1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Professor PDE: Jucelsa Cachoeira
Área/Disciplina PDE: Língua Portuguesa
Linha de Estudo: Ensino e Aprendizagem da Leitura
NRE: Cascavel
Professor Orientador: Dra. Adriana Aparecida de Figueiredo Fiuza
Escola de implementação: Colégio Estadual Eleodoro Ébano Pereira
Público objeto da intervenção: Professores de Língua Portuguesa
TÍTULO: A contação de histórias e suas implicações na formação de leitores
TEMA: Formação de Leitores
JUSTIFICATIVA
Os problemas educacionais enfrentados na atualidade, no que diz respeito à
leitura, são resultados de fatos históricos e muitas vezes, fruto das condições sociais
capitalistas em que estamos inseridos. A escola, como espaço de interação social, tendo
em vista sua prática cotidiana, em muitas situações, evidencia que o trabalho com a
leitura, especificamente durante as aulas de Língua Portuguesa, não tem apresentado
mudanças significativas, no que diz respeito à formação do sujeito leitor, pois, está aquém
de formar no aluno a reunir condições para exercer sua cidadania, ser autônomo e
compreender seu papel social como alguém que detém o controle de suas ações.
Desta forma, tem sido um grande desafio aos professores que trabalham com a
prática da leitura, desenvolver atitudes pedagógicas que contribuam para a formação de
sujeitos leitores mais atuantes socialmente. Considerando o desafio no que se refere ao
ensino da leitura, este projeto justifica-se pela necessidade de investigar e compreender a
suposta falta de habilidade de leitura dos alunos, bem como construir coletivamente
estratégias para minimizar a ausência da leitura crítica na formação dos alunos.
PROBLEMA/PROBLEMATIZAÇÃO
É comum ouvirmos em reuniões pedagógicas, conselhos de classe e até mesmo
na sala dos professores, profissionais das mais variadas áreas do conhecimento
utilizando-o discursos, quase que padronizados, de que “os alunos não lêem”, “os alunos
2. não sabem ler” e “os alunos não gostam de ler”.
Baseado neste discurso institucionalizado, podemos de fato afirmar que nosso
aluno não gosta de ler, ou não sabe ler? Considerando que a realização de um bom
trabalho de leitura, perpassa a formação dos profissionais da área de Letras, a qual, em
sua maioria, foi eminentemente voltada para o ensino da Gramática, podemos afirmar que
a formação de alunos leitores, perpassa a formação de professores leitores?
E como forma de propormos alternativas para compreendermos e minimizarmos este
“provável problema”, é possível utilizar a contação de histórias como estratégia para
formar leitores?
OBJETIVOS
OBJETIVO GERAL
Investigar e refletir sobre a influência da contação de histórias na formação do leitor
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Fomentar a criação de grupo de estudos com os professores de Língua Portuguesa
do Colégio Estadual Eleodoro Ébano Pereira para refletir e repensar o trabalho
com leitura na Educação Básica (Ensino Fundamental);
Investigar e refletir sobre o processo de aquisição da leitura;
Ampliar teoricamente a noção de leitura;
Conhecer, discutir com os professores sobre técnicas de ouvir, ler e contar
histórias;
Propor estudo coletivo de estratégias de leitura em sala de aula;
Propor a construção coletiva de estratégias pedagógicas para o trabalho com a
leitura;
Refletir a importância e o uso da biblioteca escolar;
Propor a participação dos funcionários da biblioteca, como forma de envolvê-los no
desenvolvimento do projeto como colaboradores para uma possível revitalização
da biblioteca escolar;
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1. O QUE É LEITURA
Na sociedade em que vivemos a competência para ler e escrever tornou-se
requisito indispensável para o convívio social de maneira geral. A capacidade de ler
criticamente é, portanto, uma capacidade fundamental a ser desenvolvida pelos seres
humanos, para a realização de diversas atividades, desde as mais simples de seu
cotidiano, como ler um panfleto de propaganda, uma lista de mercado, até a complexa
tarefa de ler um texto científico ou compreender o que está subjacente num texto literário.
