Deus em quem sou, existo e me movo (cf. Atos dos Apóstolos, 17,28). Fora da presença Dele, minha vida seria um caos! Aos meus amigos e companheiros de sonho da Pastoral da Juventude, gente simples mas gente de verdade, e aqueles que em tempos de grande intolerância me convencem cada vez mais que acima de crenças e de ideologias, o que nos salvará é o AMOR: Érica, Rolse, Claudiney, Carlinhos, Vilmar, Márcia e Irmão Luciano. Um agradecimento especial às companheiras de estágio: Nara e Pati. Agradecer também à direção da Escola Aluízio Ferreira, aos professores e demais funcionários que de mostraram sempre muito atenciosos e abertos para que a experiência como estagiário fosse significativa. Aos alunos do Ensino Fundamental e Médio do período vespertino, um agradecimento especial pela abertura, carinho, respeito e amizade que demonstraram ao longo das atividades.
  • 3. Assim, o primeiro e o mais simples sentimento que quero compartilhar com você é minha satisfação quando consigo realmente escutar alguém. Creio que essa tem sido uma característica antiga em mim. Ocorrem-me meus primeiros dias de escola. Uma criança fazia uma pergunta à professora, que lhe dava uma resposta perfeita a uma pergunta completamente diferente. Nessas ocasiões, um sentimento de dor e de angústia sempre me envadia. Minha reação era: "Mais você nem mesmo a escutou!" Eu sentia uma espécie de desespero infantil diante da falta de comunicação que era e ainda é tão comum . Carl Rogers Professor, estou cansada de manifestar que preciso ser ouvida... ninguém me escuta. Não estou a fim de conselhos. Quero simplesmente dizer o que se passa comigo . Keila Ramos, adolescente, 12 anos
  • 4. APRESENTAÇÃO A grande carência de Orientadores Educacionais na Educação, compreendida em seu contexto maior não somente a nível de Rondônia , faz-nos acreditar que o Curso de Pedagogia com especialização em Orientação Educacional vem preencher uma lacuna imensa, não somente na falta destes profissionais mas também, na maneira distorcida de perceber sua função na escola. Neste sentido, Eny Marisa MAIA e Regina leite GARCIA reforçam o que estamos dizendo quando afirmam que a "... Preocupação dos Orientadores Educacionais com a definição de suas funções tem sido um tema constante. A insatisfação permanece e, com ela, a insatisfação pessoal. Ora, esta satisfação está a apontar para a necessidade de rever-se a profissão do Orientador Educacional no interior da escola. E essa tarefa não poderá chegar a bom termo se não se fizer uma revisão do próprio significado da escola na sociedade brasileira hoje". (Eny Marisa MAIA e Regina leite GARCIA , 1993:07). Se de um lado, a Prática do Estágio Supervisionado em Orientação Educacional permite a nós acadêmicos do curso de Pedagogia, um contato direto com certo grau de profundidade na realidade concreta de uma comunidade educativa, ou seja, um contato significativo com alunos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, bem como de seus professores e com os pais destes alunos, é verdade também que permite à Escola que acolhe e recebe os estagiários, uma experiência da verdadeira especificidade do Orientador Educacional, do quanto este profissional é importante e vital dentro de uma comunidade educativa e do quanto é necessário resgatar a identidade deste profissional da educação . Penso então, que estas 300 horas deste Estágio em Práticas de Atividades em Orientação Educacional são significativas porque nos permitem mesmo que por pouco tempo, sintonizar com a realidade de uma escola concreta e desde ela perceber o que poderemos realizar na educação enquanto Orientadores Educacionais e os desafios e conflitos que vamos encontrar diante de uma situação que não é meramente de um intimismo psicológico e individualizante, mas que compreende implicações ontológicas, políticas e históricas, compreendidas na necessidade de se ajudar a construir um espaço educacional menos fragmentado e com
  • 5. profissionais cônscios de suas funções e de como é importante o inter-relacionamento entre todos os que trabalham em educação para que esta seja de fato, de qualidade e traga sentido de vida aos educandos. A tudo isto, a Prática do Estágio em Orientação Educacional nos proporciona um mergulho que se fará com maior ou menor intensidade dependendo da atuação, compromisso e competência de cada um. Orientar o educando para a vida é um parto, mas vale o desafio quando nosso objetivo maior é ajudá-lo a que seja ele mesmo e que se construa.
  • 6. RESUMO Fazer a experiência de um estágio é tarefa exigente. Cremos que o mais desafiador seja teorizar a experiência, organizar as idéias dando-lhes coerência sem perder a vida e o significado diante do rigor científico. Todo o processo do Estágio em Orientação Educacional iniciou com uma preparação teórica de buscas e perspectivas. Munidos deste e de outros instrumentos, fomos enviados às escolas. Observando a realidade, percebemos o quanto as escolas necessitam de Orientadores Educacionais e quanto caminho precisa ser feito para que estes sejam respeitados enquanto profissionais da Educação com identidade própria e vitais na construção de uma educação de mais qualidade e sentido. Depois de vista e sentida a realidade, durante os dois semestres de estágio, os projetos foram aparecendo de acordo com as exigências do próprio estágio e da necessidade da escola. Esta interação foi muito significativa . Trabalhamos com toda a comunidade educativa: pais, professores, alunos do Ensino Fundamental e Médio, funcionários da escola e direção. Tudo dentro de uma perspectiva de ajudar a comunidade educativa a crescer conscientemente, a se tornar mais humana e significativa. O atendimento de casos e outros acompanhamento com alunos da escola foi significativo e sentimos que os alunos estão de fato buscando se conhecer melhor. Nos organizamos com um horário para que pudéssemos atender bem os alunos, devido a falta de um local adequado para o atendimento e acompanhamento dos alunos. Ficou muito presente em nós o contato simples, aberto e significativo entre os alunos do Ensino Fundamental e Médio. Como diz Rubem Alves, " O corpo é um instrumento musical que pode tocar várias músicas. A beleza do corpo está na música que ele toca". Estivemos ouvindo e sentindo tantas músicas com professores, alunos, pais... umas silenciosas, outras estridentes, mas sempre músicas que precisam ser apreciadas e respeitadas.
  • 7. SUMÁRIO Apresentação ........................................................................................................... 9 Introdução .............................................................................................................. 10 Relatório das Atividades em Orientação Educacional I - Estágio I ........................ 13 Considerações Finais ............................................................................................... 39 Anexos Referencial Bibliográfico
  • 8. INTRODUÇÃO Normalmente pensamos que conhecemos a realidade de nossa comunidade, de nossa cidade ou do mundo que nos rodeia. A overdose de signos e informações nos deixam frios pois nos acostumamos com aquilo que nos parece normal . É bem verdade o que nos diz um líder religioso espanhol, fazendo um diagnóstico nada romântico da realidade mundial: " O terceiro milênio vai começar com quase um bilhão de pessoas sem conhecimentos necessários para ler um livro ou assinar seu nome; isto certamente significa que a fome aumentará, e uns 800 ou 900 milhões de seres humanos estão condenados a morrer (20% da população, muitos deles meninos e meninas em idade escolar que crescem sem poder receber a educação básica; outros 150 milhões iniciam, mas não completam a 5º série . É um direito do qual estão privados! Mas a realidade é ainda mais alarmante se temos em conta que somente 65,4% da população mundial tem acesso ao ensino médio quando que, nos países industrializados podem fazê-lo 96,2% nos países em desenvolvimento apenas 60,4% têm acesso. A maioria desejaria ir à escola. Temos ainda os sistemas educacionais que não consideram as circunstâncias especiais dos menores que trabalham". (Benito ARBUÉS, 2000: 11) Apesar da citação ser um pouco longa mas é inspirado nela que procurei pautar toda a experiência do estágio. Se não há uma crise material muito grande na clientela do meu estágio, a crise reside na ausência de sentido para a vida e na falta de referenciais. A situação da família é preocupante. Então é ai, dentro deste barulho permeado de vida e de gritos que a educação compreendida na sua missão maior tem o grave dever de ajudar e orientar para o desenvolvimento da vida em sua plenitude: solidariedade, cidadania, respeito, tolerância... Sabemos que a Orientação Educacional não surgiu como uma necessidade percebida e sentida a partir da realidade e é por isto que sua história tem sido tão indefinida. Muito mais para adaptar o educando à realidade, para ajustá-lo a um mercado de trabalho não respondeu às suas reais necessidades, enquanto indivíduo localizado e histórico. O
  • 9. educando era visto com um ser individual apenas e que por si só poderia se desenvolver a partir de suas aptidões. É dentro deste contexto que os profissionais de Orientação Educacional eram formados, segundo Eny Marisa MAIA, " ... era preciso psicologizar a forma do orientador ver educação. Era preciso que o orientador educacional internalizasse a ideologia das aptidões, desvinculando-o dos problemas de classe social, era preciso que o orientador internalizasse a ideologia liberal, que enfatiza a individualidade, destacando o indivíduo de seu grupo social e fazendo-o acreditar na possibilidade de ascender socialmente por caminhos individuais. Era preciso que o orientador acreditasse que todo indivíduo tem oportunidade iguais nesta sociedade ' harmoniosa e justa' . Era preciso que o orientador acreditasse ser justo que se alguns indivíduos são dotados de certas aptidões e outros não, que aqueles indivíduos, aptos e esforçados, fossem recompensados e tivessem sucesso e riqueza, enquanto os outros fracassassem e ficassem ou se mantivessem pobres." (Eny Marisa MAIA Op. Cit. p. 16) Hoje, com outras leituras, e pensando o ser humano como um ser integral, processual, histórico, a Orientação Educacional procura trabalhar com o Educando, de forma integrada com a família, visando o desenvolvimento de sua personalidade, o resgate dos valores da solidariedade, do respeito para o diferente, a orientação profissional para a vida. Penso também que a Orientação Educacional poderá contribuir para que o Educando possa fazer uma experiência mais significativa da escola com um todo, que esta experiência possa contribuir para que ele seja um indivíduo criativo e solidário no meio onde vive e trabalha, a melhoria da qualidade de suas relações e sua criativa inserção na sociedade. Em suma, colaborar de forma profunda e integradora na sua formação humana, espiritual, profissional e social. Para o atual contexto da Educação de Ji-Paraná, ou, sendo mais ousado, para Rondônia, a formação de profissionais na área de Orientação Educacional vem aportar um elemento decisivo e de vital importância para que nossas escolas se tornem mais humanas,
  • 10. e contribuam verdadeiramente, muito além de chavões fabricados e de peso morto, para a formação integral dos educandos. Na minha memória lateja os ecos e vivências do Estágio em Orientação Educacional: os gritos ora silenciosos, ora muito claros e barulhentos dos adolescentes nos dizendo do desejo de serem escutados e levados em consideração em suas dores, angústias e dúvidas. Para finalizar deixo ecoando um pensamento da Campanha da Fraternidade que a Igreja Católica lançou em 1998 e que de certa forma norteia meus princípios quando me faço educador e quando vivo a educação em consonância com os demais acreditando que "...a educação tem de ajudar a despertar em cada homem e mulher a consciência de sua própria dignidade, e também, a sua capacidade de assumir a responsabilidade de fazer a sua parte para possibilitar a vida, vida de qualidade, para todos e cada um na comunidade. Um desafio central para a educação hoje é exercer seu papel de instrumento de promoção humana numa sociedade de exclusão, onde grande número de pessoas são simplesmente consideradas dispensáveis. O acesso ao conhecimento, o resgate do belo, da verdade, do bem, a valorização da pessoa humana podem determinar significativamente a manutenção ou a transformação desta realidade". ( Fraternidade e EDUCAÇÃO, 1998: 43)
  • 11. RELATÓRIO DAS ATIVIDADES EM ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL I - ESTÁGIO I Sempre todo o começo é mesmo difícil. As palavras são como que peças de um jogo que vamos trocando e a cada troca muda o significado e a cor. É bem verdade que quando nos obrigamos a sentar para escrever aprofundamos aquilo que nos fez viver. As palavras depois que se fizeram carne vão agora tornar-se aquilo que de fato nossa percepção observou, com menor ou maior profundidade pois jamais conseguirão, por exemplo, pintar a lágrima de um adolescente que "ouvimos" chorar porque seu pai bebe e bate na mão; ou de outra adolescente que não compreende porque sua mãe a abandonou e de outro que "sente um vazio muito grande de noite por sentir-se sozinho e não aceitar que os pais já não podem viver mais juntos. Palavras, palavras, sempre entidades caducas que usamos para nos apoderarmos daquilo que nos escapa. É quase impossível estar relatando algo que na realidade queríamos apenas silenciar e meditar. Para deixar claro que somente escrevo algo que possa deixar minhas impressões digitais, mesmo porque não acredito na famosa neutralidade do espirito científico cito o grande poeta espanhol Compomar : "Nada es verdad, nada es mentira, tudo es segun el color del cristal com que se mira". Guardando as devidas proporções tanto para as verdades, quanto para as mentiras, salva-se a cor do cristal com que olhamos a realidade. A vida tem a cor com a qual nós a pintamos.
