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32 PROFISSÃO MESTRE®
abril 2011
SérieSÉRIE AULA NOTA 10 – TÉCNICAS DE DOUG LEMOV	 Fabio Venturini
“D
oug Lemov diferencia o que significa me-
lhoria da autoestima e aumento da ex-
pectativa de aprendizagem. A primeira é
acompanhada por um pseudorrespeito às condições
do aluno. Se a criança vem de uma família socialmen-
te desfavorecida e com cultura considerada pelo ambien-
te escolar como mais pobre, para não afetar a autoes-
tima abre-se uma porta para absorver as deficiências
acadêmicas que essa criança tem e impede-se que os
problemas sejam trabalhados.” Com essa avaliação, a
professora Guiomar Namo de Mello, consultora educa-
cional e revisora técnica da edição brasileira do livro
Aula Nota 10 – 49 Técnicas para Ser um Professor Campeão
de Audiência, de Doug Lemov, ressalta a pertinência do
uso de procedimentos de manejo de sala de aula como
ferramentas de melhoria do desempenho acadêmico
nas escolas públicas brasileiras.
A obra, lançada no Brasil pela Fundação Lemann
com a Editora Da Boa Prosa, apresenta como o docen-
BOM DESEMPENHO DEPENDE
DE ALTAS EXPECTATIVASPrimeira reportagem da série baseada na obra de Doug Lemov testa
procedimentos de manejo de sala de aula que, segundo o especialista
norte-americano, podem transformar uma boa aula em uma aula excelente
A série Aula Nota 10
As reportagens especiais foram distribuídas em dez edições
da Profissão Mestre (veja abaixo) e avaliarão as propostas
didáticas do livro, seguindo uma pauta de acordo com a or-
dem em que aparecem na estruturação da obra:
•	Criar altas expectativas acadêmicas (abril)
•	Planejar para garantir um bom desempenho acadêmico (maio)
•	Estruturar e dar aulas (junho)
•	Motivar os alunos nas suas aulas (julho)
•	Criar uma forte cultura escolar (agosto)
•	Estabelecer e manter altas expectativas de comporta-
mento (setembro)
•	Construir valores e autoconfiança (outubro)
•	Melhorar seu ritmo para criar um ritmo positivo em sala
de aula (novembro)
•	Estimular os alunos a pensarem criticamente (dezembro)
•	Ajudar o aluno a tirar o máximo da leitura (janeiro de 2012)
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abril 2011
PROFISSÃO MESTRE®
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te, segundo o autor, pode usar re-
cursos didáticos independentes de
preferências pedagógicas para au-
mentar o desempenho de alunos
de escolas normalmente frequen-
tadas por crianças pobres, com
ações tomadas majoritariamente
em sala de aula.
Nessa primeira de uma série
de dez reportagens especiais sobre
a proposta do professor estadu-
nidense, a Profissão Mestre buscou
opiniões e testou as técnicas para
melhoria de desempenho com au-
mento das expectativas acadêmi-
cas – assunto do primeiro capítulo
(veja os próximos temas nos quadros
desta reportagem).
Esmiuçando as técnicas
No primeiro capítulo, Lemov cita
pesquisas que comprovam a sus-
ceptibilidade da docência ao “efei-
to pigmaleão” (o que você espe-
ra com relação a um determinado
número de pessoas pode induzir
o acontecimento de eventos, co-
mo se fossem profecias autorreali-
záveis). Num grupo de professores
que trabalhou com a mesma tur-
ma, metade recebeu a informação
de que eram bons alunos, enquan-
to para a outra se informou que
eram desinteressados. Ao cabo do
ano letivo, nas aulas dos primei-
ros docentes, o desempenho foi
melhor do que nas dos últimos.
Contudo, para o autor, aumen-
tar expectativas acadêmicas com
relação à capacidade dos alunos
não implica apenas elevar a car-
ga de conteúdo. O manejo da sala
de aula é igualmente importante
na criação das expectativas, tema
atendido pelas cinco técnicas su-
geridas no capítulo (veja o quadro
de resumo das técnicas).
Para a consultora educacional
Guiomar, a primeira tarefa para
usar as técnicas de aumento das
expectativas acadêmicas é con-
vencer os alunos de que eles são
capazes de realizar mais, mas que
devem se esforçar para atingir os
padrões de crianças que vieram de
condições sociais privilegiadas.
Para tanto, o professor cobrará
esse desempenho, em um traba-
lho conjunto. “O ser humano tem
a tendência de ir para o caminho
mais fácil e que exige o menor es-
forço. Na técnica ‘Puxe Mais’, por
exemplo, o docente deve mostrar
que o aluno pode mais e deve ten-
tar, sempre tendo a clareza de até
onde pode exigir. Essa tarimba se
desenvolve com a prática docen-
te e com o uso de recursos didáti-
cos”, explica.
O primeiro capítulo é a base para
um dos fundamentos de todo o tra-
balho, segundo Guiomar, que é o es-
tabelecimento do vínculo produtivo
entre professor e aluno. “Não é de ca-
ráter paternal ou maternal, pois nin-
guém suporta ver o filho errar. Não é
de cliente, nem de iguais, mas tam-
bém não pode ser totalmente hierár-
quico. Na técnica ‘Sem Escapatória’,
Resumo das técnicas para criar altas expectativas acadêmicas
s
Para Guiomar Namo Mello, técnicas aju-
dam a mostrar ao aluno modos mais efi-
cazes de interagir com o conhecimento e
com o processo de aprendizagem
o professor induz o aluno a enfren-
tar, obrigatoriamente, uma situação.
Em conjunto com a ‘Certo é Certo’, o
aluno pode até levar a atitude para
outras aulas”, acredita.
PROFISSÃO MESTRE®
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“Sem Escapatória” – Quando um aluno se mostra incapaz de responder a uma
pergunta, o professor deve começar com uma sequência de questionamentos
à turma, que termina apenas quando esse primeiro aluno responder correta-
mente, mostrando que ele não poderá fugir da busca às soluções ao proble-
ma proposto.
“Certo é Certo” – A segunda técnica sugerida consiste em estabelecer um pa-
drão de exatidão a ser atingido em todas as respostas dadas durante as partici-
pações na aula, induzindo o aluno a atingir a exatidão quando o que diz é “qua-
se certo”. E mesmo quando a resposta é correta, pode-se solicitar que discorra
mais sobre o tema, incentivando a cognição e o raciocínio.
“Puxe Mais” – O professor deve criar a sensação de que novas perguntas são
recompensas a perguntas certas, o que evita aos alunos a falsa sensação, após
uma única resposta correta, de que eles dominam o conteúdo e também estimu-
la a busca por mais conhecimento.
“Boa Expressão” – Lemov explica que, quando respondem, os alunos costu-
mam empregar a sua linguagem corriqueira. Ao professor cabe criar condições
acadêmicas e solicitar as respostas com os termos “corretos” e típicos da discipli-
na, comunicando o seu conhecimento com a “linguagem de oportunidade”.
“Sem Desculpas” – Recomenda-se ao professor jamais usar escusas por uso
de conteúdos considerados, por senso comum, como difíceis demais para a tur-
ma ou chatos. Para demonstrar que acredita no potencial dos alunos, o profes-
sor não pode atribuir determinados temas a elementos externos, como à direção
escolar. Antes, deve buscar o desempenho dos alunos.
34 PROFISSÃO MESTRE®
abril 2011
Sériepode mostrar outro modo de inte-
ragir com o conhecimento e com o
processo de aprendizagem. Isso faz
a diferença”, defende.
E como técnicas didáticas po-
dem ser usadas para aumentar as
expectativas tanto de alunos quan-
to de professores? Para Guiomar,
o momento atual é propício, pois
com o desenvolvimento econômi-
co dos últimos anos, “a ascensão
das classes C e D, com acesso a no-
vos bens materiais e culturais, des-
pertou uma ambição que pode ser
uma matéria-prima interessante
para começar a construir essas ex-
pectativas”.
Para a educadora, o grande en-
trave, contudo, é a formação do pro-
fessor. Na sua avaliação, a educação
básica no Brasil nasceu atendendo
a uma minoria, e quando começou
a se expandir, especialmente após
a década de 1960, o governo per-
cebeu que deveria aumentar mui-
“Apliquei as técnicas para se criar al-
tas expectativas acadêmicas em tur-
mas do 7º ano do ensino funda-
mental, em um colégio particular da
cidade de Guarulhos (SP). Embora
ainda sejam necessárias observa-
ções mais cuidadosas, a proposta
tem bastante potencial para funcio-
nar devido à realidade educacional e
à organização escolar brasileira. Se ti-
véssemos condições mais favoráveis
à reflexão no ensino-aprendizagem,
com possibilidades de pesquisas de
campo, ou se pudéssemos nos dar
ao luxo de usar três aulas por mês
para fazer pesquisas orientadas, por
exemplo, as técnicas provavelmente
não seriam o melhor recurso. Com a
realidade de lecionar das nossas es-
colas, as práticas didáticas se mos-
tram adequadas.”
Uso na realidade brasileira
De acordo com a professora, em
algumas áreas o foco do ensino-
-aprendizagem no Brasil sempre es-
teve nas condições sociais do alu-
no, do docente ou na forma como
elas influenciam nesse processo. “O
professor não muda as origens e a
vida dos alunos de imediato, mas
FabioVenturini
Eu testei
Tiago José de Biagio, professor de
História das redes pública e priva-
da da capital paulista e especialista
em História, Sociedade e Cultura pe-
la Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo (PUC-SP).
Na próxima edição, as técnicas de planejamento
to rapidamente o quadro de profes-
sores, disponibilidade e materiais
didáticos. Como não possuía uma
base sólida e as universidades pú-
blicas (mais aptas à época para a
formação de professores) não assu-
miram tal responsabilidade, as fa-
culdades particulares ocuparam a
lacuna por uma questão de oportu-
nidade de mercado, com muita ên-
fase teórica e quase nenhuma em
técnicas de ensino. “Nada contra
ser na iniciativa privada, mas isso
ocorreu sem um acompanhamen-
to ou uma política de formação dos
professores. O futuro docente não
aprende a ensinar e a culpa não é
necessariamente dele, pois é trata-
do como mais um aluno que pre-
tende ser docente. Se ele chega à
faculdade sem saber ler e escrever,
ninguém, assim como acontece na
educação básica, ninguém vai en-
siná-lo ou procurar corrigir o atra-
so”, conclui.
34 PROFISSÃO MESTRE®
abril 2011
Algumas técnicas de planejamento não são percebidas dentro da sala de aula.
Contudo, são fundamentais para que as demais funcionem. A “Comece Pelo Fim”,
por exemplo, viabiliza e facilita o uso de “Sem Desculpas” e “Sem Escapatória”,
por exemplo. Na próxima edição, a reportagem da Profissão Mestre abordará
as seis sugestões de planejamento, que prometem atingir um bom desempe-
nho acadêmico:
“Comece pelo Fim” – Antes de planejar uma atividade para a aula, deve-se es-
tabelecer os objetivos e, a partir de então, elaborar as práticas didáticas.
“Quatro Critérios” – Determinação de objetivos úteis e eficazes com base em
viabilidade, mensurabilidade, possibilidade de guiar as atividades e na prioriza-
ção do que é mais importante para a aprendizagem.
“Deixe Claro” – Esclarecer a todos os objetivos da aula, com a recomendação de
escrevê-los no quadro para que todos identifiquem o propósito do dia.
“O Caminho Mais Curto” – Se duas ou mais atividades forem elaboradas pa-
ra atingir os objetivos de uma determinada aula, convém usar a mais simples.
“Planeje em Dobro” – Elaborar o plano de aula com uma sequência planejada
de objetivos, como avaliar re sultados entre esses objetivos, acrescentando pro-
jeções de dúvidas comuns aos alunos em cada um desses temas para prever co-
mo respondê-las.
“Faça o Mapa” – Tomar para o professor o controle do espaço físico da aula, in-
cluindo no plano de aula a organização das carteiras, independentemente da pre-
ferência pedagógica.
SÉRIE AULA NOTA 10 – TÉCNICAS DE DOUG LEMOV
PROFISSÃO MESTRE®
abril 2011 35
O que achou desta reportagem?
Mande elogios, críticas e sugestões para
editorial@humaneditorial.com.br
A
Profissão Mestre aplicou as téc-
nicas do primeiro capítulo do
livro em uma turma de 20 alu-
nos do 5º semestre de Jornalismo do
Centro Universitário Estácio Radial
de São Paulo, instituição de ensino
superior da capital paulista. As au-
las ocorreram na disciplina História
Contemporânea, que contém temas
comuns, embora de abordagem di-
ferente pela faixa etária, a cursos do
ensino fundamental II e ensino mé-
dio. A escolha da turma se baseou nas
condições apresentadas por Lemov.
Nas escolas para crianças pobres nos
Estados Unidos o objetivo é entrar
num curso superior, o que confere boa
mobilidade social. Diferentemente
daquele país, quando uma pessoa
chega a uma faculdade ou universida-
de no Brasil ainda dependerá do fator
empregabilidade. Além disso, os alu-
nos de boa parte das instituições pri-
vadas são normalmente oriundos da
deficitária rede pública, com repertó-
rio escasso em relação aos colegas das
universidades federais e estaduais.
A primeira impressão de um re-
pórter-docente ao ler as propostas de
Lemov é que o autor está excessiva-
mente preocupado com a otimização
do tempo e que estimula em demasia,
em termos até mercadológicos, a com-
petição entre os alunos. Inicialmente,
o livro aparenta ser muito bom para
a formação de mão de obra, e não de
cidadãos. Mas um exame mais deta-
lhado torna a proposta justificável,
no entanto, ao considerar que as téc-
nicas foram coletadas da experiência
de docentes estadunidenses que cria-
ram para seus alunos, maioria de ne-
gros e/ou latinos, melhores condições
de entrada no ensino superior daque-
le país, com apelo para a melhoria das
condições de vida, comunicação e re-
flexão. Com mais cuidado na leitura,
percebe-se que as técnicas não repre-
sentam o reforço de dicotomias peda-
gógicas – trata-se de analisar a turma
para planejar o curso e usar recursos
didáticos adequados a esse grupo.
Todas as técnicas foram usadas
pela primeira vez com estudantes de
melhor rendimento e atenção, para
não chocar. Posteriormente, foram es-
tendidas ao restante da turma. No ca-
so de “Sem Escapatória”, uma aluna
mais dispersa recusou-se a responder,
mas com o envolvimento de outras
pessoas e a última palavra para essa
mesma aluna, ela se mostrou mais in-
teressada. O debate, a partir de então,
melhorou. Realmente funciona.
Em “Certo é Certo” e “Puxe Mais”,
a exigência de aumento de repertório
caiu também sobre o professor. O vo-
cabulário dos alunos é muito pecu-
liar à região de São Paulo em que ca-
da um vive e os termos em comum
são jornalísticos. Para um conteú-
do de História, em que usar o termo
América Portuguesa em vez de Brasil
Colônia, por exemplo, faz enorme di-
ferença, foi necessário abrir grandes
parênteses na aula, com recomen-
dação de outras leituras fora do pro-
grama e de atividades. Se o professor
não “puxar mais de si”, se não estiver
preparado para lidar com essas situa-
ções fora do seu planejamento, pode
se complicar.
“Boa Expressão” mostrou-se efi-
caz apenas em termos específicos da
disciplina, mas com um ar de pedan-
tismo. Os alunos prezam bastante pe-
la sua própria expressão verbal, o que
não é de se condenar, pois a própria
Língua Portuguesa com a qual con-
vivem desde o ensino fundamental
é ensinada com uma norma culta e
uma prática coloquial. “Sem descul-
pas” já era uma prática do professor,
usada muito mais na apresentação do
planejamento do que nas aulas coti-
dianas.
No final das contas, percebeu-
-se que as técnicas de manejo de sa-
la de aula são muito interligadas.
“Sem Escapatória”, “Certo é Certo”
e “Puxe Mais” se completam mui-
to bem e, em alguns momentos, se-
quer é possível empregá-las separa-
damente. Convencer os alunos de que
eles precisam correr atrás de um pre-
juízo é certamente a tarefa mais fácil.
Com o esclarecimento dos objetivos
do curso no primeiro dia de aula, eles
se sentiram motivados e dispostos, o
que resultou, consequentemente, na
cobrança para que tudo seja reali-
zado. Depois de aceitarem o desafio,
eles passaram a exigir serem cobrados
e que o planejamento fosse seguido.
A cada aula verificaram se cada um
dos objetivos apresentados foi cum-
prido. Mais importante do que o alu-
no é o docente acreditar no que está
fazendo, senão pode cair em descrédi-
to com a turma.
Ficou claro, também, que a im-
plantação das técnicas depende mui-
to do grupo discente, da empatia com
o docente, das preferências do pro-
fessor e de suas aptidões didáticas.
Inicialmente, surgiu uma preocupa-
ção epistemológica, pois a ideia de
metas está muito ligada à educação li-
beral para mera formação de mão de
obra. Pelo menos as técnicas do pri-
meiro capítulo aparentam ser real-
mente bastante flexíveis, adaptáveis a
qualquer conteúdo, organização esco-
lar ou filiação pedagógica.
Contudo, fica claro que, embo-
ra o autor separe as técnicas por par-
tes, é imprescindível a integração en-
tre as sugestões para o aumento de
expectativas com as práticas didáticas
de outros capítulos, especialmente os
voltados à estruturação das aulas e
planejamento do curso. Não é possível
usar técnicas para criar altas expecta-
tivas sem as de planejamento descri-
tas no capítulo 2.
O TESTE DA REPORTAGEM
O repórter Fabio Venturini, também historiador
e professor universitário na área de Comunicação
Social, do Centro Universitário Estácio Radial, de
São Paulo (SP), testou as técnicas para esta re-
portagem com alunos do curso de Jornalismo.
PROFISSÃO MESTRE®
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SérieSÉRIE AULA NOTA 10 – TÉCNICAS DE DOUG LEMOV	 Fabio Venturini
“N
inguém consegue usar to-
das as técnicas e o docente
tem que tirar o que é bom.
Elas têm que ser algo que ajude e de
forma fácil; têm que facilitar.” Assim o
professor Tadeu da Ponte define como
as técnicas propostas no livro Aula Nota
10 – 49 Técnicas para Ser um Professor
Campeão de Audiência, de Doug Lemov,
podem ajudar o professor na prepara-
ção e, especialmente, no planejamen-
to de suas aulas, tema do capítulo 2 da
obra (Planejar para Garantir um Bom
Desempenho Acadêmico) e dessa se-
gunda reportagem da série realizada
pela Profissão Mestre.
