Aprecie uma foto-reportagem dedicada às belezas selvagens que nos rodeiam, conheça os guardiões dos animais em Fukushima e reflita sobre alguns dos problemas que levam ao abandono de animais. http://www.mundodosanimais.pt/revista/
5. vagens que nos Passam ao Lado
m que desafia a conhecer alguns dos mais
portugueses, em especial da avifauna na-
dição / Design
edição
, Sara Bastos e Tânia Araújo
undo dos Animais
dosanimais.pt
dos Animais
dos Animais em Fukushima
ns que recusaram ser evacuados após o
ar de Fukushima e, arriscando a própria
ara cuidar dos animais.
de Animais
tões relacionadas com o flagelo da socie-
abandono de animais, em especial durante
como as formas de o prevenir.
NOTA EDITORIAL
Após um longo hiatus, a Revista
Mundo dos Animais voltou. Quem
acompanha o projeto pode constatar
que dedicamos a quase totalidade
do tempo ao nosso site. Fizemos um
redesign, alteramos a estrutura dos
artigos de cima a baixo e apostamos
forte em redor de uma missão única:
inspirar pessoas a cuidar melhor dos
animais.
O papel da Revista no meio dessa
restruturação foi... esperar. Esperar
e perceber se realmente tinha um
papel, se as pessoas sentiam falta
dela, se o Mundo dos Animais sentia
falta dela. A resposta foi positiva em
ambos os casos.
Este tempo de paragem também nos
permitiu refletir sobre o que fizemos
de melhor e de pior nas edições an-
teriores e com isso, efetuar algumas
alterações na publicação que se re-
fletem já neste número: edições mais
pequenas e leves do ponto de vista
do número de artigos, letra maior,
periodicidade menor (passa a ser
mensal, pela primeira vez na histó-
ria desta revista) e uma aposta ainda
maior na área visual. O formato, esse
continuará a ser PDF. Simplesmente
existem coisas que não precisam ser
alteradas.
A Revista Mundo dos Animais voltou.
Desfrute desta edição!
Carlos Gandra
tribuir esta edição por email, twitter, blog
a alterado. Todas as edições podem ser
6.
7. Duas gaivotas-tridáctila
(Rissa tridactyla) numa
escarpa acima do Mar do
Norte perto de Craster em
Northumberland, Inglaterra.
A gaivota-tridáctila é uma
ave que pode ser observada
em Portugal.
Anita Nicholson / Alamy
9. 9EDIÇÃO Nº 25 - MAIO 2015
Uma fêmea de
lutung-prateado
(Trachypithecus
cristatus) com o seu
filhote, nascido há
menos de um mês.
Os bebés destes
primatas nascem
laranjinhas e só
adquirem o padrão
escuro dos adultos entre
os 3 e os 5 meses de
idade. As mães tomam
conta dos filhotes até
aos 18 meses, mas
deixam de mamar por
volta dos 12.
NPL / REX Shutterstock
10. Veterinários e voluntários da I
limpar um pelicano atingido pe
Terça-feira, 19 de Maio, no Es
Pelo menos oitenta mil litros d
da costa do Pacífico.
Chris Carlson / Associated Pre
11. International Bird Rescue tentam
elo derrame de petróleo da passada
stado norte-americano da Califórnia.
de petróleo foram derramados ao longo
ess
12. Um dos quatro bebés de leopardo-nebuloso nascidos no Point
Defiance Zoo and Aquarium, no Estado de Washington, EUA.
Point Defiance Zoo and Aquarium
13. Um bebé gorila de uma subespécie (Gorilla gorilla gorilla) do gorila-
do-ocidente (Gorilla gorilla), nascido no Taronga Zoo.
Mark Kolbe / Getty Images
14.
15. Uma nova espécie de lesma-do-mar (Phyllodesmium
acanthorhinum), selecionada pelo comité internacional de
taxonomistas da ESF para o top 10 das novas espécies de
2015.
