1. ENTREVISTA PARA A REVISTA “LOGÍSTICA MODERNA”
João Paulo Pinto Outubro de 2011
Considera importante as empresas investirem numa estratégia lean?
Este período de grave crise é uma excelente oportunidade para a aplicação e o desenvolvimento
do pensamento magro (lean thinking) nas organizações. O ano de 2012 será um ano terrível
para todos os Portugueses e acho que este é o momento de emagrecermos as empresas e o
Estado. Temo que muitas Empresas, à semelhança de várias medidas apresentadas no
orçamento para 2012, apontem no sentido de eliminar o "músculo" e não apostem na
verdadeira eliminação dos desperdícios (tudo aquilo que o cliente não valorize).
Na sua opinião, quais as grandes vantagens da adopção de um pensamento lean dentro de uma
empresa?
Pensar lean é adoptar um novo paradigma de liderança e de gestão nas Organizações. Como
vantagens imediatas aponto a redução do desperdício (aquilo que fazemos na perfeição e que
não necessita de ser feito), a criação de práticas de racionalização de recursos (procurando
fazer mais com menos) e a oportunidade de focalizarmos os nossos esforços no que
verdadeiramente conta (ie, criar valor para o cliente e demais partes interessadas).
Quais os grandes objectivos do pensamento lean?
De um modo simples, devo dizer que o pensamento lean procura através do contributo de
pessoas normais, recorrendo a ferramentas simples, obter resultados extraordinários. Para isso
conta com a melhoria contínua como filosofia, a uniformização como base dessa melhoria e o
trabalho em equipa como o veículo para essa mesma melhoria.
Considera que os empresários portugueses estão sensibilizados para a importância de uma
estratégia lean? Quais as maiores resistências que encontra?
Começam a estar... acontece que vários actores no mercado têm aparecido junto dos
empresários a prometer resultados milagrosos com a aplicação do lean thinking e isso não
acontece sem esforço e o empenho de todos. Pensar lean é uma forma de estar, algo que se faz
todos os dias e de forma sustentada onde o contributo de todos, e a cultura empresarial, é bem
mais importante que as ferramentas lean que esses mesmos actores prometem aplicar.
Quando chega a uma empresa quais são os principais problemas com que se depara em termos de
“desperdícios”?
Deixe-me identificar alguns dos mais importantes:
a) Resistência à mudança (a todos os níveis hierárquicos);
b) Incapacidade para assumir a necessidade de mudar e uma enorme falta de
humildade para perceber que se pode fazer melhor;
c) Incapacidade para perceber e identificar os desperdícios (sendo que a maior parte e
a mais significativa é invisível aos nossos olhos);
d) Dificuldade em trabalhar em equipa, em partilhar conhecimento e boas práticas;
e) Desconfiança em relação às soluções lean (que sendo simples criam desconfiança a
aqueles que se habituaram a desenhar soluções complexas para os problemas que
enfrentam);
f) a pressa em obter resultados imediatos.
Como se consegue “emagrecer” uma empresa sem lhe retirar valor?
Consegue-se convertendo parte da gordura em músculo. Ou seja, retirando recursos de
actividades que geram desperdícios e orientando-as para actividades que o cliente
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2. reconheça compensadoras do seu tempo, investimento e esforço. Se o emagrecimento levar à
retirada de valor é porque o alvo desse emagrecimento foi o músculo e não a gordura.
Como vê a evolução do pensamento lean nos últimos anos em Portugal e como encara o seu
futuro?
Nós na COMUNIDADE LEAN THINKING já estamos envolvidos na terceira geração do
pensamento lean. Esta terceira geração já não tem o desperdício como centro de atenção ou
alvo, isso aconteceu nas anteriores gerações e é típico daquelas Organizações que encaram o
pensar lean como desculpa para emagrecer a todo o custo. Nesta terceira geração, os alvos do
pensamento lean é a criação de valor e a agilidade. Valor porque é isso que o cliente espera de
nós e agilidade porque ser magro, criar valor, mas demorar muito a fazê-lo não nos levará a
lado nenhum. Acreditamos que valor e agilidade serão os termos dominantes da nova linguagem
lean nos próximos anos. E só assim um país pequeno e periférico como Portugal terá
possibilidade de se desenvolver e crescer.
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