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A MÚSICA NA SALA DE AULA
Org. Prof. Amilton Benedito Peletti
TRABALHO COM MÚSICA...
 Ouvir a música;
 Conversar sobre o que acharam da música (ritmo e história nela contada);
 Entregar a letra da música impressa e ouvir novamente;
 Pesquisar no dicionário o significado das palavras desconhecidas;
 Ouvir a música fazendo algumas pausas; chamar atenção para a história e instrumentos
utilizados;
 Representar a música por meio de desenho;
 Debater sobre o conhecimento que a música trouxe sobre o conteúdo estudado.
 Relação com o tema abordado;
 Época em que foi escrita e composta, situar a música no contexto histórico que está
sendo abordado;
 Identificação da intenção do autor com a música;
 A música foi composta e escrita no momento em que o assunto abordado estava
acontecendo ou foi feita depois como forma de registro;
 Linguagem utilizada: formal, informal, se apresenta regionalismos e gírias;
 Atividades de entendimento da música como montagem de cartazes com figuras ou
palavras, painéis, paródias, etc.
[...] ―a música não é um substituto para os textos tradicionais, mas, sim, um complemento
a eles‖ (Sjolie, 1997, p. 6).
A Música Brasileira no Ensino de História
O trabalho do historiador, ou a ―operação historiográfica‖, consiste na combinação de um
lugar social, de práticas científicas e de uma escrita (CERTEAU, 2010, p. 66). Esta,
fundamenta-se nas fontes, sejam elas escritas ou não. No ensino de História as fontes também
são essenciais, são recursos usados para problematizar um determinado conteúdo ou
conceito.
[...] "o ensino de história deve estar articulado a diversificação de documentos, como imagens,
canções, objetos arqueológicos, entre outros, na construção do conhecimento histórico‖.
(PARANÁ, 2008, p. 53).
Sobre o potencial documental da canção, o historiador David Treece afirma:
A canção popular é claramente, muito mais do que um texto ou uma mensagem. Seu poder
significante e comunicativo só é percebido como um processo social à medida em que o ato
performático é capaz de articular e engajar uma comunidade de músicos e ouvintes numa
forma de comunicação social." (TREECE, 2000, p. 128).
Essa definição de canção popular como fonte histórica reafirma a relevância da música
como recurso pedagógico e está em consonância com o objeto da História:
"(...) os processos históricos relativos às ações e às relações humanas praticadas no
tempo, bem como a respectiva significação atribuída pelos sujeitos, tendo ou não consciência
dessas ações. As relações humanas produzidas por essas ações podem ser definidas como
2
estruturas sócio históricas, ou seja, são as formas de agir, pensar, sentir, representar, imaginar,
instituir e de se relacionar social, cultural e politicamente." (PARANÁ, 2008, p. 46)
O trabalho com música no ensino de História exige uma abordagem específica e cabe ao
professor selecionar seu material e escolher a opção metodológica mais adequada para
facilitar o processo de ensino e aprendizagem. Ao escolher a música como um recurso didático
é necessário planejar seu uso, ou seja, determinar em qual momento da aula a canção será
usada e com qual será sua finalidade.
A música, compreendida como um objeto de aprendizagem permite múltiplos usos e
leituras. Os objetos de aprendizagem servem para ilustrar, mobilizar, explicar ou problematizar
um determinado conteúdo ou conceito. A pesquisadora Katia Abud explica que ―no processo de
aprendizagem as fontes se transformam em recursos didáticos, na medida em que são
chamadas para responder perguntas e questionamentos adequados aos objetivos da história
ensinada‖ (ABUD, 2005, p. 309). Nesse sentido, é interessante observar que a canção usada
em sala de aula pode se desprender de seu contexto de produção e dos significados a ela
atribuídos pelo autor e pela comunidade de ouvintes, ela passa ―a ser um instrumento para o
desenvolvimento de conceitos na aula de história‖ (ABUD, 2005, p. 312).
No entanto, a música também pode ser utilizada em sala de aula como fonte histórica,
como usam os historiadores como matéria-prima de suas pesquisas. Entre os profissionais
preocupados com a relação entre história e música, destaca-se o historiador Marcos
Napolitano. Este pesquisador apresenta uma proposta de análise da canção popular nas
esferas da produção, circulação e distribuição, articuladas às contribuições dos teóricos da
Escola de Frankfurt e dos Estudos Culturais. De acordo com a literatura especializada, o
processo de análise de fontes musicais devem seguir alguns procedimentos, chamados de
análise externa e interna:
"Com relação à análise externa do documento musical, é prudente compreendê-la
subdividindo-a em dois campos distintos. A primeira instância deve tratar do contexto histórico
mais amplo, situando os vínculos e relações do documento e seu(s) produtor(es) com seu
tempo e espaço, tarefa comum e básica dos historiadores [...]. O segundo campo refere-se a
outra especificidade da documentação, isto é, ao processo social de criação, produção,
circulação e recepção da música popular". (MORAES, 2000, p. 216).
Música e cultura: Todo povo tem a sua música
Valéria Peixoto de Alencar
Povos do mundo todo produziam música muito antes das primeiras orquestras, surgidas
durante o barroco europeu, no século 16, e mesmo muito antes do século 11, quando Guido
d'Arezzo criou a notação musical da forma como a estudamos até hoje. Feitas para cerimônias
religiosas ou festivas, essas primeiras músicas, de diferentes culturas, nos influenciam até os
dias atuais.
Vários mitos africanos, asiáticos e americanos narram como os deuses inventaram os
instrumentos musicais, durante a criação do mundo. Ainda hoje, para alguns povos, os
instrumentos têm poderes sobrenaturais e permitem que os homens se comuniquem com seus
ancestrais ou com os próprios deuses.
3
Quando pensamos em músicas antigas, logo vem à mente a música clássica, as
orquestras e seus instrumentos requintados. Dificilmente paramos para pensar na produção
musical de povos indígenas, africanos, orientais... Isso talvez ocorra porque temos uma
formação artística e musical proveniente do neoclassicismo, que, durante longo tempo, ignorou
outro tipo música que não fosse a erudita.
África
É preciso salientar, primeiramente, que, ao falarmos de um grande continente, com povos
muito diversos, corremos o risco de fazer generalizações. Ou seja, seria o mesmo que dizer
que a música brasileira é apenas o samba. E isso vale para todos os lugares e culturas de que
falaremos aqui.
No caso da África, nos referimos aos povos da região subsaariana e aos elementos da
musicalidade que vieram até nós, trazidos pelos escravos. Um dos elementos principais da
música africana é o instrumento de percussão.
Na África central, podemos encontrar um elemento comum entre as diversas tradições
musicais: tambores, de todos os tipos e tamanhos. Desde cedo as crianças aprendem a tocar e
cantar, pois a música é parte do cotidiano, utilizada para celebrar casamentos e nascimentos,
para curar doenças e para acompanhar o trabalho.
A cultura brasileira sofreu enorme influência da africana. No que se refere à música, além
dos tambores utilizados em rituais religiosos, os escravos trouxeram ritmos como a umbigada e
o maxixe, que deram origem ao samba.
Oriente Médio
Berço das religiões cristã, judaica e islâmica, o Oriente Médio é a região em que se
desenvolveram as primeiras grandes civilizações de que temos notícia: Suméria, Assíria,
Babilônia e Egito. É lá que encontramos os antecedentes de instrumentos modernos, como o
violino, o oboé e o trompete.
Índia
Dó, ré, mi, fá, sol, lá e si: estas são as sete notas musicais que conhecemos. E a partir
delas construímos as escalas e fazemos música em qualquer momento, certo? Sim, mas não
na Índia.
A música clássica indiana mais conhecida provém da Região Norte desse país. Ela se
baseia numa complicada série de escalas chamadas ragas, cada uma destinada a uma
situação, a uma hora do dia ou estação do ano em particular. Existem mais de 200 ragas
diferentes. Para tocar esse tipo de música, com seu complexo padrão de notas e ritmos, o
músico tem que se dedicar a muitos anos de estudo.
Extremo Oriente
Região formada por países de tradições musicais milenares, grande parte de sua música
era escrita para danças da corte ou para o teatro. Também há músicas de cunho religioso, com
instrumentos de percussão de todos os tipos - tambores, gongos e sinos -, usados para aplacar
os deuses e afastar os demônios.
4
Oceania e ilhas do Pacífico
As milhares de ilhas espalhadas pelo Oceano Pacífico possuem uma tradição musical
intimamente ligada ao mar, servindo, inclusive, para pedir aos deuses auxílio na navegação.
No passado, os povos que viviam nessa região viajavam de ilha para ilha, levando
consigo seus instrumentos - tambores, flautas e apitos. Dessa forma, povoaram as diversas
ilhas, como Papua-Nova Guiné e Havaí.
Américas
Assim como em todas as regiões descritas até agora, temos que nos lembrar da vastidão
do continente americano e da imensa quantidade de povos indígenas que o habitava antes da
colonização europeia.
Ainda assim, podemos encontrar elementos musicais comuns em muitas culturas. A
música, por exemplo, na maioria das vezes era cantada e expressava a crença desses povos
nos deuses relacionados à natureza.
No Brasil, alguns mitos narram que a música teria sido um presente dos deuses,
entristecidos com o silêncio no mundo dos humanos. Em outras lendas, a criação do mundo se
mistura à criação da música. Assim, a música serve para ter contato com os deuses e os
ancestrais. Num ritual, um discurso pode acabar em canto - ou vice-versa. Além da voz (canto),
temos instrumentos como: chocalhos, guizos, bastões, tambores (percussão), apitos e flautas
(sopro) - e zunidores.
Referências
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história. Disponível em:
http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/mydownloads_01/singlefile.php?cid=42&lid=6
848
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perspectivas interdisciplinares. Rio de Janeiro: Editora Mauad, 2008.
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Paulo: Record, 2004.
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CERTEAU, Michel de. A escrita da História. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010.
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HOBSBAWM, Eric J. História Social do Jazz. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 2008.
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5
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MOURA, Roberto M. No princípio, era a roda: um estudo sobre samba, partido-alto e outros
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_______. Tia Ciata e a pequena África no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal
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MUSSA, Alberto; SIMAS, Luiz Antonio. Samba de enredo: história e arte. Rio de Janeiro:
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NAPOLITANO, Marcos. História & Música. Editora Autêntica, 2002.
_______. A síncope das idéias: a questão da tradição na música popular brasileira. São Paulo:
Editora Fundação Perseu Abramo, 2007.
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_______; AMARAL, Maria Cecília; BORJA, Wagner Cafagni. Linguagem e canção: uma
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Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor/Editora UFRJ, 2001.
SOIHET, Rachel. A subversão pelo riso: estudos sobre o carnaval carioca da Belle Époque aos
tempos de Vargas. Rio de Janeiro: Edufu, 2008.
TREECE, David. A flor e o canhão: a bossa nova e a música de protesto no Brasil (1958/1968).
História Questões e Debates. Jun/jul. Curitiba, 2000.
VIANNA, Hermano. O mistério do samba. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor/Editora UFRJ,
2007.
6
Cacimba de Mágoa (part. Falamansa)
Gabriel O Pensador
O sertão vai virar mar
É o mar virando lama
Gosto amargo do Rio Doce
De Regência a Mariana
Mariana, Marina, Maria, Márcia, Mercedes,
Marília
Quantas famílias com sede, quantas
panelas vazias?
Quantos pescadores sem redes e sem
canoas?
Quantas pessoas sofrendo, quantas
pessoas?
Quantas pessoas sem rumo como canoas
sem remos
Como pescadores sem linha e sem
anzóis?
Quantas pessoas sem sorte, quantas
pessoas com fome?
Quantas pessoas sem nome, quantas
pessoas sem voz?
Adriano, Diego, Pedro, Marcelo, José
Aquele corpo é de quem, aquele corpo
quem é?
É do Tião, é do Léo, é do João, é de
quem?
É mais um joão-ninguém, é mais um morto
qualquer
Morreu debaixo da lama, morreu debaixo
do trem?
Ele era filho de alguém, e tinha filho e
mulher?
Isso ninguém quer saber, com isso
ninguém se importa
Parece que essas pessoas já nascem
mortas
E pra quem olha de longe passando
sempre por cima
Parece que essas pessoas não têm valor
São tão pequenas e fracas, deitando em
camas e macas
Sobrevivendo, sentindo tristeza e dor
Quem nunca viu a sorte pensa que ela não
vem
E enche a cacimba de mágoa
Hoje me abraça forte, corta esse mal,
planta o bem
Transforma lágrima em água
O sertão vai virar mar
É o mar virando lama
Gosto amargo do Rio Doce
De Regência a Mariana
O sertão vai virar mar
É o mar virando lama
Gosto amargo do Rio Doce
De Regência a Mariana
Quem olha acima, do alto, ou na TV em
segundos
Às vezes vê todo mundo, mas não
enxerga ninguém
E não enxerga a nobreza de quem tem
pouco, mas ama
De quem defende o que ama e valoriza o
que tem
Antônio, Kátia, Rodrigo, Maurício, Flávia e
Taís
Trabalham feito formigas, têm uma vida
feliz
Sabem o valor da amizade e da pureza
Da natureza e da água, fonte da vida
Conhecem os bichos e plantas e como o
galo que canta
Levantam todos os dias com energia e
com a cabeça erguida
Mas vêm a lama e o descaso, sem
cerimônia
Envenenando o futuro e o presente
Como se faz desde sempre na Amazônia
Nas nossas praias e rios impunemente
Mas o veneno e o atraso, disfarçado de
progresso
Que apodrece a nossa fonte e a nossa foz
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Não nos faz tirar os olhos do horizonte
Nem polui a esperança que nasce dentro
de nós
É quando a lágrima no rosto a gente
enxuga e segue em frente
Persistente como as tartarugas e as
baleias
E nessa lama nasce a flor que a gente
rega
Com o amor que corre dentro do sangue,
nas nossas veias
Quem nunca viu a sorte pensa que ela não
vem
E enche a cacimba de mágoa
Hoje me abraça forte, corta esse mal,
planta o bem
Transforma lágrima em água
O sertão vai virar mar
É o mar virando lama
Gosto amargo do Rio Doce
De Regência a Mariana
O sertão vai virar mar
É o mar virando lama
Gosto amargo do Rio Doce
De Regência a Mariana
O sertão vai virar mar (o sertão virando
mar)
É o mar virando lama (o mar virando lama)
Gosto amargo do Rio Doce (da lama
nasce a flor)
De Regência a Mariana (muita força, muita
sorte)
O sertão vai virar mar (mais justiça, mais
amor)
É o mar virando lama
Gosto amargo do Rio Doce
De Regência a Mariana
O sertão vai virar mar
É o mar virando lama
Composição: Tato e Gabriel o Pensador
Bela iniciativa do Falamansa e de Gabriel O Pensador em parceria com o Instituto Últimos
Refúgios e o Instituto O Canal – um clipe musical que lamenta a tragédia ocorrida no Rio
Doce e o completo descaso com a natureza e com as famílias afetadas. No YouTube, a
banda Falamansa explica que ―cada visualização do clipe se transforma em uma doação para
um fundo de assistência às famílias ribeirinhas com a finalidade de promover obras sociais
comunitárias‖.
O Meu País - Zé Ramalho
Compositor: Livardo Alves - Orlando Tejo -
Gilvan Chaves
Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas, bico calado, faz de conta que sou
mudo
Um país que crianças elimina
Que não ouve o clamor dos esquecidos
Onde nunca os humildes são ouvidos
E uma elite sem Deus é quem domina
Que permite um estupro em cada esquina
E a certeza da dúvida infeliz
Onde quem tem razão baixa a cerviz
E massacram - se o negro e a mulher
Pode ser o país de quem quiser
Mas não é, com certeza, o meu país
Um país onde as leis são descartáveis
Por ausência de códigos corretos
Com quarenta milhões de analfabetos
E maior multidão de miseráveis
Um país onde os homens confiáveis
Não têm voz, não têm vez, nem diretriz
Mas corruptos têm voz e vez e bis
E o respaldo de estímulo incomum
Pode ser o país de qualquer um
Mas não é com certeza o meu país
Um país que perdeu a identidade
Sepultou o idioma português
Aprendeu a falar pornofonês
Aderindo à global vulgaridade
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Um país que não tem capacidade
De saber o que pensa e o que diz
Que não pode esconder a cicatriz
De um povo de bem que vive mal
Pode ser o país do carnaval
Mas não é com certeza o meu país
Um país que seus índios discrimina
E as ciências e as artes não respeita
Um país que ainda morre de maleita
Por atraso geral da medicina
Um país onde escola não ensina
E hospital não dispõe de raio - x
Onde a gente dos morros é feliz
Se tem água de chuva e luz do sol
Pode ser o país do futebol
Mas não é com certeza o meu país
Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas, bico calado, faz de conta que sou
mudo
Um país que é doente e não se cura
Quer ficar sempre no terceiro mundo
Que do poço fatal chegou ao fundo
Sem saber emergir da noite escura
Um país que engoliu a compostura
Atendendo a políticos sutis
Que dividem o Brasil em mil Brasis
Pra melhor assaltar de ponta a ponta
Pode ser o país do faz-de-conta
Mas não é com certeza o meu país
Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas, bico calado, faz de conta que sou
mudo
500 Anos de Sobrevivência
Gabriel O Pensador
500 anos de vida,
500 anos de sobrevivência,
500 anos de história,
500 anos de experiência,
500 anos de batalhas, derrotas e vitórias,
Desordem e progresso, fracasso, sucesso,
Dor e alegria, tristeza e paixão,
500 anos de trabalho,
e a obra ainda está em construção,
A luta continua, a vida continua,
Apesar do sangue que escorre,
O guerreiro não se cansa e acredita na
mudança,
Porque a esperança é última que morre.
Será só imaginação?
Será que nada vai acontecer?
Será que é tudo isso em vão?
Será que vamos conseguir vencer?
Eu odeio tudo isso mas eu tenho que saber,
O que eu leio no jornal e eu vejo na TV,
Eu odeio tudo isso mais eu tenho que
vencer,
Porque eu tenho um compromisso com a
vida e com você,
O que eu vejo no jornal não me deixa feliz,
Mas não mudo de canal e não mudo de
país,
Eu tenho medo, porque o medo está no ar,
Mas ainda é cedo pra deixar tudo pra lá,
Não adianta ficar aqui á toa,
Só esperando pra ouvir notícia boa,
O que se planta é o que se colhe,
O futuro é um presente que a gente mesmo
escolhe,
A semente já está no nosso chão,
Agora é só regar com a mente e o coração,
A transformação da revolta em amor,
Faz a água virar vinho e o espinho virar flor,
Será só imaginação?
Será que nada vai acontecer?
Será que é tudo isso em vão?
Será que vamos conseguir vencer?
Não adianta ficar aqui é toa,
Só esperando pra ouvir notícia boa,
O que se planta é o que se colhe,
O futuro é um presente que a gente mesmo
escolhe,
A semente já está no nosso chão,
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Agora é só regar com a mente e o coração,
A transformação da revolta em amor,
A transformação...
Será só imaginação?
Será que nada vai acontecer?
Será que é tudo isso em vão?
Será que vamos conseguir vencer?
Nem todos que sonharam conseguiram,
mas pra conseguir é preciso sonhar.
Composição: Gabriel O Pensador
História do Brasil
Edson Gomes
Eu vou contar pra vocês
Certa história do Brasil
Foi quando Cabral descobriu
Este país tropical
Um certo povo surgiu
Vindo de um certo lugar
Forçado a trabalhar neste imenso país
E era o chicote no ar
E era o chicote a estalar
E era o chicote a cortar
Era o chicote a sangrar
Um, dois, três até hoje dói
Um, dois, três, bateu mais de uma vez
Por isso é que a gente não tem vez
Por isso é que a gente sempre está
Do lado de fora
Por isso é que a gente sempre está
Lá na cozinha
Por isso é que a gente sempre está
fazendo
O papel menor
O papel menor
O papel menor
Ou o papel pior
Hereditário
Edson Gomes
Era assim, era assim, sim, sim, sim
No nascer do dia meu pai ia lá
E na morte do dia ele vinha
Ele trazia sempre o suor no rosto
O corpo cansado e nada no bolso
Era assim, era assim, sim, sim, sim
Hoje eu que saio
Sou eu que trabalho
Conheço a dureza
De toda essa vida
Pai de família, pai de família
Hoje é assim, hoje é assim, sim, sim
Trago sempre o suor correndo no rosto
O corpo cansado e nada no bolso
Sangue Azul - Edson Gomes
Eles queriam um mundo só de azul
(só de azul 3x)
Eles queriam, e como eles queriam
Eles queriam que fossemos apenas objeto
sexual
Objeto Profissional
Eles queriam, e como eles queriam
Mas o poder, que vem do alto
Não planejou assim
E nós crescemos, nos espalhamos
E aqui vamos nós, caminhando
Em cada esquina, em cada praça, nos
becos da cidade
Mesmo que o rádio não toque, mesmo que
a TV não mostre
Aqui vamos nós, cantando reggae, aleluia
Jah!(2x)
História Do Brasil
Jorge Aragão
Eu vi Não vou esquecer jamais
De alguém que fez dos desiguais
Um povo unido em mutirão
Numa só direção
Pra não ser vencido
Pelas garras da opressão
Eu vi Das planícies e serras
Dos confins desta terra
Elevar-se um anseio
Tão forte mas calou como veio
Quando a sombra da morte
Encobriu todos nós Juro que...
Eu vi Quase tudo deu certo
Quem não viu chegou perto
Mas nos legou um sonho Risinho
Hoje, vejo meu povo
Merecendo de novo
Ser feliz
Agora é lutar
Por tudo que ele quis
É hora de mudar
Conheço o meu país
Agora é lutar
Por tudo que ele quis
É hora de mudar
Índios, de Legião Urbana
Esta canção fala por si só: a conquista do Brasil pelos portugueses, e da América Latina pelos
espanhóis, e o processo de dominação dos indígenas que viviam na América.
Índios
Legião Urbana
Compositor: Renato Russo
Quem me dera, ao menos uma vez
Ter de volta todo o ouro que entreguei
A quem conseguiu me convencer
Que era prova de amizade
Se alguém levasse embora até o que eu
não tinha
Quem me dera, ao menos uma vez,
Esquecer que acreditei que era por
brincadeira
Que se cortava sempre um pano-de-chão
De linho nobre e pura seda.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Explicar o que ninguém consegue entender:
Que o que aconteceu ainda está por vir
E o futuro não é mais como era
antigamente.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Provar que quem tem mais do que precisa
ter
Quase sempre se convence que não tem o
bastante
E fala demais por não ter nada a dizer
Quem me dera, ao menos uma vez,
Que o mais simples fosse visto como o mais
importante
Mas nos deram espelhos
E vimos um mundo doente.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Entender como um só Deus ao mesmo
tempo é três
E esse mesmo Deus foi morto por vocês
É só maldade então, deixar um Deus tão
triste.
Eu quis o perigo e até sangrei sozinho.
Entenda - assim pude trazer você de volta
pra mim
Quando descobri que é sempre só você
Que me entende do inicio ao fim
E é só você que tem a cura pro meu vício
De insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi
Quem me dera, ao menos uma vez
Acreditar por um instante em tudo que
existe
E acreditar que o mundo é perfeito
11
E que todas as pessoas são felizes
Quem me dera, ao menos uma vez
Fazer com que o mundo saiba que seu
nome
Está em tudo e mesmo assim
Ninguém lhe diz ao menos obrigado
Quem me dera, ao menos uma vez
Como a mais bela tribo, dos mais belos
índios
Não ser atacado por ser inocente
Eu quis o perigo e até sangrei sozinho
Entenda: assim pude trazer você de volta
pra mim
Quando descobri que é sempre só você
Que me entende do início ao fim
E é só você que tem a cura pro meu vício
De insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi
Nos deram espelhos e vimos um mundo
doente
Tentei chorar e não consegui
A música índios da Legião Urbana nos proporciona a fazermos uma análise histórica através
de sua letra.
Com a letra podemos analisar os primeiros anos de descobrimento do Brasil e um pouco da
relação entre colonizador e colonizado.
Os primeiros contatos entre os portugueses e os indígenas aconteceu de forma amigável, os
portugueses acabaram utilizando esse comportamento dos índios para retirar as
riquezas visíveis até o momento no caso o Pau-Brasil.
Os indígenas sempre foram vistos como inocentes pelo branco, principalmente pela
igreja católica.
