O documento descreve a formação e características das restingas ao longo da costa brasileira. Apresenta as principais adaptações da flora e fauna a este ecossistema costeiro arenoso, sujeito a fatores como salinidade, variações térmicas e escassez hídrica. Detalha também a classificação e transição entre diferentes zonas de vegetação ao longo da planície costeira, incluindo dunas móveis e fixas.
3. Durante o Holoceno, há ± 5.100 anos atrás, o litoral
brasileiro ficou sujeito a submersão (FLEXOR et al.,
1984). Conforme BIGARELLA (1964), a curva de
flutuação de nível marinho dos últimos 6.000 anos é
extremamente variável, apresentando submergências e
emergências.
Em consequência dos movimentos de avanço e recuo
das águas marinhas formaram-se as sucessões de
cordões litorâneos (ARAUJO & LACERDA, 1987), que
são feições muito marcantes e que ocorrem
praticamente ao longo de toda a costa brasileira
4. Estas formações são colonizadas por espécies
vegetais que surgiram em função da atuação de
agentes morfodinâmicos e pedogenéticos (LEITE &
KLEIN, 1990). Podem ser encontrados campos ralos de
gramíneas, matas fechadas ou brejos com densa vegetação
aquática.
A esse conjunto de formações geomorfológicas, e às
diferentes comunidades biológicas que as ocupam, dá-se o
nome genérico de “restingas” (ARAUJO & LACERDA, 1987).
Sua distribuição ocorre de maneira descontínua ao longo de
todo litoral brasileiro de 4º N a 34º S (ARAUJO, 2000)
5. O termo “restinga” para SUGUIO & TESSLER (1984)
frequentemente é empregado com relação aos
ambientes costeiros e o seu significado parece ser
bastante diversificado. Conforme HERTEL (1959),
este termo coincide com o litoral arenoso e é usado
na literatura sendo associado a praticamente toda a
vegetação entre a zona mareal e a floresta costeira,
ou, para corresponder apenas à zona das dunas
interiores.
6. Para LACERDA et al. (1982), no sentido botânico,
pode ser utilizado para englobar diversas
comunidades ou seja, a das praias, antedunas,
cordões arenosos, depressões entre cordões,
margens de lagoas e até manguezais.
RIZZINI (1979) cita que este termo pode ser
empregado em três sentidos: 1 – Para designar
todas as formações vegetais que cobrem as areias
holocênicas desde o oceano; 2 – Para designar a
paisagem formada pelo areal justamarítimo com sua
vegetação global; 3 – Muito frequente para indicar a
vegetação lenhosa e densa da parte interna.
7. Resolução CONAMA nº 303 de 20 de março de 2002
Restinga : “depósito arenoso paralelo à linha da costa, de
forma geralmente alongada, produzido por processos de
sedimentação, onde se encontram diferentes comunidades
que recebem influência marinha, também consideradas
comunidades edáficas por dependerem mais da natureza do
substrato do que do clima. A cobertura vegetal nas
Restingas ocorre em mosaico e encontra-se em praias,
cordões arenosos, dunas e depressões, apresentando, de
acordo com o estágio sucessional, estrato herbáceo,
arbustivos e arbóreo, este último mais interiorizado.”
8. As espécies que habitam a restinga (fauna e flora) possuem
mecanismos para suportar os fatores físicos dominantes
como:
- Salinidade
- Extremos de temperatura
- Forte presença de ventos
- Escassez de água
- Solo instável
- Insolação forte e direta
9. A restinga preservada facilita o controle, em zonas
urbanas costeiras, de espécies com potencial para pragas
como cupins, formigas, escorpiões e baratas. A
preservação do solo arenoso é importante pois é
altamente poroso; a água da chuva infiltra com facilidade,
o que reduz os riscos de enchentes e os custos de obras
de drenagens. Outra importância da restinga é a medicinal,
pois guarda importantes informações, ainda
desconhecidas da maioria do público. Tem, ainda,
importância ornamental e paisagística, encontrada nas
orquídeas, bromélias e outras epífitas.
10. As restingas estão
distribuídas pelo litoral
brasileiro numa
extensão de quase
5000km, ocorrendo de
maneira descontínua
desde 4o N a 34o S, em
79% da costa brasileira.
As principais formações
estão na Bahia, Espírito
Santo, Rio de Janeiro e
São Paulo. Essa
distribuição norte-sul
cria variações
climáticas, diversidade
ambiental e biológica.
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18. Através de observações topográficas, fisionômicas e
florísticas ARAÚJO (1992) caracterizou 7 zonas em um
trecho de vegetação de restinga, no litoral do estado do
Rio de Janeiro.