O educador usa as técnicas pro-
postas por Lemov há dois semestres,
antes mesmo do livro ser lançado no
Brasil. Em uma viagem a trabalho aos
Estados Unidos, o professor de Cálculo
em cursos superiores, no Insper –
Instituto de Ensino e Pesquisa, em São
Paulo (SP), verificou na mídia local
um caloroso debate sobre o desempe-
nho de alunos em função da qualidade
didática dos professores, com pesqui-
sas quantitativas de que os docentes de
maior desempenho ensinam em um
ano o conteúdo equivalente a três se-
mestres, enquanto os piores, no mes-
mo período, passam o conteúdo refe-
rente a seis meses.
Os dados, baseados nas avaliações
externas internacionais (organizadas
principalmente pelo Banco Mundial),
PLANEJAMENTO DEPENDE DE
ADAPTAÇÃO ÀS CONDIÇÕES DE AULA
Segunda reportagem da série Aula Nota 10, sobre técnicas de planejamento das
aulas, mostra como proposta de Doug Lemov é provocadora, porém efetividade
depende da inserção na realidade do professor
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maio 2011
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PROFISSÃO MESTRE®
maio 2011 33
levaram pesquisadores estadunidenses
a concluir que se, de todos os docentes,
os 5% mais fracos fossem substituídos
por outros de desempenho médio, a
colocação dos Estados Unidos em pro-
vas como o Programa Internacional
de Avaliação dos Estudantes (Pisa,
de Programme for International Student
Assessment) subiria para segundo ou
terceiro posto. Contudo, a outra con-
clusão era de que não havia professo-
res para substituição, pois os bons e
médios já estavam empregados e sem
disponibilidade. A solução encontrada
foi investir no aperfeiçoamento didáti-
co dos professores de menor desempe-
nho, tornando a conclusão do livro de
Doug Lemov um evento de expectati-
va entre especialistas em educação na-
quele país.
Com experiência em cursos pré-
-vestibulares, em 2010, Ponte adquiriu
a edição em inglês e implantou as téc-
nicas em suas turmas. Para ele, o maior
mérito da obra é fazer com que o docen-
te pense a aula em técnicas, a partir da
didática, além de suas convicções peda-
gógicas, o que ajuda a melhorar o pró-
prio desempenho e corrigir pontos que
a autocrítica aponta como frágeis. “As
técnicas são bem compreendidas co-
mo um todo. O autor não escreveu o
livro para um nível especial, básico ou
superior, mas para o professor em ge-
ral”, avalia, enfatizando que tinha co-
mo desafio pessoal, desde os tempos
de professor de cursinho, aumentar
o nível de atenção e concentração dos
seus alunos.
Ele selecionou algumas técnicas de
planejamento (capítulo 2), de estrutu-
ração de aulas (capítulo 3) e de esta-
belecimento de expectativas de desem-
penho (capítulo 6). “Além da ideia da
‘Comece pelo Fim’, de planejar de trás
para frente com base nos objetivos es-
tabelecidos, a ‘Planeje em Dobro’ me
ajudou bastante, pois, com a experiên-
cia adquirida com o tempo nas aulas
de Cálculo, eu dei atenção prévia aos
pontos em que o aluno normalmen-
te pode emperrar. Essa técnica com-
binada com as de estruturação de au-
la, como ‘Circule’ e ‘Quadro=Papel’, e
a ‘Padrão 100%’, funcionaram bastan-
te”, conta.
Resumo das técnicas de planejamento para
garantir um bom desempenho acadêmico
O Insper possui um programa de
aperfeiçoamento didático em que docen-
tes assistem as aulas de colegas e fazem
observações. Após selecionar e empregar
as técnicas que julgou mais adequadas,
Ponte solicitou à colega de instituição que
seria sua avaliadora para verificar espe-
cificamente a atenção e concentração da
turma. “Tive um retorno superpositivo.
A professora afirmou que a concentração
da turma, no geral, foi bem alta, com a
perda apenas em dois momentos, quando
respondi diretamente a dois alunos que
levantaram dúvidas específicas”, conta.
O professor também demonstra que
a implantação, mesmo individual, é um
trabalho que leva tempo. Ele afirma que
no primeiro período letivo em que empre-
gou as técnicas não conseguiu fazer tudo
como gostaria, mas aprendeu ao tentar as
melhores maneiras de aplicar as técnicas.
“Em 2011, acho que estou conseguindo
melhoras em alguns pontos que eu tinha
dificuldade”, acrescenta.
Cuidados na implantação
As experiências e as análises sobre as
técnicas do segundo capítulo do livro
mostram que ao se aprofundar na im-
plantação das propostas de Lemov em
sala de aula, o professor deve conside-
rar as peculiaridades da sua própria
prática pedagógica, além das caracte-
rísticas do seu conteúdo e da organiza-
ção escolar, uma vez que, como o pró-
prio autor define, são técnicas usadas
“Comece pelo Fim” – Antes de planejar uma atividade para a aula, deve-se es-
tabelecer os objetivos e, a partir de então, elaborar as práticas didáticas. Envolve
progredir do planejamento da unidade de conteúdo para o plano de aula, usar
objetivos bem definidos para estabelecer as metas de cada aula, determinar co-
mo avaliar a eficácia para atingir os objetivos e decidir a atividade.
“Quatro Critérios” – Determinação de objetivos úteis e eficazes com base em
viabilidade, mensurabilidade, possibilidade de guiar as atividades e na prioriza-
ção do que é mais importante para a aprendizagem, garantindo simplicidade e
eficácia das práticas pedagógicas empregadas.
“Deixe Claro” – Esclarecer os objetivos da aula, com a recomendação de escre-
vê-los no quadro para que todos que estejam em sala (além dos alunos, colegas
professores ou gestores) identifiquem o propósito do dia. A ideia é dar ao docen-
te um retorno rápido se está alcançando os objetivos que ele mesmo propôs pa-
ra reformular rumos da aula e aproveitar melhor o tempo.
“O Caminho Mais Curto” – Se duas ou mais atividades forem elaboradas para
atingir os objetivos de uma determinada aula, convém usar a mais simples. A prá-
tica pedagógica mais efetiva não é necessariamente a mais divertida ou criativa,
porém a mais simples é a que levará aos objetivos propostos em menor tempo
(que também pode ser divertida e criativa).
“Planeje em Dobro” – Elaborar o plano de aula com uma sequência planejada
de objetivos, como avaliar resultados entre esses objetivos, acrescentando proje-
ções de dúvidas comuns aos alunos em cada um desses temas para prever co-
mo respondê-las, de modo a manter os alunos constantemente engajados com
a aprendizagem.
“Faça o Mapa” – Planejar a distribuição de carteiras de modo que o professor
tenha controle total do espaço físico da aula, independentemente da preferên-
cia pedagógica – seja em aula expositiva (normalmente com disposição em filei-
ras simples ou duplas), seja em atividades em grupo ou em debates dirigidos.
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SérieSÉRIE AULA NOTA 10 – TÉCNICAS DE DOUG LEMOV	
durante a preparação das aulas e que
pouco se percebem em sala.
Sugestões que envolvem estrutura
física da instituição de ensino, como a
técnica “Faça o Mapa”, por exemplo,
dependem também da organização es-
colar. Além disso, segundo Tadeu da
Ponte, se mais professores usarem as
técnicas, o aluno pode se habituar a
elas em todas as aulas. “A coordenação
pode ter influência indireta para me-
lhorar os resultados”, avalia.
Mesmo que seja possível potencia-
lizar com envolvimento de gestores, a
forma de implantação, contudo, pode
ser motivo de preocupação. Na edição
de março da Profissão Mestre, uma das
questões levantadas na entrevista ex-
clusiva com Paula Louzano, consulto-
ra e revisora técnica da edição brasi-
leira, foi o risco de a obra de Lemov
ser usada por imposição. A resposta
da educadora foi enfática: “Não é para
o docente mudar suas convicções e es-
peramos que o livro não se torne um
debate ideológico, tampouco um ma-
nual. Ele traz de volta a ideia de que a
didática é importante e foi abandona-
da, que é algo aprendido.”
Pois são justamente os sinais de que
o livro começa a ser recebido do modo
não recomendado que preocupa a tam-
bém consultora educacional Emília
Cipriano, do Instituto Aprender a Ser,
de São Paulo (SP). Em uma primei-
ra análise do livro, a professora afirma
que é provocador, e que o autor segue
uma coerência bem firme dentro da sua
linha de raciocínio. “Não se deve criti-
car sem conhecer mais a fundo, sem
uma pesquisa mais detalhada, porém é
preocupante quando participo de even-
tos com gestores de todo o Brasil e al-
guns me dizem que com esse livro eles
agora têm uma referência para cobrar
seus professores”, analisa.
Para Emília, “o ideal seria que se
desenvolvessem trabalhos semelhantes
no Brasil, considerando a realidade es-
colar e o trabalho do docente daqui”. O
que não deixa de ser parcialmente rati-
ficado pela própria equipe da Fundação
Lemann. Em evento de apresentação da
obra para estudantes de Pedagogia da
Universidade Anhembi-Morumbi, em
março passado, as professoras Guiomar
Eu testei Namo de Mello, Paula Louzano e Ilona
Becskeházy receberam o mesmo ques-
tionamento e responderam que concor-
dam ser o ideal, mas como nada seme-
lhante foi feito no País, combinada com
a necessidade imediata de dar suporte
didático ao docente, a obra de Lemov,
que despendeu mais de cinco anos pa-
ra ser produzida, é um caminho in-
teressante até que algum trabalho
semelhante, realizado dentro das pecu-
liaridades do Brasil e suas regiões, seja
estruturado e publicado.
Segundo Tadeu da Ponte, pensar por
técnicas é a grande proposta e o profes-
sor pode extrair o que é mais adequado
às suas necessidades didáticas
FabioVenturiniArquivopessoal
Emília Cipriano, coordenadora do
Instituto Aprender a Ser: “O ideal seria
que se desenvolvessem trabalhos seme-
lhantes no Brasil, considerando a realida-
de escolar e o trabalho do docente daqui”
“As técnicas comparadas na diver-
sidade das minhas turmas mos-
tram que a ideia é ótima, mas
para o professor brasileiro é con-
troversa. ‘Comece pelo Fim’, por
exemplo, torna-se até parado-
xal na situação atual das escolas
e do dinamismo da educação no
País. Na rede particular, a gente
vive uma situação de mercado que
aprisiona o objetivo. Se o pai do
aluno disser que a aula é chata, o
professor ‘está pego’, não impor-
ta como planejou o objetivo. Sobre
a técnica ‘Planeje em Dobro’, com
40 aulas semanais, em quatro es-
colas e turmas de perfis totalmen-
te diferentes, percebi que é huma-
namente inviável planejar mais do
que o permitido pelas 24 horas do
dia. Na técnica ‘Quatro Critérios’
foi pior, especialmente nas esco-
las públicas, pois as secretarias de
educação e o MEC mandam tudo
bem amarrado para a instituição
não ‘perder tempo’ planejando
objetivos. Para implantar essa téc-
nica e fazer funcionar, professores
e gestores precisam de uma auto-
nomia que não têm. ‘Deixe Claro’
funciona na turma de ensino médio
técnico em Turismo, pois quando
os objetivos da aula de História fo-
ram explicitamente descritos, com
um sentido funcional na futura pro-
fissão dos alunos, até o interesse
dos estudantes aumentou.”
Tiago José de Biagio, professor de História
das redes pública e privada da capital pau-
lista e especialista em História, Sociedade e
Cultura pela Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo (PUC-SP).
34 PROFISSÃO MESTRE®
maio 2011
PROFISSÃO MESTRE®
maio 2011 35
O que achou desta reportagem?
Mande elogios, críticas e sugestões para
editorial@humaneditorial.com.br
N
as técnicas de planejamen-
to, “Comece pelo Fim” é a
técnica-chave do capítu-
lo. Contudo, não funciona tão bem
com o planejamento de aulas isola-
das. A sugestão foi mais efetiva a ca-
da encontro com a turma por conta
do estabelecimento prévio dos obje-
tivos de todo o período letivo, com
a apresentação detalhada aos alunos
no primeiro dia de aula. Esse proce-
dimento tomou mais tempo do que
o comumente despendido no plane-
jamento do semestre, porém tornou
a estruturação do curso mais clara
aos alunos e facilitou tanto a estru-
turação das atividades de cada aula
a partir do fim (objetivos) quanto a
elaboração das avaliações.
“Deixe Claro”, por sua vez, é a
técnica mais efetiva de planejamen-
to. Já havia usado anteriormen-
te sem ser de forma sistemática.
Contudo, ao colocar habitualmente
os objetivos num canto do quadro,
a turma acompanhou melhor o con-
teúdo e também desenvolveu o hábi-
to de participar do direcionamento
das exposições e debates em função
dos objetivos. Deve-se ressaltar que
a turma foi cuidadosamente escolhi-
da para avaliar as técnicas. São alu-
nos que não costumam ter desem-
penho baixo para o nível de ensino
em que se encontram e sabem bem
o que querem com a sua formação.
As vantagens devem ser nitidamen-
te mais demoradas com turmas me-
nos envolvidas.
“O Caminho mais Curto”, as-
sim como “Quatro Critérios”, já era
prática do docente, complementa-
das pelo hábito próprio de sempre
ter duas ou três atividades prepara-
das para atingir objetivos de nature-
zas distintas (estimular a reflexão,
entendimento de conceitos bási-
cos, treinar habilidades de pesqui-
sa/apuração e análise de prática de
trabalho em Comunicação). Quando
alguma delas se mostra mais ade-
quada aos objetivos e ao ânimo da
turma numa determinada aula,
substitui a planejada, mesmo que a
decisão seja de última hora. O rela-
cionamento com os alunos em sala é
flexível e mudanças no planejamen-
to podem ser variáveis úteis do pro-
cesso de aprendizagem. Com a com-
binação dessas duas técnicas com
“Comece pelo Fim”, quando tais
mudanças ocorreram, o professor
precisou de alguns minutos do iní-
cio da aula para justificá-las. O tem-
po é primordial, mas não pode ser o
fator preponderante e, inadvertida-
mente, sobreposto a todo e qualquer
outro aspecto diferente.
“Planeje em Dobro” foi útil na
apresentação do conteúdo, mas não
se mostrou um diferencial na con-
dução da aula, pois tornou algumas
atividades mais discursivas do que
provocadoras do debate. Nessa tur-
ma (e pelas características do docen-
te), na relação com o seu conteúdo,
“Sem Escapatória” (técnica do capí-
tulo 1) permitiu resultados mais efe-
tivos.
“Faça o Mapa”, aparentemente,
é mais suscetível à organização da
instituição de ensino. Doug Lemov
sugere disposição em fileiras de du-
plas, mas no Brasil nem sempre o
professor pode se dar esse luxo. Em
escolas particulares é mais comum
a sala de aula ser usada por uma ou
pelo menos poucas turmas, seme-
lhante ao sistema estadunidense.
Portanto, essa técnica é mais viável
principalmente com o envolvimento
da direção. Já nas escolas públicas,
com uma sala recebendo pelo menos
três turmas em turnos diferentes, é
inadequada, a não ser que se adote
um padrão arbitrário e não necessa-
riamente adequado a todos profes-
sores.
Na turma avaliada, de nível su-
perior, essa técnica foi simplesmen-
te inviável, pois a sala de aula não
é usada todos os dias por esses alu-
nos (muitas aulas são em estúdios e
laboratórios) e tem um número ex-
cessivo de carteiras ocupadas em
função da sua área útil. Apenas a
manutenção de estreitos corredores
foi conseguida. Para dominar o es-
paço é mais fácil usar outros recur-
sos pertinentes ao contexto, como
organizar esporadicamente círcu-
los ou grupos em contexto específi-
cos a cada aula. Inclusive a técnica
“Comece pelo Fim”, a mais efetiva
do capítulo nessa situação, teve de
ser adaptada aos espaços e recursos
disponíveis.
Em geral, a essência das técni-
cas, que é o melhor aproveitamento
do tempo, oferece o risco de carregar
as aulas com muitos objetivos e con-
teúdos. Alguns ajustes do planeja-
mento foram necessários após pou-
cas semanas de aula, o que também
se atribui ao ineditismo de estrutu-
ração de técnicas de didática como
fator tão preponderante.
O TESTE DA REPORTAGEM
O repórter Fabio Venturini, também histo-
riador e professor universitário na área de
Comunicação Social, do Centro Universitário
Estácio Radial de São Paulo (SP), testou as
técnicas para esta reportagem com alunos
do curso de Jornalismo.
Na próxima edição, as técnicas
para estruturação de aulas
Na proposta de Doug Lemov, após defi-
nir o planejamento fora de sala, as aulas
podem ser estruturadas para obter mais
desempenho e aprimorar o maior núme-
ro de habilidades possível, com controle
do tempo e estímulo ao trabalho cogni-
tivo. As técnicas do capítulo 3 são volta-
das a esse aspecto. Elas são denomina-
das: “O Gancho”, “Dê Nome às Etapas”,
“Quadro=Papel”, “Circule”, “Divida em
Partes”, “Proporção”, “Entendeu?”, “Mais
uma Vez”, “Arremate” e “Tome Posição”.
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junho 201126
SérieSÉRIE AULA NOTA 10 – TÉCNICAS DE DOUG LEMOV	 Fabio Venturini
E
mbora não exista uma divisão
rígida entre as técnicas suge-
ridas por Doug Lemov no livro
Aula Nota 10 – 49 Técnicas para Ser um
Professor Campeão de Audiência, pois to-
das são complementares dentro da
proposta do professor estadunidense,
a sua organização deixa claro que o
trabalho começa com o docente e pas-
sa paulatinamente aos alunos. Inicia-
se com o aumento da expectativa aca-
dêmica, transita pelo planejamento e,
no terceiro capítulo, a ideia é estrutu-
rar as aulas para que o trabalho cog-
nitivo termine sempre com o aluno.
Essa progressão foi resumida por
Lemov como “Eu/Vocês/Nós”, ou se-
ja, as tarefas começam com o docen-
te, que apresenta os princípios. Em
uma etapa posterior são feitas em con-
junto e devem terminar com a turma
realizando as atividades com autono-
mia. “Isso é algo básico. Até quando
uma pessoa ensina outra a fazer um bo-
lo o procedimento de transmissão desse
conhecimento é semelhante”, acredita
Ilona Becskeházy, diretora executiva da
Fundação Lemann, entidade responsá-
vel pelo lançamento da obra no Brasil.
Segundo Ilona, um dos pontos
importantes desse capítulo é o con-
trole de como o conteúdo é recebi-
do em aula, garantindo que os alunos
absorvam quantidades adequadas de
conhecimento. “Se você monta uma
aula com altas expectativas, planeja
bem, mas não controla como está sen-
do feito, você não garante a equidade
no ensino. O professor não pode se exi-
mir de ensinar para todos os alunos.
Ilona Becskeházy: “Se você monta uma au-
la com altas expectativas, planeja bem, mas
não controla como está sendo feito, você não
garante a equidade no ensino”
PELA PROGRESSÃO DO
TRABALHO COGNITIVOEm capítulo sobre estruturação de aulas, Doug Lemov propõe técnicas
para que o professor transfira de modo escalonado a responsabilida-
de do trabalho cognitivo em sala de aula para o aluno
AgenciaPerspectiva–RubensChiri
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Esse capítulo é muito nessa linha, de
como se garante isso”, analisa.