Com a chegada dos europeus a vida no continente americano mudou, muitos índios acabaram
sendo escravizados ou mortos e os que sobreviveram tiveram que se deslocar para o interior
do território.
A ambição do homem branco é uma das características que mais se diferencia da dos índios,
o indígena na sua cultura não tem a necessidade de acumulação de bens.
Um dos objetos que mais fizeram sucesso no escambo realizado entre os índios e os brancos
foi o espelho. Essa cordialidade entre as duas culturas acabou levando a mudanças na vida do
índio e no seu território.
Juntamente com os colonizadores chegou a religião católica
principalmente através dos jesuítas que tinham como objetivo catequizar os nativos.
A resistência indígena sempre existiu no Brasil, muitos tribos lutaram contra o colonizador,
essa luta pela sobrevivência muitas vezes levou a morte de tribos inteiras.
Podemos entender como sendo saudades da época antes da chegada do colonizador.
No trecho podemos entender como uma alusão a vida indígena sem a presença do homem
branco, com os nativos vivendo de acordo com sua cultura.
Os índios tem uma visão de mundo diferente da do homem branco com mais
responsabilidades em relação ao planeta.
Muitos índios foram atacados pelos europeus principalmente em busca de mão-de-obra
escrava, seja, para trabalhar nos primeiros engenhos de açúcar ou mesmo para serem
enviados para Europa como seres exóticos.
A resistência indígena sempre existiu no Brasil, muitas tribos lutaram contra o colonizador,
essa luta pela sobrevivência muitas vezes levou a morte de tribos inteiras.
Podemos entender como sendo uma saudade de uma época antes da chegada do colonizador.
Nesse último trecho vemos a mudança no mundo indígena com o índio enxergando o resultado
da exploração do Brasil.
12
Curumim Chama Cunhatã Que Eu Vou
Contar (Todo Dia Era Dia de Índio)
Baby do Brasil - Compositor: Jorge Ben
Jor
Curumim chama cunhata que eu vou
contar
Cunhata chama curumim que eu vou
contar
Curumimm, Cunhataa
Cunhataa, Curumimm
Antes que os homens aqui pisassem nas
ricas e férteis
terras brasilis
Que eram povoadas e amadas por
milhões de índios
Reais donos felizes da terra do pau Brasil
Pois todo dia e toda hora era dia de índio
Mas agora eles tem só um dia
Um dia dezenove de abril
Amantes da pureza e da natureza
Eles são de verdade incapazes
De maltratarem as fêmeas
Ou de poluir o rio, o céu e o mar
Protegendo o equilíbrio ecológico
Da terra, fauna e flora pois na sua história
O índio é exemplo mais puro
Mais perfeito, mais belo
Junto da harmonia, da fraternidade
E da alegria, da alegria de viver
Da alegria de amar
Mas no entanto agora
O seu canto de guerra
É um choro de uma raça inocente
Que já foi muito contente
Pois antigamente
Todo dia era dia de índio
Inclassificáveis - Arnaldo Antunes
que preto, que branco, que índio o quê?
que branco, que índio, que preto o quê?
que índio, que preto, que branco o quê?
que preto branco índio o quê?
branco índio preto o quê?
índio preto branco o quê?
aqui somos mestiços mulatos
cafuzos pardos mamelucos sararás
crilouros guaranisseis e judárabes
orientupis orientupis
ameriquítalos luso nipo caboclos
orientupis orientupis
iberibárbaros indo ciganagôs
somos o que somos
inclassificáveis
não tem um, tem dois,
não tem dois, tem três,
não tem lei, tem leis,
não tem vez, tem vezes,
não tem deus, tem deuses,
não há sol a sós
aqui somos mestiços mulatos
cafuzos pardos tapuias tupinamboclos
americarataís yorubárbaros.
somos o que somos
inclassificáveis
que preto, que branco, que índio o quê?
que branco, que índio, que preto o quê?
que índio, que preto, que branco o quê?
não tem um, tem dois,
não tem dois, tem três,
não tem lei, tem leis,
não tem vez, tem vezes,
não tem deus, tem deuses,
13
não tem cor, tem cores,
não há sol a sós
egipciganos tupinamboclos
yorubárbaros carataís
caribocarijós orientapuias
mamemulatos tropicaburés
chibarrosados mesticigenados
oxigenados debaixo do sol
Mestiço: proveniente de raças diferentes.
Mulato: Filho de pai branco e mãe preta.
Cafuzo: mestiço de negro e índio.
Pardo: mulato.
Mameluco: filho de índio com branco.
Sarará: mestiço de cabelo ruivo.
Crilouro: crioulo: negro nascido na América; louro: aquele que tem cabelo louro (de cor
amarelo tostado, entre o dourado e o castanho claro.
Guaranissei: guarani: Indivíduo dos guaranis, povo indígena da família lingüística tupi guarani;
nissei: diz-se de, ou filho de pais japoneses que emigraram.
Judárabe: judeu: o natural ou habitante da judéia (Israel), aquele que segue a religião judaica;
o indivíduo semita da Arábia (Península Arábica).
Orientupi: oriental: relativo ao oriente ou situado lá, ou de lá originário, ou que lá vive; tupi:
indivíduo dos tupis, denominação comum aos povos indígenas do litoral brasileiro cujas
línguas pertenciam à mesma família ou tronco que a dos tupis.
Ameriquítalo: americano: natural ou habitante do continente americano; ítalo: italiano.
Luso: da Lusitânia e seus habitantes, portugueses.
Nipo: japonês.
Caboclos: mestiço de branco com índio.
Iberibárbaro: ibérico: da Ibéria, antigo nome da Espanha; bárbaros: denominação que gregos
e romanos davam aos estrangeiros, considerados sem civilização.
Indo: grupo de línguas indo-européias da Ásia (sânscrito, híndi, bengali, guzerate, etc.).
Ciganagô: cigano: indivíduo de um povo nômade. nagô: diz-se de uma casta de negros do
grupo sudanês.
Tapuia: designação dada pelos índios de língua tupi guarani aos povos indígenas cujas
línguas pertencem a outro tronco lingüístico; indivíduo bravo, mestiço de índio.
Tupinamboclo: tupinambá: indivíduo dos tupinambás, povo indígena extinto, da família
lingüística tupi guarani, que habitava a costa brasileira. CABOCLO.
Americarataí: AMERICANO; carataí: (?)
Yorubárbaro: yorubá: grupo nígero-comeruniano.
Egipcigano: egípcio: natural ou habitante do Egito.
Caribocarijó: caribo: um tipo de dança (cariboca: caboclo); carijó: índios carijós, indígenas que
ocupavam o território que ia de Cananéia, estado de São Paulo.
Tropicaburé: tropical: situado entre os trópicos, ardente, abrasador; caburé: cafuzo, caboclo.
Chibarrosado: (?)
Mesticigenado: MESTIÇO; miscigenado: proveniente de raças diferentes.
14
Lourinha Bombril - Os Paralamas do
Sucesso
Pára e repara
Olha como ela samba
Olha como ela brilha
Olha que maravilha
Essa crioula tem o olho azul
Essa lourinha tem cabelo bombril
Aquela índia tem sotaque do Sul
Essa mulata é da cor do Brasil
A cozinheira tá falando alemão
A princesinha tá falando no pé
A italiana cozinhando o feijão
A americana se encantou com Pelé
Häagen-dazs de mangaba
Chateau canela-preta
Cachaça made in Carmo dando a volta no
planeta
Caboclo presidente
Trazendo a solução
Livro pra comida, prato pra educação
Pára e repara
Olha como ela samba
Olha como ela brilha
Olha que maravilha
Essa crioula tem o olho azul
Essa lourinha tem cabelo bombril
Aquela índia tem sotaque do Sul
Essa mulata é da cor do Brasil
A cozinheira tá falando alemão
A princesinha tá falando no pé
A italiana cozinhando o feijão
A americana se encantou com Pelé
Häagen-dazs de mangaba
Chateau canela-preta
Cachaça made in Carmo dando a volta no
planeta
Caboclo presidente
Trazendo a solução
Livro pra comida, prato pra educação
Pára e repara
Olha como ela samba
Olha como ela brilha
Olha que maravilha
Häagen-dazs de mangaba
Chateau canela-preta
Cachaça made in Carmo dando a volta no
planeta
Caboclo presidente
Trazendo a solução
Livro pra comida, prato pra educação
Pára e repara
Olha como ela samba
Olha como ela brilha
Olha que maravilha
QUEM É ESSA TAL DE ―LOURINHA BOMBRIL‖ QUE CANTA OS PARALAMAS DO
SUCESSO?
Você com certeza já parou para pensar em quem é a Lourinha Bombril que canta a música dos
Paralamas do Sucesso. E se você prestar atenção na letra da canção, vai entender de cara
que ela fala da mulher brasileira.
O título nos remete a ideia de miscigenação, pois o ―cabelo bombril‖ sempre foi uma referência
ao cabelo dos negros; e as ―loirinhas‖ são sempre lembradas como garotas norte-americanas.
Uma prova de que ―Lourinha Bombril‖ fala sobre uma brasileira é a primeira frase da música,
que diz: ―Pára e repara, olha como ela samba…‖ Qual dos povos do mundo é um apaixonado
por samba? Nós, os brasileiros.
Outra prova, é o trecho: ―Essa mulata é da cor do Brasil‖. Gente! Tá estampadasso que eles
estão falando das mulheres brasileiras.
E se você levar para um lado mais literal, pode transformar os versos de Herbert Viana em um
poema incrível, que tem como tema central a mistura de raças que aconteceu desde sempre
nesse nosso país. E a gente não está falando só da mistura da pele, mas das misturas
culturais em geral.
15
Miscigenação - Zé Potiguar
Somos todos brasileiros
Pretos, brancos ou vermelhos
Somos índios, somos negros
Somos da miscigenação
Somos uma grande legião
Somos o futuro de uma nação
Vamos ter força pra lutar
Pra um dia termos o que comemorar
Será que esse dia vai chegar?
Da tua força eu quero a glória
Da união quero a vitória
Vamos escrever a nossa história
Só depende de nós, da nossa coragem
Só depende de nós, da nossa vontade
Só depende de nós, da nossa coragem
Vocês!
Só depende de nós, da nossa vontade
Somos todos brasileiros
Pretos, brancos ou vermelhos
Somos índios, somos negros
Somo da miscigenação
Somos uma grande legião
Somos o futuro de uma nação
Vamos ter força pra lutar
Pra um dia termos o que comemorar
Será que esse dia vai chegar?
Desses laranjas eu quero o suco
Pra nunca mais obter lucro
De jeitinho ou traição
Da tua força eu quero a glória
Da união quero a vitória
Vamos escrever a nossa história
ETNIA - Chico Science & Nação Zumbi
Somos todos juntos uma miscigenação
E não podemos fugir da nossa etnia
Índios, brancos, negros e mestiços
Nada de errado em seus princípios
O seu e o meu são iguais
Corre nas veias sem parar
Costumes, é folclore é tradição
Capoeira que rasga o chão
Samba que sai da favela acabada
É hip hop na minha embolada
É o povo na arte
É arte no povo
E não o povo na arte
De quem faz arte com o povo
Por de trás de algo que se esconde
Há sempre uma grande mina de
conhecimentos
e sentimentos
Não há mistérios em descobrir
O que você tem e o que gosta
Não há mistérios em descobrir
O que você é e o que você faz
Maracatu psicodélico
Capoeira da Pesada
Bumba meu rádio
Berimbau elétrico
Frevo, Samba e Cores
Cores unidas e alegria
Nada de errado em nossa etnia.
Miscigenação - Paulo Matricó
Humano está em movimento
No complicar da equação
O tempo por cento e a soma do vento dizem
mutação (2x)
Total igual a miscigenação
Jeito na dor do sertão e Caiapoque na
África
Rastafari, curumim é linho naço-arábico
Germano é hermano de negro, caboclo,
galego, tupias e árdicos
Humano está em movimento
No complicar da equação
O tempo por cento e a soma do vento dizem
mutação (2x)
Total igual a miscigenação
Jeito na dor do sertão e Caiapoque na
África
Haja vista uma expressão que exploração é
múltiplo
Mas existe uma fração que o coração é
lúdico
16
Futuro será um só povo em todo o Planeta
falando a mesma língua: o amor. (2x)
Misturas de Raças - Genival Lacerda
Compositor: (pinto do Acordeon)
Meu avô é holandês
Minha avó é africana
O meu pai é português
E a minha mãe baiana
Eu nasci na paraíba
No recanto brasileiro
Onde as praias são bonitas
Onde o sol nasce primeiro
Tenho um parente inglês
Japonês, italiano
Tem um primo que é francês
O outro é índio alagoano
Sou mulato, sarará
Mais meu sangue é de primeira
É a mistura de raça
Da genética brasileira
O meu sangue viajou, navegou pelos mares
Foi parar no quilombo em zumbi dos
palmares
O meu sangue viajou, navegou pelos mares
Meu País - Zezé Di Camargo e Luciano
Aqui não falta sol
Aqui não falta chuva
A terra faz brotar qualquer semente
Se a mão de Deus
Protege e molha o nosso chão
Por que será que tá faltando pão?
Se a natureza nunca reclamou da gente
Do corte do machado, a foice, o fogo
ardente
Se nessa terra tudo que se planta dá
Que é que há, meu país?
O que é que há?
Se nessa terra tudo que se planta dá
Que é que há, meu país?
O que é que há?
Tem alguém levando lucro
Tem alguém colhendo o fruto
Sem saber o que é plantar
Tá faltando consciência
Tá sobrando paciência
Tá faltando alguém gritar
Feito um trem desgovernado
Quem trabalha tá ferrado
Nas mãos de quem só engana
Feito mal que não tem cura
Estão levando à loucura
O país que a gente ama
Feito mal que não tem cura
Estão levando à loucura
O Brasil que a gente ama
500 Anos - Chitãozinho & Xororó
O meu país é uma arena gigantesca
Onde eu bebo água fresca nas cacimbas
do sertão
Sou berranteiro, andarilho, sou matreiro
Sou peão, sou boiadeiro na poeira desse
chão
E lá se vão 500 anos de galope
Não duvide que eu tope contar tudo que
eu já vi
No meu cavalo por esse Brasil a fora
Eu passeio pela história, do Oiapoque ao
Chuí
Eu vi chegando caravelas do futuro lá no
meu Porto Seguro
Quando o sol trazia luz
Vi bandeirante atrás de ouro e diamante
Nos lugares mais distantes da terra de
Santa Cruz
Andei nos Pampas, vi a Guerra dos
Farrapos
E por um triz não escapo no meu ligeiro
alazão
Vi Tiradentes, vi Antônio conselheiro
Lampião Índio guerreiro, padre Cícero
Romão
Eu vi Zumbi, negro arisco dos Palmares
17
Ecoando pelos ares feito uma oração
De um cavaleiro, escutei um grito forte
De independência ou morte à beira de um
riachão
Eu sou o tempo, fui eu quem mudou os
ventos
Mas já são outros 500
Que vou contar noutra canção
Presidente Bossa Nova, de Juca Chaves
Tido como governante de vanguarda, Juscelino Kubitschek é retratado indiretamente nesta
música do sambista Juca Chaves. A simpatia e os excessos de JK não passam em branco
nos versos cantados.
Presidente Bossa Nova - Juca Chaves
Bossa nova mesmo é ser presidente
Desta terra descoberta por Cabral
Para tanto basta ser tão simplesmente
Simpático, risonho, original.
Depois desfrutar da maravilha
De ser o presidente do Brasil,
Voar da Velha cap pra Brasília,
Ver a alvorada e voar de volta ao Rio.
Voar, voar, voar, voar,
Voar, voar pra bem distante,
Até Versalhes onde duas mineirinhas
valsinhas
Dançam como debutante, interessante!
Mandar parente a jato pro dentista,
Almoçar com tenista campeão,
Também poder ser um bom artista
exclusivista
Tomando com Dilermando umas aulinhas
de violão.
Isto é viver como se aprova,
É ser um presidente bossa nova.
Bossa nova, muito nova,
Nova mesmo, ultra nova!
Vai Passar
Chico Buarque
Compositor: Francis Hime - Chico Buarque
Vai passar
Nessa avenida um samba
popular
Cada paralelepípedo
Da velha cidade
Essa noite vai
Se arrepiar
Ao lembrar
Que aqui passaram
sambas imortais
Que aqui sangraram pelos
nossos pés
Que aqui sambaram
nossos ancestrais
Num tempo
Página infeliz da nossa
história
Passagem desbotada na
memória
Das nossas novas
gerações
Dormia
A nossa pátria mãe tão
distraída
Sem perceber que era
subtraída
Em tenebrosas
transações
Seus filhos
Erravam cegos pelo
continente
Levavam pedras feito
penitentes
Erguendo estranhas
catedrais
E um dia, afinal
Tinham direito a uma
alegria fugaz
Uma ofegante epidemia
Que se chamava carnaval
O carnaval, o carnaval
(Vai passar)
Palmas pra ala dos
18
barões famintos
O bloco dos napoleões
retintos
E os pigmeus do bulevar
Meu Deus, vem olhar
Vem ver de perto uma
cidade a cantar
A evolução da liberdade
Até o dia clarear
Ai, que vida boa, olerê
Ai, que vida boa, olará
O estandarte do sanatório
geral vai passar
Ai, que vida boa, olerê
Ai, que vida boa, olará
O estandarte do sanatório
geral
Vai passar
1986 © - Marola Edições Musicais Ltda.
A letra da música Vai Passar do cantor e compositor Chico Buarque de Holanda, foi
escrita em meados da década de 80, num período conturbado da história brasileira que foi o
fim da ditadura militar.
A obra pode ser associada especialmente aos seguintes autores debatidos em sala,
sendo eles: Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior, Joaquim Nabuco.
A letra faz uma crítica veemente ao Estado e ao período colonial brasileiro. Faz um
enredo sobre a história do Brasil desde tal período com o ―descobrimento‖ do Brasil até a
ditadura militar em 1984.
Analisando trechos da letra, especificamente nos trechos: ―Que aqui sangraram pelos
nossos pés, que aqui sambaram nossos ancestrais, num tempo página infeliz da nossa
história...” é perceptível que o cantor faz uma referência ao período da escravidão vivenciada
no Brasil, no qual narram os autores citados, especialmente Caio Prado Júnior e Joaquim
Nabuco que fazem um retrospecto ao período colonial brasileiro, tal página infeliz, como expõe
a música seria o período da escravidão, com a exploração da mão-de-obra escrava pelos
portugueses. Na parte da música: “levavam pedras feito penitentes, erguendo estranhas
catedrais” pode se referir a imposição ao negro de uma cultura não vivenciada por eles, sendo
imposta pelos portugueses. Joaquim Nabuco analisou que em nossa sociedade “O negro
construiu um país para outros; o negro construiu um país para brancos”. Mas, ‖um dia, afinal,
tinham direito a uma alegria fugaz, uma ofegante epidemia que se chamava carnaval‖. O
samba pode ser considerado a representação da cultura negra, uma expressão artística, o
estilo musical dessa categoria marginalizada.
Na parte da música: “palmas pra ala dos barões famintos, o bloco do napoleões retintos
e os pigmeus do boulevard” demonstra uma crítica aos colonos, a elite portuguesa e quem
mantinha o poder na época. Assim, a letra da música se mescla entre o período colonial
brasileiro e com o período de opressão da ditadura militar, A liberdade obtida tanto pela alforria
da escravatura quanto pelo período pós-ditadura, como exposto no seguinte trecho da
música: “Meu Deus, vem olhar, vem ver de perto uma cidade a cantar a evolução da
liberdade até o dia clarear”. ―Dormia a nossa pátria mãe tão distraída sem perceber que era
subtraída em tenebrosas transações‖. Caio Prado, assim como os outros autores citados
relatam a relação de exploração de Portugal e Inglaterra, onde quem, literalmente, pagou os
prejuízos da dívida portuguesa foi o Brasil.
19
O autor Sérgio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil aborda aspectos centrais da
história da cultura brasileira que estão intrinsecas a letra da música citada, haja vista,
sobretudo, a importância do legado cultural da colonização portuguesa do Brasil, junto com
"Casa-Grande & Senzala", de Gilberto Freire e "Formação do Brasil Contemporâneo‖, de Caio
Prado Jr. são obras consideradas excêntricas para a compreensão da verdadeira história do
processo de formação da sociedade até os nossos dias atuais.
“Dormia a nossa pátria mãe, tão distraída, sem perceber que era subtraída em
tenebrosas transações”.
Por Rodrigo Nagem de Aragão, estudante de história do DH-USP, em ocasião do aniversário
do Golpe Militar de 1964.
Há 51 anos, no dia primeiro de abril de 1964, tinha início a Ditadura Militar, um sombrio capítulo
de nossa história que persistiu por longos 21 anos – desde o golpe que levou à deposição do
presidente João Goulart até o início da Nova República, com o processo da ―redemocratização‖
(ou, como se convém chamar, o processo de retorno ao parlamentarismo burguês, a ―ditadura
democrática‖ das classes dominantes).
Pressionada pelo governo dos Estados Unidos, cuja postura com relação à América Latina se
tornara mais assertiva após o triunfo da Revolução Cubana em 1959, e preocupada em
assegurar o poder do Estado e prevenir que o reformismo do governo de João Goulart pudesse
abrir espaço para caminhos mais radicais, a burguesia brasileira, nas condições postas,
abraçou a via do golpe, contando com o amplo apoio logístico e operacional de órgãos de
inteligência estadunidenses (com destaque para o IBAD e o IPES). E, deste modo, no dia
primeiro de abril de 1964, Joao Goulart foi forçosamente destituído do cargo de presidente da
República. O regime que então se seguiu foi marcado por uma série de crimes hediondos e
violações aos direitos humanos, desde o cerceamento dos direitos civis e das garantias
constitucionais até as práticas de tortura e assassinato, atrocidades cometidas principalmente
na perseguição sistemática à esquerda brasileira, especialmente os comunistas.
A Ditadura Militar encarregou-se de, por um lado, esvaziar as esferas democráticas,
desarticulando as reformas sociais e econômicas intencionados pelo governo de João Goulart,
e, por outro lado, institucionalizar um brutal processo de repressão contra a esquerda. Assim, a
soldo das elites e por meio da violência generalizada, os militares esforçaram-se para liquidar
as organizações progressistas, no geral, e as organizações revolucionárias, de inclinação
comunista, em específico. À época, partidos políticos, centrais sindicais, ligas camponesas e
diversos movimentos sociais (estudantis, religiosos, etc.) tornaram-se alvos compulsórios dos
órgãos de repressão da Ditadura – e, mais adiante, também os grupos de luta armada,
formados após o recrudescimento da perseguição política; com requintes de crueldade,
incontáveis militantes de tais organizações foram encarcerados, mutilados e chacinados, casos
atrozes que, em sua maioria, permanecem até hoje sem esclarecimento público e cujos
responsáveis seguem impunes, uma vez que, anistiados, jamais chegaram a responder por
seus crimes. Desta forma, sob uma montanha de cadáveres, o regime militar cumpriu o seu
papel: ossificou a vida política do país e, sob tal conjuntura, garantiu a primazia dos interesses
econômicos e políticos das classes dominantes, atendendo igualmente aos propósitos do
imperialismo norte-americano com relação ao Brasil.
Os resultados da tarefa bem-sucedida levada a cabo pelos militares se fazem sentir – e com
muito peso – até hoje: o poderio político e econômico de monstruosas associações
empresariais, formadas a partir de negociações entre grupos envolvidos nos bastidores do
golpe militar e que até hoje reinam sobre largos setores da indústria brasileira; a elevada
concentração de terras nas mãos de um ínfimo punhado de latifundiários, agraciados durante a
Ditadura por uma série de leis aprovadas em detrimento da reforma agrária e em benefício do
20
crescente acúmulo da propriedade fundiária, fato que entrava o desenvolvimento econômico do
campo e condena milhares de famílias campesinas à miséria extrema; a cristalização das
práticas de corrupção no seio da atividade parlamentar a partir da associação do Estado com
grandes grupos econômicos, ocorrência inerente ao próprio capitalismo, mas fortemente
propiciada pelo regime militar, como, por exemplo, é o caso das famosas ―quatro irmãs‖
(Odebrecht, OAS, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez), empreiteiras que foram amplamente
beneficiadas por contratos milionários firmados em parceria com a Ditadura e que, hoje em dia,
lideram as listas de financiamento privado de campanhas eleitorais e marcam presença nos
casos mais recentes de corrupção envolvendo esquemas de licitação pública; a subserviência
da economia nacional às instituições financeiras privadas, principalmente os bancos
estrangeiros, quadro incentivado após 1964 e que nos remete à atual dívida pública do país,
cuja amortização compromete quase 50% do orçamento federal; e a permanência de práticas
de repressão à moda fascista, herança direta dos métodos de procedimento policial
instaurados pelos militares, cujo reflexo mais claro é a presente campanha de extermínio
promovida pela polícia militar contra a população pobre, trabalhadora e negra que habita as
periferias dos grandes centros urbanos brasileiros.