  • 12. Ao chegar na escola Aluizio Ferreira percebi logo de cara que estávamos adentrando numa realidade permeada de vida. No pequeno espaço físico os alunos se aglomeravam e nos olhavam com olhos de curiosidade. Fomos aos poucos criando vínculos porque acreditamos que não é possível conquistar e realizar um trabalho significativo sem esta premissa básica: se cativamos nos tornamos responsáveis e nos abrimos. Quando alguém cai de numa realidade como que de "pára-quedas", o melhor de tudo é aos poucos dar-se a conhecer e fazer-se próximo e amigos em alardes e sem forçar a barra, como dizem os adolescentes. Procedemos assim. Fomos bem acolhidos pelo pessoal da direção da escola e a apresentação aos professores foi significativa, mesmo que não se mostrassem tão simpáticos assim. Até o final do estágio alguns permaneceram fechados e outros se abriram. Assim é o mistério do ser humano. Pede respeito e paciência. Quanto ao aspecto físico, a escola está sempre limpa e organizada. Banheiros limpos também. Apenas em relação ao bebedouro sentimos que poderia haver mais um ou dois diante de uma clientela de quase mil alunos no turno vespertino, por exemplo. Num pequeno pátio interno há um jardim bem verde denotando presença de acolhida e bom gosto. O lugar físico, situacional sempre nos marca, pois somos de fato seres históricos. E é como um ser histórico e situado que assim se expressa Paulo Freire diante do "locus" de suas memórias "... quando 'sou brasileiro', sinto que sou algo mais do que quando digo 'sou recifense'. Mas sei também que não poderia me sentir tão intensamente brasileiro se não tivesse o Recife, meu marco original, em que se gera minha brasilidade. Por isso, permita-se a obviedade, minha terra não é apenas o contorno geográfico que tenho claro na memória e posso reproduzir de olhos fechados, mas é sobretudo um espaço temporizado, geografia, história, cultura. Minha terra é dor, fome, miséria é esperança também de milhões, igualmente famintos de justiça." (Paulo FREIRE, 1995:26) Falando ainda do espaço físico, me vem à cabeça ainda, quando numa atividade com alunos do Ensino Fundamental solicitamos que expressassem seus desejos em relação à escola. A maioria estava contente com os amigos de classe, professores, direção e
  • 13. funcionários. Apenas que queriam uma quadra para brincar, pular e jogar bola. " É tudo muito apertado", dizia um aluno. Sabemos que o adolescente precisa de espaço, para se expandir, para encontrar-se na sua experiência de crescimento e identificação. São quase 2.300 alunos e com uma procura intensa por vagas. O Diretor da escola nos dizia que têm salas com até 50 alunos. "A cada dia chegam mais pais de alunos pedindo vaga e como negar?" Salas de aula com aproximadamente 40 à 45 alunos, pouca iluminação e acústica regular. Esta é a realidade de vários Estados do País conforme noticia "A Folha de São Paulo" no início do ano letivo: "Sem receber recursos federais para construir e ampliar prédios e surpreendidos por uma demanda por vagas acima do previsto, a maioria dos Estados - de regiões ricas e pobres, indistintamente - se viu obrigada a adotar 'estratégias de guerra' para arrumar sala de aula para todos os alunos que procuraram a rede estadual. (...) Em Rondônia foi preciso implantar o turno intermediário (conhecido como "turno da fome"), alternativa pedagógica unanimemente criticada, inclusive pelos governos que tiveram que adotar essa saída". (FOLHA DE SÃO PAULO, 27.03. 2000, 40 caderno, p.01) Outro espaço físico que os alunos reclamam muito, principalmente os menores é em relação à cantina - bar. Os menores são "esmagados", usando as palavras deles mesmos. No tocante a higiene está muito bem. Percebe-se mais uma vez que um dos problemas da escola é espaço físico mesmo. Estivemos na escola e presenciamos que a realidade é esta mesma. É preciso amontoar alunos e a situação vai se protelando. O que fazer? Dispensar os alunos? Aceitar a situação? Penso que no fundo, como dizia o Frei Betto, " é tudo questão de falta de vontade política". Continua a se improvisar sobre e com a vida das pessoas. No tocante à parte administrativa, percebemos boa organização e espaço digno. Sala de vídeo, de professores, secretaria, mimeógrafo, saúde tudo funcionando e bem organizadas. Destaca-se a videoteca, com a presença de uma educadora para organizar, gravar e selecionar filmes apresentados pela TV Escola. Apenas que quando
  • 14. conversávamos com esta educadora, ela nos informava que os professores procuram muito pouco estes recursos. Continuando o nosso passeio, agora vamos à biblioteca. Em questão de números de títulos é fraca. O que se vê na verdade, é em maioria a presença de livros didáticos. O espaço físico é deficiente pois uma biblioteca necessita de, além de um acervo variado, ser bem ventilada e com mobiliário adequado. Olhando para a realidade da escola, estamos novamente trabalhando com possibilidades, "com aquilo que temos", como dizia um funcionário. Este mesmo funcionário afirmava não sem um ar de alegria que mesmo assim os alunos gostam muito de ler na biblioteca. Será que as crianças e adolescentes não gostam mesmo de ler ou será que sentem o que Daniel Pennac experimentou: " Que cada leitura é um ato de resistência. De resistência a que? A todas as contingências. Todas: sociais, profissionais, psicológicas, afetivas, climáticas, familiares, domésticas, gregárias, patológicas, pecuniárias, ideológicas, culturais ou umbilicais. Uma leitura bem levada nos salva de tudo, inclusive de nós mesmos". (Daniel PENACC, 1998:80) Destaca-se como fato importante a presença de dois periódicos e duas revistas na biblioteca: "Estadão" e "Correio Popular" e as revistas "Veja" e "Nova Escola". Falando da qualificação do corpo docente e administrativo, em sua maioria têm nível superior, sendo que 70% são habilitados para as disciplinas que ministram e 20% têm pós-graduação. O nível sócio-econômico dos alunos é de classe média, sendo que os do noturno em sua maioria trabalham e é neste período que está o maior índice de reprovações. Segundo a Supervisora da escola, uma das causas é o fato de que a maioria têm que trabalhar para ajudar em casa. Quanto ao setor administrativo, a escola conta com a presença de um diretor e uma vice-diretora , um secretário, duas supervisoras e oito pessoas nas limpeza. No geral, a escola é assessorada pelo trabalho de 120 funcionários. Outro dado que não podemos deixar de mencionar , muito importante em qualquer comunidade social, é a questão dos relacionamentos. Percebemos que as relações humanas
  • 15. e interpessoais na escola são boas e significativas. Nas primeiras falas que tivemos com a supervisão e direção foi nos passado que o relacionamento entre professores e alunos era bom. Esta não foi bem a realidade que encontramos na prática daquilo que ouvimos e sentimos dos alunos. No geral eles reclamam que os professores não têm paciência e que são muito sérios. Não sabem escutar. " E o que dizer, mas sobretudo que esperar de mim se, como professor, não me acho tomado por e este outro saber, o de que preciso estar aberto ao gosto de querer bem, às vezes, à coragem de querer bem aos educandos e á própria prática educativa de que participo. Significa que a afetividade não me assusta, que não tenho medo de expressá-la. Significa esta abertura ao querer bem a maneira que tenho de autenticamente selar meu compromisso com os educandos, numa prática específica do ser humano. Na verdade, preciso descartar como falsa a separação radical entre seriedade docente e afetividade. Não é certo, sobretudo do ponto de vista democrático, que serei tão melhor professor quanto mais severo, mais frio me ponha minhas relações com os alunos. (...) A afetividade não se acha excluída da cognoscibilidade. A minha abertura ao querer bem significa a minha disponibilidade à justa alegria de viver, que, assumidas plenamente, não permite me transformar num ser "adocicado" nem tampouco num ser arestoso e amargo" . (Paulo FREIRE, 1998:159-160) Salvando as devidas proporções de que os professores são mal remunerados e tantos outros fatores, nada justifica a ausência de simpatia e de afetividade na relação professor - aluno. É possível perceber que a escola está fazendo um trabalho no sentido de fazer uma caminhada de maior aproximação entre professores e alunos. Quanto ao relacionamento dos professores entre si, percebe-se que é bom, são receptivos e a escola está investindo neste campo com cursos de Relações Humanas, Encontros de Formação, etc. o relacionamento entre direção, professores e supervisão e demais funcionários da escola é amigável e tranqüilo. Não há presença de conflitos acentuados. É salutar destacar o progressivo trabalho que vem se fazendo para aproximar os pais dos educandos à escola e aos professores. Os pais tem correspondido a isto, fato que
  • 16. percebemos na prática durante as reuniões que tivemos com os pais, professores, supervisão e direção. Não será possível esquecer o relacionamento dos alunos entre si. Enquanto fazíamos a experiência do estágio íamos partilhando que apesar de tão pouco espaço físico, os alunos não eram acentuadamente agressivos. Claro que há presença de agressividade normal como em qualquer ambiente onde vivem seres humanos, alunos... Não percebemos sinais de vandalismo, carteiras rabiscadas, etc. Por não possuírem área de lazer e o espaço do pátio interno ser tão reduzido, durante os intervalos se percebe alunos e conversando como eles mesmos dizem "numa boa" ou "na boa". Um que outro sai do sério por questões de apelidos (bicha, filho da puta...), uma que outra garota briga por namorado e saem aos tapas e aos puxões de cabelo, como aconteceu. Verdade seja dita que a escola necessita expandir seu espaço físico para que os alunos possam se expandir, porque estão crescendo, porque estão cheios de vida e energia. Há necessidade de liberarem todo o dinamismo ou até impulsos de agressão e serem educados para a fraternidade, para a tolerância. " O comportamento agressivo sempre foi objeto de interesse por parte dos psicólogos. É óbvio que o comportamento agressivo representa um problema de extrema gravidade e importância para a humanidade. Com o aumento progressivo nas circunstâncias da vida urbana e da superpopulação nas grandes cidades, o potencial destrutivo do homem tornou-se ainda mais perigoso. Consideramos pois este tema como dos mais importantes a serem tratados pela psicologia do desenvolvimento, pois é de importância crucial para a própria sobrevivência da espécie humana que se compreendam os mecanismos pelos quais a agressão é adquirida e mantida, para que possa controlá-la" . ( Ângela M. Brasil BIAGGIO,1996:181) Dentro de toda esta realidade queremos situar a presença de alguns aspectos pedagógicos que observamos durante a prática do estágio que nos chamaram a atenção. Em primeiro lugar a grande luta para implantar o PDE e "para que a grana venha", é necessário que todos os professores se inteirem do que o mesmo significa, mesmo que não o compreendam.
