1. Fernando Pessoa Ortónimo
Vertente Modernista – abrange vários “-ismos” de vanguarda, em
poemas de grande liberdade formal e desarticulação sintáctica;
vocabulário raro.
Vertente Tradicional – poemas breves, rimados, de verso curto
(2 a 7 sílabas; predomínio da métrica tradicional) e estrutura formal
fixa (quadras ou quintilhas), com linguagem e sintaxe simples.
Sinceridade/ Fingimento Poético
Para Pessoa ortónimo, a poesia é um acto de fingimento. O poeta
parte da realidade, mas distancia-se dela graças à dialéctica entre a
razão (pensar) e sensibilidade (sentir), para elaborar intelectualmente
a obra de arte. Assim, o poema apenas pode comunicar um sentimento
fingido, pois a dor real (sentida) continua no sujeito que, por meio da
escrita, tenta uma representação mental.
Deste modo, “Fingir é conhecer-se”
E a emoção do leitor? “Sinta quem lê.” O leitor não é capaz de
sentir as emoções do poeta (nem a vivida nem a imaginada); a emoção
que o poeta exprime artisticamente é um estímulo que provoca no
leitor novos estados de alma.
O mundo real é apenas um reflexo de um mundo ideal. Só o poeta
pode contemplar essa coisa encoberta pelo “terraço” da vida, porque é
capaz de libertar-se de um mundo que o prende e escrever usando só
a imaginação em busca daquilo que é (saber existir) e seguro do que
não é. A tarefa do poeta é essa viagem imaginária (logo, no
2. pensamento), esse pressentir da essência das coisas. Só a arte
permite aprender a sentir melhor, sabendo o que se sente e sentindo
de forma mais intensa. O poeta é, afinal, um simulador que pretende,
através da criação poética.
Ruptura e Continuidade
O Pessoa ortónimo escreveu poemas da lírica simples e
tradicional, muitas vezes marcada pelo desencanto e melancolia; fez
um aproveitamento cuidado de impressionismo e do simbolismo,
abrindo caminho ao modernismo, onde põe em destaque o vago, a
subtileza e a complexidade.
A Dor de Pensar
Fernando Pessoa sente-se condenado a ser lúcido, a ter de
pensar. Gostava, muitas vezes, de ter a inconsciência das coisas ou de
seres comuns que agem como uma pobre ceifeira. (“O que em mim
sente „stá pensando.”).
O ortónimo é obcecado pelo pensamento. Contudo, o pensamento
está na origem de ser incapaz de sentir intuitivamente, como quem
descobre o mundo sem preconceitos. Impedido de ser feliz, devido à
lucidez, procura a realização do paradoxo de ter uma consciência
inconsciente. Mas ao pensar sobre o pensamento, percebe o vazio que
não permite conciliar a consciência e a inconsciência.
Nostalgia da Infância
Em Fernando Pessoa ortónimo, a infância é entendida como um
tempo mítico do bem, da felicidade e da inconsciência. Nela
permanecem sempre vivos a família e os lugares, a segurança e o
3. aconchego, entretanto perdidos pelo sujeito poético. A inconsciência
de que todo esse bem é irrecuperável, fá-lo sentir-se obsessivamente
nostálgico da infância, um tempo perdido que serve sobretudo para
acentuar a negatividade do presente. O profundo desencanto e a
angústia acompanham o sentido da brevidade da vida e da passagem
dos dias. Ao mesmo tempo que gostava de ter a infância das crianças
que brincam, sente a saudade de uma ternura que lhe passou ao lado.
Frequentemente, para Pessoa, o passado é um sonho inútil, pois
nada se concretizou, antes se traduziu numa desilusão.
Fragmentação do “eu”
O sujeito poético assume-se como uma espécie de palco por onde
desfilam diversas personagens, distintas e contraditórias. Incapaz de
se manter dentro dos limites de si próprio, o sujeito poético procura
observar o seu “eu”, ou seja, conhecer-se a si próprio, o que leva à
fragmentação e à consciência de que é capaz de viver apenas o
presente.
