SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 48
Baixar para ler offline
Teatro do Oprimido no
Design de Interação
Frederick van Amstel @usabilidoido
DADIN - UTFPR
www.usabilidoido.com.br
Design de Interação herdou a preocupação com a estética
formal e funcional do Design de Produto e Gráfico.
Existe, porém, um novo tipo específico de estética no design de
interação que tem relação com o tempo (Löwgren, 2009).
É uma estética que, como o teatro, depende de uma
performance emergente (Van Amstel, 2015).
Os designers de interação criam roteiros com algumas ações
possíveis e outras impossíveis (Laurel, 2014).
Porém, nesse tipo de performance, o ator não é obrigado a
seguir o roteiro.
Os atores também podem criar seus próprios roteiros e,
consequentemente, estéticas da interação.
Por traz de toda estética, há uma
ética implícita, ou seja, um modo
de viver em sociedade.
Animojis permitem expressar emoções para outras pessoas
sem mostrar o rosto.
Esse tipo de interação já existia há séculos, por exemplo,
no carnaval de Veneza.
O gosto por certas interações
reflete a moral do grupo social.
O uso de certos emojis está correlacionado com identidades de
gênero e racial (Barbieri e Camacho-Collados, 2018).
A moral escondida atrás do
gosto faz a ética parecer uma
questão meramente individual.
Escolhas individualizadas geram exclusões coletivas de pessoas
negras, asiáticas, LGBT e outros grupos oprimidos.
A estética da interação pode,
portanto, esconder, reafirmar
e manter opressões entre
grupos sociais.
Grupos social
privilegiado
(opressores)
Grupos social
desprivilegiado
(oprimidos)
subestimação
diminuição
exclusão
negação
reação
crítica
resistência
conscientização
Relação de opressão
baseado em Paulo Freire (1969)
Quando uma pessoa sente que interage de maneira
“feia”, é porque ela faz parte de um grupo
desprivilegiado e/ou porque seus colegas fazem
parte de um grupo privilegiado.
Exemplo: a interação “feia" com uma balança eletrônica
que despertou a fúria de usuários do Youtube.
A estética da interação pode
ser considerada, neste caso,
uma estética do opressor.
A estética do opressor persuade os oprimidos a fazerem o que
ele não querem fazer através de dark patterns.
A estética do opressor faz os oprimidos se sentirem
desconfortáveis com a imposição de padrões de beleza.
A estética do opressor faz os oprimidos se sentirem culpados
pela relação de opressão…
…porque a opressão é só uma questão de opinião.
A estética do opressor tenta evitar que o oprimido pense sobre
a relação de opressão.
Usuarismo é uma opressão que
reduz pessoas a meros usuários,
sem história, sem corpo, sem voz
e sem direitos, mas com muitas
necessidades que podem ser
supridas pela tecnologia.
cidadão > usuário de serviço público
eleitor > usuário de redes sociais
trabalhador > usuário de plataforma
estudante > usuário de serviço educacional
paciente > usuário de serviço de saúde
deficiente > usuário de tecnologia assistiva
imigrante > usuário de aplicativo de tradução
mulher > usuário de aplicativo menstrual
gay > usuário de sistema de namoro
negro > usuário de transporte público
pobre > usuário de tecnologias de baixo custo
“Usuários […] representa um grupo
oprimido […] que se encontram
alienados dos meios, técnicas, condições
e saberes necessários para a produção,
para si, de suas próprias existências.”
Rodrigo Gonzatto (2018)
Usuário é tratado ora como parte de um sistema, ora como
parte de um ser humano, mas raramente como um corpo inteiro.
O corpo inteiro é normalmente incluído como objeto e não como
sujeito do processo de design (Gonzatto e Van Amstel, 2017).
