05 de julho de 2014
AULA 1 | A noção de Cultura na contemporaneidade. Revisão conceitual. A Cultura no cenário das redes e tecnologias digitais. Transversalidades da Cultura. Pactos globais e Indicadores culturais (Brasil). Cultura e cidadania corporativa. Cultura como o 4o pilar da sustentabilidade. Cross-cultural communication.
Patrocínio, Marca e Reputação - Aula I. Julho/2014 Cemec
1. A noção de Cultura na
contemporaneidade
CEMEC – 5 e 6 de julho/14 – Eliane Costa - elianecosta.cult@gmail.com
Parte 1
2. Programa
Cultura na contemporaneidade – I (conceitos)
A Cultura e as organizações. Marca, imagem e reputação
Patrocínios
Processo de patrocínio e um estudo de caso
Cultura na contemporaneidade – II (cibercultura)
4. O “areal de Copacabana”, no final do século XIX
Túnel Velho, em 1893-4
(foto Juan Gutierrez)
5. Séc XIX – pescadores se estabelecem no atual Posto Seis, antes já
ocupado pelos indígenas para a pesca.
www.memoriaviva.com.br
Copacabana, início do século XX
6. 1ª Colônia de Pescadores do Rio de Janeiro
Copacabana, 1923
(foto Marc Ferrez, 1895)
7. a primeira modalidade registrada na colônia é a pesca com “arrastão em pedaços”:
pedaços de rede eram tecidos manualmente com fios de algodão e colocados no caldo
das cascas de aroeira ou cajueiro, em tachos de cobre sob alta temperatura. O caldo
aderia aos fios, tornando-os mais resistentes. Depois de secos, os pedaços eram
unidos.
1962 - redes de nylon
arrastão até 1991
hoje: canoas de madeira com motor -> barcos de fibra
1ª Colônia de Pescadores do Rio de Janeiro
Copacabana, criada em 1923
8. Saberes que passam de pai para filho, tradições
Lugares, formas de expressão, celebrações
Geração de renda, sustentabilidade
Cidadania
Inovação, tecnologia
De que falamos?
Cultura
9.
10. Kroeber, A. L. e C. Kluckhohn, em
Culture: A Critical Review of Concepts and Definitions (1952),
listam 167 definições diferentes para Cultura.
O que é CULTURA?
11. É possível falarmos de alguém sem cultura?
(1754-1824)
(427 a.C. – 347 a.C.)
12. (1902 – 1968)
(1709 – 1784)
Cultura é erudição ???
Só a elite tem cultura ???
13. (1901 - 1976)
(1888 - 1935)
(551 a.C. - 479 a.C)
Cultura intangível, simbólico, transcendente
Cultura conhecimento
14. Conhecimento é cumulativo e construído nas
interações com outras pessoas, com o meio físico e
natural, com os livros, na internet, etc. Pressupõe um
processo, ao lado da interpretação e correlação de uma
informação com outras. Critério, discernimento,
apreciação.
Dado é a informação não tratada. Os dados,
isoladamente, não transmitem uma mensagem.
Informação é o que resulta do tratamento desses dados:
um resultado com significado => processo comunicativo.
18. O comportamento depende de um aprendizado.
Um menino e uma menina agem diferente não
em função de seus hormônios, mas por conta de
uma educação diferenciada.
19. Erudição é o conhecimento vasto, profundo e variado,
adquirido principalmente pela leitura e pelo estudo.
Sabedoria é arte e virtude: é fazer bom uso do conhecimento, promovendo justiça e
bem estar. É a capacidade de escolha, em uma decisão, de forma a atender a esses
requisitos.
20. Cultura é o conjunto de
características humanas que
não são inatas, e que se criam e
se preservam, transformam ou
aprimoram através da
comunicação e cooperação
entre indivíduos em sociedade.
21. Povos indígenas no Brasil
http://pibmirim.socioambiental.org/como-vivem/aprender
22. Crianças muçulmanas participam na India do festival Eid-Milad-un Nabi, que comemora o nascimento de Maomé
http://comentandocomentado.blogspot.com.br
28. A vaca é sagrada: não pode ser morta, nem ferida e circula livremente pelas ruas sem ser incomodada.
Nova Déli, India
29. Rio de Janeiro
O churrasquinho na esquina, no sábado, reúne moradores, trabalhadores da rua e transeuntes.
