SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 11
Camões


         Corrente renascentista
Tema:
A despedida dos amantes; Saudade causada pela separação.



   O tema deste conhecido soneto é a separação
   (despedida) dos amantes numa madrugada
   simultaneamente “triste e leda”. Triste porque
   testemunha da grande dor que os domina, portanto,
   subjetivamente triste; e alegre, porque se trata do
   romper duma aurora “amena marchetada” de um
   dia radioso, portanto objetivamente, alegre.
Assunto:
A madrugada assiste, como simples espectadora, à despedida
dolorosa de duas almas que se amam. Ressalta a oposição
entre os planos objectivos e subjectivo – a madrugada,
enquadrada na sua beleza multicolor, assiste, impassível, à dor
lancinante de duas almas apaixonada que se despedem e que
possivelmente nunca mais se verão.
Divisão em partes lógicas


Aquela triste e leda madrugada,               •1ª. parte: O sujeito lírico anuncia o desejo de
cheia toda de mágoa e de piedade,             nunca mais ver esquecida a madrugada em
enquanto houver no mundo saudade,             que se deu a separação.
quero que seja sempre celebrada.

Ela só, quando amena e marchetada              •2ª. parte: Justificação do desejo expresso –
saía, dando ao mundo claridade,                recordar sempre essa madrugada porque foi
viu apartar-se d`ua outra vontade,             ela a única testemunha da separação.
que nunca poderá ver-se apartada.

Ela só viu as lágrimas em fio,                 •3ª. parte: Há uma concretização dos
que duns e doutros olhos derivadas,            fenómenos presenciados: a separação dos 2
s`acrescentaram em grande e largo rio;         amantes, as lágrimas em fio, as palavras
                                               magoadas.
Ela viu as palavras magoadas,
                                               Verifica-se, assim, um estruturação lógica das
que puderam tornar o fogo frio,
                                               ideias – há um percurso do mundo interior
e dar descanso as almas condenadas.
                                               para o mundo exterior, do mais geral para o
                                               mais particular.
Aquela triste e leda madrugada,             1º. Momento: constitui uma introdução, expõe
cheia toda de mágoa e de piedade,           a ideia geral de um eu: o poeta manifesta a
enquanto houver no mundo saudade,           vontade (“quero”) de que “aquela triste e leda
quero que seja sempre celebrada.            madrugada (…) seja sempre celebrada”;

Ela só, quando amena e marchetada            2º. Momento: justifica-se a necessidade da
saía, dando ao mundo claridade,              celebração dessa madrugada, correspondendo
viu apartar-se d`ua outra vontade,           cada uma dessas estrofes a um momento da
que nunca poderá ver-se apartada.            justificação. Cada um desses momentos é
                                             marcado, não só pela divisão estrófica, mas
Ela só viu as lágrimas em fio,               também pela repetição do pronome pessoal
que duns e doutros olhos derivadas,          “Ela”, referido à madrugada, personagem
s`acrescentaram em grande e largo rio;       principal e única testemunha (“viu”) daquela
                                             separação.
Ela viu as palavras magoadas,
que puderam tornar o fogo frio,
e dar descanso as almas condenadas.
                                                         1º. momento       2º. momento
                                         SUJEITO         Poeta             Poeta
                                         OBJETO          Madrugada         Separação
                                                         triste e leda,    lágrimas em fio,
                                         DESCRIÇÃO DO
                                                         cheia de mágoa    palavras
                                         OBJETO
                                                         piedosa           magoadas
O sentimento predominante neste soneto é
                                         a tristeza provocada pela separação
                                         (sofrimento amoroso).
                                         Esse sofrimento foi testemunhado pela
Aquela triste e leda madrugada,          madrugada:
cheia toda de mágoa e de piedade,              -utilização do termo anafórico “Ela”,
enquanto houver no mundo saudade,              que substitui a palavra madrugada ao
quero que seja sempre celebrada.               longo do poema
                                               - a madrugada é personificada
Ela só, quando amena e marchetada
saía, dando ao mundo claridade,
viu apartar-se d`ua outra vontade,
que nunca poderá ver-se apartada.