Esta lesma de cor e padrão excecionalmente belo pode ser
um “elo perdido” entre as lesmas-do-mar que se alimentam
de hidroides e as que se especializaram em corais. A
espécie mede entre 17 e 28 milímetros e vive nas ilhas
japonesas.
Robert Bolland
16. Patos a caminhar num dos corredores criados especialmente para
eles, à semelhança das ciclovias para as bicicletas. Será que podemos
chamar-lhes patovias?
A iniciativa está a ser realizada nas cidades de Londres, Manchester
e Birmingham e pretende encorajar as pessoas a tomar atenção aos
animais que também utilizam os caminhos. Estes corredores têm
silhuetas de patos pintados no chão para incentivar a partilha do
espaço com os animais.
Getty Images
20. 20 MUNDO DOS ANIMAIS
Bico-de-lacre
(Estrilda astrild)
É uma ave exótica
originária da África
subsariana, introduzida
em Portugal na década de
1970, tendo estabelecido
uma significativa
população selvagem no
país.
21. 21BELEZAS SELVAGENS
S
empre tive uma enorme paixão por animais, sejam domésticos
ou selvagens. Mas até há alguns anos atrás, acreditava que
os magníficos e belíssimos animais que via nos documentá-
rios de vida selvagem existiam apenas em países longínquos.
Foi graças à fotografia que acabei por explorar a vida selvagem que
me rodeia e descobrir que também em terras lusitanas (e em alguns
casos bem perto de minha casa) vivem animais selvagens belíssimos
e que não imaginava ter por perto.
O mesmo se passa certamente com a maioria das pessoas, que con-
vive diariamente com animais de rara beleza e que, pelos hábitos dis-
cretos destes animais ou por distração, mal se apercebe desta ex-
traordinária fauna.
Desafio todos a conhecerem alguns dos mais belos animais que vivem
no nosso país ou que nos visitam sazonalmente e a estarem mais
atentos da próxima vez que passarem por um jardim, às margens de
um rio ou uma floresta perto das vossas casas, porque ficarão agrada-
velmente surpreendidos com as descobertas que poderão fazer!
22.
23. Borboleta-azul (Polyommatus icarus)
A borboleta-azul comum é uma pequena borboleta que
voa de Maio a Setembro e cuja parte superior das asas do
macho apresenta um belo azul brilhante.
24. Doninha (Mustela nivalis)
A doninha é o mais pequeno dos carnívoros da nossa fauna que,
embora difícil de ver, habita em todo o nosso país.
25.
26. 26 MUNDO DOS ANIMAIS
Pica-pau-malhado-grande
(Dendrocopos major)
É uma espécie típica de zonas
florestais que pousa nos troncos
das árvores, onde se alimenta.
28. Abelharuco-comum (Merops apiaster)
O abelharuco-comum é uma ave estival em Portugal,
conferindo um toque exótico ao nosso Verão com sua
plumagem colorida.
29.
30. Guarda-rios (Alcedo atthis)
Muitas vezes observado como um raio azul a sobrevoar
cursos de água, o guarda-rios é uma das aves mais
coloridas da avifauna portuguesa.
31.
32. 32 MUNDO DOS ANIMAIS
Chapim-azul (Parus caeruleus)
Podemos encontrar facilmente este pequeno e colorido chapim
em locais onde existam árvores, inclusivamente em jardins
urbanos.
Dom-fafe (Pyrrhula pyrrhula)
O dom fafe é uma ave discreta e difícil de observar, embora o
macho tenha uma plumagem colorida e vistosa, predominante
de um laranja vivo.
Acompanhe os trabalhos fotográficos da Tânia:
- Website (http://www.taniaaraujo.com/)
- Blog (http://ondeomeuolharseperde.blogspot.pt/)
- Flickr (http://www.flickr.com/photos/taniaraujo11_pj/)
34. 34 MUNDO DOS ANIMAIS
OS GUARDIÕES
DOS ANIMAIS
EM FUKUSHIMA
por Sara Bastos
N
aoto Matsumura e Kei-
go Sakamoto provavel-
mente não se conhe-
cem, mas têm muito em
comum: são os guardiões dos
animais de Fukushima, a pro-
víncia japonesa vítima do maior
acidente nuclear desde Cher-
nobil e onde ninguém quer – ou
pode – viver.