As organização do capítulo evi-
dencia essa proposta, com técnicas espe-
cificadas como as do “Eu” (“O Gancho”,
“Dê Nome às Etapas”, “Quadro=Papel”
e “Circule”), do “Nós” (“Divida em
Partes”, “Proporção” e “Entendeu?”) e
as técnicas do “Vocês” (“Mais uma vez”,
“Arremate” e “Tome Posição”).
Para a diretora, no entanto, algu-
mas delas extrapolam o desenvolvimen-
to cognitivo para comportamentos fo-
ra de sala, como por exemplo a “Tome
Posição”. “Ela é importante no desen-
volvimento da reflexão e da oratória, na
participação em debates respeitosos e
embasados. Fora da escola, muitas pes-
soas partem para o ataque pessoal dian-
te de opiniões contrárias, desqualificam
o interlocutor ou mesmo não tomando
posição. Essa prática deve ser feita na es-
cola, para qualificação do debate respei-
toso em qualquer âmbito”, acredita.
Resumo das técnicas para estruturar e dar aulas
“Gosto de trabalhar com a construção
do conhecimento de uma forma que o
aluno pense e reflita com as informa-
ções que tem. As técnicas me ajudam
a organizar essa construção, no apro-
fundamento e no questionamento.
Situações de retomar o conteúdo
com o aluno que deixa de responder
[“Sem Escapatória”, capítulo 1], por
exemplo, são muito úteis. Muito do
que o autor propõe, eu já fazia. A dis-
posição da minha sala, por exemplo,
já era planejada e diferente das con-
vencionais, não foi pensada após ler
sobre a técnica “Faça o Mapa” [capí-
tulo 2]. Porém, o livro ajudou a orga-
nizar os meus procedimentos e para
dar clareza do que fazer. Não me fixo
na nomenclatura e não planejo siste-
maticamente o momento de usar as
técnicas. Concentro-me na ideia ge-
ral e as emprego quando é oportuno,
adaptadas à situação posta na aula.
Eu passei a pensar melhor na for-
ma de questionar os alunos e uso téc-
nicas como “Divida em Partes”, “Sem
Escapatória”, “Todos Juntos” [capítu-
lo 4] e “Puxe Mais” [capítulo 1]. A cir-
culação mais atenta também ajuda
(“Circule”). Hoje faço com outro olhar,
lendo o que eles escrevem e pegan-
do subsídios para o momento de
questionar a turma, escolher quem
vai responder. O comportamento es-
colar deles melhorou, a dedicação e
até a feitura da lição de casa aumen-
tou. Não por disciplina, mas por en-
gajamento.”
Eu testei
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Gilne Gardesani Fernandez é profes-
sora da Escola Municipal de Educação
Infantil e Ensino Fundamental
Vereador Manoel de Oliveira, em
Santo André (SP). Ela usa as téc-
nicas em todas as disciplinas
(Ciências, Língua Portuguesa, História,
Geografia, Matemática e Artes), com
uma turma de 4º ano.
“O Gancho” – Usar um curto momento introdutório para despertar a atenção
dos alunos pelo assunto que será desenvolvido durante a aula, com recursos co-
mo uma música, uma encenação ou uma brincadeira com os alunos.
“Dê Nome às Etapas” – Dividir tarefas mais complexas em etapas simples, de-
vidamente nomeadas, para facilitar que os alunos se lembrem de todas elas na
resolução de um problema e busca de objetivo.
“Quadro=Papel” – Apresentar o assunto da forma como o professor gostaria
que os alunos copiassem. O objetivo é facilitar o uso dessas anotações como ins-
trumento eficaz no sentido de relembrar o conteúdo. O caderno pode ser uma
“réplica exata dos resumos que o professor apresentou no quadro”
“Circule” – Mover-se estrategicamente na sala de aula para romper a barreira
imaginária que separa professor e alunos, ter acesso total ao que os estudantes
estão fazendo, realizar intervenções precisas e oportunas no momento que jul-
gar melhor e tomar para si o domínio do espaço.
“Divida em Partes” – Quando o aluno tem dificuldade na solução de um proble-
ma, o docente pode dar dicas de acordo com o nível de conhecimento apresenta-
do pelo aluno (exemplos, contextualização ou apresentação de regras), de modo
que ele chegue por processo cognitivo ao resultado.
“Proporção” – Aumentar a porcentagem de trabalho cognitivo do aluno durante
as atividades para atingir os objetivos, com perguntas que levem ao aprofunda-
mento de pensar e analisar novos conteúdos.
“Entendeu?” – Verificar constantemente a compreensão que os estudantes es-
tão tendo durante a aula e, a partir desses dados, intervir imediatamente. Nunca
deixar para depois ou esperar que os erros aconteçam para depois tentar uma
ação corretiva.
“Mais uma Vez” – Usar a repetição para refinar as habilidades mais básicas
que o aluno precisa demonstrar em uma determinada disciplina, ao final de ca-
da aula.
“Arremate” – Um complemento de “Entendeu?” e “Mais uma Vez”; é quando o
docente apresenta uma questão ou uma curta sequência de problemas para re-
solver ao término da aula, a fim de coletar dados e orientar as repetições neces-
sárias.
“Tome Posição” – Promover um ambiente em que os alunos julguem as respos-
tas dos colegas, concordando ou discordando com respeito, para estimular a cog-
nição e a reflexão sobre os conteúdos da aula.
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junho 201128
SérieSÉRIE AULA NOTA 10 – TÉCNICAS DE DOUG LEMOV	 Fabio Venturini
Com o trabalho estabelecido na cria-
ção de expectativas acadêmicas, um
planejamento profundo e aulas bas-
tante estruturadas, Lemov parte pa-
ra as técnicas para que os alunos se
sintam motivados a se engajarem no
trabalho em sala. Elas são apresen-
tadas no capítulo 4, com os seguin-
tes nomes: “De Surpresa”, “Todos
Juntos”, “Bate-Rebate”, “Tempo de
Espera”, “Todo Mundo Escreve” e
“Plumas e Paetês”.
Na próxima edição, as técnicas
para motivar os alunos nas aulas
Didática no currículo
Um dos objetivos da Fundação Lemann
é apontar caminhos para elaboração de
um currículo nacionalizado. A ênfase no
livro de Doug Lemov se deve, também, à
importância dada pela instituição ao te-
ma da didática nessa construção. Tanto
que trouxe para o País a obra Experiências
Educativas e Situações de Aprendizagem –
Novas Práticas Pedagógicas, do professor
português Rui Trindade, autor bastante
conhecido desse lado do Atlântico e com
filiação pedagógica bastante distinta da
de Doug Lemov, que é ligado ao mundo
dos negócios e com formação nessa área
na Universidade de Harvard (EUA).
Baseada numa concepção natural do
ser humano como originariamente tri-
bal e que chegou ao estágio civilizatório
atual pela capacidade de transmissão do
conhecimento, Ilona Becskeházy afirma
que as propostas didáticas devem ser co-
locadas também no detalhamento curri-
cular, se possível nos níveis mais esmiu-
çados de detalhamento dos sistemas de
ensino. “Cada cultura tem a sua forma
de transmitir o conhecimento. Na nos-
sa está com a família e um intermediá-
rio entre a sociedade e essas pessoas, que
é o professor. O docente precisa saber
que o que ele está passando para as ge-
rações futuras é de interesse dessa socie-
dade tecnológica, desenvolvida etc. Tudo
isso tem a ver com currículo”, defende a
diretora.
A premissa é que, com a didática
profundamente detalhada, o professor
estaria, segundo Ilona, “liberado para se
dedicar à parte mais nobre de seu traba-
lho, para que ele não queira reinventar a
roda a cada aula”.
O que achou desta reportagem? Mande
elogios, críticas e sugestões para editorial@
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O capítulo 3 apresenta técnicas que
se complementam didaticamen-
te e pedem as de outros capítulos.
“Mais uma Vez” e “Arremate”, por
exemplo, são praticamente a mes-
ma. Por vezes não foi possível usá-
-las por uma questão de tempo,
pois a turma analisada tem uma
carga horária pequena para tra-
tar de um assunto tão amplo quan-
to a História Contemporânea, e o
aproveitamento de cada minuto é
precioso. Quando isso acontece, o
assunto pode ser fixado na aula se-
guinte, ao ser retomado com a téc-
nica “O Gancho”. Esta, por sua vez,
é uma técnica que já era emprega-
da na introdução de conteúdos ou
unidades novas, normalmente com
uma música, um vídeo, um texto, di-
tados populares contextualizados
ou até mesmo com o noticiário da
semana. O que mudou foi incluir es-
se gancho no plano de ensino, pre-
vendo, por exemplo, no início do pe-
ríodo letivo, que na primeira aula da
unidade sobre as ditaduras milita-
res na América Latina seria apre-
sentado o videoclipe ou o áudio da
música Vai Passar, de Chico Buarque
e Francis Hime. Reforça o conceito
de adequar a atividade ao objetivo.
No sentido de controlar o que
se apreendeu, “Circule” mostrou-se
mais adequada, pois permite ve-
rificar de perto, na própria escrita,
se a compreensão dos alunos foi a
esperada. Antes de ler a propos-
ta de Lemov, ela era realizada pa-
ra conter intervenções inconvenien-
tes, mais como controle disciplinar.
Todos docentes que já conversaram
com a reportagem relatam a mes-
ma mudança: “Parei de circular para
conter algum comportamento que
julgo indesejável, que abre espa-
ço para o aluno dominar a sala, e
agora o faço quando acho pertinen-
te do ponto de vista pedagógico”.
O repórter Fabio Venturini, também
historiador e professor universitário na
área de Comunicação Social, do Centro
Universitário Estácio Radial de São Paulo
(SP), testou as técnicas para esta reporta-
gem com alunos do curso de Jornalismo.
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junho 201128
“Dê Nome às Etapas” e
“Divida em Partes” são bastan-
te úteis quando conceitos comple-
xos são passados. Se essas téc-
nicas não complementam, pelo
menos servem muito bem como ba-
se para a técnica “Tome Posição”, já
realizada anteriormente pelo do-
cente. Afinal, quanto maior a com-
preensão, melhor será o embasa-
mento para o debate. E como o
aluno tem certeza de que o colega
pode responder à altura, aumen-
tou o cuidado da turma nas colo-
cações, com maior respeito no de-
bate.
A passagem do trabalho cog-
nitivo para o aluno, sugerido em
“Proporção”, já era usada pelo do-
cente. Até por ser uma das diretri-
zes do curso, que é estimular a cog-
nição, a reflexão e o debate, já faz
parte do cotidiano.
A técnica “Entendeu?” ainda ge-
ra dúvida em como empregar, pois
as horas de dedicação a uma tur-
ma são escassas para um levanta-
mento altamente preciso de dados
de todos os alunos fora dos perío-
dos formais de avaliação. A organi-
zação da instituição de ensino deve
prever a avaliação continuada pa-
ra garantir a equidade e um funcio-
namento adequado desta técnica.
Essa não é a realidade do ensino
no Brasil, seja básico (especialmen-
te na rede pública), ou superior,
com agravantes nas instituições pri-
vadas que atendem alunos de ren-
da média ou baixa. Para tal propó-
sito, “Circule” foi mais efetiva.
O teste da reportagem
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SérieSÉRIE AULA NOTA 10 – TÉCNICAS DE DOUG LEMOV	 Fabio Venturini
D
oug Lemov abre o capítulo 4 do li-
vro Aula Nota 10 – 49 Técnicas pa-
ra Ser um Professor Campeão de
Audiência afirmando que é possível moti-
var os alunos “trocando firulas por con-
teúdo”. Sem desdenhar de recursos ar-
tísticos ou até performáticos, os quais
recomenda na técnica “Plumas e Paetês”,
o autor mostra exemplos de organização
dos questionamentos, para que os alunos
se engajem no processo de aprendizado e
melhorem seu rendimento.
Algumas das sugestões são aparente-
mente simples e corriqueiras. No Colégio
Albert Sabin, “Plumas e Paetês” e “Todo
Mundo Escreve” já fazem parte do dia a
dia da escola. “Toda escola usa ativida-
des lúdicas para dar movimento e brilho
à sala de aula. Muitos de nossos profes-
sores também pedem que o aluno escre-
va a resposta antes de falar, como uma
espécie de degrau da reflexão”, explica a
professora Giselle Magnossão, diretora da
instituição.
Como Lemov enfatiza o engajamen-
to do aluno no sentido de motivação, as
técnicas do capítulo 4 podem ser cen-
trais nessa proposta. A diretora, contu-
do, faz algumas ressalvas nessa abor-
dagem. “Esse comportamento deve ser
obtido com o aprimoramento da manei-
ra como o aluno opera em sala de aula.
O engajamento pode ser abordado como
vinculação e participação e também co-
mo desenvolvimento profundo daquilo
que está sendo trabalhado. Nesse sentido,
usamos ‘Tome Posição’, ‘Proporção’ [am-
bas do capítulo 3] e ‘Plumas e Paetês’”,
conta Giselle.
Para a educadora, no geral, o livro é
estruturado em eixos interessantes, co-
mo a ênfase na sala de aula, a criação
de altas expectativas e o letramento co-
mo núcleo do trabalho escolar, mas algu-
mas das técnicas têm potencial para criar
HumbertoFranco
MOTIVAÇÃO PARA MELHORAR
O DESEMPENHO
Técnicas do quarto capítulo da obra de Doug Lemov apresentam sugestões de
como usar o conteúdo de forma estimulante, para participação dos alunos em
debates e respostas a indagações coletivas
Para a professora Giselle Magnossão, deve
haver cuidado no uso das técnicas para não
gerar um clima desconfortável em sala
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PROFISSÃO MESTRE®
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um clima indesejável em sala de aula, co-
mo a “De Surpresa” e “Circule” (capítulo
3), na qual o autor sugere que o professor
sempre se aproxime por trás e veja o que
o aluno está vendo.
“Em ‘Circule’ é como se fosse uma
tocaia, estimulando um comportamento
heteronômico, no qual o aluno age corre-
tamente apenas quando estiver sendo vi-
giado. ‘De Surpresa’, dependendo do rit-
mo que o professor imprime, pode gerar
estresse. À primeira vista, essas técnicas
podem deixar as crianças tímidas e des-
confortáveis”, acredita.
“Pontos de contato”
A professora Giselle foi convidada pela
Fundação Lemann a avaliar a obra de
Lemov e apresentar as impressões a um
grupo de gestores de instituições parti-
culares de ensino, em abril deste ano.
Como principal gestora de uma insti-
tuição que atende alunos de classe mé-
dia alta, da educação infantil ao ensino
médio e com professores em boas con-
dições de trabalho comparando com a
média nacional, verificou que há muitos
aspectos apresentados pelo autor estadu-
nidense que já são praticados em sua es-
cola, descritos por ela como “pontos de
contato”. O primeiro aspecto em comum
é a ênfase no desenvolvimento do pro-
cesso de ensino e aprendizado na sala
de aula, que é, em sua opinião, o local
de atualização de tudo que se propõe em
termos de formação dos professores. A
sala de aula é onde as coisas acontecem
tanto para aluno quanto para docente.
Nesse aspecto, a escola já usa, segundo a
diretora, “Divida em Partes”, “Mais uma
Vez” (ambas do capítulo 3, para estrutu-
ração de aulas), “Todo Mundo Escreve”,
“Controle do Material” (capítulo 5, pa-
ra criação de uma forte cultura escolar)
e “O Que Fazer” (capítulo 6, de estabe-
lecimento de altas expectativas de com-
portamento).
No que tange à disciplina, a criação
do clima escolar (capítulo 5) reforça um
tratamento rígido do ponto de vista aca-
Eu testei
“Não me fixo muito na nomenclatura e
também não planejo sistematicamen-
te o uso das técnicas. Concentro-me na
ideia geral, no momento oportuno, e
emprego as sugestões adaptadas à si-
tuação posta na aula. Até porque já fa-
zia algumas das propostas do livro, co-
mo ‘Plumas e Paetês’.
No entanto, passei a refletir sobre
como executava questionamentos aos
alunos. Algumas técnicas foram aprimo-
radas para melhorar esse ponto. ‘De
Surpresa’ é uma que uso bastante, nor-
malmente quando meus alunos estão
agitados. Quando levanto uma pergun-
ta, eles sabem que qualquer um pode
responder e isso contribui bastante.
Da mesma forma, uso ‘Tempo de
Espera’. Sempre peço respostas ao alu-
no mais adequado, ao que sugere o
momento da aula, muitas vezes base-
ada em informações colhidas durante a
circulação em sala [referência à técnica
“Circule”, capítulo 3].
Também uso esporadicamen-
te ‘Todos Juntos’, para respostas cur-
tas ou quando desejo fixar e diferenciar
conteúdos que eles podem confundir, e
‘Bate-Rebate’ para retomar algum as-
sunto, dar continuidade ou para revisões.
Creio que com algumas dessas técni-
cas a gente consegue fazer com que os
alunosdofundamentalIcheguemmelhor
nos níveis posteriores. Não são todas téc-
nicas que servem, nem para tudo mun-
do, pois é algo muito individual. Elas de-
pendem do professor, da disciplina e das
condições de trabalho. Porém nada im-
pede o seu uso e elas contribuem muito.”
Gilne Gardesani Fernandez é professo-
ra da Escola Municipal de Educação Infantil
e Ensino Fundamental Vereador Manoel de
Oliveira, em Santo André (SP). Ela usa as téc-
nicas em todas as disciplinas (Ciências, Língua
Portuguesa, História, Geografia, Matemática
e Artes), com uma turma de 4º ano.
Resumo das técnicas motivacionais
“De Surpresa” – Garantir que todos tenham a expectativa de serem chamados
para responder a uma pergunta a qualquer momento da aula, mesmo os que
não levantaram a mão indicando voluntariedade. Para tanto, o critério do profes-
sor sobre quem chamar deve ser sistemático e garantidor da equidade.
“Todos Juntos” – A turma toda responde em coro, desde que não seja para
repetição de aforismos ou refrões. É indicada pelo autor como ferramenta pa-
ra repetição de tópicos comportamentais acadêmicos, relatar resultados de ta-
refas concluídas, reforço de novas informações, revisão de conteúdo e resolução
de problemas.
“Bate-Rebate” – Usar um tempo no início da aula com jogos de perguntas e res-
postas rápidas para exercitar a cognição, retomar e reforçar conteúdos, com o ob-
jetivo de fixar o conhecimento de aulas anteriores e, por consequência, facilitar a
introdução de novos temas.
“Tempo de Espera” – Após fazer uma pergunta, aguardar alguns segundos pa-
ra que os alunos pensem na resposta antes de pedir voluntários ou até mesmo
escolher alguém para participar. Esse interstício ajuda na organização das ideias
do aluno antes de falar perante a turma.