Desde os primórdios da prática social da leitura há uma contínua associação,
desta, à escrita em suas diversas formas. Com o surgimento e o advento da imprensa, em
meados do século XVI, o livro se tornou a principal fonte de textos escritos acessível a
uma pequena parcela da sociedade, os mais abastados. Entre os séculos XVI e XIX, as
práticas de leitura foram restringidas às práticas escolares e religiosas e a industrialização
que crescia rapidamente. (AMARAL, 2006)
Já no século XIX há um crescimento geral da alfabetização, ampliando o uso da
cultura impressa pelas mulheres, crianças e operário, surgindo uma nova classe de
leitores. (AMARAL, 2006)
No Brasil, entre as décadas 1960 e 1980, houve uma expansão da escolarização, a
alfabetização passou a ser fator determinante de prestígio àqueles que dominavam a
leitura e o código escrito, deixando à margem da sociedade, os que não tinham acesso a
ela. (SCHWARZBOLD, 2011)
Embora, estejamos no século XXI, a leitura continua sendo um fator determinante
de exclusão e conquista de prestígio em nossa sociedade, reforçando a idéia de que a
escola é fundamental na busca do exercício da cidadania e na luta por uma realidade
social menos excludente e desigual. Cabe, portanto, a escola, promover práticas de
leitura que permitam ao aluno, tornar-se um sujeito capaz de interagir em sua própria
realidade, passando a existir e compreender-se como construtor da história na interação
com o outro, dando-lhe a possibilidade de mudar suas perspectivas de futuro, interferindo
significativamente na realidade em que vive. (SILVA, 1991)
Ao inserir o aluno no mundo da leitura, o professor o coloca frente a frente a uma
fonte, indispensável, de acesso as mais diversas informações. Dessa forma os livros
utilizados, para além de simples auxiliares didáticos e pedagógicos, desenvolverão no
aluno leitor o gosto pela leitura, gosto este, indispensável para efetivar sua independência
4. leitora e levá-los a uma formação fundamental para exercer sua cidadania, na vida adulta,
pois ao ler com gosto o leitor encontra no texto trilhas e pegadas que podem auxiliá-lo nas
suas escolhas reais. Na interação com o texto o leitor atribui sentido ao que lê, a partir de
uma série de pistas deixadas pelo autor, sendo, portanto, cada leitura e releitura um
momento único, pois dependerá de quem a faz, em diferentes momentos de sua vida.
Solé (1998, p.22) a autora complementa ainda que “a leitura é um processo de interação
entre leitor e o texto; neste processo tenta-se satisfazer os objetivos que guiam sua
leitura”. Solé descreve o leitor como responsável pelo sentido do texto:
o leitor constrói o significado do texto. [...] Isto não quer dizer que o texto em si
mesmo não tenha sentido ou significado. [...] O significado que um escrito tem
para o leitor não é uma tradução ou réplica do significado que o autor quis lhe dar,
mas uma construção que envolve o texto, os conhecimentos prévios do leitor que
o aborda e seus objetivos. (SOLÉ, 1998, p. 22)
Podemos, assim, confirmar que não lemos apenas o que está registrado no papel,
mas, de modo bastante rico, inúmeros aspectos nos auxiliam na prática cotidiana da
leitura: desde uma imagem até uma expressão corporal e ou facial. Desta perspectiva, a
leitura incorpora o conhecimento mais amplo do mundo, transmitido por meio de
símbolos, imagens, sons, desenhos, etc. De acordo com Paulo Freire, começamos a ler
mesmo antes de ter conhecido um escrito: “A leitura do mundo precede a leitura da
palavra, daí que a posterior leitura desta não pode prescindir da continuidade da leitura
daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. (1989, p.9), confirmando
assim que a leitura se realiza a partir do diálogo entre leitor e objeto lido.
Seguindo este contexto teórico justificamos que “o sentido de um texto só é
construído na interação texto-leitor, se não houver atribuição de sentido não há texto, uma
vez que a significação a partir da leitura é que transforma em texto aquilo que foi dito ou
escrito.
De acordo com Martins (1997, p. 82) a leitura se efetivará a partir do momento que
“preencher uma lacuna em nossa vida, precisa vir ao encontro de uma necessidade, de
um desejo de expansão sensorial, emocional ou racional, de uma vontade de conhecer
mais”. Ressaltamos que se assim não for, a leitura será apenas mais um mecanismo de
exclusão social, utilizado na escola, como instrumento de avaliação, onde aquele que
“finge” para obter nota, não tendo a leitura um sentido útil e prazeroso ao aluno leitor,
promovendo um distanciamento ainda maior do leitor com o texto e o afastando
definitivamente do mundo da leitura. Para suprimir a idéia e o preconceito de leitura, a
escola precisa de fato entender que a leitura deve ser uma prática social inerente à vida
5. real (cotidiana) de seus alunos, dando-lhes, por meio da leitura, possibilidades de interferir
reflexivamente na própria realidade.