De onde os animais não tiveram
como fugir. Muitos foram dei-
xados para trás acorrentados e
morreram de fome.
Com a missão de salvar o má-
ximo número de animais possí-
vel, Naoto Matsumura, agricul-
tor, recusou ser evacuado da
cidade de Tomioka (situada a
Naoto Matsumura
35. 35EDIÇÃO Nº 25 - MAIO 2015
menos de 20 quilómetros da
central nuclear de Fukushima) e
é agora o único habitante des-
sa cidade fantasma, juntamente
com dezenas de vacas, porcos,
gatos, cães e até um pónei e
duas avestruzes.
Keigo Sakamoto, que trabalha-
va em instituições de apoio a
deficientes mentais, também re-
cusou ser evacuado após o aci-
dente nuclear e permaneceu na
cidade de Naraha, a sul de Fu-
kushima, onde cuida e alimenta
mais de 500 animais abandona-
dos, incluindo os seus 21 cães.
36. 36 MUNDO DOS ANIMAIS
Para além do risco de vida que ambos
enfrentam, ao habitar zonas altamente
radioativas, não têm electricidade ou
água potável e tiveram de improvisar
com painéis solares e geradores para
conseguirem iluminação, refrigeração
dos alimentos, cozinhar e acesso à In-
ternet.
Naoto tem uma página no Facebook e
Keigo conseguiu um pequeno subsídio
estatal para o ajudar na tarefa de cui-
dar dos animais: todas as segundas e
sextas viaja até à cidade de Iwaki onde
se abastece. Para conseguir alimentar
todos os animais necessita de cerca
de uma tonelada de comida por mês.
A maioria dos cães que Keigo alimen-
ta afastaram-se do contacto humano
e ficaram pouco sociáveis. Mas há um
“especial”, a quem Keigo chamou de
Atom (“Átomo” em português), por ter
nascido pouco tempo antes do desas-
tre nuclear.
Quando Naoto recusou ser evacuado
e ficou para trás, fê-lo principalmente
pelos seus animais. Mas cedo se aper-
cebeu que existiam muitos mais ani-
mais a precisar de ajuda, vários deles
fechados e sem acesso a comida ou
água. Centenas de vacas morreram
desta forma.
Keigo Sakamoto fotografado por David Guttenfeld
37. 37EDIÇÃO Nº 25 - MAIO 2015
der / AP / National Geographic
38. 38 MUNDO DOS ANIMAIS
Naoto conta que uma das cenas mais tristes que presenciou foi
de uma vaca, que estava pele e osso, a afastar o seu bezerro que
queria desesperadamente amamentar-se. Atordoado pela fome, o
bezerro afastou-se a chorar e agarrou-se a um pedaço de palha,
como se fosse uma teta da mãe. Morreram os dois.
41. 41
Naoto chegou a salvar um cão que se en-
contrava preso dentro de um celeiro há qua-
se ano e meio. Durante todo esse tempo
alimentou-se da carne apodrecida do gado
que tinha morrido à fome. Sobreviveu, sabe
Deus como, até Naoto o encontrar no Ve-
rão de 2012, como se imagina num estado
lastimoso. Naoto resgatou-o e assim que
o cachorro começou a recuperar, chamou-
-lhe Kiseki (“Milagre” em português).
“Quando fui alimentar os meus cães, os
cães da vizinhança ficaram doidos. Fui ve-
rificar e encontrei-os acorrentados. Toda a
gente foi embora a pensar que iriam voltar
em poucos dias, penso eu. A partir desse
momento comecei a alimentar todos os
cães e gatos. Não podiam esperar, come-
çavam logo a latir quando ouviam a minha
carrinha. Para todo o lado que eu fui havia
algum cão a latir. Como se dissessem ‘te-
nho sede’ ou ‘não temos comida’. Comecei
então as minhas rotinas diárias.”
es
GUARDIÕES DOS ANIMAIS EM FUKUSHIMA
42. 42 MUNDO DOS ANIMAIS
“Não há vizinhos.
