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Escola de Bonneuil, Lugar de
Vida: relatos de uma
educação terapêutica possível
Aline Sampaio de Oliveira
Francerly Cardoso da Cruz
Simone Aparecida dos Santos Silva
 ESCOLA DE BONNEUIL ESTUDO SOBRE O
TRATAMENTO ESTOURADO DO AUTISMO
 Estudo baseou-se no método clínico e
referencial psicanalítico, a partir de observação
participante durante um estágio realizado na
Escola de Bonneuil. Defende-se a pertinência
desse dispositivo, cujo alicerce principal é o
reconhecimento da criança como sujeito em
devenir.( que irá tornar-se).
 Neste caso, é possível arriscar efeitos
subjetivantes através do imprevisto.
Maud Mannoni
1923-1998
Marcada a uma só vez pela escola
inglesa, de Melanie Klein, Winnicott,
e pelo ensinamento de Jacques
Lacan e de Françoise Dolto, ela foi
também uma militante de esquerda,
anticolonialista.
Suas obras foram traduzidas em todo
o mundo.Grande figura da
psicanálise francesa, conhecida por
sua coragem e por sua intervenção
constante em favor dos
marginalizados, loucos e excluídos.
 Obstinação: Novo olhar sobre a criança doente mental
e seu espaço na sociedade.
 Manonni articulou os ideiais da antipsquiatria aos
ensinamentos de Lacan. Elaborou uma densa crítica ao
modelo de poder psiquiátrico e lugares que acolhem
de forma inadaptada do sofrimento psíquico infantil.
 Obstáculo: Precisou enfrentar várias batalhas e resistir
aos mais diversos obstáculos de ordem prática,
financeira e/ou ideológica.
 Recentemente possibilidade de ser fundida a uma
associação por interesses econômicos do Estado.
 Preferem um final digno para Bonneuil a uma aceitação
tácita.
 * O movimento da anti-psiquiatria foi parte de um
movimento intelectual e profissional bem
amplo, promovido através dos trabalhos de Basaglia,
Michel Foucault na França, R. D. Laing na Grã-
Bretanha, Thomas Szasz e Erving Goffman nos
Estados Unidos.

 Criou em 1969, com Robert Lefort, a Escola
Experimental de Bonneuil.
 Peculiaridade de Bonneuil é o objeto central do
artigo. Busca-se compreender como o estouro
da instituição, com oscilações de estadias e de
profissionais pode contribuir para o
desenvovimento psíquico dessas crianças.
“Até onde podemos sustentar um compromisso
com as obrigações administrativas sem correr o
risco de perder a razão de ser de um trabalho
que só tem sentido se apoiado no desejo de
criação e num contínuo questionamento de si?”
(MANNONI, 1976)
Como pressupostos fundamentais, destacam-se:
 Inclusão social,
 Estouro Institucional
 Antinosografia
 Objetivo maior: A luta contra a exclusão social de
crianças doentes mentais A ideia era inovadora na
época e sua relevância foi reconhecida não só por
profissionais da educação e da saúde mental, mas
também pelo Estado, formando as bases das políticas
públicas atuais de educação inclusiva.
 Termo Escola não foi atrelado ao nome de Bonneuil por
acaso, que ganha forma de Estratégia terapêutica uma
vez que, como todas as outras crianças, as de Bonneuil
também passam suas jornadas diárias na escola.
 Na escola recebem uma instrução escolar cujo nível
varia de acordo com o potencial de cada uma,
provocando nelas um sentimento de integração social.
Além da proposta educativa, Bonneuil oferece também
uma acolhida terapêutica.
 Mannoni considerava a criança portadora de uma
doença mental como a representante de um
aprisionamento psíquico no discurso familiar e,
sobretudo, no fantasma parental. Para libertá-la, era
preciso provocar uma separação física e psíquica, a
partir da qual ela poderia abdicar da identificação
absoluta ao Outro alienante. Para isso, a criança
precisava ser inserida num espaço onde o seu
discurso aparecesse livre dos entraves familiares e
sociais que impediam a loucura de se manifestar. Um
espaço onde a criança possa contar, ela mesma sua
própria história.
 Aceitação incondicional da loucura devia ser colocada
em prática e Mannoni preconizava um duplo trabalho:
1. Reintegrar essas crianças na sociedade, mostrando-
lhes que, para tal desafio, era preciso abrir mão de
um gozo absoluto e aceitar as restrições impostas
pelo grupo social;
2. Pretendia conscientizar a sociedade sobre as
dificuldades dessas crianças, a fim de alcançar uma
melhor aceitação social da doença mental infantil.
Mannoni propunha uma subversão de valores sobre a
loucura, elemento essencial à realização de um
encontro legítimo entre os profissionais e as crianças
de Bonneuil.
 Ideologia antimanicomial e questionou o funcionamento
convencional das instituições de tratamento que se
opunham a qualquer forma de reciclagem:
“Uma instituição é como uma pessoa que se nutre de outras que
estão sob seus cuidados [...] e, em nenhum momento, o sujeito
consegue se separar dela sem correr o risco de “estourar”􏰁􏰁
Uma instituição que se diz diferente é aquela que, num efeito de
balança, toma o estouro em consideração e permite ao sujeito se
situar no mesmo nível da palavra, dando a ele a possibilidade de
se separar, de produzir um corte com a instituição. (MANNONI,
1976, p. 48, tradução das autoras)
 Crítica: São bem recebidas. A abertura aos olhares
externos mantém vivo o espírito ideológico de nocao de
instituição estourada. O termo experimental atrelado ao
termo escola traz essa ideia.
 A instituição foi idealizada como um local de vida. Um
local onde algo a mais pode acontecer no sentido de se
dar espaço ao imprevisto, ao inesperado a partir dos
encontros mundanos, que inscreve marcas na
criança, fazendo-a avançar na sua conquista pelo
desejo. Os espaços de alternâncias funcionam
como cortes ou escansões do discurso, onde o
guia é a própria criança.