30. Ritos de passagem, da infância à vida adulta
Ritual realizado pela tribo dos Harmar, na Etiópia. O participante tem que pular por cima de vacas
colocadas lado a lado quatro vezes sem cair. O teste é feito com o garoto nu, como um símbolo da
infância que ele deixa para trás. Se passar no teste, ele passa a viver entre homens adultos, cuidando do
território do seu povo, e depois pode se casar.
31. Serve como um rito de passagem e como um ritual de colheita das tribos da ilha de Vanuatu, no
Oceano Pacifico. A partir de 8 anos, os garotos das tribos têm que subir em uma torre de 30 metros de
altura com cipós amarrados nos tornozelos e se jogar. Quando o “mergulho” é feito corretamente, deve
encostar a cabeça no chão. Como os cipós não são elásticos, um cálculo errado do comprimento da
corda pode causar sua morte.
Ritos de passagem, da infância à vida adulta
32. Baile de Debutantes em Bauru/SP.
Ritos de passagem, da infância à vida adulta
33. A cerimônia do Bar Miztvá entre os judeus
http://vimeo.com/52630717
Ritos de passagem, da infância à vida adulta
34.
35.
36.
37. Cultura é o modo como indivíduos ou
comunidades respondem às suas necessidades
e desejos simbólicos (mesmo as atividades
básicas, como a alimentação, a reprodução,
etc, são realizadas de acordo com regras, usos
e costumes de cada cultura).
38. Os pés atrofiados das meninas chinesas
Enfaixar os pés desde menina aos 5 anos, com ataduras que apertavam e
quebravam ossos, interrompendo o crescimento, foi um costume na
China por muito tempo, desde o início do século X. O objetivo era atrair
o sexo oposto e conquistar um bom casamento. O costume só foi
abolido em 1949.
“Mulheres-girafa” da TAILÂNDIA
Este é o apelido que se dá às mulheres da tribo dos
Karen Padaung, da Tailândia, que usam uma espiral
de cobre em volta do pescoço. A tradição do pescoço
comprido começa quando as meninas tem 5 anos e
ganham o primeiro aro. À medida que crescem, vão
ganhando outros.
Direitos culturais e Direitos Humanos
39. No processo de implementação mundial
dos direitos culturais, foi adotada
pela UNESCO, em 2001, Declaração
Universal sobre a Diversidade Cultural.
Ao mesmo tempo em que afirma os
direitos das pessoas pertencentes às
minorias à livre expressão cultural, a
Declaração observa que ninguém pode
invocar a diversidade cultural para
infringir os direitos humanos nem
limitar o seu exercício.
Direitos culturais e Direitos Humanos
40.
41.
42.
43. “Na verdade, cada qual considera bárbaro o
que não se pratica em sua terra”.
Montaigne (1533-1592), filósofo francês, ao refletir sobre os costumes dos índios
Tupinambá, levados do Brasil para Rouen na França, em 1550.
Etnocentrismo
45. Etnocentrismo + Ciência (Darwin)
Evolucionismo Cultural
(a cultura se desenvolveria de maneira uniforme, e portanto,
cada sociedade percorreria as etapas já percorridas pelas
“sociedades mais avançadas”)...
Sociedades primitivas Nações do Ocidente
46. Nos séculos XVIII e XIX, os conceitos de cultura e civilização estiveram
muito associados (cultura como ideal da elite):
cultura associada a desenvolvimento, educação, bons costumes, etiqueta e
comportamentos de elite.
dicotomia (e, eventualmente, hierarquização) entre “cultura erudita” e “cultura
popular”, ainda fortemente presente no imaginário das sociedades ocidentais (elite
letrada = “tem cultura”)
Debret
47. “Cultura é aquele todo complexo que inclui o
conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os
costumes e todos os outros hábitos e capacidades
adquiridos pelo homem como membro de uma
sociedade”.
Edward B. Tylor
antropólogo inglês, autor de Primitive Culture (1871)
Natural <-------------------------------------------------------> Cultural
48. Franz Boas, começo do século XX:
crítica sistemática às teorias - então vigentes -
que defendiam a existência de uma hierarquia
entre culturas.
49. Franz Boas, começo do século XX:
toda cultura tem uma história própria, que se desenvolve
de forma particular e não pode ser julgada a partir da
história de outras culturas;
Boas usa a História para explicar a diversidade cultural,
aproximando História e Antropologia.