  • 17. Diante disto se percebe uma mera adaptação à algumas exigências vindas de fora. E daí quando perguntamos se seguem alguma linha pedagógica, nos respondem que é uma mistura, que fazem o que a DRE quer. Estes e outros aspectos da realidade nos fazem crer a quantas anda a educação e que mesmo, apesar de tantas dificuldades um bem grandioso vem sendo feito. Isto não significa adaptar-se comodamente à realidade mas vê-la desde um prisma de esperança no animados pela fala de Rubem Alves : "Hoje não há razões para otimismo. Hoje só é possível Ter esperança. Esperança é o oposto do otimismo. Otimismo é quando, sendo primavera do lado de fora, nasce a primavera do lado de dentro. Esperança é quando, sendo seca absoluta do lado de fora, continuam as fontes borbulhar dentro do coração. A esperança tem suas raízes na eternidade. Nas pequenas coisas ela floresce e desperta para a revolução". (Rubem ALVES, Tempo e Presença, julho/agosto de 1999, p.38) Dentro da realidade a que estamos nos referindo desde o início deste relatório, a Escola de Ensino Fundamental e Médio Aluízio Ferreira, trabalhamos nosso primeiro projeto com professoras de 1a à 4a séries e o tema escolhido em sintonia com a supervisora e direção foi "Aprendizagem: avaliação-reprovação. O tema referido acima foi trabalhado a partir de alguns pontos de vista de Piaget, Vygotsky e Freinet. Estávamos preparados e munidos de ânimo para começar a construção deste relacionamento com a professoras que pareciam armadas. Desde o momento da observação da realidade havíamos percebido que colocavam muitos rótulos nos alunos e principalmente nos que apresentavam algum problema. No início da fala, as professoras pareciam armadas, mas aos poucos foram se soltando quando perceberam que nós não estávamos ali para dar receitas nem tampouco dizer o que era certo ou errado. Com simplicidade e ao mesmo tempo, com firmeza diante do que acreditamos, fomos colocando questões que pudessem ajudá-las a compreender que
  • 18. a escola é uma realidade dinâmica e muito viva. Numa partilha sincera e fraterna, fomos ajudando-as a perceber que "...o educador continua indispensável, a título de animador, para criar situações e armar os dispositivos iniciais capazes de suscitar problemas úteis à criança, e para organizar, em seguida, contra- exemplos que levem à reflexão e obriguem ao controle das soluções demasiado apressadas: o que se deseja é que o professor deixe de ser apenas um conferencista e que estimule a pesquisa e o esforço, ao invés de contentar com a transmissão de soluções já prontas. É preciso que o metre-animador não se limite ao conhecimento de sua ciência, mas esteja muito bem informado a respeito das peculiaridades do desenvolvimento psicológico da inteligência da criança ou do adolescente." ( Jean PIAGET, 1988:15) Outro dado interessante que percebemos nesta e em outras oportunidades no trabalho com professores é que eles têm muita necessidade de desabafar. Quiçá por falta de espaços para fazer esta catarse ou talvez por não serem acompanhadas de fato em questões inerentes às suas práticas, inquietações e dificuldades. Outra vez se percebe o quanto o papel do Orientador Educacional bem compreendido em sua função e especificidade é de vital importância para que a escola tenha uma prática educativa mais singular e significativa. No geral, as professoras demonstraram pouco conhecimento de termos científicos, pouca leitura. Apenas duas ou três participaram perguntando e interagindo. No início, utilizamos a dinâmica da "teia envolvente". A pergunta para ser respondida antes de passar o barbante para outra pessoa era o que cada uma pensava sobre o processo de Aprendizagem: avaliação-reprovação . A maioria das respostas foram superficiais e de achismos. Nenhuma das professoras fez qualquer anotação. Em relação aos rótulos do tipo "este aluno é inteligente", "fulano de tal não aprende mesmo", e tantos outros, disseram que não utilizavam este discurso. Talvez os usem de forma tão inconsciente que nem percebem, pois na realidade, quando observamos na prática, falas, ações e conceitos estão permeados de rótulos, preconceitos e outros mecanismos de classificação diante da dificuldade de acompanhar os alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem.
  • 19. Por isso tudo, acreditamos que o professor deve buscar construir-se; como a vida é muito dinâmica, ninguém não está nem nunca estará preparado para a vida, para os relacionamentos. A formação deverá ser uma constante na vida de todos os profissionais em educação. Rever práticas e conceitos nos tornam mais próximos dos nossos educandos. O falso conceito de que a experiência por si só é essencial para se desenvolver uma boa e significativa prática está fadada ao fracasso. Há que se agir, refletir, avaliar, celebrar e agir e ... Não é possível ajudar os educandos em suas dificuldades de aprendizagem se não percebermos e levarmos em conta que " ...a interação face a face entre indivíduos particulares desempenha um papel fundamental na construção do ser humano: é através da relação interpessoal concreta que o indivíduo vai chegar a interiorizar as formas culturalmente estabelecidas de funcionamento psicológico. (....) que a vida social é um processo dinâmico, onde cada sujeito é ativo e onde acontece a interação entre o mundo cultural e o mundo subjetivo de cada um". (Marta Kohl de OLIVEIRA, 1993:39) Depois de termos criado alguns vínculos significativos com a comunidade educativa da Escola Aluízio Ferreira, principalmente com os alunos, iniciamos as atividades com alunos de 5a à 8a séries . Trabalhamos sobre "Hábitos de estudos", assunto que nos foi passado pela supervisora. O assunto escolhido para algumas séries com as quais trabalhamos foi mais ou menos interessante. Na 5a série, por exemplo, os alunos eram bastante indisciplinados, participaram bastante mas não conseguiam parar no lugar. Gostaram imensamente da cantar a música "Cremos no Amor que todos tem ", pois é bem animada. Pediram para repetir várias vezes. Percebe-se uma grande dificuldade de relacionamento entre eles e brigam por causa de lugar, por um olhar diferente que um lança sobre o outro, por uma fofoca, etc. Prometemos voltar mais vezes e de fato o fizemos, de forma gratuita em tempos livres e de horas vagas em que estávamos na escola. A conversa girou em torno de relacionamento, respeito, tolerância, amizade. Dá para sentir que os alunos necessitam muito de atenção, de apoio e de trato mais humano. Na verdade, falta um trabalho de relações humanas urgente.
  • 20. Coisa que eles já não recebem de casa. Valores básicos como respeito, delicadeza, limpeza e organização. Ouve-se reclamações diante do fato de que quando estavam na 4a série eram "tão bons e organizados e agora estão desleixados e não rendem nos estudos". É importante a observação de que em geral, os alunos quando chegam na 5a série " Biologicamente em relação aos seus corpos estão se modificando, que seus hormônios estão trabalhando loucamente para torná-los seres sexualmente maduros. Seu corpo é uma fonte permanente de estímulos, estranho mesmo é que alguém que está com essa energia toda consiga se concentrar nos assuntos da escola". (Edith RUBISNTEIN, 1999:55) Quando retomamos a experiência com a turma de 5a série, podemos levar em consideração outro dado interessante que é a questão de idade. Não há uma homogeneidade quanto a idade dos alunos. As idades variam muito em cada sala. O mesmo vale para a classificação por turmas. Percebemos que em todas as séries do Ensino Fundamental com quem trabalhamos, as últimas, por ordem alfabética eram as mais "difíceis" no sentido de repetência, indisciplina, etc. Atentos para estas situações começamos a mudar a fala, desde nossas próprias experiências como estudantes, nossas dificuldades, fracassos e acertos. A partir daí, o processo fluiu muito bem. Outro dado importante para se ressaltar, é que quando conseguimos humanizar o ambiente, pacificar, tranqüilizar a garotada a partir de uma fala mais dócil, sem ser menos segura e verdadeira, os alunos também se aquietaram e foi possível falar de organização do tempo, importância de se disciplinar e de organizar a vida em geral; também os relacionamentos. Isto valeu também para os alunos com os quais trabalhamos das 6as , 7as e 8as séries. É bem verdade o que a Tânia Zagury relata no seu livro, "O adolescente por ele mesmo", dizendo que: "....nossa escola é desinteressante do ponto de vista de apelo visual, metodológico e mesmo de conteúdo. As aulas continuam, em sua grande maioria, meras explanações orais, com reduzido ou nenhum apoio audiovisual. Enquanto isso, em casa, na rua, rolando tantas coisas mais interessantes e significativas. Quantos desafios novos a cada momento! Quem pode gostar da escola? Como fazer com que
  • 21. nossos alunos se interessem verdadeiramente pelas aulas? Verdade seja dita, a capacidade crítica dos jovens é incrível e pode-se saber muito sobre a didática e ensino prestando atenção e deixando que eles se expressem sobre o assunto" ( Tânia ZAGURY, 1996:55) A questão do apelo visual é muito forte. Vivemos na era da imagem e quanto mais colorido e atrativo, melhor, mais interessante. Não querendo transformar o professor em bode expiatório diante das dificuldades dos alunos em estudar, se organizar, se concentrar, podemos sim afirmar que muitos professores vivem de cara amarrada, estão constantemente azedos e daí, como serão referencias? Um rosto alegre, animado e sereno ajuda muito. Nós sabemos o quanto certos professores marcam a vida dos adolescentes, não por sua erudição ou capacidade intelectual extraordinária, mas sim pelo fato de que foram capazes de se mostrar humanos, abertos e exigentes ao mesmo tempo. Não basta professores com bons conteúdos; as aulas precisam ser motivadoras, alegres, atraentes. É possível fazer isto sem que o professor vire um palhaço! "Propostas pedagógicas modernas não faltam. Mas, em defesa dos mestres, é preciso que se diga que a maioria absoluta dessas propostas mais modernas do ponto de vista pedagógico demanda, pelo menos, duas coisas: primeiro, um professor mais bem preparado didaticamente e em termos de conteúdo e, segundo, condições de infra-estrutura muito diversas das existentes para a sua consecução. Turmas com pequeno número de alunos seriam apenas uma das primeiras exigências para que se pudesse verdadeiramente implementar um ensino moderno, com diversificação de atividades, participação ativa dos alunos e criatividade na elaboração das atividades". (Tânia ZAGURY, 1996 :56) Só para explicar que nossa equipe de estágio na escola, nos dividimos da seguinte forma: cada um pegaria quatro turmas. Já relatei a experiência com a turma de 5a série com alguns dados e reflexões que valem inteiramente para as demais que trabalhei. A experiência com os alunos da 6a série foi um pouco mais tranqüila. Já havíamos criado um vínculo mais estreito pois os alunos que fizemos acompanhamento de caso são desta turma. Estivemos juntos e dialogamos em vários momentos. Cantamos com eles a música do "Cremos no amor que todos têm", mas a empolgação já não foi tanta como na
  • 22. turma da 5a série pois os da 6a são maiores e ficaram bastante "envergonhados", segundo alguns. A sala quente e com acústica péssima e o grande número de alunos para um ambiente tão pequeno, causou um certo desassossego nos alunos durante a fala sobre "Hábitos de estudos". A dinâmica da "teia envolvente" apesar de ser longa e exigir concentração, silêncio e escuta, foi proveitosa. Conseguimos enrolar e desenrolar com eles. O aluno pegava o rolo de barbante e jogava para um colega dizendo "qual a importância que o estudo" tinha em sua vida". No geral foram bem críticos e se observou que é uma sala de alunos com poucos repetentes. Observou-se nesta 6a série que os alunos em que os pais são separados apresentam maiores dificuldades para se organizar, são inquietos, agressivos ou em contrapartida, apáticos. Deixamos a 6a série e agora vamos até a 7a série "B". Um alvoroço geral e alunos em polvorosa. Todos pedindo que ficássemos até à última hora e que demorássemos bastante pois os "professores que vão vim depois são muito chatos e pegam muito no pé". Aos poucos fomos tranqüilizando o ambiente pois o professor titular da aula disse que "iria deixar-nos à vontade". Fomos conversando aos poucos e com paciência a turma se aquietou e podemos estar a vontade e conversar sobre a dores e as alegrias da vida e estudante. Nesta turma, o que os alunos mais reclamaram foi da cara feia dos professores, que não têm paciência e que são tristes demais. Vários alunos pediram uma oportunidade para se conhecerem mais e daí aplicamos num momento gratuito o "Questionário do adolescente". Atendemos assim, "fora" do esquema do estágio quase todos os 40 alunos desta turma. Aplicamos o questionário e depois cada aluno recebeu o resultado individualmente. Algo que me chamou atenção foi que a maioria dos alunos são filhos de pais separados e do quanto isto os faz sofrer. No final da aula deixamos que fizessem por escrito perguntas e prometemos respondê-las aos que desejassem o que de fato fizemos mesmo. As perguntas que mais apareceram foram estas: "Você é feliz"? "Por que escolheu esta profissão?" "Quais foram minhas maiores dificuldades na época da adolescência?" Quais a maiores dificuldades na vida de estudante?" " O que fazer para ser feliz?" "Como escolher bem uma profissão?"