 Diante de demandas, a equipe de profissionais mantém o
papel fundamental de transformar necessidade em
desejo. O adulto a quem a criança encontra-se vinculada
a apoiará até que esta possa elaborar novos encontros,
descobrindo outros marcos (pessoas ou lugares) que lhe
transmitam confiança e com os quais ela poderá
estabelecer novos laços. Quando a presença deste adulto
torna-se ausência, a criança descobre que, nesse sistema
de substituições, ela não poderá nunca mais encontrar
outro substituto adequado ao objeto originalmente
perdido.
 Nessa oscilação entre “aqui e ali” é inserido um espaço
significante em que a criança é levada a perder-se para
lhe propiciar a ilusão de renascer aí, sustentando-se
como sujeito pelo jogo de escansão presença-ausência.
(MANNONI, 1973/1977).Acredita-se que é na ocasião de
uma separação bem-sucedida que a criança torna-se
sujeito do seu desejo.
 Espaços de oscilação tem a função de operar separações
e propiciam abertura para o mundo exterior.
 Espaços de de alternâncias funcionam como cortes ou
escansões do discurso, onde o guia é a própria criança.
Caracterizado pelas oscilações frequentes de estadias e
de profissionais, pode contribuir para o desenvolvimento
psíquico dos autistas.
 Entende-se que a instituição deve permanecer como um
lugar de acolhida, onde a criança sabe que pode voltar
sempre que sentir a necessidade de um reconforto. No
entanto, ela deve guardar em mente que é do lado de
fora que acontece o essencial da vida (MANNONI,
1973/1977).
 As diferentes estruturas não são especificadas e nem
obedecem a referenciais psiquiátricos.
 Considera abster-se do diagnóstico e enxergar o
indivíduo em suas potencialidades, colocando em
movimento o que as etiquetas cristalizam no sujeito.
 A psicanálise defende a possibilidade de oferecer a criança
com sofrimento psíquico uma experiência de subjetividade,
de proporcionar a emergência de um sujeito capaz de
interrogar-se sobre o que ele deseja, independente de seus
diagnósticos. Tal pensamento gerou vivas interlocuções com
a antipsiquiatria.
 No entato Manonni constatou a dificuldade de
introduzir a prática psicanalítica por duas razões: 1)o
discurso liberado pela cura não é bem aceito e tb o
paciente pode tomar o analista como suspeito de uma
cumplicidade com as forças repressivas que o
aprisionam.
 Paradoxo: Não se pratica a psicanálise mas tudo o que
se faz baseia-se rigorosamente na psicanálise.
 Não é técnica de ajustamento, mas como subversão de
um saber e de uma práxis. Questiona-se os moldes
psiquiátricos e ação devastadora de seus significantes.
 Se escapa do estatuto do estabelecimento de
tratamento para existir como um lugar de vida.
 Que tratamento é dado ao autismo? A partir de uma reflexão teórico-
clínica, as autoras demonstram que a Escola de Bonneuil pode
contribuir para o desenvolvimento psiquíco de crianças autistas.
 Caso Marc:
 Quem você procura,
 Quem está chamando?
 Nós estamos aqui?
 Assim é convidado a transformação essa sensação em linguagem. Ele
não é marcado pela falta, pela produção do desejo.
 Aos poucos haja o nascimento de uma psique, onde palavras são
introduzidas para dar sentido a um comportamento.
 Progresso no tratamento.
 Autistas passam a encontrar um lugar de sujeito no seio de sua
família e na sociedade.
 Destaca-se, assim, outra importante estratégia terapêutica de
Bonneuil que não foi mencionada no início do nosso trabalho, mas
que, todavia, o atravessa: a singularidade como esboço de uma
subjetividade onde cada criança é reconhecida e levada em
consideração.
 Bonneuil oferece um acompanhamento ímpar, a partir do qual cada
aluno tem um calendário escolar e um projeto educacional
desenvolvido com base em suas capacidades, necessidades e,
sobretudo, nos seus desejos. Lá, cada um traça um caminho
específico. No caso das crianças autistas, procura-se extraí-las do
caos de sensações através do uso da linguagem. Este é o primeiro
passo a ser traçado em direção à experiência subjetiva.
 Vale ressaltar que esse caminho é seguido de mãos dadas com o adulto,
outra forma de falar de um verdadeiro trabalho de apoio psíquico. Em outras
palavras, esse dispositivo clínico arrisca efeitos subjetivantes, colocando-se
na contramão de uma proposta de estabilidade cotidiana e pragmática.
Fonte: https://lugardevida.com.br/
 Estão ali inseridas por apresentar um grande retardo no
desenvolvimento e por demonstrar em grande
dificuldade em aprender. São, porém, crianças que
apresentam graves distúrbios de comportamento;
batem-se, mordem-se e sem razão aparente, por
vezes isolam-se em um canto, não conseguem manter
uma conversação porque não respondem, embora
algumas façam uma profusão de perguntas sem esperar
respostas. Vez por outra, surpreendem com a
demonstração de sinais de inteligência.
Quem atendemos?
O que se diz sobre elas é que são "estranhas " . (Kupfer, 1996)
 São duplamente desafortunadas: além de
pertencerem às camadas mais pobres da
população, o que as obriga a buscar a já
insuficiente rede de atendimento pública,
padecem de um "mal" pouco conhecido, que
poucos profissionais estão dispostos a enfrentar,
pois não dispõem nem de formação nem de
recursos adequados para o seu tratamento.
[...]Quem e quantas são, em números mais exatos, essas
crianças, como oferecer explicações e atendimento
psicoterapêutico para suas profundas desarmonias
evolutivas, como proporcionar-lhes oportunidades
educacionais, como impedir que sejam retiradas do
convívio social com outras crianças, como diminuir os
riscos de cronificação? Como evitar tantos descaminhos
diagnósticos, em que se perde um tempo precioso?
Como garantir uma formação especializada para os
profissionais de saúde mental que deparam com essas
crianças?
Fonte: https://lugardevida.com.br/
Três grandes eixos do trabalho no Lugar de Vida:
• o eixo educacional;
• os ateliês;
e a montagem institucional.