Sou o único aqui e
estou para ficar.”
Keigo Sakamoto
Damir Sakoji / Reuters
45. 45EDIÇÃO Nº 25 - MAIO 2015
“Disseram-me que não
devo ficar doente nos
próximos 30 ou 40 anos.
Provavelmente já estarei
morto nessa altura de
qualquer das formas,
então não me podia
importar menos com
isso.”
Naoto Matsumura
46. 46 MUNDO DOS ANIMAIS
O
governo japonês começou a eva-
cuação de todos os residentes
próximos da Central Nuclear de
Fukushima dia 11 de Março de
2011, expandindo a área nos dias seguintes
até 45 quilómetros de distância.
Para acalmar a população, o governo pas-
sou a mensagem de que seria uma evacua-
ção temporária e dentro de dias estariam
de volta. Muitos animais ficaram assim para
trás, com reservas de comida e água que
os donos acreditaram ser suficientes.
Aqueles que se recusaram a deixar os ani-
mais para trás, enfrentaram diversos proble-
mas. As autoridades recusaram-se a alojar
animais até cerca de 3 meses depois, quan-
do criaram um abrigo para o efeito. Muitos
dos refugiados tiveram de esconder os seus
animais dentro de carros e até mesmo ficar
com eles nas viaturas, pois não podiam en-
trar nos abrigos.
49. 49
Grupos de proteção animal começaram
inicialmente a tentar alimentar os animais
que foram deixados para trás, até serem
impedidos de voltarem a aceder aos locais
afetados pela radiação. Ainda assim, con-
seguiram salvar cerca de 1.500 cães e ga-
tos enquanto tiveram acesso.
Após algumas filmagens perturbadoras te-
rem escapado para os media, o governo
japonês proibiu definitivamente qualquer
acesso por partes dos grupos de defesa
animal e chegou mesmo a prender dois
voluntários, Hiroshi e Leo Hoshi, a 28 de
Janeiro de 2012. A família Hoshi, ás suas
custas, já tinha salvo cerca de 200 animais.
Keigo Sakamoto e Naoto Matsumura são
os “desordeiros” que ficaram e os salva-
-vidas de todos os animais que não tiveram
como sair das cidades. São os guardiões
dos animais de Fukushima.
Veja mais fotografias no Mundo dos Animais:
http://www.mundodosanimais.pt/ajuda-animal/guardioes-
animais-fukushima/
GUARDIÕES DOS ANIMAIS EM FUKUSHIMA
50. 50 MUNDO DOS ANIMAIS
ABANDONO
ANIMAIS
DE
COMO AS FÉRIAS E A FALTA DE
PLANEAMENTO DESPOLETAM O
por Carlos Gandra
56. 56 MUNDO DOS ANIMAIS
O
s animais não são
mobília. Não são
brinquedos, objetos
descartáveis ou de-
coração velha. Os animais não
se podem deitar fora quando já
não precisamos deles, quan-
do nos estão a incomodar ou
quando se tornam um peso que
não previmos.
Todo o ambiente que rodeia um
animal o afeta emocionalmen-
te (e fisicamente), pelo que é
preciso ter um grande cuida-
do, respeito e consideração por
eles. Pela vida deles.
No entanto acabam abandona-
dos, todos os dias aparecem
novos casos. Em Portugal, fo-
ram abandonados 30 mil ani-
mais só em 2013, um número
que duplicou em cinco anos
(fonte). O Brasil tem mais de 30
milhões de animais abandona-
dos (fonte), com um aumento
de abandonos que chega aos
70% durante as férias (fonte).
Os números são explícitos e
falam por si próprios, mas a
pergunta que fica é… como é
possível abandonar assim os
animais?
No Mundo dos Animais procu-
ramos sempre abordar de uma
forma moderada o conceito de
amigo dos animais. Não faze-
mos comparações, por exem-
plo, o valor de uma vida humana
ao valor da vida de um animal
(e muito menos entramos pela
misantropia).