A estética do oprimido é uma proposta que reconhece qualquer
corpo humano como sujeito criador de arte (Boal, 2009).
A beleza na estética do oprimido surge da verdade que ela
exprime, incluindo suas contradições (CTO).
“No teatro, tudo é
verdade. Até a mentira.”
Augusto Boal
Para que a estética da
interação seja uma estética do
oprimido, é preciso reconhecer e
incluir os oprimidos na
produção de interações.
UX para Minas Pretas capacita e criar oportunidades para
mulheres negras na profissão de design.
Pedagogias Críticas permitem formar designers com consciência
crítica, algo extremamente necessário (ENADE 2018).
A Caminhada dos Privilégios Digitais é uma maneira de
conscientizar estudantes de seus privilégios.
Design para a Inovação Social é uma maneira de estudantes
compartilharem seus privilégios (Rafaela Eleutério, 2019).
Design Livre é uma filosofia que combate o usuarismo,
legitimando o projeto feito pelo uso.
Manifesto Design Dissenso (2019) é uma reflexão crítica dos
estudantes de Design da UTFPR sobre a profissão.
Teatro do Oprimido
• Desenvolvido no Teatro Arena entre os anos 1960
e 1970
• Ao invés de representar peças clássicas que nada
tinham a ver com o contexto brasileiro, a proposta
era representar dramas cotidianos que a população
oprimida vivia
• A ditadura brasileira perseguiu, prendeu e torturou
Augusto Boal, seu principal criador
• Boal foi exilado em 1971 e retornou ao Brasil em
1984 para fundar o Centro de Teatro do Oprimido
Meu Caro Amigo (1976) é uma carta musica enviada por Chico
Buarque a Augusto Boal durante o exílio.
O Teatro do Oprimido se tornou um conjunto de técnicas para
organizar ações sociais concretas e continuadas.
Teatro do Oprimido Tecnológico desenvolve perspectivas críticas
sobre o uso da tecnologia no cotidiano.
Anunciante
Feed com notícias
emocionantes
Usuário frustrado
Teatro Projetual é uma nova técnica de Teatro do Oprimido que
usa o corpo inteiro para projetar tecnologias libertárias.
Escrotiã é um projeto de Design Prospectivo sobre igualdade de
gênero na moda (Maceira et al 2019).
“Se tentar alcançar essa sociedade é
uma utopia, não importa: avançar em
sua direção não é utópico, é opção
ética. Se as utopias não se alcançam
nunca porque sempre haverá outra
mais distante, não importa:
caminhemos na sua direção.”
Augusto Boal (2009)
Referências bibliográficas
AMSTEL, Frederick Marinus Constant. Expansive design: Designing with contradictions.
University of Twente, 2015.
BARBIERI, Francesco; CAMACHO-COLLADOS, Jose. How gender and skin tone modifiers
affect emoji semantics in twitter. In: Proceedings of the Seventh Joint Conference on
Lexical and Computational Semantics; 2018 Jun 5-6; New Orleans, LA, 2018.
BOAL, Augusto. A estética do oprimido. Rio de Janeiro: Garamond, 2009.
BOURDIEU, Pierre. A distinção. São Paulo: Edusp, 2007.
FREIRE, P. Pedagogy of the Oppressed (London: Penguin). 1969.
GONZATTO, Rodrigo Freese et al. Usuários e produção da existência: contribuições de
Álvaro Vieira Pinto e Paulo Freire à interação humano-computador. 2018.
GONZATTO, Rodrigo Freese; VAN AMSTEL, Frederick. Designing oppressive and
libertarian interactions with the conscious body. In: Proceedings of the XVI Brazilian
Symposium on Human Factors in Computing Systems. ACM, 2017. p. 22.
LAUREL, Brenda. Computers as theatre. Addison-Wesley, 2014.
LÖWGREN, Jonas. Toward an articulation of interaction esthetics. New Review of
Hypermedia and Multimedia, v. 15, n. 2, p. 129-146, 2009.
Obrigado!
Frederick van Amstel @usabilidoido
DADIN - UTFPR
www.usabilidoido.com.br