Através desta caracterização, propôs uma primeira
aproximação de classificação, da vegetação, para as
planícies costeiras arenosas do Brasil, onde considerou:
19. Zona 1 – área que é ocasionalmente inundada pelas águas
do mar durante as marés altas ou tempestades
Zona 2 – vegetação que começa na base da duna frontal e
distribuí-se até a crista.
Zona 3 – É a parte da costa da duna frontal que desce da
crista em direção a depressão.
Zona 4 – Situa-se no entorno da depressão, e está sujeita a
inundações que dependem das precipitações e das
estações do ano. A vegetação predominante nesta área é
arbustiva aberta com capões de floresta isolados.
20. Zona 5 – Esta área localiza-se na depressão entre os
cordões arenosos e é inundada na maior parte do ano. Em
períodos de estiagem o lençol de água pode ficarem
subsuperfície, não aparentando excesso de umidade
superficial.
Zona 6 – É caracterizada pelo segundo cordão arenoso
que é coberto por vários tipos de vegetação com porte
arbóreo até arbustivo.
Zona 7 – Constitui esta área a margem de uma laguna
composta por espécies halófitas ou adaptadas a
ambientes brejosos.
21. • Oferta de sedimentos – o tipo de sedimentos varia com
as fontes, que em geral são rochas costeiras, ou o
material existente no fundo oceânico, ou trazido do
interior do continente pelos rios.
• Correntes de deriva – são as correntes paralelas à costa,
formadas pelas ondas que chegam obliquamente. Essas
correntes transportam os sedimentos.
22. • Obstáculos retentores – ilhas, recifes, pontais, etc barram o fluxo
de sedimentos, formando bancos de formas diversas; obstáculo
retentor também pode ser a força de saída da foz de um rio,
formando uma barreira de água.
• Variação do mar – essa variação permitiu há alguns milênios
atrás que alguns bancos de areia, antes submersos fossem
expostos como terra firme; a variação do nível do mar também
determina a linha de arrebentação das ondas e o deslocamento
dos bancos de areia. Quando o nível do mar sobe, o mar avança ,
quando desce ele recua, deixando bancos de areia e outros
sedimentos – as restingas.
23. Formação típica que ocorre nas planícies costeiras
arenosas sobre solos quartzosos e pobres em
nutrientes.
A flora apresenta algumas espécies endêmicas,
podendo ser encontrada também em outros
ecossistemas. Nas dunas a vegetação é formada
principalmente por plantas herbáceas com caules
longos e flexíveis. Exemplos de espécies
características da restinga o sumaré, alfa-goela,
açucena, bromélia, orquídeas, cactos, coroa-de-frade,
aroeirinha, jurema, caixeta, taboa, sepetiba, canela,
pitanga, figueira, angelim.
24. Para sobreviver neste ambiente as plantas contam com
adaptações. A evolução biológica dos vegetais possibilitou a
capacidade de armazenamento de água (suculência),
resistência à salinidade, adaptação do mecanismo
fotossintético, e presença de rizomas ou estolões.
Desenvolvem-se folhas brilhantes, de tamanho reduzido, com
pequeno número de estômatos na face dorsal e revestidas por
uma camada de cera. Tais mecanismos proporcionam a
economia de água e reflexão da luz solar
25. Faixa livre do alcance das ondas e marés diárias, porém
sujeita à força das ressacas. A vegetação é formada por
espécies rasteiras, herbáceas, adaptadas com a
salinidade elevada, a exposição direta ao sol, aos
ventos, aos extremos térmicos e a pobreza em
nutrientes do solo arenoso.
26. Faixa onde o mar não chega mais; os fatores
dominantes são a maresia, os ventos, a insolação e a
pobreza do solo em nutrientes e água. A vegetação
forma um denso emaranhado de ramos, espinhos e
folhas, de aspecto ressecado - e "aparado", por causa
do efeito abrasivo do vento.
27. Faixa entre dunas ou de borda das lagunas. São locais
úmidos a alagados por água das chuvas, ou por
afloramento do lençol freático, ou por serem antigos
leitos de lagunas, colmatadas. A água aí costuma ser
salobra. As plantas formam matas paludosas, ou
brejos herbáceos e arbustivos.
28. É um ambiente de transição entre restingas e a
vegetação continental mais antiga, como a Mata
Atlântica ou a Caatinga. O solo já apresenta
melhores condições de fertilidade e de água, e o
microclima já é ameno. A mata apresenta níveis
herbáceos, arbustivos e arbóreos, com um bom
número de epífitas e cipós.