Passados trinta anos do fim da Ditadura Militar, ponderando sua relação com o nosso presente
e colocando em perspectiva os seus efeitos, permanecem atuais, pois, os versos de Chico
Buarque: ―Dormia a nossa pátria mãe, tão distraída, sem perceber que era subtraída em
tenebrosas transações‖.
Para saber mais sobre a Ditadura Militar:
– Análise crítica do sociólogo Carlos Eduardo Martins acerca do regime
militar:http://dincao.com.br/noticias/?p=2811
– Relatório final apresentado pela Comissão Nacional da Verdade
(CNV):http://dincao.com.br/noticias/?p=2804
– A participação dos EUA na elaboração e efetivação do golpe
militar:http://dincao.com.br/noticias/?p=2835
– ―O dia que durou 21 anos‖, documentário dirigido por Camilo Galli Tavares sobre o
envolvimento do governo dos Estados Unidos na preparação, desde 1962, do golpe militar
executado em 1964:
O dia que durou 21 anos from Ivan Fayvit on Vimeo.
– A relação entre a Ditadura Militar e a Operação
Condor: http://dincao.com.br/noticias/?p=2884
– Especial ―À espera da verdade‖, conjunto de documentos, artigos e entrevistas a respeito do
regime
militar: http://ultimainstancia.uol.com.br/conteudo/noticias/68036/Ultima+instancia+inaugura+es
pecial+a+espera+da+verdade+45+anos+do+ai_5+50+anos+do+golpe.shtml
– Site da Comissão Nacional da Verdade, contendo os relatórios dos trabalhos de investigação
e discussão realizados pela CNV e links para a documentação pesquisada e
analisada: http://www.cnv.gov.br/
– Site ―Memórias da Ditadura‖, portal lançado pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos
com um amplo acervo de imagens, informações e documentários sobre a Ditadura
Militar: http://memoriasdaditadura.org.br/
Um Comunista, de Caetano Veloso
Caetano faz uma grande homenagem a Carlos Marighella, combatente na luta contra a
ditadura. O músico narra na música o episódio da morte do líder da Ação Libertadora Nacional
(ALN).
21
Um Comunista - Caetano Veloso
Um mulato baiano,
Muito alto e mulato
Filho de um italiano
E de uma preta uçá
Foi aprendendo a ler
Olhando mundo à volta
E prestando atenção
No que não estava a vista
Assim nasce um comunista
Um mulato baiano
que morreu em São Paulo
baleado por homens do poder militar
nas feições que ganhou em solo americano
A dita guerra fria
Roma, França e Bahia
Os comunistas guardavam sonhos
Os comunistas! Os comunistas!
O mulato baiano, mini e manual
do guerrilheiro urbano que foi preso por
Vargas
depois por Magalhães
por fim, pelos milicos
sempre foi perseguido nas minúcias das
pistas
Como são os comunistas?
Não que os seus inimigos
estivessem lutando
contra as nações terror
que o comunismo urdia
Mas por vãos interesses
de poder e dinheiro
quase sempre por menos
quase nunca por mais
Os comunistas guardavam sonhos
Os comunistas! Os comunistas!
O baiano morreu
eu estava no exílio
e mandei um recado:
"eu que tinha morrido"
e que ele estava vivo,
Mas ninguém entendia
Vida sem utopia
não entendo que exista
Assim fala um comunista
Porém, a raça humana
segue trágica, sempre
Indecodificável
tédio, horror, maravilha
Ó, mulato baiano
samba o reverencia
muito embora não creia
em violência e guerrilha
Tédio, horror e maravilha
Calçadões encardidos
multidões apodrecem
Há um abismo entre homens
E homens, o horror
Quem e como fará
Com que a terra se acenda?
E desate seus nós
discutindo-se Clara
Iemanjá, Maria, Iara
Iansã, Catijaçara
O mulato baiano já não obedecia
as ordens de interesse que vinham de
Moscou
Era luta romântica
Era luz e era treva
Feita de maravilha, de tédio e de horror
Os comunistas guardavam sonhos
Os comunistas! os comunistas!
ALEGRIA, ALEGRIA - Caetano Veloso
Caminhando contra o vento
Sem lenço e sem documento
No sol de quase dezembro,
Eu vou.
O sol se reparte em crimes
Espaçonaves, guerrilhas
Em Cardinales bonitas,
Eu vou.
22
Em caras de presidente,
Em grandes beijos de amor,
Em dentes, pernas, bandeiras,
Bomba e Brigitte Bardot.
O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça.
Quem lê tanta notícia?
Eu vou
Por entre fotos e nomes
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos.
Eu vou
Por que não? E por que não?
Ela pensa em casamento
E eu nunca mais fui à escola
Sem lenço e sem documento
Eu vou.
Eu tomo uma Coca-Cola
Ela pensa em casamento
Uma canção me consola
Eu vou.
Por entre fotos e nomes
Sem livros e sem fuzil
Sem fome, sem telefone,
No coração do Brasil.
Ela nem sabe até pensei
Em cantar na televisão
O sol é tão bonito
Eu vou
Sem lenço, sem documento
Nada no bolso ou nas mãos
Eu quero seguir vivendo amor.
Eu vou
Por que não? E por que não?
O SUCESSO DA DÉCADA DE 1960
A música Alegria, alegria, de Caetano Veloso é uma dessas canções que se cristalizam
no imaginário público como se fosse sem autor definido: de domínio público e, por isso mesmo,
eleva o seu compositor à categoria dos grandes autores da música brasileira e, a própria
música, à categoria dos clássicos.
Esta letra em questão funcionou como um dos pontos de partida e até síntese do
movimento tropicalista ocorrido principalmente na nossa música durante as décadas de 60 e
70, do século passado. O Tropicalismo, movimento sociocultural iniciado a partir de 1967,
surgiu principalmente na música, mas acabou influenciando toda a cultura nacional, pois
retomava basicamente elementos da Antropofagia, do Modernismo Brasileiro, e outros
elementos da contracultura, da ironia, rebeldia, anarquismo e humor ou terror anárquico.
A paródia, a crítica à esquerda intelectualizada, a não-aceitação de qualquer forma de
censura, a sedução dos meios de comunicação de massa, o retrato da realidade urbana e
industrial, a exploração do ser humano, tudo isso, todos esses elementos montado com uma
colagem de fragmentos do dia-a-dia nas grandes cidades do país, eram, de fato, os princípios
norteadores da arte tropicalista.
CONTEXTO HISTÓRICO
O panorama sócio histórico da época desta canção era de total arrogância direitista.
Estávamos em plena Ditadura Militar, especificamente nos ―anos de chumbo‖, como era
chamado o governo do presidente Emílio Garrastazu Médici, conhecido como o mais duro e
repressivo do período. Nestes anos, a repressão e a luta armada crescem e uma severa
política de censura é colocada em execução. Jornais, revistas, livros, peças de teatro, filmes,
músicas e outras formas de expressão artística são proibidas. Alguns partidos políticos
passaram para a ilegalidade e a UNE (União Nacional dos Estudantes) teve seu prédio
incendiado. Muitos professores, intelectuais, artistas, políticos, jornalistas e escritores são
investigados, presos, torturados, exilados ou assassinados.
O Regime Militar fora imposto com um grande golpe desde 1964 e, naquele final de
década, já havia as revoltas contra esta ditadura. Os estudantes iam às ruas protestar contra
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um governo ditatorial, que destruía as universidades, deixando-as reféns do sistema de
negação do conhecimento, e a população já participava de lutas e passeatas contra o regime
militar, mesmo estas sendo proibidas pelos militares.
A cultura importada era alienante, por isso, Caetano usa palavras como Brigitte Bardot,
Cardinales (em referencia á atriz ítalo-americana Claudia Cardinale) e Coca-Cola (maior
símbolo do império norte-americano, que financiava os exércitos em toda a América Latina).
Mas, os anos 60 foram a grande década revolucionária: os anos da minissaia, dos
hippies, dos homens de cabelos compridos, da pílula anticoncepcional e, consequentemente
da revolução feminina e da liberação sexual. Assim como surgiram ídolos impostos e
fabricados pela mídia principalmente nos EUA, também surgiram símbolos de uma época que
marcaram tanto pela alienação, quanto pela imposição de um comportamento novo ou pela
exposição da exploração sofrida pelo ser humano. Neste patamar, aparecem ídolos da cultura
pop e líderes sociais e políticos, como os Beatles, Rolling Stones, Jonh Kennedy, Martin Luther
King, Fidel Castro e Che Guevara. Também fazem parte deste contexto histórico, a Guerra do
Vietnã, a viagem à Lua, feminismo, lutas pelo aborto e pelo divórcio e a prática do amor livre,
tendo como expoente principal o festival de Woodstok, que marcou o planeta com o poder de
transformação da sociedade pela juventude. No Brasil, era a época dos grandes festivais de
música, do ufanismo dos militares e das obras faraônicas erguidas a partir de grandes
empréstimos. Os ídolos da música cantavam versões de sucessos norte-americanos ou
europeus. Surgia a Jovem Guarda e logo depois a Bossa Nova. A cultura de massa tupiniquim
começava a virar produto de exportação.
A MÚSICA E SUA INTENÇÃO
Escrita, musicada e interpretada pelo cantor e compositor Caetano Veloso, em novembro
de 1967, ―Alegria, alegria‖ ajudou a criar o estilo hoje intitulado de MPB e deslocou a expressão
artística musical brasileira para o cenário da crítica social, em um ativismo político sem
precedentes na história de outro tipo de arte no mundo. Graças a isso, Caetano Veloso teve
grande parte de sua obra censurada pelo regime militar. Chegou a ser preso, junto com seu
parceiro musical e amigo, Gilberto Passos Moreira, o Gilberto Gil, também cantor e compositor
baiano e atual ministro da cultura do Governo Lula. Os dois artistas ficaram exilados em
Londres por quase dois anos. Caetano era classificado para o governo no Brasil como
―persona nom gratta‖, uma expressão latina que corresponderia a mal-agradecido e, por isso,
mal-vindo de volta à pátria. Até 1972, quando ambos voltam do exílio.
―Alegria, alegria‖ chegou a ser tema de novela da Rede Globo (Sem lenço e sem
documento, na década de 80), quando o Regime Militar já estava perdendo o seu máximo
poder. Na canção, é relatada a opressão sofrida pelo cidadão comum, nas ruas, nos meios de
comunicação, em sua cultura nativa, no seu próprio país. A letra denuncia o abuso de poder de
forma metafórica ―caminhando contra o vento/sem lenço e sem documento‖; a violência
praticada pelo regime ―sem livros e sem fuzil,/ sem fome, sem telefone, no coração do Brasil‖; e
a precariedade na educação brasileira proporcionada pela ditadura que queria pessoas
alienadas: ―O sol nas bancas de revista /me enche de alegria e preguiça/quem lê tanta
notícia?‖.
Podemos pegar como exemplo também de formas alienantes, elementos externos à
cultura nacional, como alguns símbolos impostos pelo cinema norte-americano que
exportava/exporta seus ídolos como: Cardinale, Brigitte Bardot e a Coca-Cola, principal
imposição comercial da mídia na época.
Para dar exemplos dos desníveis sociais existentes no Brasil e as diferenças regionais, o
autor se utiliza de um expediente inovador. Através de comparações aparentemente
desconexas e fazendo uso de metáforas, faz a denúncia dos contrastes regionais, sociais ou
econômicos, como nos versos: ―Eu tomo uma Coca-Cola,/Ela pensa em casamento‖, ―Em
caras de presidente/em grandes beijos de amor/em dentes, pernas, bandeiras, bomba e
Brigitte Bardot.‖
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INTERTEXTUALIDADE
Ao começar a audição da música ou simplesmente da leitura da letra, é impossível não
lembrar dos versos de outra canção dessa época de censura. Trata-se de ―Para não dizer que
não falei das flores‖, do cantor paraibano Geraldo Vandré, também perseguido pelo Governo
Militar, que convocava o povo para ir às ruas e lutar contra a ditadura vigente. As duas músicas
se iniciam com a palavra ―Caminhando‖ e isso já é um grande motivo para suscitar na
população à lembrança da outra. Só depois de Geraldo Vandré ter vencido um grande festival
de música com esta canção e, também pelo fato dela ter sido proibida e os discos terem sido
destruídos pelo governo, é que Caetano tem sua música Alegria, alegria também proibida. Era
comum a destruição ou apreensão de discos ou fitas por parte do governo militar, alguns
exemplos são da música Ovelha Negra, de Rita Lee e, mais recentemente, o disco de
lançamento da banda de rock carioca Blitz foi censurado em duas faixas, que foram
expressamente riscadas dos discos de vinil, em 1981.
Outro compositor que sofreu muitas perseguições da ditadura foi Chico Buarque, que teve
inúmeras músicas censuradas ao longo da carreira. No entanto, o cantor e compositor carioca,
amigo e contemporâneo de Caetano Veloso, aprendeu a ―driblar‖ a censura por meio do uso de
palavras metafóricas, como na música ―Apesar de Você‖, gravada primeiramente por Clara
Nunes, que criticava o governo ditatorial como se fosse uma relação afetiva entre um homem e
uma mulher.
Metáforas: Toda a opressão sofrida pelo cidadão comum, nas ruas, nos meios de
comunicação, em sua cultura nativa, no seu próprio país é relatada na letra desta canção.
Desta forma, Alegria, Alegria, denuncia os exageros dos militares, porém utilizando-se de
metáforas. ―Caminhando contra o vento/sem lenço e sem documento‖ que se refere à violência
praticada pelo regime. Ao dizer ―sem livros e sem fuzil,/ sem fome, sem telefone, no coração do
Brasil‖ revela a precariedade na educação brasileira proporcionada pela ditadura que queria
pessoas alienadas, e complementa: ―O sol nas bancas de revista /me enche de alegria e
preguiça/quem lê tanta notícia?‖.
Para evidenciar a alienação da massa, na letra há elementos externos à cultura nacional,
como alguns símbolos impostos pelo cinema norte-americano da época, que são: Cardinales,
Brigitte Bardot e a Coca-Cola, fortes representantes da imposição comercial da mídia na
época.
Ao denunciar os desníveis sociais dos ―anos de chumbo‖, Caetano Veloso faz
comparações metafóricas, com o intuito de destacar os contrastes regionais, sociais ou
econômicos, o que fica evidente nos seguintes versos: ―Eu tomo uma Coca-Cola,/Ela pensa em
casamento‖, ―Em caras de presidente/em grandes beijos de amor/em dentes, pernas,
bandeiras, bomba e Brigitte Bardot.‖
Músicas de Protesto a Ditadura Militar
Em a música Alegria, Alegria, lançada em 1967 por Caetano Veloso, ele utilizou a ironia e
fragmentos do dia-a-dia para revelar a opressão e criticar o abuso de poder. Como você pode
perceber, ele foi sarcástico ao falar mal da Ditadura!
Outro bastante perseguido pelos Militares foi Geraldo Vandré. Seu hino ―Caminhando (Pra
não dizer que falei em flores)‖, foi lançada em 1968 e foi bastante utilizada pela população que
gostaria de uma política democrática. Ele provocou o exército de maneira bastante poética e
interessante, como você pode perceber em:
Trecho: Há soldados armados / Amados ou não / Quase todos perdidos / De armas na
mão / Nos quartéis lhes ensinam / Uma antiga lição: De morrer pela pátria / E viver sem razão
Chico Buarque teve uma ideia bastante interessante. Utilizando a oração de Jesus Cristo
a Deus no Jardim de Getsêmane, ele usou a palavra ―cálice‖ para representar ―cale-se‖, pois
era o que os Militares queriam: uma população calada. Veja abaixo:
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Trecho: De muito gorda a porca já não anda (Cálice!) / De muito usada a faca já não corta
/ Como é difícil, Pai, abrir a porta (Cálice!) / Essa palavra presa na garganta
Debaixo Dos Caracóis Dos Seus Cabelos
Roberto Carlos
Compositor: Roberto e Erasmo Carlos
Um dia a areia branca seus pés irão tocar
E vai molhar seus cabelos a água azul do
mar
Janelas e portas vão se abrir pra ver você
chegar
E ao se sentir em casa, sorrindo vai chorar
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Uma historia pra contar de um mundo tão
distante
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Um soluço e a vontade de ficar mais um
instante
As luzes e o colorido
Que você vê agora
Nas ruas por onde anda,
na casa onde mora
Você olha tudo e nada
Lhe faz ficar contente
Você só deseja agora
Voltar pra sua gente
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Uma historia pra contar de um mundo tão
distante
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Um soluço e a vontade de ficar mais um
instante
Você anda pela tarde
E o seu olhar tristonho
Deixa sangrar no peito
Uma saudade, um sonho
Um dia vou ver você
Chegando num sorriso
Pisando a areia branca
Que é seu paraíso.
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Uma historia pra contar de um mundo tão
distante
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Um soluço e a vontade de ficar mais um
instante
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Uma historia pra contar de um mundo tão
distante
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Um soluço e a vontade de ficar mais um
instante
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Uma historia pra contar de um mundo tão
distante
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Um soluço e a vontade de ficar mais um
instante
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos: por trás do romantismo havia um protesto!
Mesmo sem nunca ter tido problemas com a ditadura militar dos anos 60 e 70, o "rei" Roberto
Carlos foi genial ao compor uma música de protesto contra o regime político brasileiro da
época. Trata-se de "Debaixo dos caracóis dos seus cabelos", que com uma boa dose de
romantismo passou batida à censura e conquistou os corações das jovens apaixonadas. Até
hoje poucos conseguem perceber a verdadeira mensagem que a canção apresentava.
Para entendê-la, é preciso voltar até 1969, quando Caetano Veloso partiu para o exílio em
Londres. Notadamente, suas músicas protestavam contra a situação política brasileira do
período em questão. Assim, em 1971, Roberto Carlos lançava "Debaixo dos caracóis dos seus
cabelos", em homenagem ao amigo que se encontrava exilado na Inglaterra. Naquela época,
Caetano ostentava uma vasta cabeleira, daí o motivo do nome da música.
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Romantismo à parte, várias passagens da letra apresentam mensagens de protesto. Vamos a
elas:
- "Janelas e portas vão se abrir, pra ver você chegar e ao se sentir em casa, sorrindo vai
chorar." Mesmo longe, ele jamais seria esquecido. "Em casa" seria obviamente o Brasil.
- "Debaixo dos caracóis dos seus cabelos, uma história pra contar, de um mundo tão distante."
"Mundo tão distante" também seria o Brasil, afinal, o cara estava do outro lado do Atlântico.
- "Você olha tudo e nada lhe faz ficar contente, você só deseja agora, voltar pra sua gente."
"Voltar pra sua gente" ou voltar para o Brasil. Era o desejo de qualquer exilado político.
- "Um dia eu vou ver você chegando num sorriso, pisando a areia branca, que é seu paraíso."
Seria o fim da ditadura militar, que permitiria o retorno dos exilados ao país, fato que teve início
a partir de 1979.
Sorte que a censura da época era um tanto burra, que não conseguia perceber certos
protestos. E assim, subliminarmente, Roberto Carlos fez uma boa crítica e ainda por cima
agradou seu público fiel, os apaixonados de plantão!
OBS: o mesmo governo militar que motivou o protesto de Roberto Carlos, o transformou em
"rei", pois ele era um bom moço que não criticava explicitamente a política da época.
Podres Poderes - Caetano Veloso
Enquanto os homens exercem seus podres
poderes
Motos e fuscas avançam os sinais
vermelhos
E perdem os verdes somos uns boçais
Queria querer gritar setecentas mil vezes
Como são lindos, como são lindos os
burgueses
E os japoneses mas tudo é muito mais
Será que nunca faremos senão confirmar
A incompetência da américa católica
Que sempre precisará de ridículos tiranos?
Será, será que será, que será, que será
Será que esta minha estúpida retórica
Terá que soar, terá que se ouvir por mais
mil anos?
Enquanto os homens exercem seus podres
poderes
índios e padres e bichas, negros e mulheres
E adolescentes fazem o carnaval
Queria querer cantar afinado com eles
Silenciar em respeito ao seu transe, num
êxtase
Ser indecente mas tudo é muito mau
Ou então cada paisano e cada capataz
Com sua burrice fará jorrar sangue demais
Nos pantanais, nas cidades, caatingas e
nos gerais
Será que apenas os hermetismos pascoais
Os tons, os miltons, seus sons e seus dons
geniais
Nos salvam, nos salvarão dessas trevas e
nada mais?
Enquanto os homens exercem seus podres
poderes
Morrer e matar de fome, de raiva e de sede
São tantas vezes gestos naturais
Eu quero aproximar o meu cantar
vagabundo
Daqueles que velam pela alegria do mundo
Indo mais fundo tins e bens e tais
A música de Caetano Veloso mostra um excelente campo de análise interpretativa quanto
ao cenário da política brasileira e do contexto o qual se encontrava na ocasião do processo de
redemocratização. No título ―Podres poderes‖ há uma referência aos modelos políticos
vigentes.
Na década de 1980, O contexto internacional estava conturbado e turbulento. O
socialismo soviético estava passando por momento de crise.
As políticas da Perestroika e do Glasnost tentavam estruturar uma União Soviética em
ruínas. Nos EUA, Ronald Reagan está envolto numa crise de corrupção denominado ―Caso Irã-
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Contras‖. Em suma, tanto o cenário capitalista como socialista não mais ofereciam as mesmas
seguranças utópicas de outrora.
No Brasil ―Movimento Diretas já‖ ganhava força e o cenário ainda era de incerteza.
Caetano parece remonta a indefinição que se encontrava o país.
Ao que parece, Caetano, sutil e sagazmente apresenta um ponto de vista de política bem
diferente do entendimento da época. Antes da queda do muro de Berlim, esse entendimento
era orientado por uma lógica dicotômica e maniqueísta. Era forte a ideia de Bem versus mal; o
feio versus bonito; burguesia versus proletariado.
Como dizia Cazuza: ―A Burguesia fede‖. Entretanto, para Caetano parecia querer romper
com esta lógica.
E o que seria esse ―muito mais‖? Para o tropicalista, a política deveria ser vista para além
do aparente. A história precisaria ser reavaliada agora também por uma análise estética e
cultural.
―O tropicalismo contrapõe-se à estética e à política, pois não possui um discurso verbal
politizado. O caráter revolucionário e político do movimento estão inseridos em sua própria
estética.‖ (Contier, 2003)
A música pode ser interpretada como uma leitura do tradicionalismo presente na
resistência estética do brasileiro influenciando toda política Latino-Americana, região em que a
maioria dos países era uma ditadura na época. Neste sentido, o baiano parecer fazer uma
correlação: ―Será que nunca faremos / Senão confirmar /Na incompetência / Da América
católica‖. Neste sentido a ética católica é criticada por influenciar na cultura uma tolerância às
ditaduras. Tal tolerância parece ajudar a naturalizar a corrupção ―São tantas vezes, Gestos
naturais.‖ Pelo jeito, a solução da corrupção está muito associada a aspectos culturais.
Os brasileiros ainda têm um tradicionalismo que impedem pensar sobre outras
perspectivas para além da política, de modo tal que a estética de Caetano parece incomodar.
―Queria querer cantar Afinado com eles‖. Neste sentido, a sociedade brasileira só mudará seus
aspectos políticos mais profundos a partir de mudanças na cultura, como diria Betinho: ―Um
país não muda pela sua economia, sua política e nem mesmo sua ciência; muda sim pela sua
cultura.‖
Pelo jeito, as incertezas de Caetano trazem consigo certo pessimismo que só não se
torna absoluto por conta da esperança na arte e na música: ―Será que apenas/ Os
hermetismos pascoais /E os tons, os mil tons /Seus sons e seus dons geniais /Nos salvam, nos
salvarão /Dessas trevas e nada mais…‖
Referência: Contier, Arnaldo Daraya. O movimento tropicalista e a revolução estética.