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

O computador como interface humano-humana
O computador como interface humano-humanaO computador como interface humano-humana
O computador como interface humano-humanaUTFPR
 
Aprendendo Design Participativo com Crianças
Aprendendo Design Participativo com CriançasAprendendo Design Participativo com Crianças
Aprendendo Design Participativo com CriançasUTFPR
 
Pensando (e fazendo) software com design thinking
Pensando (e fazendo) software com design thinkingPensando (e fazendo) software com design thinking
Pensando (e fazendo) software com design thinkingUTFPR
 
Pesquisa de ExU no mercado e na academia
Pesquisa de ExU  no mercado e na academiaPesquisa de ExU  no mercado e na academia
Pesquisa de ExU no mercado e na academiaUTFPR
 
Comunicação e a cultura no cotidiano
Comunicação e a cultura no cotidianoComunicação e a cultura no cotidiano
Comunicação e a cultura no cotidianoEliete Correia Santos
 

Mais procurados (6)

O computador como interface humano-humana
O computador como interface humano-humanaO computador como interface humano-humana
O computador como interface humano-humana
 
Aprendendo Design Participativo com Crianças
Aprendendo Design Participativo com CriançasAprendendo Design Participativo com Crianças
Aprendendo Design Participativo com Crianças
 
Pensando (e fazendo) software com design thinking
Pensando (e fazendo) software com design thinkingPensando (e fazendo) software com design thinking
Pensando (e fazendo) software com design thinking
 
Pesquisa de ExU no mercado e na academia
Pesquisa de ExU  no mercado e na academiaPesquisa de ExU  no mercado e na academia
Pesquisa de ExU no mercado e na academia
 
Cidade: Meio, Mídia e Mediação
Cidade: Meio, Mídia e MediaçãoCidade: Meio, Mídia e Mediação
Cidade: Meio, Mídia e Mediação
 
Comunicação e a cultura no cotidiano
Comunicação e a cultura no cotidianoComunicação e a cultura no cotidiano
Comunicação e a cultura no cotidiano
 

Semelhante a Teatro do Oprimido no Design de Interação

Ética Latino-Americana no Design de Serviços
Ética Latino-Americana no Design de ServiçosÉtica Latino-Americana no Design de Serviços
Ética Latino-Americana no Design de ServiçosUTFPR
 
Estética do Oprimido no Design de Experiências
Estética do Oprimido no Design de ExperiênciasEstética do Oprimido no Design de Experiências
Estética do Oprimido no Design de ExperiênciasUTFPR
 
Teatro do Oprimido para Corporificar Contradições de Ciência, Tecnologia e So...
Teatro do Oprimido para Corporificar Contradições de Ciência, Tecnologia e So...Teatro do Oprimido para Corporificar Contradições de Ciência, Tecnologia e So...
Teatro do Oprimido para Corporificar Contradições de Ciência, Tecnologia e So...UTFPR
 
Estética da Interação Opressiva
Estética da Interação OpressivaEstética da Interação Opressiva
Estética da Interação OpressivaUTFPR
 
Teatro+do+oprimido
Teatro+do+oprimidoTeatro+do+oprimido
Teatro+do+oprimidoDenise Neiva
 
Acessibilidade 
e Corpo Consciente
Acessibilidade 
e Corpo ConscienteAcessibilidade 
e Corpo Consciente
Acessibilidade 
e Corpo ConscienteUTFPR
 
Design Ontológico Crítico
Design Ontológico CríticoDesign Ontológico Crítico
Design Ontológico CríticoUTFPR
 
Movimentos da Consciência Crítica na Educação em Design
Movimentos da Consciência Crítica na Educação em DesignMovimentos da Consciência Crítica na Educação em Design
Movimentos da Consciência Crítica na Educação em DesignUTFPR
 
Fundamentos Existenciais da Pesquisa em Design
Fundamentos Existenciais da Pesquisa em DesignFundamentos Existenciais da Pesquisa em Design
Fundamentos Existenciais da Pesquisa em DesignUTFPR
 
Impacto das redes socias
Impacto das redes sociasImpacto das redes socias
Impacto das redes sociasRobson Santos
 
Design participativo e a coisa pública
Design participativo e a coisa públicaDesign participativo e a coisa pública
Design participativo e a coisa públicaUTFPR
 
Nacionalismo autêntico na Pesquisa em Design
Nacionalismo autêntico na Pesquisa em DesignNacionalismo autêntico na Pesquisa em Design
Nacionalismo autêntico na Pesquisa em DesignUTFPR
 
Atividades culturais i resumo filme cena nua
Atividades culturais i resumo filme cena nuaAtividades culturais i resumo filme cena nua
Atividades culturais i resumo filme cena nuaImobiliária Piratininga
 
Comunicação de massa e indústria cultural
Comunicação de massa e indústria culturalComunicação de massa e indústria cultural
Comunicação de massa e indústria culturalVanessa Souza Pereira
 
O que pode um corpo? Instalações interativas e experiências possíveis no cená...
O que pode um corpo? Instalações interativas e experiências possíveis no cená...O que pode um corpo? Instalações interativas e experiências possíveis no cená...
O que pode um corpo? Instalações interativas e experiências possíveis no cená...Fernanda Gomes
 

Semelhante a Teatro do Oprimido no Design de Interação (20)

Ética Latino-Americana no Design de Serviços
Ética Latino-Americana no Design de ServiçosÉtica Latino-Americana no Design de Serviços
Ética Latino-Americana no Design de Serviços
 
Estética do Oprimido no Design de Experiências
Estética do Oprimido no Design de ExperiênciasEstética do Oprimido no Design de Experiências
Estética do Oprimido no Design de Experiências
 
Teatro do Oprimido para Corporificar Contradições de Ciência, Tecnologia e So...
Teatro do Oprimido para Corporificar Contradições de Ciência, Tecnologia e So...Teatro do Oprimido para Corporificar Contradições de Ciência, Tecnologia e So...
Teatro do Oprimido para Corporificar Contradições de Ciência, Tecnologia e So...
 