No entanto formar um aluno leitor perpassa pela formação do professor leitor, pois
o gosto e a assiduidade leitora do professor influenciarão negativa ou positivamente seus
alunos e os estimulará a ingressar no arrojado mundo da leitura. A respeito dessa relação
Lajolo enfatiza:
se a relação do professor com o texto não tiver um significado, se ele não for um
bom leitor, são grandes as chances de que ele seja um mau professor. E, à
semelhança do que ocorre com ele, são igualmente grandes os riscos de que o
texto não apresente significado nenhum para os alunos, mesmo que eles
respondam satisfatoriamente a todas as questões propostas. (LAJOLO, 1986, p.
53)
Paralelamente, um professor-leitor facilmente terá mais condições de desafiar seus
alunos a também serem leitores, ficando aqui evidenciado a importância do papel do
professor na formação do leitor e especialmente no seu compromisso ético e social, de
preparar alunos que sejam cidadãos ativos, críticos e conscientes de sua função na
sociedade.
2. A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA NA SALA DE AULA
Se, por e não sei que excesso de socialismo ou e barbárie, todas as nossas
disciplinas devessem ser expulsas do ensino, exceto uma, é a disciplina literária
que devia ser salva, pois todas as ciências estão presentes no monumento
literário. (Barthes, 1977, p. 90)
Em janeiro de 1977, num colégio francês, Barthes, ratifica em seu discurso, a
grande relevância da literatura no âmbito escolar. Defendendo que a literatura é tão ou
mais necessária para a formação integral do indivíduo, que outras formas de expressão
da arte, pois permite ao homem criar e recriar realidades, vivenciadas, percorrendo
mundos desconhecidos, e promovendo reações emocionais e psíquicas ativando a
imaginação e a criatividade. (BARTHES, 1977)
No entanto, sabemos que a literatura, não tem espaço cativo na sala de aula da
grande maioria das escolas, pois muitos de nós, professores, não enxergamos um
objetivo específico para se trabalhar literatura, ficamos sempre a mercê de conteúdos
considerados “mais necessários” à formação acadêmica do aluno. Ao trabalhar a
literatura, nos atemos aos aspectos históricos e estéticos de uma obra, pois a prática da
leitura literária como forma de provocar a sensibilidade e, posteriormente, a criticidade do
aluno, muitas vezes nos é conceituada como “perda de tempo”.
6. Segundo Regina Zilberman (2009), a literatura desde há muito tempo tem
desempenhado um papel secundário na formação de leitores, servindo apenas de suporte
para exploração do código verbal e domínio da norma culta:
A finalidade do ensino da literatura, por muitos séculos, não foi formar leitores,
nem apreciadores da arte literária, por uma razão muito simples: a literatura – ou a
poesia –, na sua formulação anterior à Renascença, quando adotou tal
denominação, constou desses currículos porque era o gênero mais próximo da
linguagem verbal, que cabia conhecer e saber utilizar. Havendo a necessidade de
dominar o código verbal, estabeleceu-se como padrão de uso sua aplicação pelos
poetas e criadores literários, que se tornaram modelos e ajudaram a configurar o
cânone. (ZILBERMAN, 2009, p.11-12)
Ainda de acordo com Zilberman (2009), a literatura também era utilizada como
ferramenta para transmitir regras e princípios a serem adotados pelos futuros cidadãos,
surgindo aí uma grande valorização das obras que continham os paradigmas
correspondentes aos anseios de sociedade.
Entretanto, devemos considerar que por meio das diferentes mensagens e
indagações a literatura possibilita ao aluno satisfazer suas curiosidades e necessidades,
permitindo-lhe assumir uma posição reflexiva em relação ao mundo, uma vez que a leitura
literária propicia o desenvolvimento do senso crítico.
Contudo, devemos incutir em nós mesmos professores e, posteriormente nos
alunos, que o trabalho com a literatura pode e deve ser algo prazeroso, capaz de
promover inúmeras reflexões e nos dar condições de discutir e interferir na realidade
social em que estamos inseridos. Nesse sentido Zilberman destaca:
Atualmente não mais compete ao ensino da literatura a transmissão de um
patrimônio já constituído e consagrado, mas a responsabilidade pela formação do
leitor. Por sua vez, a execução dessa tarefa depende de se conceber a leitura não
como resultado satisfatório do processo de letramento e decodificação da matéria
escrita, mas como atividade propiciadora de experiência única com o texto
literário. A literatura se associa então à leitura, do que advém a validade dessa.