Cad. de Pós-Graduação em Educ., Arte e Hist. da Cult. São Paulo, v. 3, n. 1, p. 135-159, 2003.
COMO SE FAZ UM HINO, E DEPOIS SE ESQUECE
Qual foi a última vez que você ouviu Coração de estudante? De repente me dei conta de
que não a escutava há anos. E no entanto é uma canção que continua entranhada no nosso
imaginário. Assim como o tanto que ela tocou e foi cantada por anos, seu silêncio hoje também
me parece muito significativo.
Em 1986 eu tinha 14 anos e fazia o solo de flauta doce no arranjo de Coração de estudante no
coral de minha escola de ensino médio. Mais inocência, impossível. Ao mesmo tempo que eu,
o país saia de uma ditadura de 20 anos, tinha os traumas do adiamento da chance de escolher
seu presidente e de um presidente civil morto antes de assumir, e ainda achava que, apesar de
tudo, agora tudo seria diferente.
O que aconteceu depois é sabido, e a sucessão de decepções em relação à que era
chamada Nova República, sofridas por um país que passou por um processo de
amadurecimento à força, fizeram com que Coração de estudante fosse meio que
propositalmente, estrategicamente esquecida, como quem reluta em confessar que tocava
flauta doce no coral da escola em plena adolescência (e nem peguei ninguém por isso).
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Para descobrir os motivos deste ostracismo atual é necessário entender também os motivos de
ela ter se tornado o hino que se tornou. Coração de estudante não fala explicitamente em sua
letra de absolutamente nada que estava acontecendo em 1983, ano em que foi gravada no
álbum Ao vivo de Milton, nem dos anos seguintes. Então o que a levou ao grau de simbolismo
que angariou, de ser cantada por um país como a esperança de tempos melhores, mais justos
para todos?
A resposta talvez esteja em algumas circunstâncias de sua criação. Coração de estudante
é uma melodia de Wagner Tiso com letra de Milton, coisa não muito comum, tipo de parceria
que Milton não costuma ter. Ocorre que ela foi criada como um tema instrumental apenas. Eis
para que acontecimento e que personagem histórico ela foi criada (a música começa aos 2
minutos, mas vale a pena ver também o princípio):
Coração de estudante não tinha ainda este nome quando foi composta para ser o Tema de
Jango no documentário Jango, de Sílvio Tendler. Sua melodia, portanto, foi composta para ser
a tradução em música de um momento que é o inverso de quando ela se tornou o que é hoje;
nasceu por inspiração de um momento histórico em que o Brasil tinha um sonho muito alto
despedaçado, e tornou-se popular e ganhou mundo quando este sonho renascia depois de 20
anos.
Mas o mais impressionante é que também a letra de Milton carrega implícita uma carga
de significação que tem a ver com outro momento histórico intrinsecamente ligado ao primeiro:
Milton a fez em memória do estudante Edson Luís, morto pela Polícia Militar em março de
1968, cuja morte foi o estopim de uma série de manifestações populares que, pela primeira
vez, afrontaram publicamente a ditadura militar.
A reação da sociedade à morte do estudante desencadeou uma sequência de acontecimentos
que atravessou a Passeata dos Cem Mil e desembocou no Ai-5. Foi o evento simbólico de um
ressurgimento, em que muitas pessoas decidiram que era hora de falar. O resto é História.
Isto então para mim explica o simbolismo que Coração de Estudante assumiu durante a
retomada democrática na década de 1980, muito mais do que qualquer característica
analisável de sua letra ou de sua melodia. É como se o determinante fosse na verdade o fato
de ter sido inspirada, ter retratado ou homenageado dois precisos instantes que são chaves na
História recente do Brasil e formam uma linha de continuidade que se completa exatamente na
época em que a canção veio a público: 1964, 1968, 1983 (em 84 a campanha das diretas, em
85 a eleição de Tancredo Neves presidente). Como se a canção tivesse ficado impregnada da
lembrança destes acontecimentos, como uma mensageira do inconsciente coletivo nacional.
Quando faço a análise de uma canção aqui, sei bem que tudo o que digo é ouvido e
percebido por quem ouve a canção. Apenas isto não se dá de forma consciente e racional.
Tantas vezes ouvi ou li comentários que dizem é isso mesmo que eu sentia, mas não sabia
porque. As características de melodia, harmonia, instrumental, suas relações, todas falam ao
ouvinte de forma mais direta que a linguagem discursiva, e vão mais fundo.
Mas em Coração de estudante acho que há algo mais, que não ficou exatamente fixado na
forma musical, e sim em algum lugar mais… recôndito seria a palavra? Há algo nela que ecoa,
mesmo para os recém-chegados à História, os motivos e os acontecimentos que a
antecederam e inspiraram. Coração de Estudante soube ser o hino da redemocratização
porque já era, de certa forma, o hino das reformas de base de 1963 e o hino da contestação à
violência da ditadura em 1968, e ao mesmo tempo contém em si a tristeza do golpe de 64 e do
Ai-5. Assim como talvez já tivesse, à revelia dos próprios autores, a tristeza das decepções de
1987, 88, 89… Talvez por isso tenha sido deixada de lado como foi. Não porque tenha se
tornado datada, ou porque nos lembre da nossa ingenuidade, mas porque nos lembre não
apenas de um, mas de três sonhos que pareceram ser sonhados em vão, e ainda assim tem a
coragem de reafirmar, mais uma vez, que é preciso continuar sonhando, mesmo que
ingenuamente, em uma época em que isto nem sempre parece fazer sentido, a nos falar tão
diretamente dessas coisas tão incômodas, que sempre morrem e insistem em renascer:
esperança, coração, juventude e fé.
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Coração de Estudante
Milton Nascimento Compositor: Milton
Nascimento e Wagner Tiso
Quero falar de uma coisa
Adivinha onde ela anda
Deve estar dentro do peito
Ou caminha pelo ar
Pode estar aqui do lado
Bem mais perto que pensamos
A folha da juventude
É o nome certo desse amor
Já podaram seus momentos
Desviaram seu destino
Seu sorriso de menino
Tantas vezes se escondeu
Mas renova-se a esperança
Nova aurora a cada dia
E há que se cuidar do broto
Pra que a vida nos dê flor e fruto
Coração de estudante
Há que se cuidar da vida
Há que se cuidar do mundo
Tomar conta da amizade
Alegria e muito sonho
Espalhados no caminho
Verdes, plantas, sentimento
Folhas, coração, juventude e fé
Apesar de Você - Chico Buarque
Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão
A minha gente hoje anda
Falando de lado
E olhando pro chão, viu
Você que inventou esse estado
E inventou de inventar
Toda a escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar
O perdão
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Eu pergunto a você
Onde vai se esconder
Da enorme euforia
Como vai proibir
Quando o galo insistir
Em cantar
Água nova brotando
E a gente se amando
Sem parar
Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros, juro
Todo esse amor reprimido
Esse grito contido
Este samba no escuro
Você que inventou a tristeza
Ora, tenha a fineza
De desinventar
Você vai pagar e é dobrado
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Inda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria
Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir
Que esse dia há de vir
Antes do que você pensa
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia
Como vai se explicar
Vendo o céu clarear
De repente, impunemente
Como vai abafar
Nosso coro a cantar
Na sua frente
Apesar de você
Amanhã há de ser
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Outro dia
Você vai se dar mal
Etc. e tal
“Apesar de você, amanhã há de ser outro dia!”
Lançada como compacto em 1970, Apesar de você é a única música que Chico assume
ter sido escrita para criticar a ditadura. Após voltar do exílio, Chico percebe que o país pouco
mudou e escreve a canção. Quando a enviou para a censura, Chico temia que a música fosse
censurada, o que surpreendentemente não aconteceu. Após a gravação, a canção chegou a
vender 100 mil compactos em uma semana.
Após uma nota publicada em um jornal, na qual dizia que o ―você‖ da letra era relacionado
ao presidente Médici a canção foi censurada, sendo gravada em um disco apenas em 1978.
Após o episódio o nome de Chico Buarque ficou marcado pelos homens da censura e
suas canções sempre eram ouvidas com mais rigidez pela censura, antes de serem aprovadas.
A solução encontrada pelo cantor e compositor foi a de usar pseudônimos como Julinho da
Adelaide e Leonel Paiva. No começo deu certo, mas logo depois Chico foi desmascarado.
A letra critica o modo como as repressões ditatoriais eram feitas e alerta sobre o que iria
acontecer se em um dia todos estivessem felizes e insistissem em viver da forma como
queriam.
Álbum que traz canções polêmicas como ―Cálice‖ e ―Apesar de Você‖
Sem dúvida, Apesar de você é uma aula sobre a censura da ditadura militar brasileira. Ao
lado de Pra não dizer que não falei das flores, de Vandré e É proibido proibir, de Caetano, a
canção traz detalhes das vontades que os artistas da época brigavam para ter em um país
onde pouca expressão artística era permitida.
Cálice - Chico Buarque
Composição: Chico Buarque / Gilberto Gil
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
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Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça
A música "Cálice" foi escrita em 1973 por Chico Buarque e Gilberto Gil, sendo lançada
apenas em 1978. Devido ao seu conteúdo de denúncia e crítica social, foi censurada pela
ditadura, sendo liberada cinco anos depois. Apesar do desfazamento temporal, Chico gravou a
canção com Milton Nascimento no lugar de Gil (que tinha mudado de gravadora) e decidiu
incluir no seu álbum homônimo.
"Cálice" se tornou num dos mais famosos hinos de resistência ao regime militar. Trata-se
de uma canção de protesto que ilustra, através de metáforas e duplos sentidos, a repressão e
a violência do governo autoritário.
Gilberto Gil partilhou com o público, muitos anos depois, algumas informações sobre o
contexto de criação da música, suas metáforas e simbologias.
Chico e Gil se juntaram no Rio de Janeiro para escrever a canção que deveriam
apresentar, em dupla, no show. Músicos ligados à contracultura e à resistência partilhavam a
mesma angústia perante um Brasil imobilizado pelo poder militar.
Gil levou os versos iniciais da letra, que tinha escrito na véspera, uma sexta-feira da
Paixão. Partindo desta analogia para descrever o suplício do povo brasileiro na ditadura, Chico
continuou escrevendo, povoando a música com referências da sua vida cotidiana.
O cantor esclarece que a "bebida amarga" que a letra menciona é Fernet, uma bebida
alcoólica italiana que Chico costumava beber naquelas noites. A casa de Buarque ficava na
Lagoa Rodrigues de Freitas e os artistas ficavam na varanda, olhando as águas.
Esperavam ver emergir "o monstro da lagoa": o poder repressivo que estava escondido,
mas pronto para atacar a qualquer momento.
Conscientes do perigo que corriam e do clima sufocante vivido no Brasil, Chico e Gil
escreveram um hino panfletário sustentando no jogo de palavras "cálice" / "cale-se". Enquanto
artistas e intelectuais de esquerda usaram suas vozes para denunciar a barbárie do
autoritarismo.
Assim, no próprio título, a música faz alusão aos dois meios de opressão da ditadura. Por
um lado, a agressão física, a tortura e a morte. Por outro, a ameaça psicológica, o medo, o
controle do discurso e, por conseguinte, das vidas do povo brasileiro.
Carta À República - Milton Nascimento
Compositor: Milton Nascimento/fernando
Brant
Sim é verdade, a vida é mais livre
o medo já não convive nas casas, nos
bares, nas ruas
com o povo daqui
e até dá pra pensar no futuro e ver nossos
filhos crescendo e sorrindo
mas eu não posso esconder a amargura
ao ver que o sonho anda pra trás
e a mentira voltou
ou será mesmo que não nos deixara?
a esperança que a gente carrega é um
sorvete em
pleno sol
o que fizeram da nossa fé?
Eu briguei, apanhei, eu sofri, aprendi,
eu cantei, eu berrei, eu chorei, eu sorri,
eu saí pra sonhar meu País
e foi tão bom, não estava sozinho
a praça era alegria sadia
o povo era senhor
e só uma voz, numa só canção
e foi por ter posto a mão no futuro
que no presente preciso ser duro
que eu não posso me acomodar
quero um País melhor
32
Dando Milho Aos Pombos 1981
Zé Geraldo
Enquanto esses comandantes loucos ficam
por aí
queimando pestanas organizando suas
batalhas
Os guerrilheiros nas alcovas preparando na
surdina
suas mortalhas
Isso tudo acontecendo e eu aqui na praça
dando milho aos pombos ( 2 vezes )
Entra ano, sai ano, cada vez fica mais difícil
o pão, o arroz, o feijão, o aluguel
Uma nova corrida do ouro
o homem comprando da sociedade o seu
papel
Quanto mais alto o cargo maior o rombo
Isso tudo acontecendo e eu aqui na praça
dando milho aos pombos ( 4 vezes )
Eu dando milho aos pombos no frio desse
chão
Eu sei tanto quanto eles se bater asas mais
alto
voam como gavião
Tiro ao homem tiro ao pombo
Quanto mais alto voam maior o tombo
Eu já nem sei o que mata mais
Se o trânsito, a fome ou a guerra
Se chega alguém querendo consertar
vem logo a ordem de cima
Pega esse idiota e enterra
Todo mundo querendo descobrir seu ovo de
Colombo
Isso tudo acontecendo e eu aqui na praça
dando milho aos pombos ( 5 vezes )
Canção Da América - Milton Nascimento
Compositor: Milton Nascimento, Fernando
Brant
Amigo é coisa pra se guardar
Debaixo de sete chaves,
Dentro do coração,
assim falava a canção que na América ouvi,
mas quem cantava chorou ao ver o seu
amigo partir,
mas quem ficou, no pensamento voou,
com seu canto que o outro lembrou
E quem voou no pensamento ficou,
com a lembrança que o outro cantou.
Amigo é coisa para se guardar
No lado esquerdo do peito,
mesmo que o tempo e a distância, digam
não,
mesmo esquecendo a canção.
O que importa é ouvir a voz que vem do
coração.
Pois, seja o que vier,
venha o que vier
Qualquer dia amigo eu volto a te encontrar
Qualquer dia amigo, a gente vai se
encontrar.
Brasil, de Cazuza
A icônica canção do poeta exagerado conta um pouco do cenário do Brasil no final dos anos 80
e início da década de 90. Insatisfeito com a corrupção, a desvalorização do empregado e o
comodismo do povo, ele pede que o brasileiro mostre a sua cara – algo que ocorreu alguns
anos depois, com o movimento ―Caras Pintadas‖.
Brasil - Cazuza Compositor: Cazuza/George Israel/Nilo
Roméro
33
Não me convidaram
Pra essa festa pobre
Que os homens armaram pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada antes de eu nascer
Não me ofereceram
Nem um cigarro
Fiquei na porta estacionando os carros
Não me elegeram
Chefe de nada
O meu cartão de crédito é uma navalha
Brasil
Mostra tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim
Não me convidaram
Pra essa festa pobre
Que os homens armaram pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada antes de eu nascer
Não me sortearam
A garota do Fantástico
Não me subornaram
Será que é o meu fim?
Ver TV a cores
Na taba de um índio
Programada pra só dizer "sim, sim"
Brasil
Mostra a tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim
Grande pátria desimportante
Em nenhum instante
Eu vou te trair
(Não vou te trair)
Honestidade - Juca Chaves
A honestidade a muitos já sumiu
e as consequências vêm sempre depois
por isso todo dia pra alegria do Brasil,
morre um ladrão e nascem dois,
morre um ladrão e nascem dois.
Sai um ministro, entra outro que promete
e o aposentado, coitado, se comove,
a espera dos 147 se decrete
mas na horta do pobre nunca chove
Collor deu um golpe 69.
Enquanto os empresários, operários da
cobiça investem lá no norte, no norte da
suíça
democracia é isto, é trabalhar contente pro
caviar do nosso presidente
e pro meu, afinal também sou gente.
Enquanto o pacto não fica social
e a moral valendo mais do que dinheiro,
que importa se o cunhado é alagoano, não
faz mal
ou se o meu carro a álcool é brasileiro, ou
se o meu carro a álcool é brasileiro.
Nossos valores estão na contramão,
sequestrador vive melhor que marajá,
e sem licitação, só pra ajudar cunhado ou
irmão
vou ser um diretor da LBA
se a imprensa descobrir eu vou pra cana e
chorar!
Que País É Este?, de Legião Urbana
Renato Russo e sua trupe expõem os diversos problemas do Brasil do final da década de 80. A
corrupção, a promessa do Brasil como ―país do futuro‖ e a desigualdade social estão explícitas
na letra da música.
34
Que País é Esse? - Legião Urbana
Compositor: Renato Russo
Nas favelas, no senado
Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a constituição
Mas todos acreditam no futuro da nação
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
No Amazonas, no Araguaia, na Baixada
fluminense
No Mato grosso, Minas Gerais e no
Nordeste tudo em paz
Na morte eu descanso mas o sangue anda
solto
Manchando os papéis, documentos fiéis
Ao descanso do patrão
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
Terceiro Mundo se for
Piada no exterior
Mas o Brasil vai ficar rico
Vamos faturar um milhão
Quando vendermos todas as almas
Dos nossos índios num leilão.
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
................
Mulheres de Atenas, de Chico Buarque
No trecho “Quando eles embarcam, soldados / Elas tecem longos bordados / Mil quarentenas”,
Chico claramente faz uma alusão ao poema épico de Homero, a Odisseia. A música lembra a
atitude de Penélope, esposa de Ulisses, o herói da obra. A submissão tratada na canção, tida
como controversa, foi explicada pelo músico em uma única frase: ―Eu disse: mirem-se no
exemplo daquelas mulheres que vocês vão ver o que vai dar‖ – como podemos ver, em tom de
crítica.
Mulheres de Atenas
Chico Buarque
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seus maridos
Orgulho e raça de Atenas
Quando amadas, se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem imploram
Mais duras penas; cadenas
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Sofrem pros seus maridos
Poder e força de Atenas
Quando eles embarcam soldados
Elas tecem longos bordados
Mil quarentenas
E quando eles voltam, sedentos
Querem arrancar, violentos
Carícias plenas, obscenas
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Despem-se pros maridos
Bravos guerreiros de Atenas
Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar um carinho
De outras falenas
Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas, Helenas
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas:
Geram pros seus maridos
Os novos filhos de Atenas
Elas não têm gosto ou vontade
Nem defeito, nem qualidade
35
Têm medo apenas
Não tem sonhos, só tem presságios
O seu homem, mares, naufrágios
Lindas sirenas, morenas
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Temem por seus maridos
Heróis e amantes de Atenas
As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas
Não fazem cenas
Vestem-se de negro, se encolhem
Se conformam e se recolhem
Às suas novenas, serenas
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Secam por seus maridos
Orgulho e raça de Atenas
Eu Não Matei Joana D’Arc, de Zeca Baleiro (versão original de Camisa de Vênus)
Heroína francesa, Joana D‘Arc se tornou uma figura mítica após ter ajudado a França a
ganhar a Guerra dos Cem Anos (1337-1453). Por alegar ter visões e ouvir vozes, foi acusada
de feitiçaria e queimada em uma fogueira em 1430. Na música, mesmo sem álibi, o cantor se
inocenta da barbárie.
Eu Não Matei Joanna D'arc
Zeca Baleiro
Eu nunca tive nada
Com Joana Darc
Nós só nos encontramos
Prá passear no parque...
Ela me falou
Dos seus dias de glória
E do que não está escrito
Lá nos livros de história...
Que ficava excitada
Quando pegava na lança
E do beijo que deu
Na rainha da França...
Agora todos pensam
Que fui eu que a cremei
Mas eu não sou piromaníaco
Eu juro que não sei...
Ontem eu nem a vi
Sei que não tenho um álibi
Mas eu!
Eu não matei
Joana Darc...(2x)
Eu nunca tive
Nada, nada, nada
Com Joana Darc
Nós só nos encontramos
Prá passear no parque...
Ela me falou
Que andava ouvindo vozes
Que prá conseguir dormir
Sempre tomava algumas doses...
Uma rede internacional
Iludiu aquela menina
Prometendo a todo custo
Transformá-la em heroína...
Agora eu tô entregue
À CIA e à KGB
Eles querem que eu confesse
Mas eu nem sei o quê...
Ontem eu nem a vi
Sei que não tenho um álibi
Mas eu!
Eu não matei
Joana Darc...(2x)
Eu não matei
Joana Darc...(2x)
Ontem eu nem a vi
Sei q'eu não tenho um álibi
Mas eu!
Eu não matei
Joana Darc...(2x)
Não!
Não fui eu!
Não, não, não!
Não fui eu!
Não!
Não fui eu!
Não, não, não!
Ontem eu nem a vi
Sei q'eu não tenho um álibi
Mas eu!
Eu não matei
Joana Darc...(2x)
36
Romaria
Elis Regina
Compositor: Renato Teixeira
É de sonho e de pó
O destino de um só
feito eu perdido em pensamentos
sobre o meu cavalo
É de laço e de nó
De gibeira ou jiló
Dessa vida cumprida a sol
Sou caipira pirapora nossa
Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura
e funda o trem da minha vida
Sou caipira pirapora nossa
Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura
e funda o trem da minha vida
O meu pai foi peão
Minha mãe, solidão
meus irmãos perderam-se na vida
a custa de aventuras
Descasei, joguei
investi, desisti
Se há sorte eu não sei, nunca vi.
Sou caipira pirapora nossa
Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura
e funda o trem da minha vida
Sou caipira pirapora nossa
Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura
e funda o trem da minha vida
Me disseram, porém,
que eu viesse aqui
pra pedir de romaria e prece
Paz nos desaventos
Como eu não sei rezar
Só queria mostrar
Meu olhar, meu olhar, meu olhar
Sou caipira pirapora nossa
Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura
e funda o trem da minha vida
Sou caipira pirapora nossa
Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura
e funda o trem da minha vida
Romaria – A história da música símbolo do caipira
Minha amiga Rose Saldiva, toda feliz ao telefone, me informava que, segundo suas
pesquisas sobre o perfil do cidadão taubateano encomendado por uma grande multinacional,
Romaria era identificada por noventa por cento da população como a ―música da cidade‖.
O fato de morar ao lado de Aparecida e sempre ir até lá me possibilitaram falar com
naturalidade do romeiro e sua saga em busca do milagre. Acredito que, para pessoas que
chegam de lugares mais distantes, a Basílica possa representar um sonho maior, o desejo de
toda uma vida que se realiza, e as põem perplexas diante da grandeza e do poder da fé,
representadas pelo magnífico templo que o povo ergueu para reverenciar a padroeira do Brasil.
Mas aqui na terra de Lobato, Aparecida sempre será uma cidade familiar. Dos tempos mais
frequentados, aqueles que vão até minha mudança pra São Paulo, ainda posso recordar, com
muita transparência, a época em que os comerciantes enfeitavam a entrada de suas lojas
usando velas dos mais variados tamanhos dispostas de modo a simular uma espécie de ―porta
para o paraíso‖ onde todas as nossas reivindicações depositadas aos pés de Nossa Senhora,
seriam atendidas de uma forma ou de outra; bastava que pedíssemos com fervor e
acendêssemos uma vela como prova da nossa gratidão.
E não poderia ser diferente uma vez que o povo brasileiro, na maioria das vezes, sempre
foi atendido pela Mãe Santíssima nos momentos de maior precisão. A prova da eficiência da
crença na Padroeira é o grau de satisfação dos fieis que sempre voltam agradecendo as
graças recebidas. Misteriosa e bela Aparecida do Norte.