Questiona a sinceridade das emoções escritas nos seus textos,
porque não sente hoje da mesma forma que sentiu no passado, pois as
emoções, ao serem escritas e lidas, são intelectualizadas (“não sei
quantas almas tenho”).
Fernando Pessoa
Ortónimo Heterónimos:
(“ele próprio”) - Alberto Caeiro;
- Ricardo Reis;
- Álvaro de Campos
Poesia do Mensagem (1934)
cancioneiro
Fernando Pessoa e Heterónimos
4. Alberto Caeiro
Natureza (Bucolismo);
Dambulismo (anda pelo espaço da Natureza);
Poeta da simplicidade;
Escrita simples; privilegia o uso da comparação, a metáfora e do
polissíndeto (repetição do “e”);
Poeta anti-metafísico (recusa o pensamento);
Interpreta o mundo a partir dos sentidos;
Interessa-lhe a realidade imediata e o real objectivo que as
sensações lhe oferecem;
Uso do verso branco (sem rima), do versilibrismo (estrutura
métrica irregular) e da estrutura estrófica livre.
Alberto Caeiro apresenta-se como um simples “Guardador de
Rebanhos”, que só se importa em ver de forma objectiva e natural a
realidade com a qual contacta a todo o momento.
Poeta do olhar, procura ver as coisas como elas são, sem lhes
atribuir significados ou sentimentos humanos. Considera que “pensar é
estar doente dos olhos”, pois as coisas sãol como são. Recusa po
pensamento metafísico, afirmando que “pensar é não compreender”.
Caeiro constrói uma poesia das sensações, apreciando-as como
boas por serem naturais. Para este heterónimo, o penasamento apenas
falsifica o que os sentidos captam. É um sensacionista, que vive
aderindo espontaneamente às coisas, tais como são, e procura gozá-las
com despreocupada e alegre sensualidade.
Ricardo Reis
Contemplativo (observa);
Racional (conclui resignando-se);
5. Clássico:
equilibrio
linguagem
forma
Horaciano
“aurea mediocritas”
“carpe diem”
ode
Pagão
Crença nos deuses/Fado (destino)
crença na presença divina das coisas
Estoico-epicurista
Estoicismo
o supremacia nos Deuses e no Fado
o aceitação voluntária das leis do universo (ilusão de
liberdade)
o ideal de apatia (indeferença)
Epicurismo
o procura a felicidade moderada (= ausência de
sofrimento)
o ideal de ataraxia (indiferença)
o “carpe diem”
Ricardo Reis é o poeta da serenidade epicurista, que aceita, com
calma lucidez, a relatividade e a fugacidade de todas as coisas.
A filosofia de vida de Ricardo Reis é a de um epicurismo triste,
pois defende o prazer do momento, o carpe diem, como caminho da
felicidade, mas sem ceder aos impulsos dos instintos.
Apesar deste prazer que procura e da felicidade que deseja
alcançar, considera que nunca se consegue a verdadeira calma e
tranquilidade, ou seja, a ataraxia. Sente que tem de viver em
conformidade com as leis do destino, indiferente à dor e ao
desprazer, numa verdadeira ilusão da felicidade.
6. Ricardo Reis recorre à ode e a uma ordenação estética
marcadamente clássica.
Em Ricardo Reis há a apatia face ao mistério da vida mas também
se encontra o mundo das angústias que afecta Pessoa.
Álvaro de Campos
O mais moderno e multifacetado dos heterónimos. O filho
indisciplinado da sensação.
Três fases poéticas:
Decandentismo: o tédio, o cansaço e a necessidade de novas
sensações.
Futurismo e Sensacionismo: exaltação da força, da violência,
do excesso, da civilização moderna e da máquina e de sentir
tudo de todas as maneiras: “ode triunfal”.
Fase de Abulia: cansaço e tédio existencial em que o “eu” se
fragmenta, desenquadrado, incapaz de viver e sentir a vida e
dominado pelo vício de pensar, vê na infância o paraíso
perdido: “Aniversário” e “Lisbon Revisited”.
Álvaro de Campos surge quando “sente um impulso para escrever”.
Para Campos, a sensação é tudo, O sensacionismo torna a
sensação, a realidade da vida e da base da arte. Álvaro de Campos é
quem melhor procura o totalização das sensações, mas sobretudo das
percepções conforme as sente.