Estética da Interação Opressiva
Estética da Interação OpressivaEstética da Interação Opressiva
Estética da Interação Opressiva
 
Teatro do Oprimido
Teatro do OprimidoTeatro do Oprimido
Teatro do Oprimido
 
Teatro+do+oprimido
Teatro+do+oprimidoTeatro+do+oprimido
Teatro+do+oprimido
 
Acessibilidade 
e Corpo Consciente
Acessibilidade 
e Corpo ConscienteAcessibilidade 
e Corpo Consciente
Acessibilidade 
e Corpo Consciente
 
Design Ontológico Crítico
Design Ontológico CríticoDesign Ontológico Crítico
Design Ontológico Crítico
 
Movimentos da Consciência Crítica na Educação em Design
Movimentos da Consciência Crítica na Educação em DesignMovimentos da Consciência Crítica na Educação em Design
Movimentos da Consciência Crítica na Educação em Design
 
Fundamentos Existenciais da Pesquisa em Design
Fundamentos Existenciais da Pesquisa em DesignFundamentos Existenciais da Pesquisa em Design
Fundamentos Existenciais da Pesquisa em Design
 
Impacto das redes socias
Impacto das redes sociasImpacto das redes socias
Impacto das redes socias
 
Jean Baudrillard
Jean BaudrillardJean Baudrillard
Jean Baudrillard
 
Design participativo e a coisa pública
Design participativo e a coisa públicaDesign participativo e a coisa pública
Design participativo e a coisa pública
 
Nacionalismo autêntico na Pesquisa em Design
Nacionalismo autêntico na Pesquisa em DesignNacionalismo autêntico na Pesquisa em Design
Nacionalismo autêntico na Pesquisa em Design
 
Teatro do oprimido.pdf
Teatro do oprimido.pdfTeatro do oprimido.pdf
Teatro do oprimido.pdf
 
Artigo 05
Artigo 05Artigo 05
Artigo 05
 
Atividades culturais i resumo filme cena nua
Atividades culturais i resumo filme cena nuaAtividades culturais i resumo filme cena nua
Atividades culturais i resumo filme cena nua
 
Comunicação de massa e indústria cultural
Comunicação de massa e indústria culturalComunicação de massa e indústria cultural
Comunicação de massa e indústria cultural
 
A cidadania floresce nos espaços públicos
A cidadania floresce nos espaços públicosA cidadania floresce nos espaços públicos
A cidadania floresce nos espaços públicos
 
O que pode um corpo? Instalações interativas e experiências possíveis no cená...
O que pode um corpo? Instalações interativas e experiências possíveis no cená...O que pode um corpo? Instalações interativas e experiências possíveis no cená...
O que pode um corpo? Instalações interativas e experiências possíveis no cená...
 

Mais de UTFPR

Cascading oppression in design
Cascading oppression in designCascading oppression in design
Cascading oppression in designUTFPR
 
Inteligência artificial e o trabalho de design
Inteligência artificial e o trabalho de designInteligência artificial e o trabalho de design
Inteligência artificial e o trabalho de designUTFPR
 
Expanding the design object
Expanding the design objectExpanding the design object
Expanding the design objectUTFPR
 
Creating possibilities for service design innovation
Creating possibilities for service design innovationCreating possibilities for service design innovation
Creating possibilities for service design innovationUTFPR
 
Contradiction-driven design
Contradiction-driven designContradiction-driven design
Contradiction-driven designUTFPR
 
Design expansivo: pensar o possível para fazer o impossível
Design expansivo: pensar o possível para fazer o impossívelDesign expansivo: pensar o possível para fazer o impossível
Design expansivo: pensar o possível para fazer o impossívelUTFPR
 
Metacriatividade: criatividade sobre criatividade
Metacriatividade: criatividade sobre criatividadeMetacriatividade: criatividade sobre criatividade
Metacriatividade: criatividade sobre criatividadeUTFPR
 
Gestão do conhecimento na pesquisa de experiências
Gestão do conhecimento na pesquisa de experiênciasGestão do conhecimento na pesquisa de experiências
Gestão do conhecimento na pesquisa de experiênciasUTFPR
 
Jogos Surrealistas e Inteligência Artificial
Jogos Surrealistas e Inteligência ArtificialJogos Surrealistas e Inteligência Artificial
Jogos Surrealistas e Inteligência ArtificialUTFPR
 
