1) O documento descreve vários monumentos cristãos primitivos na Península Ibérica, incluindo basílicas, igrejas e mausoléus dos períodos visigótico e moçárabe.
2) Menciona construções notáveis como S. Frutuoso de Montélios em Braga e a basílica de Santa Comba de Bande.
3) Detalha a presença de comunidades cristãs na Península desde o século III e a evangelização inicial do território português.
2. Basílica paleocristã (VI – VII) erguida
sobre uma casa anterior conhecida
como casa de Tancinus.
Conimbriga
Está documentada a presença de comunidades cristãs na Península Ibérica a partir do séc. III.
Há notícias de os bispos de Ebora e Ossonoba (Faro) terem participado no concílio de Elvira,
em Granada, nos inícios do séc. IV, pelo que o território actualmente português foi
evangelizado desde os primórdios.
3. Nos finais do século IV, os habitantes de Conimbriga edificaram uma muralha para se defenderem das hordas invasoras,
sacrificando parte da cidade. Em 468 os Suevos assaltam a cidade, saqueiam e destroem Conimbriga. A cidade é
abandonada, deixando de ser sede episcopal que transita para Aeminium (Coimbra).
4. Os Bárbaros, que penetraram nas Espanhas,
pilham e massacram sem piedade. Por sua vez, a
peste não causa menos devastações. Enquanto
as Espanhas estão entregues aos excessos dos
Bárbaros, e o mal da peste não faz menos
estragos, as riquezas e os víveres armazenados
nas cidades são extorquidos pelo despótico
colector de impostos e exauridos pelos soldados.
E eis que a temível fome ataca: os humanos
devoram a carne humana, sob a pressão da
fome, e as próprias mães se alimentam do corpo
dos filhos, por elas mortos e cozinhados. Os
animais ferozes, habituados aos cadáveres das
vítimas da espada, da fome ou da peste, matam
também os homens mais fortes e, cheios dessa
carne, desencadeiam por todo o lado o
aniquilamento do género humano.
Citado em A. H. de Oliveira Marques (coord.): Portugal. Das Invasões
Germânicas à ”Reconquista”; in «Nova História de Portugal»; direcção geral da
obra de Joel Serrão, e A. H. de Oliveira Marques; volume II; Lisboa; Presença;
1993; p.26.
Idácio de Chaves
Finais do séc. IV – c. 470
Os quatro cavaleiros
do Apocalipse
Apocalipse do Lorvão
Séc. XII
5. Ruínas arqueológicas de Dume (Braga)
Aqui estava radicada a corte suévica, num ambiente rural e suburbano, ao gosto bárbaro. A
presença da corte justificou a fundação, por S. Martinho de Dume (séc. VI), de uma basílica,
de um mosteiro e de um bispado, vindo a converter os suevos ao Cristianismo.
6. A Península Ibérica
dividiu-se em dois
reinos: o dos Suevos,
com a capital em
Braga, e o dos
Visigodos, com a
capital em Toledo.
Os Visigodos
venceriam depois os
Suevos, dominando
toda a Península.
http://arqueo.org/visigotico
7. Ruínas da basílica paleocristã (séc. VI)
de Torre de Palma (Monforte;
Portalegre) e respectiva planta, com
indicação do baptistério e dos
cemitérios, segundo Stephanie
Maloney.
11. Lápide paleocristã com epitáfios de Exuperius e Rufina, proveniente de
Mértola e conservada no Museu Nacional de Arqueologia de Lisboa
527 - 587 d. C.
Tampo de sepultura, proveniente de Mértola, conservada no
MNA (Lisboa), datada do ano de 525.
527 - 587 d. C.
12. Ruínas da igreja
paleocristã de Odrinhas;
Sintra.
Localizada numa antiga villa
romana, cujos mosaicos são
visíveis, desta igreja resta a
ábside que se observa,
datável do séc. VI e que foi
sucessivamente ocupada ao
longo da Idade Média.
13. Antiga Sé de Egitânia (Idanha-a-Velha)
Segunda metade do séc. VI.
14. O edifício está envolvido por ruínas medievais que
reaproveitam materiais romanos.
18. S. Frutuoso de Montélios
Braga
A fundação deste templete com função de
mausoléu tem sido remetida para os
meados do séc. VII, sob encomenda de S.
Frutuoso, bispo godo de Braga entre 656 e
665, data da sua morte.
Destaque-se a torre central que encima a
«cascata» geométrica de volumes.
19. Planta centralizada em cruz grega
Destaque-se o friso
coríntio da parede que se
repete no capitel.
20. Aspecto do mausoléu anteriormente ao restauro da Direcção-
Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais.
21. Os trabalhos de restauro foram profundos e os
especialistas discutem a sua autenticidade.
22. O restauro seguiu a ideia, muito provável, que o monumento terá sido edificado sob inspiração
bizantinizante no mausoléu de Gala Placídia, em Ravena, datado dos inícios do séc. IV.