Mas a ciência tem comprovado
o que o bom senso há muitos
nos dizia através das palavras
de Jeremy Bentham – “Não im-
porta se os animais são inca-
pazes ou não de pensar. O que
importa é que são capazes de
sofrer”.
Neste artigo vamos abordar vá-
rias questões relacionadas com
o abandono, em especial du-
rante as férias que é o período
em que os números disparam
por completo, bem como as for-
mas de o prevenir.
Já ouviu certamente dizer que a
prevenção é o melhor remédio
e neste caso, não é diferente.
O abandono combate-se não
abandonando. Demasiado ób-
vio e mais fácil escrever do que
concretizar, seguramente.
57. 57ABANDONO DE ANIMAIS
Contudo, o planeamento (an-
tes) e a mentalidade correta na
relação com os animais (du-
rante) podem ser a chave que
tanto desejamos encontrar para
resolver este flagelo da nossa
sociedade (depois). Um flagelo
que nos deveria deixar enver-
gonhados enquanto animais
racionais e espécie civilizada.
Temos as armas para o fazer.
NÃO DESCUIDE O
PLANEAMENTO
O
s animais sentem e
sofrem em medidas
muito iguais a nós
próprios: o que lhe
dói a si, também dói a eles e
isso aplica-se tanto a um ponta-
pé (físico), como ao sentimento
da solidão (emocional), como à
agonia da não ter o que comer
(sobrevivência).
Os animais são todos os anos
vistos como um problema quan-
do as famílias planeiam as suas
férias. Os canis ficam sobrelo-
tados e a grande maioria dos
animais que neles são recolhi-
dos acabam eutanasiados em
poucos dias. Morrem.
Embora nem só as férias sirvam
de pretexto para abandonar um
animal, uma larga percentagem
dos abandonos poderia ser evi-
tada com um pouco de cons-
ciencialização e planeamento.
Antes de adotar ou comprar
um animal, pense duas ve-
zes. Ou três.
Antes de decidir adotar ou com-
prar um animal, deve colocar
em cima da mesa, com a sua
família (ou quem mais viva na
mesma casa), todos os cená-
rios possíveis.
Para começar, as questões fi-
nanceiras. Sobretudo nos dias
que correm, com a crises eco-
nómica a preencher as primei-
ras páginas dos jornais, esta
tem de ser uma questão da má-
xima prioridade na hora de de-
cidir avançar para a adoção de
um animal.
Cães e gatos necessitam de ali-
mentação diária e cuidados ve-
terinários imprescindíveis como
a vacinação e desparasitação,
já para não falar de proble-
mas de saúde e acidentes, que
59. 59ABANDONO DE ANIMAIS
surjem sem avisar e cujos trata-
mentos são dispendiosos.
É importante avaliar a estabili-
dade financeira e o impacto no
orçamento que um animal pode
causar. Aquele pensamento co-
mum de onde comem três tam-
bém comem quatro pode reve-
lar-se perigoso.
As férias, como já se viu, devem
merecer uma atenção muito es-
pecial. Não deve deixar esse
assunto para um depois vê-se,
pois é meio caminho andado
para não se ver nada de bom.
Se o seu animal vai ser um fardo
quando quiser fazer as férias,
a atitude mais sensata é não o
comprar nem o adotar. Se quer
mesmo ter um animal, então
pense antecipadamente num
plano para deixar o animal em
boas mãos, ou então escolher
destinos de férias que aceitem
animais e assim levá-lo junto.
Não menos importante, o espa-
ço. Se está a adotar ou comprar
um cachorrinho bebé, tenha a
noção de que ele vai crescer.
Em alguns casos, vai crescer
muito e tornar-se num animal
grande e imponente, incompatí-
vel com a vida um apartamento
por exemplo.
Se adquirir um cão de raça
pura, pode precaver-se esco-
lhendo um cão de raça peque-
na. Se estiver a adotar um cão
sem raça definida e que ainda
não seja adulto, pode crescer
mais do que está à espera. A
verdade é que muitas vezes os
animais são abandonados por
terem ficado grandes demais.