(ZILBERMAN, 2008, p.16)
Acreditamos, assim, que é possível formar leitores que sintam prazer no ato de
ler, basta com que não nos detenhamos em classificar esta ou aquela obra como
sendo boa ou ruim. É necessário que juntamente com nossos alunos possamos reaver,
refletir e reformular conceitos a respeito da literatura e da sua real função no espaço
escolar, usando-a como mecanismo de compreensão e resolução de conflitos sociais,
cabendo assim ao professor o papel de agente capaz de produzir transformações
significativas na vida do alunos leitor. (MAGNANI, 2001)
7. 3. A CONTAÇÃO DE HISTÓRIA E SUAS IMPLICAÇÕES NA FORMAÇÃO DO LEITOR
Vamos então descrever um pouco sobre o surgimento da contação de histórias.
Contos de fadas, narrativas mitológicas e de encantamento, fábulas tradicionais ou
contemporâneos, estão presentes na vida do ser humano ao longo de muitos e muitos
séculos.
Contar histórias certamente é uma arte milenar. Nas mais remotas sociedades, os
ancestrais transmitiam seus conhecimentos, experiências e aventuras aos mais jovens
por meio de narrativas orais e graças a essa tradição muitas histórias se perpetuaram
passando de geração em geração, formando o saber coletivo das sociedades a partir das
narrativas de memórias. Ainda hoje, grupos sociais como indígenas e quilombolas, entre
outras, mantém a tradição de transmitir oralmente a cultura e a história aos seus
descendentes. (TAHAN,1966)
Segundo Malba Tahan (1966, p.24) “até os nossos dias, todos os povos civilizados
ou não, tem usado a história como veículo de verdades eternas, como meio de
conservação de suas tradições, ou da difusão de idéias novas.”. Nelly Novaes Coelho
aponta a função social das histórias orais:
[...] torna-se fácil compreender porque a Literatura foi usada, desde as origens
como instrumento de transmissão de valores (...). Tendo em vista as
peculiaridades da mente popular e da infantil, compreende-se que a linguagem
poética tivesse sido utilizada, desde os primórdios para transmitir padrões de
pensamento ou de conduta às diferentes comunidades. Uma vez que tais padrões
são essencialmente abstratos, dificilmente poderiam ser compreendidos ou
assimilados por mentes que vivem muito próximas da natureza sensorial, do
concreto e, como tal, propensas a conhecerem as coisas através das emoções e
da experiência concreta. (...) Daí a importância que a linguagem literária assumiu,
para os homens, desde os primórdios da civilização. Ela é a linguagem da
representação, linguagem imagística que, como nenhuma outra, tem o poder de
concretizar o abstrato, através de comparações, imagens, símbolos, alegorias, etc
(COELHO,1982, p. 21-22).
Neste sentido, podemos afirmar que o trabalho com contação de histórias é de
extrema importância destaca-se pela importância como na busca pela aquisição dos
hábitos de leitura e no desenvolvimento da criatividade e imaginação,do alunos,
provocando-os a ampliar suas leituras e consequentemente levá-los à busca de sentido
dos textos.
A literatura, sempre recheada de passado, presente e futuro, representa uma gama
de aspectos culturais que fazem parte da construção histórica de uma sociedade. Câmara
Cascudo destaca que:
8. Ninguém deduzirá como o povo conhece a sua literatura e defende as
características imutáveis dos seus gêneros. É como um estranho cânon para cujo
conhecimento não fomos iniciados. Iniciação que é uma longa capitalização de
contratos seculares com o espírito da própria manifestação da cultura coletiva
(CASCUDO, 2006, p. 26).
Assim o trabalho com a literatura, por meio da contação de histórias, permitirá ao
professor provocar os alunos a resgatar aspectos culturais de sua origem valorizando o
passado como, referencial de construção do presente e do futuro; contribuindo para a
formação da identidade individual de cada aluno.