“Todo Mundo Escreve” – Também tem por objetivo fazer com que o aluno or-
ganize suas ideias antes de responder. Consiste em pedir para que as respostas
sejam primeiramente redigidas para depois, uma vez bem pensadas e elabora-
das, apresentadas à turma.
“Plumas e Paetês” – Realização de curtas apresentações ou atividades lúdicas,
geralmente de viés artístico, performático ou audiovisual, seguindo um programa
específico de aprendizado e com cuidados para que não se torne um evento tra-
tado com desdém, displicência ou que se desvie dos objetivos da aula.
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Sériedêmico e cordial no trato. “Há a neces-
sidade de criar um clima favorável
à aprendizagem, cuja responsabili-
dade é de todos na escola. A insti-
tuição deve ser firme nos princípios
e suave nos modos, com equilíbrio,
serenidade. Deve conviver com os
conflitos presentes na escola, os
quais não devem ser eliminados,
mas trabalhados”, afirma Giselle.
A coleta de dados para dar supor-
te ao professor também foi apontada
como uma contribuição para a qua-
lidade das aulas, com “’Entendeu?”
e “Arremate” (capítulo 3), conside-
radas interessantes dentro de sala.
Além disso, a diretora ressalta que
o princípio da equidade é funda-
mental, com o processo de ensino e
aprendizado contemplando a todos
os alunos de uma turma.
Inquietações
Como diretora de um colégio de fi-
liação sociointeracionista, a profes-
sora Giselle se diz preocupada com
algumas sugestões que, segundo
ela, baseiam-se em demasia na re-
petição. Embora boa parte das pro-
postas já fosse utilizada, a obra foi
colocada em debate entre gestores
e coordenadores para avaliação de
pressupostos e viabilidade de absor-
ção de algumas das ideias que não
fazem parte do cotidiano do Albert
Sabin. O trabalho está em anda-
mento e deve incluir professores du-
rante o segundo semestre desse ano.
Uma das principais preocupa-
ções é com a possibilidade de algum
professor adotar o livro de forma
não reflexiva, como uma espécie de
manual, e a compreensão de conte-
údos ser substituída pela memori-
zação. “Lemov descreve a técnica e
depois dá o exemplo, que algumas
vezes desconstrói a própria técni-
ca, com sugestão de recursos mne-
mônicos para construção de concei-
tos, memorização de resposta e não
para construção do conhecimento”,
alerta.
Mediante a ênfase constante de
Doug Lemov no quesito de adminis-
tração do tempo, Giselle avalia que
deve haver cuidado no uso das téc-
nicas para que não se perca o rit-
mo da sala de aula, preservando
o tempo para o trabalho acadêmi-
co propriamente dito e construindo
o clima disciplinar adequado para
aprendizagem. Porém, se mal usa-
da, a mesma ferramenta pode gerar
efeitos opostos aos pretendidos. “O
autor enfatiza uma disciplina invi-
sível. Na busca de economizar tem-
po, podemos criar um clima des-
confortável e inadequado ou até
mesmo criar uma escola neurótica.
Os efeitos podem ser opostos ao de-
sejado. A técnica é importante, mas
todo o restante também. Ela é ape-
nas parte do trabalho”, analisa a
diretora.
SÉRIE AULA NOTA 10 – TÉCNICAS DE DOUG LEMOV	 Fabio Venturini
O repórter Fabio Venturini, também histo-
riador e professor universitário na área de
Comunicação Social, do Centro Universitário
Estácio Radial de São Paulo (SP), testou as
técnicas para esta reportagem com alunos
do curso de Jornalismo.
A proposta de Lemov para motivar
os alunos é pertinente, porém requer
muito cuidado do docente, pois elas
estão no limiar entre algo lúdico, até
mesmo artístico, e a abertura de enor-
mes brechas a sátiras improdutivas
dos alunos. Sempre cabe ressaltar que
a turma observada pela reportagem
é de um curso superior, com pessoas
que, embora recém-saídas da adoles-
cência, já carregam grandes respon-
sabilidades e passam maior parte do
seu tempo no trabalho. Por mais que
a proposta de Lemov seja pertinen-
te em outras situações, nesse cenário,
“Todos Juntos” não foi bem recebida.
Os alunos sentiram-se tendo um trata-
mento “pouco adulto”.
As demais técnicas são realmente
bastante efetivas. Os resultados em
“De Surpresa” lembram muito os de
“Sem Escapatória” (capítulo 1), pois
mostra à turma que todos estão para
participar, independente do que acon-
teça em sala. É também, nesse capí-
tulo, a de efeitos mais rápidos e evi-
dentes, pois os alunos percebem a
diferença de postura do professor ao
escolher mesmo quem não se volunta-
riou a participar de uma questão suge-
rida em aula. Pela relação do docente
com os alunos já de outros períodos le-
tivos, não chegou a gerar tensões mui-
to fortes, mas ficou evidente que são
necessários alguns cuidados para que
os alunos não se sintam pressionados,
especialmente na combinação de “De
Surpresa” com “Sem Escapatória”, pois
alguns tiveram tal percepção e demo-
O teste da reportagem
Na próxima edição, sugestões para
criação de uma forte cultura escolar
Para Doug Lemov, os processos de
ensino e aprendizagem são mais efi-
cientes se os alunos se enxergarem
dentro de um ambiente notoriamen-
te acadêmico, voltado essencialmen-
te à atividade escolar. Na próxima
edição, serão tratadas as técnicas
sugeridas pelo autor para cons-
truir essa cultura própria: “Rotina
de Entrada”, “Faça Agora”, “Breves
Transições”, “Controle do Material”,
“Posso”, “Em Suas Marcas”,
“Comunicação por Sinais” e “Vivas!”
26 PROFISSÃO MESTRE®
julho 2011
raram a perceber a postura como mo-
tivacional, não constritiva.
Todos esses alunos já tiveram au-
las de História Contemporânea no en-
sino básico, porém na formação atual
deles não basta saber, por exemplo,
apenas qual país iniciou ou terminou
determinado conflito militar. É neces-
sário analisar o cenário construído nos
recortes propostos, realizar observa-
ções críticas e profundamente emba-
sadas, inclusive em preceitos filosóficos
e na escrita da História. Nesse sentido,
“Tempo de Espera” e “Todo Mundo
Escreve” são extremamente úteis por
auxiliar num dos pontos mais sensíveis
nessas aulas, que é a organização das
ideias antes da exposição. O debate
também foi enriquecido.
“Bate-Rebate” é efetiva na fixação
de alguns conceitos simples. Porém, em
alguns momentos, deixou a sensação de
ser voltada à memorização de sentenças
curtas. Provavelmente essa técnica seja
mais útil em conteúdos menos complexos
que, mesmo fundamentais, tenham na
memorização fundamento mais adequa-
do. “Plumas e Paetês” já era usada pelo
docente, muitas vezes combinada com “O
Gancho” (capítulo 3) na apresentação in-
trodutória da aula, dos objetivos e de no-
vos conceitos.
32 PROFISSÃO MESTRE®
agosto 2011
SérieSÉRIE AULA NOTA 10 – TÉCNICAS DE DOUG LEMOV	 Fabio Venturini
A
estruturação que Doug Lemov
deu ao seu livro Aula Nota 10 –
49 Técnicas para ser um professor
campeão de audiência tem uma lógica
evolutiva. Começa com a criação de
expectativas acadêmicas, passa por
planejamento, estruturação de aulas,
motivação de alunos e, no capítulo 5,
chega fatalmente à cultura escolar,
quando o envolvimento dos discen-
tes se aprofunda. Este é um determi-
nante, na perspectiva do autor, para
melhorar o desempenho acadêmico
com o melhor uso do tempo.
Para atingir o objetivo que dá no-
me ao capítulo (“Criar uma forte cul-
tura escolar”), cujas técnicas são
voltadas a envolver os alunos e pro-
cedimentos regrados que centralizem
A ESCOLA PRECISA SER ENVOLVIDA
Quinto capítulo do livro Aula Nota 10 aborda técnicas para a criação de uma cultura
escolar. Apoio ao professor mostra-se relevante para o sucesso das práticas
o uso do período de aula ao aprendi-
zado, Lemov ressalta a necessidade
de cinco princípios que orientam es-
sa construção: disciplina, gestão, con-
trole, influência e engajamento. Os
significados, contudo, podem ser in-
terpretados de modo diferente nos di-
versos contextos escolares.
Ele chama de “disciplina” o ato de
ensinar a alguém a maneira certa pa-
ra fazer alguma coisa de maneira cer-
ta, ou seja, mostrar ao aluno como ser
aluno, para que ele saiba executar o
que o docente pede. A ideia que per-
meia normalmente esse termo, na ava-
liação do próprio Lemov, consiste em
reforçar comportamentos e gerir as re-
lações internas da turma com conse-
quências, sejam punições ou prêmios.
O autor, contudo, prefere designar tal
conceito como “gestão”.
Os outros três princípios envolvem
habilidades que o docente pode desen-
volver. O “controle”, por exemplo, é a
capacidade do professor de convencer
o aluno a realizar uma tarefa indepen-
dentemente de consequências e sem
coerção, pedindo “com respeito, firme-
za e confiança, mas também com civi-
lidade e, geralmente, com delicadeza”.
A “influência” é uma espécie de
conexão inspiradora para que os alu-
nos desejem internalizar as sugestões
do docente, que os estimulem a “dar
certo e a querer estudar por razões in-
trínsecas às tarefas diante deles”. Já o
“engajamento” é o envolvimento dos
alunos com o trabalho proposto, com
32 PROFISSÃO MESTRE®
agosto 2011
PROFISSÃO MESTRE®
agosto 2011 33
a oferta de oportunidades para que
eles realizem e formem suas opiniões
e crenças após as atividades escolares.
Técnicas e princípios
Mesmo com o esclarecimento dos
princípios, as propostas de Lemov
mais voltadas a treinamentos e esta-
belecimento de regras deixam alguns
educadores ressabiados. Para a direto-
ra pedagógica Débora Vaz – da Escola
Castanheiras, na cidade de Santana do
Parnaíba, na Grande São Paulo –, as
propostas de Doug Lemov podem dei-
xar a desejar se não forem considera-
das as condições reais dos professores
e das instituições de ensino. “Muito do
que o autor sugere vejo em professo-
res que já são engajados em ensinar os
alunos a aprender”, afirma.
Segundo a avaliação da diretora, a
proposta corre o risco de emperrar se
não considerar o imponderável perti-
nente a cada instituição, a cada con-
texto de aula, e não tem espaço para
uso direto e sem um debate. “O pro-
fessor está num ambiente escolar que
deve prezar por interesses compar-
tilhados, respeito, aceitação de dife-
renças, solidariedade em atos, acolhi-
mento, crença na construção coletiva
de conhecimento e na ajuda e prote-
ção mútuas. Intervenções muito cole-
tivas geram perda de tempo didático”,
acredita.
No que se refere especialmente a
transições e deslocamentos, Débora re-
conhece que procedimentos organiza-
dos ajudam a poupar tempo. Além dis-
so, ensinar a tomar notas, valorizando
“Rotina de entrada” – Criar hábitos que favoreçam eficiência e produtivida-
de com rotinas bem estabelecidas no início da aula, aproveitando o tempo em
que os alunos adentram a sala e tomam seus lugares.
“Faça Agora” – Fazer com que os alunos sempre saibam o que fazer logo ao
entrar em sala, para que não tenham que se perguntar “o que fazer agora”.
Por exemplo, o professor pode deixar uma atividade breve já nas carteiras ou
na entrada antes de todas as aulas.
“Breves Transições” – Estabelecer procedimentos para que os alunos pou-
pem tempo quando se movem de um local da escola para outro, na transição
entre diferentes atividades ou na passagem de materiais.
“Controle do Material” – Exigir objetos específicos para a tomada de notas
(cadernos, folhas em fichários etc.), a fim de que o aluno construa um sistema
eficiente e organizado para armazenamento e consulta daquilo que aprendeu.
“POSSO” – Sigla que sintetiza comportamentos fundamentais exigidos pa-
ra que os alunos prestem o máximo de atenção às atividades (Pergunte e
Responda, Ouça, Sente-se Direito, Sinalize Com a Cabeça e Olhe Para Quem
Está Falando).
“Em Suas Marcas” – Exigir que os alunos tenham, no início da aula, todos os
seus materiais em condições de uso: livros e papéis sobre a carteira, caneta
ou lápis na mão.
“Comunicação por Sinais” – Combinar sinais para que os alunos peçam para
se levantar e realizar atividades de fora da aula, sem interromper os trabalhos
acadêmicos. Por exemplo, para facilitar os pedidos de ir ao banheiro, chama-
do por Lemov de “o último bastião dos infiéis”.
“Vivas!” – Treinar os alunos para fazer elogios coletivos e sonoros aos pares,
em horas certas, para inspirar os alunos. Tudo com o devido cuidado para que
não se torne bagunça, porém que seja rápido, envolvente, universal, entusiás-
tico, refletindo a evolução do aprendizado.
“Mesmo antes de ter contato com o
livro eu já tinha uma rotina bem esta-
belecida, mesmo sem uma sistema-
tização tão detalhada. Meus alunos
têm uma rotina semanal bem defini-
da. Sabem qual aula terão em cada
dia e arrumam as mesas antes das
atividades, pois ninguém mais na es-
cola usa essa disposição [duas fileiras
em U]. Depois nos sentamos e faze-
mos uma leitura diária, conduzida por
mim, em seguida a chamada, a ve-
rificação da lição de casa... É tudo já
bem regrado.
Discordo algumas vezes das co-
locações do Lemov sobre treinar os
alunos. Creio que algumas precisam
de práticas repetitivas e outras não,
mas também é necessário ter discer-
nimento entre o que é conteúdo e o
que é postura, pois o aluno deve ser
aluno em qualquer lugar, indepen-
dentemente do nível da escola e da
sua condição social.
A organização da cultura e da ro-
tina, em geral, ajuda a poupar tem-
po e trabalhar o conteúdo que tem
de ser dado, independentemente
de materiais e recursos disponíveis.
Contudo, com materiais prontos, as
rotinas bem definidas são potencia-
lizadas e o docente tem mais tem-
po para pensar no que trazer à tur-
ma, como aprofundar e ampliar os
conteúdos, quais questões e desa-
fios serão propostos.”
Resumo das técnicas para criação de uma forte cultura escolar
Eu testei
Gilne Gardesani Fernandez é profes-
sora de ensino fundamental I na Escola
Municipal de Educação Infantil e Ensino
Fundamental Vereador Manoel de
Oliveira, em Santo André (SP). Ela usa as
técnicas em todas as disciplinas (Ciências,
Língua Portuguesa, História, Geografia,
Matemática e Artes) com uma turma de
4º ano.
PROFISSÃO MESTRE®
agosto 2011 33
34 PROFISSÃO MESTRE®
agosto 2011
SérieSÉRIE AULA NOTA 10 – TÉCNICAS DE DOUG LEMOV	
34
O que achou desta reportagem? Mande
elogios, críticas e sugestões para editorial@
humaneditorial.com.br
o instrumento de registro, com capa-
cidade de síntese e organização, não
apenas no conteúdo, são pontos dos
quais muitas escolas acabam se esque-
cendo. Mesmo assim, a professora re-
comenda cuidados no uso das técni-
cas. “Devemos ter em conta que um
grupo tem pouco ou nada a contribuir
para o crescimento de seus membros
quando se tenta pasteurizar as indi-
vidualidades, as singularidades, suge-
rindo uma unidade de conceito, pen-
samento e posicionamento coletivo
que não é real”, avalia.
Débora fez tal ponderação em sua
palestra no 1º Fórum de Educadores
organizados pelo Insper – Instituto de
Ensino e Pesquisa, em abril, na capital
paulista. Ela enfatiza que o mesmo las-
tro de realidade sugerido foi usado pelo
autor na produção da obra. “Os profes-
sores analisados pelo Lemov tinham
um posicionamento, em uma situação
deles. Para funcionar em outros con-
textos os docentes devem ser conven-
cidos de que a ideia é boa, sem coerção.
A adoção deve ser consciente, política,
tomada pela escola e pelo professor”,
acredita.
Deslocamentos e rotinas
A criação de uma cultura organiza-
da já vinha em andamento no Colégio
Albert Sabin, na Zona Oeste da cida-
de de São Paulo, por exemplo. A esco-
la avalia a obra de Lemov com relação
às práticas já existentes, às que podem
ser adaptadas e às que não são perti-
nentes a esse contexto.
Especificamente sobre rotinas de
deslocamentos, pertinentes às téc-
nicas “Rotina de Entrada” e “Breves
Transições”, os deslocamentos para
atividades extracurriculares desporti-
vas já foram remodelados de forma se-
melhante para ganhar tempo. “Os alu-
nos têm que colocar as suas malas em
algum lugar, trocar de roupa, prepara-
rem-se para a atividade e se dirigirem
ao local designado, e a pouca coorde-
nação encurtava o tempo da atividade
desportiva”, descreve a diretora peda-
gógica do colégio, Giselle Magnossão.
A instituição possui 3 mil alunos
em dois períodos. Ao final das ativida-
des em sala após cada turno, cerca de
1,5 mil alunos se deslocam de forma or-
ganizada por movimento e ordem de
descida – como locais e rotinas prees-
tabelecidas para deixar o material in-
dividual em locais específicos (normal-
mente no estacionamento), preparar-se
para a atividade e se dirigir ao local da
prática desportiva. “Hoje tudo é feito
em cinco minutos e ganhamos tempo
de trabalho efetivo”, afirma.
Por mais que as técnicas tenham co-
mo ênfase a sala de aula, não se po-
de ignorar que a falta do que Doug
Lemov chama de “uma forte cultura
escolar” está associada a muitas con-
dições externas à alçada do profes-
sor. Em uma organização privada, co-
mo a da turma observada, o aluno
tem comportamento também de clien-
te e se refugia nessa condição para
não se dobrar a regramentos. O esta-
belecimento das técnicas também se
dificulta quando a instituição de ensi-
no tem concepção diferente dos cinco
princípios básicos descritos pelo autor
(disciplina, gestão, controle, influência
e engajamento).
O que Doug Lemov chama de dis-
ciplina, por exemplo, é tratado como
didática. Gestão está ligada a resul-
tados de satisfação do “cliente” e re-
sultados acadêmicos do aluno nas
avaliações formais, o que se cobra
diretamente da coordenação peda-
gógica. Controle, influência e enga-
jamento, por consequência, acabam
fundados totalmente na habilidade e
em aspectos quase instintivos do pro-
fessor, como uma liderança natural.