El hacer como quehacer: notas para un diseño libre
El hacer como quehacer: notas para un diseño libreEl hacer como quehacer: notas para un diseño libre
El hacer como quehacer: notas para un diseño libreUTFPR
 
Expressando a posicionalidade do cria-corpo
Expressando a posicionalidade do cria-corpoExpressando a posicionalidade do cria-corpo
Expressando a posicionalidade do cria-corpoUTFPR
 
Pensamento visual expansivo
Pensamento visual expansivoPensamento visual expansivo
Pensamento visual expansivoUTFPR
 
O segredo da criatividade no design
O segredo da criatividade no designO segredo da criatividade no design
O segredo da criatividade no designUTFPR
 
Por que pesquisar e não somente fazer design?
Por que pesquisar e não somente fazer design?Por que pesquisar e não somente fazer design?
Por que pesquisar e não somente fazer design?UTFPR
 
Making work visible in the theater of service design
Making work visible in the theater of service designMaking work visible in the theater of service design
Making work visible in the theater of service designUTFPR
 
Can designers change systemic oppression?
Can designers change systemic oppression?Can designers change systemic oppression?
Can designers change systemic oppression?UTFPR
 
Design contra opressão
Design contra opressãoDesign contra opressão
Design contra opressãoUTFPR
 
O papel da teoria na pesquisa de experiências
O papel da teoria na pesquisa de experiênciasO papel da teoria na pesquisa de experiências
O papel da teoria na pesquisa de experiênciasUTFPR
 
Diseño y la colonialidad del hacer
Diseño y la colonialidad del hacerDiseño y la colonialidad del hacer
Diseño y la colonialidad del hacerUTFPR
 
Problematizando a experiência do usuário (ExU)
Problematizando a experiência do usuário (ExU)Problematizando a experiência do usuário (ExU)
Problematizando a experiência do usuário (ExU)UTFPR
 

Mais de UTFPR (20)

Cascading oppression in design
Cascading oppression in designCascading oppression in design
Cascading oppression in design
 
Inteligência artificial e o trabalho de design
Inteligência artificial e o trabalho de designInteligência artificial e o trabalho de design
Inteligência artificial e o trabalho de design
 
Expanding the design object
Expanding the design objectExpanding the design object
Expanding the design object
 
Creating possibilities for service design innovation
Creating possibilities for service design innovationCreating possibilities for service design innovation
Creating possibilities for service design innovation
 
Contradiction-driven design
Contradiction-driven designContradiction-driven design
Contradiction-driven design
 
Design expansivo: pensar o possível para fazer o impossível
Design expansivo: pensar o possível para fazer o impossívelDesign expansivo: pensar o possível para fazer o impossível
Design expansivo: pensar o possível para fazer o impossível
 
Metacriatividade: criatividade sobre criatividade
Metacriatividade: criatividade sobre criatividadeMetacriatividade: criatividade sobre criatividade
Metacriatividade: criatividade sobre criatividade
 
Gestão do conhecimento na pesquisa de experiências
Gestão do conhecimento na pesquisa de experiênciasGestão do conhecimento na pesquisa de experiências
Gestão do conhecimento na pesquisa de experiências
 
Jogos Surrealistas e Inteligência Artificial
Jogos Surrealistas e Inteligência ArtificialJogos Surrealistas e Inteligência Artificial
Jogos Surrealistas e Inteligência Artificial
 
El hacer como quehacer: notas para un diseño libre
El hacer como quehacer: notas para un diseño libreEl hacer como quehacer: notas para un diseño libre
El hacer como quehacer: notas para un diseño libre
 
Expressando a posicionalidade do cria-corpo
Expressando a posicionalidade do cria-corpoExpressando a posicionalidade do cria-corpo
Expressando a posicionalidade do cria-corpo
 
Pensamento visual expansivo
Pensamento visual expansivoPensamento visual expansivo
Pensamento visual expansivo
 
O segredo da criatividade no design
O segredo da criatividade no designO segredo da criatividade no design
O segredo da criatividade no design
 
Por que pesquisar e não somente fazer design?
Por que pesquisar e não somente fazer design?Por que pesquisar e não somente fazer design?
Por que pesquisar e não somente fazer design?
 
Making work visible in the theater of service design
Making work visible in the theater of service designMaking work visible in the theater of service design
Making work visible in the theater of service design
 
Can designers change systemic oppression?
Can designers change systemic oppression?Can designers change systemic oppression?
Can designers change systemic oppression?
 