No entanto a cultura oral não está sendo devidamente valorizada nas aulas de
leitura, desenvolvidas no âmbito escolar, que muitas vezes considera desnecessária a
prática da oralidade. Camâra Cascudo, bem descreve essa realidade, quando diz: “A
literatura oral é como que não existisse. Ao lado daquele mundo de clássicos, românticos,
naturalistas, independentes (...) outra literatura, sem nome.”(2006,p.25)
A literatura oral explorada por meio do contar histórias representa um instrumento
valiosíssimo para envolver os alunos, incluo aqui adolescentes e jovens, e instigá-los a
buscar novas leituras, desenvolvendo nestes o gosto pelo hábito de ler conduzindo-os a
ampliação do seu universo de leitura facilitando a formação plena do leitor:
Objetivando estimular a leitura e buscando qualificar a formação da criança
enquanto leitor o contador de histórias deve saber como desenvolver a contação de
histórias de maneira a fazer com que as crianças possam descobrir palavras novas
ampliando seu vocabulário, deparar-se com os vários tons e alterações de voz que
há durante a prática. E, para isso, quem conta tem que criar o clima de
envolvimento, de encanto... saber dar as pausas, o tempo para o imaginário da
criança construir seu cenário, visualizar os seus monstros, criar os seus dragões,
adentrar pela sua floresta, vestir a princesa com a roupa que está inventando,
pensar na cara do rei e tantas coisas mais. (CORTES, 2006, p. 82)
Se considerarmos que hoje, alunos menos favorecidos social e economicamente,
estão tendo acesso à escolarização, cabe-nos ressaltar que agora mais do nunca,
compete a escola a função de trabalhar a leitura de forma envolvente e significativa de
maneira a sensibilizar o aluno para o ato ler, aprendendo a identificar-se com o texto e
seus personagens. É necessário atentar-se para o fato de que, em crianças e
adolescentes, conhecimento da realidade se dá através da sensibilidade e não apenas da
razão. (COELHO,1982)
Ao contar histórias, é possível, ao professor, alcançar um nível de encantamento e
envolvimento, satisfatório, para com a literatura, contudo reforçamos o argumento de que
para isso o professor deve da mesma forma ler e envolver-se na história, ou seja, deve
ser também um contador de histórias. Ao contar histórias o professor, além de um modelo
experiente de leitor, tem conhecimento didático e pedagógico, capaz de fazer inferências
9. acerca das histórias contadas e sua relação com o cotidiano escolar coletivo individual de
cada aluno. Quando percebemos entusiasmo por parte de quem lê ou conta uma história,
certamente aumenta predisposição dos ouvintes em buscar mais informações a respeito
do que ouviram, promovendo assim uma aproximação dos livros.
A literatura tem a habilidade de dialogar com o ser humano, em qualquer tempo ou
idade revelando as transformações produzidas e sofridas pelo próprio homem na sua
relação com a sociedade e, fazer uso desse artifício no espaço escolar é fundamental e
necessário para enriquecer o trabalho com leitura e fomentar uma cultura de leitura
prazerosa entre os alunos.
Ao sermos inseridos numa determinada sociedade nos apropriamos da cultura,
historicamente construída, e nela nos reconhecemos (RIOS, 2008). Baseado nesta
afirmação argumentamos que, assim como outros costumes praticados por nós, a
contação de histórias também deve fazer parte do nosso cotidiano escolar e, deve ser
consolidada como uma forma eficaz de promover a leitura e formar leitores capazes de
agir e refletir criticamente sobre sua realidade, uma vez que a literatura representa a
expressão cultural de um coletivo, permitindo ao aluno leitor uma maior identificação
social, valorizando suas origens e o conhecimento que traz consigo, além de prepará-lo
para lidar com suas próprias emoções.
ESTRATÉGIAS DE AÇÃO
Este projeto será desenvolvido com os professores de Língua Portuguesa que
atuam no Colégio Estadual Eleodoro Ébano Pereira. O trabalho se dará por meio de
grupos de estudos e discussões. Serão organizados 8 (oito) encontros de 04(quatro)
horas semanais, perfazendo um total de 32 horas de estudos.
Uma vez definido, com os participantes, os dias e horários dos encontros,
passaremos a ler e refletir sobre o trabalho com a prática de leitura, desenvolvido em sala
de aula pelos professores do Colégio Estadual Eleodoro Ébano Pereira e suas
implicações na formação do aluno leitor, buscando compreender a suposta ausência de
leitura por parte dos alunos.