Ela só viu as lágrimas em fio,
que duns e doutros olhos derivadas,
s`acrescentaram em grande e largo rio;

Ela viu as palavras magoadas,
que puderam tornar o fogo frio,
e dar descanso as almas condenadas.
O soneto desenvolve o contraste entre a beleza da Natureza e a tristeza da despedida.
O tema das despedida dos apaixonados ao amanhecer é uma característica herdada das composições
medievais (albas).


A tristeza – devida à        Aquela triste e leda madrugada,
despedida;                   cheia toda de mágoa e de piedade,
A alegria – porque se        enquanto houver no mundo saudade,
anuncia um novo dia,         quero que seja sempre celebrada.
cheio de luz, cor e                                                         Os amantes, ainda que
movimento                    Ela só, quando amena e marchetada              separados fisicamente,
                             saía, dando ao mundo claridade,                estariam sempre unidos
                             viu apartar-se d`ua outra vontade,             pelo amor, porque
                             que nunca poderá ver-se apartada.              constituem uma «única
O sofrimento desumano,                                                      vontade».
acima do que é normal        Ela só viu as lágrimas em fio,
aguentar-se, maior do        que duns e doutros olhos derivadas,
que o próprio sofrimento     s`acrescentaram em grande e largo rio;
do inferno.
                             Ela viu as palavras magoadas,
                             que puderam tornar o fogo frio,
                             e dar descanso as almas condenadas.


O sofrimento veiculado por estas palavras era maior do que o dos condenados ao Inferno; por isso, até
as almas desses condenados se sentiriam aliviadas por verem outros sofrer ainda mais do que eles.
Aquela triste e leda madrugada,           Antítese        Perífrase
cheia toda de mágoa e de piedade,                                         Hipérbole
enquanto houver no mundo saudade,
                                          Metáfora          Anáfora
quero que seja sempre celebrada.

Ela só, quando amena e marchetada         Sinédoque      Personificação
saía, dando ao mundo claridade,
viu apartar-se d`ua outra vontade,
que nunca poderá ver-se apartada.        Paradoxo - apartar-se dua outra vontade/
                                         que nunca poderá ver-se apartada;
Ela só viu as lágrimas em fio,
que duns e doutros olhos derivadas,      paradoxo, hipérbole, antítese – as
s`acrescentaram em grande e largo rio;   palavras magoadas/ que puderam tornar o
                                         fogo frio e dar descanso às almas
Ela viu as palavras magoadas,            condenadas
que puderam tornar o fogo frio,
e dar descanso as almas condenadas.




   Adjectivação simples: "magoadas",       Adjectivação dupla: "triste e leda",
   "frio", "condenadas”                    "amena e marchetada".
Aquela triste e leda madrugada,          Este soneto é constituído por duas
cheia toda de mágoa e de piedade,
enquanto houver no mundo saudade,
                                         quadras e dois tercetos em metro
quero que seja sempre celebrada.         decassilábico,    com      esquema
                                         rimático, ABBA/ABBA/CDC/CDC,
Ela só, quando amena e marchetada
saía, dando ao mundo claridade,
                                         verificando-se a existência de rima
viu apartar-se d`ua outra vontade,       interpolada em A, emparelhada em
que nunca poderá ver-se apartada.        B e interpolada em CD.
Ela só viu as lágrimas em fio,
que duns e doutros olhos derivadas,
s`acrescentaram em grande e largo rio;

Ela viu as palavras magoadas,
que puderam tornar o fogo frio,
e dar descanso as almas condenadas.
Disciplina: Português
Prof.ª: Helena Maria Coutinho

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Lírica de Luís de Camões
Lírica de Luís de Camões Lírica de Luís de Camões
Lírica de Luís de Camões
Lurdes Augusto
 
