2. Introdução
Fernando Pessoa, é um poeta muito conhecido pelos seus
ortónimos e heterónimos. Mas o que é isto?
• Ortónimo é o termo utilizado para referir a autoria dos
poemas, textos e obras publicadas e assinadas por Pessoa.
Foi o próprio quem o explicou, desta forma, na tábua
bibliográfica publicada na revista «Presença», em 1928.
( O AUTOR ASSINA O SEU NOME VERÍDICO NA OBRA).
• Heterónimo é a «personalidade criada por um escritor, com
mundividência e carácter próprios». Alberto Caeiro, por
exemplo, é um dos heterónimos de Fernando Pessoa. Assim,
o ortónimo de Alberto Caeiro é Fernando Pessoa.
(O AUTOR ATRIBUI A AUTORIA DE CERTAS OBRAS SUAS A
PESSOAS REAIS OU IMAGINÁRIAS).
• Apesar de ter feito uso de mais ou menos 70 heterónimos
diferentes, os mais conhecidos e importantes foram: Alberto
Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campo.
3. Alberto Caeiro
Alberto Caeiro (1889-1915) nasceu em Lisboa e passou a sua vida no campo. Ficou
órfão de pai e mãe muito cedo, passando a viver com uma tia-avó. Morreu de
tuberculose, mas apesar da data indicada para o seu falecimento, há registro de
poemas do escritor do ano 1919.
Caeiro é considerado o mestre de Fernando Pessoas e dos restantes heterónimos. Na
sua poesia existe uma predominância de descrições da natureza, procurando não
atribuir quaisquer conceitos ou sentimentos humanos às coisas que observa. Como
sensacionalista, defende que o pensamento apenas falsifica o que os sentidos captam
e, por isso, faz um grande recurso às sensações visuais na sua poesia, fazendo uma
descrição exaustiva do que observa enquanto deambula, num discurso em verso livre,
com estilo coloquial e espontâneo, o que nos leva a perceber que está em
concordância com o tema que aborda – a natureza.
4. Características
da poesia do
«Mestre»
• Na sua poesia, Alberto Caeiro assume-se
membro integrante da natureza e, por isso,
procura estar sempre em conformidade com a
mesma, tentando estabelecer uma relação
simbólica com ela,
• Poeta sensacionalista, bucólico;
• Apenas recua ou avança no tempo como
elaborações mentais, vivência o presente;
• Linguagem muito simples, visto que não
estudou além da escola primária;
• Recurso a comparações;
• Uso repetido de palavras presentes no campo
lexical de olhar, para realçar as sensações
visuais.
5. Ricardo Reis
Ricardo Reis nasceu em 1887 no Porto, não sendo
conhecida a data da sua morte. É um poeta clássico
e romântico, estoico, da serenidade epicurista. É o
poeta clássico que aceita a crença nos deuses
enquanto disciplinadora das nossas emoções e
sentimentos e procura a felicidade alcançada com a
indiferença à perturbação.
Defende o prazer do momento, o «carpe diem» como
caminho da felicidade, tudo sem ceder aos impulsos
dos instintos (estoicismo), e sem nunca encontrar a
verdadeira calma e tranquilidade, considerando que a
sabedoria da vida está em viver de forma calma e
serena.
Ricardo Reis advoga o domínio das paixões e a
renúncia dos impulsos dos instintos como regras da
vida que promovem a felicidade. Para ele,
a modernidade é uma mostra de decadência e, tal
como Caeiro valoriza a simplicidade, este gosta do que
é simples, mas num sentido de oposição ao que é
moderno.
Ricardo Reis, imita os gregos da antiguidade clássica
e o poeta latino Horácio, o que nos faz refletir sobre o
destino que foi imposto, tanto aos homens, como aos
deuses. Assim, influenciado pelo mestre, constrói uma
filosofia que lhe permite ver o fluir do tempo e lhe dá a
sensação de ser o dono do seu próprio destino.
6. Características
da poesia do
«Clássico»
• Verdadeira sabedoria da vida (quietude e tranquilidade);
• Predominância da angústia e tristeza;
• Linguagem clássica e vocabulário erudito;
• Epicurista triste e estoicismo;
• Recusa de sentimentos excessivos;
• Pretende levar os outros a adotar a sua filosofia;
• Temática da miserável condição humana (destino, velhice, morte
e efemeridade da vida), mas aceitação da ordem dessas coisas;
• Estrofes regulares de verso decassilábico alternadas (ou não)
com hexassilábico, o que leva a uma irregularidade métrica;
• Recursos frequentes a assonância, rima anterior, aliteração,
hipérbato, gerúndio, imperativo e latinismo
• Estilo com muito rigor e muito denso, trabalhado com metáforas,
eufemismos, comparações, perífrases e apóstrofes.
7. Álvaro de Campos
Álvaro de Campos nasceu em Tavira, Portugal, no ano 1890. A data do seu falecimento não é conhecida.
Estudou engenharia naval, apesar de não ter exercido a profissão. Este valoriza a modernidade e é um
pessimista, pois apesar do gosto pelo progresso, o tempo presente angustia-o. Canta o mundo
contemporâneo e celebra o triunfo da máquina e da civilização moderna. Completo oposto de Ricardo Reis,
visto que implementa uma nova visão estética à tradicionalmente beleza concebida.
A obra deste poeta é condensada em três partes lógicas e sequenciais. A primeira, sendo a decadentista,
que exprime o tédio e cansaço, exigindo novas sensações. De seguida, a fase modernista em que as
sensações são a realidade e a base da arte. Com todas as novas máquinas na indústria, ele sente
necessidade de procurar todas as possibilidades sensoriais e afetivas da humanidade e unificá-las,
deixando também claro o seu encanto pela civilização industrial. Isto leva-nos à terceira fase, intitulada
como negativista, que acontece quando Álvaro percebe a impossibilidade do excesso de emoções e não
consegue a unificação que projeta na máquina, levando-o a entrar num estado de desânimo e frustração, o
que caracteriza esta fase do poeta. Além disso, ainda está presente também a nostalgia de infância,
mostrando que a necessidade de projetar estas emoções, veio do facto de não as ter sentido na infância e
agora sentir-se deslocado da sociedade, o que o leva de encontro a Fernando Pessoa.
8. Características
da poesia de
Álvaro de
Campos
• Versos livres e estrofes longas;
• Liberdade rimática, com desigualdade de
versos (por estrofe);
• Estilo torrencial e excessivo;
• Uso de exclamações, apóstrofes, muitas
adjetivações, onomatopeias, aliterações, entre
outras, para dar um tom excessivo e intenso à
obra;
• Temática do saudosismo da sua infância;
• Citações que remetem para a alusão
à inconsciência e ingenuidade das crianças -
propício para felicidade
• Relação contraste «eu» e «os outros» comum
a Fernando Pessoa