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Música na Aula de História

  • 1. A MÚSICA NA SALA DE AULA Org. Prof. Amilton Benedito Peletti TRABALHO COM MÚSICA...  Ouvir a música;  Conversar sobre o que acharam da música (ritmo e história nela contada);  Entregar a letra da música impressa e ouvir novamente;  Pesquisar no dicionário o significado das palavras desconhecidas;  Ouvir a música fazendo algumas pausas; chamar atenção para a história e instrumentos utilizados;  Representar a música por meio de desenho;  Debater sobre o conhecimento que a música trouxe sobre o conteúdo estudado.  Relação com o tema abordado;  Época em que foi escrita e composta, situar a música no contexto histórico que está sendo abordado;  Identificação da intenção do autor com a música;  A música foi composta e escrita no momento em que o assunto abordado estava acontecendo ou foi feita depois como forma de registro;  Linguagem utilizada: formal, informal, se apresenta regionalismos e gírias;  Atividades de entendimento da música como montagem de cartazes com figuras ou palavras, painéis, paródias, etc. [...] ―a música não é um substituto para os textos tradicionais, mas, sim, um complemento a eles‖ (Sjolie, 1997, p. 6). A Música Brasileira no Ensino de História O trabalho do historiador, ou a ―operação historiográfica‖, consiste na combinação de um lugar social, de práticas científicas e de uma escrita (CERTEAU, 2010, p. 66). Esta, fundamenta-se nas fontes, sejam elas escritas ou não. No ensino de História as fontes também são essenciais, são recursos usados para problematizar um determinado conteúdo ou conceito. [...] "o ensino de história deve estar articulado a diversificação de documentos, como imagens, canções, objetos arqueológicos, entre outros, na construção do conhecimento histórico‖. (PARANÁ, 2008, p. 53). Sobre o potencial documental da canção, o historiador David Treece afirma: A canção popular é claramente, muito mais do que um texto ou uma mensagem. Seu poder significante e comunicativo só é percebido como um processo social à medida em que o ato performático é capaz de articular e engajar uma comunidade de músicos e ouvintes numa forma de comunicação social." (TREECE, 2000, p. 128). Essa definição de canção popular como fonte histórica reafirma a relevância da música como recurso pedagógico e está em consonância com o objeto da História: "(...) os processos históricos relativos às ações e às relações humanas praticadas no tempo, bem como a respectiva significação atribuída pelos sujeitos, tendo ou não consciência dessas ações. As relações humanas produzidas por essas ações podem ser definidas como
  • 2. 2 estruturas sócio históricas, ou seja, são as formas de agir, pensar, sentir, representar, imaginar, instituir e de se relacionar social, cultural e politicamente." (PARANÁ, 2008, p. 46) O trabalho com música no ensino de História exige uma abordagem específica e cabe ao professor selecionar seu material e escolher a opção metodológica mais adequada para facilitar o processo de ensino e aprendizagem. Ao escolher a música como um recurso didático é necessário planejar seu uso, ou seja, determinar em qual momento da aula a canção será usada e com qual será sua finalidade. A música, compreendida como um objeto de aprendizagem permite múltiplos usos e leituras. Os objetos de aprendizagem servem para ilustrar, mobilizar, explicar ou problematizar um determinado conteúdo ou conceito. A pesquisadora Katia Abud explica que ―no processo de aprendizagem as fontes se transformam em recursos didáticos, na medida em que são chamadas para responder perguntas e questionamentos adequados aos objetivos da história ensinada‖ (ABUD, 2005, p. 309). Nesse sentido, é interessante observar que a canção usada em sala de aula pode se desprender de seu contexto de produção e dos significados a ela atribuídos pelo autor e pela comunidade de ouvintes, ela passa ―a ser um instrumento para o desenvolvimento de conceitos na aula de história‖ (ABUD, 2005, p. 312). No entanto, a música também pode ser utilizada em sala de aula como fonte histórica, como usam os historiadores como matéria-prima de suas pesquisas. Entre os profissionais preocupados com a relação entre história e música, destaca-se o historiador Marcos Napolitano. Este pesquisador apresenta uma proposta de análise da canção popular nas esferas da produção, circulação e distribuição, articuladas às contribuições dos teóricos da Escola de Frankfurt e dos Estudos Culturais. De acordo com a literatura especializada, o processo de análise de fontes musicais devem seguir alguns procedimentos, chamados de análise externa e interna: "Com relação à análise externa do documento musical, é prudente compreendê-la subdividindo-a em dois campos distintos. A primeira instância deve tratar do contexto histórico mais amplo, situando os vínculos e relações do documento e seu(s) produtor(es) com seu tempo e espaço, tarefa comum e básica dos historiadores [...]. O segundo campo refere-se a outra especificidade da documentação, isto é, ao processo social de criação, produção, circulação e recepção da música popular". (MORAES, 2000, p. 216). Música e cultura: Todo povo tem a sua música Valéria Peixoto de Alencar Povos do mundo todo produziam música muito antes das primeiras orquestras, surgidas durante o barroco europeu, no século 16, e mesmo muito antes do século 11, quando Guido d'Arezzo criou a notação musical da forma como a estudamos até hoje. Feitas para cerimônias religiosas ou festivas, essas primeiras músicas, de diferentes culturas, nos influenciam até os dias atuais. Vários mitos africanos, asiáticos e americanos narram como os deuses inventaram os instrumentos musicais, durante a criação do mundo. Ainda hoje, para alguns povos, os instrumentos têm poderes sobrenaturais e permitem que os homens se comuniquem com seus ancestrais ou com os próprios deuses.
  • 3. 3 Quando pensamos em músicas antigas, logo vem à mente a música clássica, as orquestras e seus instrumentos requintados. Dificilmente paramos para pensar na produção musical de povos indígenas, africanos, orientais... Isso talvez ocorra porque temos uma formação artística e musical proveniente do neoclassicismo, que, durante longo tempo, ignorou outro tipo música que não fosse a erudita. África É preciso salientar, primeiramente, que, ao falarmos de um grande continente, com povos muito diversos, corremos o risco de fazer generalizações. Ou seja, seria o mesmo que dizer que a música brasileira é apenas o samba. E isso vale para todos os lugares e culturas de que falaremos aqui. No caso da África, nos referimos aos povos da região subsaariana e aos elementos da musicalidade que vieram até nós, trazidos pelos escravos. Um dos elementos principais da música africana é o instrumento de percussão. Na África central, podemos encontrar um elemento comum entre as diversas tradições musicais: tambores, de todos os tipos e tamanhos. Desde cedo as crianças aprendem a tocar e cantar, pois a música é parte do cotidiano, utilizada para celebrar casamentos e nascimentos, para curar doenças e para acompanhar o trabalho. A cultura brasileira sofreu enorme influência da africana. No que se refere à música, além dos tambores utilizados em rituais religiosos, os escravos trouxeram ritmos como a umbigada e o maxixe, que deram origem ao samba. Oriente Médio Berço das religiões cristã, judaica e islâmica, o Oriente Médio é a região em que se desenvolveram as primeiras grandes civilizações de que temos notícia: Suméria, Assíria, Babilônia e Egito. É lá que encontramos os antecedentes de instrumentos modernos, como o violino, o oboé e o trompete. Índia Dó, ré, mi, fá, sol, lá e si: estas são as sete notas musicais que conhecemos. E a partir delas construímos as escalas e fazemos música em qualquer momento, certo? Sim, mas não na Índia. A música clássica indiana mais conhecida provém da Região Norte desse país. Ela se baseia numa complicada série de escalas chamadas ragas, cada uma destinada a uma situação, a uma hora do dia ou estação do ano em particular. Existem mais de 200 ragas diferentes. Para tocar esse tipo de música, com seu complexo padrão de notas e ritmos, o músico tem que se dedicar a muitos anos de estudo. Extremo Oriente Região formada por países de tradições musicais milenares, grande parte de sua música era escrita para danças da corte ou para o teatro. Também há músicas de cunho religioso, com instrumentos de percussão de todos os tipos - tambores, gongos e sinos -, usados para aplacar os deuses e afastar os demônios.
  • 4. 4 Oceania e ilhas do Pacífico As milhares de ilhas espalhadas pelo Oceano Pacífico possuem uma tradição musical intimamente ligada ao mar, servindo, inclusive, para pedir aos deuses auxílio na navegação. No passado, os povos que viviam nessa região viajavam de ilha para ilha, levando consigo seus instrumentos - tambores, flautas e apitos. Dessa forma, povoaram as diversas ilhas, como Papua-Nova Guiné e Havaí. Américas Assim como em todas as regiões descritas até agora, temos que nos lembrar da vastidão do continente americano e da imensa quantidade de povos indígenas que o habitava antes da colonização europeia. Ainda assim, podemos encontrar elementos musicais comuns em muitas culturas. A música, por exemplo, na maioria das vezes era cantada e expressava a crença desses povos nos deuses relacionados à natureza. No Brasil, alguns mitos narram que a música teria sido um presente dos deuses, entristecidos com o silêncio no mundo dos humanos. Em outras lendas, a criação do mundo se mistura à criação da música. Assim, a música serve para ter contato com os deuses e os ancestrais. Num ritual, um discurso pode acabar em canto - ou vice-versa. Além da voz (canto), temos instrumentos como: chocalhos, guizos, bastões, tambores (percussão), apitos e flautas (sopro) - e zunidores. Referências ABUD, Katia Maria. Registro e representação do cotidiano: a música popular na aula de história. Disponível em: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/mydownloads_01/singlefile.php?cid=42&lid=6 848 ARAÚJO, Paulo César. Eu não sou cachorro, não! Música Popular Cafona e Ditadura Militar. São Paulo: Record, 2002. ARAÚJO, Samuel; CAMBRIA, Vincenzo Cambria; PAZ, Gaspar. Música em debate: perspectivas interdisciplinares. Rio de Janeiro: Editora Mauad, 2008. BRYAN, Guilherme. Quem tem um sonho não dança: cultura jovem brasileira nos anos 80. São Paulo: Record, 2004. CABRAL, Sérgio. A MPB na Era do rádio. São Paulo: Editora Moderna, s/d. CARDOSO, Ciro F.; VAINFAS, Ronaldo. Domínios da história: ensaios de teoria e metodologia. São Paulo: Editora Campus, 1997. CERTEAU, Michel de. A escrita da História. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010. COSTA,Wellington B.; WORMS, Luciana S. Brasil século XX: ao pé da letra da canção popular. Curitiba: Nova didática, 2002. FERREIRA, Martins. Como usar a música na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2002. HOBSBAWM, Eric J. História Social do Jazz. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 2008. HUNT, Lynn (Org.). A nova história cultural. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
  • 5. 5 MATOS, Claudia. Acertei no milhar: malandragem e samba no tempo de Getúlio. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. MORAES, José Geraldo Vinci de. História e música: canção popular e conhecimento histórico. Disponível em: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/mydownloads_01/singlefile.php?cid=42&lid=5 556 MOURA, Roberto M. No princípio, era a roda: um estudo sobre samba, partido-alto e outros pagodes. Rio de Janeiro: Rocco, 2004. _______. Tia Ciata e a pequena África no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, 1995. MUSSA, Alberto; SIMAS, Luiz Antonio. Samba de enredo: história e arte. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2010. NAPOLITANO, Marcos. História & Música. Editora Autêntica, 2002. _______. A síncope das idéias: a questão da tradição na música popular brasileira. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2007. _______. O fonograma como fonte para a pesquisa histórica sobre música popular: problemas e perspectivas. Disponível em: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/mydownloads_01/singlefile.php?cid=42&lid=6 855 _______; AMARAL, Maria Cecília; BORJA, Wagner Cafagni. Linguagem e canção: uma proposta para o ensino de História. Disponível em: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/mydownloads_01/singlefile.php?cid=42&lid=6 854>. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares de História para a Educação Básica. Curitiba: Seed, 2008. SALIBA, Elias T.; MORAES, José G. V. de (Orgs.). História e Música no Brasil. São Paulo: Alameda Editorial, 2010. SANDRONI, Carlos. Feitiço decente: transformações do samba no Rio de Janeiro (1917-1933). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor/Editora UFRJ, 2001. SOIHET, Rachel. A subversão pelo riso: estudos sobre o carnaval carioca da Belle Époque aos tempos de Vargas. Rio de Janeiro: Edufu, 2008. TREECE, David. A flor e o canhão: a bossa nova e a música de protesto no Brasil (1958/1968). História Questões e Debates. Jun/jul. Curitiba, 2000. VIANNA, Hermano. O mistério do samba. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor/Editora UFRJ, 2007.
  • 6. 6 Cacimba de Mágoa (part. Falamansa) Gabriel O Pensador O sertão vai virar mar É o mar virando lama Gosto amargo do Rio Doce De Regência a Mariana Mariana, Marina, Maria, Márcia, Mercedes, Marília Quantas famílias com sede, quantas panelas vazias? Quantos pescadores sem redes e sem canoas? Quantas pessoas sofrendo, quantas pessoas? Quantas pessoas sem rumo como canoas sem remos Como pescadores sem linha e sem anzóis? Quantas pessoas sem sorte, quantas pessoas com fome? Quantas pessoas sem nome, quantas pessoas sem voz? Adriano, Diego, Pedro, Marcelo, José Aquele corpo é de quem, aquele corpo quem é? É do Tião, é do Léo, é do João, é de quem? É mais um joão-ninguém, é mais um morto qualquer Morreu debaixo da lama, morreu debaixo do trem? Ele era filho de alguém, e tinha filho e mulher? Isso ninguém quer saber, com isso ninguém se importa Parece que essas pessoas já nascem mortas E pra quem olha de longe passando sempre por cima Parece que essas pessoas não têm valor São tão pequenas e fracas, deitando em camas e macas Sobrevivendo, sentindo tristeza e dor Quem nunca viu a sorte pensa que ela não vem E enche a cacimba de mágoa Hoje me abraça forte, corta esse mal, planta o bem Transforma lágrima em água O sertão vai virar mar É o mar virando lama Gosto amargo do Rio Doce De Regência a Mariana O sertão vai virar mar É o mar virando lama Gosto amargo do Rio Doce De Regência a Mariana Quem olha acima, do alto, ou na TV em segundos Às vezes vê todo mundo, mas não enxerga ninguém E não enxerga a nobreza de quem tem pouco, mas ama De quem defende o que ama e valoriza o que tem Antônio, Kátia, Rodrigo, Maurício, Flávia e Taís Trabalham feito formigas, têm uma vida feliz Sabem o valor da amizade e da pureza Da natureza e da água, fonte da vida Conhecem os bichos e plantas e como o galo que canta Levantam todos os dias com energia e com a cabeça erguida Mas vêm a lama e o descaso, sem cerimônia Envenenando o futuro e o presente Como se faz desde sempre na Amazônia Nas nossas praias e rios impunemente Mas o veneno e o atraso, disfarçado de progresso Que apodrece a nossa fonte e a nossa foz
  • 7. 7 Não nos faz tirar os olhos do horizonte Nem polui a esperança que nasce dentro de nós É quando a lágrima no rosto a gente enxuga e segue em frente Persistente como as tartarugas e as baleias E nessa lama nasce a flor que a gente rega Com o amor que corre dentro do sangue, nas nossas veias Quem nunca viu a sorte pensa que ela não vem E enche a cacimba de mágoa Hoje me abraça forte, corta esse mal, planta o bem Transforma lágrima em água O sertão vai virar mar É o mar virando lama Gosto amargo do Rio Doce De Regência a Mariana O sertão vai virar mar É o mar virando lama Gosto amargo do Rio Doce De Regência a Mariana O sertão vai virar mar (o sertão virando mar) É o mar virando lama (o mar virando lama) Gosto amargo do Rio Doce (da lama nasce a flor) De Regência a Mariana (muita força, muita sorte) O sertão vai virar mar (mais justiça, mais amor) É o mar virando lama Gosto amargo do Rio Doce De Regência a Mariana O sertão vai virar mar É o mar virando lama Composição: Tato e Gabriel o Pensador Bela iniciativa do Falamansa e de Gabriel O Pensador em parceria com o Instituto Últimos Refúgios e o Instituto O Canal – um clipe musical que lamenta a tragédia ocorrida no Rio Doce e o completo descaso com a natureza e com as famílias afetadas. No YouTube, a banda Falamansa explica que ―cada visualização do clipe se transforma em uma doação para um fundo de assistência às famílias ribeirinhas com a finalidade de promover obras sociais comunitárias‖. O Meu País - Zé Ramalho Compositor: Livardo Alves - Orlando Tejo - Gilvan Chaves Tô vendo tudo, tô vendo tudo Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo Um país que crianças elimina Que não ouve o clamor dos esquecidos Onde nunca os humildes são ouvidos E uma elite sem Deus é quem domina Que permite um estupro em cada esquina E a certeza da dúvida infeliz Onde quem tem razão baixa a cerviz E massacram - se o negro e a mulher Pode ser o país de quem quiser Mas não é, com certeza, o meu país Um país onde as leis são descartáveis Por ausência de códigos corretos Com quarenta milhões de analfabetos E maior multidão de miseráveis Um país onde os homens confiáveis Não têm voz, não têm vez, nem diretriz Mas corruptos têm voz e vez e bis E o respaldo de estímulo incomum Pode ser o país de qualquer um Mas não é com certeza o meu país Um país que perdeu a identidade Sepultou o idioma português Aprendeu a falar pornofonês Aderindo à global vulgaridade
  • 8. 8 Um país que não tem capacidade De saber o que pensa e o que diz Que não pode esconder a cicatriz De um povo de bem que vive mal Pode ser o país do carnaval Mas não é com certeza o meu país Um país que seus índios discrimina E as ciências e as artes não respeita Um país que ainda morre de maleita Por atraso geral da medicina Um país onde escola não ensina E hospital não dispõe de raio - x Onde a gente dos morros é feliz Se tem água de chuva e luz do sol Pode ser o país do futebol Mas não é com certeza o meu país Tô vendo tudo, tô vendo tudo Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo Um país que é doente e não se cura Quer ficar sempre no terceiro mundo Que do poço fatal chegou ao fundo Sem saber emergir da noite escura Um país que engoliu a compostura Atendendo a políticos sutis Que dividem o Brasil em mil Brasis Pra melhor assaltar de ponta a ponta Pode ser o país do faz-de-conta Mas não é com certeza o meu país Tô vendo tudo, tô vendo tudo Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo 500 Anos de Sobrevivência Gabriel O Pensador 500 anos de vida, 500 anos de sobrevivência, 500 anos de história, 500 anos de experiência, 500 anos de batalhas, derrotas e vitórias, Desordem e progresso, fracasso, sucesso, Dor e alegria, tristeza e paixão, 500 anos de trabalho, e a obra ainda está em construção, A luta continua, a vida continua, Apesar do sangue que escorre, O guerreiro não se cansa e acredita na mudança, Porque a esperança é última que morre. Será só imaginação? Será que nada vai acontecer? Será que é tudo isso em vão? Será que vamos conseguir vencer? Eu odeio tudo isso mas eu tenho que saber, O que eu leio no jornal e eu vejo na TV, Eu odeio tudo isso mais eu tenho que vencer, Porque eu tenho um compromisso com a vida e com você, O que eu vejo no jornal não me deixa feliz, Mas não mudo de canal e não mudo de país, Eu tenho medo, porque o medo está no ar, Mas ainda é cedo pra deixar tudo pra lá, Não adianta ficar aqui á toa, Só esperando pra ouvir notícia boa, O que se planta é o que se colhe, O futuro é um presente que a gente mesmo escolhe, A semente já está no nosso chão, Agora é só regar com a mente e o coração, A transformação da revolta em amor, Faz a água virar vinho e o espinho virar flor, Será só imaginação? Será que nada vai acontecer? Será que é tudo isso em vão? Será que vamos conseguir vencer? Não adianta ficar aqui é toa, Só esperando pra ouvir notícia boa, O que se planta é o que se colhe, O futuro é um presente que a gente mesmo escolhe, A semente já está no nosso chão,
  • 9. 9 Agora é só regar com a mente e o coração, A transformação da revolta em amor, A transformação... Será só imaginação? Será que nada vai acontecer? Será que é tudo isso em vão? Será que vamos conseguir vencer? Nem todos que sonharam conseguiram, mas pra conseguir é preciso sonhar. Composição: Gabriel O Pensador História do Brasil Edson Gomes Eu vou contar pra vocês Certa história do Brasil Foi quando Cabral descobriu Este país tropical Um certo povo surgiu Vindo de um certo lugar Forçado a trabalhar neste imenso país E era o chicote no ar E era o chicote a estalar E era o chicote a cortar Era o chicote a sangrar Um, dois, três até hoje dói Um, dois, três, bateu mais de uma vez Por isso é que a gente não tem vez Por isso é que a gente sempre está Do lado de fora Por isso é que a gente sempre está Lá na cozinha Por isso é que a gente sempre está fazendo O papel menor O papel menor O papel menor Ou o papel pior Hereditário Edson Gomes Era assim, era assim, sim, sim, sim No nascer do dia meu pai ia lá E na morte do dia ele vinha Ele trazia sempre o suor no rosto O corpo cansado e nada no bolso Era assim, era assim, sim, sim, sim Hoje eu que saio Sou eu que trabalho Conheço a dureza De toda essa vida Pai de família, pai de família Hoje é assim, hoje é assim, sim, sim Trago sempre o suor correndo no rosto O corpo cansado e nada no bolso Sangue Azul - Edson Gomes Eles queriam um mundo só de azul (só de azul 3x) Eles queriam, e como eles queriam Eles queriam que fossemos apenas objeto sexual Objeto Profissional Eles queriam, e como eles queriam Mas o poder, que vem do alto Não planejou assim E nós crescemos, nos espalhamos E aqui vamos nós, caminhando Em cada esquina, em cada praça, nos becos da cidade Mesmo que o rádio não toque, mesmo que a TV não mostre Aqui vamos nós, cantando reggae, aleluia Jah!(2x)
  • 10. História Do Brasil Jorge Aragão Eu vi Não vou esquecer jamais De alguém que fez dos desiguais Um povo unido em mutirão Numa só direção Pra não ser vencido Pelas garras da opressão Eu vi Das planícies e serras Dos confins desta terra Elevar-se um anseio Tão forte mas calou como veio Quando a sombra da morte Encobriu todos nós Juro que... Eu vi Quase tudo deu certo Quem não viu chegou perto Mas nos legou um sonho Risinho Hoje, vejo meu povo Merecendo de novo Ser feliz Agora é lutar Por tudo que ele quis É hora de mudar Conheço o meu país Agora é lutar Por tudo que ele quis É hora de mudar Índios, de Legião Urbana Esta canção fala por si só: a conquista do Brasil pelos portugueses, e da América Latina pelos espanhóis, e o processo de dominação dos indígenas que viviam na América. Índios Legião Urbana Compositor: Renato Russo Quem me dera, ao menos uma vez Ter de volta todo o ouro que entreguei A quem conseguiu me convencer Que era prova de amizade Se alguém levasse embora até o que eu não tinha Quem me dera, ao menos uma vez, Esquecer que acreditei que era por brincadeira Que se cortava sempre um pano-de-chão De linho nobre e pura seda. Quem me dera, ao menos uma vez, Explicar o que ninguém consegue entender: Que o que aconteceu ainda está por vir E o futuro não é mais como era antigamente. Quem me dera, ao menos uma vez, Provar que quem tem mais do que precisa ter Quase sempre se convence que não tem o bastante E fala demais por não ter nada a dizer Quem me dera, ao menos uma vez, Que o mais simples fosse visto como o mais importante Mas nos deram espelhos E vimos um mundo doente. Quem me dera, ao menos uma vez, Entender como um só Deus ao mesmo tempo é três E esse mesmo Deus foi morto por vocês É só maldade então, deixar um Deus tão triste. Eu quis o perigo e até sangrei sozinho. Entenda - assim pude trazer você de volta pra mim Quando descobri que é sempre só você Que me entende do inicio ao fim E é só você que tem a cura pro meu vício De insistir nessa saudade que eu sinto De tudo que eu ainda não vi Quem me dera, ao menos uma vez Acreditar por um instante em tudo que existe E acreditar que o mundo é perfeito
  • 11. 11 E que todas as pessoas são felizes Quem me dera, ao menos uma vez Fazer com que o mundo saiba que seu nome Está em tudo e mesmo assim Ninguém lhe diz ao menos obrigado Quem me dera, ao menos uma vez Como a mais bela tribo, dos mais belos índios Não ser atacado por ser inocente Eu quis o perigo e até sangrei sozinho Entenda: assim pude trazer você de volta pra mim Quando descobri que é sempre só você Que me entende do início ao fim E é só você que tem a cura pro meu vício De insistir nessa saudade que eu sinto De tudo que eu ainda não vi Nos deram espelhos e vimos um mundo doente Tentei chorar e não consegui A música índios da Legião Urbana nos proporciona a fazermos uma análise histórica através de sua letra. Com a letra podemos analisar os primeiros anos de descobrimento do Brasil e um pouco da relação entre colonizador e colonizado. Os primeiros contatos entre os portugueses e os indígenas aconteceu de forma amigável, os portugueses acabaram utilizando esse comportamento dos índios para retirar as riquezas visíveis até o momento no caso o Pau-Brasil. Os indígenas sempre foram vistos como inocentes pelo branco, principalmente pela igreja católica. Com a chegada dos europeus a vida no continente americano mudou, muitos índios acabaram sendo escravizados ou mortos e os que sobreviveram tiveram que se deslocar para o interior do território. A ambição do homem branco é uma das características que mais se diferencia da dos índios, o indígena na sua cultura não tem a necessidade de acumulação de bens. Um dos objetos que mais fizeram sucesso no escambo realizado entre os índios e os brancos foi o espelho. Essa cordialidade entre as duas culturas acabou levando a mudanças na vida do índio e no seu território. Juntamente com os colonizadores chegou a religião católica principalmente através dos jesuítas que tinham como objetivo catequizar os nativos. A resistência indígena sempre existiu no Brasil, muitos tribos lutaram contra o colonizador, essa luta pela sobrevivência muitas vezes levou a morte de tribos inteiras. Podemos entender como sendo saudades da época antes da chegada do colonizador. No trecho podemos entender como uma alusão a vida indígena sem a presença do homem branco, com os nativos vivendo de acordo com sua cultura. Os índios tem uma visão de mundo diferente da do homem branco com mais responsabilidades em relação ao planeta. Muitos índios foram atacados pelos europeus principalmente em busca de mão-de-obra escrava, seja, para trabalhar nos primeiros engenhos de açúcar ou mesmo para serem enviados para Europa como seres exóticos. A resistência indígena sempre existiu no Brasil, muitas tribos lutaram contra o colonizador, essa luta pela sobrevivência muitas vezes levou a morte de tribos inteiras. Podemos entender como sendo uma saudade de uma época antes da chegada do colonizador. Nesse último trecho vemos a mudança no mundo indígena com o índio enxergando o resultado da exploração do Brasil.