Análise do episódio "Consílio dos deuses"
Análise do episódio "Consílio dos deuses"Análise do episódio "Consílio dos deuses"
Análise do episódio "Consílio dos deuses"
Inês Moreira
 
Descalça vai para a fonte
Descalça vai para a fonteDescalça vai para a fonte
Descalça vai para a fonte
Helena Coutinho
 
Análise de Os Lusíadas
Análise de Os Lusíadas Análise de Os Lusíadas
Análise de Os Lusíadas
Lurdes Augusto
 
Cantigas de amor duas análises
Cantigas de amor duas análisesCantigas de amor duas análises
Cantigas de amor duas análises
Helena Coutinho
 

Mais procurados (20)

Lírica de Luís de Camões
Lírica de Luís de Camões Lírica de Luís de Camões
Lírica de Luís de Camões
 
Amor é fogo que arde
Amor é fogo que ardeAmor é fogo que arde
Amor é fogo que arde
 
Análise do episódio "Consílio dos deuses"
Análise do episódio "Consílio dos deuses"Análise do episódio "Consílio dos deuses"
Análise do episódio "Consílio dos deuses"
 
Descalça vai para a fonte
Descalça vai para a fonteDescalça vai para a fonte
Descalça vai para a fonte
 
Canto v 92_100
Canto v 92_100Canto v 92_100
Canto v 92_100
 
O dia em que eu nasci, morra e pereça
O dia em que eu nasci, morra e pereçaO dia em que eu nasci, morra e pereça
O dia em que eu nasci, morra e pereça
 
Ficha formativa de orações com correção
Ficha formativa de orações com correçãoFicha formativa de orações com correção
Ficha formativa de orações com correção
 
As cantigas de amigo
As cantigas de amigoAs cantigas de amigo
As cantigas de amigo
 
Os lusíadas - Canto I Estâncias 105 e 106
Os lusíadas - Canto I Estâncias 105 e 106Os lusíadas - Canto I Estâncias 105 e 106
Os lusíadas - Canto I Estâncias 105 e 106
 
Camões Lírico (10.ºano/Português)
Camões Lírico (10.ºano/Português)Camões Lírico (10.ºano/Português)
Camões Lírico (10.ºano/Português)
 
A representação na amada na lírica de Camões
A representação na amada na lírica de CamõesA representação na amada na lírica de Camões
A representação na amada na lírica de Camões
 
Verdes são os campos
Verdes são os camposVerdes são os campos
Verdes são os campos
 
Análise de Os Lusíadas
Análise de Os Lusíadas Análise de Os Lusíadas
Análise de Os Lusíadas
 
Predicativo do complemento direto
Predicativo do complemento diretoPredicativo do complemento direto
Predicativo do complemento direto
 
Ondados fios de ouro reluzente
Ondados fios de ouro reluzenteOndados fios de ouro reluzente
Ondados fios de ouro reluzente
 
Cantigas de amigo
Cantigas de amigoCantigas de amigo
Cantigas de amigo
 
Esparsa ao desconcerto mundo
Esparsa  ao desconcerto mundoEsparsa  ao desconcerto mundo
Esparsa ao desconcerto mundo
 
Analise os lusiadas 1
Analise os lusiadas 1Analise os lusiadas 1
Analise os lusiadas 1
 
Análise da farsa de Inês Pereira - 10º ano
Análise da farsa de Inês Pereira - 10º anoAnálise da farsa de Inês Pereira - 10º ano
Análise da farsa de Inês Pereira - 10º ano
 
Cantigas de amor duas análises
Cantigas de amor duas análisesCantigas de amor duas análises
Cantigas de amor duas análises
 

Semelhante a Aquela triste e leda madrugada

Antologia Poética de Vinicius de Moraes
Antologia Poética de Vinicius de MoraesAntologia Poética de Vinicius de Moraes
Antologia Poética de Vinicius de Moraes
Cristiane Franz
 

Semelhante a Aquela triste e leda madrugada (20)