Fonte: https://lugardevida.com.br/
 Com mais de 30 anos de atuação, o Lugar de
Vida – Centro de Educação Terapêutica é
uma instituição de referência no tratamento e
acompanhamento escolar de crianças e jovens,
com o objetivo de possibilitar a sua inclusão na
vida escolar e cotidiana. Um dos principais
diferenciais do trabalho da Clínica Lugar de Vida
está nos Grupos Heterogêneos de Educação
Terapêutica, os GHETs, que funcionam partindo
da constatação de que a diversidade e riqueza
dos encontros entre as crianças promovem
mudanças subjetivas e auxiliam o
desenvolvimento por meio das identificações, das
trocas subjetivas e do aprendizado mútuo.
Fonte: https://lugardevida.com.br/
Eixo educacional
 No entanto, fala-se atualmente cada vez
mais das condições intelectuais que
podem ser encontradas nessas crianças;
são as "ilhas de inteligência" que
permanecem intocadas, apesar da
violenta interrupção de seu
desenvolvimento provocada pela irrupção
das crises.
 A " pré- educação" pode ainda prover uma
sustentação imaginária para essa inserção social.
" Meu filho está na escola", poderá dizer a si
mesmo e aos vizinhos um pai que vê seu filho sair
do Lugar de Vida segurando u m trabalho de
sucata. O menino terá colaborado com um único
gesto, o de colar um tubo pintado —resto
descartável — em uma base de papelão, fazendo-
o ficar de pé. Mas o olhar que lhe dirigi seu pai
terá valor mais estruturante que seu gesto:
somado a outros que lhe serão dirigidos em
outras ocasiões, é agora ao m e n i n o que
poderá ajudar a "ficar de pé ".
 Os ateliês foram propostos nos mesmos moldes em que vêm sendo
realizados nas instituições de tipo hospital-dia.
 "trata-se, para a criança, de u m j o g o ao redor deste lugar que lhe
é proposto; jogo que pode comportar toda a seriedade de um
trabalho de criação, de exploração de novas vias que se oferecem
a ela. Sua participação em uma prática social, em uma atividade
humana, pode ser por ela colocada em questão usando o seu
próprio estilo, sua própria história, declinado-a de modo singular.
Ela aborda esse lugar de modo diverso e mutável. O grupo, na
pessoa de algum adulto mais atento, acolhe então seu dito e seus
atos para integrá-la na trama do ateliê " (Mannoni, 1987).

 No sentido amplo, busca-se acompanhar as respostas das crianças
aos manejos institucionais ali praticados. Verificam-se, por exemplo,
os efeitos da introdução das atividades educacionais em seguida às
dos ateliês. Observa-se o modo como as crianças recebem o corte
e que acontece na passagem de uma atividade para outra, espera-
se que a alternância de atividades, espaços e pessoas crie o
equivalente a frases, tecendo redes de linguagem nas quais a
criança poderá vir a se situar.
 Entende-se ainda que as três grandes redes de linguagem que se
tecem no Lugar de Vida — o discurso dos pais, o institucional e o
das crianças no conjunto das atividades — estão sempre
entrecruzando-se, produzindo pontos nodais.

LUGAR DE VIDA, DEZ ANOS DEPOIS
 Qual será a receita do pessoal da USP?
 A comemoração de dez anos de existência é então um bom
momento para perguntar: se milagres não sabemos fazer, então o
que sabemos fazer? E, mais ainda, como é que fazemos isso que
sabemos fazer?
 Vaso quebrado - Freud
 Por a prova ( ainda bem que neste ano, como em todos os
anteriores, teremos mudanças em nosso funcionamento, porque
senão este não seria mais o Lugar de Vida!)
 O desejo não era o de se colocar em questão, era o de buscar o
saber. O de Bonneuil de colocar à prova.
 E justamente, um psicótico não deseja, isso soubemos logo no
início. Assim, os que desejam trabalhar com psicóticos funcionam
de um modo peculiar: desejam saber como fazer o outro, que não
deseja, desejar.
 Pesquisar em meio à clínica...Atendendo ao mandato social da
universidade, bem como ao nosso desejo, as pesquisas passaram
a dar muito do tom do Lugar de Vida.
 Percebeu-se naquela ocasião que pesquisar é antes de mais nada
escrever sobre a clínica, como fazia Freud todos os dias depois de
atender seus pacientes, e não fazer das crianças objeto de uma
Ciência, de um saber em que está excluído o sujeito.
 E este fazer transformou nosso saber, a exemplo do que ocorreu
com nossa instituição-mãe, o CPPL - Centro de Pesquisas em
Psicanálise e Linguagem, aquela com a qual nos identificamos para
começar nosso trabalho (Rocha, 1997).
 A montagem institucional, entendida como ferramenta terapêutica,
valeu se, desde o início, das diferentes linguagens para instituir
artificialmente a diferença, a alternância, com suporte nos escritos
de Mannoni, primeira na Psicanálise lacaniana a introduzir a ideia
deque a instituição faz parte da clínica (Mannoni, 1985, 1986).
 Apostamos na possibilidade de a criança que habita mal a
linguagem - ou melhor, que a habita de modo idiossincrático, não
participante do pacto simbólico, não participante dos códigos da
cultura, e elege modos de gozo não socializados - aprender um
pouco mais sobre os modos instituídos de gozo, atravessando,
mergulhando cotidianamente em uma instituição que está
estruturada como uma linguagem
 O que passamos a praticar no interior dessa instituição, através de
seus grupos, de suas atividades, de seus atendimentos os mais
variados, foi então a alternância, uma tentativa de ampliar o
dispositivo de tratamento. Passamos a fornecer conteúdos
ideativos, a contar estórias, a fazer música, apostando no valor da
imaginação como instrumento que engendra a inscrição, ou que
fornece as necessárias identificações para produzir as extensões
das inscrições primordiais. Ensinamos a desenhar, a escrever,
promovemos circulação social em passeios, em aniversários, em
festas juninas.