  • 12. 12 Curumim Chama Cunhatã Que Eu Vou Contar (Todo Dia Era Dia de Índio) Baby do Brasil - Compositor: Jorge Ben Jor Curumim chama cunhata que eu vou contar Cunhata chama curumim que eu vou contar Curumimm, Cunhataa Cunhataa, Curumimm Antes que os homens aqui pisassem nas ricas e férteis terras brasilis Que eram povoadas e amadas por milhões de índios Reais donos felizes da terra do pau Brasil Pois todo dia e toda hora era dia de índio Mas agora eles tem só um dia Um dia dezenove de abril Amantes da pureza e da natureza Eles são de verdade incapazes De maltratarem as fêmeas Ou de poluir o rio, o céu e o mar Protegendo o equilíbrio ecológico Da terra, fauna e flora pois na sua história O índio é exemplo mais puro Mais perfeito, mais belo Junto da harmonia, da fraternidade E da alegria, da alegria de viver Da alegria de amar Mas no entanto agora O seu canto de guerra É um choro de uma raça inocente Que já foi muito contente Pois antigamente Todo dia era dia de índio Inclassificáveis - Arnaldo Antunes que preto, que branco, que índio o quê? que branco, que índio, que preto o quê? que índio, que preto, que branco o quê? que preto branco índio o quê? branco índio preto o quê? índio preto branco o quê? aqui somos mestiços mulatos cafuzos pardos mamelucos sararás crilouros guaranisseis e judárabes orientupis orientupis ameriquítalos luso nipo caboclos orientupis orientupis iberibárbaros indo ciganagôs somos o que somos inclassificáveis não tem um, tem dois, não tem dois, tem três, não tem lei, tem leis, não tem vez, tem vezes, não tem deus, tem deuses, não há sol a sós aqui somos mestiços mulatos cafuzos pardos tapuias tupinamboclos americarataís yorubárbaros. somos o que somos inclassificáveis que preto, que branco, que índio o quê? que branco, que índio, que preto o quê? que índio, que preto, que branco o quê? não tem um, tem dois, não tem dois, tem três, não tem lei, tem leis, não tem vez, tem vezes, não tem deus, tem deuses,
  • 13. 13 não tem cor, tem cores, não há sol a sós egipciganos tupinamboclos yorubárbaros carataís caribocarijós orientapuias mamemulatos tropicaburés chibarrosados mesticigenados oxigenados debaixo do sol Mestiço: proveniente de raças diferentes. Mulato: Filho de pai branco e mãe preta. Cafuzo: mestiço de negro e índio. Pardo: mulato. Mameluco: filho de índio com branco. Sarará: mestiço de cabelo ruivo. Crilouro: crioulo: negro nascido na América; louro: aquele que tem cabelo louro (de cor amarelo tostado, entre o dourado e o castanho claro. Guaranissei: guarani: Indivíduo dos guaranis, povo indígena da família lingüística tupi guarani; nissei: diz-se de, ou filho de pais japoneses que emigraram. Judárabe: judeu: o natural ou habitante da judéia (Israel), aquele que segue a religião judaica; o indivíduo semita da Arábia (Península Arábica). Orientupi: oriental: relativo ao oriente ou situado lá, ou de lá originário, ou que lá vive; tupi: indivíduo dos tupis, denominação comum aos povos indígenas do litoral brasileiro cujas línguas pertenciam à mesma família ou tronco que a dos tupis. Ameriquítalo: americano: natural ou habitante do continente americano; ítalo: italiano. Luso: da Lusitânia e seus habitantes, portugueses. Nipo: japonês. Caboclos: mestiço de branco com índio. Iberibárbaro: ibérico: da Ibéria, antigo nome da Espanha; bárbaros: denominação que gregos e romanos davam aos estrangeiros, considerados sem civilização. Indo: grupo de línguas indo-européias da Ásia (sânscrito, híndi, bengali, guzerate, etc.). Ciganagô: cigano: indivíduo de um povo nômade. nagô: diz-se de uma casta de negros do grupo sudanês. Tapuia: designação dada pelos índios de língua tupi guarani aos povos indígenas cujas línguas pertencem a outro tronco lingüístico; indivíduo bravo, mestiço de índio. Tupinamboclo: tupinambá: indivíduo dos tupinambás, povo indígena extinto, da família lingüística tupi guarani, que habitava a costa brasileira. CABOCLO. Americarataí: AMERICANO; carataí: (?) Yorubárbaro: yorubá: grupo nígero-comeruniano. Egipcigano: egípcio: natural ou habitante do Egito. Caribocarijó: caribo: um tipo de dança (cariboca: caboclo); carijó: índios carijós, indígenas que ocupavam o território que ia de Cananéia, estado de São Paulo. Tropicaburé: tropical: situado entre os trópicos, ardente, abrasador; caburé: cafuzo, caboclo. Chibarrosado: (?) Mesticigenado: MESTIÇO; miscigenado: proveniente de raças diferentes.
  • 14. 14 Lourinha Bombril - Os Paralamas do Sucesso Pára e repara Olha como ela samba Olha como ela brilha Olha que maravilha Essa crioula tem o olho azul Essa lourinha tem cabelo bombril Aquela índia tem sotaque do Sul Essa mulata é da cor do Brasil A cozinheira tá falando alemão A princesinha tá falando no pé A italiana cozinhando o feijão A americana se encantou com Pelé Häagen-dazs de mangaba Chateau canela-preta Cachaça made in Carmo dando a volta no planeta Caboclo presidente Trazendo a solução Livro pra comida, prato pra educação Pára e repara Olha como ela samba Olha como ela brilha Olha que maravilha Essa crioula tem o olho azul Essa lourinha tem cabelo bombril Aquela índia tem sotaque do Sul Essa mulata é da cor do Brasil A cozinheira tá falando alemão A princesinha tá falando no pé A italiana cozinhando o feijão A americana se encantou com Pelé Häagen-dazs de mangaba Chateau canela-preta Cachaça made in Carmo dando a volta no planeta Caboclo presidente Trazendo a solução Livro pra comida, prato pra educação Pára e repara Olha como ela samba Olha como ela brilha Olha que maravilha Häagen-dazs de mangaba Chateau canela-preta Cachaça made in Carmo dando a volta no planeta Caboclo presidente Trazendo a solução Livro pra comida, prato pra educação Pára e repara Olha como ela samba Olha como ela brilha Olha que maravilha QUEM É ESSA TAL DE ―LOURINHA BOMBRIL‖ QUE CANTA OS PARALAMAS DO SUCESSO? Você com certeza já parou para pensar em quem é a Lourinha Bombril que canta a música dos Paralamas do Sucesso. E se você prestar atenção na letra da canção, vai entender de cara que ela fala da mulher brasileira. O título nos remete a ideia de miscigenação, pois o ―cabelo bombril‖ sempre foi uma referência ao cabelo dos negros; e as ―loirinhas‖ são sempre lembradas como garotas norte-americanas. Uma prova de que ―Lourinha Bombril‖ fala sobre uma brasileira é a primeira frase da música, que diz: ―Pára e repara, olha como ela samba…‖ Qual dos povos do mundo é um apaixonado por samba? Nós, os brasileiros. Outra prova, é o trecho: ―Essa mulata é da cor do Brasil‖. Gente! Tá estampadasso que eles estão falando das mulheres brasileiras. E se você levar para um lado mais literal, pode transformar os versos de Herbert Viana em um poema incrível, que tem como tema central a mistura de raças que aconteceu desde sempre nesse nosso país. E a gente não está falando só da mistura da pele, mas das misturas culturais em geral.
  • 15. 15 Miscigenação - Zé Potiguar Somos todos brasileiros Pretos, brancos ou vermelhos Somos índios, somos negros Somos da miscigenação Somos uma grande legião Somos o futuro de uma nação Vamos ter força pra lutar Pra um dia termos o que comemorar Será que esse dia vai chegar? Da tua força eu quero a glória Da união quero a vitória Vamos escrever a nossa história Só depende de nós, da nossa coragem Só depende de nós, da nossa vontade Só depende de nós, da nossa coragem Vocês! Só depende de nós, da nossa vontade Somos todos brasileiros Pretos, brancos ou vermelhos Somos índios, somos negros Somo da miscigenação Somos uma grande legião Somos o futuro de uma nação Vamos ter força pra lutar Pra um dia termos o que comemorar Será que esse dia vai chegar? Desses laranjas eu quero o suco Pra nunca mais obter lucro De jeitinho ou traição Da tua força eu quero a glória Da união quero a vitória Vamos escrever a nossa história ETNIA - Chico Science & Nação Zumbi Somos todos juntos uma miscigenação E não podemos fugir da nossa etnia Índios, brancos, negros e mestiços Nada de errado em seus princípios O seu e o meu são iguais Corre nas veias sem parar Costumes, é folclore é tradição Capoeira que rasga o chão Samba que sai da favela acabada É hip hop na minha embolada É o povo na arte É arte no povo E não o povo na arte De quem faz arte com o povo Por de trás de algo que se esconde Há sempre uma grande mina de conhecimentos e sentimentos Não há mistérios em descobrir O que você tem e o que gosta Não há mistérios em descobrir O que você é e o que você faz Maracatu psicodélico Capoeira da Pesada Bumba meu rádio Berimbau elétrico Frevo, Samba e Cores Cores unidas e alegria Nada de errado em nossa etnia. Miscigenação - Paulo Matricó Humano está em movimento No complicar da equação O tempo por cento e a soma do vento dizem mutação (2x) Total igual a miscigenação Jeito na dor do sertão e Caiapoque na África Rastafari, curumim é linho naço-arábico Germano é hermano de negro, caboclo, galego, tupias e árdicos Humano está em movimento No complicar da equação O tempo por cento e a soma do vento dizem mutação (2x) Total igual a miscigenação Jeito na dor do sertão e Caiapoque na África Haja vista uma expressão que exploração é múltiplo Mas existe uma fração que o coração é lúdico
  • 16. 16 Futuro será um só povo em todo o Planeta falando a mesma língua: o amor. (2x) Misturas de Raças - Genival Lacerda Compositor: (pinto do Acordeon) Meu avô é holandês Minha avó é africana O meu pai é português E a minha mãe baiana Eu nasci na paraíba No recanto brasileiro Onde as praias são bonitas Onde o sol nasce primeiro Tenho um parente inglês Japonês, italiano Tem um primo que é francês O outro é índio alagoano Sou mulato, sarará Mais meu sangue é de primeira É a mistura de raça Da genética brasileira O meu sangue viajou, navegou pelos mares Foi parar no quilombo em zumbi dos palmares O meu sangue viajou, navegou pelos mares Meu País - Zezé Di Camargo e Luciano Aqui não falta sol Aqui não falta chuva A terra faz brotar qualquer semente Se a mão de Deus Protege e molha o nosso chão Por que será que tá faltando pão? Se a natureza nunca reclamou da gente Do corte do machado, a foice, o fogo ardente Se nessa terra tudo que se planta dá Que é que há, meu país? O que é que há? Se nessa terra tudo que se planta dá Que é que há, meu país? O que é que há? Tem alguém levando lucro Tem alguém colhendo o fruto Sem saber o que é plantar Tá faltando consciência Tá sobrando paciência Tá faltando alguém gritar Feito um trem desgovernado Quem trabalha tá ferrado Nas mãos de quem só engana Feito mal que não tem cura Estão levando à loucura O país que a gente ama Feito mal que não tem cura Estão levando à loucura O Brasil que a gente ama 500 Anos - Chitãozinho & Xororó O meu país é uma arena gigantesca Onde eu bebo água fresca nas cacimbas do sertão Sou berranteiro, andarilho, sou matreiro Sou peão, sou boiadeiro na poeira desse chão E lá se vão 500 anos de galope Não duvide que eu tope contar tudo que eu já vi No meu cavalo por esse Brasil a fora Eu passeio pela história, do Oiapoque ao Chuí Eu vi chegando caravelas do futuro lá no meu Porto Seguro Quando o sol trazia luz Vi bandeirante atrás de ouro e diamante Nos lugares mais distantes da terra de Santa Cruz Andei nos Pampas, vi a Guerra dos Farrapos E por um triz não escapo no meu ligeiro alazão Vi Tiradentes, vi Antônio conselheiro Lampião Índio guerreiro, padre Cícero Romão Eu vi Zumbi, negro arisco dos Palmares
  • 17. 17 Ecoando pelos ares feito uma oração De um cavaleiro, escutei um grito forte De independência ou morte à beira de um riachão Eu sou o tempo, fui eu quem mudou os ventos Mas já são outros 500 Que vou contar noutra canção Presidente Bossa Nova, de Juca Chaves Tido como governante de vanguarda, Juscelino Kubitschek é retratado indiretamente nesta música do sambista Juca Chaves. A simpatia e os excessos de JK não passam em branco nos versos cantados. Presidente Bossa Nova - Juca Chaves Bossa nova mesmo é ser presidente Desta terra descoberta por Cabral Para tanto basta ser tão simplesmente Simpático, risonho, original. Depois desfrutar da maravilha De ser o presidente do Brasil, Voar da Velha cap pra Brasília, Ver a alvorada e voar de volta ao Rio. Voar, voar, voar, voar, Voar, voar pra bem distante, Até Versalhes onde duas mineirinhas valsinhas Dançam como debutante, interessante! Mandar parente a jato pro dentista, Almoçar com tenista campeão, Também poder ser um bom artista exclusivista Tomando com Dilermando umas aulinhas de violão. Isto é viver como se aprova, É ser um presidente bossa nova. Bossa nova, muito nova, Nova mesmo, ultra nova! Vai Passar Chico Buarque Compositor: Francis Hime - Chico Buarque Vai passar Nessa avenida um samba popular Cada paralelepípedo Da velha cidade Essa noite vai Se arrepiar Ao lembrar Que aqui passaram sambas imortais Que aqui sangraram pelos nossos pés Que aqui sambaram nossos ancestrais Num tempo Página infeliz da nossa história Passagem desbotada na memória Das nossas novas gerações Dormia A nossa pátria mãe tão distraída Sem perceber que era subtraída Em tenebrosas transações Seus filhos Erravam cegos pelo continente Levavam pedras feito penitentes Erguendo estranhas catedrais E um dia, afinal Tinham direito a uma alegria fugaz Uma ofegante epidemia Que se chamava carnaval O carnaval, o carnaval (Vai passar) Palmas pra ala dos
  • 18. 18 barões famintos O bloco dos napoleões retintos E os pigmeus do bulevar Meu Deus, vem olhar Vem ver de perto uma cidade a cantar A evolução da liberdade Até o dia clarear Ai, que vida boa, olerê Ai, que vida boa, olará O estandarte do sanatório geral vai passar Ai, que vida boa, olerê Ai, que vida boa, olará O estandarte do sanatório geral Vai passar 1986 © - Marola Edições Musicais Ltda. A letra da música Vai Passar do cantor e compositor Chico Buarque de Holanda, foi escrita em meados da década de 80, num período conturbado da história brasileira que foi o fim da ditadura militar. A obra pode ser associada especialmente aos seguintes autores debatidos em sala, sendo eles: Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior, Joaquim Nabuco. A letra faz uma crítica veemente ao Estado e ao período colonial brasileiro. Faz um enredo sobre a história do Brasil desde tal período com o ―descobrimento‖ do Brasil até a ditadura militar em 1984. Analisando trechos da letra, especificamente nos trechos: ―Que aqui sangraram pelos nossos pés, que aqui sambaram nossos ancestrais, num tempo página infeliz da nossa história...” é perceptível que o cantor faz uma referência ao período da escravidão vivenciada no Brasil, no qual narram os autores citados, especialmente Caio Prado Júnior e Joaquim Nabuco que fazem um retrospecto ao período colonial brasileiro, tal página infeliz, como expõe a música seria o período da escravidão, com a exploração da mão-de-obra escrava pelos portugueses. Na parte da música: “levavam pedras feito penitentes, erguendo estranhas catedrais” pode se referir a imposição ao negro de uma cultura não vivenciada por eles, sendo imposta pelos portugueses. Joaquim Nabuco analisou que em nossa sociedade “O negro construiu um país para outros; o negro construiu um país para brancos”. Mas, ‖um dia, afinal, tinham direito a uma alegria fugaz, uma ofegante epidemia que se chamava carnaval‖. O samba pode ser considerado a representação da cultura negra, uma expressão artística, o estilo musical dessa categoria marginalizada. Na parte da música: “palmas pra ala dos barões famintos, o bloco do napoleões retintos e os pigmeus do boulevard” demonstra uma crítica aos colonos, a elite portuguesa e quem mantinha o poder na época. Assim, a letra da música se mescla entre o período colonial brasileiro e com o período de opressão da ditadura militar, A liberdade obtida tanto pela alforria da escravatura quanto pelo período pós-ditadura, como exposto no seguinte trecho da música: “Meu Deus, vem olhar, vem ver de perto uma cidade a cantar a evolução da liberdade até o dia clarear”. ―Dormia a nossa pátria mãe tão distraída sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações‖. Caio Prado, assim como os outros autores citados relatam a relação de exploração de Portugal e Inglaterra, onde quem, literalmente, pagou os prejuízos da dívida portuguesa foi o Brasil.
  • 19. 19 O autor Sérgio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil aborda aspectos centrais da história da cultura brasileira que estão intrinsecas a letra da música citada, haja vista, sobretudo, a importância do legado cultural da colonização portuguesa do Brasil, junto com "Casa-Grande & Senzala", de Gilberto Freire e "Formação do Brasil Contemporâneo‖, de Caio Prado Jr. são obras consideradas excêntricas para a compreensão da verdadeira história do processo de formação da sociedade até os nossos dias atuais. “Dormia a nossa pátria mãe, tão distraída, sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações”. Por Rodrigo Nagem de Aragão, estudante de história do DH-USP, em ocasião do aniversário do Golpe Militar de 1964. Há 51 anos, no dia primeiro de abril de 1964, tinha início a Ditadura Militar, um sombrio capítulo de nossa história que persistiu por longos 21 anos – desde o golpe que levou à deposição do presidente João Goulart até o início da Nova República, com o processo da ―redemocratização‖ (ou, como se convém chamar, o processo de retorno ao parlamentarismo burguês, a ―ditadura democrática‖ das classes dominantes). Pressionada pelo governo dos Estados Unidos, cuja postura com relação à América Latina se tornara mais assertiva após o triunfo da Revolução Cubana em 1959, e preocupada em assegurar o poder do Estado e prevenir que o reformismo do governo de João Goulart pudesse abrir espaço para caminhos mais radicais, a burguesia brasileira, nas condições postas, abraçou a via do golpe, contando com o amplo apoio logístico e operacional de órgãos de inteligência estadunidenses (com destaque para o IBAD e o IPES). E, deste modo, no dia primeiro de abril de 1964, Joao Goulart foi forçosamente destituído do cargo de presidente da República. O regime que então se seguiu foi marcado por uma série de crimes hediondos e violações aos direitos humanos, desde o cerceamento dos direitos civis e das garantias constitucionais até as práticas de tortura e assassinato, atrocidades cometidas principalmente na perseguição sistemática à esquerda brasileira, especialmente os comunistas. A Ditadura Militar encarregou-se de, por um lado, esvaziar as esferas democráticas, desarticulando as reformas sociais e econômicas intencionados pelo governo de João Goulart, e, por outro lado, institucionalizar um brutal processo de repressão contra a esquerda. Assim, a soldo das elites e por meio da violência generalizada, os militares esforçaram-se para liquidar as organizações progressistas, no geral, e as organizações revolucionárias, de inclinação comunista, em específico. À época, partidos políticos, centrais sindicais, ligas camponesas e diversos movimentos sociais (estudantis, religiosos, etc.) tornaram-se alvos compulsórios dos órgãos de repressão da Ditadura – e, mais adiante, também os grupos de luta armada, formados após o recrudescimento da perseguição política; com requintes de crueldade, incontáveis militantes de tais organizações foram encarcerados, mutilados e chacinados, casos atrozes que, em sua maioria, permanecem até hoje sem esclarecimento público e cujos responsáveis seguem impunes, uma vez que, anistiados, jamais chegaram a responder por seus crimes. Desta forma, sob uma montanha de cadáveres, o regime militar cumpriu o seu papel: ossificou a vida política do país e, sob tal conjuntura, garantiu a primazia dos interesses econômicos e políticos das classes dominantes, atendendo igualmente aos propósitos do imperialismo norte-americano com relação ao Brasil. Os resultados da tarefa bem-sucedida levada a cabo pelos militares se fazem sentir – e com muito peso – até hoje: o poderio político e econômico de monstruosas associações empresariais, formadas a partir de negociações entre grupos envolvidos nos bastidores do golpe militar e que até hoje reinam sobre largos setores da indústria brasileira; a elevada concentração de terras nas mãos de um ínfimo punhado de latifundiários, agraciados durante a Ditadura por uma série de leis aprovadas em detrimento da reforma agrária e em benefício do
  • 20. 20 crescente acúmulo da propriedade fundiária, fato que entrava o desenvolvimento econômico do campo e condena milhares de famílias campesinas à miséria extrema; a cristalização das práticas de corrupção no seio da atividade parlamentar a partir da associação do Estado com grandes grupos econômicos, ocorrência inerente ao próprio capitalismo, mas fortemente propiciada pelo regime militar, como, por exemplo, é o caso das famosas ―quatro irmãs‖ (Odebrecht, OAS, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez), empreiteiras que foram amplamente beneficiadas por contratos milionários firmados em parceria com a Ditadura e que, hoje em dia, lideram as listas de financiamento privado de campanhas eleitorais e marcam presença nos casos mais recentes de corrupção envolvendo esquemas de licitação pública; a subserviência da economia nacional às instituições financeiras privadas, principalmente os bancos estrangeiros, quadro incentivado após 1964 e que nos remete à atual dívida pública do país, cuja amortização compromete quase 50% do orçamento federal; e a permanência de práticas de repressão à moda fascista, herança direta dos métodos de procedimento policial instaurados pelos militares, cujo reflexo mais claro é a presente campanha de extermínio promovida pela polícia militar contra a população pobre, trabalhadora e negra que habita as periferias dos grandes centros urbanos brasileiros. Passados trinta anos do fim da Ditadura Militar, ponderando sua relação com o nosso presente e colocando em perspectiva os seus efeitos, permanecem atuais, pois, os versos de Chico Buarque: ―Dormia a nossa pátria mãe, tão distraída, sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações‖. Para saber mais sobre a Ditadura Militar: – Análise crítica do sociólogo Carlos Eduardo Martins acerca do regime militar:http://dincao.com.br/noticias/?p=2811 – Relatório final apresentado pela Comissão Nacional da Verdade (CNV):http://dincao.com.br/noticias/?p=2804 – A participação dos EUA na elaboração e efetivação do golpe militar:http://dincao.com.br/noticias/?p=2835 – ―O dia que durou 21 anos‖, documentário dirigido por Camilo Galli Tavares sobre o envolvimento do governo dos Estados Unidos na preparação, desde 1962, do golpe militar executado em 1964: O dia que durou 21 anos from Ivan Fayvit on Vimeo. – A relação entre a Ditadura Militar e a Operação Condor: http://dincao.com.br/noticias/?p=2884 – Especial ―À espera da verdade‖, conjunto de documentos, artigos e entrevistas a respeito do regime militar: http://ultimainstancia.uol.com.br/conteudo/noticias/68036/Ultima+instancia+inaugura+es pecial+a+espera+da+verdade+45+anos+do+ai_5+50+anos+do+golpe.shtml – Site da Comissão Nacional da Verdade, contendo os relatórios dos trabalhos de investigação e discussão realizados pela CNV e links para a documentação pesquisada e analisada: http://www.cnv.gov.br/ – Site ―Memórias da Ditadura‖, portal lançado pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos com um amplo acervo de imagens, informações e documentários sobre a Ditadura Militar: http://memoriasdaditadura.org.br/ Um Comunista, de Caetano Veloso Caetano faz uma grande homenagem a Carlos Marighella, combatente na luta contra a ditadura. O músico narra na música o episódio da morte do líder da Ação Libertadora Nacional (ALN).