Em Campos, há a vontade de ultrapassar os limites das próprias
sensações, numa vertigem insaciável, que o leva a querer “ser toda a
gente em toda a parte”.
Mas, passada a fase eufórica, o desassossego de Campos leva-o a
revelar uma fase disfórica, a ponto de desejar a própria destruição.
Depois de exaltar a beleza e da força da máquina por oposição à
beleza tradicionalmente concebida, a poesia de Campos revela um
7. pessimismo agónico, a dissolução do “eu”, a angústia existencial e uma
nostalgia da infância irremediavelmente perdida.
Versos Ilustrativos
“E ando pela mão deuses: subtermo-
das estações” nos”
Panteísmo “Carpe Diem”
Alberto Caeiro “E ando pela mão “Colhe/o dia porque
das estações” és ele”
Antimetafísica “a confiança
(recusa do mole/na hora
pensamento) fugitiva”
“Eu não tenho Ideal de
filosofia: tenho Ricardo Reis ataraxia/apati
sentidos” a
Valorização da Paganismo “Mais vale saber
Natureza (crença nos passar
“Sou o Descobridor deuses da silenciosamente”
da Natureza” mitologia e no “O desejo de
Sensacionismo Fado) indiferença”
- visualismo “Pagãos inocentes Passagem do
“ O meu olhar é da decadência” tempo/a
nítido como um Estoicismo morte
girassol” (aceitar “Passamos como um
Poeta da voluntariament rio”
realidade e as leis do “a vida/passa e não
imediata Fado) fica”
(presente) “Nós, imitando os
“Não quero incluir o Deuses/Tão pouco
tempo no meu livres” Álvaro de Campos
esquema” “Só esta liberdade
Deambulismo nos concedem os
8. Futurismo/mod Nostalgia da “(...) nada sois que
ernismo- Infância eu me sinta”
apologia da “No tempo em que Frustração/ne
civilização festejavam o dia gatividade/can
moderna dos meus anos” sanço
“Ser completo como Dor de Pensar existencial
uma máquina” “Tirem-me daqui a “Somam-se-me os
Sensacionismo metafísica” dias/serei velho
“Ah,não ser eu toda “Não penses! Deixa quando for”
a gente em toda a o pensar na cabeça” “A única conclusão é
parte!” Inutilidade morrer”
das sensações
Os Lusíadas e Mensagem
Camões, n‟ Os Lusíadas e Fernando Pessoa, na Mensagem, cantam,
em perspectivas diferentes, Portugal e a sua história, realçando a
expansão marítima e o alargamento da fé. Enquanto o primeiro celebra
o apogeu e pressente a decadência do Império, o segundo retorna às
origens e às descobertas marítimas, mas situa-se na fase terminal do
processo de dissolução do mesmo império.
Enquanto Camões nos dá conta do heroísmo que permitiu a
construção do império português, Fernando Pessoa procura libertar a
pátria de um passado que se desmoronou e encontrar um novo
heroísmo que exige grandeza de alma e capacidade de sonhar.
Classificação Literária
Obra épico – Lírica e simbólica
- parte de um núcleo de
acontecimentos históricos;
- usa,por vezes, o tom Transfigura matéria histórica em símbolos que
sublime ou comovido da fecundam o presente, inventando o futuro (mitos que
epopeia. são ideais a seguir): o assunto não são os eventos
históricos, mas a essência de ser português.
9. Estrutura da Obra
Mensagem
Portugal -» Mensagem (poemas produzidos de 1913 a 1914)
Estrutura: 44 poemas – organizados em três partes que
obedecem a uma estrutura simbólica:
I parte: Brasão: os fundadores do país -» nascimento da
pátria (de Ulisses ao início das Descobertas)
o Os Campos
o Os Castelos
o As Quinas
o A coroa
o O Timbre
II parte: Mar Português: época aurea das Descobertas
(o império material) -» vida/realização do país
III parte: O Encoberto: aponta para o presente de
desistência (o império desfez-se); prevê o Desejado que
instaurará o Quinto Império (o império
civilizacional/cultural)-» morte/renascimento da nação
o Os Símbolos
o Os Avisos
o Os Tempos
Os Lusíadas
Estrutura Interna
Proposiç Invocaçã Dedicató Narraçã
ão; o; ria; o.