 O "grupo dos grandes" foi instituído no Lugar de Vida no primeiro
semestre de 1997 como tentativa de dar contorno a uma nova
demanda de atendimento que surgia: prosseguir o tratamento de
algumas crianças que, tendo crescido, adentravam a puberdade.
 "Está bem que vocês tratem de nosso filho, mas gostaríamos muito
de encontrar para ele uma escolinha". Os primeiros pais que
chegaram ao Lugar de Vida proferiram essa demanda, e nós a
escutamos.
 Ao lado então do tratamento, surgiu a escola no Lugar de Vida,
para desenvolver ou ao menos conservar as ilhas de inteligência
que as crianças já possuíam.
 Mesmo decadente e falida na sua capacidade de sustentar uma
tradição de ensino, a escola é uma instituição poderosa quando lhe
pedem que assine uma certidão de pertinência: quem está na
escola pode receber o carimbo de "criança".
 [...]a Educação Terapêutica como um conjunto de práticas de
tratamento que visam ao sujeito, de modo a que ocorra quer a
retomada do desenvolvimento global da criança, quer a retomada
da estruturação psíquica interrompida, quer a construção de um
sujeito, quer a sustentação do mínimo de sujeito que uma criança
possa ter construído.
 Educação Terapêutica é, portanto,um tratamento psicanalítico
ampliado, que inclui práticas sociais e educativas não consideradas
pelo psicanalista. Em uma palavra: Psicanálise em extensão. Não
se trata justamemente da Psicanálise estrita, ou em intensão,
porque não seguimos os princípios da cura analítica clássica
(Lacan, 1977).
 Educação Terapêutica é refazer o elo entre, de um lado, o sujeito auto-
referido, delirante, e, de outro, o discurso social – ou seja, a instituição
tomada em sua vertente simbólica.
 Como, porém, então, manter a referência à Psicanálise, se nossa filiação,
nossa origem, se articula fortemente com o discurso do mestre, como já
dissemos no início? Como manter a referência à Psicanálise se o discurso
do mestre é seu avesso?
 Para responder a essa questão, pode-se pensar em duas respostas. A
primeira: estamos, sim, no discurso do mestre, porque a instituição está
submetida às leis e às regras. Estamos, sim, marcados pelo discurso
universitário; em muitos outros momentos institucionais, ocorre a
emergência dos demais discursos. Ou seja, há giros. E se eles existem,
isso não se deveria justamente ao fato de que estamos no campo da
Psicanálise, o que permite que haja discurso do analista, responsável pela
produção de tais giros?
 [...]sabemos que esse lugar de mestre não
representa o ideal terapêutico: esse mestre não
sabe tudo, ele é incompleto e castrado.
 [...] Por isso, embora não quiséssemos nos pôr
continuamente em questão, sempre o fizemos,
pela identificação com Bonneuil, pelo
atravessamento da Psicanálise, o que provocou
nossa mudança contínua e permanente
 Assim, é o "não saber fazer" – que não deve ser
confundido com ignorância - que é mais útil para
nossas crianças. Que as deixemos em paz,
livrando- as de nosso saber sobre o que lhes
acomete e consequentemente de nossa fúria
interpretativa. Que as deixemos produzir seus
sintomas se isso é um modo de "se dizerem" -
este é o nosso saber não sabido de hoje. Quem
sabe um dia a moça da ótica poderá dizer: o
pessoal da USP é ótimo: eles não sabem o que
fazem!
Maria Cristina Kupfer –
Psicanalista Lugar de
Vida
Para concluir: o
desamparo não é o único
responsável pela
produção da "doença
mental", já que esta é
multideterminada. Mas é
um fato que a " doença
mental" produz
desamparo. É contra
esse desamparo,
sobretudo, que o Lugar
de Vida quer lutar.
RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA EM
BONNEUIL: O OLHAR QUE DÁ LUGAR
Carla Cervera Sei
Edson Luiz André de Sousa
Projeto oGibraltar
Francis Alÿs (2008 )
O que faz contato entre
mundos tão heterogêneos?
Fazer laço
Criar pontes
Geografia do
contato
Rumo a Bonneiul...
criar condições para habitá-la, cria condições para
habitarem o mundo, habitarem- se?
Proteger permitir sonhar e fazer
planos
Recepção de Valente...
Caindo: certezas,
saberes sobre psicose
sonhos de Bonneiul...
artista Giulia Bernardelli
Convite a abandonar certezas,
corpo acadêmico intelectualizado; convite
a submergir ...
NADA PREFIXADO
Não saber fazer, não saber como se aproximar, de
certa forma nos preserva do risco de querer salvar as
crianças de sua condição e nos convoca a uma escuta
daquele outro que ali se encontra.
Alojamentos
Casas de acolhimento
Trabalho comunidade
Autogestão
Autonomia
Encontro com o outro
mediado
Avaliar
Planejar
Escolher
Olhar que da lugar de existir
Olhar...
...laço primordial com o
Outro constituição do eu...
...Lacan(1998), jogo de
olhares, função
emancipatoria, organização
do eu...
Um convite a enxergar...
A subjetividade não é dada no instante do
nascimento...
... com a mediação do Outro primordial que o bebê terá
suas primeiras experiências de satisfação que darão início às
primeiras inscrições psíquicas, bem como à constituição do
aparelho psíquico.
Um dos primeiros sinais que demonstra o
estabelecimento do laço entre mãe-bebê na
aposta dessa constituição psíquica se dá
através do olhar
Portanto, se há falhas
na constituição subjetiva,
elas podem decorrer tanto
da ausência de condições da
mãe para o seu exercício,
quanto do bebê, impedido
de absorver os
investimentos dirigidos a ele
(Vieira, 2010).
As competências de ambos estão em jogo, sendo
próprios da dupla os encontros ou desencontros afetivos
...vem indicar que a vivência do corpo no ser humano
acontece pela articulação entre o corpo orgânico e o olhar do
Outro. Segundo Laznik (2004, p. 25), o olhar é “sobretudo
uma forma particular de investimento libidinal, que permite
aos pais uma ilusão antecipadora na qual eles percebem o
real orgânico do bebê, aureolado pelo que aí se representa,
e aí ele pode advir.”