  • 23. Na outra 7a série o esquema foi o mesmo, apenas que a turma era tranqüila desde o início. A professora titular permaneceu na sala. Participaram com intensidade e interesse. Gostaram de cantar o "Cremos no amor que todos têm" . Foi possível desenvolver um bom trabalho a partir de uma posição serena e tranqüila da nossa parte e a vontade sincera de partilhar também nossas experiências de vida com os educandos, muito mais que mera teoria, estávamos colocando o que deu e o que não deu certo conosco mesmo. É bem verdade que: "mesmo com todos os defeitos, a instituição escola é ainda um lugar em que as novas gerações convivem com o respeito e a orientação, é ainda um lugar em que o saber é valorizado e no qual apesar dos seus erros e problemas, o ser humano se socializa, aprende a conviver, torna-se um cidadão". (Tânia ZAGURY, 1996:56) O que os alunos querem é que o professor os respeite como estudantes e como pessoas humanas. É importante que o professor não tenha medo de colocar limites aos alunos e lhes diga de modo incisivo que estão se comportando mal e de forma inadequada. Neste sentido, ao professor cabe não apenas informar, mas formar para a vida. Os estudantes esperam, mesmo que às vezes não consigam expressar, do professor uma atitude de amigo na vida e no âmbito profissional. A figura que irá norteá-los a contornar suas dificuldades ou angústias como alunos e como seres humanos. Relativamente entrosados no ambiente educativo, e, com nossa presença constante nas salas de aula de 5a à 8a séries, fomos nos tornando conhecidos dos professores. Mesmo que alguns ainda se mantivessem "distantes" de nós. Algo interessante de nossa equipe de estágio é que sempre quando íamos entrar em sala, nunca fazíamos sem respeitar o professor, de forma que este percebia que de fato ele, apesar de todas limitações e contratempos continua e continuará sendo o referencial maior no espaço de sala de aula. O trabalho com os professores de 5a à 8a série aconteceu num Sábado gostoso e a experiência foi muito significativa, tanto para nós, como para os professores. Tudo foi tranqüilo e respeitamos o processo normal de cada encontro marcado pela presença de
  • 24. pessoas com suas histórias, dores e dissabores. Mais uma vez, nossa equipe de estágio esteve muito sintonizada. O assunto foi "Aprendizagem: avaliação x reprovação" voltado especificamente para alunos de 5a à 8a séries com suas características próprias, dentro da visão de educação de Piaget, Vygotski, e no final, para concluir, um texto falando da avaliação com duas grandes possibilidades: uma domesticadora e outra libertadora. Iniciamos os trabalhos com a música do Roberto Carlos: "Eu quero Ter um milhão de amigos"... Todos cantaram. Foi um momento sublime, uma forma de relax e reflexão. Nos apresentamos e fomos desenvolvendo o trabalho naturalmente. Houve boa receptividade por parte dos professores. As supervisoras estiveram presentes e interagiram. A empatia marcou o encontro desde o início; assim que todos os assuntos e desafios foram sentidos como formas de crescimento. Vários professores participaram e percebemos que eram mais conscientes e consistentes no sentido de compreensão da realidade e dos teóricos com os quais estávamos trabalhando. Enquanto desenvolvíamos o trabalho, sempre fomos tentando nos colocar no lugar dos professores o que nos ajudou muito pois eles sentiram que vivenciamos também a realidade de suas lutas, desafios e incertezas. Um professor colocou que "a avaliação deve ser vista como meio e não como um fim e que o professor também participa ativamente do processo de ser avaliado enquanto avalia". A fala foi se encaminhando e na realidade o grupo teve presente, em sua maioria, que a avaliação escolar tem que ser participativa onde professor e aluno devem chegar juntos a um entendimento das situação da aprendizagem que necessariamente faz parte de todo o processo de ensino em seu todo maior. Que, com esta forma de pensar e de agir se contribui para a permanência do aluno na escola e esta se torna presença de inclusão e não mais um modelo de exclusão como tantos presente na escola e na sociedade. Que, com esta postura, estaremos superando o modo de agir comum e autoritário que vem marcando a história das atividades e avaliações na aprendizagem escolar. Outra idéia muito interessante é que tanto a avaliação, quanto a própria educação podem e passam a ideologia que se quer.
  • 25. Ambas não são atividades neutras sem implicação políticas e ontológicas. Que, é necessário respeitar o desenvolvimento do aluno, sua história e seu processo. Ficamos animados que estas considerações foram sendo construídas por todo o grupo ao longo da fala. Alguns relembrando, outros esclarecendo e outros reavaliando conceitos e práticas. É bom dizer que a escola, segundo os próprios professores e supervisão, já vem fazendo um trabalho nesta área da avaliação. Sabemos que leva tempo tudo isto e que a compreensão teórica quase sempre é mais rápida do que a prática. Neste sentido: "...o modelo social, dentro do qual vivemos e convivemos, torna-se quase que natural aos nossos corpos, a nossa personalidade. Respiramo-lo como respiramos o ar que nos envolve e agimos por ele e para ele sem que meditemos nisso. Contudo, nenhum profissional da educação, em sã consciência, pode assim agir, a menos que não pretenda ser sujeito da história. Agir como se as práticas educacionais fossem neutras é tomar a postura de objeto da história e não do sujeito, como desejável e esperável de toda criatura humana" . (Cipriano Carlos LUCKESI,1993:71) Quase no final do encontro durante a discussão das implicações políticas da e na educação, salas de aula com muitos alunos, má remuneração dos professores, surgiu a polêmica da questão dos professores e profissionais em educação que foram demitidos pelo governador do Estado de Rondônia. Muitos professores desabafaram e procuramos ouvir atentamente. Com certeza, este desabafo veio ser um espaço de catarse e de partilha. Se todo o ser humano precisa de um momento e de pessoas que ouçam, com mais razão o professor em suas dores e em suas inquietações. Ensinar, segundo Paulo Freire, "...exige humildade, tolerância e luta em defesa dos direitos dos educadores. Se há algo que os educadores brasileiros precisam saber, desde a mais tenra idade, é que a luta em favor do respeito aos educadores e à educação inclui que a briga por salários menos imorais é um dever irrecusável e não só um direito deles. A luta dos professores em defesa dos seus direitos e de sua dignidade deve ser entendida como um momento importante de sua prática docente, enquanto pratica a ética. Não é algo que vem de fora da atividade
  • 26. docente, mas algo que dela faz parte. O combate em favor da dignidade da prática docente é tão parte dela mesma quanto dela faz parte o respeito que o professor deve Ter à identidade do educando, à sua pessoa, à seu direito de ser. Um dos piores males que o poder público vem fazendo a nós, no Brasil, historicamente, desde que a sociedade brasileira foi criada, é o de fazer muitos de nós correr o risco de, a custo de tanto descaso pela educação publica, existencialmente cansados, cair no indiferentismo fatalistamente cínico que leva ao cruzamento dos braços. "Não há o que fazer" é o discurso acomodado que não podemos aceitar. ( Paulo FREIRE, 1998:74-75) Assim terminamos o trabalho com este grupo de professores: novamente cantamos a canção de Roberto Carlos dizendo que " (...) eu quero Ter um milhão de amigos e bem mais forte poder cantar..." Que a beleza destes encontros reside nesta possibilidade de nos apoiar, de sermos solitários na prática educativa. Que avaliar exige humildade, respeito e muita sensibilidade. O cafezinho final foi a conclusão de uma fala permeada de escuta e de respeito! Depois de tantos encontros, agora é nossa hora de estarmos com os pais. Todas as falas e todos os assuntos vêm desembocar no trabalho que fizemos com os pais. Nada foi fragmentado na nossa vivência do estágio. Sempre procurando fazer a leitura do todo. Em relação ao trabalho com os pais nos dividimos de forma a que cada participante do estágio pudesse fazer uma experiência significativa com os pais dos educandos. Nos encontros com os pais, a supervisora sempre nos apresentou de forma muito cordial e significativa de modo que nos sentimos valorizados e de fato responsáveis pela condução do momento que cabia a nós. Seguimos mais ou menos este roteiro na fala com os pais. Apresentação simples e breve precedido por um momento de espiritualidade e relaxamento, que os pais gostaram muito. Assim falou uma mãe depois deste momento. "Que bom que a escola também está nos oferecendo um momento gostoso de encontro com Deus! Isto vai acontecer outras vezes?" Seguimos com algumas pinceladas sobre a realidade da família hoje, a crise de valores e de referenciais. Falamos que os pais sempre serão os referenciais na família e que a pessoa humana que teve uma boa experiência de família, seguramente enfrentará de
  • 27. forma mais madura os problemas e dificuldades da vida. Neste momento uma mãe deu o seguinte depoimento: " Apesar de ser tão difícil educar para as coisas boas, a honestidade, por exemplo, não dá para abrir mão de ensinar aos nossos filhos atitudes que os ajudarão a serem pessoas de bem". Fizemos um momento de brincadeira com as palmas das mãos: uma palma, duas palmas e três palmas... Para descontrair e os mais quietos também participaram. Pensamos que este encontro deveria ser assim uma conversa agradável, descontraída para que eles, os pais se soltassem e partilhassem também seus sentimentos e vivenciassem o momento de forma integral. Foi acontecendo tudo isto: alegria, seriedade e respeito com a participação ativa dos pais. O canto "Cristo é a felicidade" deixou-os mais integrados ainda, pois a maioria esmagadora são cristãos e assim trabalhamos a dimensão transcendental mais uma vez e de forma tolerante e ecumênica. Através deste bate-papo, trabalhamos com os pais a questão dos "limites em relação aos filhos". Cada pai recebeu um panfleto contendo algumas frases (ver em anexo) retiradas do livro da Tânia Zagury , ”O adolescente por ele mesmo". Fomos lendo juntos e partilhando. Em geral os pais participaram ativamente. Demonstraram idéias interessantes e querem de fato acompanhar os seus filhos. Pediram que este momento fosse repetido mais vezes, dizendo que antes não havia este tipo de trabalho e que sabem o quando isto ajuda para que possam melhor educar seus filhos. Uma mãe se expressou da seguinte forma em relação a este tipo de trabalho: " ...a escola não deveria chamar os pais somente para cobrar, mas também para orientar". No início das atividades, quando a supervisora informou que teriam um bate-papo de uma hora, mais ou menos, uma mãe torceu a cara e disse: "isto tudo?" No final foi a que mais agradeceu e disse que mudou de opinião e que nem viu o tempo passar. No fina o diretor apareceu e falou da necessidade de tornar a escola uma família e salientou da importância deste tipo de trabalho de orientação com os pais. Vários pais questionaram em relação à disciplina e autoridade dos professores demonstrando certa insatisfação com a entrada e saída constantemente dos alunos de sala de aula e da indisciplina e da fala de definição em relação ao horário. Os pais querem
  • 28. professores mais sérios no sentido de cobrar dos alunos responsabilidade e respeito. Talvez estejam delegando esta tarefa à escola, mas é certo sentido é bem verdade que muitos alunos durante as aulas passeiam, saem das salas. Isto constatamos na prática do estágio. Conversamos individualmente com a maioria dos alunos de uma 7a série, justamente, filhos destes pais com quem estávamos trabalhando. A maioria dos alunos reclamou que os pais são muito nervosos, agressivos e que jogam os problemas nos filhos. Muitos deles já pensaram em morrer e que isto aconteceu no momento em que não foram compreendidos e nem respeitados em suas tristezas e angústias. Muitos adolescentes falavam isto com lágrimas nos olhos . Dissemos isto aos pais, ao que uma mãe falou: "... como é bom a gente ouvir isto pois nem sempre percebemos nossos modos de agir em relação aos nossos filhos. A gente sabe que certas coisas eles não falam conosco porque não confiam na gente. Que bom que está tendo este tipo de orientação na escola". Comentamos com os pais que: "... pais infelizes não podem criar filhos felizes. Neste caso, os filhos serão felizes apenas na medida em que se separar dos pais infelizes. Quanto mais felizes e realizados forem os pais, mais condições terão de educar seus filhos". ( Moacir GADOTTI,1990:55) Falando para os pais, eticamente, aquilo que sentimos em relação ao gritos dos filhos, declarados ou silenciosos em relação a questão da separação, a maioria dos adolescentes sofrem muito por causa do abandono, não importa que seja da mãe ou da pai, porém, na maioria das vezes, o abandono do lar por parte das mães é mais devastador do que quando o pai é que abandona. Pensamos que a escola deveria trabalhar mais de perto esta questão da família pois é grande o número de adolescentes filhos de pais separados vivendo uma angustiante solidão. Finalizando, falamos para aos pais da grande necessidade de que sejam referenciais de honestidade, abertura, amor, diálogo e autoridade (não autoritarismo) para seus filhos. E que os filhos esperam deles isto. Que cobrem, que exijam, mas amor e para o amor. Que o adolescente sabe e sente quando os pais estão os orientando para a vida, mesmo que não demonstrem isto.
