2. • A questão da heteronímia resulta de características pessoais referentes à
personalidade de Fernando Pessoa: o desdobramento do “eu”, a multiplicação de
identidades e a sinceridade do fingimento, uma condição que patenteou sua
criação literária e que deu origem ao poema que segue:
Autopsicografia
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração
Pessoa, Fernando. Lírica e dramática, In: Obras de Fernando Pessoa
No que se refere aos heterônimos, vejamos:
Alberto Caeiro
É uma poesia aparentemente simples, mas que na verdade esconde uma imensa
complexidade filosófica, a qual aborda a questão da percepção do mundo e da
tendência do homem em transformar aquilo que vê em símbolos, sendo incapaz
de compreender o seu verdadeiro significado.
Ricardo Reis
O médico Ricardo Reis é o heterônimo “clássico” de Fernando Pessoa, pois
observa-se em toda sua obra a influência dos clássicos gregos e latinos baseada na
ideologia do “Carpe Diem”, diante da brevidade da vida e da necessidade de
aproveitar o momento.
Álvaro de Campos
Heterônimo futurista de Fernando Pessoa, também é conhecido pela expressão de
uma angústia intensa, que sucedeu seu entusiasmo com as conquistas da
modernidade.
Na fase amargurada, o poeta escreveu longos poemas em que revela um grande