O estádio do espelho estádio do espelho...
Algo falta na mãe e também a mãe impõe
uma falta ao bebê quando, por exemplo,
ausenta-se, sai de cena, anunciando à
criança um perigo e uma angústia relativos à
perda.
Nessa mesma dinâmica Bonneuil, traz a
aposta de um devir sujeito.

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  • 1. Escola de Bonneuil, Lugar de Vida: relatos de uma educação terapêutica possível Aline Sampaio de Oliveira Francerly Cardoso da Cruz Simone Aparecida dos Santos Silva
  • 2.  ESCOLA DE BONNEUIL ESTUDO SOBRE O TRATAMENTO ESTOURADO DO AUTISMO
  • 3.  Estudo baseou-se no método clínico e referencial psicanalítico, a partir de observação participante durante um estágio realizado na Escola de Bonneuil. Defende-se a pertinência desse dispositivo, cujo alicerce principal é o reconhecimento da criança como sujeito em devenir.( que irá tornar-se).  Neste caso, é possível arriscar efeitos subjetivantes através do imprevisto.
  • 4. Maud Mannoni 1923-1998 Marcada a uma só vez pela escola inglesa, de Melanie Klein, Winnicott, e pelo ensinamento de Jacques Lacan e de Françoise Dolto, ela foi também uma militante de esquerda, anticolonialista. Suas obras foram traduzidas em todo o mundo.Grande figura da psicanálise francesa, conhecida por sua coragem e por sua intervenção constante em favor dos marginalizados, loucos e excluídos.
  • 5.  Obstinação: Novo olhar sobre a criança doente mental e seu espaço na sociedade.  Manonni articulou os ideiais da antipsquiatria aos ensinamentos de Lacan. Elaborou uma densa crítica ao modelo de poder psiquiátrico e lugares que acolhem de forma inadaptada do sofrimento psíquico infantil.  Obstáculo: Precisou enfrentar várias batalhas e resistir aos mais diversos obstáculos de ordem prática, financeira e/ou ideológica.  Recentemente possibilidade de ser fundida a uma associação por interesses econômicos do Estado.  Preferem um final digno para Bonneuil a uma aceitação tácita.
  • 6.  * O movimento da anti-psiquiatria foi parte de um movimento intelectual e profissional bem amplo, promovido através dos trabalhos de Basaglia, Michel Foucault na França, R. D. Laing na Grã- Bretanha, Thomas Szasz e Erving Goffman nos Estados Unidos. 
  • 7.  Criou em 1969, com Robert Lefort, a Escola Experimental de Bonneuil.  Peculiaridade de Bonneuil é o objeto central do artigo. Busca-se compreender como o estouro da instituição, com oscilações de estadias e de profissionais pode contribuir para o desenvovimento psíquico dessas crianças.
  • 8. “Até onde podemos sustentar um compromisso com as obrigações administrativas sem correr o risco de perder a razão de ser de um trabalho que só tem sentido se apoiado no desejo de criação e num contínuo questionamento de si?” (MANNONI, 1976) Como pressupostos fundamentais, destacam-se:  Inclusão social,  Estouro Institucional  Antinosografia
  • 9.  Objetivo maior: A luta contra a exclusão social de crianças doentes mentais A ideia era inovadora na época e sua relevância foi reconhecida não só por profissionais da educação e da saúde mental, mas também pelo Estado, formando as bases das políticas públicas atuais de educação inclusiva.  Termo Escola não foi atrelado ao nome de Bonneuil por acaso, que ganha forma de Estratégia terapêutica uma vez que, como todas as outras crianças, as de Bonneuil também passam suas jornadas diárias na escola.  Na escola recebem uma instrução escolar cujo nível varia de acordo com o potencial de cada uma, provocando nelas um sentimento de integração social. Além da proposta educativa, Bonneuil oferece também uma acolhida terapêutica.
  • 10.  Mannoni considerava a criança portadora de uma doença mental como a representante de um aprisionamento psíquico no discurso familiar e, sobretudo, no fantasma parental. Para libertá-la, era preciso provocar uma separação física e psíquica, a partir da qual ela poderia abdicar da identificação absoluta ao Outro alienante. Para isso, a criança precisava ser inserida num espaço onde o seu discurso aparecesse livre dos entraves familiares e sociais que impediam a loucura de se manifestar. Um espaço onde a criança possa contar, ela mesma sua própria história.
  • 11.  Aceitação incondicional da loucura devia ser colocada em prática e Mannoni preconizava um duplo trabalho: 1. Reintegrar essas crianças na sociedade, mostrando- lhes que, para tal desafio, era preciso abrir mão de um gozo absoluto e aceitar as restrições impostas pelo grupo social; 2. Pretendia conscientizar a sociedade sobre as dificuldades dessas crianças, a fim de alcançar uma melhor aceitação social da doença mental infantil. Mannoni propunha uma subversão de valores sobre a loucura, elemento essencial à realização de um encontro legítimo entre os profissionais e as crianças de Bonneuil.
  • 12.  Ideologia antimanicomial e questionou o funcionamento convencional das instituições de tratamento que se opunham a qualquer forma de reciclagem: “Uma instituição é como uma pessoa que se nutre de outras que estão sob seus cuidados [...] e, em nenhum momento, o sujeito consegue se separar dela sem correr o risco de “estourar”􏰁􏰁 Uma instituição que se diz diferente é aquela que, num efeito de balança, toma o estouro em consideração e permite ao sujeito se situar no mesmo nível da palavra, dando a ele a possibilidade de se separar, de produzir um corte com a instituição. (MANNONI, 1976, p. 48, tradução das autoras)
  • 13.  Crítica: São bem recebidas. A abertura aos olhares externos mantém vivo o espírito ideológico de nocao de instituição estourada. O termo experimental atrelado ao termo escola traz essa ideia.  A instituição foi idealizada como um local de vida. Um local onde algo a mais pode acontecer no sentido de se dar espaço ao imprevisto, ao inesperado a partir dos encontros mundanos, que inscreve marcas na criança, fazendo-a avançar na sua conquista pelo desejo. Os espaços de alternâncias funcionam como cortes ou escansões do discurso, onde o guia é a própria criança.