  • 29. É bem verdade que sempre existirá conflitos entre pais e filhos, fato este que pode ser saudável. Como é maravilhoso observar que nesta rede de relacionamentos os filhos tornam-se educadores dos seus pais e os pais tornam-se alunos de seus filhos e ambos tornam-se cada vez mais humanos, próximos e amorosos. Importante não esquecer que a maioria dos responsáveis que compareceram ao encontro era composto pelas mães. Poucos pais. Interessante observar também o quanto isto marca a vida da criança e do adolescente pois falam quase o tempo todo da mãe, quando conversamos com eles. O pai é uma figura apagada, distante e quando muito agressiva e silenciosa. Poucos adolescentes com os quais conversamos, tinham no pai um ponto de apoio e um amigo. Isto é algo que não se está levando em conta , nem pela escola, nem pelas famílias e nem pela sociedade em geral. No final do encontro, deixamos como palavra final a consideração de Içami Tiba falando em relação aos pais: "... O que tem acontecido ultimamente é que os pais têm dado uma educação muito mais na linha de fazer todas as vontades dos filhos, porque não querem repetir a educação no estilo da que receberam, altamente repressiva. Esquecendo de ver que as crianças e jovens de hoje têm uma cabeça diferente da deles, aplicam regras que seriam boas para si e não para os filhos.Com isso, os filhos ficam mais folgados do que educados. Tem que se fazer uma diferenciação entre o que os pais querem de bom para os filhos e os princípios da educação. Esta deve Ter limites para que não fique uma criação aleijada, que deixa o filho crescer sem responsabilidade. Se os pais se sentirem constrangidos com algum gesto do filho e não o corrigirem naquele momento, esse constrangimento vai aumentar e se tornará incorrigível, porque o filho mais tarde não vai saber quando está constrangendo outras pessoas. (Jornal de OPINIÃO, p.19, 31 de agosto de 1998). Terminado o encontro, os pais puderam Ter a oportunidade de conversar com os professores de seus filhos. O contato com os alunos e os vínculos já estavam bem firmados e nosso relacionamento bastante familiar e simples permitiu-nos uma boa experiência quanto ao acompanhamento de alguns alunos e os casos específicos de alunos com certas dificuldades
  • 30. que a supervisão nos passou. Os alunos nos foram passados pelos professores via supervisão. Combinamos que, para podermos criar um vínculo mais profundo e aliviar aquela sensação de "cair-de-pára-quedas", observaríamos os alunos com quem iríamos fazer o acompanhamento nos intervalos, e em algumas aulas. Assim o procedemos e deu muito certo porque os demais também se beneficiaram de nossa presença e nós percebemos o aluno em certo sentido, no seu habitat "natural". Depois, trabalhamos um questionário com todos os alunos da classe dando o resultado para aqueles que quisessem o retorno. "A técnica do questionário é o elemento de pesquisa que consiste em colher informes através de perguntas por escrito, a respeito de um tema em estudo, a respeito de um indivíduo ou um grupo de indivíduos. O questionário é ótimo recurso para recolher dados pessoais a respeito do educando. É processo prático de grande valor para investigar a conduta e o comportamento do aluno. É usado para obter considerável número de informações sobre grande número de alunos". (Imídeo G. NÉRICI, 1983:177) A maioria dos adolescentes desejou conversar a sós conosco e foram muito sinceros e abertos enquanto falavam. Importante neste momento é escutar e acolher, da forma mais generosa, sincera e honesta possível pois é verdade que é verdade que cada pessoa é a maior autoridade em sua própria vida. Muitos adolescentes chegavam fechados, tensos e bastante nervosos e aos poucos... "o seu mais leve olhar vai me fazer facilmente desabrochar apesar de Ter me fechado como um punho cerrado, você me abre sempre pétala por pétala como a primavera abre tocando de leve , misteriosamente sua primeira rosa". (E.E.Cummings). Foi muito acertada a prática do teste pois nos revelou problemas comuns à turma e em especial aos dois adolescentes da turma com os quais iríamos fazer o acompanhamento de caso. Vale informar que grande número de adolescentes da turma são filhos de pais separados e que este fato os deixa muito triste e com "um grande vazio no peito, principalmente de noite", como disse um adolescente. Aqueles de famílias onde o pai bebe ao relatar o fato, não conseguiram conter o choro. Quando o adolescente percebe que pode
  • 31. se abri ele o faz mesmo e pareceu gostarem muito de conversar e partilhar algo de suas vidas e dores. De uma forma gratuita também desenvolvemos um questionário com alunos de uma 7a série. As impressões foram semelhantes. Observamos que a maioria das meninas namoram com homens mais velhos significativamente, têm problemas com os pais de aceitarem estes namoros e não conseguem dialogar em casa e muitas tentaram suicídio. Muitos são filhos de pais distantes ou ausentes mesmo que presentes fisicamente. As mães são agressivas e nervosas. A maioria das meninas desejam casar-se o mais rápido possível. Quando perguntamos sobre um sonho, a maioria colocou que desejariam casar-se logo. Têm em geral 13 à 14 anos. Os meninos são mais calados e se demonstraram se abrir mais com as mães. Voltando ao estudo de caso. A partir da entrevista primeira que foi realizada por ocasião do questionário aplicado, continuamos os encontros com os dois alunos que nos foram encaminhados pela supervisão. Solicitamos a mesma que pedisse aos professores um parecer sobre os alunos que nos foram encaminhados. Poucos professores nos deram retorno. As mães ou responsáveis foram chamados mas somente uma compareceu. A outra mãe para cada encontro dava uma desculpa e não compareceu. Sempre que íamos até a sala de aula chamar os alunos com os quais estávamos fazendo o acompanhamento, os demais perguntavam em coro: "...de novo? O que vocês tanto conversam?" Como já tínhamos firmado um vínculo significativo com os acompanhados, dissemos para a turma que estes alunos estavam querendo se conhecer melhor e nós estávamos juntos partilhando nossas experiências de vida. Bastou dizer isto e a turma se tranqüilizou. Para fazer os acompanhamentos de caso, nossa equipe se organizou de tal forma que durante todos os dias da semana, um de nós estivesse na escola para o trabalho de orientação e acompanhamento. Não somente para o estudo de caso, mas para outros alunos que por ventura quisessem conversar conosco. Até porque se todos os componentes da equipe de estágio estivesse na escola não haveria lugar para realizar os encontros com os alunos pois encontrar uma sala razoavelmente adequada para fazer as entrevistas foi um
  • 32. custo. Mesmo assim fomos bem servidos com salas com possibilidade de privacidade. Até na sala de direção fizemos entrevistas. Constatamos que os alunos, quando estávamos conversando numa salada silenciosa e com privacidade, eles se abriram mais. O ambiente ajuda muito, por isto é necessário que o local o mais silencioso e organizado possível e que o orientador demonstre também com seu corpo a disposição de estar ouvindo e de fato querendo ajudar o orientado, pois do contrário, a pessoa e aqui no caso, o adolescente percebe se o orientador está com pressa, sono ou impaciente por qualquer motivo. Muitos alunos nos procuraram. Como foi o caso da aluna F. O. , da 7a série com 13 anos que tem problemas em casa com o pai e que já tentou se matar várias vezes: " Muitas vezes, a pessoa necessita apenas de ser escutada para que possa ordenar e organizar sua própria experiência. Quando ela encontra alguém pela frente disposto simplesmente a parar e escutá-la, começa a dizer coisas, antes de mais nada, para ela mesma. À medida que vai falando, escuta sua própria voz e vai colocando em ordem pensamentos que, contidos, estavam confusos. Sem dizermos nada, ela não só ordena sua experiência, como também se compreende melhor e chega a encontrar uma saída para seus problemas. Ao final de seu "monólogo", sua sensação é de alegria por Ter achado a luz no final do túnel". (MIRANDA, 1988: 77). Depois de ouvir o relato da adolescente acima citada, perguntamos se queria conversar outras vezes e se gostaria de ser ajudada. Disse-nos que estava se mudando de Ji- Paraná mas que a conversa que teve conosco tinha ajudado-a muito. Sentimos com este caso e outros de nossa equipe, o quanto faz falta a presença do Orientador Educacional na escola como fonte de apoio aos alunos e professores. Ambos sentem-se perdidos diante das dificuldades de relacionamento e de aprendizagem, por exemplo. Em relação ao estudo de casos, acompanhamos dois adolescentes da 6a série "F". Depois de aplicarmos a Anamnese e conversarmos com os responsáveis tivemos mais recursos de fazer a síntese de cada caso e fornecer uma orientação. Acompanhando o aluno W., 15 anos da 6a série "F" através da Anamnese e de entrevistas feitas posteriormente, e conversando com a responsável do mesmo, a avó,
  • 33. percebemos que ele parece depender muito da avó e espera que ela faça as coisas por ele. A avó mesma admitiu que o superprotege e reconhece que devido as dificuldades pelas quais o neto passou ela o "mimou" por demais e que agora percebe o quanto isto o prejudicou e está prejudicando. Que apesar de Ter ido a tantos psicólogos somente agora percebe que precisa mudar de atitudes para que o neto assuma as coisas por si próprio. Que não poderá comprar dele responsabilidade diante do compromisso que ele mesmo tem que assumir. A avó admitiu que pagava para que ele estudasse e fizesse as tarefas da escola. Informamos ainda que no momento o W., apresenta as seguintes dificuldades: não teve freqüência em várias aulas da disciplina de Ciências, não participando das atividades propostas pela professora. Não demonstra interesse em outras disciplinas de forma mais ou menos acentuada. Parece demonstrar interesse em disciplinas em que os professores o motivam e interpelam pessoalmente. Nas disciplinas de História, Português e Educação Artística vem melhorando o desempenho. Mantém um bom relacionamento com os colegas de sala de aula e é estimado por eles. Diante das dificuldades acima relacionadas, é provável que o W., necessite se acompanhado de forma a que ele mesmo aprenda a necessidade de se organizar e de se sentir responsável por seus próprios deveres e obrigações. Ele mesmo afirmou durante a anamnese e outras entrevistas que fizemos, que lhe falta "vontade de fazer as coisas". Parece estar consciente do fato de que em algumas disciplinas é desmotivado, não participando das atividades e reconhece que isto prejudica seu desempenho. É provável que o excesso de cobrança ou a superproteção dificilmente irão colaborar para o crescimento e o amadurecimento do referido aluno. Pensamos que, no momento, a melhor forma de ajudá-lo é acompanhar desafiando-o ao crescimento de forma gradativa, processual e gratuita. Não apresenta dificuldades maiores em relação a aprendizagem em sala de aula. A avó do W., pediu este diagnóstico e orientações e nós o fizemos por escrito pela supervisora da escola.