No capítulo 5, as técnicas de
Lemov, justificadas didáticas, mos-
tram um lado menos adequado a di-
ferentes realidades. “Rotina de entra-
da” já era prática do docente. Como
muitos alunos chegam atrasados, vin-
do diretamente dos seus empregos,
ela se torna necessária para evitar
interrupções. Por essa característi-
ca secular dos alunos, “Faça Agora”
simplesmente se inviabiliza. “Breves
Transições” e “Controle do Material”
tornaram-se dispensáveis. “Em Suas
Marcas” e “Comunicação por Sinais”,
por sua vez, na prática docente ado-
tada com a turma, são inviáveis, pois
remetem mais a rotinas militares do
que à proposta de formação do pro-
jeto pedagógico do curso.
“POSSO” é talvez a mais perti-
nente, já usada pelo docente, que
não por coincidência independe do
que ocorre da porta da sala para fo-
ra. “Vivas!” não foi testada por não
ser julgada pertinente ao contexto
trabalhado.
Considerando que a turma observa-
da é de nível superior, o conjunto dessas
técnicas parece um regramento militar.
Podem ser úteis em outros níveis, porém
dependem do envolvimento de direção
e coordenação, com muito cuidado para
não tornar a instituição de ensino um lo-
cal muito mais voltado a comportamen-
tos padronizados.
O teste da reportagem
Na próxima edição, como estabelecer
e manter altas expectativas de
comportamento
O repórter Fabio Venturini, também histo-
riador e professor universitário na área de
Comunicação Social, do Centro Universitário
Estácio Radial de São Paulo (SP), testou as
técnicas para esta reportagem com alunos
do curso de Jornalismo.
Para o professor construir um am-
biente com alta expectativa a res-
peito dos alunos, aliada a uma for-
te cultura escolar, torna-se necessário
também estabelecer altas expectati-
vas de comportamento, com ordem
e respeito suficientes para garantir a
equidade no aprendizado. As técni-
cas do capítulo seis, que serão abor-
dadas na próxima edição e tratam
desse aspecto, são: “Padrão 100%”,
“O Que Fazer”, “Voz de Comando”,
“Faça de Novo”, “Capriche nos
Detalhes”, “Umbral” e “Sem Aviso”.
34 PROFISSÃO MESTRE®
agosto 2011

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Técnicas de aumento de expectativas

  • 1. 32 PROFISSÃO MESTRE® abril 2011 SérieSÉRIE AULA NOTA 10 – TÉCNICAS DE DOUG LEMOV Fabio Venturini “D oug Lemov diferencia o que significa me- lhoria da autoestima e aumento da ex- pectativa de aprendizagem. A primeira é acompanhada por um pseudorrespeito às condições do aluno. Se a criança vem de uma família socialmen- te desfavorecida e com cultura considerada pelo ambien- te escolar como mais pobre, para não afetar a autoes- tima abre-se uma porta para absorver as deficiências acadêmicas que essa criança tem e impede-se que os problemas sejam trabalhados.” Com essa avaliação, a professora Guiomar Namo de Mello, consultora educa- cional e revisora técnica da edição brasileira do livro Aula Nota 10 – 49 Técnicas para Ser um Professor Campeão de Audiência, de Doug Lemov, ressalta a pertinência do uso de procedimentos de manejo de sala de aula como ferramentas de melhoria do desempenho acadêmico nas escolas públicas brasileiras. A obra, lançada no Brasil pela Fundação Lemann com a Editora Da Boa Prosa, apresenta como o docen- BOM DESEMPENHO DEPENDE DE ALTAS EXPECTATIVASPrimeira reportagem da série baseada na obra de Doug Lemov testa procedimentos de manejo de sala de aula que, segundo o especialista norte-americano, podem transformar uma boa aula em uma aula excelente A série Aula Nota 10 As reportagens especiais foram distribuídas em dez edições da Profissão Mestre (veja abaixo) e avaliarão as propostas didáticas do livro, seguindo uma pauta de acordo com a or- dem em que aparecem na estruturação da obra: • Criar altas expectativas acadêmicas (abril) • Planejar para garantir um bom desempenho acadêmico (maio) • Estruturar e dar aulas (junho) • Motivar os alunos nas suas aulas (julho) • Criar uma forte cultura escolar (agosto) • Estabelecer e manter altas expectativas de comporta- mento (setembro) • Construir valores e autoconfiança (outubro) • Melhorar seu ritmo para criar um ritmo positivo em sala de aula (novembro) • Estimular os alunos a pensarem criticamente (dezembro) • Ajudar o aluno a tirar o máximo da leitura (janeiro de 2012) 32 PROFISSÃO MESTRE® abril 2011
  • 2. PROFISSÃO MESTRE® abril 2011 33 te, segundo o autor, pode usar re- cursos didáticos independentes de preferências pedagógicas para au- mentar o desempenho de alunos de escolas normalmente frequen- tadas por crianças pobres, com ações tomadas majoritariamente em sala de aula. Nessa primeira de uma série de dez reportagens especiais sobre a proposta do professor estadu- nidense, a Profissão Mestre buscou opiniões e testou as técnicas para melhoria de desempenho com au- mento das expectativas acadêmi- cas – assunto do primeiro capítulo (veja os próximos temas nos quadros desta reportagem). Esmiuçando as técnicas No primeiro capítulo, Lemov cita pesquisas que comprovam a sus- ceptibilidade da docência ao “efei- to pigmaleão” (o que você espe- ra com relação a um determinado número de pessoas pode induzir o acontecimento de eventos, co- mo se fossem profecias autorreali- záveis). Num grupo de professores que trabalhou com a mesma tur- ma, metade recebeu a informação de que eram bons alunos, enquan- to para a outra se informou que eram desinteressados. Ao cabo do ano letivo, nas aulas dos primei- ros docentes, o desempenho foi melhor do que nas dos últimos. Contudo, para o autor, aumen- tar expectativas acadêmicas com relação à capacidade dos alunos não implica apenas elevar a car- ga de conteúdo. O manejo da sala de aula é igualmente importante na criação das expectativas, tema atendido pelas cinco técnicas su- geridas no capítulo (veja o quadro de resumo das técnicas). Para a consultora educacional Guiomar, a primeira tarefa para usar as técnicas de aumento das expectativas acadêmicas é con- vencer os alunos de que eles são capazes de realizar mais, mas que devem se esforçar para atingir os padrões de crianças que vieram de condições sociais privilegiadas. Para tanto, o professor cobrará esse desempenho, em um traba- lho conjunto. “O ser humano tem a tendência de ir para o caminho mais fácil e que exige o menor es- forço. Na técnica ‘Puxe Mais’, por exemplo, o docente deve mostrar que o aluno pode mais e deve ten- tar, sempre tendo a clareza de até onde pode exigir. Essa tarimba se desenvolve com a prática docen- te e com o uso de recursos didáti- cos”, explica. O primeiro capítulo é a base para um dos fundamentos de todo o tra- balho, segundo Guiomar, que é o es- tabelecimento do vínculo produtivo entre professor e aluno. “Não é de ca- ráter paternal ou maternal, pois nin- guém suporta ver o filho errar. Não é de cliente, nem de iguais, mas tam- bém não pode ser totalmente hierár- quico. Na técnica ‘Sem Escapatória’, Resumo das técnicas para criar altas expectativas acadêmicas s Para Guiomar Namo Mello, técnicas aju- dam a mostrar ao aluno modos mais efi- cazes de interagir com o conhecimento e com o processo de aprendizagem o professor induz o aluno a enfren- tar, obrigatoriamente, uma situação. Em conjunto com a ‘Certo é Certo’, o aluno pode até levar a atitude para outras aulas”, acredita. PROFISSÃO MESTRE® abril 2011 33 “Sem Escapatória” – Quando um aluno se mostra incapaz de responder a uma pergunta, o professor deve começar com uma sequência de questionamentos à turma, que termina apenas quando esse primeiro aluno responder correta- mente, mostrando que ele não poderá fugir da busca às soluções ao proble- ma proposto. “Certo é Certo” – A segunda técnica sugerida consiste em estabelecer um pa- drão de exatidão a ser atingido em todas as respostas dadas durante as partici- pações na aula, induzindo o aluno a atingir a exatidão quando o que diz é “qua- se certo”. E mesmo quando a resposta é correta, pode-se solicitar que discorra mais sobre o tema, incentivando a cognição e o raciocínio. “Puxe Mais” – O professor deve criar a sensação de que novas perguntas são recompensas a perguntas certas, o que evita aos alunos a falsa sensação, após uma única resposta correta, de que eles dominam o conteúdo e também estimu- la a busca por mais conhecimento. “Boa Expressão” – Lemov explica que, quando respondem, os alunos costu- mam empregar a sua linguagem corriqueira. Ao professor cabe criar condições acadêmicas e solicitar as respostas com os termos “corretos” e típicos da discipli- na, comunicando o seu conhecimento com a “linguagem de oportunidade”. “Sem Desculpas” – Recomenda-se ao professor jamais usar escusas por uso de conteúdos considerados, por senso comum, como difíceis demais para a tur- ma ou chatos. Para demonstrar que acredita no potencial dos alunos, o profes- sor não pode atribuir determinados temas a elementos externos, como à direção escolar. Antes, deve buscar o desempenho dos alunos.
  • 3. 34 PROFISSÃO MESTRE® abril 2011 Sériepode mostrar outro modo de inte- ragir com o conhecimento e com o processo de aprendizagem. Isso faz a diferença”, defende. E como técnicas didáticas po- dem ser usadas para aumentar as expectativas tanto de alunos quan- to de professores? Para Guiomar, o momento atual é propício, pois com o desenvolvimento econômi- co dos últimos anos, “a ascensão das classes C e D, com acesso a no- vos bens materiais e culturais, des- pertou uma ambição que pode ser uma matéria-prima interessante para começar a construir essas ex- pectativas”. Para a educadora, o grande en- trave, contudo, é a formação do pro- fessor. Na sua avaliação, a educação básica no Brasil nasceu atendendo a uma minoria, e quando começou a se expandir, especialmente após a década de 1960, o governo per- cebeu que deveria aumentar mui- “Apliquei as técnicas para se criar al- tas expectativas acadêmicas em tur- mas do 7º ano do ensino funda- mental, em um colégio particular da cidade de Guarulhos (SP). Embora ainda sejam necessárias observa- ções mais cuidadosas, a proposta tem bastante potencial para funcio- nar devido à realidade educacional e à organização escolar brasileira. Se ti- véssemos condições mais favoráveis à reflexão no ensino-aprendizagem, com possibilidades de pesquisas de campo, ou se pudéssemos nos dar ao luxo de usar três aulas por mês para fazer pesquisas orientadas, por exemplo, as técnicas provavelmente não seriam o melhor recurso. Com a realidade de lecionar das nossas es- colas, as práticas didáticas se mos- tram adequadas.” Uso na realidade brasileira De acordo com a professora, em algumas áreas o foco do ensino- -aprendizagem no Brasil sempre es- teve nas condições sociais do alu- no, do docente ou na forma como elas influenciam nesse processo. “O professor não muda as origens e a vida dos alunos de imediato, mas FabioVenturini Eu testei Tiago José de Biagio, professor de História das redes pública e priva- da da capital paulista e especialista em História, Sociedade e Cultura pe- la Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Na próxima edição, as técnicas de planejamento to rapidamente o quadro de profes- sores, disponibilidade e materiais didáticos. Como não possuía uma base sólida e as universidades pú- blicas (mais aptas à época para a formação de professores) não assu- miram tal responsabilidade, as fa- culdades particulares ocuparam a lacuna por uma questão de oportu- nidade de mercado, com muita ên- fase teórica e quase nenhuma em técnicas de ensino. “Nada contra ser na iniciativa privada, mas isso ocorreu sem um acompanhamen- to ou uma política de formação dos professores. O futuro docente não aprende a ensinar e a culpa não é necessariamente dele, pois é trata- do como mais um aluno que pre- tende ser docente. Se ele chega à faculdade sem saber ler e escrever, ninguém, assim como acontece na educação básica, ninguém vai en- siná-lo ou procurar corrigir o atra- so”, conclui. 34 PROFISSÃO MESTRE® abril 2011 Algumas técnicas de planejamento não são percebidas dentro da sala de aula. Contudo, são fundamentais para que as demais funcionem. A “Comece Pelo Fim”, por exemplo, viabiliza e facilita o uso de “Sem Desculpas” e “Sem Escapatória”, por exemplo. Na próxima edição, a reportagem da Profissão Mestre abordará as seis sugestões de planejamento, que prometem atingir um bom desempe- nho acadêmico: “Comece pelo Fim” – Antes de planejar uma atividade para a aula, deve-se es- tabelecer os objetivos e, a partir de então, elaborar as práticas didáticas. “Quatro Critérios” – Determinação de objetivos úteis e eficazes com base em viabilidade, mensurabilidade, possibilidade de guiar as atividades e na prioriza- ção do que é mais importante para a aprendizagem. “Deixe Claro” – Esclarecer a todos os objetivos da aula, com a recomendação de escrevê-los no quadro para que todos identifiquem o propósito do dia. “O Caminho Mais Curto” – Se duas ou mais atividades forem elaboradas pa- ra atingir os objetivos de uma determinada aula, convém usar a mais simples. “Planeje em Dobro” – Elaborar o plano de aula com uma sequência planejada de objetivos, como avaliar re sultados entre esses objetivos, acrescentando pro- jeções de dúvidas comuns aos alunos em cada um desses temas para prever co- mo respondê-las. “Faça o Mapa” – Tomar para o professor o controle do espaço físico da aula, in- cluindo no plano de aula a organização das carteiras, independentemente da pre- ferência pedagógica. SÉRIE AULA NOTA 10 – TÉCNICAS DE DOUG LEMOV
  • 4. PROFISSÃO MESTRE® abril 2011 35 O que achou desta reportagem? Mande elogios, críticas e sugestões para editorial@humaneditorial.com.br A Profissão Mestre aplicou as téc- nicas do primeiro capítulo do livro em uma turma de 20 alu- nos do 5º semestre de Jornalismo do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, instituição de ensino superior da capital paulista. As au- las ocorreram na disciplina História Contemporânea, que contém temas comuns, embora de abordagem di- ferente pela faixa etária, a cursos do ensino fundamental II e ensino mé- dio. A escolha da turma se baseou nas condições apresentadas por Lemov. Nas escolas para crianças pobres nos Estados Unidos o objetivo é entrar num curso superior, o que confere boa mobilidade social. Diferentemente daquele país, quando uma pessoa chega a uma faculdade ou universida- de no Brasil ainda dependerá do fator empregabilidade. Além disso, os alu- nos de boa parte das instituições pri- vadas são normalmente oriundos da deficitária rede pública, com repertó- rio escasso em relação aos colegas das universidades federais e estaduais. A primeira impressão de um re- pórter-docente ao ler as propostas de Lemov é que o autor está excessiva- mente preocupado com a otimização do tempo e que estimula em demasia, em termos até mercadológicos, a com- petição entre os alunos. Inicialmente, o livro aparenta ser muito bom para a formação de mão de obra, e não de cidadãos. Mas um exame mais deta- lhado torna a proposta justificável, no entanto, ao considerar que as téc- nicas foram coletadas da experiência de docentes estadunidenses que cria- ram para seus alunos, maioria de ne- gros e/ou latinos, melhores condições de entrada no ensino superior daque- le país, com apelo para a melhoria das condições de vida, comunicação e re- flexão. Com mais cuidado na leitura, percebe-se que as técnicas não repre- sentam o reforço de dicotomias peda- gógicas – trata-se de analisar a turma para planejar o curso e usar recursos didáticos adequados a esse grupo. Todas as técnicas foram usadas pela primeira vez com estudantes de melhor rendimento e atenção, para não chocar. Posteriormente, foram es- tendidas ao restante da turma. No ca- so de “Sem Escapatória”, uma aluna mais dispersa recusou-se a responder, mas com o envolvimento de outras pessoas e a última palavra para essa mesma aluna, ela se mostrou mais in- teressada. O debate, a partir de então, melhorou. Realmente funciona. Em “Certo é Certo” e “Puxe Mais”, a exigência de aumento de repertório caiu também sobre o professor. O vo- cabulário dos alunos é muito pecu- liar à região de São Paulo em que ca- da um vive e os termos em comum são jornalísticos. Para um conteú- do de História, em que usar o termo América Portuguesa em vez de Brasil Colônia, por exemplo, faz enorme di- ferença, foi necessário abrir grandes parênteses na aula, com recomen- dação de outras leituras fora do pro- grama e de atividades. Se o professor não “puxar mais de si”, se não estiver preparado para lidar com essas situa- ções fora do seu planejamento, pode se complicar. “Boa Expressão” mostrou-se efi- caz apenas em termos específicos da disciplina, mas com um ar de pedan- tismo. Os alunos prezam bastante pe- la sua própria expressão verbal, o que não é de se condenar, pois a própria Língua Portuguesa com a qual con- vivem desde o ensino fundamental é ensinada com uma norma culta e uma prática coloquial. “Sem descul- pas” já era uma prática do professor, usada muito mais na apresentação do planejamento do que nas aulas coti- dianas. No final das contas, percebeu- -se que as técnicas de manejo de sa- la de aula são muito interligadas. “Sem Escapatória”, “Certo é Certo” e “Puxe Mais” se completam mui- to bem e, em alguns momentos, se- quer é possível empregá-las separa- damente. Convencer os alunos de que eles precisam correr atrás de um pre- juízo é certamente a tarefa mais fácil. Com o esclarecimento dos objetivos do curso no primeiro dia de aula, eles se sentiram motivados e dispostos, o que resultou, consequentemente, na cobrança para que tudo seja reali- zado. Depois de aceitarem o desafio, eles passaram a exigir serem cobrados e que o planejamento fosse seguido. A cada aula verificaram se cada um dos objetivos apresentados foi cum- prido. Mais importante do que o alu- no é o docente acreditar no que está fazendo, senão pode cair em descrédi- to com a turma. Ficou claro, também, que a im- plantação das técnicas depende mui- to do grupo discente, da empatia com o docente, das preferências do pro- fessor e de suas aptidões didáticas. Inicialmente, surgiu uma preocupa- ção epistemológica, pois a ideia de metas está muito ligada à educação li- beral para mera formação de mão de obra. Pelo menos as técnicas do pri- meiro capítulo aparentam ser real- mente bastante flexíveis, adaptáveis a qualquer conteúdo, organização esco- lar ou filiação pedagógica. Contudo, fica claro que, embo- ra o autor separe as técnicas por par- tes, é imprescindível a integração en- tre as sugestões para o aumento de expectativas com as práticas didáticas de outros capítulos, especialmente os voltados à estruturação das aulas e planejamento do curso. Não é possível usar técnicas para criar altas expecta- tivas sem as de planejamento descri- tas no capítulo 2. O TESTE DA REPORTAGEM O repórter Fabio Venturini, também historiador e professor universitário na área de Comunicação Social, do Centro Universitário Estácio Radial, de São Paulo (SP), testou as técnicas para esta re- portagem com alunos do curso de Jornalismo. PROFISSÃO MESTRE® abril 2011 35
  • 5. 32 PROFISSÃO MESTRE® maio 2011 SérieSÉRIE AULA NOTA 10 – TÉCNICAS DE DOUG LEMOV Fabio Venturini “N inguém consegue usar to- das as técnicas e o docente tem que tirar o que é bom. Elas têm que ser algo que ajude e de forma fácil; têm que facilitar.” Assim o professor Tadeu da Ponte define como as técnicas propostas no livro Aula Nota 10 – 49 Técnicas para Ser um Professor Campeão de Audiência, de Doug Lemov, podem ajudar o professor na prepara- ção e, especialmente, no planejamen- to de suas aulas, tema do capítulo 2 da obra (Planejar para Garantir um Bom Desempenho Acadêmico) e dessa se- gunda reportagem da série realizada pela Profissão Mestre. O educador usa as técnicas pro- postas por Lemov há dois semestres, antes mesmo do livro ser lançado no Brasil. Em uma viagem a trabalho aos Estados Unidos, o professor de Cálculo em cursos superiores, no Insper – Instituto de Ensino e Pesquisa, em São Paulo (SP), verificou na mídia local um caloroso debate sobre o desempe- nho de alunos em função da qualidade didática dos professores, com pesqui- sas quantitativas de que os docentes de maior desempenho ensinam em um ano o conteúdo equivalente a três se- mestres, enquanto os piores, no mes- mo período, passam o conteúdo refe- rente a seis meses. Os dados, baseados nas avaliações externas internacionais (organizadas principalmente pelo Banco Mundial), PLANEJAMENTO DEPENDE DE ADAPTAÇÃO ÀS CONDIÇÕES DE AULA Segunda reportagem da série Aula Nota 10, sobre técnicas de planejamento das aulas, mostra como proposta de Doug Lemov é provocadora, porém efetividade depende da inserção na realidade do professor 32 PROFISSÃO MESTRE® maio 2011 @istockphoto.com