  • 14.  Diante de demandas, a equipe de profissionais mantém o papel fundamental de transformar necessidade em desejo. O adulto a quem a criança encontra-se vinculada a apoiará até que esta possa elaborar novos encontros, descobrindo outros marcos (pessoas ou lugares) que lhe transmitam confiança e com os quais ela poderá estabelecer novos laços. Quando a presença deste adulto torna-se ausência, a criança descobre que, nesse sistema de substituições, ela não poderá nunca mais encontrar outro substituto adequado ao objeto originalmente perdido.
  • 15.  Nessa oscilação entre “aqui e ali” é inserido um espaço significante em que a criança é levada a perder-se para lhe propiciar a ilusão de renascer aí, sustentando-se como sujeito pelo jogo de escansão presença-ausência. (MANNONI, 1973/1977).Acredita-se que é na ocasião de uma separação bem-sucedida que a criança torna-se sujeito do seu desejo.  Espaços de oscilação tem a função de operar separações e propiciam abertura para o mundo exterior.
  • 16.  Espaços de de alternâncias funcionam como cortes ou escansões do discurso, onde o guia é a própria criança. Caracterizado pelas oscilações frequentes de estadias e de profissionais, pode contribuir para o desenvolvimento psíquico dos autistas.  Entende-se que a instituição deve permanecer como um lugar de acolhida, onde a criança sabe que pode voltar sempre que sentir a necessidade de um reconforto. No entanto, ela deve guardar em mente que é do lado de fora que acontece o essencial da vida (MANNONI, 1973/1977).
  • 17.  As diferentes estruturas não são especificadas e nem obedecem a referenciais psiquiátricos.  Considera abster-se do diagnóstico e enxergar o indivíduo em suas potencialidades, colocando em movimento o que as etiquetas cristalizam no sujeito.  A psicanálise defende a possibilidade de oferecer a criança com sofrimento psíquico uma experiência de subjetividade, de proporcionar a emergência de um sujeito capaz de interrogar-se sobre o que ele deseja, independente de seus diagnósticos. Tal pensamento gerou vivas interlocuções com a antipsiquiatria.
  • 18.  No entato Manonni constatou a dificuldade de introduzir a prática psicanalítica por duas razões: 1)o discurso liberado pela cura não é bem aceito e tb o paciente pode tomar o analista como suspeito de uma cumplicidade com as forças repressivas que o aprisionam.  Paradoxo: Não se pratica a psicanálise mas tudo o que se faz baseia-se rigorosamente na psicanálise.  Não é técnica de ajustamento, mas como subversão de um saber e de uma práxis. Questiona-se os moldes psiquiátricos e ação devastadora de seus significantes.  Se escapa do estatuto do estabelecimento de tratamento para existir como um lugar de vida.
  • 19.  Que tratamento é dado ao autismo? A partir de uma reflexão teórico- clínica, as autoras demonstram que a Escola de Bonneuil pode contribuir para o desenvolvimento psiquíco de crianças autistas.  Caso Marc:  Quem você procura,  Quem está chamando?  Nós estamos aqui?  Assim é convidado a transformação essa sensação em linguagem. Ele não é marcado pela falta, pela produção do desejo.  Aos poucos haja o nascimento de uma psique, onde palavras são introduzidas para dar sentido a um comportamento.  Progresso no tratamento.  Autistas passam a encontrar um lugar de sujeito no seio de sua família e na sociedade.
  • 20.  Destaca-se, assim, outra importante estratégia terapêutica de Bonneuil que não foi mencionada no início do nosso trabalho, mas que, todavia, o atravessa: a singularidade como esboço de uma subjetividade onde cada criança é reconhecida e levada em consideração.  Bonneuil oferece um acompanhamento ímpar, a partir do qual cada aluno tem um calendário escolar e um projeto educacional desenvolvido com base em suas capacidades, necessidades e, sobretudo, nos seus desejos. Lá, cada um traça um caminho específico. No caso das crianças autistas, procura-se extraí-las do caos de sensações através do uso da linguagem. Este é o primeiro passo a ser traçado em direção à experiência subjetiva.  Vale ressaltar que esse caminho é seguido de mãos dadas com o adulto, outra forma de falar de um verdadeiro trabalho de apoio psíquico. Em outras palavras, esse dispositivo clínico arrisca efeitos subjetivantes, colocando-se na contramão de uma proposta de estabilidade cotidiana e pragmática.
  • 22.  Estão ali inseridas por apresentar um grande retardo no desenvolvimento e por demonstrar em grande dificuldade em aprender. São, porém, crianças que apresentam graves distúrbios de comportamento; batem-se, mordem-se e sem razão aparente, por vezes isolam-se em um canto, não conseguem manter uma conversação porque não respondem, embora algumas façam uma profusão de perguntas sem esperar respostas. Vez por outra, surpreendem com a demonstração de sinais de inteligência. Quem atendemos?
  • 23. O que se diz sobre elas é que são "estranhas " . (Kupfer, 1996)
  • 24.  São duplamente desafortunadas: além de pertencerem às camadas mais pobres da população, o que as obriga a buscar a já insuficiente rede de atendimento pública, padecem de um "mal" pouco conhecido, que poucos profissionais estão dispostos a enfrentar, pois não dispõem nem de formação nem de recursos adequados para o seu tratamento.
  • 25. [...]Quem e quantas são, em números mais exatos, essas crianças, como oferecer explicações e atendimento psicoterapêutico para suas profundas desarmonias evolutivas, como proporcionar-lhes oportunidades educacionais, como impedir que sejam retiradas do convívio social com outras crianças, como diminuir os riscos de cronificação? Como evitar tantos descaminhos diagnósticos, em que se perde um tempo precioso? Como garantir uma formação especializada para os profissionais de saúde mental que deparam com essas crianças?