Design contra opressão
Design contra opressãoDesign contra opressão
Design contra opressão
 
O papel da teoria na pesquisa de experiências
O papel da teoria na pesquisa de experiênciasO papel da teoria na pesquisa de experiências
O papel da teoria na pesquisa de experiências
 
Diseño y la colonialidad del hacer
Diseño y la colonialidad del hacerDiseño y la colonialidad del hacer
Diseño y la colonialidad del hacer
 
Problematizando a experiência do usuário (ExU)
Problematizando a experiência do usuário (ExU)Problematizando a experiência do usuário (ExU)
Problematizando a experiência do usuário (ExU)
 

Último

GESTÃO FINANceiraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
GESTÃO FINANceiraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaGESTÃO FINANceiraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
GESTÃO FINANceiraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaayasminlarissa371
 
Simulado Enem Bernoulli-Primeiro dia.pdf
Simulado Enem Bernoulli-Primeiro dia.pdfSimulado Enem Bernoulli-Primeiro dia.pdf
Simulado Enem Bernoulli-Primeiro dia.pdfAnnaCarolina242437
 
Antonio Pereira_Vale+comunidade_set a dez_2023.pdf
Antonio Pereira_Vale+comunidade_set a dez_2023.pdfAntonio Pereira_Vale+comunidade_set a dez_2023.pdf
Antonio Pereira_Vale+comunidade_set a dez_2023.pdfAnnaCarolina242437
 
I.2 Meios de Proteção das culturass.pptx
I.2 Meios de Proteção das culturass.pptxI.2 Meios de Proteção das culturass.pptx
I.2 Meios de Proteção das culturass.pptxJudite Silva
 
Exame De Suficiencia Para Obtencao Do Titulo De Especialista Em Medicina De F...
Exame De Suficiencia Para Obtencao Do Titulo De Especialista Em Medicina De F...Exame De Suficiencia Para Obtencao Do Titulo De Especialista Em Medicina De F...
Exame De Suficiencia Para Obtencao Do Titulo De Especialista Em Medicina De F...AnnaCarolina242437
 
I.1 Boas Práticas fitossanitarias.pptxCC
I.1 Boas Práticas fitossanitarias.pptxCCI.1 Boas Práticas fitossanitarias.pptxCC
I.1 Boas Práticas fitossanitarias.pptxCCJudite Silva
 
AVALIA_CHUM_EFI_5 ANO_AV_2SEMESTRE_2023.pdf
AVALIA_CHUM_EFI_5 ANO_AV_2SEMESTRE_2023.pdfAVALIA_CHUM_EFI_5 ANO_AV_2SEMESTRE_2023.pdf
AVALIA_CHUM_EFI_5 ANO_AV_2SEMESTRE_2023.pdfAnnaCarolina242437
 
MARANATA - 19_04_2024.pptx | Maranata 2024
MARANATA - 19_04_2024.pptx | Maranata 2024MARANATA - 19_04_2024.pptx | Maranata 2024
MARANATA - 19_04_2024.pptx | Maranata 2024CarolTelles6
 
Simulado Bernoulli Enem_2-Primeiro dia.pdf
Simulado Bernoulli Enem_2-Primeiro dia.pdfSimulado Bernoulli Enem_2-Primeiro dia.pdf
Simulado Bernoulli Enem_2-Primeiro dia.pdfAnnaCarolina242437
 

Último (9)

GESTÃO FINANceiraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
GESTÃO FINANceiraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaGESTÃO FINANceiraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
GESTÃO FINANceiraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
 
Simulado Enem Bernoulli-Primeiro dia.pdf
Simulado Enem Bernoulli-Primeiro dia.pdfSimulado Enem Bernoulli-Primeiro dia.pdf
Simulado Enem Bernoulli-Primeiro dia.pdf
 
Antonio Pereira_Vale+comunidade_set a dez_2023.pdf
Antonio Pereira_Vale+comunidade_set a dez_2023.pdfAntonio Pereira_Vale+comunidade_set a dez_2023.pdf
Antonio Pereira_Vale+comunidade_set a dez_2023.pdf
 
I.2 Meios de Proteção das culturass.pptx
I.2 Meios de Proteção das culturass.pptxI.2 Meios de Proteção das culturass.pptx
I.2 Meios de Proteção das culturass.pptx
 
Exame De Suficiencia Para Obtencao Do Titulo De Especialista Em Medicina De F...
Exame De Suficiencia Para Obtencao Do Titulo De Especialista Em Medicina De F...Exame De Suficiencia Para Obtencao Do Titulo De Especialista Em Medicina De F...
Exame De Suficiencia Para Obtencao Do Titulo De Especialista Em Medicina De F...
 