Sonetos de camões
Sonetos de camões Sonetos de camões
Sonetos de camões
 
Folhas em versos
Folhas em versosFolhas em versos
Folhas em versos
 
Análise de poemas
Análise de poemasAnálise de poemas
Análise de poemas
 
Feras da Poetica
Feras da PoeticaFeras da Poetica
Feras da Poetica
 
O fim
O fimO fim
O fim
 
Antologia Poética de Vinicius de Moraes
Antologia Poética de Vinicius de MoraesAntologia Poética de Vinicius de Moraes
Antologia Poética de Vinicius de Moraes
 
RIMAS Camões.pptx
RIMAS Camões.pptxRIMAS Camões.pptx
RIMAS Camões.pptx
 
RIMAS Camões.pptx
RIMAS Camões.pptxRIMAS Camões.pptx
RIMAS Camões.pptx
 
Antologia poética
Antologia poéticaAntologia poética
Antologia poética
 
Coletânea: A Estirpe do Barão
Coletânea: A Estirpe do BarãoColetânea: A Estirpe do Barão
Coletânea: A Estirpe do Barão
 
O Eu profundo e os outros Eus Fernando Pessoa
O Eu profundo e os outros Eus   Fernando PessoaO Eu profundo e os outros Eus   Fernando Pessoa
O Eu profundo e os outros Eus Fernando Pessoa
 
8
88
8
 
Alma Inquieta
Alma InquietaAlma Inquieta
Alma Inquieta
 
Mestresda poesiapps
Mestresda poesiappsMestresda poesiapps
Mestresda poesiapps
 
Unic 01 - camoes sonetos-2018-pr wsf
Unic 01 - camoes sonetos-2018-pr wsfUnic 01 - camoes sonetos-2018-pr wsf
Unic 01 - camoes sonetos-2018-pr wsf
 
Florbela Espanca
Florbela Espanca Florbela Espanca
Florbela Espanca
 
Poemas de Maria do Carmo Marino Schneider
Poemas de Maria do Carmo Marino SchneiderPoemas de Maria do Carmo Marino Schneider
Poemas de Maria do Carmo Marino Schneider
 
POETAS E POESIA
POETAS E POESIAPOETAS E POESIA
POETAS E POESIA
 
Poetas e poesia
Poetas e poesiaPoetas e poesia
Poetas e poesia
 
Sonetos (Camões) UNICAMP
Sonetos (Camões) UNICAMPSonetos (Camões) UNICAMP
Sonetos (Camões) UNICAMP
 

Mais de Helena Coutinho

Mais de Helena Coutinho (20)

. Maias simplificado
. Maias simplificado. Maias simplificado
. Maias simplificado
 
Santo antónio e padre antónio vieira – diferenças e semelhanças
Santo antónio e padre antónio vieira – diferenças e semelhançasSanto antónio e padre antónio vieira – diferenças e semelhanças
Santo antónio e padre antónio vieira – diferenças e semelhanças
 
Relato hagiografico
Relato hagiograficoRelato hagiografico
Relato hagiografico
 
P.ant vieira bio
P.ant vieira bioP.ant vieira bio
P.ant vieira bio
 
Epígrafe sermao
Epígrafe sermaoEpígrafe sermao
Epígrafe sermao
 
Cap vi
Cap viCap vi
Cap vi
 
Cap v repreensões particular
Cap v repreensões particularCap v repreensões particular
Cap v repreensões particular
 
Cap iv repreensões geral
Cap iv repreensões geralCap iv repreensões geral
Cap iv repreensões geral
 
Cap iii louvores particular
Cap iii louvores particularCap iii louvores particular
Cap iii louvores particular
 
Cap ii louvores geral
Cap ii louvores geralCap ii louvores geral
Cap ii louvores geral
 
1. introd e estrutura
1. introd e estrutura1. introd e estrutura
1. introd e estrutura
 
Contexto histórico padre antónio vieira
Contexto histórico padre antónio vieiraContexto histórico padre antónio vieira
Contexto histórico padre antónio vieira
 