Estrutura Externa
10. Forma Narrativa;
Versos decessilábicos;
Rimas com esquema abababcc (rima cruzada nos seis primeiros
versos e emparelhada nos dois últimos);
Estâncias- oitavas;
Poema dividido em 10 cantos.
Planos
Plano da Viagem
A narração dos acontecimentos ocorridos durante a viagem
realizada entre Lisboa e Calecut
Plano da História de Portugal
Relato dos factos marcantes da História de Portugal
Plano da Mitologia
A mitologia permite e favorece a evolução da acção (os deuses
assumem-se, uns como adjuvantes, outros como aponentes dos
Portugueses) e constitui, por isso, a intriga da obra.
Plano do Poeta
Considerações e opiniões do autor expressos, nomeadamente, no
início e no fim dos cantos.
Proposição d’ Os Lusíadas – O Herói
Na “Proposição”, o poeta apresenta aqueles que serão os
protagonistas da sua epopeia, Assim, o herói inidividual d‟ Os Lusíadas
é Vasco da Gama, comandante da armada que realiza a viagem de
descoberta do caminho marítimo para a Índia. Contudo, Vasco da
Gama é paradigma de todo o povo português, já que Camões propõe
elogiar todos os navegadores, reis que dilataram a fé, conquistanto
territórios em África e na Ásia e todos os que imortalizaram, ficando
na memória dos homens pelos seus feitos grandiosos. Também o título
11. aponta para esta colectividade: canta-se um herói colectivo, que é o
povo português, o qual se destacou peçp esforço e pela coragem que
superaram todos os heróis da antiguidade.
Reflexões do Poeta
Nos planos narrativos desta Epopeia, encontramos um plano que
se diz respeito às chamadas considerações pessoais do poeta. Estas
reflexões surgem ao longo da Narração, normalmente no final de cada
canto. Nestas estrofes, o poeta apresenta a sua perspectiva em
relação ao império português, que perdia o seu brilho e aos valores
dominantes do país.
Por um lado, refere os “grandes e gravíssimos perigos”, a
tormenta e dano do mar, a guerra e o engano em terra; por outro lado,
faz a apologia da expansão territorial para divulgar a fé cristã,
manifesta o seu patriotismo e exorta D. Sebastião a dar continuidade
à obra grandiosa do povo português.
Felizmente Há Luar!
Felizmente Há Luar! recria em dois actos a tentativa frustrada
de revolta liberal de Outubro de 1817, reprimida pelo poder
absolutista do regime de Beresford e Miguel Forjaz, com o apoio da
igreja. Ao mesmo tempo, chama a atenção para as injustiças, a
repressão e as persiguições políticas no tempo de Salazar.
A acção de Felizmente Há Luar! centra-se na figura do General
Gomes Freire de Andrade e a sua execução, mostrando, ao mesmo
tempo, a resignação do povo, dominado pela miséria, pelo medo e pela
ignorância. O protagonista é construído através da esperança do povo,
das perseguições dos governantes e da revolta impotente da sua
mulher e dos seus amigos. Amado por uns, é odiado pelos que temem
perder o poder.
12. Dentro dos princípios do teatro épico, Felizmente Há Luar! é um
drama narrativo que analisa criticamente a sociedade, apresentando a
realidade com o objectivo de levar o espectador a tomar a posição.
Com a denúncia do amibente político repressivo daquela época, tenta
provocar a reflexão sobre a opressão e a censura que se repete no
século XX.
Características do modo dramático
1. Texto Principal: constituído pelas falas das personagens
Diálogo
Monólogo
Aparte
2. Texto Secundário: é constituído pelas didascálias.
Estrutura da Obra
O texto organiza-se em dois actos (que não estão delimitados por
cenas):
Acto I- inclui acontecimentos que decorrem entre a
tentativa de evitar uma conspiração que se prepara e a
identificação de seu líder e a sua prisão.
