O documento discute o uso da televisão para transmitir missas católicas no Brasil da década de 1960, analisando seu papel como instrumento de evangelização e validade teológica. O autor pretende compreender este fenômeno da "tele-homilética" e analisar a validade do discurso religioso nesta mídia terciária.
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
Tele-homilética na TV brasileira
1. Universidade de Sorocaba
Programa de Pós-Graduação
Comunicação e Cultura - Mestrado
Luiz Guilherme Leite Amaral
A tele-homilética como alternativa na celebração ritualística da Igreja Católica
na programação televisiva brasileira da década de 1960.
Pré-Projeto de pesquisa apresentado ao
Exame de Seleção ao Programa de
Pós-Graduação em Comunicação e Cultura – Mestrado –
Como requisito parcial do processo seletivo.
Eixo Temático: Comunicação Social.
Linha de Pesquisa: Teoria Comunicacional.
O projeto visa analisar a utilização da televisão como
instrumento de evangelização, sua importância dentro
da religião católica e a validade pelo viés teológico.
2014
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RESUMO
Um dos pilares de qualquer religião é a congregação, ou seja, a reunião de seguidores
para assistirem ao ato litúrgico. A celebração de missas católicas também possui este
fundamento, sobretudo para a reverência de itens sagrados – altares, imagens, entre
outros. Em 1963, a TV Excelsior iniciou a transmissão de missas pela televisão e
inaugurou um novo estágio na devoção dos católicos, sendo prolongada a partir de
1968 pela Rede Globo até os dias de hoje. A mídia terciária está a serviço da fé
católica, e isso causa implicações relação entre os fiéis e sua instituição religiosa.
Neste trabalho, além de compreender este fenômeno, pretende-se analisar também a
validade do discurso por esta mídia terciária, uma vez que a validação da fé e dos
rituais era feita somente pelas mídias primária e secundária.
APRESENTAÇÃO
Em 1963, a TV Excelsior levava ao ar a “Santa Missa em Vosso Lar”, a transmissão
de missas católicas em rede de televisão. No Brasil, é a inauguração da tele-
homilética. Nos Estados Unidos, programas desta linha, sobretudo na vertente
protestantes, já fazem certo sucesso.
Hoje, rebatizada como “Santa Missa em Seu Lar”, é apresentada pelo Padre Marcelo
Rossi e vai ao ar nas manhãs de domingo pela Rede Globo de Televisão. Apesar da
audiência considerável, hoje é transmitida em apenas alguns estados da Federação e
sob responsabilidade de algumas afiliadas, como a Rede Globo São Paulo e a
TVCOM, do Rio Grande do Sul.
Toda religião tem como princípio a mídia primária. A tradição oral, os sermões e a
homilética fazem parte do processo de persuasão. Em Marcos 16:15, quando é dito
“ide e pregai o Evangelho a toda criatura”, temos o estopim da tradição oral como
instrumento para arrebanhar fiéis dentro do cristianismo. O mesmo acontece em
outras religiões, sejam elas ainda mais antigas ou dissidências de religiões mais
novas. O islamismo, que tem em sua raiz religiões como o judaísmo e o cristianismo
(matriz abraãmica) também utiliza a tradição oral como instrumento de persuasão e,
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sobretudo, como instrumento de preservação das tradições culturais. É inegável que
uma religião é o registro das tradições de um povo, e tais tradições devem ser
mantidas para que possa haver cultura, um sinônimo para identidade nesta
abordagem. A voz – sermão, homilética – é mídia primária.
As religiões também passam pela comunicação secundária, neste caso, a escrita.
Aliás, possuir um livro sagrado é o que define juridicamente uma religião em
detrimento de outras crenças – ainda que todas elas se restrinjam ao plano
especulativo. Quando copistas distribuem a Torá e a Bíblia, ou quando Maomé
escreve trechos do Corão ditados pelo anjo Gabriel nos ossos de camelos, significa
que estas religiões precisam registrar suas convicções e tradições em uma mídia mais
perene. Registrar em cavernas, esculpir tábuas de barro ou madeira, todos estes
elementos da comunicação secundária auxiliam na difusão de ideias religiosas.
A comunicação terciária dentro das religiões é representada neste estudo pela
televisão. Assim como a “Santa Missa em Vosso Lar” e uma infinidade de programas
voltados ao proselitismo religioso, todos encontram na televisão um instrumento
veloz de dissipação da mensagem. Com a evolução dos meios de comunicação,
aumenta a participação das igrejas: orações via WhatsApp (serviço de mensagens
instantâneas), blogs, missas e cultos via YouTube, entre muitos outros. O rádio, assim
como a televisão, é um dos precursores da tele-homilética, dada sua altíssima
penetração.
OBJETIVOS
O que se pretende discutir, portanto, é até onde a mensagem religiosa mantém sua
pureza quando ultrapassa a fala e a escrita e começa a depender da televisão. A
essência do sagrado se perde com uma tecnologia tão avançada? A televisão cumpre o
mesmo papel de um livro sagrado no que diz respeito à doutrinação e, sobretudo, à
credibilidade? Os valores teológicos são mantidos? Estas questões serão respondidas
quando analisarmos o fenômeno da tele-homilética.