I.1 Boas Práticas fitossanitarias.pptxCC
I.1 Boas Práticas fitossanitarias.pptxCCI.1 Boas Práticas fitossanitarias.pptxCC
I.1 Boas Práticas fitossanitarias.pptxCC
 
AVALIA_CHUM_EFI_5 ANO_AV_2SEMESTRE_2023.pdf
AVALIA_CHUM_EFI_5 ANO_AV_2SEMESTRE_2023.pdfAVALIA_CHUM_EFI_5 ANO_AV_2SEMESTRE_2023.pdf
AVALIA_CHUM_EFI_5 ANO_AV_2SEMESTRE_2023.pdf
 
MARANATA - 19_04_2024.pptx | Maranata 2024
MARANATA - 19_04_2024.pptx | Maranata 2024MARANATA - 19_04_2024.pptx | Maranata 2024
MARANATA - 19_04_2024.pptx | Maranata 2024
 
Simulado Bernoulli Enem_2-Primeiro dia.pdf
Simulado Bernoulli Enem_2-Primeiro dia.pdfSimulado Bernoulli Enem_2-Primeiro dia.pdf
Simulado Bernoulli Enem_2-Primeiro dia.pdf
 

Teatro do Oprimido no Design de Interação

  • 1. Teatro do Oprimido no Design de Interação Frederick van Amstel @usabilidoido DADIN - UTFPR www.usabilidoido.com.br
  • 2. Design de Interação herdou a preocupação com a estética formal e funcional do Design de Produto e Gráfico.
  • 3. Existe, porém, um novo tipo específico de estética no design de interação que tem relação com o tempo (Löwgren, 2009).
  • 4. É uma estética que, como o teatro, depende de uma performance emergente (Van Amstel, 2015).
  • 5. Os designers de interação criam roteiros com algumas ações possíveis e outras impossíveis (Laurel, 2014).
  • 6. Porém, nesse tipo de performance, o ator não é obrigado a seguir o roteiro.
  • 7. Os atores também podem criar seus próprios roteiros e, consequentemente, estéticas da interação.
  • 8. Por traz de toda estética, há uma ética implícita, ou seja, um modo de viver em sociedade.
  • 9. Animojis permitem expressar emoções para outras pessoas sem mostrar o rosto.
  • 10. Esse tipo de interação já existia há séculos, por exemplo, no carnaval de Veneza.
  • 11. O gosto por certas interações reflete a moral do grupo social.
  • 12. O uso de certos emojis está correlacionado com identidades de gênero e racial (Barbieri e Camacho-Collados, 2018).
  • 13. A moral escondida atrás do gosto faz a ética parecer uma questão meramente individual.
  • 14. Escolhas individualizadas geram exclusões coletivas de pessoas negras, asiáticas, LGBT e outros grupos oprimidos.
  • 15. A estética da interação pode, portanto, esconder, reafirmar e manter opressões entre grupos sociais.
  • 17. Quando uma pessoa sente que interage de maneira “feia”, é porque ela faz parte de um grupo desprivilegiado e/ou porque seus colegas fazem parte de um grupo privilegiado.
  • 18. Exemplo: a interação “feia" com uma balança eletrônica que despertou a fúria de usuários do Youtube.
  • 19. A estética da interação pode ser considerada, neste caso, uma estética do opressor.
  • 20. A estética do opressor persuade os oprimidos a fazerem o que ele não querem fazer através de dark patterns.
  • 21. A estética do opressor faz os oprimidos se sentirem desconfortáveis com a imposição de padrões de beleza.
  • 22. A estética do opressor faz os oprimidos se sentirem culpados pela relação de opressão…
  • 23. …porque a opressão é só uma questão de opinião.
  • 24. A estética do opressor tenta evitar que o oprimido pense sobre a relação de opressão.
  • 25. Usuarismo é uma opressão que reduz pessoas a meros usuários, sem história, sem corpo, sem voz e sem direitos, mas com muitas necessidades que podem ser supridas pela tecnologia.
  • 26. cidadão > usuário de serviço público eleitor > usuário de redes sociais trabalhador > usuário de plataforma estudante > usuário de serviço educacional paciente > usuário de serviço de saúde deficiente > usuário de tecnologia assistiva imigrante > usuário de aplicativo de tradução mulher > usuário de aplicativo menstrual gay > usuário de sistema de namoro negro > usuário de transporte público pobre > usuário de tecnologias de baixo custo
  • 27. “Usuários […] representa um grupo oprimido […] que se encontram alienados dos meios, técnicas, condições e saberes necessários para a produção, para si, de suas próprias existências.” Rodrigo Gonzatto (2018)