Acto II- inclui acontecimentos que decorrem entre a
prisão do General e a sua execução.
Texto Secundário
A peça é rica em indicações cénicas. Estas didascálias assumem
duas funções essenciais:
Indicações em itálico, normalmente entre parenteses oferecem
marcações típicas das didascálias: tom de voz, movimentos
13. cénicos das personagens, vestuário, efeitos de som e luz, entre
outros,
Notas à margem do texto principal: estas didascálias constituem
comentários do dramaturgo que interpretam/explicam as falas e
os comportamentos das personagens.
Paralelismo entre o Tempo da História (1817) e o Tempo da
Escrita (1961)
O dramaturgo recupera acontecimentos históricos passados
(revolta de 1817 que deu início às lutas liberais em Portugal) para
denunciar a situação social e política do seu próprio tempo (a crise dos
anos 60, durante a ditadura Salazarista, que culminará com o 25 de
Abril e o triunfo da Democracia). Sttau Monteiro pretende alertar os
seus contemporâneos para a ignorância, a miséria e a opressão,
incentivando-os a lutarem por uma sociedade mais justa e solidária
que permita uma verdadeira realização do Homem. Felizmente Há
Luar! é, por isso, uma obra metafórica/alegórica.
Elementos Simbólicos
Paralelismo de construção do início dos dois actos:
Os dois actos deste texto dramático começam exactamente da
mesma forma, para sugerir que, após a prisão do General, a
situação do povo continua exactamente na mesma, se não mesmo
pior, pois com a prisão de Gomes Freire, o povo perde até a
esperança.
O título: Felizmente Há Luar!
A expressão é primeiro usada por D. Miguel que, devido às
execuções prolongadas, se alegra por haver luar, de modo a
concretizar o castigo que acredita que purificará a sociedade e
irá dissuadir outros conspiradores. As mesmas palavras, são
depois usadas por Matilde e servem de estímulo para que o povo
14. se revolte contra a tirania dos governantes; para Matilde os
heróis amedrontam os poderosos mas tornam-se uma espécie de
luz para que outros, seguindo-lhes o exemplo, lutem pela
liberdade. É de notar que neste texto a escuridão nunca é total,
porque pretende ensinar-se que há sempre esperança.
Caracterização de Personagens
General Gomes Freire de Quer condenar inocentes
Andrade para evitar a revolução;
Esperança do povo; Prepotente;
Não aparece na peça, é só Corrompido pelo poder;
uma invocação; Vingativo;
Soldado brilhante; Visão estratégica do país;
Luta pela liberdade; Não é popular;
Grão-mestre da Maçonaria Representa a nobreza;
Portuguesa; Primo do General Gomes
Lider carismático. Freire.
William Beresford Principal Sousa
Poderoso; Fanático;
Interesseiro; Hipócrita;
Calculista; Não tem valores épicos;
Sarcástico e irracional; Representante do alto
Representante do poder clero;
militar inglês em Portugal; Odeia os franceses;
Odiava Portugal; Não gosta de Beresford;
Pragmático; Não gosta do povo devido à
Protestante; sua posição social.
Mau oficial.
Matilde
D. Miguel Pereira Forjaz Corajosa;
Romântica:
15. Inconstante (mudanças de Papel de impotência do
humor); povo;
Contra a injustiça: O mais consciente dos
Lutadora; populares;
Meia idade; Casado com Rita;
Nasceu em Seia numa É pobre e vive
família pobre; miseravelmente;
Casada com o General; Crítico;
Personalidade forte; Irónico.
Mulher solitária.
Vicente
Sousa Falcão Elemento do povo;
Não foi capaz de denfender Falso;
os seus ideais; Hipócrita;
Amigo de Gomes Freire; Interesseiro;
Tem como ideais “justiça” e Alpinista Social;
“liberdade”; Cúmplice do conselho de
Está de luto pela execução regência;
do General e por ele Delactor:
próprio; Pretende ser chefe de
Crítico (autocritica-se); polícia;
Revoltado por pertencer ao
povo;
Manuel Ambicioso;
Denuncia a opressão; Traidor do povo.