  • 21. 21 Um Comunista - Caetano Veloso Um mulato baiano, Muito alto e mulato Filho de um italiano E de uma preta uçá Foi aprendendo a ler Olhando mundo à volta E prestando atenção No que não estava a vista Assim nasce um comunista Um mulato baiano que morreu em São Paulo baleado por homens do poder militar nas feições que ganhou em solo americano A dita guerra fria Roma, França e Bahia Os comunistas guardavam sonhos Os comunistas! Os comunistas! O mulato baiano, mini e manual do guerrilheiro urbano que foi preso por Vargas depois por Magalhães por fim, pelos milicos sempre foi perseguido nas minúcias das pistas Como são os comunistas? Não que os seus inimigos estivessem lutando contra as nações terror que o comunismo urdia Mas por vãos interesses de poder e dinheiro quase sempre por menos quase nunca por mais Os comunistas guardavam sonhos Os comunistas! Os comunistas! O baiano morreu eu estava no exílio e mandei um recado: "eu que tinha morrido" e que ele estava vivo, Mas ninguém entendia Vida sem utopia não entendo que exista Assim fala um comunista Porém, a raça humana segue trágica, sempre Indecodificável tédio, horror, maravilha Ó, mulato baiano samba o reverencia muito embora não creia em violência e guerrilha Tédio, horror e maravilha Calçadões encardidos multidões apodrecem Há um abismo entre homens E homens, o horror Quem e como fará Com que a terra se acenda? E desate seus nós discutindo-se Clara Iemanjá, Maria, Iara Iansã, Catijaçara O mulato baiano já não obedecia as ordens de interesse que vinham de Moscou Era luta romântica Era luz e era treva Feita de maravilha, de tédio e de horror Os comunistas guardavam sonhos Os comunistas! os comunistas! ALEGRIA, ALEGRIA - Caetano Veloso Caminhando contra o vento Sem lenço e sem documento No sol de quase dezembro, Eu vou. O sol se reparte em crimes Espaçonaves, guerrilhas Em Cardinales bonitas, Eu vou.
  • 22. 22 Em caras de presidente, Em grandes beijos de amor, Em dentes, pernas, bandeiras, Bomba e Brigitte Bardot. O sol nas bancas de revista Me enche de alegria e preguiça. Quem lê tanta notícia? Eu vou Por entre fotos e nomes Os olhos cheios de cores O peito cheio de amores vãos. Eu vou Por que não? E por que não? Ela pensa em casamento E eu nunca mais fui à escola Sem lenço e sem documento Eu vou. Eu tomo uma Coca-Cola Ela pensa em casamento Uma canção me consola Eu vou. Por entre fotos e nomes Sem livros e sem fuzil Sem fome, sem telefone, No coração do Brasil. Ela nem sabe até pensei Em cantar na televisão O sol é tão bonito Eu vou Sem lenço, sem documento Nada no bolso ou nas mãos Eu quero seguir vivendo amor. Eu vou Por que não? E por que não? O SUCESSO DA DÉCADA DE 1960 A música Alegria, alegria, de Caetano Veloso é uma dessas canções que se cristalizam no imaginário público como se fosse sem autor definido: de domínio público e, por isso mesmo, eleva o seu compositor à categoria dos grandes autores da música brasileira e, a própria música, à categoria dos clássicos. Esta letra em questão funcionou como um dos pontos de partida e até síntese do movimento tropicalista ocorrido principalmente na nossa música durante as décadas de 60 e 70, do século passado. O Tropicalismo, movimento sociocultural iniciado a partir de 1967, surgiu principalmente na música, mas acabou influenciando toda a cultura nacional, pois retomava basicamente elementos da Antropofagia, do Modernismo Brasileiro, e outros elementos da contracultura, da ironia, rebeldia, anarquismo e humor ou terror anárquico. A paródia, a crítica à esquerda intelectualizada, a não-aceitação de qualquer forma de censura, a sedução dos meios de comunicação de massa, o retrato da realidade urbana e industrial, a exploração do ser humano, tudo isso, todos esses elementos montado com uma colagem de fragmentos do dia-a-dia nas grandes cidades do país, eram, de fato, os princípios norteadores da arte tropicalista. CONTEXTO HISTÓRICO O panorama sócio histórico da época desta canção era de total arrogância direitista. Estávamos em plena Ditadura Militar, especificamente nos ―anos de chumbo‖, como era chamado o governo do presidente Emílio Garrastazu Médici, conhecido como o mais duro e repressivo do período. Nestes anos, a repressão e a luta armada crescem e uma severa política de censura é colocada em execução. Jornais, revistas, livros, peças de teatro, filmes, músicas e outras formas de expressão artística são proibidas. Alguns partidos políticos passaram para a ilegalidade e a UNE (União Nacional dos Estudantes) teve seu prédio incendiado. Muitos professores, intelectuais, artistas, políticos, jornalistas e escritores são investigados, presos, torturados, exilados ou assassinados. O Regime Militar fora imposto com um grande golpe desde 1964 e, naquele final de década, já havia as revoltas contra esta ditadura. Os estudantes iam às ruas protestar contra
  • 23. 23 um governo ditatorial, que destruía as universidades, deixando-as reféns do sistema de negação do conhecimento, e a população já participava de lutas e passeatas contra o regime militar, mesmo estas sendo proibidas pelos militares. A cultura importada era alienante, por isso, Caetano usa palavras como Brigitte Bardot, Cardinales (em referencia á atriz ítalo-americana Claudia Cardinale) e Coca-Cola (maior símbolo do império norte-americano, que financiava os exércitos em toda a América Latina). Mas, os anos 60 foram a grande década revolucionária: os anos da minissaia, dos hippies, dos homens de cabelos compridos, da pílula anticoncepcional e, consequentemente da revolução feminina e da liberação sexual. Assim como surgiram ídolos impostos e fabricados pela mídia principalmente nos EUA, também surgiram símbolos de uma época que marcaram tanto pela alienação, quanto pela imposição de um comportamento novo ou pela exposição da exploração sofrida pelo ser humano. Neste patamar, aparecem ídolos da cultura pop e líderes sociais e políticos, como os Beatles, Rolling Stones, Jonh Kennedy, Martin Luther King, Fidel Castro e Che Guevara. Também fazem parte deste contexto histórico, a Guerra do Vietnã, a viagem à Lua, feminismo, lutas pelo aborto e pelo divórcio e a prática do amor livre, tendo como expoente principal o festival de Woodstok, que marcou o planeta com o poder de transformação da sociedade pela juventude. No Brasil, era a época dos grandes festivais de música, do ufanismo dos militares e das obras faraônicas erguidas a partir de grandes empréstimos. Os ídolos da música cantavam versões de sucessos norte-americanos ou europeus. Surgia a Jovem Guarda e logo depois a Bossa Nova. A cultura de massa tupiniquim começava a virar produto de exportação. A MÚSICA E SUA INTENÇÃO Escrita, musicada e interpretada pelo cantor e compositor Caetano Veloso, em novembro de 1967, ―Alegria, alegria‖ ajudou a criar o estilo hoje intitulado de MPB e deslocou a expressão artística musical brasileira para o cenário da crítica social, em um ativismo político sem precedentes na história de outro tipo de arte no mundo. Graças a isso, Caetano Veloso teve grande parte de sua obra censurada pelo regime militar. Chegou a ser preso, junto com seu parceiro musical e amigo, Gilberto Passos Moreira, o Gilberto Gil, também cantor e compositor baiano e atual ministro da cultura do Governo Lula. Os dois artistas ficaram exilados em Londres por quase dois anos. Caetano era classificado para o governo no Brasil como ―persona nom gratta‖, uma expressão latina que corresponderia a mal-agradecido e, por isso, mal-vindo de volta à pátria. Até 1972, quando ambos voltam do exílio. ―Alegria, alegria‖ chegou a ser tema de novela da Rede Globo (Sem lenço e sem documento, na década de 80), quando o Regime Militar já estava perdendo o seu máximo poder. Na canção, é relatada a opressão sofrida pelo cidadão comum, nas ruas, nos meios de comunicação, em sua cultura nativa, no seu próprio país. A letra denuncia o abuso de poder de forma metafórica ―caminhando contra o vento/sem lenço e sem documento‖; a violência praticada pelo regime ―sem livros e sem fuzil,/ sem fome, sem telefone, no coração do Brasil‖; e a precariedade na educação brasileira proporcionada pela ditadura que queria pessoas alienadas: ―O sol nas bancas de revista /me enche de alegria e preguiça/quem lê tanta notícia?‖. Podemos pegar como exemplo também de formas alienantes, elementos externos à cultura nacional, como alguns símbolos impostos pelo cinema norte-americano que exportava/exporta seus ídolos como: Cardinale, Brigitte Bardot e a Coca-Cola, principal imposição comercial da mídia na época. Para dar exemplos dos desníveis sociais existentes no Brasil e as diferenças regionais, o autor se utiliza de um expediente inovador. Através de comparações aparentemente desconexas e fazendo uso de metáforas, faz a denúncia dos contrastes regionais, sociais ou econômicos, como nos versos: ―Eu tomo uma Coca-Cola,/Ela pensa em casamento‖, ―Em caras de presidente/em grandes beijos de amor/em dentes, pernas, bandeiras, bomba e Brigitte Bardot.‖
  • 24. 24 INTERTEXTUALIDADE Ao começar a audição da música ou simplesmente da leitura da letra, é impossível não lembrar dos versos de outra canção dessa época de censura. Trata-se de ―Para não dizer que não falei das flores‖, do cantor paraibano Geraldo Vandré, também perseguido pelo Governo Militar, que convocava o povo para ir às ruas e lutar contra a ditadura vigente. As duas músicas se iniciam com a palavra ―Caminhando‖ e isso já é um grande motivo para suscitar na população à lembrança da outra. Só depois de Geraldo Vandré ter vencido um grande festival de música com esta canção e, também pelo fato dela ter sido proibida e os discos terem sido destruídos pelo governo, é que Caetano tem sua música Alegria, alegria também proibida. Era comum a destruição ou apreensão de discos ou fitas por parte do governo militar, alguns exemplos são da música Ovelha Negra, de Rita Lee e, mais recentemente, o disco de lançamento da banda de rock carioca Blitz foi censurado em duas faixas, que foram expressamente riscadas dos discos de vinil, em 1981. Outro compositor que sofreu muitas perseguições da ditadura foi Chico Buarque, que teve inúmeras músicas censuradas ao longo da carreira. No entanto, o cantor e compositor carioca, amigo e contemporâneo de Caetano Veloso, aprendeu a ―driblar‖ a censura por meio do uso de palavras metafóricas, como na música ―Apesar de Você‖, gravada primeiramente por Clara Nunes, que criticava o governo ditatorial como se fosse uma relação afetiva entre um homem e uma mulher. Metáforas: Toda a opressão sofrida pelo cidadão comum, nas ruas, nos meios de comunicação, em sua cultura nativa, no seu próprio país é relatada na letra desta canção. Desta forma, Alegria, Alegria, denuncia os exageros dos militares, porém utilizando-se de metáforas. ―Caminhando contra o vento/sem lenço e sem documento‖ que se refere à violência praticada pelo regime. Ao dizer ―sem livros e sem fuzil,/ sem fome, sem telefone, no coração do Brasil‖ revela a precariedade na educação brasileira proporcionada pela ditadura que queria pessoas alienadas, e complementa: ―O sol nas bancas de revista /me enche de alegria e preguiça/quem lê tanta notícia?‖. Para evidenciar a alienação da massa, na letra há elementos externos à cultura nacional, como alguns símbolos impostos pelo cinema norte-americano da época, que são: Cardinales, Brigitte Bardot e a Coca-Cola, fortes representantes da imposição comercial da mídia na época. Ao denunciar os desníveis sociais dos ―anos de chumbo‖, Caetano Veloso faz comparações metafóricas, com o intuito de destacar os contrastes regionais, sociais ou econômicos, o que fica evidente nos seguintes versos: ―Eu tomo uma Coca-Cola,/Ela pensa em casamento‖, ―Em caras de presidente/em grandes beijos de amor/em dentes, pernas, bandeiras, bomba e Brigitte Bardot.‖ Músicas de Protesto a Ditadura Militar Em a música Alegria, Alegria, lançada em 1967 por Caetano Veloso, ele utilizou a ironia e fragmentos do dia-a-dia para revelar a opressão e criticar o abuso de poder. Como você pode perceber, ele foi sarcástico ao falar mal da Ditadura! Outro bastante perseguido pelos Militares foi Geraldo Vandré. Seu hino ―Caminhando (Pra não dizer que falei em flores)‖, foi lançada em 1968 e foi bastante utilizada pela população que gostaria de uma política democrática. Ele provocou o exército de maneira bastante poética e interessante, como você pode perceber em: Trecho: Há soldados armados / Amados ou não / Quase todos perdidos / De armas na mão / Nos quartéis lhes ensinam / Uma antiga lição: De morrer pela pátria / E viver sem razão Chico Buarque teve uma ideia bastante interessante. Utilizando a oração de Jesus Cristo a Deus no Jardim de Getsêmane, ele usou a palavra ―cálice‖ para representar ―cale-se‖, pois era o que os Militares queriam: uma população calada. Veja abaixo:
  • 25. 25 Trecho: De muito gorda a porca já não anda (Cálice!) / De muito usada a faca já não corta / Como é difícil, Pai, abrir a porta (Cálice!) / Essa palavra presa na garganta Debaixo Dos Caracóis Dos Seus Cabelos Roberto Carlos Compositor: Roberto e Erasmo Carlos Um dia a areia branca seus pés irão tocar E vai molhar seus cabelos a água azul do mar Janelas e portas vão se abrir pra ver você chegar E ao se sentir em casa, sorrindo vai chorar Debaixo dos caracóis dos seus cabelos Uma historia pra contar de um mundo tão distante Debaixo dos caracóis dos seus cabelos Um soluço e a vontade de ficar mais um instante As luzes e o colorido Que você vê agora Nas ruas por onde anda, na casa onde mora Você olha tudo e nada Lhe faz ficar contente Você só deseja agora Voltar pra sua gente Debaixo dos caracóis dos seus cabelos Uma historia pra contar de um mundo tão distante Debaixo dos caracóis dos seus cabelos Um soluço e a vontade de ficar mais um instante Você anda pela tarde E o seu olhar tristonho Deixa sangrar no peito Uma saudade, um sonho Um dia vou ver você Chegando num sorriso Pisando a areia branca Que é seu paraíso. Debaixo dos caracóis dos seus cabelos Uma historia pra contar de um mundo tão distante Debaixo dos caracóis dos seus cabelos Um soluço e a vontade de ficar mais um instante Debaixo dos caracóis dos seus cabelos Uma historia pra contar de um mundo tão distante Debaixo dos caracóis dos seus cabelos Um soluço e a vontade de ficar mais um instante Debaixo dos caracóis dos seus cabelos Uma historia pra contar de um mundo tão distante Debaixo dos caracóis dos seus cabelos Um soluço e a vontade de ficar mais um instante Debaixo dos caracóis dos seus cabelos: por trás do romantismo havia um protesto! Mesmo sem nunca ter tido problemas com a ditadura militar dos anos 60 e 70, o "rei" Roberto Carlos foi genial ao compor uma música de protesto contra o regime político brasileiro da época. Trata-se de "Debaixo dos caracóis dos seus cabelos", que com uma boa dose de romantismo passou batida à censura e conquistou os corações das jovens apaixonadas. Até hoje poucos conseguem perceber a verdadeira mensagem que a canção apresentava. Para entendê-la, é preciso voltar até 1969, quando Caetano Veloso partiu para o exílio em Londres. Notadamente, suas músicas protestavam contra a situação política brasileira do período em questão. Assim, em 1971, Roberto Carlos lançava "Debaixo dos caracóis dos seus cabelos", em homenagem ao amigo que se encontrava exilado na Inglaterra. Naquela época, Caetano ostentava uma vasta cabeleira, daí o motivo do nome da música.
  • 26. 26 Romantismo à parte, várias passagens da letra apresentam mensagens de protesto. Vamos a elas: - "Janelas e portas vão se abrir, pra ver você chegar e ao se sentir em casa, sorrindo vai chorar." Mesmo longe, ele jamais seria esquecido. "Em casa" seria obviamente o Brasil. - "Debaixo dos caracóis dos seus cabelos, uma história pra contar, de um mundo tão distante." "Mundo tão distante" também seria o Brasil, afinal, o cara estava do outro lado do Atlântico. - "Você olha tudo e nada lhe faz ficar contente, você só deseja agora, voltar pra sua gente." "Voltar pra sua gente" ou voltar para o Brasil. Era o desejo de qualquer exilado político. - "Um dia eu vou ver você chegando num sorriso, pisando a areia branca, que é seu paraíso." Seria o fim da ditadura militar, que permitiria o retorno dos exilados ao país, fato que teve início a partir de 1979. Sorte que a censura da época era um tanto burra, que não conseguia perceber certos protestos. E assim, subliminarmente, Roberto Carlos fez uma boa crítica e ainda por cima agradou seu público fiel, os apaixonados de plantão! OBS: o mesmo governo militar que motivou o protesto de Roberto Carlos, o transformou em "rei", pois ele era um bom moço que não criticava explicitamente a política da época. Podres Poderes - Caetano Veloso Enquanto os homens exercem seus podres poderes Motos e fuscas avançam os sinais vermelhos E perdem os verdes somos uns boçais Queria querer gritar setecentas mil vezes Como são lindos, como são lindos os burgueses E os japoneses mas tudo é muito mais Será que nunca faremos senão confirmar A incompetência da américa católica Que sempre precisará de ridículos tiranos? Será, será que será, que será, que será Será que esta minha estúpida retórica Terá que soar, terá que se ouvir por mais mil anos? Enquanto os homens exercem seus podres poderes índios e padres e bichas, negros e mulheres E adolescentes fazem o carnaval Queria querer cantar afinado com eles Silenciar em respeito ao seu transe, num êxtase Ser indecente mas tudo é muito mau Ou então cada paisano e cada capataz Com sua burrice fará jorrar sangue demais Nos pantanais, nas cidades, caatingas e nos gerais Será que apenas os hermetismos pascoais Os tons, os miltons, seus sons e seus dons geniais Nos salvam, nos salvarão dessas trevas e nada mais? Enquanto os homens exercem seus podres poderes Morrer e matar de fome, de raiva e de sede São tantas vezes gestos naturais Eu quero aproximar o meu cantar vagabundo Daqueles que velam pela alegria do mundo Indo mais fundo tins e bens e tais A música de Caetano Veloso mostra um excelente campo de análise interpretativa quanto ao cenário da política brasileira e do contexto o qual se encontrava na ocasião do processo de redemocratização. No título ―Podres poderes‖ há uma referência aos modelos políticos vigentes. Na década de 1980, O contexto internacional estava conturbado e turbulento. O socialismo soviético estava passando por momento de crise. As políticas da Perestroika e do Glasnost tentavam estruturar uma União Soviética em ruínas. Nos EUA, Ronald Reagan está envolto numa crise de corrupção denominado ―Caso Irã-
  • 27. 27 Contras‖. Em suma, tanto o cenário capitalista como socialista não mais ofereciam as mesmas seguranças utópicas de outrora. No Brasil ―Movimento Diretas já‖ ganhava força e o cenário ainda era de incerteza. Caetano parece remonta a indefinição que se encontrava o país. Ao que parece, Caetano, sutil e sagazmente apresenta um ponto de vista de política bem diferente do entendimento da época. Antes da queda do muro de Berlim, esse entendimento era orientado por uma lógica dicotômica e maniqueísta. Era forte a ideia de Bem versus mal; o feio versus bonito; burguesia versus proletariado. Como dizia Cazuza: ―A Burguesia fede‖. Entretanto, para Caetano parecia querer romper com esta lógica. E o que seria esse ―muito mais‖? Para o tropicalista, a política deveria ser vista para além do aparente. A história precisaria ser reavaliada agora também por uma análise estética e cultural. ―O tropicalismo contrapõe-se à estética e à política, pois não possui um discurso verbal politizado. O caráter revolucionário e político do movimento estão inseridos em sua própria estética.‖ (Contier, 2003) A música pode ser interpretada como uma leitura do tradicionalismo presente na resistência estética do brasileiro influenciando toda política Latino-Americana, região em que a maioria dos países era uma ditadura na época. Neste sentido, o baiano parecer fazer uma correlação: ―Será que nunca faremos / Senão confirmar /Na incompetência / Da América católica‖. Neste sentido a ética católica é criticada por influenciar na cultura uma tolerância às ditaduras. Tal tolerância parece ajudar a naturalizar a corrupção ―São tantas vezes, Gestos naturais.‖ Pelo jeito, a solução da corrupção está muito associada a aspectos culturais. Os brasileiros ainda têm um tradicionalismo que impedem pensar sobre outras perspectivas para além da política, de modo tal que a estética de Caetano parece incomodar. ―Queria querer cantar Afinado com eles‖. Neste sentido, a sociedade brasileira só mudará seus aspectos políticos mais profundos a partir de mudanças na cultura, como diria Betinho: ―Um país não muda pela sua economia, sua política e nem mesmo sua ciência; muda sim pela sua cultura.‖ Pelo jeito, as incertezas de Caetano trazem consigo certo pessimismo que só não se torna absoluto por conta da esperança na arte e na música: ―Será que apenas/ Os hermetismos pascoais /E os tons, os mil tons /Seus sons e seus dons geniais /Nos salvam, nos salvarão /Dessas trevas e nada mais…‖ Referência: Contier, Arnaldo Daraya. O movimento tropicalista e a revolução estética. Cad. de Pós-Graduação em Educ., Arte e Hist. da Cult. São Paulo, v. 3, n. 1, p. 135-159, 2003. COMO SE FAZ UM HINO, E DEPOIS SE ESQUECE Qual foi a última vez que você ouviu Coração de estudante? De repente me dei conta de que não a escutava há anos. E no entanto é uma canção que continua entranhada no nosso imaginário. Assim como o tanto que ela tocou e foi cantada por anos, seu silêncio hoje também me parece muito significativo. Em 1986 eu tinha 14 anos e fazia o solo de flauta doce no arranjo de Coração de estudante no coral de minha escola de ensino médio. Mais inocência, impossível. Ao mesmo tempo que eu, o país saia de uma ditadura de 20 anos, tinha os traumas do adiamento da chance de escolher seu presidente e de um presidente civil morto antes de assumir, e ainda achava que, apesar de tudo, agora tudo seria diferente. O que aconteceu depois é sabido, e a sucessão de decepções em relação à que era chamada Nova República, sofridas por um país que passou por um processo de amadurecimento à força, fizeram com que Coração de estudante fosse meio que propositalmente, estrategicamente esquecida, como quem reluta em confessar que tocava flauta doce no coral da escola em plena adolescência (e nem peguei ninguém por isso).