  • 6. PROFISSÃO MESTRE® maio 2011 33 levaram pesquisadores estadunidenses a concluir que se, de todos os docentes, os 5% mais fracos fossem substituídos por outros de desempenho médio, a colocação dos Estados Unidos em pro- vas como o Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes (Pisa, de Programme for International Student Assessment) subiria para segundo ou terceiro posto. Contudo, a outra con- clusão era de que não havia professo- res para substituição, pois os bons e médios já estavam empregados e sem disponibilidade. A solução encontrada foi investir no aperfeiçoamento didáti- co dos professores de menor desempe- nho, tornando a conclusão do livro de Doug Lemov um evento de expectati- va entre especialistas em educação na- quele país. Com experiência em cursos pré- -vestibulares, em 2010, Ponte adquiriu a edição em inglês e implantou as téc- nicas em suas turmas. Para ele, o maior mérito da obra é fazer com que o docen- te pense a aula em técnicas, a partir da didática, além de suas convicções peda- gógicas, o que ajuda a melhorar o pró- prio desempenho e corrigir pontos que a autocrítica aponta como frágeis. “As técnicas são bem compreendidas co- mo um todo. O autor não escreveu o livro para um nível especial, básico ou superior, mas para o professor em ge- ral”, avalia, enfatizando que tinha co- mo desafio pessoal, desde os tempos de professor de cursinho, aumentar o nível de atenção e concentração dos seus alunos. Ele selecionou algumas técnicas de planejamento (capítulo 2), de estrutu- ração de aulas (capítulo 3) e de esta- belecimento de expectativas de desem- penho (capítulo 6). “Além da ideia da ‘Comece pelo Fim’, de planejar de trás para frente com base nos objetivos es- tabelecidos, a ‘Planeje em Dobro’ me ajudou bastante, pois, com a experiên- cia adquirida com o tempo nas aulas de Cálculo, eu dei atenção prévia aos pontos em que o aluno normalmen- te pode emperrar. Essa técnica com- binada com as de estruturação de au- la, como ‘Circule’ e ‘Quadro=Papel’, e a ‘Padrão 100%’, funcionaram bastan- te”, conta. Resumo das técnicas de planejamento para garantir um bom desempenho acadêmico O Insper possui um programa de aperfeiçoamento didático em que docen- tes assistem as aulas de colegas e fazem observações. Após selecionar e empregar as técnicas que julgou mais adequadas, Ponte solicitou à colega de instituição que seria sua avaliadora para verificar espe- cificamente a atenção e concentração da turma. “Tive um retorno superpositivo. A professora afirmou que a concentração da turma, no geral, foi bem alta, com a perda apenas em dois momentos, quando respondi diretamente a dois alunos que levantaram dúvidas específicas”, conta. O professor também demonstra que a implantação, mesmo individual, é um trabalho que leva tempo. Ele afirma que no primeiro período letivo em que empre- gou as técnicas não conseguiu fazer tudo como gostaria, mas aprendeu ao tentar as melhores maneiras de aplicar as técnicas. “Em 2011, acho que estou conseguindo melhoras em alguns pontos que eu tinha dificuldade”, acrescenta. Cuidados na implantação As experiências e as análises sobre as técnicas do segundo capítulo do livro mostram que ao se aprofundar na im- plantação das propostas de Lemov em sala de aula, o professor deve conside- rar as peculiaridades da sua própria prática pedagógica, além das caracte- rísticas do seu conteúdo e da organiza- ção escolar, uma vez que, como o pró- prio autor define, são técnicas usadas “Comece pelo Fim” – Antes de planejar uma atividade para a aula, deve-se es- tabelecer os objetivos e, a partir de então, elaborar as práticas didáticas. Envolve progredir do planejamento da unidade de conteúdo para o plano de aula, usar objetivos bem definidos para estabelecer as metas de cada aula, determinar co- mo avaliar a eficácia para atingir os objetivos e decidir a atividade. “Quatro Critérios” – Determinação de objetivos úteis e eficazes com base em viabilidade, mensurabilidade, possibilidade de guiar as atividades e na prioriza- ção do que é mais importante para a aprendizagem, garantindo simplicidade e eficácia das práticas pedagógicas empregadas. “Deixe Claro” – Esclarecer os objetivos da aula, com a recomendação de escre- vê-los no quadro para que todos que estejam em sala (além dos alunos, colegas professores ou gestores) identifiquem o propósito do dia. A ideia é dar ao docen- te um retorno rápido se está alcançando os objetivos que ele mesmo propôs pa- ra reformular rumos da aula e aproveitar melhor o tempo. “O Caminho Mais Curto” – Se duas ou mais atividades forem elaboradas para atingir os objetivos de uma determinada aula, convém usar a mais simples. A prá- tica pedagógica mais efetiva não é necessariamente a mais divertida ou criativa, porém a mais simples é a que levará aos objetivos propostos em menor tempo (que também pode ser divertida e criativa). “Planeje em Dobro” – Elaborar o plano de aula com uma sequência planejada de objetivos, como avaliar resultados entre esses objetivos, acrescentando proje- ções de dúvidas comuns aos alunos em cada um desses temas para prever co- mo respondê-las, de modo a manter os alunos constantemente engajados com a aprendizagem. “Faça o Mapa” – Planejar a distribuição de carteiras de modo que o professor tenha controle total do espaço físico da aula, independentemente da preferên- cia pedagógica – seja em aula expositiva (normalmente com disposição em filei- ras simples ou duplas), seja em atividades em grupo ou em debates dirigidos. PROFISSÃO MESTRE® maio 2011 33 @istockphoto.com
  • 7. 34 PROFISSÃO MESTRE® maio 2011 SérieSÉRIE AULA NOTA 10 – TÉCNICAS DE DOUG LEMOV durante a preparação das aulas e que pouco se percebem em sala. Sugestões que envolvem estrutura física da instituição de ensino, como a técnica “Faça o Mapa”, por exemplo, dependem também da organização es- colar. Além disso, segundo Tadeu da Ponte, se mais professores usarem as técnicas, o aluno pode se habituar a elas em todas as aulas. “A coordenação pode ter influência indireta para me- lhorar os resultados”, avalia. Mesmo que seja possível potencia- lizar com envolvimento de gestores, a forma de implantação, contudo, pode ser motivo de preocupação. Na edição de março da Profissão Mestre, uma das questões levantadas na entrevista ex- clusiva com Paula Louzano, consulto- ra e revisora técnica da edição brasi- leira, foi o risco de a obra de Lemov ser usada por imposição. A resposta da educadora foi enfática: “Não é para o docente mudar suas convicções e es- peramos que o livro não se torne um debate ideológico, tampouco um ma- nual. Ele traz de volta a ideia de que a didática é importante e foi abandona- da, que é algo aprendido.” Pois são justamente os sinais de que o livro começa a ser recebido do modo não recomendado que preocupa a tam- bém consultora educacional Emília Cipriano, do Instituto Aprender a Ser, de São Paulo (SP). Em uma primei- ra análise do livro, a professora afirma que é provocador, e que o autor segue uma coerência bem firme dentro da sua linha de raciocínio. “Não se deve criti- car sem conhecer mais a fundo, sem uma pesquisa mais detalhada, porém é preocupante quando participo de even- tos com gestores de todo o Brasil e al- guns me dizem que com esse livro eles agora têm uma referência para cobrar seus professores”, analisa. Para Emília, “o ideal seria que se desenvolvessem trabalhos semelhantes no Brasil, considerando a realidade es- colar e o trabalho do docente daqui”. O que não deixa de ser parcialmente rati- ficado pela própria equipe da Fundação Lemann. Em evento de apresentação da obra para estudantes de Pedagogia da Universidade Anhembi-Morumbi, em março passado, as professoras Guiomar Eu testei Namo de Mello, Paula Louzano e Ilona Becskeházy receberam o mesmo ques- tionamento e responderam que concor- dam ser o ideal, mas como nada seme- lhante foi feito no País, combinada com a necessidade imediata de dar suporte didático ao docente, a obra de Lemov, que despendeu mais de cinco anos pa- ra ser produzida, é um caminho in- teressante até que algum trabalho semelhante, realizado dentro das pecu- liaridades do Brasil e suas regiões, seja estruturado e publicado. Segundo Tadeu da Ponte, pensar por técnicas é a grande proposta e o profes- sor pode extrair o que é mais adequado às suas necessidades didáticas FabioVenturiniArquivopessoal Emília Cipriano, coordenadora do Instituto Aprender a Ser: “O ideal seria que se desenvolvessem trabalhos seme- lhantes no Brasil, considerando a realida- de escolar e o trabalho do docente daqui” “As técnicas comparadas na diver- sidade das minhas turmas mos- tram que a ideia é ótima, mas para o professor brasileiro é con- troversa. ‘Comece pelo Fim’, por exemplo, torna-se até parado- xal na situação atual das escolas e do dinamismo da educação no País. Na rede particular, a gente vive uma situação de mercado que aprisiona o objetivo. Se o pai do aluno disser que a aula é chata, o professor ‘está pego’, não impor- ta como planejou o objetivo. Sobre a técnica ‘Planeje em Dobro’, com 40 aulas semanais, em quatro es- colas e turmas de perfis totalmen- te diferentes, percebi que é huma- namente inviável planejar mais do que o permitido pelas 24 horas do dia. Na técnica ‘Quatro Critérios’ foi pior, especialmente nas esco- las públicas, pois as secretarias de educação e o MEC mandam tudo bem amarrado para a instituição não ‘perder tempo’ planejando objetivos. Para implantar essa téc- nica e fazer funcionar, professores e gestores precisam de uma auto- nomia que não têm. ‘Deixe Claro’ funciona na turma de ensino médio técnico em Turismo, pois quando os objetivos da aula de História fo- ram explicitamente descritos, com um sentido funcional na futura pro- fissão dos alunos, até o interesse dos estudantes aumentou.” Tiago José de Biagio, professor de História das redes pública e privada da capital pau- lista e especialista em História, Sociedade e Cultura pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). 34 PROFISSÃO MESTRE® maio 2011
  • 8. PROFISSÃO MESTRE® maio 2011 35 O que achou desta reportagem? Mande elogios, críticas e sugestões para editorial@humaneditorial.com.br N as técnicas de planejamen- to, “Comece pelo Fim” é a técnica-chave do capítu- lo. Contudo, não funciona tão bem com o planejamento de aulas isola- das. A sugestão foi mais efetiva a ca- da encontro com a turma por conta do estabelecimento prévio dos obje- tivos de todo o período letivo, com a apresentação detalhada aos alunos no primeiro dia de aula. Esse proce- dimento tomou mais tempo do que o comumente despendido no plane- jamento do semestre, porém tornou a estruturação do curso mais clara aos alunos e facilitou tanto a estru- turação das atividades de cada aula a partir do fim (objetivos) quanto a elaboração das avaliações. “Deixe Claro”, por sua vez, é a técnica mais efetiva de planejamen- to. Já havia usado anteriormen- te sem ser de forma sistemática. Contudo, ao colocar habitualmente os objetivos num canto do quadro, a turma acompanhou melhor o con- teúdo e também desenvolveu o hábi- to de participar do direcionamento das exposições e debates em função dos objetivos. Deve-se ressaltar que a turma foi cuidadosamente escolhi- da para avaliar as técnicas. São alu- nos que não costumam ter desem- penho baixo para o nível de ensino em que se encontram e sabem bem o que querem com a sua formação. As vantagens devem ser nitidamen- te mais demoradas com turmas me- nos envolvidas. “O Caminho mais Curto”, as- sim como “Quatro Critérios”, já era prática do docente, complementa- das pelo hábito próprio de sempre ter duas ou três atividades prepara- das para atingir objetivos de nature- zas distintas (estimular a reflexão, entendimento de conceitos bási- cos, treinar habilidades de pesqui- sa/apuração e análise de prática de trabalho em Comunicação). Quando alguma delas se mostra mais ade- quada aos objetivos e ao ânimo da turma numa determinada aula, substitui a planejada, mesmo que a decisão seja de última hora. O rela- cionamento com os alunos em sala é flexível e mudanças no planejamen- to podem ser variáveis úteis do pro- cesso de aprendizagem. Com a com- binação dessas duas técnicas com “Comece pelo Fim”, quando tais mudanças ocorreram, o professor precisou de alguns minutos do iní- cio da aula para justificá-las. O tem- po é primordial, mas não pode ser o fator preponderante e, inadvertida- mente, sobreposto a todo e qualquer outro aspecto diferente. “Planeje em Dobro” foi útil na apresentação do conteúdo, mas não se mostrou um diferencial na con- dução da aula, pois tornou algumas atividades mais discursivas do que provocadoras do debate. Nessa tur- ma (e pelas características do docen- te), na relação com o seu conteúdo, “Sem Escapatória” (técnica do capí- tulo 1) permitiu resultados mais efe- tivos. “Faça o Mapa”, aparentemente, é mais suscetível à organização da instituição de ensino. Doug Lemov sugere disposição em fileiras de du- plas, mas no Brasil nem sempre o professor pode se dar esse luxo. Em escolas particulares é mais comum a sala de aula ser usada por uma ou pelo menos poucas turmas, seme- lhante ao sistema estadunidense. Portanto, essa técnica é mais viável principalmente com o envolvimento da direção. Já nas escolas públicas, com uma sala recebendo pelo menos três turmas em turnos diferentes, é inadequada, a não ser que se adote um padrão arbitrário e não necessa- riamente adequado a todos profes- sores. Na turma avaliada, de nível su- perior, essa técnica foi simplesmen- te inviável, pois a sala de aula não é usada todos os dias por esses alu- nos (muitas aulas são em estúdios e laboratórios) e tem um número ex- cessivo de carteiras ocupadas em função da sua área útil. Apenas a manutenção de estreitos corredores foi conseguida. Para dominar o es- paço é mais fácil usar outros recur- sos pertinentes ao contexto, como organizar esporadicamente círcu- los ou grupos em contexto específi- cos a cada aula. Inclusive a técnica “Comece pelo Fim”, a mais efetiva do capítulo nessa situação, teve de ser adaptada aos espaços e recursos disponíveis. Em geral, a essência das técni- cas, que é o melhor aproveitamento do tempo, oferece o risco de carregar as aulas com muitos objetivos e con- teúdos. Alguns ajustes do planeja- mento foram necessários após pou- cas semanas de aula, o que também se atribui ao ineditismo de estrutu- ração de técnicas de didática como fator tão preponderante. O TESTE DA REPORTAGEM O repórter Fabio Venturini, também histo- riador e professor universitário na área de Comunicação Social, do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo (SP), testou as técnicas para esta reportagem com alunos do curso de Jornalismo. Na próxima edição, as técnicas para estruturação de aulas Na proposta de Doug Lemov, após defi- nir o planejamento fora de sala, as aulas podem ser estruturadas para obter mais desempenho e aprimorar o maior núme- ro de habilidades possível, com controle do tempo e estímulo ao trabalho cogni- tivo. As técnicas do capítulo 3 são volta- das a esse aspecto. Elas são denomina- das: “O Gancho”, “Dê Nome às Etapas”, “Quadro=Papel”, “Circule”, “Divida em Partes”, “Proporção”, “Entendeu?”, “Mais uma Vez”, “Arremate” e “Tome Posição”. PROFISSÃO MESTRE® maio 2011 35
  • 9. PROFISSÃO MESTRE® junho 201126 SérieSÉRIE AULA NOTA 10 – TÉCNICAS DE DOUG LEMOV Fabio Venturini E mbora não exista uma divisão rígida entre as técnicas suge- ridas por Doug Lemov no livro Aula Nota 10 – 49 Técnicas para Ser um Professor Campeão de Audiência, pois to- das são complementares dentro da proposta do professor estadunidense, a sua organização deixa claro que o trabalho começa com o docente e pas- sa paulatinamente aos alunos. Inicia- se com o aumento da expectativa aca- dêmica, transita pelo planejamento e, no terceiro capítulo, a ideia é estrutu- rar as aulas para que o trabalho cog- nitivo termine sempre com o aluno. Essa progressão foi resumida por Lemov como “Eu/Vocês/Nós”, ou se- ja, as tarefas começam com o docen- te, que apresenta os princípios. Em uma etapa posterior são feitas em con- junto e devem terminar com a turma realizando as atividades com autono- mia. “Isso é algo básico. Até quando uma pessoa ensina outra a fazer um bo- lo o procedimento de transmissão desse conhecimento é semelhante”, acredita Ilona Becskeházy, diretora executiva da Fundação Lemann, entidade responsá- vel pelo lançamento da obra no Brasil. Segundo Ilona, um dos pontos importantes desse capítulo é o con- trole de como o conteúdo é recebi- do em aula, garantindo que os alunos absorvam quantidades adequadas de conhecimento. “Se você monta uma aula com altas expectativas, planeja bem, mas não controla como está sen- do feito, você não garante a equidade no ensino. O professor não pode se exi- mir de ensinar para todos os alunos. Ilona Becskeházy: “Se você monta uma au- la com altas expectativas, planeja bem, mas não controla como está sendo feito, você não garante a equidade no ensino” PELA PROGRESSÃO DO TRABALHO COGNITIVOEm capítulo sobre estruturação de aulas, Doug Lemov propõe técnicas para que o professor transfira de modo escalonado a responsabilida- de do trabalho cognitivo em sala de aula para o aluno AgenciaPerspectiva–RubensChiri PROFISSÃO MESTRE® junho 201126
  • 10. PROFISSÃO MESTRE® junho 2011 27 Esse capítulo é muito nessa linha, de como se garante isso”, analisa. As organização do capítulo evi- dencia essa proposta, com técnicas espe- cificadas como as do “Eu” (“O Gancho”, “Dê Nome às Etapas”, “Quadro=Papel” e “Circule”), do “Nós” (“Divida em Partes”, “Proporção” e “Entendeu?”) e as técnicas do “Vocês” (“Mais uma vez”, “Arremate” e “Tome Posição”). Para a diretora, no entanto, algu- mas delas extrapolam o desenvolvimen- to cognitivo para comportamentos fo- ra de sala, como por exemplo a “Tome Posição”. “Ela é importante no desen- volvimento da reflexão e da oratória, na participação em debates respeitosos e embasados. Fora da escola, muitas pes- soas partem para o ataque pessoal dian- te de opiniões contrárias, desqualificam o interlocutor ou mesmo não tomando posição. Essa prática deve ser feita na es- cola, para qualificação do debate respei- toso em qualquer âmbito”, acredita. Resumo das técnicas para estruturar e dar aulas “Gosto de trabalhar com a construção do conhecimento de uma forma que o aluno pense e reflita com as informa- ções que tem. As técnicas me ajudam a organizar essa construção, no apro- fundamento e no questionamento. Situações de retomar o conteúdo com o aluno que deixa de responder [“Sem Escapatória”, capítulo 1], por exemplo, são muito úteis. Muito do que o autor propõe, eu já fazia. A dis- posição da minha sala, por exemplo, já era planejada e diferente das con- vencionais, não foi pensada após ler sobre a técnica “Faça o Mapa” [capí- tulo 2]. Porém, o livro ajudou a orga- nizar os meus procedimentos e para dar clareza do que fazer. Não me fixo na nomenclatura e não planejo siste- maticamente o momento de usar as técnicas. Concentro-me na ideia ge- ral e as emprego quando é oportuno, adaptadas à situação posta na aula. Eu passei a pensar melhor na for- ma de questionar os alunos e uso téc- nicas como “Divida em Partes”, “Sem Escapatória”, “Todos Juntos” [capítu- lo 4] e “Puxe Mais” [capítulo 1]. A cir- culação mais atenta também ajuda (“Circule”). Hoje faço com outro olhar, lendo o que eles escrevem e pegan- do subsídios para o momento de questionar a turma, escolher quem vai responder. O comportamento es- colar deles melhorou, a dedicação e até a feitura da lição de casa aumen- tou. Não por disciplina, mas por en- gajamento.” Eu testei PROFISSÃO MESTRE® junho 2011 27 Gilne Gardesani Fernandez é profes- sora da Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental Vereador Manoel de Oliveira, em Santo André (SP). Ela usa as téc- nicas em todas as disciplinas (Ciências, Língua Portuguesa, História, Geografia, Matemática e Artes), com uma turma de 4º ano. “O Gancho” – Usar um curto momento introdutório para despertar a atenção dos alunos pelo assunto que será desenvolvido durante a aula, com recursos co- mo uma música, uma encenação ou uma brincadeira com os alunos. “Dê Nome às Etapas” – Dividir tarefas mais complexas em etapas simples, de- vidamente nomeadas, para facilitar que os alunos se lembrem de todas elas na resolução de um problema e busca de objetivo. “Quadro=Papel” – Apresentar o assunto da forma como o professor gostaria que os alunos copiassem. O objetivo é facilitar o uso dessas anotações como ins- trumento eficaz no sentido de relembrar o conteúdo. O caderno pode ser uma “réplica exata dos resumos que o professor apresentou no quadro” “Circule” – Mover-se estrategicamente na sala de aula para romper a barreira imaginária que separa professor e alunos, ter acesso total ao que os estudantes estão fazendo, realizar intervenções precisas e oportunas no momento que jul- gar melhor e tomar para si o domínio do espaço. “Divida em Partes” – Quando o aluno tem dificuldade na solução de um proble- ma, o docente pode dar dicas de acordo com o nível de conhecimento apresenta- do pelo aluno (exemplos, contextualização ou apresentação de regras), de modo que ele chegue por processo cognitivo ao resultado. “Proporção” – Aumentar a porcentagem de trabalho cognitivo do aluno durante as atividades para atingir os objetivos, com perguntas que levem ao aprofunda- mento de pensar e analisar novos conteúdos. “Entendeu?” – Verificar constantemente a compreensão que os estudantes es- tão tendo durante a aula e, a partir desses dados, intervir imediatamente. Nunca deixar para depois ou esperar que os erros aconteçam para depois tentar uma ação corretiva. “Mais uma Vez” – Usar a repetição para refinar as habilidades mais básicas que o aluno precisa demonstrar em uma determinada disciplina, ao final de ca- da aula. “Arremate” – Um complemento de “Entendeu?” e “Mais uma Vez”; é quando o docente apresenta uma questão ou uma curta sequência de problemas para re- solver ao término da aula, a fim de coletar dados e orientar as repetições neces- sárias. “Tome Posição” – Promover um ambiente em que os alunos julguem as respos- tas dos colegas, concordando ou discordando com respeito, para estimular a cog- nição e a reflexão sobre os conteúdos da aula.