. O texto dramático
. O texto dramático. O texto dramático
. O texto dramático
 
. Batalha de alcácer quibir
. Batalha de alcácer quibir. Batalha de alcácer quibir
. Batalha de alcácer quibir
 
Fls figuras reais
Fls figuras reaisFls figuras reais
Fls figuras reais
 
. Enredo
. Enredo. Enredo
. Enredo
 
. A obra e o contexto
. A obra e o contexto. A obra e o contexto
. A obra e o contexto
 
Sete anos de pastor jacob servia
Sete anos de pastor jacob serviaSete anos de pastor jacob servia
Sete anos de pastor jacob servia
 
Oh! como se me alonga, de ano em ano
Oh! como se me alonga, de ano em anoOh! como se me alonga, de ano em ano
Oh! como se me alonga, de ano em ano
 
Enquanto quis fortuna que tivesse
Enquanto quis fortuna que tivesseEnquanto quis fortuna que tivesse
Enquanto quis fortuna que tivesse
 

Último

Slide - SAEB. língua portuguesa e matemática
Slide - SAEB. língua portuguesa e matemáticaSlide - SAEB. língua portuguesa e matemática
Slide - SAEB. língua portuguesa e matemática
sh5kpmr7w7
 
Os editoriais, reportagens e entrevistas.pptx
Os editoriais, reportagens e entrevistas.pptxOs editoriais, reportagens e entrevistas.pptx
Os editoriais, reportagens e entrevistas.pptx
TailsonSantos1
 
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
PatriciaCaetano18
 
O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...
O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...
O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...
azulassessoria9
 
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdfatividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
Autonoma
 
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
azulassessoria9
 

Último (20)

Slide - SAEB. língua portuguesa e matemática
Slide - SAEB. língua portuguesa e matemáticaSlide - SAEB. língua portuguesa e matemática
Slide - SAEB. língua portuguesa e matemática
 
O que é arte. Definição de arte. História da arte.
O que é arte. Definição de arte. História da arte.O que é arte. Definição de arte. História da arte.
O que é arte. Definição de arte. História da arte.
 
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptxSlides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
 
P P P 2024 - *CIEJA Santana / Tucuruvi*
P P P 2024  - *CIEJA Santana / Tucuruvi*P P P 2024  - *CIEJA Santana / Tucuruvi*
P P P 2024 - *CIEJA Santana / Tucuruvi*
 
Os editoriais, reportagens e entrevistas.pptx
Os editoriais, reportagens e entrevistas.pptxOs editoriais, reportagens e entrevistas.pptx
Os editoriais, reportagens e entrevistas.pptx
 
aprendizagem significatica, teórico David Ausubel
aprendizagem significatica, teórico David Ausubelaprendizagem significatica, teórico David Ausubel
aprendizagem significatica, teórico David Ausubel
 
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
 
6ano variação linguística ensino fundamental.pptx
6ano variação linguística ensino fundamental.pptx6ano variação linguística ensino fundamental.pptx
6ano variação linguística ensino fundamental.pptx
 
Apresentação | Símbolos e Valores da União Europeia
Apresentação | Símbolos e Valores da União EuropeiaApresentação | Símbolos e Valores da União Europeia
Apresentação | Símbolos e Valores da União Europeia
 
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptx
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptxM0 Atendimento – Definição, Importância .pptx
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptx
 
Monoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptx
Monoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptxMonoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptx
Monoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptx
 
O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...
O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...
O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...
 