  • 27. Três grandes eixos do trabalho no Lugar de Vida: • o eixo educacional; • os ateliês; e a montagem institucional. Fonte: https://lugardevida.com.br/
  • 28.  Com mais de 30 anos de atuação, o Lugar de Vida – Centro de Educação Terapêutica é uma instituição de referência no tratamento e acompanhamento escolar de crianças e jovens, com o objetivo de possibilitar a sua inclusão na vida escolar e cotidiana. Um dos principais diferenciais do trabalho da Clínica Lugar de Vida está nos Grupos Heterogêneos de Educação Terapêutica, os GHETs, que funcionam partindo da constatação de que a diversidade e riqueza dos encontros entre as crianças promovem mudanças subjetivas e auxiliam o desenvolvimento por meio das identificações, das trocas subjetivas e do aprendizado mútuo.
  • 30.  No entanto, fala-se atualmente cada vez mais das condições intelectuais que podem ser encontradas nessas crianças; são as "ilhas de inteligência" que permanecem intocadas, apesar da violenta interrupção de seu desenvolvimento provocada pela irrupção das crises.
  • 31.  A " pré- educação" pode ainda prover uma sustentação imaginária para essa inserção social. " Meu filho está na escola", poderá dizer a si mesmo e aos vizinhos um pai que vê seu filho sair do Lugar de Vida segurando u m trabalho de sucata. O menino terá colaborado com um único gesto, o de colar um tubo pintado —resto descartável — em uma base de papelão, fazendo- o ficar de pé. Mas o olhar que lhe dirigi seu pai terá valor mais estruturante que seu gesto: somado a outros que lhe serão dirigidos em outras ocasiões, é agora ao m e n i n o que poderá ajudar a "ficar de pé ".
  • 32.
  • 33.
  • 34.  Os ateliês foram propostos nos mesmos moldes em que vêm sendo realizados nas instituições de tipo hospital-dia.  "trata-se, para a criança, de u m j o g o ao redor deste lugar que lhe é proposto; jogo que pode comportar toda a seriedade de um trabalho de criação, de exploração de novas vias que se oferecem a ela. Sua participação em uma prática social, em uma atividade humana, pode ser por ela colocada em questão usando o seu próprio estilo, sua própria história, declinado-a de modo singular. Ela aborda esse lugar de modo diverso e mutável. O grupo, na pessoa de algum adulto mais atento, acolhe então seu dito e seus atos para integrá-la na trama do ateliê " (Mannoni, 1987). 
  • 35.
  • 36.
  • 37.  No sentido amplo, busca-se acompanhar as respostas das crianças aos manejos institucionais ali praticados. Verificam-se, por exemplo, os efeitos da introdução das atividades educacionais em seguida às dos ateliês. Observa-se o modo como as crianças recebem o corte e que acontece na passagem de uma atividade para outra, espera- se que a alternância de atividades, espaços e pessoas crie o equivalente a frases, tecendo redes de linguagem nas quais a criança poderá vir a se situar.  Entende-se ainda que as três grandes redes de linguagem que se tecem no Lugar de Vida — o discurso dos pais, o institucional e o das crianças no conjunto das atividades — estão sempre entrecruzando-se, produzindo pontos nodais. 
  • 38. LUGAR DE VIDA, DEZ ANOS DEPOIS  Qual será a receita do pessoal da USP?  A comemoração de dez anos de existência é então um bom momento para perguntar: se milagres não sabemos fazer, então o que sabemos fazer? E, mais ainda, como é que fazemos isso que sabemos fazer?  Vaso quebrado - Freud  Por a prova ( ainda bem que neste ano, como em todos os anteriores, teremos mudanças em nosso funcionamento, porque senão este não seria mais o Lugar de Vida!)  O desejo não era o de se colocar em questão, era o de buscar o saber. O de Bonneuil de colocar à prova.  E justamente, um psicótico não deseja, isso soubemos logo no início. Assim, os que desejam trabalhar com psicóticos funcionam de um modo peculiar: desejam saber como fazer o outro, que não deseja, desejar.
  • 39.  Pesquisar em meio à clínica...Atendendo ao mandato social da universidade, bem como ao nosso desejo, as pesquisas passaram a dar muito do tom do Lugar de Vida.  Percebeu-se naquela ocasião que pesquisar é antes de mais nada escrever sobre a clínica, como fazia Freud todos os dias depois de atender seus pacientes, e não fazer das crianças objeto de uma Ciência, de um saber em que está excluído o sujeito.  E este fazer transformou nosso saber, a exemplo do que ocorreu com nossa instituição-mãe, o CPPL - Centro de Pesquisas em Psicanálise e Linguagem, aquela com a qual nos identificamos para começar nosso trabalho (Rocha, 1997).
  • 40.  A montagem institucional, entendida como ferramenta terapêutica, valeu se, desde o início, das diferentes linguagens para instituir artificialmente a diferença, a alternância, com suporte nos escritos de Mannoni, primeira na Psicanálise lacaniana a introduzir a ideia deque a instituição faz parte da clínica (Mannoni, 1985, 1986).  Apostamos na possibilidade de a criança que habita mal a linguagem - ou melhor, que a habita de modo idiossincrático, não participante do pacto simbólico, não participante dos códigos da cultura, e elege modos de gozo não socializados - aprender um pouco mais sobre os modos instituídos de gozo, atravessando, mergulhando cotidianamente em uma instituição que está estruturada como uma linguagem
  • 41.  O que passamos a praticar no interior dessa instituição, através de seus grupos, de suas atividades, de seus atendimentos os mais variados, foi então a alternância, uma tentativa de ampliar o dispositivo de tratamento. Passamos a fornecer conteúdos ideativos, a contar estórias, a fazer música, apostando no valor da imaginação como instrumento que engendra a inscrição, ou que fornece as necessárias identificações para produzir as extensões das inscrições primordiais. Ensinamos a desenhar, a escrever, promovemos circulação social em passeios, em aniversários, em festas juninas.  O "grupo dos grandes" foi instituído no Lugar de Vida no primeiro semestre de 1997 como tentativa de dar contorno a uma nova demanda de atendimento que surgia: prosseguir o tratamento de algumas crianças que, tendo crescido, adentravam a puberdade.