Os Símbolos
Saia Verde
A felicidade: a prenda compradas em Paris, com o dinheiro da
venda de duas medalhas do General.
Ao escolher aquela saia para esperar o General, destaca a
“alegria” do reencontro.
16. O Título/a luz/a noite/o luar
O título surge por duas vezes ao longo da peça:
D. Miguel salienta o efeito dissuador que aquelas execuções
poderão exercer sobre todos os que discutem as ordens dos
governadores.
Na altura da execução, as últimas palavras de Matilde, são de
coragem e de estímulo para que o povo se revolte contra a tirania
dos governantes.
A Luz está associada à vida, à saúde, à felicidade, enquanto a
noite e as trevas se associam ao mal, à infelicidade, ao castigo, à
perdição e à morte.
A Lua, por estar privada de luz própria, na dependência do sol. A
lua, é símbolo de transformação e de crescimento.
A moeda de cinco réis
Símbolo de desrespeito (dos mais poderosos em relação aos mais
desfavorecidos) apresenta-se como represália, quase vingança, quando
Manuel nada Rita dar a moeda a Matilde.
Os Tambores
Símbolo da repressão, provocam o medo e prenunciam com
ambiência trágica da acção.
Memorial do Convento
Saramago, em Memorial do Convento, recorrea um momento da
História e, em forma de narração alegórica, propõe uma reflexão
sobre esses acontecimentos, sobre o comportamento e o destino
humano e sobre um mundo onde há a magia do inexplicável.
Romance histórico, mas também social e de espaço, este romance
articula o plano da História, com o plano da ficção e o plano fantástico.
17. As vozes do narrador e das personagens proporcionam,
constantemente, uma análise crítica aos tempos representados e da
enunciação, mas, sobretudo, um comentário e uma crítica ao presente,
por onde passa também a História, permitindo confrontar o ser e o
tempo.
Título da Obra
Memorial do Convento aponta para o relato de acontecimentos
históricos relacionados com a construção de um convento (em Mafra),
recorrendo à memória do autor, com o objectivo de inscrever na
memória colectiva um período da nossa História e os heróis que
construiram um monumento que marcou essa época.
A obra é classificada como um romance, onde se aliam os factos
históricos, que podem ser comprovados pela visão oficial da História, à
ficção.
Acção/Estrutura
Memorial do Convento estrutura-se em 25 capítulos, não
numerados, que se organizam em vários planos narrativos: a promessa
do rei mandar construir um convento em Mafra, a construção desse
convento concretizada pelo povo, a construção de uma máquina
voadora que realizará o sonho de um padre de voar e a história de
amor entre um homem e uma mulher.
Pode-se considerar que as duas acções principais são aquelas que
giram em torno da construção do convento de Mafra e da relação
entre Baltasar e Blimunda; acrescenta-se ainda a narrativa da
construção da passarola que funciona como uma linha de acção
secundária.
Estrutura Circular da Obra/Dimensão Simbólica
18. Memorial do Convento tem uma estrutura claramente circular. É
num auto-de-fé, que se realiza no Rossio, em Lisboa, que Blimunda
encontra pela primeira vez Baltasar. No final da narrativa repete o
percurso que fizera 28 anos antes reencontrando Baltasar (quando
passa por Lisboa pela 7ª vez, após 9 anos de procura) de novo num
auto-de-fé, no Rossio, no qual Sete-Sóis morre queimado na fogueira
da Inquisição.
Esta estrutura tem uma dimensão simbólica, ou seja, Blimunda
encontra o seu homem no momento em que perde a mãe e se torna
autónoma. No final da narrativa, ao separar-se de Blimunda, Baltasar
fragmenta a unidade representada por este par; Blimunda procura-o
durante 9anos, numa demanda que se assemelha a um período de
gestação, após a qual é restabelecida a unidade deste par, quando
Sete-Luas recolhe a vontade de Sete-Sóis, no momento em que este
morre porque a si e à terra pertence, parecendo iniciar outro ciclo de
vida.