  • 11. PROFISSÃO MESTRE® junho 201128 SérieSÉRIE AULA NOTA 10 – TÉCNICAS DE DOUG LEMOV Fabio Venturini Com o trabalho estabelecido na cria- ção de expectativas acadêmicas, um planejamento profundo e aulas bas- tante estruturadas, Lemov parte pa- ra as técnicas para que os alunos se sintam motivados a se engajarem no trabalho em sala. Elas são apresen- tadas no capítulo 4, com os seguin- tes nomes: “De Surpresa”, “Todos Juntos”, “Bate-Rebate”, “Tempo de Espera”, “Todo Mundo Escreve” e “Plumas e Paetês”. Na próxima edição, as técnicas para motivar os alunos nas aulas Didática no currículo Um dos objetivos da Fundação Lemann é apontar caminhos para elaboração de um currículo nacionalizado. A ênfase no livro de Doug Lemov se deve, também, à importância dada pela instituição ao te- ma da didática nessa construção. Tanto que trouxe para o País a obra Experiências Educativas e Situações de Aprendizagem – Novas Práticas Pedagógicas, do professor português Rui Trindade, autor bastante conhecido desse lado do Atlântico e com filiação pedagógica bastante distinta da de Doug Lemov, que é ligado ao mundo dos negócios e com formação nessa área na Universidade de Harvard (EUA). Baseada numa concepção natural do ser humano como originariamente tri- bal e que chegou ao estágio civilizatório atual pela capacidade de transmissão do conhecimento, Ilona Becskeházy afirma que as propostas didáticas devem ser co- locadas também no detalhamento curri- cular, se possível nos níveis mais esmiu- çados de detalhamento dos sistemas de ensino. “Cada cultura tem a sua forma de transmitir o conhecimento. Na nos- sa está com a família e um intermediá- rio entre a sociedade e essas pessoas, que é o professor. O docente precisa saber que o que ele está passando para as ge- rações futuras é de interesse dessa socie- dade tecnológica, desenvolvida etc. Tudo isso tem a ver com currículo”, defende a diretora. A premissa é que, com a didática profundamente detalhada, o professor estaria, segundo Ilona, “liberado para se dedicar à parte mais nobre de seu traba- lho, para que ele não queira reinventar a roda a cada aula”. O que achou desta reportagem? Mande elogios, críticas e sugestões para editorial@ humaneditorial.com.br O capítulo 3 apresenta técnicas que se complementam didaticamen- te e pedem as de outros capítulos. “Mais uma Vez” e “Arremate”, por exemplo, são praticamente a mes- ma. Por vezes não foi possível usá- -las por uma questão de tempo, pois a turma analisada tem uma carga horária pequena para tra- tar de um assunto tão amplo quan- to a História Contemporânea, e o aproveitamento de cada minuto é precioso. Quando isso acontece, o assunto pode ser fixado na aula se- guinte, ao ser retomado com a téc- nica “O Gancho”. Esta, por sua vez, é uma técnica que já era emprega- da na introdução de conteúdos ou unidades novas, normalmente com uma música, um vídeo, um texto, di- tados populares contextualizados ou até mesmo com o noticiário da semana. O que mudou foi incluir es- se gancho no plano de ensino, pre- vendo, por exemplo, no início do pe- ríodo letivo, que na primeira aula da unidade sobre as ditaduras milita- res na América Latina seria apre- sentado o videoclipe ou o áudio da música Vai Passar, de Chico Buarque e Francis Hime. Reforça o conceito de adequar a atividade ao objetivo. No sentido de controlar o que se apreendeu, “Circule” mostrou-se mais adequada, pois permite ve- rificar de perto, na própria escrita, se a compreensão dos alunos foi a esperada. Antes de ler a propos- ta de Lemov, ela era realizada pa- ra conter intervenções inconvenien- tes, mais como controle disciplinar. Todos docentes que já conversaram com a reportagem relatam a mes- ma mudança: “Parei de circular para conter algum comportamento que julgo indesejável, que abre espa- ço para o aluno dominar a sala, e agora o faço quando acho pertinen- te do ponto de vista pedagógico”. O repórter Fabio Venturini, também historiador e professor universitário na área de Comunicação Social, do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo (SP), testou as técnicas para esta reporta- gem com alunos do curso de Jornalismo. PROFISSÃO MESTRE® junho 201128 “Dê Nome às Etapas” e “Divida em Partes” são bastan- te úteis quando conceitos comple- xos são passados. Se essas téc- nicas não complementam, pelo menos servem muito bem como ba- se para a técnica “Tome Posição”, já realizada anteriormente pelo do- cente. Afinal, quanto maior a com- preensão, melhor será o embasa- mento para o debate. E como o aluno tem certeza de que o colega pode responder à altura, aumen- tou o cuidado da turma nas colo- cações, com maior respeito no de- bate. A passagem do trabalho cog- nitivo para o aluno, sugerido em “Proporção”, já era usada pelo do- cente. Até por ser uma das diretri- zes do curso, que é estimular a cog- nição, a reflexão e o debate, já faz parte do cotidiano. A técnica “Entendeu?” ainda ge- ra dúvida em como empregar, pois as horas de dedicação a uma tur- ma são escassas para um levanta- mento altamente preciso de dados de todos os alunos fora dos perío- dos formais de avaliação. A organi- zação da instituição de ensino deve prever a avaliação continuada pa- ra garantir a equidade e um funcio- namento adequado desta técnica. Essa não é a realidade do ensino no Brasil, seja básico (especialmen- te na rede pública), ou superior, com agravantes nas instituições pri- vadas que atendem alunos de ren- da média ou baixa. Para tal propó- sito, “Circule” foi mais efetiva. O teste da reportagem
  • 12. 24 PROFISSÃO MESTRE® julho 2011 SérieSÉRIE AULA NOTA 10 – TÉCNICAS DE DOUG LEMOV Fabio Venturini D oug Lemov abre o capítulo 4 do li- vro Aula Nota 10 – 49 Técnicas pa- ra Ser um Professor Campeão de Audiência afirmando que é possível moti- var os alunos “trocando firulas por con- teúdo”. Sem desdenhar de recursos ar- tísticos ou até performáticos, os quais recomenda na técnica “Plumas e Paetês”, o autor mostra exemplos de organização dos questionamentos, para que os alunos se engajem no processo de aprendizado e melhorem seu rendimento. Algumas das sugestões são aparente- mente simples e corriqueiras. No Colégio Albert Sabin, “Plumas e Paetês” e “Todo Mundo Escreve” já fazem parte do dia a dia da escola. “Toda escola usa ativida- des lúdicas para dar movimento e brilho à sala de aula. Muitos de nossos profes- sores também pedem que o aluno escre- va a resposta antes de falar, como uma espécie de degrau da reflexão”, explica a professora Giselle Magnossão, diretora da instituição. Como Lemov enfatiza o engajamen- to do aluno no sentido de motivação, as técnicas do capítulo 4 podem ser cen- trais nessa proposta. A diretora, contu- do, faz algumas ressalvas nessa abor- dagem. “Esse comportamento deve ser obtido com o aprimoramento da manei- ra como o aluno opera em sala de aula. O engajamento pode ser abordado como vinculação e participação e também co- mo desenvolvimento profundo daquilo que está sendo trabalhado. Nesse sentido, usamos ‘Tome Posição’, ‘Proporção’ [am- bas do capítulo 3] e ‘Plumas e Paetês’”, conta Giselle. Para a educadora, no geral, o livro é estruturado em eixos interessantes, co- mo a ênfase na sala de aula, a criação de altas expectativas e o letramento co- mo núcleo do trabalho escolar, mas algu- mas das técnicas têm potencial para criar HumbertoFranco MOTIVAÇÃO PARA MELHORAR O DESEMPENHO Técnicas do quarto capítulo da obra de Doug Lemov apresentam sugestões de como usar o conteúdo de forma estimulante, para participação dos alunos em debates e respostas a indagações coletivas Para a professora Giselle Magnossão, deve haver cuidado no uso das técnicas para não gerar um clima desconfortável em sala 24 PROFISSÃO MESTRE® julho 2011
  • 13. PROFISSÃO MESTRE® julho 2011 25 um clima indesejável em sala de aula, co- mo a “De Surpresa” e “Circule” (capítulo 3), na qual o autor sugere que o professor sempre se aproxime por trás e veja o que o aluno está vendo. “Em ‘Circule’ é como se fosse uma tocaia, estimulando um comportamento heteronômico, no qual o aluno age corre- tamente apenas quando estiver sendo vi- giado. ‘De Surpresa’, dependendo do rit- mo que o professor imprime, pode gerar estresse. À primeira vista, essas técnicas podem deixar as crianças tímidas e des- confortáveis”, acredita. “Pontos de contato” A professora Giselle foi convidada pela Fundação Lemann a avaliar a obra de Lemov e apresentar as impressões a um grupo de gestores de instituições parti- culares de ensino, em abril deste ano. Como principal gestora de uma insti- tuição que atende alunos de classe mé- dia alta, da educação infantil ao ensino médio e com professores em boas con- dições de trabalho comparando com a média nacional, verificou que há muitos aspectos apresentados pelo autor estadu- nidense que já são praticados em sua es- cola, descritos por ela como “pontos de contato”. O primeiro aspecto em comum é a ênfase no desenvolvimento do pro- cesso de ensino e aprendizado na sala de aula, que é, em sua opinião, o local de atualização de tudo que se propõe em termos de formação dos professores. A sala de aula é onde as coisas acontecem tanto para aluno quanto para docente. Nesse aspecto, a escola já usa, segundo a diretora, “Divida em Partes”, “Mais uma Vez” (ambas do capítulo 3, para estrutu- ração de aulas), “Todo Mundo Escreve”, “Controle do Material” (capítulo 5, pa- ra criação de uma forte cultura escolar) e “O Que Fazer” (capítulo 6, de estabe- lecimento de altas expectativas de com- portamento). No que tange à disciplina, a criação do clima escolar (capítulo 5) reforça um tratamento rígido do ponto de vista aca- Eu testei “Não me fixo muito na nomenclatura e também não planejo sistematicamen- te o uso das técnicas. Concentro-me na ideia geral, no momento oportuno, e emprego as sugestões adaptadas à si- tuação posta na aula. Até porque já fa- zia algumas das propostas do livro, co- mo ‘Plumas e Paetês’. No entanto, passei a refletir sobre como executava questionamentos aos alunos. Algumas técnicas foram aprimo- radas para melhorar esse ponto. ‘De Surpresa’ é uma que uso bastante, nor- malmente quando meus alunos estão agitados. Quando levanto uma pergun- ta, eles sabem que qualquer um pode responder e isso contribui bastante. Da mesma forma, uso ‘Tempo de Espera’. Sempre peço respostas ao alu- no mais adequado, ao que sugere o momento da aula, muitas vezes base- ada em informações colhidas durante a circulação em sala [referência à técnica “Circule”, capítulo 3]. Também uso esporadicamen- te ‘Todos Juntos’, para respostas cur- tas ou quando desejo fixar e diferenciar conteúdos que eles podem confundir, e ‘Bate-Rebate’ para retomar algum as- sunto, dar continuidade ou para revisões. Creio que com algumas dessas técni- cas a gente consegue fazer com que os alunosdofundamentalIcheguemmelhor nos níveis posteriores. Não são todas téc- nicas que servem, nem para tudo mun- do, pois é algo muito individual. Elas de- pendem do professor, da disciplina e das condições de trabalho. Porém nada im- pede o seu uso e elas contribuem muito.” Gilne Gardesani Fernandez é professo- ra da Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental Vereador Manoel de Oliveira, em Santo André (SP). Ela usa as téc- nicas em todas as disciplinas (Ciências, Língua Portuguesa, História, Geografia, Matemática e Artes), com uma turma de 4º ano. Resumo das técnicas motivacionais “De Surpresa” – Garantir que todos tenham a expectativa de serem chamados para responder a uma pergunta a qualquer momento da aula, mesmo os que não levantaram a mão indicando voluntariedade. Para tanto, o critério do profes- sor sobre quem chamar deve ser sistemático e garantidor da equidade. “Todos Juntos” – A turma toda responde em coro, desde que não seja para repetição de aforismos ou refrões. É indicada pelo autor como ferramenta pa- ra repetição de tópicos comportamentais acadêmicos, relatar resultados de ta- refas concluídas, reforço de novas informações, revisão de conteúdo e resolução de problemas. “Bate-Rebate” – Usar um tempo no início da aula com jogos de perguntas e res- postas rápidas para exercitar a cognição, retomar e reforçar conteúdos, com o ob- jetivo de fixar o conhecimento de aulas anteriores e, por consequência, facilitar a introdução de novos temas. “Tempo de Espera” – Após fazer uma pergunta, aguardar alguns segundos pa- ra que os alunos pensem na resposta antes de pedir voluntários ou até mesmo escolher alguém para participar. Esse interstício ajuda na organização das ideias do aluno antes de falar perante a turma. “Todo Mundo Escreve” – Também tem por objetivo fazer com que o aluno or- ganize suas ideias antes de responder. Consiste em pedir para que as respostas sejam primeiramente redigidas para depois, uma vez bem pensadas e elabora- das, apresentadas à turma. “Plumas e Paetês” – Realização de curtas apresentações ou atividades lúdicas, geralmente de viés artístico, performático ou audiovisual, seguindo um programa específico de aprendizado e com cuidados para que não se torne um evento tra- tado com desdém, displicência ou que se desvie dos objetivos da aula. PROFISSÃO MESTRE® julho 2011 25
  • 14. 26 PROFISSÃO MESTRE® julho 2011 Sériedêmico e cordial no trato. “Há a neces- sidade de criar um clima favorável à aprendizagem, cuja responsabili- dade é de todos na escola. A insti- tuição deve ser firme nos princípios e suave nos modos, com equilíbrio, serenidade. Deve conviver com os conflitos presentes na escola, os quais não devem ser eliminados, mas trabalhados”, afirma Giselle. A coleta de dados para dar supor- te ao professor também foi apontada como uma contribuição para a qua- lidade das aulas, com “’Entendeu?” e “Arremate” (capítulo 3), conside- radas interessantes dentro de sala. Além disso, a diretora ressalta que o princípio da equidade é funda- mental, com o processo de ensino e aprendizado contemplando a todos os alunos de uma turma. Inquietações Como diretora de um colégio de fi- liação sociointeracionista, a profes- sora Giselle se diz preocupada com algumas sugestões que, segundo ela, baseiam-se em demasia na re- petição. Embora boa parte das pro- postas já fosse utilizada, a obra foi colocada em debate entre gestores e coordenadores para avaliação de pressupostos e viabilidade de absor- ção de algumas das ideias que não fazem parte do cotidiano do Albert Sabin. O trabalho está em anda- mento e deve incluir professores du- rante o segundo semestre desse ano. Uma das principais preocupa- ções é com a possibilidade de algum professor adotar o livro de forma não reflexiva, como uma espécie de manual, e a compreensão de conte- údos ser substituída pela memori- zação. “Lemov descreve a técnica e depois dá o exemplo, que algumas vezes desconstrói a própria técni- ca, com sugestão de recursos mne- mônicos para construção de concei- tos, memorização de resposta e não para construção do conhecimento”, alerta. Mediante a ênfase constante de Doug Lemov no quesito de adminis- tração do tempo, Giselle avalia que deve haver cuidado no uso das téc- nicas para que não se perca o rit- mo da sala de aula, preservando o tempo para o trabalho acadêmi- co propriamente dito e construindo o clima disciplinar adequado para aprendizagem. Porém, se mal usa- da, a mesma ferramenta pode gerar efeitos opostos aos pretendidos. “O autor enfatiza uma disciplina invi- sível. Na busca de economizar tem- po, podemos criar um clima des- confortável e inadequado ou até mesmo criar uma escola neurótica. Os efeitos podem ser opostos ao de- sejado. A técnica é importante, mas todo o restante também. Ela é ape- nas parte do trabalho”, analisa a diretora. SÉRIE AULA NOTA 10 – TÉCNICAS DE DOUG LEMOV Fabio Venturini O repórter Fabio Venturini, também histo- riador e professor universitário na área de Comunicação Social, do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo (SP), testou as técnicas para esta reportagem com alunos do curso de Jornalismo. A proposta de Lemov para motivar os alunos é pertinente, porém requer muito cuidado do docente, pois elas estão no limiar entre algo lúdico, até mesmo artístico, e a abertura de enor- mes brechas a sátiras improdutivas dos alunos. Sempre cabe ressaltar que a turma observada pela reportagem é de um curso superior, com pessoas que, embora recém-saídas da adoles- cência, já carregam grandes respon- sabilidades e passam maior parte do seu tempo no trabalho. Por mais que a proposta de Lemov seja pertinen- te em outras situações, nesse cenário, “Todos Juntos” não foi bem recebida. Os alunos sentiram-se tendo um trata- mento “pouco adulto”. As demais técnicas são realmente bastante efetivas. Os resultados em “De Surpresa” lembram muito os de “Sem Escapatória” (capítulo 1), pois mostra à turma que todos estão para participar, independente do que acon- teça em sala. É também, nesse capí- tulo, a de efeitos mais rápidos e evi- dentes, pois os alunos percebem a diferença de postura do professor ao escolher mesmo quem não se volunta- riou a participar de uma questão suge- rida em aula. Pela relação do docente com os alunos já de outros períodos le- tivos, não chegou a gerar tensões mui- to fortes, mas ficou evidente que são necessários alguns cuidados para que os alunos não se sintam pressionados, especialmente na combinação de “De Surpresa” com “Sem Escapatória”, pois alguns tiveram tal percepção e demo- O teste da reportagem Na próxima edição, sugestões para criação de uma forte cultura escolar Para Doug Lemov, os processos de ensino e aprendizagem são mais efi- cientes se os alunos se enxergarem dentro de um ambiente notoriamen- te acadêmico, voltado essencialmen- te à atividade escolar. Na próxima edição, serão tratadas as técnicas sugeridas pelo autor para cons- truir essa cultura própria: “Rotina de Entrada”, “Faça Agora”, “Breves Transições”, “Controle do Material”, “Posso”, “Em Suas Marcas”, “Comunicação por Sinais” e “Vivas!” 