39. As dunas se desenvolvem em situações ambientais bem
específicas, formam-se somente em lugares onde há um
suprimento de areia disponível: praias arenosas ao longo
da costa, depósitos arenosos de barras ou de planície de
inundação em vales fluviais e substratos compostos de
formações de arenitos em desertos.
40. Outro fator comum na formação de duna é a força do
vento que pode coletar facilmente materiais úmidos,
de modo que a maioria das dunas é encontrada em
climas secos. A exceção é o cinturão de dunas ao
longo da costa, onde a areia é tão abundante e seca
tão rapidamente ao vento, que as dunas podem formar-
se mesmo em climas úmidos. Em tais climas, o solo e
a vegetação começam a cobri-las somente na
interface interna da praia, de modo que o vento não
coleta mais a areia.
41. DUNAS FIXAS
Formadas por areias finas e médias o compartimento
da vegetação de dunas fixas situa-se mais para o
interior e atrás das dunas móveis. Apresentam
vegetação arbustiva em praticamente toda a duna, o
que impede a interferância da ação eólica. Há no
sedimento conteúdo de húmus,areia compacta por ser
de granulação mais fina e possuir teor de argila.
42. DUNAS MÓVEIS
A vegetação é mais espaçada e menos desenvolvida, sendo
até mesmo ausente. Isto ocorre pela ausência de matéria
orgânica, pela mobilidade das dunas associada ao vento,
pela maior insolação atuante nas camadas superficiais de
areia e pelo rápido escoamento da água das chuvas
43. Em geral, a vegetação das dunas é formada por plantas que
suportam condições de grande aquecimento das camadas
superficiais da areia e a pressão constante entre as plantas e
a areia trazida pelo vento. A seca temporária é também um
fator limitante para o crescimento da vegetação. Muitas
plantas apresentam raízes profundas que alcançam o lençol
freático. Esta região possui pouquíssima matéria orgânica,
que somente aparece onde a vegetação das dunas já é mais
densa.
44. A deposição de matéria orgânica sobre as dunas a
partir dos restos de plantas mortas forma uma espécie
de “carapaça” proporcionando maior estabilidade em
determinadas áreas do depósito dunar. Este processo,
associado ao desenvolvimento de cobertura vegetal e
à própria morfologia das dunas, favorece a formação
de dunas fixas a partir de dunas móveis.
46. A fauna ocorrente nas restingas brasileiras está
relativamente menos estudada quando comparada com os
conhecimentos acumulados sobre a composição e estrutura
dos diferentes tipos vegetacionais. Há uma Grande
diversidade de espécies, desde microrganismos até
mamíferos de grande porte. Destacam-se fungo
luminescente, carangueijos, viúvas-negras, baratas, sabiás,
corujas e pererecas. A restinga também é utlizado por aves
migratórias/dormitórias. E tartarugas marinhas também
utilizam a área para reprodução e desova.
47. MARIA FARINHA TARTARUGA DE COURO
(Ocypode quadrata) Dermochelys coriacea
56. Clima deste ecossistema é bem diferenciado, devido à
vasta amplitude latitudinal. Nas porções ao Norte
apresenta-se mais seco com temperaturas médias em
torno de 28ºC, podendo facilmente chegar aos 40ºC,
nos meses mais quentes. Na porção ao Sul possui
clima mais ameno e úmido com média anual em torno
de 17ºC. Já o índice pluviométrico é mais regular e
gira em torno de 1.600 mm anuais.
57. A mais drástica agressão às restingas, está nas
atividades econômicas de lazer e turismo. A maior
conseqüências dessa ocupação referem-se a
eliminação da vegetação natural, ao estímulo dos
processos erosivos, às mudanças nas características
de drenagem por cortes e aterros, à geração de lixo, à
geração de esgoto doméstico, além do aumento na
procura por recursos naturais. Entre as principais
atividades predatórias destacam-se a agropecuária, a
extração mineral, incêndios, estradas, erosão costeira
e a expansão imobiliária.
58. A ocupação do litoral brasileiro ocasiona a redução da
área natural de restinga pelo país. No município do Rio
de Janeiro, a cobertura vegetal, proporcionalmente a
sua área, apresenta um dos maiores índices de
diminuição (30% de perda), desde a década de 1980. A
restinga com pior nível de conservação é a do Prado,
na Bahia. Em situação igualmente crítica encontram-
se duas restingas do Rio de janeiro, as de Grumari e
Grussai, seguidas pelas de Setiba no Espírito Santo, e
mais uma no Rio de Janeiro, a Massambaba.