  • 34. Depois da Anamnese continuamos fazendo acompanhamento com o W., por algumas semanas, a pedido da avó. Sentimos que houve progresso em relação aos estudos e hábitos de organização e responsabilidade. O segundo adolescente que acompanhamos para o estudo de caso é o aluno F,. de 12 anos, também da 6a série "F". Ele mesmo pediu para conversar mais depois da primeira conversa a partir do questionário feito com todos os alunos de sua sala. Combinamos que iríamos fazer uma conversa mais longa e ele aceitou dizendo que precisa conversar com alguém. E assim aplicamos a anamnese e constatamos que o F,. é filho de pais separados. Ele mesmo diz que está difícil aceitar a separação e que somente agora começa a aceitar. Diz ainda que gostaria muito que seus pais vivessem juntos novamente. Desde o início reclama muito da solidão e do vazio que sente, principalmente à noite e pergunta: "Você também sente vazio e solidão, assim como um buraco na barriga?" A resposta afirmativa arrancou um sorriso de seus lábios. Logo no início da separação F,. foi morar com sua mãe e seu padrasto. Se desentendeu com o padrasto e a mãe o mandou para o pai. Sentiu muito e achou injusta a decisão da mãe. Atualmente vive com o pai mas sente muita falta da mãe e não gosta da madrasta porque é muito asia, pessoa chata, em linguagem popular. Disse-nos que gosta muito de conversar com pessoas mais velhas e principalmente com sua tia, que quando conversa com alguém ele se acalma. Afirma que tem muito medo da solidão e de ficar sozinho. A mãe do F,. foi chamada várias vezes na escola para conversar conosco mas não compareceu alegando falta de tempo. Por duas vezes, durante os dias em que estávamos atendendo na escola, o F,. apareceu na sala de supervisão acompanhado de um professor pois F,. estava agredindo um colega e brigando em sala de aula. Ele mesmo diz que quando fica nervoso começa a "endoidar, falo alto e grito e desconto nas pessoas... não consigo parar.. tento me controlar mas não consigo..." Diante de tudo o que conseguimos observar e sentir, é bem provável que o aluno F,. atualmente apresenta dificuldades em lidar com a questão da separação dos seus pais e como não aceita o fato, fica angustiado e nervoso, não conseguindo lidar com os conflitos que aparecem quando se relaciona com seus colegas de sala de aula e na escola. Ele mesmo
  • 35. admite que tem dificuldade de relacionar-se com a maioria de seus colegas. Expressa que não gostaria de brigar com ninguém e sofre com isto. Não apresenta problemas na área da aprendizagem, pelo contrário. Se expressa com facilidade. É comunicativo. Olhando para a realidade do aluno F,. podemos indicar que ele necessita ser acompanhado mais de perto no sentido de que tenha oportunidade de falar de seus medos e de sua revolta em relação à separação dos pais. Percebemos esta necessidade pois no final da anamnese e das outras entrevistas que tivemos com ele, afirmou várias vezes: "Tô mais leve agora, tô mais contente". Este trabalho de acompanhamento precisaria ser feito juntamente com a mãe pois ele reclama muito a ausência dela em sua vida. Aproveitar que ele gosta muito da escola e diz sentir-se muito bem nela, apesar das dificuldades com os companheiros. Precisa ser tocado, amado e querido. Precisa sentir concretamente que não está sozinho. No final da anamnese, o abraçamos fortemente e ele chorou copiosamente. Possivelmente, toda a forma agressiva com que reage diante de algumas situações concretas em casa, na sala de aula e na escola seja de fato um grito de socorro sobre si mesmo querendo dizer que ele existe, que está vivo, que olhem para ele. Este aluno, como tantos outros sofrem com a questão da separação dos pais e nos parece que esta realidade não está sendo levada em consideração em geral na escola. É bem verdade que quando um adulto e um adolescente se encontram, criam laços significativos em que se mesclam alegria e compaixão. Não importa quão complicado, quão assustador ou desencorajador, quão incerto se revele o processo - a possibilidade de um encontro está sempre presente quando um adulto depõe de coragem, força e percepção. A vida de encontros é um processo de mão dupla. É um confronto pessoa-pessoa no qual o adolescente e o adulto buscam revelar significados ocultos; expressar os verdadeiros sentimentos e pensamentos; criar um clima de aprendizagem em que os conflitos, desafios, e insights e a consciência se integram à sensibilidade e à compaixão. Através deste encontro, o adolescente é levado à maturidade e a uma identidade saudável.
  • 36.
  • 37. RELATÓRIO DA II PARTE DO ESTÁGIO EM ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Estamos retornando à Escola em que realizamos a primeira parte de nosso estágio. Desta vez, referendados pelo significativo trabalho anterior. A acolhida é simples mas sincera e atenciosa. Com a ausência da supervisora por motivos pessoais, a escola está um pouco tumultuada. Há alguém que viria substituí-la mas ninguém sabe se virá mesmo. Diante disto, quem me atente é o próprio diretor que me acolhe e encaminha diante da realidade que a escola está vivendo no momento. Tive que voltar mais algumas vezes para terminar de organizar o roteiro em relação às atividades de Orientação Vocacional e mesmo do Atendimento ao SOE. Às vezes tive a impressão de que estava prestando um favor à escola. Como de fato, necessitava realizar o estágio, avancei com ousadia e dinamismo. No final, a experiência foi muito rica e significativa. ”Eu me sinto aprisionado, sem onde ir, sem rumo, cercado pelo mar... estou travando uma batalha sentimental comigo mesmo" . (F., 16 anos, aluno do Ensino Médio) Em relação ao atendimento ao SOE, me coloquei à disposição da escola. Conversando com a vice-diretora, ficou decidido que eu iria trabalhar uma pequena fala de conscientização com alunos de 5a ao 3o ano do Ensino Médio. Fiquei contente por estar prestando um serviço que viesse trazer uma atividade alternativa aos alunos. Esta fala teve como objetivo, conscientizar os alunos em relação ao cuidado com a escola, regras de conduta para uma pessoa conviver bem com as outras, necessidade de se trabalhar pela paz em nós mesmos, em nossas casas e em nossa escola e finalmente, colaborar para que o ambiente ao nosso redor seja mais gostoso e humano. Geralmente , nesta atividade de atendimento ao SOE, iniciamos com uma apresentação simples minha e dos alunos: idade, gostos, receios e o que cada um mais
  • 38. gostava de fazer. Logo após, sem pressa e tranqüilamente, com uma música de fundo, fizemos um momento de relax. Os menores, no início achavam graça, mas depois conseguiam fazer silêncio e foi possível fazer um bom trabalho. Depois seguimos com a dinâmica da folha branca onde cada aluno a comparou com sua vida e com o que estava fazendo dela e com ela. Motivamos a cada um que fizesse uma obra de arte com a folha, uma espécie de origame. Tudo com um fundo musical para se criar o clima. A participação foi muito rica em quase todas as turmas. Fizemos a exposição das obras e cada um pode apreciar e refletimos juntos sobre a necessidade de se aproveitar as energias que temos para o bem e para a vida e de compreender porque agimos desta ou daquela maneira quando não estamos bem. A partilha foi muito bonita. Continuamos desenvolvendo a dinâmica "Era uma vez uma escola"... Cada aluno recebia uma folha e escrevia frase acima no início da mesma. Dado um sinal, continuava a frase e depois passava para o colega a sua direita. A garotada se entusiasmou. Muitos também aproveitaram o momento para escrever besteiras e avacalhar com os colegas. Aproveitamos as frases e palavras para reflexionar com eles. Sem impor moralismos, conseguimos ajudá-los a perceber que a violência seja verbal, seja física é um círculo vicioso que aumenta sempre que a estimulamos. Ainda cantamos, brincamos e no final, sempre com cada turma, procuramos construir um compromisso diante daquilos que eles achavam que precisa de melhoras. Como tínhamos o tempo de uma aula para cada turma, aproveitamos bem cada momento. Segundo os próprios alunos, o que mais valeu a pena foi o fato de eles terem uma oportunidade de um espaço diferente para falar de si mesmos sem imposições, gritos. Na verdade, nós como professor, apenas mediamos e motivamos. Deu certo. Segue abaixo uma análise que foi passada para a escola, a pedido da própria direção depois do trabalho feito com todas as turmas de 5a à 8a séries e do 10 ao 30 ano do Ensino Médio. Preferimos denominar o trabalho de "encontro", visto que, segundo os alunos mesmos, "palestra" na maioria das vezes combina com sono, chatice, uma pessoa falando muito tempo, coisa enjoada, lição de moral.