  • 28. 28 Para descobrir os motivos deste ostracismo atual é necessário entender também os motivos de ela ter se tornado o hino que se tornou. Coração de estudante não fala explicitamente em sua letra de absolutamente nada que estava acontecendo em 1983, ano em que foi gravada no álbum Ao vivo de Milton, nem dos anos seguintes. Então o que a levou ao grau de simbolismo que angariou, de ser cantada por um país como a esperança de tempos melhores, mais justos para todos? A resposta talvez esteja em algumas circunstâncias de sua criação. Coração de estudante é uma melodia de Wagner Tiso com letra de Milton, coisa não muito comum, tipo de parceria que Milton não costuma ter. Ocorre que ela foi criada como um tema instrumental apenas. Eis para que acontecimento e que personagem histórico ela foi criada (a música começa aos 2 minutos, mas vale a pena ver também o princípio): Coração de estudante não tinha ainda este nome quando foi composta para ser o Tema de Jango no documentário Jango, de Sílvio Tendler. Sua melodia, portanto, foi composta para ser a tradução em música de um momento que é o inverso de quando ela se tornou o que é hoje; nasceu por inspiração de um momento histórico em que o Brasil tinha um sonho muito alto despedaçado, e tornou-se popular e ganhou mundo quando este sonho renascia depois de 20 anos. Mas o mais impressionante é que também a letra de Milton carrega implícita uma carga de significação que tem a ver com outro momento histórico intrinsecamente ligado ao primeiro: Milton a fez em memória do estudante Edson Luís, morto pela Polícia Militar em março de 1968, cuja morte foi o estopim de uma série de manifestações populares que, pela primeira vez, afrontaram publicamente a ditadura militar. A reação da sociedade à morte do estudante desencadeou uma sequência de acontecimentos que atravessou a Passeata dos Cem Mil e desembocou no Ai-5. Foi o evento simbólico de um ressurgimento, em que muitas pessoas decidiram que era hora de falar. O resto é História. Isto então para mim explica o simbolismo que Coração de Estudante assumiu durante a retomada democrática na década de 1980, muito mais do que qualquer característica analisável de sua letra ou de sua melodia. É como se o determinante fosse na verdade o fato de ter sido inspirada, ter retratado ou homenageado dois precisos instantes que são chaves na História recente do Brasil e formam uma linha de continuidade que se completa exatamente na época em que a canção veio a público: 1964, 1968, 1983 (em 84 a campanha das diretas, em 85 a eleição de Tancredo Neves presidente). Como se a canção tivesse ficado impregnada da lembrança destes acontecimentos, como uma mensageira do inconsciente coletivo nacional. Quando faço a análise de uma canção aqui, sei bem que tudo o que digo é ouvido e percebido por quem ouve a canção. Apenas isto não se dá de forma consciente e racional. Tantas vezes ouvi ou li comentários que dizem é isso mesmo que eu sentia, mas não sabia porque. As características de melodia, harmonia, instrumental, suas relações, todas falam ao ouvinte de forma mais direta que a linguagem discursiva, e vão mais fundo. Mas em Coração de estudante acho que há algo mais, que não ficou exatamente fixado na forma musical, e sim em algum lugar mais… recôndito seria a palavra? Há algo nela que ecoa, mesmo para os recém-chegados à História, os motivos e os acontecimentos que a antecederam e inspiraram. Coração de Estudante soube ser o hino da redemocratização porque já era, de certa forma, o hino das reformas de base de 1963 e o hino da contestação à violência da ditadura em 1968, e ao mesmo tempo contém em si a tristeza do golpe de 64 e do Ai-5. Assim como talvez já tivesse, à revelia dos próprios autores, a tristeza das decepções de 1987, 88, 89… Talvez por isso tenha sido deixada de lado como foi. Não porque tenha se tornado datada, ou porque nos lembre da nossa ingenuidade, mas porque nos lembre não apenas de um, mas de três sonhos que pareceram ser sonhados em vão, e ainda assim tem a coragem de reafirmar, mais uma vez, que é preciso continuar sonhando, mesmo que ingenuamente, em uma época em que isto nem sempre parece fazer sentido, a nos falar tão diretamente dessas coisas tão incômodas, que sempre morrem e insistem em renascer: esperança, coração, juventude e fé.
  • 29. 29 Coração de Estudante Milton Nascimento Compositor: Milton Nascimento e Wagner Tiso Quero falar de uma coisa Adivinha onde ela anda Deve estar dentro do peito Ou caminha pelo ar Pode estar aqui do lado Bem mais perto que pensamos A folha da juventude É o nome certo desse amor Já podaram seus momentos Desviaram seu destino Seu sorriso de menino Tantas vezes se escondeu Mas renova-se a esperança Nova aurora a cada dia E há que se cuidar do broto Pra que a vida nos dê flor e fruto Coração de estudante Há que se cuidar da vida Há que se cuidar do mundo Tomar conta da amizade Alegria e muito sonho Espalhados no caminho Verdes, plantas, sentimento Folhas, coração, juventude e fé Apesar de Você - Chico Buarque Hoje você é quem manda Falou, tá falado Não tem discussão A minha gente hoje anda Falando de lado E olhando pro chão, viu Você que inventou esse estado E inventou de inventar Toda a escuridão Você que inventou o pecado Esqueceu-se de inventar O perdão Apesar de você Amanhã há de ser Outro dia Eu pergunto a você Onde vai se esconder Da enorme euforia Como vai proibir Quando o galo insistir Em cantar Água nova brotando E a gente se amando Sem parar Quando chegar o momento Esse meu sofrimento Vou cobrar com juros, juro Todo esse amor reprimido Esse grito contido Este samba no escuro Você que inventou a tristeza Ora, tenha a fineza De desinventar Você vai pagar e é dobrado Cada lágrima rolada Nesse meu penar Apesar de você Amanhã há de ser Outro dia Inda pago pra ver O jardim florescer Qual você não queria Você vai se amargar Vendo o dia raiar Sem lhe pedir licença E eu vou morrer de rir Que esse dia há de vir Antes do que você pensa Apesar de você Amanhã há de ser Outro dia Você vai ter que ver A manhã renascer E esbanjar poesia Como vai se explicar Vendo o céu clarear De repente, impunemente Como vai abafar Nosso coro a cantar Na sua frente Apesar de você Amanhã há de ser
  • 30. 30 Outro dia Você vai se dar mal Etc. e tal “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia!” Lançada como compacto em 1970, Apesar de você é a única música que Chico assume ter sido escrita para criticar a ditadura. Após voltar do exílio, Chico percebe que o país pouco mudou e escreve a canção. Quando a enviou para a censura, Chico temia que a música fosse censurada, o que surpreendentemente não aconteceu. Após a gravação, a canção chegou a vender 100 mil compactos em uma semana. Após uma nota publicada em um jornal, na qual dizia que o ―você‖ da letra era relacionado ao presidente Médici a canção foi censurada, sendo gravada em um disco apenas em 1978. Após o episódio o nome de Chico Buarque ficou marcado pelos homens da censura e suas canções sempre eram ouvidas com mais rigidez pela censura, antes de serem aprovadas. A solução encontrada pelo cantor e compositor foi a de usar pseudônimos como Julinho da Adelaide e Leonel Paiva. No começo deu certo, mas logo depois Chico foi desmascarado. A letra critica o modo como as repressões ditatoriais eram feitas e alerta sobre o que iria acontecer se em um dia todos estivessem felizes e insistissem em viver da forma como queriam. Álbum que traz canções polêmicas como ―Cálice‖ e ―Apesar de Você‖ Sem dúvida, Apesar de você é uma aula sobre a censura da ditadura militar brasileira. Ao lado de Pra não dizer que não falei das flores, de Vandré e É proibido proibir, de Caetano, a canção traz detalhes das vontades que os artistas da época brigavam para ter em um país onde pouca expressão artística era permitida. Cálice - Chico Buarque Composição: Chico Buarque / Gilberto Gil Pai, afasta de mim esse cálice Pai, afasta de mim esse cálice Pai, afasta de mim esse cálice De vinho tinto de sangue Pai, afasta de mim esse cálice Pai, afasta de mim esse cálice Pai, afasta de mim esse cálice De vinho tinto de sangue Como beber dessa bebida amarga Tragar a dor, engolir a labuta Mesmo calada a boca, resta o peito Silêncio na cidade não se escuta De que me vale ser filho da santa Melhor seria ser filho da outra Outra realidade menos morta Tanta mentira, tanta força bruta Pai, afasta de mim esse cálice Pai, afasta de mim esse cálice Pai, afasta de mim esse cálice De vinho tinto de sangue Como é difícil acordar calado Se na calada da noite eu me dano Quero lançar um grito desumano Que é uma maneira de ser escutado Esse silêncio todo me atordoa Atordoado eu permaneço atento Na arquibancada pra a qualquer momento Ver emergir o monstro da lagoa Pai, afasta de mim esse cálice Pai, afasta de mim esse cálice Pai, afasta de mim esse cálice De vinho tinto de sangue De muito gorda a porca já não anda De muito usada a faca já não corta Como é difícil, pai, abrir a porta Essa palavra presa na garganta Esse pileque homérico no mundo De que adianta ter boa vontade Mesmo calado o peito, resta a cuca Dos bêbados do centro da cidade Pai, afasta de mim esse cálice Pai, afasta de mim esse cálice Pai, afasta de mim esse cálice De vinho tinto de sangue
  • 31. 31 Talvez o mundo não seja pequeno Nem seja a vida um fato consumado Quero inventar o meu próprio pecado Quero morrer do meu próprio veneno Quero perder de vez tua cabeça Minha cabeça perder teu juízo Quero cheirar fumaça de óleo diesel Me embriagar até que alguém me esqueça A música "Cálice" foi escrita em 1973 por Chico Buarque e Gilberto Gil, sendo lançada apenas em 1978. Devido ao seu conteúdo de denúncia e crítica social, foi censurada pela ditadura, sendo liberada cinco anos depois. Apesar do desfazamento temporal, Chico gravou a canção com Milton Nascimento no lugar de Gil (que tinha mudado de gravadora) e decidiu incluir no seu álbum homônimo. "Cálice" se tornou num dos mais famosos hinos de resistência ao regime militar. Trata-se de uma canção de protesto que ilustra, através de metáforas e duplos sentidos, a repressão e a violência do governo autoritário. Gilberto Gil partilhou com o público, muitos anos depois, algumas informações sobre o contexto de criação da música, suas metáforas e simbologias. Chico e Gil se juntaram no Rio de Janeiro para escrever a canção que deveriam apresentar, em dupla, no show. Músicos ligados à contracultura e à resistência partilhavam a mesma angústia perante um Brasil imobilizado pelo poder militar. Gil levou os versos iniciais da letra, que tinha escrito na véspera, uma sexta-feira da Paixão. Partindo desta analogia para descrever o suplício do povo brasileiro na ditadura, Chico continuou escrevendo, povoando a música com referências da sua vida cotidiana. O cantor esclarece que a "bebida amarga" que a letra menciona é Fernet, uma bebida alcoólica italiana que Chico costumava beber naquelas noites. A casa de Buarque ficava na Lagoa Rodrigues de Freitas e os artistas ficavam na varanda, olhando as águas. Esperavam ver emergir "o monstro da lagoa": o poder repressivo que estava escondido, mas pronto para atacar a qualquer momento. Conscientes do perigo que corriam e do clima sufocante vivido no Brasil, Chico e Gil escreveram um hino panfletário sustentando no jogo de palavras "cálice" / "cale-se". Enquanto artistas e intelectuais de esquerda usaram suas vozes para denunciar a barbárie do autoritarismo. Assim, no próprio título, a música faz alusão aos dois meios de opressão da ditadura. Por um lado, a agressão física, a tortura e a morte. Por outro, a ameaça psicológica, o medo, o controle do discurso e, por conseguinte, das vidas do povo brasileiro. Carta À República - Milton Nascimento Compositor: Milton Nascimento/fernando Brant Sim é verdade, a vida é mais livre o medo já não convive nas casas, nos bares, nas ruas com o povo daqui e até dá pra pensar no futuro e ver nossos filhos crescendo e sorrindo mas eu não posso esconder a amargura ao ver que o sonho anda pra trás e a mentira voltou ou será mesmo que não nos deixara? a esperança que a gente carrega é um sorvete em pleno sol o que fizeram da nossa fé? Eu briguei, apanhei, eu sofri, aprendi, eu cantei, eu berrei, eu chorei, eu sorri, eu saí pra sonhar meu País e foi tão bom, não estava sozinho a praça era alegria sadia o povo era senhor e só uma voz, numa só canção e foi por ter posto a mão no futuro que no presente preciso ser duro que eu não posso me acomodar quero um País melhor
  • 32. 32 Dando Milho Aos Pombos 1981 Zé Geraldo Enquanto esses comandantes loucos ficam por aí queimando pestanas organizando suas batalhas Os guerrilheiros nas alcovas preparando na surdina suas mortalhas Isso tudo acontecendo e eu aqui na praça dando milho aos pombos ( 2 vezes ) Entra ano, sai ano, cada vez fica mais difícil o pão, o arroz, o feijão, o aluguel Uma nova corrida do ouro o homem comprando da sociedade o seu papel Quanto mais alto o cargo maior o rombo Isso tudo acontecendo e eu aqui na praça dando milho aos pombos ( 4 vezes ) Eu dando milho aos pombos no frio desse chão Eu sei tanto quanto eles se bater asas mais alto voam como gavião Tiro ao homem tiro ao pombo Quanto mais alto voam maior o tombo Eu já nem sei o que mata mais Se o trânsito, a fome ou a guerra Se chega alguém querendo consertar vem logo a ordem de cima Pega esse idiota e enterra Todo mundo querendo descobrir seu ovo de Colombo Isso tudo acontecendo e eu aqui na praça dando milho aos pombos ( 5 vezes ) Canção Da América - Milton Nascimento Compositor: Milton Nascimento, Fernando Brant Amigo é coisa pra se guardar Debaixo de sete chaves, Dentro do coração, assim falava a canção que na América ouvi, mas quem cantava chorou ao ver o seu amigo partir, mas quem ficou, no pensamento voou, com seu canto que o outro lembrou E quem voou no pensamento ficou, com a lembrança que o outro cantou. Amigo é coisa para se guardar No lado esquerdo do peito, mesmo que o tempo e a distância, digam não, mesmo esquecendo a canção. O que importa é ouvir a voz que vem do coração. Pois, seja o que vier, venha o que vier Qualquer dia amigo eu volto a te encontrar Qualquer dia amigo, a gente vai se encontrar. Brasil, de Cazuza A icônica canção do poeta exagerado conta um pouco do cenário do Brasil no final dos anos 80 e início da década de 90. Insatisfeito com a corrupção, a desvalorização do empregado e o comodismo do povo, ele pede que o brasileiro mostre a sua cara – algo que ocorreu alguns anos depois, com o movimento ―Caras Pintadas‖. Brasil - Cazuza Compositor: Cazuza/George Israel/Nilo Roméro
  • 33. 33 Não me convidaram Pra essa festa pobre Que os homens armaram pra me convencer A pagar sem ver Toda essa droga Que já vem malhada antes de eu nascer Não me ofereceram Nem um cigarro Fiquei na porta estacionando os carros Não me elegeram Chefe de nada O meu cartão de crédito é uma navalha Brasil Mostra tua cara Quero ver quem paga Pra gente ficar assim Brasil Qual é o teu negócio? O nome do teu sócio? Confia em mim Não me convidaram Pra essa festa pobre Que os homens armaram pra me convencer A pagar sem ver Toda essa droga Que já vem malhada antes de eu nascer Não me sortearam A garota do Fantástico Não me subornaram Será que é o meu fim? Ver TV a cores Na taba de um índio Programada pra só dizer "sim, sim" Brasil Mostra a tua cara Quero ver quem paga Pra gente ficar assim Brasil Qual é o teu negócio? O nome do teu sócio? Confia em mim Grande pátria desimportante Em nenhum instante Eu vou te trair (Não vou te trair) Honestidade - Juca Chaves A honestidade a muitos já sumiu e as consequências vêm sempre depois por isso todo dia pra alegria do Brasil, morre um ladrão e nascem dois, morre um ladrão e nascem dois. Sai um ministro, entra outro que promete e o aposentado, coitado, se comove, a espera dos 147 se decrete mas na horta do pobre nunca chove Collor deu um golpe 69. Enquanto os empresários, operários da cobiça investem lá no norte, no norte da suíça democracia é isto, é trabalhar contente pro caviar do nosso presidente e pro meu, afinal também sou gente. Enquanto o pacto não fica social e a moral valendo mais do que dinheiro, que importa se o cunhado é alagoano, não faz mal ou se o meu carro a álcool é brasileiro, ou se o meu carro a álcool é brasileiro. Nossos valores estão na contramão, sequestrador vive melhor que marajá, e sem licitação, só pra ajudar cunhado ou irmão vou ser um diretor da LBA se a imprensa descobrir eu vou pra cana e chorar! Que País É Este?, de Legião Urbana Renato Russo e sua trupe expõem os diversos problemas do Brasil do final da década de 80. A corrupção, a promessa do Brasil como ―país do futuro‖ e a desigualdade social estão explícitas na letra da música.
  • 34. 34 Que País é Esse? - Legião Urbana Compositor: Renato Russo Nas favelas, no senado Sujeira pra todo lado Ninguém respeita a constituição Mas todos acreditam no futuro da nação Que país é esse? Que país é esse? Que país é esse? No Amazonas, no Araguaia, na Baixada fluminense No Mato grosso, Minas Gerais e no Nordeste tudo em paz Na morte eu descanso mas o sangue anda solto Manchando os papéis, documentos fiéis Ao descanso do patrão Que país é esse? Que país é esse? Que país é esse? Que país é esse? Terceiro Mundo se for Piada no exterior Mas o Brasil vai ficar rico Vamos faturar um milhão Quando vendermos todas as almas Dos nossos índios num leilão. Que país é esse? Que país é esse? Que país é esse? Que país é esse? ................ Mulheres de Atenas, de Chico Buarque No trecho “Quando eles embarcam, soldados / Elas tecem longos bordados / Mil quarentenas”, Chico claramente faz uma alusão ao poema épico de Homero, a Odisseia. A música lembra a atitude de Penélope, esposa de Ulisses, o herói da obra. A submissão tratada na canção, tida como controversa, foi explicada pelo músico em uma única frase: ―Eu disse: mirem-se no exemplo daquelas mulheres que vocês vão ver o que vai dar‖ – como podemos ver, em tom de crítica. Mulheres de Atenas Chico Buarque Mirem-se no exemplo Daquelas mulheres de Atenas Vivem pros seus maridos Orgulho e raça de Atenas Quando amadas, se perfumam Se banham com leite, se arrumam Suas melenas Quando fustigadas não choram Se ajoelham, pedem imploram Mais duras penas; cadenas Mirem-se no exemplo Daquelas mulheres de Atenas Sofrem pros seus maridos Poder e força de Atenas Quando eles embarcam soldados Elas tecem longos bordados Mil quarentenas E quando eles voltam, sedentos Querem arrancar, violentos Carícias plenas, obscenas Mirem-se no exemplo Daquelas mulheres de Atenas Despem-se pros maridos Bravos guerreiros de Atenas Quando eles se entopem de vinho Costumam buscar um carinho De outras falenas Mas no fim da noite, aos pedaços Quase sempre voltam pros braços De suas pequenas, Helenas Mirem-se no exemplo Daquelas mulheres de Atenas: Geram pros seus maridos Os novos filhos de Atenas Elas não têm gosto ou vontade Nem defeito, nem qualidade
  • 35. 35 Têm medo apenas Não tem sonhos, só tem presságios O seu homem, mares, naufrágios Lindas sirenas, morenas Mirem-se no exemplo Daquelas mulheres de Atenas Temem por seus maridos Heróis e amantes de Atenas As jovens viúvas marcadas E as gestantes abandonadas Não fazem cenas Vestem-se de negro, se encolhem Se conformam e se recolhem Às suas novenas, serenas Mirem-se no exemplo Daquelas mulheres de Atenas Secam por seus maridos Orgulho e raça de Atenas Eu Não Matei Joana D’Arc, de Zeca Baleiro (versão original de Camisa de Vênus) Heroína francesa, Joana D‘Arc se tornou uma figura mítica após ter ajudado a França a ganhar a Guerra dos Cem Anos (1337-1453). Por alegar ter visões e ouvir vozes, foi acusada de feitiçaria e queimada em uma fogueira em 1430. Na música, mesmo sem álibi, o cantor se inocenta da barbárie. Eu Não Matei Joanna D'arc Zeca Baleiro Eu nunca tive nada Com Joana Darc Nós só nos encontramos Prá passear no parque... Ela me falou Dos seus dias de glória E do que não está escrito Lá nos livros de história... Que ficava excitada Quando pegava na lança E do beijo que deu Na rainha da França... Agora todos pensam Que fui eu que a cremei Mas eu não sou piromaníaco Eu juro que não sei... Ontem eu nem a vi Sei que não tenho um álibi Mas eu! Eu não matei Joana Darc...(2x) Eu nunca tive Nada, nada, nada Com Joana Darc Nós só nos encontramos Prá passear no parque... Ela me falou Que andava ouvindo vozes Que prá conseguir dormir Sempre tomava algumas doses... Uma rede internacional Iludiu aquela menina Prometendo a todo custo Transformá-la em heroína... Agora eu tô entregue À CIA e à KGB Eles querem que eu confesse Mas eu nem sei o quê... Ontem eu nem a vi Sei que não tenho um álibi Mas eu! Eu não matei Joana Darc...(2x) Eu não matei Joana Darc...(2x) Ontem eu nem a vi Sei q'eu não tenho um álibi Mas eu! Eu não matei Joana Darc...(2x) Não! Não fui eu! Não, não, não! Não fui eu! Não! Não fui eu! Não, não, não! Ontem eu nem a vi Sei q'eu não tenho um álibi Mas eu! Eu não matei Joana Darc...(2x)
  • 36. 36 Romaria Elis Regina Compositor: Renato Teixeira É de sonho e de pó O destino de um só feito eu perdido em pensamentos sobre o meu cavalo É de laço e de nó De gibeira ou jiló Dessa vida cumprida a sol Sou caipira pirapora nossa Senhora de Aparecida Ilumina a mina escura e funda o trem da minha vida Sou caipira pirapora nossa Senhora de Aparecida Ilumina a mina escura e funda o trem da minha vida O meu pai foi peão Minha mãe, solidão meus irmãos perderam-se na vida a custa de aventuras Descasei, joguei investi, desisti Se há sorte eu não sei, nunca vi. Sou caipira pirapora nossa Senhora de Aparecida Ilumina a mina escura e funda o trem da minha vida Sou caipira pirapora nossa Senhora de Aparecida Ilumina a mina escura e funda o trem da minha vida Me disseram, porém, que eu viesse aqui pra pedir de romaria e prece Paz nos desaventos Como eu não sei rezar Só queria mostrar Meu olhar, meu olhar, meu olhar Sou caipira pirapora nossa Senhora de Aparecida Ilumina a mina escura e funda o trem da minha vida Sou caipira pirapora nossa Senhora de Aparecida Ilumina a mina escura e funda o trem da minha vida Romaria – A história da música símbolo do caipira Minha amiga Rose Saldiva, toda feliz ao telefone, me informava que, segundo suas pesquisas sobre o perfil do cidadão taubateano encomendado por uma grande multinacional, Romaria era identificada por noventa por cento da população como a ―música da cidade‖. O fato de morar ao lado de Aparecida e sempre ir até lá me possibilitaram falar com naturalidade do romeiro e sua saga em busca do milagre. Acredito que, para pessoas que chegam de lugares mais distantes, a Basílica possa representar um sonho maior, o desejo de toda uma vida que se realiza, e as põem perplexas diante da grandeza e do poder da fé, representadas pelo magnífico templo que o povo ergueu para reverenciar a padroeira do Brasil. Mas aqui na terra de Lobato, Aparecida sempre será uma cidade familiar. Dos tempos mais frequentados, aqueles que vão até minha mudança pra São Paulo, ainda posso recordar, com muita transparência, a época em que os comerciantes enfeitavam a entrada de suas lojas usando velas dos mais variados tamanhos dispostas de modo a simular uma espécie de ―porta para o paraíso‖ onde todas as nossas reivindicações depositadas aos pés de Nossa Senhora, seriam atendidas de uma forma ou de outra; bastava que pedíssemos com fervor e acendêssemos uma vela como prova da nossa gratidão. E não poderia ser diferente uma vez que o povo brasileiro, na maioria das vezes, sempre foi atendido pela Mãe Santíssima nos momentos de maior precisão. A prova da eficiência da crença na Padroeira é o grau de satisfação dos fieis que sempre voltam agradecendo as graças recebidas. Misteriosa e bela Aparecida do Norte.