23. A silhueta arquitectónica de S. Frutuoso de Montélios, pelo aparato dos seus frontões e da
torre central, pela modinatura das suas cornijas, pelo seu aparelho e arcaturas cegas,
evidencia-nos um indiscutível aspecto classicizante e bizantinizante.
C. A. Ferreira de Almeida
30. Igreja S. Pedro de Balsemão
Lamego
Profundamente alterada por intervenções nos
séculos XVII e XVIII, conserva no interior
vestígios visigóticos e moçárabes.
31. Os capitéis, bem como outros motivos
decorativos, e ainda diversos aspectos
técnicos, deixam supor, além de
influências orientalizantes, afinidades
com S. Frutuoso de Montélios.
32. O acesso à capela-mor faz-se através de
uma abertura estreita com um arco
ultrapassado. O santuário muito pequeno
e fechado é uma característica dos
templos moçárabes. *
* Moçárabes: nome que, na Península Ibérica,
designava os cristãos que viviam sob domínio
muçulmano.
33. A igreja alberga o sarcófago de D.
Afonso Pires (meados do séc. XIV),
bispo do Porto.
34. Na região da Nazaré (freguesia de Famalicão), numa zona isolada entre o mar e uma
encosta, localiza-se a igreja de S. Gião, que se encontra em obras de restauro, desde 2001.
35. Chegou à actualidade transformada num palheiro e estábulo para os animais.
Segundo alguns, a edificação é moçárabe, embora surjam sinais e vestígios de ter existido um
reaproveitamento de materiais e estruturas anteriores, visigóticos ou mesmo paleocristãos.
36. Iconostase – Como os ícones oferecidos
à devoção dos fiéis eram muito numerosos
nas igrejas gregas e russas, tomou-se o
hábito de os dispor em várias filas sobre
uma espécie de grade separando o corpo
da igreja da capela-mor reservada ao
padre; esta divisória, tornada um
escaparate de ícones, tomou o nome de
iconostase.
Jorge Henrique Pais da Silva e Margarida Calado: Dicionário
de Termos de Arte e Arquitectura; Lisboa; Ed. Presença; 2005
40. Igreja de Vera Cruz de Marmelar
Portel
(janela visigótica em forma de concha. Século VI - VII)
41. Aspecto exterior da igreja moçárabe de S. Pedro de Lourosa (Oliveira do Hospital)
Séc. X, segundo uma inscrição que aponta o ano de 912
42. A conjugação de diversos volumes é um dos aspectos típicos da arquitectura
moçárabe, mesmo admitindo intervenções posteriores, já da era românica.
Destaque para o ajimez (janela geminada de estilo árabe, dividida ao meio por uma
coluna ou mainel) decorado de alfiz (zona rectangular do muro onde se inscreve o vão da
janela de gosto árabe).
Notável é o enorme nartex (átrio com pórtico erguido imediatamente antes das naves
das basílicas paleocristãs, românicas, etc), claramente inspirado nos modelos romanos
43. Como é hábito nas construções moçárabes dos séculos IX – X, as
naves laterais têm cerca de metade da largura da nave central. As
arcadas são baixas relativamente às paredes.
Reparem-se ainda nos arcos pouco ultrapassados.
44. Portal integrado no antigo paço
episcopal de Coimbra, hoje Museu
Nacional Machado de Castro,
datado do séc. XII. Tem uma
portada dupla de arco ultrapassado
o que, considerando a data da
construção, não é já muito usual,
mas comprova a persistência dos
modelos islâmicos na arquitectura
civil, em zonas de forte tradição
moçárabe.
45. O Museu Regional de Beja possui um
núcleo visigótico na igreja de Santo
Amaro.
47. Os especialistas divergem na datação destes capitéis. Tendem, porém,
a considerá-los da era visigótica, justificando o título atribuído a Beja
de capital da arte visigótica, tal a profusão de vestígios guardados no
museu.
48. Bibliografia:
- ALARCÃO, Jorge de: Coimbra. A Montagem do Cenário Urbano; Coimbra; Imprensa da
Universidade; 2008; pp. 67 – 73.
- ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de: História da Arte em Portugal; volume 2; Lisboa;
Publicações Alfa; 1986.
- ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de: História da Arte em Portugal. O Românico; Lisboa;
Editorial Presença; 2001; pp. 22 – 34.
- CORREIA, Vergílio: Arte Visigótica; in «História de Portugal» (direcção de Damião Peres);
volume 1; Barcelos; Portucalense; 1928; pp.363-388. [ESEC 94(469)/2].
- HAUSCHILD, Theodor: Arte visigótica; in História da Arte em Portugal, volume 1; Lisboa; 1986;
pp. 149-169.
- MACIEL, M. Justino: A Arte da Antiguidade Tardia (séculos III – VIII, ano de 711; in «História da
Arte Portuguesa» (direcção de Paulo Pereira); volume 1; Lisboa; Círculo de Leitores; 1995; pp.
103 – 146 [ESEC 7.01/.08/51].
- PEREIRA, Paulo: Arte Portuguesa; Lisboa; Temas e Debates / Círculo de Leitores; 2011; pp. 153
– 164.