Contacte um responsável ou
voluntário em qualquer asso-
ciação e protetora de animais e
certamente terão casos destes
para lhe contar.
Ter um animal não é um direito,
mas sim um luxo, que exige dis-
ponibilidade financeira, tempo
livre, trabalho, preocupações e
muita, muita responsabilidade.
É um ser vivo que tem direitos
constituídos, que tem sentimen-
tos, que se afeiçoa aos seus
donos. Mas é também um ser
irracional, que não compreende
o porquê de ser feliz durante al-
guns meses e depois ser des-
pejado na rua, sem condições,
sozinhos e praticamente con-
denado.
Ninguém deve comprar ou ado-
tar um animal sem condições
para ficar com ele e dar-lhe os
cuidados básicos, até ao fim da
sua longevidade natural.
60. 60 MUNDO DOS ANIMAIS
E se gosta mesmo de animais
ou pretende ajudar os animais
abandonados, mas não tem
condições para ficar com eles
definitivamente, torne-se volun-
tário numa associação ou ofe-
reça-se como FAT (Família de
Acolhimento Temporário).
A responsabilidade e a noção
do que se pode ter ou não ter,
é muito importante em toda a
nossa vida.
NÃO ABANDONE
OS SEUS ANIMAIS
NAS FÉRIAS
E
não abandone nunca,
evidentemente. O seu
animal não merece fi-
car sozinho à mercê da
(pouca) sorte.
Tendo em conta as diversas
opções disponíveis, a nível de
serviços ou mesmo alguma
criatividade pessoal, não exis-
te qualquer justificação para
abandonar os animais durante
as férias, seja qual for a situa-
ção.
Se prefere deixar o seu animal
ao cuidado de outrem enquanto
vai de férias, existem hotéis e
serviços de pet-sitting que to-
mam conta do seu animal e lhe
proporcionam todos os cuida-
dos necessários. Vamos abor-
dar agora sucintamente estas
soluções.
Pet-sitting: Os pet-sitters são
profissionais que se deslocam
a sua casa para prestar todos
os cuidados que o seu animal
necessitar.
Alimentam os animais, tratam
da higiene, acompanham-nos
61. 61ABANDONO DE ANIMAIS
ao veterinário em caso de ne-
cessidade e, em particular os
cães, podem levá-los aos seus
passeios diários, não quebran-
do assim a rotina que já têm.
Hotéis para animais: Uma so-
lução alternativa aos pet-sitters.
A diferença aqui é que o animal,
em vez de ficar em casa, fica no
hotel, recebendo igualmente to-
dos os cuidados necessários.
Visite os hotéis dedicados a
animais próximos da sua área
de residência e informe-se so-
bre os serviços e condições dos
mesmos: se incluem equipa ve-
terinária, se o espaço tem boas
condições para o animal, entre
outros pormenores que certa-
mente quererá ver assegura-
dos ao seu amigo peludinho.
Familiares, vizinhos e ami-
gos: Esta pode ser a solução
mais económica e não menos
eficaz (dependendo, claro, das
pessoas em causa).
Bhavishya Goel / Flickr
63. 63ABANDONO DE ANIMAIS
Imagine uma situação em que
tanto você como o seu vizinho
têm animais de estimação, e
fazem férias em diferentes da-
tas. O seu vizinho poderia to-
mar conta dos seus animais en-
quanto você e a sua família vão
de férias, retribuindo depois ao
cuidar dos animais dos seu vi-
zinho quando for ele de férias.
Caso o seu vizinho não tenha
animais, pode sempre combi-
nar outro tipo de retribuição.
As vantagens neste caso, para
além de poupança económica,
passam por já conhecer a pes-
soa a quem vai confiar a vida
dos seus animais.
NÃO SE ESQUEÇA QUE ELES
PODEM IR CONSIGO
J
á existem diversos par-
ques de campismo e ho-
téis que permitem aos
donos levar consigo os
seus animais de estimação du-
rante as férias.