Para iniciar as discussões faremos uma pequena abordagem teórica do processo
de aprendizagem da leitura, baseados em Maria Helena Martins (1997) que nos leva a
refletir acerca da aquisição da leitura e de como a escola podem interferir positiva e
negativamente neste processo, onde ela descreve que os primeiros passos para se
aprender a ler podem ser comparados aos primeiros contatos do bebê com mundo, uma
10. vez que as sensações despertadas nesse contato, poderão ser um convite à satisfação
ou ao rechaço. Outra reflexão que buscaremos fomentar é de que nenhum método
exclusivo dará conta de formar leitores efetivos, se nós educadores não compreendermos
que a escola tem a função inalienável de trabalhar com práticas de leitura que permitam
ao aluno perceber e refletir criticamente acerca das ideologias presentes no livro didático,
nas revistas de circulação, nas mídias televisivas, levando-o a avaliar as influências
dessas ideologias na construção e manutenção da realidade social e econômica em que
eles, professor e aluno, estão inseridos.
Após as reflexões coletivas acerca da suposta falta de leitura, por parte dos alunos,
convidaremos o grupo a apresentar possíveis estratégias para a aproximação do
professor e, consequentemente, do aluno com os livros buscando desenvolver hábitos de
leitura, apresentando então a contação de histórias como estratégia capaz de promover
afinidades entre o leitor e o texto.
A seguir exploremos algumas obras e técnicas para ler e contar histórias, por meio
de oficinas. As oficinas serão organizadas na forma de Sequência Didática.
Para a organização das oficinas, nos utilizaremos, entre outras, de obras como
Oficina de leitura – teoria e prática (2002), de Angela Kleiman, Técnicas de contar
histórias (2010) de Vania D’Angelo Dohme, Estratégia de leitura (1998), de Isabel Solé e,
para fundamentar e organizar a sequencia didática buscaremos aporte teórico em
Bernard Schneuwly, Joaquin Dolz (2001) e, em Carmem Teresinha Baumgärtner e
Terezinha da Conceição Costa-Hübes (2007) referenciando-os posteriormente.
Destacamos que na produção didática explicitaremos cada uma das oficinas, assim
como as obras literárias a serem exploradas no desenvolvimento do projeto de
intervenção pedagógica.
Para finalizar o trabalho faremos uma avaliação de todo o processo de
implementação, buscando identificar os resultados obtidos.
CRONOGRAMA
A implementação do projeto no Colégio Estadual Eleodoro Ébano Pereira para os
professores de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental deverá seguir o cronograma
abaixo:
MÊS ASSUNTO
11. Fevereiro Apresentação do Projeto “A contação de histórias e suas
implicações na formação de leitores” aos Professores, Equipe
Diretiva e Pedagógica do Colégio Eleodoro E. Pereira em reunião
pedagógica;
Contação de uma história, como forma de provocar os
professores a participar do grupo de estudos;
Separar e organizar as obras da literatura infanto-juvenil, para
serem lidas, ouvidas e contadas nos encontros;
Organizar o grupo, definindo coletivamente os dias e horários dos
encontros;
Promover o primeiro encontro para uma conversa mais específica
a respeito dos objetivos do projeto explicitando aos participantes
como será seu desenvolvimento.
Março Leitura e reflexão acerca de: concepção de leitura, práticas de
leituras desenvolvidas no âmbito escolar e ensino da literatura;
Apresentação de possíveis estratégias de promoção da leitura;
Apresentação de atividades lúdicas para iniciar o processo de
contação de histórias;
Apresentar as obras da literatura infanto-juvenil, que serão
utilizadas para o desenvolvimento dos trabalhos;
Leitura e exploração das obras por meio de uma sequência
didática (que será elaborada no trabalho de Produção
Pedagógica).
Abril Leitura e apresentação das obras trabalhadas;
Propor aos professores participantes, uma visita à biblioteca da
escola em busca de material de apoio para desenvolver os
exercícios de dramatização e contação (a existência dos livros
será anteriormente averiguada);
Exercícios de contação de histórias e jogos de dramatização
(livro Técnicas de contar histórias (2010), de Vania D’Angelo
Dohme)
Atividades de contação de histórias com todos os participantes;
Maio Apresentação, individual e coletiva, das histórias ao grupo de
12. professores participantes do grupo de estudos;
Apresentação das histórias a comunidade escolar (professores,
alunos, equipe diretiva e pedagógica) com gravação em áudio e
vídeo.
Junho Avaliação final com coleta de depoimentos.
REFERÊNCIAS
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<https://www.escrevendoofuturo.org.br/?option=com_content&task=view&id=207&Itemid=
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COELHO, Betty. Contar histórias uma arte sem idade.10 ed. São Paulo: Ática, 2006.
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escrita: apresentação de um procedimento. (Org.) Joaquim Dolz, Michéle Noverraz,
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