O documento discute como a estética da interação pode esconder e manter opressões entre grupos sociais. Propõe que a estética da interação passe a ser uma "estética do oprimido" que reconheça os oprimidos como sujeitos criadores, incluindo suas experiências e necessidades no design. Aponta exemplos de iniciativas que buscam promover a equidade e consciência crítica no design, como o Teatro do Oprimido e o Design para Inovação Social.
17. Quando uma pessoa sente que interage de maneira
“feia”, é porque ela faz parte de um grupo
desprivilegiado e/ou porque seus colegas fazem
parte de um grupo privilegiado.
18. Exemplo: a interação “feia" com uma balança eletrônica
que despertou a fúria de usuários do Youtube.
19. A estética da interação pode
ser considerada, neste caso,
uma estética do opressor.
20. A estética do opressor persuade os oprimidos a fazerem o que
ele não querem fazer através de dark patterns.
21. A estética do opressor faz os oprimidos se sentirem
desconfortáveis com a imposição de padrões de beleza.
22. A estética do opressor faz os oprimidos se sentirem culpados
pela relação de opressão…
24. A estética do opressor tenta evitar que o oprimido pense sobre
a relação de opressão.
25. Usuarismo é uma opressão que
reduz pessoas a meros usuários,
sem história, sem corpo, sem voz
e sem direitos, mas com muitas
necessidades que podem ser
supridas pela tecnologia.
26. cidadão > usuário de serviço público
eleitor > usuário de redes sociais
trabalhador > usuário de plataforma
estudante > usuário de serviço educacional
paciente > usuário de serviço de saúde
deficiente > usuário de tecnologia assistiva
imigrante > usuário de aplicativo de tradução
mulher > usuário de aplicativo menstrual
gay > usuário de sistema de namoro
negro > usuário de transporte público
pobre > usuário de tecnologias de baixo custo
27. “Usuários […] representa um grupo
oprimido […] que se encontram
alienados dos meios, técnicas, condições
e saberes necessários para a produção,
para si, de suas próprias existências.”
Rodrigo Gonzatto (2018)
28. Usuário é tratado ora como parte de um sistema, ora como
parte de um ser humano, mas raramente como um corpo inteiro.
29. O corpo inteiro é normalmente incluído como objeto e não como
sujeito do processo de design (Gonzatto e Van Amstel, 2017).
30. A estética do oprimido é uma proposta que reconhece qualquer
corpo humano como sujeito criador de arte (Boal, 2009).
31. A beleza na estética do oprimido surge da verdade que ela
exprime, incluindo suas contradições (CTO).
36. A Caminhada dos Privilégios Digitais é uma maneira de
conscientizar estudantes de seus privilégios.
37. Design para a Inovação Social é uma maneira de estudantes
compartilharem seus privilégios (Rafaela Eleutério, 2019).
38. Design Livre é uma filosofia que combate o usuarismo,
legitimando o projeto feito pelo uso.
39. Manifesto Design Dissenso (2019) é uma reflexão crítica dos
estudantes de Design da UTFPR sobre a profissão.
40. Teatro do Oprimido
• Desenvolvido no Teatro Arena entre os anos 1960
e 1970
• Ao invés de representar peças clássicas que nada
tinham a ver com o contexto brasileiro, a proposta
era representar dramas cotidianos que a população
oprimida vivia
• A ditadura brasileira perseguiu, prendeu e torturou
Augusto Boal, seu principal criador
• Boal foi exilado em 1971 e retornou ao Brasil em
1984 para fundar o Centro de Teatro do Oprimido
41. Meu Caro Amigo (1976) é uma carta musica enviada por Chico
Buarque a Augusto Boal durante o exílio.
42. O Teatro do Oprimido se tornou um conjunto de técnicas para
organizar ações sociais concretas e continuadas.
43. Teatro do Oprimido Tecnológico desenvolve perspectivas críticas
sobre o uso da tecnologia no cotidiano.
Anunciante
Feed com notícias
emocionantes
Usuário frustrado
44. Teatro Projetual é uma nova técnica de Teatro do Oprimido que
usa o corpo inteiro para projetar tecnologias libertárias.
45. Escrotiã é um projeto de Design Prospectivo sobre igualdade de
gênero na moda (Maceira et al 2019).
46. “Se tentar alcançar essa sociedade é
uma utopia, não importa: avançar em
sua direção não é utópico, é opção
ética. Se as utopias não se alcançam
nunca porque sempre haverá outra
mais distante, não importa:
caminhemos na sua direção.”
Augusto Boal (2009)
47. Referências bibliográficas
AMSTEL, Frederick Marinus Constant. Expansive design: Designing with contradictions.
University of Twente, 2015.
BARBIERI, Francesco; CAMACHO-COLLADOS, Jose. How gender and skin tone modifiers
affect emoji semantics in twitter. In: Proceedings of the Seventh Joint Conference on
Lexical and Computational Semantics; 2018 Jun 5-6; New Orleans, LA, 2018.
BOAL, Augusto. A estética do oprimido. Rio de Janeiro: Garamond, 2009.
BOURDIEU, Pierre. A distinção. São Paulo: Edusp, 2007.
FREIRE, P. Pedagogy of the Oppressed (London: Penguin). 1969.
GONZATTO, Rodrigo Freese et al. Usuários e produção da existência: contribuições de
Álvaro Vieira Pinto e Paulo Freire à interação humano-computador. 2018.
GONZATTO, Rodrigo Freese; VAN AMSTEL, Frederick. Designing oppressive and
libertarian interactions with the conscious body. In: Proceedings of the XVI Brazilian
Symposium on Human Factors in Computing Systems. ACM, 2017. p. 22.
LAUREL, Brenda. Computers as theatre. Addison-Wesley, 2014.
LÖWGREN, Jonas. Toward an articulation of interaction esthetics. New Review of
Hypermedia and Multimedia, v. 15, n. 2, p. 129-146, 2009.