Isto abre mais um leque de op-
ções e, as suas férias, não têm
de significar uma separação do
seu melhor amigo, nem sequer
temporária.
No entanto e como sempre,
recomenda-se que a situação
seja bem analisada, de prefe-
rência junto do veterinário dos
seus animais, que saberá me-
lhor que ninguém que ambien-
tes e que condições são as mais
adequadas para cada caso.
A viagem: Se for de viagem
sem sair do país, o médico ve-
terinário irá informá-lo acerca
do melhor acondicionamento e
recomendações para que o ani-
mal não sofra na deslocação.
É importante que se informe
pois diferentes animais têm di-
ferentes necessidades e dife-
rentes meios de transporte exi-
gem diferentes cuidados.
64. 64 MUNDO DOS ANIMAIS
Caso viaje para outro país,
deve ter sempre em atenção as
leis desse mesmo país, que em
alguns casos podem ser drasti-
camente diferentes no que diz
respeito à documentação exigi-
da, vacinação obrigatória e ou-
tros documentos.
Ambiente estranho: É perfei-
tamente natural que o seu ani-
mal, de início, estranhe o novo
ambiente, pois não conhece o
local.
Faça alguns passeios com ele
(no caso de ser um cão), isso
vai ajudar o animal a ambien-
tar-se e ganhar confiança, pois
está junto do dono, a pessoa
neste mundo em quem mais
confia.
Evite deixar o seu animal sozi-
nho num quarto ou numa tenda,
em especial se ele ainda não se
sentir seguro nesse novo am-
biente.
Cristopher Soto López / Flickr
65.
66.
67. Ulf Bodin / Flickr
NÃO
FECHE OS
OLHOS AO
PROBLEMA
É
falsa a ideia de que um animal,
se for abandonado, conse-
gue desenrascar-se. Também
é falsa a ideia de que alguém
vai pegar no animal e levá-lo para sua
casa. Não conte com isso.
Não se pode socorrer da ideia do ins-
tinto selvagem pois se temos cães e
gatos em casa, é precisamente porque
estes foram domesticados. Serem fi-
sicamente parecidos com os seus pa-
rentes selvagens não faz deles animais
selvagens.
69. A escassez de alimento, de
água, de abrigo e de seguran-
ça, deixa os animais com pou-
cas hipóteses de sucesso. Já
para não falar das doenças que
podem contrair nas ruas e da
reprodução, que leva ao nas-
cimento de inúmeros animais
sem teto.
No caso do alimento, é neces-
sário compreender que os ins-
tintos de caça praticamente não
existem nos animais de estima-
ção, sobretudo nos cães, pois
foram habituados a receber a
sua ração pronta e a horas sem
necessidade de a procurar e lu-
tar por ela.
Os inúmeros animais recolhi-
dos nas ruas em estado gra-
ve de subnutrição comprovam
esta ideia. Alguns chegam a
impressionar pelo seu aspeto
físico debilitado, agonizados de
fome, ficando difícil até salvar a
vida do animal. A vida do ani-
mal.
O cruzamento entre os animais
abandonadosnasruaslevatam-
bém ao nascimento de muitos
bebés sem condições mínimas,
que são mais animais sem dono
e sem qualquer tipo de cuida-
dos básicos. Contribuem para o
aumento descontrolado do nú-
mero de animais errantes e o
problema só se agrava.
A própria saúde pública fica em
risco, uma vez que os animais
abandonados não estão (nor-
malmente) vacinados nem des-
parasitados, além de se cru-
zarem e transmitirem doenças
entre si.
E necessário deixar de criar
soluções pontuais para este
ou aquele caso, uma vez que
o problema deve ser resolvido
de raiz: na casa de cada um de
nós.
A partir do momento em que as
pessoas deixam de abandonar,
tudo o que se segue é diferen-
te. É melhor.
Não compre, não adote e não
tenha animais em casa, se
não tiver as condições para
cuidar deles até ao fim da sua
longevidade natural.
Você é a vida dos seus animais.
Leia mais no Mundo dos Animais:
- Guia de Ajuda Animal
- A Dimensão do Abandono de Animais