26 PROFISSÃO MESTRE® julho 2011 raram a perceber a postura como mo- tivacional, não constritiva. Todos esses alunos já tiveram au- las de História Contemporânea no en- sino básico, porém na formação atual deles não basta saber, por exemplo, apenas qual país iniciou ou terminou determinado conflito militar. É neces- sário analisar o cenário construído nos recortes propostos, realizar observa- ções críticas e profundamente emba- sadas, inclusive em preceitos filosóficos e na escrita da História. Nesse sentido, “Tempo de Espera” e “Todo Mundo Escreve” são extremamente úteis por auxiliar num dos pontos mais sensíveis nessas aulas, que é a organização das ideias antes da exposição. O debate também foi enriquecido. “Bate-Rebate” é efetiva na fixação de alguns conceitos simples. Porém, em alguns momentos, deixou a sensação de ser voltada à memorização de sentenças curtas. Provavelmente essa técnica seja mais útil em conteúdos menos complexos que, mesmo fundamentais, tenham na memorização fundamento mais adequa- do. “Plumas e Paetês” já era usada pelo docente, muitas vezes combinada com “O Gancho” (capítulo 3) na apresentação in- trodutória da aula, dos objetivos e de no- vos conceitos.
  • 15. 32 PROFISSÃO MESTRE® agosto 2011 SérieSÉRIE AULA NOTA 10 – TÉCNICAS DE DOUG LEMOV Fabio Venturini A estruturação que Doug Lemov deu ao seu livro Aula Nota 10 – 49 Técnicas para ser um professor campeão de audiência tem uma lógica evolutiva. Começa com a criação de expectativas acadêmicas, passa por planejamento, estruturação de aulas, motivação de alunos e, no capítulo 5, chega fatalmente à cultura escolar, quando o envolvimento dos discen- tes se aprofunda. Este é um determi- nante, na perspectiva do autor, para melhorar o desempenho acadêmico com o melhor uso do tempo. Para atingir o objetivo que dá no- me ao capítulo (“Criar uma forte cul- tura escolar”), cujas técnicas são voltadas a envolver os alunos e pro- cedimentos regrados que centralizem A ESCOLA PRECISA SER ENVOLVIDA Quinto capítulo do livro Aula Nota 10 aborda técnicas para a criação de uma cultura escolar. Apoio ao professor mostra-se relevante para o sucesso das práticas o uso do período de aula ao aprendi- zado, Lemov ressalta a necessidade de cinco princípios que orientam es- sa construção: disciplina, gestão, con- trole, influência e engajamento. Os significados, contudo, podem ser in- terpretados de modo diferente nos di- versos contextos escolares. Ele chama de “disciplina” o ato de ensinar a alguém a maneira certa pa- ra fazer alguma coisa de maneira cer- ta, ou seja, mostrar ao aluno como ser aluno, para que ele saiba executar o que o docente pede. A ideia que per- meia normalmente esse termo, na ava- liação do próprio Lemov, consiste em reforçar comportamentos e gerir as re- lações internas da turma com conse- quências, sejam punições ou prêmios. O autor, contudo, prefere designar tal conceito como “gestão”. Os outros três princípios envolvem habilidades que o docente pode desen- volver. O “controle”, por exemplo, é a capacidade do professor de convencer o aluno a realizar uma tarefa indepen- dentemente de consequências e sem coerção, pedindo “com respeito, firme- za e confiança, mas também com civi- lidade e, geralmente, com delicadeza”. A “influência” é uma espécie de conexão inspiradora para que os alu- nos desejem internalizar as sugestões do docente, que os estimulem a “dar certo e a querer estudar por razões in- trínsecas às tarefas diante deles”. Já o “engajamento” é o envolvimento dos alunos com o trabalho proposto, com 32 PROFISSÃO MESTRE® agosto 2011
  • 16. PROFISSÃO MESTRE® agosto 2011 33 a oferta de oportunidades para que eles realizem e formem suas opiniões e crenças após as atividades escolares. Técnicas e princípios Mesmo com o esclarecimento dos princípios, as propostas de Lemov mais voltadas a treinamentos e esta- belecimento de regras deixam alguns educadores ressabiados. Para a direto- ra pedagógica Débora Vaz – da Escola Castanheiras, na cidade de Santana do Parnaíba, na Grande São Paulo –, as propostas de Doug Lemov podem dei- xar a desejar se não forem considera- das as condições reais dos professores e das instituições de ensino. “Muito do que o autor sugere vejo em professo- res que já são engajados em ensinar os alunos a aprender”, afirma. Segundo a avaliação da diretora, a proposta corre o risco de emperrar se não considerar o imponderável perti- nente a cada instituição, a cada con- texto de aula, e não tem espaço para uso direto e sem um debate. “O pro- fessor está num ambiente escolar que deve prezar por interesses compar- tilhados, respeito, aceitação de dife- renças, solidariedade em atos, acolhi- mento, crença na construção coletiva de conhecimento e na ajuda e prote- ção mútuas. Intervenções muito cole- tivas geram perda de tempo didático”, acredita. No que se refere especialmente a transições e deslocamentos, Débora re- conhece que procedimentos organiza- dos ajudam a poupar tempo. Além dis- so, ensinar a tomar notas, valorizando “Rotina de entrada” – Criar hábitos que favoreçam eficiência e produtivida- de com rotinas bem estabelecidas no início da aula, aproveitando o tempo em que os alunos adentram a sala e tomam seus lugares. “Faça Agora” – Fazer com que os alunos sempre saibam o que fazer logo ao entrar em sala, para que não tenham que se perguntar “o que fazer agora”. Por exemplo, o professor pode deixar uma atividade breve já nas carteiras ou na entrada antes de todas as aulas. “Breves Transições” – Estabelecer procedimentos para que os alunos pou- pem tempo quando se movem de um local da escola para outro, na transição entre diferentes atividades ou na passagem de materiais. “Controle do Material” – Exigir objetos específicos para a tomada de notas (cadernos, folhas em fichários etc.), a fim de que o aluno construa um sistema eficiente e organizado para armazenamento e consulta daquilo que aprendeu. “POSSO” – Sigla que sintetiza comportamentos fundamentais exigidos pa- ra que os alunos prestem o máximo de atenção às atividades (Pergunte e Responda, Ouça, Sente-se Direito, Sinalize Com a Cabeça e Olhe Para Quem Está Falando). “Em Suas Marcas” – Exigir que os alunos tenham, no início da aula, todos os seus materiais em condições de uso: livros e papéis sobre a carteira, caneta ou lápis na mão. “Comunicação por Sinais” – Combinar sinais para que os alunos peçam para se levantar e realizar atividades de fora da aula, sem interromper os trabalhos acadêmicos. Por exemplo, para facilitar os pedidos de ir ao banheiro, chama- do por Lemov de “o último bastião dos infiéis”. “Vivas!” – Treinar os alunos para fazer elogios coletivos e sonoros aos pares, em horas certas, para inspirar os alunos. Tudo com o devido cuidado para que não se torne bagunça, porém que seja rápido, envolvente, universal, entusiás- tico, refletindo a evolução do aprendizado. “Mesmo antes de ter contato com o livro eu já tinha uma rotina bem esta- belecida, mesmo sem uma sistema- tização tão detalhada. Meus alunos têm uma rotina semanal bem defini- da. Sabem qual aula terão em cada dia e arrumam as mesas antes das atividades, pois ninguém mais na es- cola usa essa disposição [duas fileiras em U]. Depois nos sentamos e faze- mos uma leitura diária, conduzida por mim, em seguida a chamada, a ve- rificação da lição de casa... É tudo já bem regrado. Discordo algumas vezes das co- locações do Lemov sobre treinar os alunos. Creio que algumas precisam de práticas repetitivas e outras não, mas também é necessário ter discer- nimento entre o que é conteúdo e o que é postura, pois o aluno deve ser aluno em qualquer lugar, indepen- dentemente do nível da escola e da sua condição social. A organização da cultura e da ro- tina, em geral, ajuda a poupar tem- po e trabalhar o conteúdo que tem de ser dado, independentemente de materiais e recursos disponíveis. Contudo, com materiais prontos, as rotinas bem definidas são potencia- lizadas e o docente tem mais tem- po para pensar no que trazer à tur- ma, como aprofundar e ampliar os conteúdos, quais questões e desa- fios serão propostos.” Resumo das técnicas para criação de uma forte cultura escolar Eu testei Gilne Gardesani Fernandez é profes- sora de ensino fundamental I na Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental Vereador Manoel de Oliveira, em Santo André (SP). Ela usa as técnicas em todas as disciplinas (Ciências, Língua Portuguesa, História, Geografia, Matemática e Artes) com uma turma de 4º ano. PROFISSÃO MESTRE® agosto 2011 33
  • 17. 34 PROFISSÃO MESTRE® agosto 2011 SérieSÉRIE AULA NOTA 10 – TÉCNICAS DE DOUG LEMOV 34 O que achou desta reportagem? Mande elogios, críticas e sugestões para editorial@ humaneditorial.com.br o instrumento de registro, com capa- cidade de síntese e organização, não apenas no conteúdo, são pontos dos quais muitas escolas acabam se esque- cendo. Mesmo assim, a professora re- comenda cuidados no uso das técni- cas. “Devemos ter em conta que um grupo tem pouco ou nada a contribuir para o crescimento de seus membros quando se tenta pasteurizar as indi- vidualidades, as singularidades, suge- rindo uma unidade de conceito, pen- samento e posicionamento coletivo que não é real”, avalia. Débora fez tal ponderação em sua palestra no 1º Fórum de Educadores organizados pelo Insper – Instituto de Ensino e Pesquisa, em abril, na capital paulista. Ela enfatiza que o mesmo las- tro de realidade sugerido foi usado pelo autor na produção da obra. “Os profes- sores analisados pelo Lemov tinham um posicionamento, em uma situação deles. Para funcionar em outros con- textos os docentes devem ser conven- cidos de que a ideia é boa, sem coerção. A adoção deve ser consciente, política, tomada pela escola e pelo professor”, acredita. Deslocamentos e rotinas A criação de uma cultura organiza- da já vinha em andamento no Colégio Albert Sabin, na Zona Oeste da cida- de de São Paulo, por exemplo. A esco- la avalia a obra de Lemov com relação às práticas já existentes, às que podem ser adaptadas e às que não são perti- nentes a esse contexto. Especificamente sobre rotinas de deslocamentos, pertinentes às téc- nicas “Rotina de Entrada” e “Breves Transições”, os deslocamentos para atividades extracurriculares desporti- vas já foram remodelados de forma se- melhante para ganhar tempo. “Os alu- nos têm que colocar as suas malas em algum lugar, trocar de roupa, prepara- rem-se para a atividade e se dirigirem ao local designado, e a pouca coorde- nação encurtava o tempo da atividade desportiva”, descreve a diretora peda- gógica do colégio, Giselle Magnossão. A instituição possui 3 mil alunos em dois períodos. Ao final das ativida- des em sala após cada turno, cerca de 1,5 mil alunos se deslocam de forma or- ganizada por movimento e ordem de descida – como locais e rotinas prees- tabelecidas para deixar o material in- dividual em locais específicos (normal- mente no estacionamento), preparar-se para a atividade e se dirigir ao local da prática desportiva. “Hoje tudo é feito em cinco minutos e ganhamos tempo de trabalho efetivo”, afirma. Por mais que as técnicas tenham co- mo ênfase a sala de aula, não se po- de ignorar que a falta do que Doug Lemov chama de “uma forte cultura escolar” está associada a muitas con- dições externas à alçada do profes- sor. Em uma organização privada, co- mo a da turma observada, o aluno tem comportamento também de clien- te e se refugia nessa condição para não se dobrar a regramentos. O esta- belecimento das técnicas também se dificulta quando a instituição de ensi- no tem concepção diferente dos cinco princípios básicos descritos pelo autor (disciplina, gestão, controle, influência e engajamento). O que Doug Lemov chama de dis- ciplina, por exemplo, é tratado como didática. Gestão está ligada a resul- tados de satisfação do “cliente” e re- sultados acadêmicos do aluno nas avaliações formais, o que se cobra diretamente da coordenação peda- gógica. Controle, influência e enga- jamento, por consequência, acabam fundados totalmente na habilidade e em aspectos quase instintivos do pro- fessor, como uma liderança natural. No capítulo 5, as técnicas de Lemov, justificadas didáticas, mos- tram um lado menos adequado a di- ferentes realidades. “Rotina de entra- da” já era prática do docente. Como muitos alunos chegam atrasados, vin- do diretamente dos seus empregos, ela se torna necessária para evitar interrupções. Por essa característi- ca secular dos alunos, “Faça Agora” simplesmente se inviabiliza. “Breves Transições” e “Controle do Material” tornaram-se dispensáveis. “Em Suas Marcas” e “Comunicação por Sinais”, por sua vez, na prática docente ado- tada com a turma, são inviáveis, pois remetem mais a rotinas militares do que à proposta de formação do pro- jeto pedagógico do curso. “POSSO” é talvez a mais perti- nente, já usada pelo docente, que não por coincidência independe do que ocorre da porta da sala para fo- ra. “Vivas!” não foi testada por não ser julgada pertinente ao contexto trabalhado. Considerando que a turma observa- da é de nível superior, o conjunto dessas técnicas parece um regramento militar. Podem ser úteis em outros níveis, porém dependem do envolvimento de direção e coordenação, com muito cuidado para não tornar a instituição de ensino um lo- cal muito mais voltado a comportamen- tos padronizados. O teste da reportagem Na próxima edição, como estabelecer e manter altas expectativas de comportamento O repórter Fabio Venturini, também histo- riador e professor universitário na área de Comunicação Social, do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo (SP), testou as técnicas para esta reportagem com alunos do curso de Jornalismo. Para o professor construir um am- biente com alta expectativa a res- peito dos alunos, aliada a uma for- te cultura escolar, torna-se necessário também estabelecer altas expectati- vas de comportamento, com ordem e respeito suficientes para garantir a equidade no aprendizado. As técni- cas do capítulo seis, que serão abor- dadas na próxima edição e tratam desse aspecto, são: “Padrão 100%”, “O Que Fazer”, “Voz de Comando”, “Faça de Novo”, “Capriche nos Detalhes”, “Umbral” e “Sem Aviso”. 34 PROFISSÃO MESTRE® agosto 2011