Este documento fornece uma introdução às noções básicas da versificação em português, incluindo estruturas estróficas, métrica, ritmo e figuras de efeito sonoro como aliteração e assonância. O documento define e dá exemplos de conceitos como verso, estrofe, rima e formas fixas de poesia como sonetos.
2. Texto Motivador
Soneto de Fidelidade
Vinicius de Moraes
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
3. Noções Básicas
Verso: cada uma das linhas do poema, que pode ter
sentido completo ou não.
Estrofe ou Estância: conjunto de versos; as
estrofes encontram-se separadas por um espaço em
branco.
Estrutura Estrófica: as estrofes podem ser
classificadas consoante o número de versos que a
constituem.
4. Estrutura Estrófica
Número de de versos Classificação das estrofes
1 Monóstico
2 Dístico
3 Terceto
4 Quadra
5 Quintilha
6 Sextilha
7 Sétima
8 Oitava
9 Nona
10 Décima
Mais de 10 Irregular
5. MÉTRICA é a medida ou quantidade de sílabas métricas que um
verso possui.
ESCANSÃO é a divisão e a contagem das sílabas métricas de um
verso, que não é feita da mesma forma que a divisão e contagem de
sílabas normais, pois, segundo a Versificação:
1)Separam-se e contam-se as sílabas de um verso até a última sílaba
tônica desse verso.
Ex: Es| tou | dei| ta| do | so| bre| mi| nha| ma| la
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
1 2 3 4 5 1 2 3
6. Sílabas gramaticais
"Ah!/ Quem/ há/ de/ ex/ pri/ mir/, al/ ma/ im/ po /nen /te/ e/ es/ cra/ va"
(Olavo Bilac) - 17 sílabas gramaticais.
Sílabas poéticas
"Ah!/ Quem/ há/ de ex/ pri/ mir/,al/ ma im/ po/ nen /te e es/ cra/ va"
(Olavo Bilac) - 12 sílabas poéticas.
Na contagem de sílabas poéticas, as palavras estão ligadas umas
às outras mais intimamente. É isso que confere ao texto o ritmo e a
melodia próprios dos versos.
• O encontro entre duas vogais iguais é chamado de crase.
• O encontro entre duas vogais diferentes é chamado de elisão.
• As sílabas são contadas até a última sílaba tônica do verso.
7. Como se faz essa contagem?
Conta-se até à última sílaba tónica da última palavra do verso.
ex.: Pa la vras não e ram di (tas)
O ca va lei ro a che gar
No interior do verso, a sílaba terminada em vogal une-se à
sílaba seguinte, se esta também começar por vogal.
ex.: Um/ cor/ po a/ ber/ to/ co/ mo os/ a /ni/ mais/
8. Estrutura Métrica
Número de sílabas Classificação dos versos
1 Monossílabo
2 Dissílabo
3 Trissílabo
4 Pentassílabo
5 Pentassílabo ou redondilha menor
6 Hexassílabo
7 Heptassílabo ou Redondilha maior
8 Octossílabo
9 Eneassílabo
10 Decassílabo
11 Hendecassílabo
12 Dodecassílab Ou Alexandrino
9. RITMO é o resultado da regular sucessão de sílabas tônicas
e átonas de um verso. Para os gregos, ele é um elemento
melódico tão essencial para o poema quanto para a Música.
VERSOS LIVRES são versos que não seguem as normas da
Versificação quando à métrica e/ou ao ritmo.
SOM ou RIMA também é para os antigos um elemento
essencial para que um poema seja uma POESIA. A rima é a
identidade e/ou semelhança sonora existente entre a palavra
final de um verso com a palavra final de outro verso na estrofe.
10. •Foneticamente, uma rima pode ser:
PERFEITA - se houver identidade entre as terminações das
palavras que rimam (neve/leve).
IMPERFEITA - se houver apenas semelhança
(estrela/vela).
•Morfologicamente, a rima é:
POBRE - quando as palavras que rimam pertencem à
mesma classe gramatical (coração/oração).
RICA - quando as palavras que rimam pertencem a
classes gramaticais diferentes (arde/covarde).
Obs: A classificação é assim mesmo. Pobres – mesma
classe gram. E Ricas, classe gram, diferentes.