Slides 9º ano 2024.pptx- Geografia - exercicios
Slides 9º ano 2024.pptx- Geografia - exerciciosSlides 9º ano 2024.pptx- Geografia - exercicios
Slides 9º ano 2024.pptx- Geografia - exercicios
 
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 1)
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 1)Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 1)
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 1)
 
Camadas da terra -Litosfera conteúdo 6º ano
Camadas da terra -Litosfera  conteúdo 6º anoCamadas da terra -Litosfera  conteúdo 6º ano
Camadas da terra -Litosfera conteúdo 6º ano
 
Quiz | Dia da Europa 2024 (comemoração)
Quiz | Dia da Europa 2024  (comemoração)Quiz | Dia da Europa 2024  (comemoração)
Quiz | Dia da Europa 2024 (comemoração)
 
3 2 - termos-integrantes-da-oracao-.pptx
3 2 - termos-integrantes-da-oracao-.pptx3 2 - termos-integrantes-da-oracao-.pptx
3 2 - termos-integrantes-da-oracao-.pptx
 
Historia de Portugal - Quarto Ano - 2024
Historia de Portugal - Quarto Ano - 2024Historia de Portugal - Quarto Ano - 2024
Historia de Portugal - Quarto Ano - 2024
 
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdfatividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
 
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
 

Aquela triste e leda madrugada

  • 1. Camões Corrente renascentista
  • 2.
  • 3. Tema: A despedida dos amantes; Saudade causada pela separação. O tema deste conhecido soneto é a separação (despedida) dos amantes numa madrugada simultaneamente “triste e leda”. Triste porque testemunha da grande dor que os domina, portanto, subjetivamente triste; e alegre, porque se trata do romper duma aurora “amena marchetada” de um dia radioso, portanto objetivamente, alegre.
  • 4. Assunto: A madrugada assiste, como simples espectadora, à despedida dolorosa de duas almas que se amam. Ressalta a oposição entre os planos objectivos e subjectivo – a madrugada, enquadrada na sua beleza multicolor, assiste, impassível, à dor lancinante de duas almas apaixonada que se despedem e que possivelmente nunca mais se verão.
  • 5. Divisão em partes lógicas Aquela triste e leda madrugada, •1ª. parte: O sujeito lírico anuncia o desejo de cheia toda de mágoa e de piedade, nunca mais ver esquecida a madrugada em enquanto houver no mundo saudade, que se deu a separação. quero que seja sempre celebrada. Ela só, quando amena e marchetada •2ª. parte: Justificação do desejo expresso – saía, dando ao mundo claridade, recordar sempre essa madrugada porque foi viu apartar-se d`ua outra vontade, ela a única testemunha da separação. que nunca poderá ver-se apartada. Ela só viu as lágrimas em fio, •3ª. parte: Há uma concretização dos que duns e doutros olhos derivadas, fenómenos presenciados: a separação dos 2 s`acrescentaram em grande e largo rio; amantes, as lágrimas em fio, as palavras magoadas. Ela viu as palavras magoadas, Verifica-se, assim, um estruturação lógica das que puderam tornar o fogo frio, ideias – há um percurso do mundo interior e dar descanso as almas condenadas. para o mundo exterior, do mais geral para o mais particular.
  • 6. Aquela triste e leda madrugada, 1º. Momento: constitui uma introdução, expõe cheia toda de mágoa e de piedade, a ideia geral de um eu: o poeta manifesta a enquanto houver no mundo saudade, vontade (“quero”) de que “aquela triste e leda quero que seja sempre celebrada. madrugada (…) seja sempre celebrada”; Ela só, quando amena e marchetada 2º. Momento: justifica-se a necessidade da saía, dando ao mundo claridade, celebração dessa madrugada, correspondendo viu apartar-se d`ua outra vontade, cada uma dessas estrofes a um momento da que nunca poderá ver-se apartada. justificação. Cada um desses momentos é marcado, não só pela divisão estrófica, mas Ela só viu as lágrimas em fio, também pela repetição do pronome pessoal que duns e doutros olhos derivadas, “Ela”, referido à madrugada, personagem s`acrescentaram em grande e largo rio; principal e única testemunha (“viu”) daquela separação. Ela viu as palavras magoadas, que puderam tornar o fogo frio, e dar descanso as almas condenadas. 1º. momento 2º. momento SUJEITO Poeta Poeta OBJETO Madrugada Separação triste e leda, lágrimas em fio, DESCRIÇÃO DO cheia de mágoa palavras OBJETO piedosa magoadas