  • 39. Ao longo dos encontros, procuramos não falar muito mas, através de dinâmicas de sensibilização e conscientização possibilitar um espaço de convivência sadia e prazerosa. Trabalhamos com o corpo, gestos, movimentos, atitudes positivas diante da vida, silêncio e relaxamento. É bem verdade que isto foi uma iniciativa que precisa ser alimentada e continuada. É gratificante perceber que a escola esteja preocupada com a formação integral dos alunos e o desenvolvimento humano-afetivo dos mesmos. Sabendo que toda observação é limitada e sendo consciente disto, tomamos a liberdade de elencar o que percebemos de mais significativo no trabalhos realizado com as turmas, no contato direto com os alunos, e nas avaliações feitas oralmente e escritas. Avaliações não para cobrar e sim para perceber quais os gritos e necessidades dos alunos. Percebemos que as turmas que já haviam tido conosco um contato maior no primeiro semestre por ocasião do estagio I, estavam mais calmas, mais interessadas e participativas, em geral. Estavam mais à vontade. Isto prova a teoria de que qualquer trabalho de conscientização e sensibilização precisa ser continuado e processual. As turmas em que os alunos foram mais motivados para vir ao encontro, também responderam de forma mais consciente e animada. Isto também ratifica a teoria de que o adolescente em geral, quando tem um referencial de autoridade que se mostra presente, desafia e motiva de forma amiga e honesta, desperta no adolescente o desejo de participar e de querer se conhecer e por sua vez crescer e se tornar melhor. Amadurece de forma saudável. De que o aluno precisa sentir quem é quem na escola. Quem é a autoridade, no sentido de referencial de coordenação e animação da comunidade educativa. É bem verdade que o adolescente necessita de referenciais numa sociedade com crise generalizada de anomia. De algumas turmas compareceram poucos alunos. Com exceção de uma 7a série, a maioria dos alunos ausentes foi do Ensino Médio. Parece que foram pouco motivados. Muitos aproveitaram o momento para ir embora ou matar aula. Os que compareceram aproveitaram o momento.
  • 40. Os alunos de 5a e 6a reclamaram muito da falta de educação e da brutalização entre eles mesmos. Parece que aqui está um grito muito sério pois em geral eles já vêm de um clima violento e hostil e continuam este círculo vicioso na escola. Pensamos que as relações humanas trabalhadas dentro do contexto da escola e da realidade dos adolescentes seria algo a se pensar com certa urgência. Dentro desta realidade, é certo o que diz Maria Helena Novaes quando afirma que a aprendizagem é um processo dinâmico que implica na modificação adaptativa do comportamento do indivíduo e envolve experiência de vida além de conhecimentos. Com as 7as e 8as séries o trabalho foi tranqüilo e não apareceram dificuldades maiores. Alguns alunos tiveram dificuldade de concentração e disciplina. Em geral demonstraram gostar de estar convivendo fora de sala de aula com os colegas num espaço diferente. Participantes e ativos, partilharam sobre suas vidas, temores, sexualidade e desejos de serem respeitados. Quanto aos alunos do Ensino Médio, foram os que mais faltaram nos encontros. Bastante apáticos e pouco interessados. Com uma ou duas turmas houve participação ativa e reclamaram porque o tempo foi curto. Conversando com outros professores, a colocação foi a mesma de que os alunos do Ensino Médio em geral são muito parados e participam muito pouco. Não cabe aqui reflexões maiores sobre esta realidade. Nos parece que em geral a fala da escola não toca a realidade juvenil. Foi um pedido geral dos alunos para que a escola tivesse mais espaços de encontro como os que realizamos. Espaços de convivência para estarem juntos, contando com a presença de um professor ou motivador. Estão conscientes de que a escola têm bons professores mas parecem desejosos de outras experiências significativas. Levando em consideração o calor, a realidade do mundo dos adolescentes, mundo de movimentos e ebulição, psicológica e biológica, podemos dizer que o trabalho foi significativo e marcante por possibilitar aos alunos um momento de experiência sadia e descontraída de convivência. Oxalá a escola continue neste processo de oferecer aos alunos oportunidades de crescimento intelectual, afetivo e social. Parece não ser necessário coisas
  • 41. complicadas para se trabalhar significativamente com os adolescentes. É preciso sim, paciência abertura e respeito por eles. É desafiante mas vale a pena quando os vemos partilhar a vida e seus temores com naturalidade e profundidade. Foi interessante que em geral os alunos reclamaram da falta de respeito em relação aos professores e de alguns professores que são muito agressivos e que gritam muito com os alunos. Parece que esta realidade a escola precisaria retomar pois desde o primeiro contato que tivemos com os alunos eles vêm reclamando muito quanto a isto. Pensamos que não se trata de dar razão aos alunos e sim tornar a sala de aula um espaço mais humano e educativo. Os alunos demonstraram saber de suas limitações mas pensamos que necessitam dentro de um trabalho sistemático serem orientados e desafiados a relacionamentos menos agressivos e violentos. Mesmo que levemos em consideração que o adolescente passa por processos de mudança muito fortes e intensos, não necessariamente ele tem que agredir e dar vazão à sua agressidade como quer e deseja. Necessita ser orientado e educado para crescer e amadurecer. Quem sabe ai, a escola estaria dando um importante acompanhamento ao aluno como ser que deseja muito mais do que conhecimento teóricos. Neste desejo de orientar para a vida a partir da realidade do adolescente e do seu contexto sócio-cultural, partimos para o trabalho de Orientação Vocacional com os alunos do 30 ano do Ensino Médio. Iniciamos o processo de Orientação Vocacional entrando em contato com os alunos do 3o ano, do turno vespertino. Alunos simpáticos, acolhedores se mostraram dispostos a participar da O.V. Foi um primeiro encontro. Na verdade, como estávamos na escola fazendo um trabalho sobre a "Questão do Plebiscito da Dívida Externa" aproveitamos para ligar o tema com a questão da cidadania e dos ideais e projetos, pois acreditamos que nunca podemos isolar as coisas e tampouco a vida. Para saber quantos alunos desejavam participar da O.V. falamos do projeto, de como seria desenvolvido e dos objetivos da Orientação Vocacional em relação aos alunos que estão terminando o Ensino Médio e ou estão cursando o Ensino Médio. Falamos
  • 42. também da riqueza do projeto e do bem que poderia trazer aos alunos em relação ao futuro de suas vidas a partir da realidade atual que estão vivendo. Para responsabilizar aqueles que desejavam fazer a O.V. aplicamos as seguintes questões e no final pedimos que eles colocassem os nomes: Você deseja participar dos encontros de Orientação Vocacional? Por que? Você já recebeu ou buscou alguma orientação sobre sua vida ou seu futuro profissional? Em relação a este último ano de estudos no Ensino Médio, como você se sente? Deseja perguntar algo que despertou tua curiosidade em relação a Orientação Vocacional? Em relação as respostas que os alunos deram podemos fazer as seguintes observações: dos 30 alunos da turma, apenas dois não quiseram fazer os encontros. Dois rapazes. A maioria quer participar dos encontros para conhecer melhor a personalidade, abrir os horizontes em relação ao futuro e se encontrar profissionalmente. Uns 30% já tiveram alguma informação em relação ao futuro profissional através de leitura de livros e revistas, de palestras e cursos. Os outros 70% não tinham recebido até o exato momento nenhuma orientação vocacional. Em relação a este último ano de estudos no ensino médio, se sentem felizes mas muito preocupados, ansiosos e nervosos em relação ao futuro profissional, mercado de trabalho, vestibular. A maioria está ansiosa em relação ao vestibular e preocupados em fazer a opção certa. Diante deste quadro, orientamos que os encontros de orientação vocacional poderia ajudar a esclarecer dúvidas enquanto ao conhecimento de suas próprias aptidões e conhecimento das várias profissões, mercado de trabalho e tendências de mercado. Deixamos claro que os encontros de orientação vocacional seriam meios mas não precisamente respostas para todas as dúvidas. Diante destes esclarecimentos todos, partimos para o primeiro encontro. Neste, procuramos acolher a turma e deixá-la bem à vontade, fazendo uma brincadeira para relaxar. Logo após, fizemos algumas observações em relação aos encontros de orientação vocacional dizendo que escolher uma profissão é começar a rabiscar um projeto de vida que implica riscos e possibilidades. Que estabelecer um projeto de vida implica em renunciar a outras escolhas possíveis. Que uma pessoa pode amar várias profissões e Ter que escolher
  • 43. uma. Que decidir é um processo e um ato de coragem que implica uma escolha e encarar o conflito que se trava dentro de cada um. Que é muito salutar conversar com pais, professores e profissionais das diversas áreas. Que o diálogo sempre enriquece mas deve ser a própria pessoa que deverá tomar a decisão final. Que avaliar as profissões mais rentáveis e em ascensão no mercado pode ajudar mas é preciso Ter cuidado pois o que está em alta hoje, amanhã pode não estar. Que o que ajuda muito é buscar apoio, se conhecer e estudar muito. Após estas colocações, com um fundo musical, fizemos a dinâmica do "Palito de Fósforo", onde cada aluno tinha que acender o palito e falar de si mesmo o tempo que o palito permanecesse aceso. Alguns não quiseram participar. Percebemos grande dificuldade que eles demonstram no falar de si mesmos. Em geral falaram de sua idade, família e sonhos. Porém, o que apareceu em primeiro lugar nas falas dos alunos foi a questão de Deus e da religião. Característica muito forte da turma. Os alunos (rapazes) não quiseram falar de si mesmos. Depois demos mais um tempo para falar da dinâmica e eles colocaram que é muito difícil falar de si mesmos e que na sala de aula não tinham oportunidade para isto e nem confiança para tal. Percebendo esta realidade da turma, procuramos não forçar a barra e ir com paciência favorecendo momentos de partilha durante todas as atividades realizadas. Na continuação, pedimos que cada um se imaginasse como um "ET" que acabou de chegar a uma cidade sendo este seu primeiro contato com a terra. Perguntamos como ele, sendo um ET, veria o mundo das profissões e escolhesse três. Demos um tempo. Silêncio e um fundo musical agradável. No princípio acharam super engraçado mas depois entraram no clima e a coisa fluiu. A partilha foi super interessante e a partir daí cada um já começou a dar-se conta que a imaginação ajuda muito e que as dinâmicas podem ajudar a burilar nossos desejos, sonhos e aptidões. A maioria partilhou de uma forma descontraída. Neste clima, aplicamos o primeiro teste de personalidade "Quem sou eu?", tirado do Guia do Estudante - Profissões e Mercado de Trabalho 2000 . O teste traz a personalidade como resultado da combinação de oito tipos básicos de temperamento: extrovertido x
  • 44. introvertido, racional x emotivo, perspectivo x intuitivo, analítico x perspicaz. O teste possibilita cada aluno se conhecer melhor e indica quais as profissões que mais combinam com o jeito de ser de cada um. Aplicamos o teste mas os alunos tiveram grande dificuldade de compreender as questões do teste e daí não foi possível terminá-lo e tampouco fazer a correção do mesmo. Ficamos frustados por isto e como o tempo do encontro já estava terminando, combinamos que retomaríamos o teste no próximo encontro. Os alunos porém queriam continuar. Queriam o resultado. Ficaram um pouco frustrados também. Como a frustração também é salutar, encerramos o encontro com saldo positivo em favor de todos. Prosseguindo nossos encontros, neste os alunos já estão mais a vontade e manifestam a alegria de estar participando. Incialmente fizemos um momento de relax para sentir o corpo, a vida e os movimentos do ser: sensibilidade. Retomamos o encontro anterior e fizemos uma pequena avaliação. Os alunos estão contente e dizem que está valendo a pena participar. Depois desta conversa, ponderamos as seguintes questões: que em relação aos testes, podemos dizer que eles são instrumentos, meios para ajudar a esclarecer algumas tendências que já trazemos dentro de nós. Que os testes dependem muito do momento que estamos vivendo, sentimentos, fase da vida. Que vocação é aquilo para o qual nós somos chamados a ser em relação à profissão. Que aptidão é aquilo para qual eu vivo, que tenho facilidade. Que interesse cada um pode Ter vários, por várias profissões, mas precisa-se priorizar. Pensamos ser muito útil fazer os esclarecimentos acima. Após animamos a galera com alguns movimentos de ginástica onde os alunos ficavam dois a dois de costas e um levantando o outro numa gostosa gangorra e depois outros movimentos. Gostaram imenso e riram a vontade. Este contato com o corpo do outro possibilitou uma maior abertura e interação entre eles mesmos. Há alunos que estão juntos dois anos e se conhecem apenas pelo primeiro nome. Num terceiro momento, novamente aplicamos o teste de personalidade, desta vez lendo com eles, pergunta por pergunta e esperando que todos as respondessem para que depois pudéssemos prosseguir. Deu certo e tivemos êxito. Em seguida, com a posse do