  • 28. Usuário é tratado ora como parte de um sistema, ora como parte de um ser humano, mas raramente como um corpo inteiro.
  • 29. O corpo inteiro é normalmente incluído como objeto e não como sujeito do processo de design (Gonzatto e Van Amstel, 2017).
  • 30. A estética do oprimido é uma proposta que reconhece qualquer corpo humano como sujeito criador de arte (Boal, 2009).
  • 31. A beleza na estética do oprimido surge da verdade que ela exprime, incluindo suas contradições (CTO).
  • 32. “No teatro, tudo é verdade. Até a mentira.” Augusto Boal
  • 33. Para que a estética da interação seja uma estética do oprimido, é preciso reconhecer e incluir os oprimidos na produção de interações.
  • 34. UX para Minas Pretas capacita e criar oportunidades para mulheres negras na profissão de design.
  • 35. Pedagogias Críticas permitem formar designers com consciência crítica, algo extremamente necessário (ENADE 2018).
  • 36. A Caminhada dos Privilégios Digitais é uma maneira de conscientizar estudantes de seus privilégios.
  • 37. Design para a Inovação Social é uma maneira de estudantes compartilharem seus privilégios (Rafaela Eleutério, 2019).
  • 38. Design Livre é uma filosofia que combate o usuarismo, legitimando o projeto feito pelo uso.
  • 39. Manifesto Design Dissenso (2019) é uma reflexão crítica dos estudantes de Design da UTFPR sobre a profissão.
  • 40. Teatro do Oprimido • Desenvolvido no Teatro Arena entre os anos 1960 e 1970 • Ao invés de representar peças clássicas que nada tinham a ver com o contexto brasileiro, a proposta era representar dramas cotidianos que a população oprimida vivia • A ditadura brasileira perseguiu, prendeu e torturou Augusto Boal, seu principal criador • Boal foi exilado em 1971 e retornou ao Brasil em 1984 para fundar o Centro de Teatro do Oprimido
  • 41. Meu Caro Amigo (1976) é uma carta musica enviada por Chico Buarque a Augusto Boal durante o exílio.
  • 42. O Teatro do Oprimido se tornou um conjunto de técnicas para organizar ações sociais concretas e continuadas.
  • 43. Teatro do Oprimido Tecnológico desenvolve perspectivas críticas sobre o uso da tecnologia no cotidiano. Anunciante Feed com notícias emocionantes Usuário frustrado
  • 44. Teatro Projetual é uma nova técnica de Teatro do Oprimido que usa o corpo inteiro para projetar tecnologias libertárias.
  • 45. Escrotiã é um projeto de Design Prospectivo sobre igualdade de gênero na moda (Maceira et al 2019).
  • 46. “Se tentar alcançar essa sociedade é uma utopia, não importa: avançar em sua direção não é utópico, é opção ética. Se as utopias não se alcançam nunca porque sempre haverá outra mais distante, não importa: caminhemos na sua direção.” Augusto Boal (2009)
  • 47. Referências bibliográficas AMSTEL, Frederick Marinus Constant. Expansive design: Designing with contradictions. University of Twente, 2015. BARBIERI, Francesco; CAMACHO-COLLADOS, Jose. How gender and skin tone modifiers affect emoji semantics in twitter. In: Proceedings of the Seventh Joint Conference on Lexical and Computational Semantics; 2018 Jun 5-6; New Orleans, LA, 2018. BOAL, Augusto. A estética do oprimido. Rio de Janeiro: Garamond, 2009. BOURDIEU, Pierre. A distinção. São Paulo: Edusp, 2007. FREIRE, P. Pedagogy of the Oppressed (London: Penguin). 1969. GONZATTO, Rodrigo Freese et al. Usuários e produção da existência: contribuições de Álvaro Vieira Pinto e Paulo Freire à interação humano-computador. 2018. GONZATTO, Rodrigo Freese; VAN AMSTEL, Frederick. Designing oppressive and libertarian interactions with the conscious body. In: Proceedings of the XVI Brazilian Symposium on Human Factors in Computing Systems. ACM, 2017. p. 22. LAUREL, Brenda. Computers as theatre. Addison-Wesley, 2014. LÖWGREN, Jonas. Toward an articulation of interaction esthetics. New Review of Hypermedia and Multimedia, v. 15, n. 2, p. 129-146, 2009.
  • 48. Obrigado! Frederick van Amstel @usabilidoido DADIN - UTFPR www.usabilidoido.com.br