O tema do amor
Em Memorial do Convento opõem-se dois tipos de amor: o amor
contractual entre o rei e a rainha e o amor verdadeiro entre Baltasar
e Blimunda. A relação entre o casal real tem como único objectivo dar
um herdeiro à coroa, não existindo qualquer envolvimento afectivo
entre ambos o que acaba por gerar frustração (as infidelidades do rei
e os sonhos da rainha com o seu cunhado). Os encontros entre o casal
real são cheios de protocolo, excesso de roupa, de criados, num
artificialismo que contraria um acto que deveria ser natural e
espontâneo.
Baltasar e Blimunda têm uma relação amorosa plena, cheia de
carícias, jogos eróticos, desinibições, transgredindo as regras sociais
da época. Vivem um amor natural e institivo, onde as palvras são
desnecessárias e o amor parece eterno.
19. Categorias do Texto Narrativo
Acção
O rei D. João V, Baltasar e Blimunda e Bartolomeu Lourenço
protagonizam o romance.
A acção principal é a construção do Convento de Mafra. Situando-
se no século XVIII, encontra-se um entrelaçamento de dados
históricos, como o da promessa de D. João V de construir um convento
em Mafra e o do sofrimento do povo que nele trabalhou. Conhece-se a
situação económica e social do país, os autos-de-fé praticados pela
Inquisição, o sonho e a construção da passarola, as críticas ao
comportamento do clero e os casamentos dos príncipes.
Espaço
Os espaços físicos priveligiados pela acção são Lisboa e Mafra.
Entre vários lugares da capital ou dos arredores são referidos com
frequência o Terreiro do Paço, o Rossio, S.Sebastião da Pedreira,
Odivelas e Azeitão. Nas referências a Mafra, encontramos a Vela,
onde se constrói o Convento, Pêro Pinheiro, Serra Monte Junto e
outros locais.
O Alentejo surge como um espaço social importante, na medida
em que permite conhecer-se a miséria que então o povo passava.
Personagens
D. João V
É megalómano, infantil, devasso, libertino e ignorante, que não
hesita em utilizar o povo, o dinheiro e a posição social para satisfazer
os seus caprichos.
Anda preocupado com a falta de descendente, apesar de possuir
bastardos. Promete levantar um Convento em Mafra se tiver filhos da
20. rainha, com quem tem relações para cumprimento do dever, em
encontros frios e programados.
Baltasar Sete-Sóis
Baltasar Mateus é, com Blimunda, uma das personagens mais
interessantes da obra.
Baltasar, depois de deixar o exército, por ficar maneta, chega a
Lisboa como pedinte. Conhece Blimunda, com quem partilhará a vida.
Vai ainda partilhar do sonho do padre Bartolomeu Lourenço, ajudando
a construir a passarola e participando no seu primeiro voo.
Blimunda Sete-Luas
Filha de Sebastiana Maria de Jesus, que fora, pela Inquisição,
condenada e degredada, por ser cristã-nova. Com capacidades de
vidente e possuidora de uma saberdoria muito própria.
Blimunda é uma estranha vidente que vê no interior dos corpos os
males que destroem a vida e consegue recolher as “vontades” que
permitirão o voo da passarola. Por amar Baltasar recusa usar a magia
para conhecer o sseu interior.
O poder de Blimunda permite ver o que está no mundo, as
verdades mais profundas que o sustentam.
Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão
O sonho da passarola e a sua realidade apresentam o padre
Bartolomeu Lourenço como um homem que só conseguirá evitar a
Inquisição pela amizade que lhe tem o rei.
Ajudado por Baltasar e Blimunda, o padre Bartolomeu Lourenço
construiu a sua obra.
Foi forçado a fugir à Inquisição por possível adesão ao judaísmo
ou por se ter envolvido num caso de bruxaria. Morreu em Toledo.
Povo
O povo trabalhador construiu o convento de Mafra, à custa de
muitos sacrificios e mesmo de algumas mortes. Definido pelo seu
21. trabalho, pela sua miséria física e moral, pela sua devoção, este povo
humilde surge como verdadeiro obreiro da realização do sonho de D.
João V.
Clero
A hipocrisia e a violência do clero revela-se em rituais que em vez
de elevarem o espírito acentuam a degradação moral e corrupção
religiosa (autos-de-fé, procissões da Páscoa e procissão do Corpo de
Deus).