  • 42.  "Está bem que vocês tratem de nosso filho, mas gostaríamos muito de encontrar para ele uma escolinha". Os primeiros pais que chegaram ao Lugar de Vida proferiram essa demanda, e nós a escutamos.  Ao lado então do tratamento, surgiu a escola no Lugar de Vida, para desenvolver ou ao menos conservar as ilhas de inteligência que as crianças já possuíam.  Mesmo decadente e falida na sua capacidade de sustentar uma tradição de ensino, a escola é uma instituição poderosa quando lhe pedem que assine uma certidão de pertinência: quem está na escola pode receber o carimbo de "criança".
  • 43.  [...]a Educação Terapêutica como um conjunto de práticas de tratamento que visam ao sujeito, de modo a que ocorra quer a retomada do desenvolvimento global da criança, quer a retomada da estruturação psíquica interrompida, quer a construção de um sujeito, quer a sustentação do mínimo de sujeito que uma criança possa ter construído.  Educação Terapêutica é, portanto,um tratamento psicanalítico ampliado, que inclui práticas sociais e educativas não consideradas pelo psicanalista. Em uma palavra: Psicanálise em extensão. Não se trata justamemente da Psicanálise estrita, ou em intensão, porque não seguimos os princípios da cura analítica clássica (Lacan, 1977).
  • 44.  Educação Terapêutica é refazer o elo entre, de um lado, o sujeito auto- referido, delirante, e, de outro, o discurso social – ou seja, a instituição tomada em sua vertente simbólica.  Como, porém, então, manter a referência à Psicanálise, se nossa filiação, nossa origem, se articula fortemente com o discurso do mestre, como já dissemos no início? Como manter a referência à Psicanálise se o discurso do mestre é seu avesso?  Para responder a essa questão, pode-se pensar em duas respostas. A primeira: estamos, sim, no discurso do mestre, porque a instituição está submetida às leis e às regras. Estamos, sim, marcados pelo discurso universitário; em muitos outros momentos institucionais, ocorre a emergência dos demais discursos. Ou seja, há giros. E se eles existem, isso não se deveria justamente ao fato de que estamos no campo da Psicanálise, o que permite que haja discurso do analista, responsável pela produção de tais giros?
  • 45.  [...]sabemos que esse lugar de mestre não representa o ideal terapêutico: esse mestre não sabe tudo, ele é incompleto e castrado.  [...] Por isso, embora não quiséssemos nos pôr continuamente em questão, sempre o fizemos, pela identificação com Bonneuil, pelo atravessamento da Psicanálise, o que provocou nossa mudança contínua e permanente
  • 46.  Assim, é o "não saber fazer" – que não deve ser confundido com ignorância - que é mais útil para nossas crianças. Que as deixemos em paz, livrando- as de nosso saber sobre o que lhes acomete e consequentemente de nossa fúria interpretativa. Que as deixemos produzir seus sintomas se isso é um modo de "se dizerem" - este é o nosso saber não sabido de hoje. Quem sabe um dia a moça da ótica poderá dizer: o pessoal da USP é ótimo: eles não sabem o que fazem!
  • 47. Maria Cristina Kupfer – Psicanalista Lugar de Vida Para concluir: o desamparo não é o único responsável pela produção da "doença mental", já que esta é multideterminada. Mas é um fato que a " doença mental" produz desamparo. É contra esse desamparo, sobretudo, que o Lugar de Vida quer lutar.
  • 48. RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA EM BONNEUIL: O OLHAR QUE DÁ LUGAR Carla Cervera Sei Edson Luiz André de Sousa
  • 49. Projeto oGibraltar Francis Alÿs (2008 ) O que faz contato entre mundos tão heterogêneos?
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  • 57. criar condições para habitá-la, cria condições para habitarem o mundo, habitarem- se? Proteger permitir sonhar e fazer planos
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  • 60. Caindo: certezas, saberes sobre psicose sonhos de Bonneiul...
  • 61. artista Giulia Bernardelli Convite a abandonar certezas, corpo acadêmico intelectualizado; convite a submergir ...
  • 63. Não saber fazer, não saber como se aproximar, de certa forma nos preserva do risco de querer salvar as crianças de sua condição e nos convoca a uma escuta daquele outro que ali se encontra.
  • 64. Alojamentos Casas de acolhimento Trabalho comunidade Autogestão Autonomia Encontro com o outro mediado Avaliar Planejar Escolher Olhar que da lugar de existir
  • 65. Olhar... ...laço primordial com o Outro constituição do eu... ...Lacan(1998), jogo de olhares, função emancipatoria, organização do eu... Um convite a enxergar...
  • 66. A subjetividade não é dada no instante do nascimento... ... com a mediação do Outro primordial que o bebê terá suas primeiras experiências de satisfação que darão início às primeiras inscrições psíquicas, bem como à constituição do aparelho psíquico.
  • 67. Um dos primeiros sinais que demonstra o estabelecimento do laço entre mãe-bebê na aposta dessa constituição psíquica se dá através do olhar
  • 68. Portanto, se há falhas na constituição subjetiva, elas podem decorrer tanto da ausência de condições da mãe para o seu exercício, quanto do bebê, impedido de absorver os investimentos dirigidos a ele (Vieira, 2010). As competências de ambos estão em jogo, sendo próprios da dupla os encontros ou desencontros afetivos
  • 69. ...vem indicar que a vivência do corpo no ser humano acontece pela articulação entre o corpo orgânico e o olhar do Outro. Segundo Laznik (2004, p. 25), o olhar é “sobretudo uma forma particular de investimento libidinal, que permite aos pais uma ilusão antecipadora na qual eles percebem o real orgânico do bebê, aureolado pelo que aí se representa, e aí ele pode advir.” O estádio do espelho estádio do espelho...
  • 70. Algo falta na mãe e também a mãe impõe uma falta ao bebê quando, por exemplo, ausenta-se, sai de cena, anunciando à criança um perigo e uma angústia relativos à perda.
  • 71. Nessa mesma dinâmica Bonneuil, traz a aposta de um devir sujeito.