50. Homem como o resultado do meio cultural em que foi
socializado.
Como herdeiro de um longo processo acumulativo, que
reflete o conhecimento e a experiência adquirida pelas
gerações que o antecederam (padrões culturais).
51. (“Isto não é um cachimbo”)
La trahison des images, quadro do pintor surrealista belga René Magritte, 1928-9.
Representações
52.
53. O homem é o único animal capaz de gerar símbolos.
O significado dos símbolos não pode ser percebido apenas
pelos sentidos. Para perceber o significado de um símbolo, é
necessário conhecer a cultura que o criou.
A Cultura define um campo simbólico específico
54. Cultura é a rede de significados
que dá sentido ao mundo que
cerca um indivíduo.
58. O ser humano é o único animal que
tem a capacidade de
simbolizar,
atribuir significado às coisas e às ações.
Cultura
59. “Cultura como tudo aquilo que, no uso de qualquer coisa,
se manifesta para além do mero valor de uso. Cultura
como aquilo que, em cada objeto que produzimos,
transcende o meramente técnico. Cultura como usina de
símbolos de um povo. Cultura como conjunto de signos
de cada comunidade e de toda a nação. Cultura como o
sentido de nossos atos, a soma de nossos gestos, o senso
de nossos jeitos”.
Gilberto Gil, discurso de posse como Ministro da Cultura (janeiro/2003)
60. Patrimônio Cultural
1959: o governo do Egito decide construir a Represa de Assuã, que inundaria um vale
onde estavam tesouros da civilização antiga, como o templo do Abu Simbel. Após uma
grande campanha da UNESCO, os templos de Abu Simbel e de Philae foram
desmontados e montados peça a peça em uma posição mais elevada.
1972: UNESCO lança um tratado internacional (a Convenção sobre a proteção do
patrimônio mundial, cultural e natural), visando promover a identificação, a proteção
e a preservação do patrimônio cultural e natural de todo o mundo, definindo esse
patrimônio como especialmente valioso para a humanidade.
65. "With diversity, the world is like a colorful flower“ (Com
diversidade, o mundo é uma flor de muitas cores)
(Azadeh Ramezani Tabrizi, UNESCO)
66. “Em seu sentido mais amplo, a Cultura pode hoje ser
considerada como o conjunto de traços distintivos,
espirituais e materiais, intelectuais e afetivos que
caracterizam uma sociedade ou um grupo social.
Ela engloba, além das artes das letras, os modos de
vida, os direitos fundamentais do ser humano, os
sistemas de valores, as tradições e as crenças”
UNESCO - Conferência MONDIACULT, Declaração do México, 1982
68. Patrimônio Cultural Imaterial (ou Intangível)
1988: a Constituição Federal brasileira reconhece a existência de bens culturais de
natureza material e imaterial e estabelece também outras formas de preservação –
como o Registro e o Inventário – além do Tombamento (1937), que é adequado,
principalmente, à proteção de edificações, paisagens e conjuntos históricos
urbanos.
Os Bens Culturais de Natureza Imaterial são as práticas e domínios
da vida social que se manifestam em saberes, ofícios e modos de
fazer; celebrações; formas de expressão cênicas, plásticas, musicais
ou lúdicas; e nos lugares (como mercados, feiras e santuários que
abrigam práticas culturais coletivas).
2003 - Convenção da UNESCO para a Salvaguarda
do Patrimônio Cultural Imaterial
69.
70. Em 2003, a UNESCO define como Patrimônio Cultural Imaterial:
"as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas – com os
instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados –
que as comunidades, os grupos e, em alguns casos os indivíduos, reconhecem
como parte integrante de seu patrimônio cultural."
Convenção da UNESCO para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial (2003);
78. “O sangue que circula”, na língua do antigo Mali.
Na tradição oral do noroeste da África, o griô é um(a) caminhante,
cantador(a), poeta, contador(a) de histórias, genealogista, artista,
comunicador(a) tradicional, mediador(a) político(a) da comunidade.
Ele(a) é o sangue que circula os saberes e histórias, mitos, lutas e glórias de seu
povo, dando vida à rede de transmissão oral de sua região e país.