  • 45. escore pedimos que fizessem grupos de três alunos para que corrigissem . Assessoramos este momento de correção e de identificação. A maior dificuldade que tiveram foi mesmo quanto à interpretação. No geral, ficaram contentes pois se sentiram identificados com o resultado. Colocamos que este trabalho de descoberta da personalidade é trabalho de uma vida inteira, que é um processo que precisa ser alimentado e construído. Que a personalidade é algo que vamos construindo e desenvolvendo. Finalizamos este encontro com a dinâmica do "Guia do cego", muito conhecida e não necessária de explicações maiores. Participaram com intensidade. Salientaram na partilha, que a dinâmica vem bem de encontro à realidade deles mesmos: `as vezes se sentem como cegos e que necessitam de orientação mas tem dificuldade de confiar, de que existem poucas pessoas para o serviço de acompanhar. Gostaram de conduzir muito mais do que serem conduzidos, justamente porque tem dificuldade de confiar. Durante o avançar dos encontros percebemos que eles também foram se soltando e participando mais. Para fechar o encontro, fizemos propaganda da "Mesa Redonda" que iria acontecer no próximo encontro, nas dependências da ULBRA. Explicamos os objetivos e a importância do encontro. Juntamente com o ônibus, os alunos e uma professora da escola que nos acompanhou, às 13 horas do dia 04.09., rumamos para a ULBRA. Este encontro teria como objetivo central possibilitar aos alunos um contato com profissionais de diversas áreas que trabalham em nossa cidade: um administrador, um professor de informática, um contador e uma médica veterinária. Os profissionais foram muito claros e objetivos em suas colocações. Em geral os alunos fizeram poucas perguntas mas colocaram que a mesa redonda foi muito esclarecedora para eles. No final, na ULBRA mesmo, fizemos uma avaliação com os alunos e eles colocaram que tudo foi válido. No entanto, disseram eles, alguns alunos tinham perguntas mas ficaram com medo de se manifestar. Acharam que poderia Ter havido um momento de entrosamento com os alunos do CEDUSP que também estavam participando da mesa redonda. No final, como faltava um tempo para que o ônibus viesse buscá-los, a Nara mostrou para nós as dependências dos prédios da ULBRA e do
  • 46. CEDUSP explicando um pouco a organização da escola e da própria faculdade. Na conversa informal os alunos disseram que gostaram mais do contador pois foi o que brincou com a turma e foi capaz de estabelecer um relacionamento mais simpático e lúdico com os mesmos. A professora da Escola Aluízio Ferreira que nos acompanhou os alunos no final do momento de partilha que tivemos disse que eles deveriam exigir estruturas boas na escola pública onde estudam. Porém, não somente exigir mas acima de tudo, zelar por aquilo que já possuem. No encontro seguinte os alunos estavam um pouco desanimados. Procuramos conversar com eles. Às vezes estão assim mesmo: apáticos e desejam somente ficar em silêncio. Resta saber se este silêncio é um grito de socorro ou uma necessidade. Iniciamos o encontro com um momento de ginástica para sentir o corpo, relaxar e deixar os alunos à vontade. Com um fundo musical colocamos figuras variadas no chão que demonstravam situações inusitadas da vida de um ser humano. Desejamos trabalhar com esta dinâmica as questões das escolhas, identificação, gostos, o momento presente que estão vivendo, situação pessoal, futuro e perspectivas. Os alunos partilharam bastante, no sentido de se identificarem com as gravuras, por exemplo: casamento próximo (medos, sonhos), vida de casada com mais sentido e Ter uma casa própria, identificação profissional, recordações dolorosas da infância que estão trabalhando para aceitar e mudar, dificuldades espirituais e materiais para viver uma vida decente, momento intenso de felicidade, desejo e busca de um espaço para ficar só, ás vezes, chamado à responsabilidade para enfrentar a vida e preocupação com o futuro. Foi um exercício de escuta muito significativo. Prosseguimos com a dinâmica "do auto-retrato", com o objetivo de continuar desenvolvendo maior consciência de si mesmo e de sua história pessoal. Pedimos para que cada um desenhasse um homem ou uma mulher conforme o seu sexo. Diante da cabeça deveria escrever três idéias que jamais desejaria esquecer; diante da boca, três expressões que teve que se arrepender na vida por Ter falado; diante dos olhos, três coisas que viu e que mais o impressionou; diante do coração, pessoas que ama e que gostaria que nunca saíssem do seu coração; diante das mãos, coisas que fez de bom e que nunca serão
  • 47. esquecidas; diante dos pés, quais foram as piores coisas que fez e que se arrepende de Ter feito. Tiveram dificuldades de resolver algumas questões, em especial de se lembrar ou relatar as coisas desagradáveis que fizeram. Foi feita uma partilha dois a dois e percebemos o quanto os alunos continuam apreciando momentos que lhes possibilitem um conhecimento mútuo. Continuamos as atividades sugerindo a eles que fizessem uma viagem imaginária. O objetivo deste momento foi de experimentar papéis profissionais distintos a partir da pergunta: " Sonhei que era um profissional, como eu vivia?" Onde se vê? Quem são meus chefes? Quem são meus amigos e parceiros? Qual a tarefa que lhe é mais simpática? Qual você menos gosta? Quando você volta para casa o que conta para seu parceiro e filhos? Depois de viajarem, fizemos o momento de partilha e para muitos, estava ficando cada vez mais claro a identificação profissional e em relação aos alunos com a vida bastante definida (as alunas casadas) surge cada vez mais a idéia de que o casamento não corta a possibilidade de crescer pessoal e profissionalmente, mesmo que mais exigente, é verdade. Assim, com estas dinâmicas cada começava a redefinir seu sonhos e espaços utópicos. Terminamos o encontro aplicando o Teste Inventário de Interesses. Em relação a este, não tiveram dificuldade de interpretação pois alguém já havia aplicado neles, este mesmo teste. Apenas que ficaram frustrados pois o aplicador não foi capaz de encaminhar satisfatoriamente . Aplicamos o teste e a reação dos alunos foi tranqüila. Solicitaram apenas que o resultado fosse repassado com tempo esclarecendo as dúvidas dos alunos. Nosso próximo encontro foi na ULBRA. Compareceram apenas 15 alunos dos 28 que geralmente participam. Uma das causas para a pouca freqüência foi que muitos alunos estavam participando do JOER e outros tinham outras atividades. A professora Asta, com sua paciência e calma características, aplicou nos alunos o Teste Visual de Interesses (Slides). No princípio algumas alunas tiveram dificuldade de compreensão mais aos poucos tudo foi se esclarecendo. Os alunos que participaram viram mais uma vez suas opções ou sonhos sendo confirmados. A professora Asta foi muito feliz na aplicação do teste e os alunos gostaram
  • 48. das pequenas colocações que ela foi colocando ao longo e no final do teste. A correção foi feita no mesmo dia e os alunos puderam confirmar o que vêm percebendo ao longo dos encontros. Neste encontro, novamente uma professora da escola acompanhou os alunos e isto foi um fator positivo e a presença dela foi muito significativa pois fez algumas colocações muito pertinentes em relação à história profissional dela mesma. Estamos quase chegando ao final dos encontros. Partimos para o antepenúltimo. Iniciamos este com a reflexão "Gente Cometa", que desafiou cada aluno a assumir com responsabilidade a construção de seus próprios destinos, contra uma falsa teoria de que nossos destinos estão traçados e que não temos muito mais a fazer do que esperar e nos adaptar fatalisticamente ao acaso. Partilhamos impressões e sentimentos. A caminhada é progressiva e exige paciência. Logo após este momento, corrigimos junto com os alunos o Teste de Interesses (L.L. TRUSTONE). Não tiveram dificuldade para fazê-lo. O teste traz um espaço para observações e solicitamos que eles escrevessem algo em relação aos resultados dos testes que vêm fazendo. No geral estão contentes com o resultado e aqueles que não foram sinceros, agora demonstram um pouco de descontentamento e arrependimento pela falta de autenticidade. Procuramos fazer um processo de orientação realista pois sabemos que, diante dos resultados, muitos terão grande dificuldade de fazer a faculdade que desejam fazer. Mesmo assim, a oportunidade de se conhecer melhor está sendo um dos pontos altos dos encontros e os alunos demonstram isto pela forma como reagem nos encontros. Continuamos este encontro com a dinâmica "O Jogo de Decisões", com o objetivo de ajudar os alunos a perceber seu próprio processo de tomada de decisão. Explicamos aos alunos que iríamos apresentar propostas, uma de cada vez, às quais cada participante deveria responder negativa ou afirmativamente. Que seria necessário tomar decisões rápidas. Solicitamos ao grupo que quando a resposta fosse afirmativa, deveriam dar três passos para frente. No caso de reposta negativa, três passos para trás. Eis exemplos de propostas para tomada de decisões e inventamos outras na hora e pedimos que eles mesmos falassem outras durante a dinâmica: Viajar para São Paulo como doméstica ou jardineiro
  • 49. por seis meses. Participar de um grupo de teatro, tendo de deixar este grupo, trabalhar num posto médico todas as tardes, saber a verdade acerca do seu passado - você é filho adotivo, experimentar maconha para ver como é, tomar parte numa ocupação de terra, dedicar parte de sua vida a um trabalho voluntário numa região de fronteira... Gostaram imenso. A questão que mais causou polêmica foi a do trabalho voluntário. Apareceu claro questões de valores, desejos, capacidade de renúncia. Duas alunas disseram que jamais fariam isto e os demais debateram com elas o valor de um trabalho voluntário. Não interferimos na discussão mas no final procuramos colocar que isto é uma prática que está crescendo muito entre os recém formados e a experiência bem sucedida de profissionais já formados que atendem pessoas carentes um dia por semana, gratuitamente. Colocamos também a necessidade do valor social do trabalho de voluntariado. Sem impor-mos verdades prontas, a discussão foi muito pertinente. Prosseguimos (fundo musical) pedindo que eles preenchessem uma folha com pequenas perguntas simples mas profundas. Eles gostam tanto da música como de escrever. Aproveitamos isto. As perguntas estavam relacionadas aos gostos deles, infância, presente, desejos em relação ao futuro e algo das "Fábulas de Duss". A resposta de uma pergunta nos chamou a atenção pela forma como os alunos se expressaram. pergunta é a seguinte: Para escolher uma profissão levo em consideração... Aí os alunos colocaram: mercado de trabalho, realização pessoal, vocação, desejos pessoais e necessidades dos outros, gostos e tendências pessoais, ideais e valores pessoais, questão salarial, todos os testes que fizemos, aptidões pessoais. Olhando para estas colocações se percebe que os alunos aproveitaram os encontros para buscar referenciais para suas escolhas e situação atual de vida. Terminamos o encontro passando uma folha de inscrição para aqueles que desejassem Ter uma conversa pessoal. Tivemos 15 alunos inscritos. Uma aluna pediu: "Mas o senhor faz as perguntas tá?" Chegamos na escola no horário marcado. A partir da folha de inscrição que fizemos, começamos chamar os alunos. No início ficaram um pouco nervosos e foram se soltando, falando de suas vidas, dúvidas e temores. Ficamos na escola a tarde inteira atendendo os