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JUSTIFICATIVA
A urgência em entender processos religiosos para criar discussões mais aprofundadas
e relevantes é um dos pilares deste trabalho. No campo comunicacional, conhecer os
valores das mídias terciárias nas celebrações religiosas podem nos fazer entender
quais caminhos eles estão seguindo em direção a algum tipo de evolução na forma de
doutrinar e arrebanhar fiéis. Já no campo teológico, podemos entender melhor como
os valores de uma doutrina se mantêm intactos – ou não – com o surgimento de
mídias modernas.
O Brasil hoje passa por uma série de problemas relacionados a religiões. Padres
católicos não são julgados por seus crimes, principalmente de pedofilia, por pressão
da ICAR; muitos pastores e outros tipos de protestantes exercem uma influência
extremamente negativa para a evolução da sociedade com seus dogmas; os ateus, ao
lado dos viciados em drogas, são o grupo mais odiado no País; as grandes igrejas
mantêm esquemas de desvio de dinheiro e sonegação de impostos que causam rombos
bilionários aos cofres públicos.
Estas e várias outras questões podem ser discutidas e seus problemas solucionados
quando entendemos o exercício das religiões perante a sociedade. Então, não é apenas
a tarefa de entender a tele-homilética, mas também saber como ela influencia milhões
de pessoas e qual proveito pode-se tirar disso.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A proposição de que Marcos 16:15 é o estopim para o movimento de evangelização
do cristianismo sempre provoca intensas discussões. Como em qualquer religião,
interpreta-se tal passagem de acordo com o próprio entendimento. Há os que
interpretam como uma benfeitoria social e os que entendem como um sufocamento de
uma cultura em favor de outra. A questão é que a “ordem” foi dada, e os meios (de
comunicação) para cumpri-la agora são objetos deste estudo.
A utilização das mídias terciárias para a evangelização católica não é apenas questão
de fé, mas de negócios também. A locação de horários televisivos e a arrecadação
proveniente disso movimenta fortunas que têm os mais variados destinos. Seja a
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transmissão de uma missa ou o culto evangélico de um missionário, a tele-homilética
cumpre o seu papel de diminuir a distância entre o público, que nem sempre está
disponível para deslocar-se até uma igreja, e a liturgia. Mesmo que algumas práticas
sejam duvidosas, como o famoso copo d’água catalisador de orações, ainda assim a
transmissão de missas e cultos mostra-se bastante vantajosa.
Se podemos analisar a validade teológica que reside nestas transmissões, também
podemos analisar a validade de seus propósitos. Quer dizer, um programa como a
Santa Missa em Vosso Lar tem, teoricamente, a função de abrir mais uma
oportunidade para que o fiel tenha contato com a liturgia de sua religião, ao passo
que, na prática, novas intenções começam a ser embutidas neste processo. Você pode
ouvir as palavras do padre, mas também pode comprar um CD ou uma camiseta no
intervalo. Esta incorporação de novos propósitos faz suscitar discussões sobre as reais
intenções da transmissão.
Não faz mal que tenhamos, ao final da discussão, ainda mais perguntas que respostas
– afinal, é a beleza da ciência buscar mais perguntas e mais respostas. O que devemos
deixar claro, contudo, é que, a partir de teóricos como Norval Baitello (2001), Karen
Armstrong (1993) e Terry Eagleton (2005), podemos criar uma linha de raciocínio
que nos permita analisar o fenômeno da tele-homilética.
METODOLOGIA
Reunião de material literário para a composição da estrutura e argumentação sobre os
temas propostos e o desenvolvimento do estudo acerca das seguintes matérias:
• O surgimento do cristianismo;
• O papel da mídia primária no cristianismo;
• O papel da mídia secundária no cristianismo;
• A introdução da mídia terciária no cristianismo;
• Os programas cristãos na televisão;
• Os programas cristãos na televisão brasileira;
• A tele-homilética;
• O valor comunicacional da tele-homilética;
• O valor teológico da tele-homilética.
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CRONOGRAMA
A partir do material que já está em posse do pesquisador, bem como o esboço
razoavelmente completo da dissertação, espera-se complementar a estrutura de
raciocínio com o decorrer das aulas do Programa de Pós-Graduação em Comunicação
e Cultura – Mestrado da Universidade de Sorocaba.
No primeiro semestre do ano de 2011, participei das aulas do Professor Doutor
Osvando Morais como ouvinte, o que já acarretou em um enriquecimento na
argumentação da dissertação, seja no embasamento teórico quanto na linha de
pesquisa. Sabendo que este modelo vai continuar se repetindo com o curso, a cada
aula ou conjunto de aulas a dissertação será cada vez mais completa, bem como as
discussões em sala também ajudarão a formar o caráter inquisitivo por parte do
pesquisador.
Por conta desta dependência do conhecimento em aulas e o confronto com a
bibliografia já existente, a meta é completar a dissertação no antepenúltimo mês do
curso, tendo os dois meses subsequentes destinados a revisões e discussões até a
entrega e defesa.
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BIBLIOGRAFIA
1. BAITELLO Jr, Norval. O Tempo Lento e o Espaço Nulo: mídia primária,
secundária e terciária. In: FAUSTO Neto, Antônio et al (Org.). Interação dos
sentidos no ciberespaço e na sociedade. Porto Alegre: EDIPURS, 2001;
2. EAGLETON, Terry. A ideia de Cultura. São Paulo: Editora Unesp, 2005.
3. SODRÉ, Muniz. Reinventando a cultura: a comunicação e seus produtos.
Petrópolis: Vozes, 1996.
4. ARMSTRONG, Karen. A History of God. Ballantine Books, 1993.