GRIÔ
79. Griôs no Brasil:
Congadeiro(a), jongueiro(a), folião(ã) dos reis, capoeira, parteira(o), zelador(a) de
santo, erveira(o), caixeiro(a), carimbozeiro(a), reiseiro(a), tocador(a) de viola,
sanfoneiro(a), rabequeiro(a), cirandeiro(a), maracatuzeiro(a), coquista, marujo,
artista de circo, artista de rua, bonequeiro(a), mamulengueiro(a), catireiro(a),
repentista, cordelista, pajé, artesão(ã),
e os(as) fazedores(as) de todas as demais expressões culturais populares que se
desenvolveram e SE TRANSMITEM POR UMA TRADIÇÃO ORAL.
Mestre Manoel Marinheiro – Conexão Felipe Camarão (RN)
80. Arte
- “atividade que supõe a criação de sensações ou de
estados de espírito, de caráter estético, carregados de
vivência pessoal e profunda, podendo suscitar em outrem
o desejo de prolongamento ou renovação”.
- “capacidade criadora do artista de expressar ou
transmitir tais sensações ou sentimentos”.
Dicionário Aurélio
81. É a própria cultura que decide qual
objeto “é” arte e qual “não é”.
O objeto em si não carrega essa
definição.
86. A cultura possui instrumentos específicos que conferem (ou não)
ao objeto o estatuto de arte:
o discurso sobre o objeto artístico, uma análise crítica de um
especialista em arte que tem competência e autoridade para julgá-la arte
ou não e, a partir de seus conhecimentos, classificá-la por diferentes
estilos. (Jorge Coli, em “O que é arte”)
a cultura também “classifica” uma obra artística pelos locais onde ela
se manifesta: museus, galerias, teatros, cinemas, etc, enobrecem e
valorizam a obra, dando-lhe assim um estatuto de arte.
87. 40 anos de carreira de Beth
Carvalho e Dia Nacional do Samba
no Teatro Municipal do Rio de
Janeiro (dez/2005)
... assim como o Prêmio ANU
da Central Única de Favelas
88. Complexo do Alemão, 10/12/2011: grafiteiros da Central Única das Favelas
(CUFA) em intervenção nas paredes da base da instituição, na Pedra do Sapo.
92. A Fonte (1917)
Dadaísmo / “Ready Made” - transporte de um elemento da
vida cotidiana, a princípio não reconhecido como artístico, para
o campo das artes. Em vez de trabalhá-los artisticamente,
Duchamp simplesmente os considerava prontos e os exibia
como obras de arte.
Assume uma atitude antiarte, característica desse período,
rompendo o conceito de arte.
“Será arte tudo o que eu disser que é arte"
(Duchamp)
Roda de bicicleta (1913)
Marcel Duchamp (1887-1968)
“O que é arte?”
111. Cultura ou CulturaS?
cultura sertaneja, cultura urbana, cultura hip hop,
cultura nordestina, cultura paulista, cultura ribeirinha,
cultura gay, cultura dos povos da floresta, cultura
funk, cultura carioca, cultura negra, etc etc etc
114. Cultura
que gera produto / bem cultural / artístico
que é processo
“Caixeiras do Divino”, São Luiz (MA)
115. Cultura: três dimensões que se sobrepõem
a dimensão simbólica, traduzida nos valores, crenças e práticas que
caracterizam a expressão humana;
a dimensão cidadã, que parte do princípio de que os direitos culturais
estão incluídos no âmbito dos direitos humanos e, como tal, devem ser
considerados como base na concepção das políticas culturais;
e a dimensão econômica, que compreende que a cultura é um elemento
estratégico e dinâmico na economia dos países, gerando trabalho e riqueza em
um ambiente que, crescentemente, valoriza a informação, a criatividade e o
conhecimento.
MinC / gestão Gilberto Gil
120. « a cultura não pode mais ser vista como um
sub-produto do desenvolvimento, mas como
recurso fundamental do desenvolvimento
sustentável »
Convenção sobre a Proteção e a Promoção da Diversidade das
Expressões Culturais (UNESCO, 2005)
122. [...] Em tudo você vai ver
Uma dose de cultura;
Nas roupas que nós vestimos,
Na nossa literatura...
Os cocos e as emboladas
São a cultura mais pura.
[...] E pra concluir: cultura
É algo bem natural;
São lendas, crenças de um povo,
É território atual.
São histórias, são costumes,
E é progresso social.
Cordel de autoria de Moreira de Acopiara