  • 7. O sentimento predominante neste soneto é a tristeza provocada pela separação (sofrimento amoroso). Esse sofrimento foi testemunhado pela Aquela triste e leda madrugada, madrugada: cheia toda de mágoa e de piedade, -utilização do termo anafórico “Ela”, enquanto houver no mundo saudade, que substitui a palavra madrugada ao quero que seja sempre celebrada. longo do poema - a madrugada é personificada Ela só, quando amena e marchetada saía, dando ao mundo claridade, viu apartar-se d`ua outra vontade, que nunca poderá ver-se apartada. Ela só viu as lágrimas em fio, que duns e doutros olhos derivadas, s`acrescentaram em grande e largo rio; Ela viu as palavras magoadas, que puderam tornar o fogo frio, e dar descanso as almas condenadas.
  • 8. O soneto desenvolve o contraste entre a beleza da Natureza e a tristeza da despedida. O tema das despedida dos apaixonados ao amanhecer é uma característica herdada das composições medievais (albas). A tristeza – devida à Aquela triste e leda madrugada, despedida; cheia toda de mágoa e de piedade, A alegria – porque se enquanto houver no mundo saudade, anuncia um novo dia, quero que seja sempre celebrada. cheio de luz, cor e Os amantes, ainda que movimento Ela só, quando amena e marchetada separados fisicamente, saía, dando ao mundo claridade, estariam sempre unidos viu apartar-se d`ua outra vontade, pelo amor, porque que nunca poderá ver-se apartada. constituem uma «única O sofrimento desumano, vontade». acima do que é normal Ela só viu as lágrimas em fio, aguentar-se, maior do que duns e doutros olhos derivadas, que o próprio sofrimento s`acrescentaram em grande e largo rio; do inferno. Ela viu as palavras magoadas, que puderam tornar o fogo frio, e dar descanso as almas condenadas. O sofrimento veiculado por estas palavras era maior do que o dos condenados ao Inferno; por isso, até as almas desses condenados se sentiriam aliviadas por verem outros sofrer ainda mais do que eles.
  • 9. Aquela triste e leda madrugada, Antítese Perífrase cheia toda de mágoa e de piedade, Hipérbole enquanto houver no mundo saudade, Metáfora Anáfora quero que seja sempre celebrada. Ela só, quando amena e marchetada Sinédoque Personificação saía, dando ao mundo claridade, viu apartar-se d`ua outra vontade, que nunca poderá ver-se apartada. Paradoxo - apartar-se dua outra vontade/ que nunca poderá ver-se apartada; Ela só viu as lágrimas em fio, que duns e doutros olhos derivadas, paradoxo, hipérbole, antítese – as s`acrescentaram em grande e largo rio; palavras magoadas/ que puderam tornar o fogo frio e dar descanso às almas Ela viu as palavras magoadas, condenadas que puderam tornar o fogo frio, e dar descanso as almas condenadas. Adjectivação simples: "magoadas", Adjectivação dupla: "triste e leda", "frio", "condenadas” "amena e marchetada".
  • 10. Aquela triste e leda madrugada, Este soneto é constituído por duas cheia toda de mágoa e de piedade, enquanto houver no mundo saudade, quadras e dois tercetos em metro quero que seja sempre celebrada. decassilábico, com esquema rimático, ABBA/ABBA/CDC/CDC, Ela só, quando amena e marchetada saía, dando ao mundo claridade, verificando-se a existência de rima viu apartar-se d`ua outra vontade, interpolada em A, emparelhada em que nunca poderá ver-se apartada. B e interpolada em CD. Ela só viu as lágrimas em fio, que duns e doutros olhos derivadas, s`acrescentaram em grande e largo rio; Ela viu as palavras magoadas, que puderam tornar o fogo frio, e dar descanso as almas condenadas.