59. Embora a área de restinga tenha encolhido em média
500 hectares entre 1995 e 2000 apenas nos estados
do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, de acordo com
um estudo da organização não-governamental SOS
Mata Atlântica, ainda há trechos em bom estado de
conservação. Hoje, o levantamento abarca 17
restingas, das quais sete bem preservadas, três em
estágio intermediário e sete bastante degradadas.
60. ÁREAS DE PRESERVAÇÃO DA RESTINGA BRASILEIRA Segundo
a Resolução n° 303, de 20 de março de 2003, do Conselho
Nacional de Meio Ambiente – CONAMA, considera-se área de
preservação permanente nas restingas a área situada:
.Em faixa mínima de 300 metros, medidos a partir da linha de
preamear máxima;
.Em qualquer localização ou extensão, quando recoberta por
vegetação com função fixadora de dunas ou estabilizadora de
mangues.
61. .Importância biológica, representando o montante de
diversidade biológica a ser conservada no sistema de
unidades de conservação.
.Uso sustentável de recursos e participação de atores,
atendendo às necessidades da geração atual, sem
comprometer as necessidades das gerações futuras, e
criando uma mentalidade pública neste sentido.
62. .Representatividade, relacionado ao montante das
diferentes regiões biológicas atualmente representadas no
sistema brasileiro de áreas protegidas.
.Grau de conectividade, indicativo das reais possibilidades
de manutenção dos processos ecológicos e evolutivos,
permitindo fluxos gênicos em diferentes graus.
63. Parque Nacional da Restinga da Jurubatiba – RJ
Área: Faixa de orla marítima com 14.860 hectares e 44
quilômetros de ectensão ao longo da praia, com cerca de 2 km de
largura na extremidade oeste e 4,8 km de largura na extremidade
leste, com perímetro de 123 km. Primeiro Parque Nacional no
Brasil a compreender exclusivamente o ecossistema restinga.
Considerada a área de restinga mais bem preservada do país e
está praticamente intacta.
64. Restinga Ponta das Canas - SC
Área 21,5 hectares Restinga em processo de formação já
recoberta por uma vegetação característica desse sistema,
inclusive com a formação de mangue situado na
extremidade norte e na projeção sul, junto a foz do Rio
Thomé. • Restinga da Ponta do Sambaqui – SC Área: 1,3
hectares
65. Ponta do Sambaqui - SC
Originou-se através de processo de sedimentação de uma ilha
antiga, chamada de tômbulo. A cobertura vegetal é caracterizada
por árvores frutíferas.
Reserva Ecológica da Juatinga – RJ
Área: 8000 hectares. Área de proteção de vários ecossistemas da
Mata Atlântica, entre eles floresta tropical, manguezais e restingas.
Santuário de Proteção e Recuperação da Restinga do Distrito de
Caraíva – BA Área: 200 hectares
66. A restinga tem grande importância para a manutenção
de um ambiente ecologicamente equilibrado. É habitat,
local de reprodução e rota migratória para diversas
espécies de animais; Há uma grande diversidade de
espécies de plantas em sua vegetação; Tem um
importante papel na infiltração da água da chuva,
formação do lençol freático e proteção do continente.
Porém a restinga tem sido destruída por ações
antrópicas, principalmente relacionadas com os
setores de turismo e imobiliário, causando erosões e
assoriamentos nas principais cidades urbanas.em .
Neste aspecto, medidas emergenciais(...)
67. “Área Protegida, Santuário de Proteção e Recuperação da Restinga do
Distrito de Caraíva”. Disponível em:<
http://www.vivacaraiva.com/Proposta-Caraiva231006-rev1.L.pdf>.
“Parque Nacional da Restinga da Jurubatiba”. Disponível
em:<http://pt.wikipedia.org/wiki/Parque_Nacional_da_Restinga_de_Juru
batiba>.
RESOLUÇÃO CONAMA n°.303, de 20 de março de 2002 – Dispõe sobre
Área de Preservação Permanente. Disponível em:<
http://www.aesa.pb.gov.br/legislacao/resolucoes/conama/303_02_prese
rvacao_permanente.pd f>.
“Restinga”. Disponível
em:<http://www.trilhasetrilhas.tur.br/Ecosistemas/Ecosistemas_06B.ht
m>.
“Restingas”. Disponível em:<
http://litoralbr.vilabol.uol.com.br/restingas.htm>.
“Restingas”. Disponível em:< http://pt.wikipedia.org/wiki/Restinga>.
“Restingas do litoral amazônico, estados do Pará e Amapá, Brasil”.
Disponível em:< http://scielo.iec.pa.gov.br/scielo.php