11. Quanto à posição na estrofe, as rimas
podem ser classificadas como:
a) emparelhadas ou paralelas (aabb)
“Vagueio campos noturnos A
Muros soturnos A
Paredes de solidão B
Sufocam minha canção.” B
(Ferreira Gullar)
“Aos que me dão lugar no bonde A
e que conheço não sei de onde, A
aos que me dizem terno adeus B
sem que lhes saiba os nomes seus” B
(Carlos Drummond de Andrade)
12. b) cruzadas ou alternadas (abab)
“Se o casamento durasse A
Semanas, meses fatais B
Talvez eu me balançasse A
Mas toda a vida... é demais!” B
( Afonso Celso)
“Minha desgraça não é ser poeta, A
Nem na terra de amor não ter um eco, B
É meu anjo de Deus, o meu planeta A
Tratar-me como trata-se um boneco B
(Álvares de Azevedo)
13. c) opostas, intercaladas ou interpoladas (abba)
“Não sei quem seja o autor A
Desta sentença de peso B
O beijo é um fósforo aceso B
Na palha seca do amor!” A
(B. Tigre)
“Eu, filho do carbono e do amoníaco, A
Monstro de escuridão e rutilância, B
Sofro, desde a epigênese da infância, B
A influência má dos signos do zodíaco” A
Augusto dos Anjos)
14. d) Encadeada ou internas:
Quando rimam palavras que estão no fim do verso e no interior do verso
seguinte:
“ Salve Bandeira do Brasil querida
Toda tecida de esperança e luz
Pálio sagrado sobre o qual palpita
A alma bendita do país da Cruz”
e) Externas
Quando a rima aparece ao final do verso. É o tipo mais comum de rima.
“ Lembranças, que lembrais meu bem passado
Para que sinta mais o mal presente
Deixai-me se quereis viver contente
Não me deixeis morrer neste estado”
(Thiago Cardoso da Silva))
15. f) continuadas:
Consiste na mesma rima por todo o poema.
g) Versos Livres:
São as rimas que não seguem esquematização regular, não tem ordem
determinada entre as rimas.
“ A chuva chove mansamente... como um sono
Que tranqüilize, pacifique, resserene...
A chuva chove mansamente... Que abandono!
A chuva é a música de um poema de Verlaine...
E vem-me o sonho de uma véspera solene,
Em certo paço, já sem data e já sem dono...
Véspera triste como a noite, que envenene
...Num velho paço, muito longe, em terra estranha,
Com muita névoa pelos ombros da montanha...
Paço de imensos corredores espectrais,
Onde murmurem, velhos órgãos, árias mortas,
Enquanto o vento, estrepitando pelas portas,
Revira in-fólios, cancioneiros e missais”
16. h) Versos brancos
São versos que não apresentam rimas.
“Fabrico um elefante branco
de meus poucos recursos.
Um tanto de madeira podre
tirado a velhos móveis
talvez lhe dê apoio.
E o encho de algodão,
de paina, de doçura.
A cola vai fixar toda
suas orelhas pensas.
A tromba se enovela,
é a parte mais feliz
de sua arquitetura. (...)”
(C. D. de Andrade)
17. POEMAS DE FORMA FIXA
Alguns poemas apresentam forma fixa, o que já indica a
preocupação formal do poeta em relação à sua obra e,
assim, que ele segue à risca as normas da Versificação no
momento da sua elaboração. São eles:
. Soneto: poema formado por dois quartetos e dois
tercetos, normalmente composto por versos decassílabos e
de conteúdo lírico;
. Balada: poema formado por três oitavas e uma quadra;
. Rondel: poema formado por duas quadras e uma
quintilha;
. Rondó: poema com estrofação uniforme de quadras;
19. ALITERAÇÃO
É a repetição de uma consoante ao longo de um verso
ou ao longo do poema.
Consiste na repetição do mesmo fonema consonântico,
de forma a obter um efeito expressivo.
Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas
(Violões que choram... - Cruz e Sousa)
Auriverde pendão de minha terra
que a brisa do Brasil beija e balança
(Castro Alves)
20. ASSONÂNCIA
É a repetição de vogais iguais ao longo de um verso
ou de um poema.
"Sou Ana, da cama
da cana, fulana, bacana
Sou Ana de Amsterdam”
(Chico Buarque)
"Sou um mulato nato no sentido lato
mulato democrático do litoral.”
(Caetano Veloso)
Veloso
21. PARANOMÁSIA
Quando numa mesma sentença temos o emprego
de palavras parônimas, ou seja, palavras de sons
parecidos, dizemos que ocorreu aí a paranomásia,
figura de linguagem que consiste no emprego de
palavras parecidas, numa mesma sentença, gerando
uma espécie de trocadilho.
Ex.: Houve aquele tempo...
(E agora, que a chuva chora, ouve aquele tempo!)
(Ribeiro Couto)